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INSTITUTO DE LOGOTERAPIA IP LOGO.

VICTÓRIA STÉPHANI KÜSTER KAMPORT

O VAZIO EXISTENCIAL E A ESCASSEZ DE VALORES NA ATUALIDADE:


UM ENSAIO TEÓRICO

4ª Turma de Pós Graduação do Curso de Logoterapia e Desenvolvimento Humano

Campo Grande, MS
2024
VICTÓRIA STÉPHANI KÜSTER KAMPORT

O VAZIO EXISTENCIAL E A ESCASSEZ DE VALORES NA ATUALIDADE:


UM ENSAIO TEÓRICO

Trabalho de conclusão do curso de Pós Graduação em


Logoterapia e Desenvolvimento humano apresentado ao
Instituto de Logoterapia IP LOGO.

Campo Grande, MS
2024
SUMÁRIO

1- RESUMO ............................................................................................................... 4

ABSTRACT: .................................................................................................................. 4

2- INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 5

3- METODOLOGIA................................................................................................... 5

4- REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 5

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 8

6- REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 9
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O VAZIO EXISTENCIAL E A ESCASSEZ DE VALORES NA ATUALIDADE:


UM ENSAIO TEÓRICO

1- RESUMO
Este ensaio acadêmico aborda o tema "O vazio existencial e a escassez de valores
na atualidade" como parte do encerramento do curso de Pós-Graduação em Logoterapia e
Desenvolvimento Humano. Na realidade contemporânea, o consumo excessivo de fontes de
prazer imediato tem levado à manifestação de sintomas perigosos, resultando na escassez de
valores fundamentais do ser humano. Este ensaio propõe uma reflexão sobre as
transformações sociais e culturais que contribuem para essa realidade, destacando a
influência do consumo desenfreado e da tecnologia na erosão dos valores humanos.
Argumenta-se que a busca incessante por prazeres imediatos, como drogas, dinheiro e
engajamento excessivo nas redes sociais, tem levado a um aumento alarmante dos casos de
ansiedade, depressão e suicídio, especialmente entre os jovens. Diante desse cenário
desafiador, é necessário repensar os valores que norteiam a sociedade contemporânea e
investir na promoção de uma cultura que priorize o sentido da vida e o bem-estar humano.
Palavras-chave: Vazio existencial, Escassez de valores, Consumo desenfreado,
Redes sociais, Saúde mental.

ABSTRACT:
This academic essay addresses the theme "Existential emptiness and the scarcity
of values in contemporary times" as part of the closure of the Postgraduate course in
Logotherapy and Human Development. In contemporary reality, the excessive consumption
of sources of immediate pleasure has led to the manifestation of dangerous symptoms,
resulting in a scarcity of fundamental human values. This essay proposes a reflection on the
social and cultural transformations that contribute to this reality, highlighting the influence of
unrestrained consumption and technology on the erosion of human values. It is argued that
the incessant pursuit of immediate pleasures, such as drugs, money, and excessive
engagement in social media, has led to a alarming increase in cases of anxiety, depression,
and suicide, especially among young people. Faced with this challenging scenario, it is
necessary to rethink the values that guide contemporary society and invest in promoting a
culture that prioritizes the meaning of life and human well-being.
Keywords: Existential emptiness, Scarcity of values, Unrestrained consumption,
Social media, Mental health.
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2- INTRODUÇÃO

Na realidade atual da vida humana, o consumo desenfreado de fontes de prazer


imediato está manifestando seus sintomas mais perigosos. A escassez de valores fundamentais do
ser humano, apontados por Viktor Frankl (2011) como valores de criação, valores de experiência e
valores de atitude, que antes alicerçavam a personalidade em formação dos jovens e davam
sentido às suas vidas, hoje dá lugar à liquidez e obsolescência dos prazeres fáceis, externos e
infundados dos modernismos. Drogas, dinheiro, bebidas, redes sociais usadas de forma desmedida
criam uma realidade paralela, onde pouco a pouco se instalam seres com formações psiquicas
frágeis.

3- METODOLOGIA

O trabalho trata-se de um ensaio teórico, explicado por Meneghetti (2011) como uma
abordagem reflexiva e opinativa sobre um evento ou fenômenos, dando uma maior liberdade na
construção dos argumentos, ao mesmo tempo que não pretende elucidar uma comprovação
empírica dos fatos avaliados.
O ensaio permite a criação de um discurso mais flexível, capaz de permear em
qualquer modalidade da comunicação ao associar a subjetividade do autor com o objeto a ser
estudado. Conceitos são refutados levando em consideração, sobretudo, a contemplação do
diálogo realizado através da leitura de outros autores. (CORREIO, 2018).

4- REFERENCIAL TEÓRICO

Bem é sabido que as inovações tecnológicas os novos panorama políticos e


econômicos, os modismos e a evolução estrondosa da tecnologia como lazer, carregam consigo
transformações nos comportamentos e nas relações, refletindo nos seres humanos e os
sucumbindo a uma mudança ao qual o corpo e a psique talvez não estejam preparadas. Por isto
os sentimentos de insegurança e de ameaça vem se tornando cada vez mais comum.
(SANTOS; DIAS, 2019)
Dessa forma, é possível observar que as práticas familiares e as relações criadas
dentro da sociedade também vem se modificando e se estreitando cada vez mais com uma
cultura de consumo desenfreado. Baseado nisso, o ser humano por sua vez, tem se distanciado
cada vez mais dos valores humanos e entrado profundamente em uma vida fútil e superficial.
(GIOVANETTI, 2019)
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Nesse contexto, a exposição a estímulos efêmeros e externos, o consumo de drogas,


bebidas dinheiro e prazer imediato cedido pela internet, soa como uma busca intensa por
preencher um vazio e encontrar um sentido para sua vida. Porém, esses excessos não levam a
superação desse vazio mas sim a perda cada vez mais significativa do sentido existencial
potencializando o sofrimento do ser humano que se esvaiu dos seus valores.
Segundo dados da Secretaria de Vigilância da saúde, do Ministério da Saúde, Os
casos de suicídio aumentaram 43% no Brasil em uma década, passando de 9.454, em 2010, para
13.523, em 2019. Entre os adolescentes, o aumento foi de 81%, indo de 3,5 suicídios por 100
mil adolescentes para 6,4. Nos casos em menores de 14 anos, houve um aumento de 113% na
taxa de mortalidade por suicídios de 2010 a 2013, fazendo do suicídio a quarta causa de morte
entre jovens de 15 a 29 anos.
Uma pesquisa conduzida com 2.651 jovens e adolescentes, pelo Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) sobre o emprego da
internet por jovens no Brasil, indicou que o engajamento em plataformas digitais é uma das
atividades online que mais se expandiram entre jovens no país. Em 2021, 78% dos usuários de
Internet com idades entre 9 e 17 anos exploraram as redes sociais, representando um aumento
em comparação com 2019 (68%). Além disso, a pesquisa revelou que o TikTok é a principal
plataforma social preferida por 34% dos usuários de internet entre 9 e 17 anos (Cetic.br, 2021).
Essa aproximação desenfreada das telas, dos vídeos curtos e prazeres imediátos
evidenciam uma busca disfuncional do preenchimento do sentido da vida, sem o norteamento
dos valores humanos, as lacunas do vazio existencial estão sendo preenchidas com uma vida
superficial e imediatista das redes sociais, que as vezes comprova não ser o suficiente para
sustentar a vontade de viver dos seres humanos.
Um estudo publicado pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de
Alagoas avaliou o impacto do uso das redes sociais na saúde mental dos adolescentes e
concluiu: o contato excessivo com as mídias digitais pode acentuar problemas sociais e gerar
grandes impactos na saúde mental dos usuários, além de dependência, o contato exagerado com
as redes sociais pode causar ansiedade e depressão.
Para Bauman (2014) na vida imedistista ou “agorista, do ávido consumidor de novas
experiências, a razão para correr não é o impulso de adquirir e acumular, mas sim de descartar e
substituir [...], prometendo uma nova e inexplorada oportunidade de satisfação”. Por este
ângulo, a atualidade é caracterizada por um intenso foco no consumo, em um planejamento de
obsolescência no qual a maioria das coisas perde, de maneira veloz, sua habilidade de
proporcionar satisfação, destacando que nem mesmo a relativa prosperidade da classe média na
sociedade contemporânea isentou o ser humano do vazio e do sofrimento existencial.
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Frente a isso, é possível notar que, mesmo em uma realidade tão acessível e com
diversas possibilidades de bem-estar e lazer, a vida humana está em constante estado de
sofrimento, como apontado por Frankl “as pessoas têm o suficiente com que viver, mas não têm
nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido” (FRANKL, 2018).
Para mais, Frankl ainda assevera “Há ainda outra manifestação que é a consequência
do vazio existencial: trata-se de uma neurotização específica, a “neurose noogênica’, que
etiologicamente tem sua razão de ser no sentimento de falta de sentido.” (FRANKL, 2016).
Essas “neuroses noogênicas” se referem a neuroses que “tem suas raízes não em complexos
psicológicos ou traumas, mas em problemas espirituais, conflitos morais, e crises existenciais.
(FRANKL, 2020)”
O problema então se apresenta no fato da geração atual estar intimamente ligada a
obtenção de prazeres imediátos e em grande quantidade, e é isso que tende a formar suas
personalidades e manter seus alicerces, que de forma óbvia, não durarão. Pois somente os
Valores podem ser este firme e rígido alicerce para o sentido da vida.
Segundo Gomes, os valores mais verdadeiros não conduzem necessariamente ao
prazer ou à felicidade, ao gozo. A sensação de realização provém do engajamento responsável
do homem em uma missão, que pode até estar envolvida pelo sofrimento. O sofrimento,
justificado pela importância da missão, ganha significado novo. Quando uma pessoa tem claro
para si mesma o porquê, a razão de ser de sua dor, esta parece diminuir (GOMES, 1988).
Os valores para Frankl, são possibilidades para realização de sentido de vida,
Frankl (2011), os classifica em três grupos: o primeiro fala das coisas que o homem dá ao
mundo em forma de suas “obras de vida”; o segundo refere-se as coisas que o homem recebe
do mundo, ad respeito as relações humanas e às experiências com o externo; e o terceiro à
atitude que o homem adota diante de uma situação que não é possível modificar, este
último, se refere ao valor de criação e é por meio dos valores de criação, que se pode observar a
capacidade humana de responder positivamente às situações imprevisíveis impostas pela vida.
Por fim, é desta falta desses valores que este ensaio se propõe a refletir, uma vez que
está nitido, claro e cada vez mais emergente em nossa sociedade a dificuldade das famílias e das
insituições em se imporem frente a nova geração que, sem perceber está vazia de sentido, vazia
de valores e tentando diariamente preencher tais buracos com os prazeres imediatos e
desenfreados propostos pelas drogas, pela bebida e principalmente pelo acesso às redes sociais,
cada vez mais cedo.
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5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da realidade contemporânea permeada pelo consumo desenfreado de fontes


de prazer imediato, a falta de valores fundamentais do ser humano se manifesta de maneira
alarmante. Viktor Frankl, em sua obra seminal "Em Busca de Sentido", delineia a importância
dos valores de criação, experiência e atitude na construção da identidade e do propósito humano.
No entanto, a liquidez e obsolescência dos prazeres fáceis, propagados pelos modernismos,
substituem esses alicerces, resultando na fragilização da psique e na formação de indivíduos
vulneráveis.
Este ensaio teórico reflete sobre as transformações sociais e culturais que permeiam
a atualidade, destacando a influência do consumo desenfreado e da tecnologia na erosão dos
valores humanos. As relações familiares e sociais são afetadas por essa cultura de consumo,
afastando os seres humanos de suas raízes éticas e morais, e imergindo-os em uma vida
superficial e fútil. A busca incessante por prazeres imediatos, como drogas, dinheiro e o
engajamento excessivo nas redes sociais, revela uma tentativa desesperada de preencher um
vazio existencial, resultando em um aumento alarmante dos casos de ansiedade, depressão e até
mesmo suicídio, especialmente entre os jovens.
Frente a esse cenário desafiador, é imperativo repensar os valores que norteiam a
sociedade contemporânea e investir na promoção de uma cultura que priorize o sentido da vida e
o bem-estar humano. A educação moral e o fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários emergem como ferramentas essenciais para enfrentar essa crise de valores.
Somente através do resgate e da valorização dos princípios éticos e morais, como destacado por
Frankl e outros pensadores, será possível construir uma sociedade mais justa, solidária e
compassiva, capaz de oferecer sentido e significado genuínos à vida humana.
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6- REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmund. Universidade do consumo: o novo senso de insignificância e


a perda de critérios. In: BAUMAN, Zygmunt; DONSKIS, Leônidas. Cegueira Moral: a perda
da sensibilidade na modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

CORREIO, N. L. O. F. Ensaio: da história às características do gênero na esfera


literária. Signum: Estudos da linguagem, Londrina, v. 21, n. 3, p. 288-307, 2018.

FRANK, Viktor. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração.


São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2018.

FRANK, Viktor. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração.


Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2018.

FRANKL, Viktor. Psicoterapia e existencialismo: Textos selecionados em


logoterapia. São Paulo: É Realizações, 2020.

FRANKL, Viktor. Teoria e terapia das neuroses: introdução à logoterapia e à


analise existencial. São Paulo: É Realizações, 2016.

GIOVANETTI, José Paulo. Desafios do terapeuta existencial hoje. In: FEIJOO, Ana
Maria; GIOVANETTI, José Paulo; SCHMIDLIN, Roberto Ernesto; ANGERAMICAMON,
Valdemar. A prática da psicoterapia. São Paulo: Pioneira, 1999.

GOMES, Jose Carlos Vitor. A prática da psicoterapia existencial: uma


aproximação à obra de Viktor Frankl e o movimento humanístico existencial da Escola de
Viena. Petrópolis: Vozes, 1988.

GUZZI, Drica; ADIB, Luisa; SANTOYO, Renata; SANTOS, Thais; Caminhos para
uma conectividade significativa: como novas dinâmicas de acesso à Internet impactam as
práticas online e o bem-estar de crianças e adolescentes? In: SIMPÓSIO CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NA INTERNET, TICK KIDS BRASIL ONLINE, 7. 2021. São Paulo:
10

Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação


(Cetic.br), 2021, p.1-21.

MENEGHETTI, Francis. O que é um ensaio-teorico?. Revista de Administração


Contemporânea. v. 15, n. 2, p. 320-332, 2011.

SANTOS, Reinaldo; DIAS, Cátia. Uma análise sobre a insegurança e o medo


existencial na contemporaneidade. Psicologia e Saúde em debate, v. 5, n. 1, 2019.

SOUZA, Karlla; CUNHA, Mônica XimenesCarneiro da. Impactos do uso das redes
sociais virtuais na saúde mental dos adolescentes: uma revisão sistemática da literatura.
Educação, Psicologia e Interfaces, v. 3, n.3, p. 204- 217, 2019.

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