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Funções do Plano Complexo

Ensino Remoto Emergencial - Sétimo Módulo


Prof Carlos Alberto S Soares

1 Preliminares
Inicialmente, recordamos alguns conceitos já vistos no módulo 4, quais sejam:
1) Sendo z0 um número complexo e r um número real positivo chamamos disco aberto de
centro z0 e raio r o conjunto

D(z0 ; r) = {z ∈ C; |z − z0 | < r}

2) Um conjunto X ⊂ C será dito aberto se para todo z ∈ X existe um número real rz > 0
tal que D(z; rz ) ⊂ X. Em outras palavras, um conjunto X será dito aberto se todo ponto de
X é centro de algum disco aberto contido em X.
3) Uma função f : C → C é dita inteira se é derivável em todo ponto z0 .
Doravante quando nos referirmos a uma função f : X → C estaremos sempre supondo,
salvo quando dito algo em contrário, que X é um conjunto aberto. Iniciamos com a seguinte
definição.

Definição 1 Sejam f : X → C uma função e z0 um número complexo em X. Dizemos que f


é analı́tica ou holomorfa em z0 se f é derivável em algum disco aberto contido em X de centro
em z0 . Como usual, dizemos que f é holomorfa em X se f é holomorfa em todo número z0
em X.

É claro que toda função inteira é holomorfa.

Exemplo 2 É simples mostrar que a função f (z) = z 2 só possui derivada na origem e, daı́,
f não é holomorfa em ponto algum.

Definição 3 Um número complexo z0 é dito um ponto singular ou uma singularidade de uma


função f : X → C se existe um disco aberto D de centro em z0 tal que f é derivável em todo
ponto de D exceto em z0 .

Exemplo 4 O exemplo clássico de uma singularidade é o número 0 para a função f (z) = z1 .


Note que neste exemplo 0 é uma singularidade de f e f é holomorfa em todos os pontos de
seu domı́nio.

1
Exemplo 5 Considere a função
z+3
f (z) = .
(z − 1)(z − 2)

Usando o teorema sobre derivadas do quociente é fácil ver que f é derivável, exceto em z = 1 e
z = 2. Note que 1 e 2 são singularidades de f pois, por exemplo, os disco D(1, 1/2) e D(2, 1/2)
satisfazem a definição 1.

Observação 6 (Funções Racionais) Podemos generalizar os exemplos anteriores para funções


racionais, isto é, funções do tipo
p(z)
f (z) =
q(z)
onde p(z) e q(z) são polinômios. É claro que o domı́nio de uma tal função é C \ {z; q(z) = 0}
e que as singularidades de f são os números pertencentes ao conjunto {z; q(z) = 0}. Como
usual, o contradomı́nio de uma função racional é o conjunto C.

2 Função Exponencial
Definição 7 [Função Exponencial] Chamamos função exponencial a função f : C → C dada
por
f (z) = exp(z) = exp(x + iy) = ex (cos y + isen y) (1)

Exemplo 8 Sendo x um número real, teremos


exp(x) = exp(x + 0i) = ex (cos 0 + isen 0) = ex , isto é, sendo x um número real teremos

exp(x) = ex . (2)

Exemplo 9 Sendo z um imaginário puro, isto é, z = iy com y ∈ R teremos


exp(z) = exp(0 + iy) = e0 (cos y + isen y) = cos y + isen y.

Observação 10 Em vista da fórmula 2 anotaremos

ez = exp z ∀ z ∈ C.

Daı́, sendo θ um número real teremos

exp (iθ) = eiθ = cos θ + isen θ (3)

Portanto, se θ é um argumento de um número complexo não nulo z e r = |z|, teremos a


representação polar de z dada por
z = reiθ .

Proposição 11 Sejam z e w dois números complexos. Então, temos:

1. ez 6= 0

2
2. ez .ew = ez+w

3. 1
ez
= e−z
ez
4. ew
= ez−w

5. |ez | = eRe(z) 6= 0

6. ez+2kπi = ez (A função exponencial é periódica)

7. (ez )r = erz ∀ r ∈ Z.

8. ez = ez

Prova.

1. Segue direto da definição

2. Sendo z = x1 + iy1 e w = x2 + iy2 , temos:


ez ew = ex1 (cos y1 +isen y1 )ex2 (cos y2 +isen y2 ) = ex1 +x2 (cos (y1 + y2 )+isen (y1 + y2 )) =
ez+w .

3. Novamente, sendo z = x1 + iy1 , vem:


1
ez
= 1
. cos y1 −isen y1
ex1 (cos y1 +isen y1 ) cos y1 −isen y1
= cos y1 −isen y1
e x1
= e−x1 (cos (−y1 ) + isen (−y1 )) = e−z .

4. Temos
ez
ew
= ez . e1w = ez e−w = ez+−w = ez−w .

5. Os itens 5, 6, 7 e 8 serão deixados para exercı́cio.

Proposição 12 A função f (z) = exp(z) é uma função inteira e temos

f 0 (z) = exp(z). (4)

Prova. Por definição, temos exp(z) = exp(x + iy) = ex (cos y + isen y) e, portanto,

U (x, y) = ex cos y e V (x, y) = ex sen y.

Daı́, vem:

Ux (x, y) = ex cos y, Vy = ex cos y, Uy = −ex sen y e Vx = ex sen y.


Logo, as equações de Cauchy-Riemann estão verificadas e como as derivadas parciais são
contı́nuas temos que a função é derivável em todo ponto e, além disso, vem:

f 0 (z) = Ux + iVx = ex cos y + iex sen y = f (z) = exp(z) = ez .

3
Proposição 13 Seja w um número complexo não nulo. Então, a equação

ez = w

possui infinitas soluções.

Prova. Sendo w 6= 0 consideremos θ um argumento de w e, daı́, z = ln |w| + i(θ + 2kπ) é tal


que
ez = w, ∀ k ∈ Z.

É interessante observar que a função exponencial é tal que podemos identificar, facilmente,
a imagem de retas horizontais e verticais. Vejamos.
Inicialmente, consideremos retas verticais , isto é, vejamos no plano complexo conjuntos do
tipo
Xa = {a + iy; y ∈ R} ⊂ C.
A ideia é descrever a imagem de Xa pela função exponencial, isto é, desejamos encontrar o
conjunto exp(Xa ). Para tanto, notemos que

exp (a + iy) = ea (cos y + isen y) ⇒ | exp (a + iy)| = ea

e, portanto, todos os pontos do conjunto Xa possuem o mesmo módulo e, daı́, estão sobre
a circunferência de centro na origem e raio ea . Observe, ainda, que como y é o argumento
de exp (a + iy), ao variarmos y estaremos cobrindo a circunferência de centro (0, 0) e raio ea .
Iniciando no ponto a + i0 = a, teremos exp (a + i0) = ea (cos 0 + isen 0) = ea . Se fazemos,
agora, y crescer iremos percorrendo a circunferência no sentido anti-horário e, claramente, ao
fazer y diminuir iremos no sentido horário. Veja a figura a seguir.
y y

a+iy

a x e^a x

Note que basta tomar Xa = {a + iy; b ≤ y < b + 2π} e teremos a imagem de Xa cobrindo
a circunferência. Observe a próxima figura.

4
y y

b+2π a+iy

b
b

a x e^a x

É interessante notar que se a = 0 teremos a circunferência de raio 1.

No caso de retas horizontais, isto é,

Yb = {x + ib, x ∈ R}
teremos todos os números em exp(Yb ) com mesmo argumento b e raio ex variando com x.
Portanto exp(Yb ) é a semirreta de origem em (0, 0) e direção dada por b. Veja a figura a seguir.
y y

b x+ib

e^x

x x

Exercı́cio 14 1. Seja p(z) um polinômio.


(a) Em quais pontos a função
f (z) = ep(z)
é analı́tica? Justifique!
(b) f possui singularidades? Justifique!
2. Seja f (z) uma função racional.
(a) Em quais pontos a função
F (z) = ef (z)
é analı́tica?
(b) f possui singularidades? Justifique!
3. Em quais pontos a função f (z) = exp (z) é derivável? Justifique!
4. Em quais pontos a função f (z) = exp z é analı́tica? Justifique!

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5. Considere o conjunto
X = {x + iy; x ≥ 0 e 0 ≤ y < 2π}.

(a) Represente o conjunto X no plano complexo


(b) Determine a imagem do conjunto X pela função exponencial, isto é, determine
exp (X)
(c) Represente o conjunto encontrado no item anterior no plano complexo

6. Exibir, justificando, um exemplo de polinômios p(z) e q(z) tais que a função racional

p(z)
f (z) =
q(z)

seja sobrejetora, isto é, o conjunto imagem de f seja o conjunto C. Se acredita que tal
exemplo não exista, justifique!

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