AM I Aula 2 Primitivas

Primitivas
AM I 2023-2024
Luı́s Ferrás - M215
FEUP - DEMec - Secção de Matemática
(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 1 / 44

1. Primitivas
Definição (Primitiva de uma função)

Seja f : I −→ R, uma função definida num intervalo I . Uma primitiva de f em I
é uma função F : I −→ R, tal que
F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ I .
Existindo tal função, dizemos que f é primitivável em I e cada função F é

chamada uma primitiva ou antiderivada de f em I .
Escrevemos Z
F (x) = P f (x) ou F (x) = f (x)dx.
R
Em particular, na segunda expressão acima, o sı́mbolo representa um “S”
alongado e “dx” é uma partı́cula formal usada para denotar a variável
independente em relação à qual se está a primitivar.

1. Primitivas
Da definição, é imediato que
Z
F (x) = f (x) dx, ∀x ∈ I sse F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ I ,
ou seja, que
F é uma primitiva de f sse f é a derivada de F .
Fica assim claro que a primitivação é o processo inverso da derivação.
Exemplos
(a) F (x) = sin x, x ∈ R, é uma primitiva de f (x) = cos x, x ∈ R.
De facto, basta atender a que (sin x)′ = cos x, x ∈ R.
1
(b) F (x) = ln x, x ∈ R+ , é uma primitiva de f (x) = , x ∈ R+ .
x
1
Basta recordar que (ln x)′ = , x ∈ R+ .
x
1. Primitivas
Da definição de primitiva, extraem-se algumas consequências que passamos a
enunciar.
Consequência 1
Se F é uma primitiva de f no intervalo I então toda a função
F (x) + C, x ∈ I,
com C uma constante real arbitrária, é também uma primitiva de f .

′
Basta notar que [F (x) + C] = F ′ (x) = f (x), x ∈ I .
Consequência 2
Se F1 e F2 são duas primitivas de f em I então
F2 (x) = F1 (x) + C, x ∈ I .
Basta notar que F1′ (x) = F2′ (x) = f (x), x ∈ I , e usar o teorema do valor médio de
Lagrange.

1. Primitivas
Observação
Das Consequências 1 e 2 sai que, quando o problema da primitivação de uma
função num intervalo é possı́vel, ele admite uma infinidade de soluções - todas as
que se obtêm de uma primitiva conhecida adicionando uma constante real
arbitrária. Assim, a expressão geral das primitivas de f é
F (x) + C, C constante,
onde F é uma primitiva conhecida.
Escrevemos Z
f (x) dx = F (x) + C.
Exemplos
Z
1. cos x dx = sin x + C;
Z
1
2. dx = ln x + C.
x
1. Primitivas
Observações
(a) O problema da primitivação de uma função num intervalo pode também não
possuir solução. É o que se passa, por exemplo, com a função

1 se 0 ≤ x ≤ 2
g (x) =
2 se 2 < x ≤ 4
no intervalo [0, 4]. A justificação é dada pelo teorema de Darboux que estabelece
que a derivada de uma função num intervalo possui a propriedade do valor
intermédio e, portanto, não pode apresentar descontinuidades de salto.
(b) Mais adiante vamos abordar algumas regras de primitivação muito úteis. Convém,
no entanto, registar que estas regras não permitem determinar as primitivas de
todas as funções primitiváveis. Um exemplo bem conhecido é o da função definida
por
2
e −x , x ∈ R,
que, como ficará claro mais adiante, é primitivável em qualquer intervalo I e, no
entanto, as regras que iremos abordar não permitem determinar as primitivas desta
função.

1.1 Primitivas imediatas
Chamamos primitivas imediatas àquelas primitivas que se obtêm por simples
reversão das regras de derivação, recorrendo, eventualmente, a alguns
artifı́cios de cálculo.
Exemplo
Calculando a derivada das seguintes funções afim
Função Derivada
7x + 3 7
−4x + 8 −4
ax + k a
então podemos concluir que,

Z
a dx = ax + C, ∀a ∈ R\{0}

Exemplo
Calculando a derivada das seguintes funções
Função Derivada
x3
x2
3
x7
x6
α+1
7
x
, (α ̸= −1) xα
α+1
então podemos concluir que,
x α+1
Z
x α dx = + C, α ̸= −1
α+1
Observação
Se α = −1, então Z
1
dx = ln |x| + C
x
Exemplo
Seja u uma função real de variável real x derivável no intervalo I . Calculando a
derivada das seguintes funções
Função Derivada
15
(5x + 10) 14
5 (5x + 10)
15
u α+1 (x)
, (α ̸= −1) u ′ (x)u α (x)
α+1
podemos concluir que
u α+1 (x)
Z
u ′ (x)u α dx = + C, α ̸= −1
α+1
Observação
Se α = −1, então
u ′ (x)
Z
dx = ln |u(x)| + C
u(x)
Exercı́cio 1. Calcule as seguintes primitivas:
Z Z Z
a) x 2 dx b) y 7 dy c) (x + 8)5 dx
x 2 + 5x + 3
Z Z Z
x +5 x 4
d) dx e) √ dx f) + √ +2 dx
x 3
x2 x2 x x
x3
Z Z Z
sen(2x)
y6
p
10
g) 2y 7 + 3 dy h) √ dx i) √
4
dx
3x 4 + 5 cos2 x + 9

Z Z Z Z
1 1 5 5x
a) dx b) dy c) dx d) dx
x +3 3y + 30 8x − 5 2x 2 + 4

Exemplo
As primitivas das funções exponencial.
Seja u uma função real de variável real x derivável no intervalo I . Calculando a
derivada das seguintes funções
Função Derivada
e u(x) u ′ (x)e u(x)
au(x) , (a ∈ R+ \{1}) u ′ (x)au(x) ln a

podemos concluir que
Z
u ′ (x)e u(x) dx = e u(x) + C
Z
u ′ (x)au(x) ln a dx = au(x) + C

Exercı́cio
Z 3. Calcule as
Z seguintes primitivas:
Z Z
2 2
a) e 5x+7
dx b) 3xe 4x +5 dx c) 63y −9 dy d) 3sen(2x)e sen x+8
dx
Outras primitivas imediatas:

SejaZ u uma função real de variável real x derivável no intervalo I .
−u ′ (x) sin u(x) dx = cos u(x) + C
Z
u ′ (x) cos u(x) dx = sin u(x) + C
u ′ (x)
Z Z
u ′ (x) sec2 u(x) dx = 2
dx = tg u(x) + C
cos
Z u(x)
Z ′
−u (x)
−u ′ (x)cosec 2 u(x) dx = dx = cotg u(x) + C
sin2 u(x)
u ′ (x) −u ′ (x)
Z Z
p dx = arcsin u(x) + C √ dx = arccos u(x) + C
1 − u (x)
2 1 − u2
u ′ (x) −u ′ (x)
Z Z
dx = arctg u(x) + C dx = arccotg u(x) + C
1 + u 2 (x) 1 + u 2 (x)

sec2 (ln x)
Z Z Z Z
1 1 x
a) √ dx b) p dy c) √ dx d) dx
1 − 4x 2 y 1 − ln2 y 4 − 9x 2 x
Z Z Z
7x 1
e) dx f) dx g) sen(3x) dx
16 + 9x 4 x2 + 2x + 5
Outras primitivas imediatas:

SejaZ u uma função real de variável real x derivável no intervalo I .
u ′ (x)shu u(x) dx = ch u(x) + C
Z
u ′ (x)ch u(x) dx = sh u(x) + C
u ′ (x)
Z Z
u ′ (x)sech2 u(x) dx = 2
dx = th u(x) + C
Z ch
Z u(x)′
−u (x)
−u ′ (x)cosech2 u(x) dx = dx = coth u(x) + C
sh2 u(x)

Outras primitivas imediatas:(continuação)
u ′ (x) u ′ (x)
Z Z
p dx = argsh u(x) + C p dx = argch u(x) + C
u 2 (x) + 1 u 2 (x) − 1
u ′ (x) u ′ (x)
Z Z
dx = argth u(x) + C dx = argcoth u(x) + C
1 − u 2 (x) 1 − u 2 (x)
Exercı́cio
Z 5. Calcule as seguintes
Z primitivas: Z
1 1
a) √ dx b) 2 x (1 − th2 x)
dx c) sh(15x + 3) dx
9 + 4x 2 ch
Z Z Z
sh(2x)
d) e x cotg (e x ) dx e) 3x e x dx f) dx
3sh2 x + 7
Z √
3
ex
Z
th2 x
g) dx h) √ dx
ch2 x e −1
2x

1.2 Regras de Primitivação
O cálculo das primitivas de uma função baseia-se num conjunto de regras, as
chamadas regras de primitivação, que se obtêm a partir das regras de derivação.
A. Regra de primitivação por decomposição

Resulta da regra da derivação da soma de funções e da regra de derivação do
produto de uma função por uma constante.
Se u e v são funções deriváveis e α e β são constantes reais, então
′
[αu(x) + βv (x)] = αu ′ (x) + βv ′ (x).
Em termos de primitivas, esta regra traduz-se por

Z
[αu ′ (x) + βv ′ (x)] dx = αu(x) + βv (x) + C

Pondo, mais em geral,
u ′ (x) = f (x), v ′ (x) = g (x) e u(x) = F (x), v (x) = G (x),
com F e G primitivas de f e de g , respectivamente, e atendendo a que
Z Z
f (x)dx = F (x) + C, g (x)dx = G (x) + C,
vem Z
[αf (x) + βg (x)] dx = αF (x) + βG (x) + C.
Podemos então estabelecer o seguinte resultado.
Conclusão A [Primitivação por decomposição]

Sejam f e g funções primitiváveis num intervalo I e α, β duas constantes reais.
Então αf + βg é primitivável em I , tendo-se
Z Z Z

αf (x) + βg (x) dx = α f (x)dx + β g (x)dx .

Exemplos
Z
x 5 + 4x + 3 dx =

1.
Z Z Z
= x 5 dx + 4 x dx + 3 1 dx
x6 4x 2
= + + 3x + C
6 2
Z
2 x 3 cos x
2. 5 cos x − e + dx =
5 1 + sen2 x
Z Z Z
2 x cos x
= 5 cos x dx − e dx + 3 dx
5 1 + sen2 x
2
= 5 sen x − e x + 3 arctg(sen x) + C
5

Z
2x + 3
3. √ dx =
1 + x2
Z Z
2x 3
= √ dx + √ dx
1+x 2 1 + x2
Z Z
− 1 1
= 2x 1 + x 2 2 + 3 √ dx
1 + x2
− 1 +1
1 + x2 2
= + 3 argsh x + C
− 12 + 1
p
= 2 1 + x 2 + 3 argsh x + C

B. Regra de primitivação por partes
Resulta da regra de derivação de um produto de funções. Se u e v são funções
deriváveis, então
′
[u(x)v (x)] = u ′ (x)v (x) + u(x)v ′ (x).
Em termos de primitivas, podemos traduzir esta igualdade por
Z
[u ′ (x)v (x) + u(x)v ′ (x)] dx = u(x)v (x) + C.
Numa forma mais útil, podemos escrever

Z Z
u ′ (x)v (x)dx = u(x)v (x) − u(x)v ′ (x)dx + C.
Pondo agora u ′ (x) = f (x), v (x) = g (x), u(x) = F (x), onde F é uma primitiva
de f , sai Z Z
f (x)g (x)dx = F (x)g (x) − F (x)g ′ (x)dx.

Podemos então estabelecer a conclusão seguinte.
Conclusão B [Primitivação por partes]

Sejam f : I −→ R primitivável, F : I −→ R uma primitiva de f e g : I −→ R
derivável, tais que o produto Fg ′ é primitivável em I . Então fg é primitivável em
I , tendo-se
Z Z
f (x)g (x) dx = F (x)g (x) − F (x)g ′ (x)dx.
A regra de primitivação expressa nesta fórmula evidencia que a primitiva de um

produto pode ser calculada em dua partes: na primeira, primitiva-se apenas o
primeiro factor, que depois é multiplicado pelo segundo; na segunda parte,
primitiva-se o produto da função que já está primitivada pela derivada do segundo
factor.

Observações
(a) Para que o método de primitivação por partes tenha sucesso, pelo menos um
dos factores deve ter primitiva imediata; o método resulta quando se sabe
primitivar o produto que aparece na segunda parte.
(b) Em geral, conhecendo a primitiva de ambos os factores, escolhe-se para

segundo aquele que mais se simplifica a derivar.

(c) O método de primitivação por partes pode ser aplicado com suceso para
primitivar uma função que não tem primitiva imediata, digamos f (x),
interpretando-a como o produto 1f (x) e começando por primitivar o factor
1, Z Z Z
f (x)dx = 1f (x)dx = xf (x) − xf ′ (x)dx = · · ·
Este é o processo habitualmente utilizado para primitivar, por exemplo,

logarı́tmos, arcos trigonométricos e argumentos hiperbólicos.
(d) Ao aplicar o método de primitivação por partes duas ou mais vezes

sucessivas, é frequente reencontrarmos a primitiva inicial afectada de um
certo coeficiente (diferente de 1). A primitiva proposta pode ser obtida como
solução de uma equação cuja incógnita é precisamente essa primitiva.

Exemplos
x2 x2 1 x2 x2
Z Z
(a) x ln xdx = ln x − dx = ln x − + C.
2 2 x 2 4
Repare-se que o factor ln x não possui primitiva imediata. Devemos, portanto,
primitivar primeiro o factor x .
Z Z
x x
(b) xe dx = xe − e x dx = x e x − e x + C.
Aqui conhecemos a primitiva de ambos os factores. Mas o polinómio

“complica-se” quando primitivado, porque aumenta de grau, e simplifica-se
quando derivado. É então conveniente guardá-lo para segundo factor.

Z Z Z
1
(c) arctg x dx = 1 arctg x dx = x arctg x − x dx
1 + x2
Z
1 2x
= x arctg x − dx
2 1 + x2
1
= x arctg x − ln(1 + x 2 ) + C.
2
O arco-tangente não tem primitiva imediata, mas foi muito simples usar o método
de primitivação por partes para o primitivar.

Z Z
(d) e x sin xdx = e x sin x − e x cos xdx
Z
x x x
= e sin x − e cos x + e sin x dx
Z
= e sin x − e cos x − e x sin x dx.
x x
Então podemos escrever

Z Z
e x sin xdx = e x (sin x − cos x) − e x sin xdx
Z
e resolvendo esta última equação em relação à incógnita e x sin xdx, resulta
ex
Z
e x sin xdx = (sin x − cos x) + C.
2

Exercı́cio
Z 6. Calcule as seguintes
Z primitivas: Z
3
a) x ln x dx b) x 2 sh x dx c) e 2x sin x dx
Z Z Z
d) x 2 + 1 e x dx e) x 2 cos x dx f) arcsen x dx
Z Z
g) x argcoth x dx h) ln2 x dx

C. Primitivação de potências de funções trigonométricas e hiperbólicas
Há um conjunto de regras práticas para a primitivação de potências com expoente
natural de funções trigonométricas e de funções hiperbólicas, que se baseiam em
algumas propriedades destas funções. Passemos à apresentação destas regras.
C.1 - Potências pares de funções trigonométricas e hiperbólicas
Primitivas do tipo:
Z Z
2k 2p 2k 2p
sin x cos x dx ou sh x ch x dx
onde k, p ∈ N.
No caso da primitivação de potências de expoente par de funções trigonométricas,
é conveniente passar para o arco duplo, recorrendo às fórmulas:
1 − cos 2x 1 + cos 2x
sin2 x = , cos2 x =
2 2

Assim,
Z Z
k p
sin2k x cos2p x dx = sin2 x cos2 x dx
Z k p
1 − cos 2x 1 + cos 2x
= dx
2 2
= ...
De modo perfeitamente equivalente, no caso da primitivação de potências de
expoente par de funções hiperbólicas, é conveniente passar para o argumento
duplo, tendo em conta que:
ch2x − 1 ch2x + 1
sh2 x = , ch2 x =
2 2
Assim,
Z Z
k p
sh2k x ch2p x dx = sh2 x ch2 x dx
Z k p
ch2x − 1 ch2x + 1
= dx
2 2
= ...
C.2 - Potências ı́mpares de funções trigonométricas e hiperbólicas
Primitivas do tipo:
Z Z
sin2k+1 x cosn x dx ou sinn x cos2k+1 x dx
Z Z
2k+1 n n 2k+1
sh x ch x dx ou sh x ch x dx
onde k, n ∈ N. No caso da primitivação de potências de expoente ı́mpar de funções
trigonométricas ou hiperbólicas, é conveniente destacar uma unidade à potência ı́mpar e
passar o outro factor para a co-função, através das fórmulas:
cos 2 x + sen2 x = 1 , ch2 x − sh2 x = 1.
Assim, por exemplo, tem-se:
Z Z
sin2k+1 x cosn x dx = sin2k x sin x cosn x dx
Z k
= sin2 x sin x cosn x dx
Z k
= 1 − cos2 x cosn x sin x dx
Z
′ α
= ... (o cálculo desta primtiva será efectuado recorrendo à fórmula u u )

C.3 - Potências de funções trigonométricas e hiperbólicas
Primitivas do tipo:
Z Z Z Z
tg m x dx ou cotg m x dx thm x dx ou cothm x dx
onde m ∈ N e m > 2. Neste tipo de primitivas, é conveniente destacar duas unidades à

potência e passar o outro factor para a co-função, através das fórmulas:

1 1 1 1
tg 2 x = − 1 ou cotg 2
x = − 1 th 2
x = 1 − ou coth 2
x = 1 +
cos2 x sin2 x ch2 x sh2 x
Assim, por exemplo, tem-se:
Z Z
cotg m x dx = cotg m−2 x cotg 2 x dx
Z
1
= cotg m−2 x − 1 dx
sin2 x
Z Z
1
= − − 2 cotg m−2 x dx − cotg m−2 x dx
sin x
cotg m−1 x
Z
= − − cotg m−2 x dx
m−1
Z
= ... (ao cálculo da primtiva cotg m−2 x dx volta-se a aplicar o mesmo procedimento)
Exercı́cio
Z 7. Calcule as seguintesZprimitivas: Z
a) cos2 x dx b) ch4 x dx c) cos3 x dx
Z Z Z
d) sin3 x cos12 x dx e) ch5 x dx f) th3 x dx
Z Z
g) coth4 x dx h) tg 5 x dx

D. Regra de primitivação por substituição
Resulta da regra de derivação de uma função composta. Se u e v são funções
deriváveis e a composta u ◦ v está bem definida, então
′
[u (v (t))] = u ′ (v (t)) v ′ (t).
Em termos de primitivas, podemos escrever

Z
u ′ (v (t)) v ′ (t) dt = u (v (t)) + C.
Pondo u ′ (x) = f (x), u(x) = F (x), v (x) = g (x) e v ′ (x) = g ′ (x), onde F é uma
primitiva de f , vem
Z
f (g (t)) g ′ (t) dt = F (g (t)) + C.

A expressão anterior pode adquirir uma forma mais útil, atendendo a que
F (g (t)) + C indica uma primitiva genérica de f (x) calculada em x = g (t). De
facto, podemos escrever
Z Z
f (g (t)) g ′ (t) dt = f (x) dx ,
x=g (t)
mas esta expressão ainda não é bem o que nos interessa.

No entanto,
Z tendo em conta que, em geral, o problema que nos é proposto é o de
calcular f (x) dx, basta então desfazer a substituição x = g (t) através de
t = g −1 (x).
Legitimando as “manobras” anteriores, a conclusão é a seguinte.

Conclusão D [Primitivação por substituição]
Sejam f : I −→ R uma função primitivável no intervalo I , F uma primitiva de f
em I , e g : J −→ I uma função bijectiva com derivada não nula em cada ponto
de J. Então F ◦ g é uma primitiva de (f ◦ g ) g ′ em J, tendo-se
Z Z
f (x) dx = f (g (t)) g ′ (t) dt .
t=g −1 (x)
Esta expressão exprime a regra de primitivação por substituição de variável. Mais

concretamente, ela indica que o cálculo da primitiva de f (x) pode ser efectuado
da seguinte forma:
faz-se a substituição x = g (t);
Z
calcula-se depois a nova primitiva f (g (t)) g ′ (t) dt;
desfaz-se a substituição, regressando à variável inicial x, através de
t = g −1 (x).

Observações
(a) Em geral, aplica-se o método de primitivação por substituição quando não se

sabe primitivar a função dada por outro processo ou ainda quando o cálculo
da primitiva dada se simplifica significativamente.
(b) O sucesso do método depende, obviamente, da substituição adoptada. A

dificuldade está em intuir uma substituição adequada para a primitiva que
nos é proposta. Para a escolha da substituição, podemos recorrer a uma
tabela onde se listam substituições de sucesso para os casos mais importantes.
(c) O método pode ser usado sempre que se queira, claro, mas a sua verdadeira
utilidade revela-se nos casos em que não conseguimos calcular a primitiva que
nos é proposta. O seu sucesso depende grandemente da experiência.

Exemplos
√
Z
(a) Para calcular x x − 1 dx, faça-se a substituição definida por
x = t 2 + 1, t ≥ 0.
No âmbito da fórmula apresentada, tem-se g (t) = 1 + t 2 . Então g ′ (t) = 2t
e somos conduzidos ao cálculo da nova primitiva,
Z √ Z
2 2
(1 + t 2 ) t 2 2t dt = 2 (t 2 + t 4 ) dt = t 3 + t 5 + C.
3 5
√
Para regressar à variável x, desfaz-se a substituição, notando que t = x − 1
com x ≥ 1, uma vez que t ≥ 0. Resulta finalmente
√
Z
2p 2p
x x − 1 dx = (x − 1)3 + (x − 1)5 + C.
3 5

√
Z
(b) Para calcular x 4
1+x, faça-se 1 + x = t 4 , t ≥ 0.
Tem-se que g (t) = t 4 − 1. Então g ′ (t) = 4t 3 e somos conduzidos ao

cálculo da nova primitiva,
Z √4
Z
4 4
(t − 1) t 4t dt = 4 (t 8 − t 4 ) dt = t 9 − t 5 + C.
4 4 3
9 5
√
Para regressar à variável x, desfaz-se a substituição, notando que t = 4 x + 1
com x ≥ −1, uma vez que t ≥ 0. Resulta finalmente
√
Z
4p 4p
x 4 1 + x = 4 (1 + x)9 − 4 (1 + x)5 + C.
9 5
Exercı́cio
Z p 8. Calcule as seguintes primitivas:
a) 1 − x 2 dx; subst. x = cos t, t ∈ [0, π]
Z √
arcsin x
b) √ dx; subst. x = t 2 , t > 0
x

1.3 Primitivação de funções Racionais
P(x)
Considere as funções racionais , onde P e Q são polinómios em x com
Q(x)
coeficientes reais. Como já se viu, algumas destas funções têm primitiva imediata.
Exemplos
Z Z
1 x 1
1. dx = ln |x + 1| + C 2. 2
dx = ln 1 + x 2 + C
x +1 1+x 2
Z Z
1 1 1 x 1 1
3. dx = − +C 4. dx = − +C
(1 + x)3 2 (1 + x)2 (1 + x 2 )3 4 (1 + x 2 )2
Z
1
5. dx = arctg x + C
1 + x2
Vamos agora ver como calcular a primitiva de funções racionais em casos mais gerais.

Primitivas do tipo: Z
P(x)
dx
Q(x)
1 Passo: Divisão dos polinómios (nem sempre é necessário)

Se grau P ≥ grau Q então efectua-se a divisão dos dois polinómios:
P(x) Q(x)
R(x) S(x)
A divisão pára quando o grau R < grau Q. E tem-se
P(x) R(x)
= S(x) + .
Q(x) Q(x)
Exemplos
x2 + 3 2 x3 + x2 + 1 x +2
a) =1+ 2 b) =x +1+ 2
x2 + 1 x +1 x2 − 1 x −1

R(x)
2 Passo: Decomposição de em fracções simples.
Q(x)
(A) Decompor Q em factores irredutı́veis, para isso é necessário determinar os
zeros de Q :
se Q é um polinómio de grau n então Q possui exactamente n zeros, que
podem ser reais ou complexos;
os zeros complexos ocorrem sempre aos pares de conjugados, isto é, se a + bi
é um zero de Q então a − bi também é um zero de Q;
cada zero de Q pode ser simples ou pode ser múltiplo com multiplicidade
k > 1, quando anula Q e todas as suas derivadas até à ordem k − 1 mas não
anula a derivada de ordem k.
Exemplos
1 1 1 1
a) = b) =
x2 − 1 (x − 1)(x + 1) (x 2 − 2x + 1)(x + 2) (x − 1)2 (x + 2)
1 1 1 1
c) = d) 3 =
5x 2 − 5x − 30 5(x − 3)(x + 2) (x + 4x) x(x 2 + 4)
1 1
e) 4 = 2
(x − 9x 2 ) x (x − 3)(x + 3)

R(x)
(B) Decompor numa soma de fracções simples, com base nos factores de
Q(x)
Q encontrados em (A):
cada zero real x = a, com multiplicidade k, contribui com k fracções simples
da forma
A1 A2 Ak
, , ··· , ,
(x − a)k (x − a)k−1 x −a
onde A1 , A2 , . . . , Ak são constantes reais a determinar;
cada par de zeros complexos conjugados x = a ± bi, com multiplicidade k,
contribui com k fracções simples da forma
B1 x + C 1 B2 x + C 2 Bk x + Ck
, , ··· ,
[(x − a)2 + b 2 ]k [(x − a)2 + b 2 ]k−1 (x − a)2 + b 2
onde B1 , C1 , B2 , C2 , . . . , Bk , Ck são constantes reais a determinar.
Exemplos
1 1 A B
a) = = +
x2 − 1 (x − 1)(x + 1) x −1 x +1
1 1 A B C
b) 2 = = + +
(x − 2x + 1)(x + 2) (x − 1)2 (x + 2) x −1 (x − 1)2 x +2
1 1 A B
c) = = +
5x 2 − 5x − 30 5(x − 3)(x + 2) 5(x − 3) x +2
1 1 A Bx + C
d) 3 = = + 2
(x + 4x) x(x 2 + 4) x x +4
1 1 A B C D
e) 4 = 2 = + 2 + +
(x − 9x 2 ) x (x − 3)(x + 3) x x x −3 x +3
(C) Determinar as constantes que figuram nos numerados das fracções simples,
recorrendo ao chamado método dos coeficientes indeterminados , o qual vem
exposto no exemplo que se apresenta a seguir.
Exemplo:
x +2 x +2 A B
= = +
x2 − 1 (x − 1)(x + 1) x −1 x +1
Determinar as constantes A, B :
Reduzir tudo ao mesmo denominador
x +2 A(x + 1) B(x − 1)
= +
(x − 1)(x + 1) (x − 1)(x + 1) (x − 1)(x + 1)
Daqui tira-se a igualdade de polinómios:
x + 2 = (A + B)x + A − B
Pela igualdade de polinómios, tem-se:

A+B = 1
A−B = 2
Resolvendo o sistema de equações lineares, obtém-se A = 32 , B = − 21 .
Assim,
Z Z Z
x +2 3 1 1 1 3 1
dx = dx − = ln |x − 1| − ln |x + 1|
(x − 1)(x + 1) 2 x −1 2 x +1 2 2

Exercı́cio 9. Calcule as seguintesZ primitivas:

2x 2 − 3x + 7 x 2 + 5x + 4 4y 4 + y + 1
Z Z
a) dx b) dx c) dy
2+x 1 + x2 4y 4 + 1
t2 + 1 2x 3 + 3x
Z Z Z
18
d) dx e) dt f) dx
x (x 2 − 9) t3 + t4 (x 2 + 1)2
Exercı́cio 10. Determine a única função F que verifica as seguintes condições:

1
F ′ (x) = e F (0) = 0.
(x − 2) (x − 1)

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Primitivas

(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 1 / 44

Definição (Primitiva de uma função)

Existindo tal função, dizemos que f é primitivável em I e cada função F é

(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 2 / 44

F é uma primitiva de f sse f é a derivada de F .

Fica assim claro que a primitivação é o processo inverso da derivação.

com C uma constante real arbitrária, é também uma primitiva de f .

(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 4 / 44

onde F é uma primitiva conhecida.

(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 6 / 44

então podemos concluir que,

(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 7 / 44

Exercı́cio 2. Calcule as seguintes primitivas:

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au(x) , (a ∈ R+ \{1}) u ′ (x)au(x) ln a

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Outras primitivas imediatas:

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Outras primitivas imediatas:

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(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 14 / 44

A. Regra de primitivação por decomposição

Em termos de primitivas, esta regra traduz-se por

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Podemos então estabelecer o seguinte resultado.

Conclusão A [Primitivação por decomposição]

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Numa forma mais útil, podemos escrever

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Conclusão B [Primitivação por partes]

A regra de primitivação expressa nesta fórmula evidencia que a primitiva de um

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(b) Em geral, conhecendo a primitiva de ambos os factores, escolhe-se para

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Este é o processo habitualmente utilizado para primitivar, por exemplo,

(d) Ao aplicar o método de primitivação por partes duas ou mais vezes

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Aqui conhecemos a primitiva de ambos os factores. Mas o polinómio

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Então podemos escrever

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(DEMec, FEUP) Primitivas Setembro 2023 29 / 44

onde m ∈ N e m > 2. Neste tipo de primitivas, é conveniente destacar duas unidades à

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Em termos de primitivas, podemos escrever

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mas esta expressão ainda não é bem o que nos interessa.

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Esta expressão exprime a regra de primitivação por substituição de variável. Mais

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(a) Em geral, aplica-se o método de primitivação por substituição quando não se

(b) O sucesso do método depende, obviamente, da substituição adoptada. A

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Tem-se que g (t) = t 4 − 1. Então g ′ (t) = 4t 3 e somos conduzidos ao

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