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TENDÊNCIAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CONSUMO ENTRE JOVENS

Autora: RAQUEL MOÇO DE OLIVEIRA – FAMATH - raquelmjre@hotmail.com


Autora adicional: LIGIA CLAUDIA GOMES DE SOUZA – FAMATH

Resumo: A análise do impacto do consumo na sociedade é um tema recorrente nas


pesquisas em Psicologia, esses estudos objetivam investigar sua influência nos modos de
vida contemporâneos. Inegavelmente, o consumo é uma referência para a compreensão dos
modos de viver das sociedades, principalmente, as urbanas. O consumo foi naturalizado de
tal modo, a partir das vivências e dos discursos que o atravessam e produzem esse modo de
vida socialmente aceito. A tendência ao consumo excessivo passou a ser visto, por
exemplo, como meio mais prático e próprio de alcançar status social. As pessoas
consomem porque precisam estar inseridas no contexto da moda. Essa visão difundida,
principalmente, através dos meios de comunicação de massa que, com suas propagandas
atraentes, conseguem encaminhar muitos para o objetivo mercantil: compra, consumo. Os
jovens são aqueles que absorvem em grande parte esse impacto. As questões pertencentes a
esse período da vida os levam a sofrer grande influência dos seus pares e a partir da
necessidade de identificação com o grupo de amigos. As buscas por liberdade e por
independência, próprias da juventude, produzem no mercado capitalista, uma reação de
cooptar o jovem como uma possibilidade, ou mesmo, o meio de alcançar, cada vez mais,
volumosos lucros ao criar nichos de mercado, voltados para esse público. Pode-se observar
esse contexto, por exemplo, em inúmeros comerciais, em telenovelas, revistas e outros
meios afins. Entre os vários objetivos das investigações realizadas sobre o tema,destacam-
se: a busca por saber até que ponto o consumo tem influenciado a produção subjetiva nos
dias atuais, ou ainda como o consumo influência a relação dos jovens com o espaço
público. O interesse em conhecer as representações sociais do consumo dentre os jovens
motivou o desenvolvimento da presente pesquisa. Este trabalho teve como objetivo
principal levantar as Representações Sociais de jovens sobre o consumo, analisando as
tendências de consumo dos mesmos. Partindo do pressuposto de que, atualmente, os jovens
e a sociedade são influenciados, e produzem influências entre si, por discursos que se fazem
através das interações sociais. Esses discursos atravessam os sujeitos, produzindo
simbolismos, significados, modos de ser, para a vida individual e social. Segundo
Moscovici (2003), autor da Teoria de Representações Sociais, as Representações Sociais
são um conjunto de conceitos e explicações criados no dia-a-dia durante a comunicação
interindividual que guiam comportamentos, elas podem ser percebidas como o senso
comum da atualidade, tendo valor igual aos mitos e crenças das sociedades tradicionais. A
Teoria das Representações Sociais faz, então, um estudo da ordem do psicossocial, tem
como o objetivo o de descobrir a gênese e a circulação dos discursos na sociedade
contemporânea. O senso comum está constantemente se criando e re-criando,
especialmente nas sociedades que são influenciadas pelo avanço no conhecimento
científico e tecnológico. As imagens simbólicas advindas das descobertas científicas e das
interações dos sujeitos com os semelhantes que, tomadas como verdades pelo senso
comum, penetram as mentes através desse simbolismo, dando forma à linguagem e ao
comportamento inicial, que como num círculo são novamente modificados.A pesquisa
empírica contou com a amostra de 33 (trinta e três) estudantes universitários, de ambos os
sexos, com idade entre 18 (dezoito) e 23 (vinte e três) anos, escolhidos aleatoriamente, e
freqüentadores dos cursos de Biologia, Educação Física, Psicologia, Serviço Social e
Técnico Superior em Recursos Humanos de 5 (cinco) universidades da cidade de Niterói-
Rio de Janeiro. O instrumento utilizado foi questionário (semi-estruturado). Os dados
referentes ao questionário foram submetidos à análise de conteúdo de Bardin (1977). Os
resultados indicaram que há tendência de os jovens significarem o consumo como uma
necessidade diária (22,45%); quando convidados a escreverem como as pessoas de sua
idade compreendem o consumo, os resultados indicam um paradoxo, pois foi definido
pelos entrevistados como: adquirir objetos de desejo/satisfação (31,91%) e estar na
moda/locais da moda (16,67%). As tendências do consumo levantadas mostram que, eles
costumam consumir mais alimentos (20,27%) e, principalmente, artigos que se referem à
moda (fashion), tais como roupas, sapatos e acessórios (47,24%); o que podem ser
classificados como bens não-duráveis. Inversamente, o sonho de consumo dos entrevistados
se relaciona com bens-duráveis, casa (37.78%), carro (28.89%) e, com certo distanciamento
das primeiras categorias de respostas, estabilidade financeira (6,67%); quando os jovens
colocam a casa e o carro em destaque, como sonho de consumo, estão refletindo uma
demanda tipicamente brasileira. Assim, pode se verificar as tendências de consumo em um
tempo mais imediato, e para um futuro relativamente próximo. É importante destacar que,
nas respostas em que os entrevistados indicam o consumo de moda (roupas, sapatos e
acessórios) como o de maior freqüência entre os jovens, há uma relação com a
possibilidade de status social que esse tipo de consumo pode proporcionar ao sujeito, no
social; questões ligadas à aparência de superioridade e de pessoa atenta às mudanças,
atualizada. Ocorreu ainda uma tendência, entre os participantes, de denominarem como
aspectos negativos do consumo, o excesso nessa atividade (21.62%); os entrevistados
mostraram acreditar que exista a possibilidade desse comportamento tornar-se vicioso,
inclusive, aconselharam sobre a necessidade de controle de tais atitudes, essas respostas que
advertem os riscos do consumo se destacam em todo o material coletado. A utilização de
drogas (18,92%) também foi apontada como um dos aspectos negativos do consumo, se
destacando diante de outras respostas, que foram: gastos excessivos (16,22%) e tornar-se
materialista (13,51%). Os entrevistados alegam que diante das facilidades para esse tipo de
consumo e das influências do grupo isso pode se tornar um problema para os jovens das
sociedades contemporâneas. Os dados revelam também que há uma tendência de maior
consumo de drogas lícitas (15,38%), principalmente o álcool, por conta da influência
exercida pelo círculo de amizades. Dentre as razões para o consumo, o receio de exclusão
(54,54%) se destaca como a principal razão para que os jovens consumam de acordo com a
realidade de seu grupo de amigos e ainda, porque o grupo compartilha as mesmas idéias
(27,27%), foi um outro motivo dos jovens tomarem a forma do grupo ao consumirem. No
sentido contrário, o motivo ideal do consumo não influenciar na participação, dentro do seu
grupo de amigos foi considerarem a amizade verdadeira como interação livre de interesses,
acreditam que ser amigo é gostar do outro como está (52.94%). Com o presente trabalho
esperou-se ampliar a visibilidade das representações sociais dos jovens, o que pode
contribuir para um maior conhecimento sobre o impacto do consumo nesses jovens e sobre
a existência de toda uma cultura de consumo do novo. Cultura essa que, muitas vezes, se
produz entre as relações sociais dos indivíduos e através dos veículos de comunicação de
massa.
Palavras-chave: Representações Sociais, consumo, juventude.

Eixo temático: Mídia, Comunicação e Linguagem.


INTRODUÇÃO:

O consumo tem sido uma referência para a compreensão dos modos de viver das
sociedades, principalmente, as urbanas. O consumo foi naturalizado de tal modo, a partir
das vivências e dos discursos que o atravessam, que passou a fazer parte do modo de vida
socialmente compartilhado e aceito. Mesmo a exacerbação dessa tendência pode ser
entendida como um meio mais prático e próprio de alcançar status social nesse quadro.
Dentro da complexidade de nossa sociedade, os jovens são aqueles que absorvem,
em grande parte, esse impacto. As questões pertencentes a esse período da vida os levam a
sofrer grande influência dos seus pares, pois é peculiar dessa fase a existência da
necessidade de identificação com o grupo de amigos. As buscas por liberdade e por
independência, próprias da juventude, produzem no mercado capitalista uma reação de
cooptar o jovem como uma possibilidade, ou mesmo, um meio de alcançar cada vez mais
volumosos lucros, ao criar nichos de mercado voltados para esse público.
Essa realidade pode ser observada em inúmeros comerciais, telenovelas, revistas e
outros meios afins. O mercado passa a mensagem de que a verdade sobre o futuro da vida
se encontra na busca pelo o que é novo. Os consumidores por sua vez, assimilam a
mensagem, quase sempre sem questionamentos, buscando encontrar a imortalidade.

OBJETIVOS:

As ciências humanas têm procurado investigar essa realidade, inclusive a Psicologia


Social. A análise do impacto do consumo na sociedade é um tema recorrente nas pesquisas
em Psicologia Social, e esses estudos objetivam investigar sua influência nos modos de
vida contemporâneos.
Assim, constatação dessa realidade motivou o desenvolvimento da presente
pesquisa. Esta pesquisa objetivou investigar empiricamente, as tendências e representações
sociais entre jovens universitários.
Para o desenvolvimento deste trabalho utilizou-se de algumas questões norteadoras,
tais como: Qual é o sentido que os jovens dão ao consumo? Até que ponto, e como, o grupo
de amigos pode influenciar na prática do consumo? Quais são as tendências de consumo
entre jovens, e quais instituições influenciam mais na produção de discurso que atualizam
essas tendências?
Esta investigação buscou contribuir com a Psicologia na verificação de que os
sujeitos e a sociedade vivem uma relação dialética, ou seja, são influenciados e produzem
influências entre si. Isso ocorre através dos discursos que se interpõem nas interações
sociais. Esses discursos atravessam os sujeitos, produzindo simbolismos, significados,
modos de ser, para a vida individual e social.
Esperou-se, também, por meio desta investigação levar a sociedade à reflexão de
que a melhor saída para as questões do consumo, não é permitir-se à alienação; faz-se
necessário, nas sociedades capitalistas da contemporaneidade, o constante questionamento
dos discursos que permeiam suas práticas.

TEORIA DE BASE

O que são as representações sociais? Pode-se buscar o entendimento da formação


das representações sociais a partir do mecanismo humano de tornar normal/natural àquilo
que lhe parece estranho. Esse mecanismo, podendo ser entendido como estratégia, que se
processa internamente e nas interações do sujeito com o social, tem o objetivo de
proporcionar conforto/bem-estar aos atores sociais, pois a tendência do homem é rejeitar o
diferente, a diversidade, as constantes mudanças do mundo, aquilo que lhe traz desconforto.
Moscovici (1978) afirma que representações sociais são uma reunião de
explicações e idéias formuladas durante a comunicação interindividual. Nas sociedades
modernas, podem ser percebidas no senso comum da atualidade, tendo valor igual aos
mitos e crenças das sociedades tradicionais.
A Teoria das Representações Sociais é, então, um estudo da ordem do
psicossocial. Essa teoria se inseriu no campo da Psicologia Social, com o objetivo de
descobrir a gênese e a circulação dos discursos na sociedade contemporânea.
De acordo com Denise Jodelet (2001), colaboradora de Moscovici e difusora da
teoria, uma das principais características das representações sociais é o aspecto referencial,
isto quer dizer que as representações são a referência de um sujeito para alguma coisa. As
representações sociais pressupõem um objeto e um grupo. Uma representação é sempre de
algo para alguém. O sujeito e o objeto estão numa ligação simbólica e interpretativa, mas o
sujeito é quem confere os significados da realidade.
Ainda, segundo Moscovici (2003, p. 173), uma sociedade não pode existir se os
laços que unem as pessoas forem formados apenas de poder e interesses diversos. Para o
autor, as sociedades se fragmentam se não existir um conjunto de conceitos e valores,
normalmente apaixonantes, nos quais as pessoas acreditam e, através dos quais, se sentem
unidas, identificadas. O autor acredita que “[...] o que as sociedades pensam sobre seus
modos de vida, os sentidos que conferem a suas instituições e as imagens que partilham,
constituem uma parte essencial de sua realidade e não simplesmente um reflexo seu.”

MATERIAL E MÉTODO:

Os dados foram coletados junto a estudantes universitários, de diversos cursos em


quatro universidades do município de Niterói – Rio de Janeiro, no primeiro semestre de
2007. A coleta dos dados ocorreu a partir da aplicação de um questionário com oito
questões, tendo como objetivo principal levantar as tendências e representações sociais do
consumo entre os jovens. Os participantes estavam na faixa etária de 18 a 23 anos; a
escolha dos participantes foi aleatória, obedecendo apenas os critérios: idade e
escolaridade.
Os dados referentes ao questionário foram submetidos à análise de conteúdo de
Bardin (1977), e os resultados (freqüências e porcentagens) serão exibidos através da
descrição dos mesmos, de algumas tabelas e da discussão proposta a seguir,.

RESULTADO:

Nesta seção serão apresentados os resultados das análises de conteúdo, verificando


as tendências encontradas no grupo analisado, a partir das categorias de resposta em
destaque.
Em um primeiro momento, o consumo é considerado para maior parte dos
entrevistados (22.45%) uma “necessidade”. Foi possível observar que, dentre as categorias
de respostas seguintes, ocorreu uma grande distribuição dos percentuais, não havendo
significativas diferenças.
Foram averiguadas as tendências de consumo dentre os jovens universitários,
partindo da solicitação de que respondessem o que mais costumam consumir no seu dia-a-
dia. Os entrevistados deram destaque às “roupas” (25.68%), uma categoria de resposta que,
quando verificada juntamente aos índices das respostas: “sapatos” e “acessórios”, formam a
categoria vestuário com percentual interessante (47,24%), demonstrando qual seria o
destaque nas tendências imediatas. Os índices da categoria “alimento/guloseimas” também
se destacam como uma tendência de consumo imediato (20.27%). É importante salientar
que as categorias “cinema”, “teatro” e “shows”, quando unidas como categoria cultural
demonstram, assim, um percentual diferenciado (9.45%) nas tendências de consumo deste
grupo social.
O sonho de consumo segundo a maior parte dos entrevistados é possuir uma casa
(37.78%), refletindo, assim, uma demanda da maior parte dos brasileiros que é possuir
moradia própria, e um carro (28.89%). É interessante observar que essas duas primeiras
categorias se distanciam grandemente das seguintes.
As representações sociais dos jovens universitários sobre os aspectos positivos do
consumo foram demonstradas, com certo destaque, através dos índices das respostas
“satisfação pessoal” (20%), ”estar na moda” (16.67%) e “ter possibilidade de se instruir”
(16.67%), ocorrendo uma grande distribuição dos percentuais entre as categorias, não
havendo grande diferença entre as mesmas.
O aspecto negativo do consumo que obteve destaque entre os respondentes foi o
“vício do consumo” (21.62%). Observou-se, também, como explicação dessa resposta, a
ocorrência de alguns conselhos sobre o perigo do consumo se tornar um comportamento
vicioso.

Tabela 1: Razões da influência do consumo na participação dos entrevistados no grupo de


amigos.
Categoria n %
Receio de exclusão 06 54.54
Grupo compartilha as mesmas idéias 03 27.27
Preocupação com a imagem 02 18.18
Total 11 100
A investigação demonstrada na tabela de número 1 (um), buscou saber se o
consumo influenciava a participação dos entrevistados no seu grupo de amigos. Tendo um
total de 33 entrevistados, a resposta “sim” obteve 39.39% dos participantes e a resposta
“não” 57.57%. Não responderam 3.03% dos participantes.
Dentre as respostas, o “receio de exclusão” (54.54%) se destacou como a que
revela o principal motivo da influência do consumo na participação dos entrevistados no
seu círculo de amigos. Sendo possível perceber que esse dado se coloca como um índice de
importância. Podendo, assim, confirmar o que afirma Campos (2002), que o jovem busca
identificação com o seu grupo, um comportamento defensivo, com o objetivo de sentir
segurança e estima pessoal.

Tabela 2: Razões da não influência do consumo na participação dos entrevistados dentro


do grupo de amigos.
Categoria n %
Amizade é gostar do outro como está. 09 52.94
Não é preciso consumir para ter amigos. 03 17.65
A base da amizade não está em possuir bens. 02 11.76
Outros 03 17.65
Total 17 100

A categoria de resposta “amizade é gostar do outro como está” (52.94%) na tabela


de número 2 (dois), com significativa diferença das seguintes, revela o que os entrevistados
consideram como sendo o motivo ideal do consumo não influenciar na sua participação
dentro do seu grupo de amigos.

Segundo os participantes, os principais significados de consumir no grupo de


amigos são: “gastar em excesso para ser notado” (20.51%) e, logo em seguida, o uso de
“drogas lícitas” e busca “diversões”, ambas com (15.38%). Assim, como nas investigações
anteriores, observando-se que dentre as categorias seguintes ocorreu uma grande
distribuição dos percentuais não havendo significativas diferenças.
Tabela 3: Significado do consumo entre as pessoas da mesma faixa etária dos entrevistados.
Categoria n %
Adquirir objetos de desejo/satisfação 08 17.02
Estar na moda/ em locais da moda 08 17.02
Comprar/possuir 07 14.89
Necessidade 06 12.77
Status social 05 10.64
Gastar dinheiro 03 6.38
Participar do grupo 03 6.38
Viver a vida/curtir 02 4.25
Outros 05 10.64
Total 47 100

Os significados do consumo, entre as pessoas da mesma idade dos participantes,


verificados na tabela de número 3 (três), se concentram nas categorias: “adquirir objetos de
desejo/satisfação” (17.02%), “estar na moda/em locais da moda” (17.02%) e
“comprar/possuir” (14.89%). Ao entrelaçar os dados das categorias “adquirir objetos de
desejo/satisfação” (17.02%) e “comprar/possuir” (14.89%), para uma análise mais
abrangente, é possível verificar um interessante índice (31.91%), se revelando como um
dos principais significados do consumo entre os jovens dessa faixa etária, ou seja, o desejo
por possuir, comprar mais e mais, se firmando entre esses jovens, como uma representação
social significativa, que se desdobra nos resultados comerciais da atualidade.
Se unidos forem os índices das categorias de respostas “estar na moda/em locais
da moda” com os índices da categoria “status social”, já que esta última foi uma questão
amplamente relacionada ao consumo da moda, nas justificativas que os entrevistados
ofereciam às suas respostas, tem-se um considerável resultado (27.66%).

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nos resultados obtidos nesta investigação observou-se, em um primeiro momento,


a tendência dos participantes identificarem e reconhecerem o consumo como uma
necessidade; por meio de exemplos, afirmaram que essa necessidade está relacionada ao
consumo daquilo que é rotineiro, cotidiano e para sobrevivência, o contrário de
consumismo por prazer ou vício. Entretanto, se verificou, ao longo das respostas, um
paradoxo quando os participantes puderam caracterizar consumo, como compreendem as
pessoas da mesma idade, ou seja, consumir saiu do plano exclusivo da necessidade do
cotidiano, para ser considerado como: adquirir objetos de desejo/satisfação e estar na
moda/locais da moda.
Os respondentes demonstraram, também, uma tendência a um maior consumo de
roupas e de alimentos, como bens não-duráveis; no entanto, é importante destacar que
quando respondem que o que mais costumam consumir são roupas, fazem referência,
através de suas explicações, à busca por um certo status social que esse modo de consumo
pode proporcionar. Martins, Trindade e Almeida (2003), investigaram as representações
sociais da adolescência, entre jovens que vivem em zonas urbanas e rurais do território
brasileiro. Nos resultados dessa investigação citada é possível verificar uma similaridade
com os resultados deste trabalho, quando os jovens de ambas pesquisas demonstram,
através do seu discurso, que possuir e ser são equivalentes. Segundo os autores, os jovens
revelam através de suas respostas que: “[...] a posse dá sentido ao ser, à medida que
dependendo da quantidade e da qualidade dos produtos de posse a pessoa é qualificada.”
Isto é, possuir ‘certos’ produtos pode produzir uma elevação social do sujeito ou permitir
que o mesmo esteja em um grupo determinado. É o que muito se discute hoje, os sujeitos
precisam vender sua imagem, precisam aparentar ser, como uma senha, para que seja
possível freqüentar alguns lugares. Como? Comprando essa imagem, essa senha, esse
significado.
Por outro lado, de acordo com a maior parte dos entrevistados, no sonho de
consumo, se destacam os bens duráveis. Entre eles, os principais foram possuir moradia
própria e um carro, como foi dito na seção anterior, o que reflete uma demanda tipicamente
brasileira.
Assim, com os dados descritos e analisados acima, se pode perceber as tendências
de consumo para um tempo mais imediato e para um futuro relativamente próximo.
É importante destacar um segundo paradoxo, ao mesmo tempo em que, nas suas
respostas, os participantes destacam o desejo por possuir/comprar, até para que seja
possível se inserir em determinado grupo ou obter status social, também consideraram o
excesso no consumo como algo negativo. Ocorreu nas respostas uma tendência dos
entrevistados alertarem sobre os malefícios do consumo, chegando inclusive a
aconselharem contra o mesmo. Essa realidade pode ser observada na fala dos entrevistados,
citadas a seguir: “O consumo em excesso pode virar um vício.” Ou, ainda: “O consumo
demasiadamente nos deixa condicionados a consumir sempre [...]”. E mais: “Futilidade, a
pessoa pode se perder nesse mundo do consumo, achando que ela é pelo o que ela tem e
não pelo que ela é. Esse é o problema.” Uma última: “O consumo é uma atividade
necessária, porém perigosa. Deve se ter o equilíbrio.” Assim, demonstraram uma tendência
de conferir ao consumo, ao mesmo tempo, uma oportunidade de prazer, de realização de
desejos e sonhos, como também, um território perigoso, onde aquele que não sabe caminhar
com cuidado corre o risco de sofrer conseqüências, desde dívidas até transtornos
provocados por um comportamento vicioso. Essa preocupação dos participantes desta
investigação, pode se justificar através da pesquisa de Rodrigues (2007), citada
anteriormente, em que quase metade do perfil de inadimplentes no Brasil é de jovens.
Um outro aspecto negativo do consumo destacado pelos participantes, levantado
pelos respondentes foi a possível utilização de drogas ilícitas. Isto é, a facilidade que jovens
universitários, quase sempre de nível sócio-econômico médio, encontram em poder pagar o
que se quer possuir traz preocupação, aos mesmos, em relação às drogas. Afirmaram,
também, em um índice considerável, que o consumo entre amigos significa utilização de
drogas lícitas. Dados confirmados por Muza (1997, p. 22), quando pesquisou o consumo
de drogas entre adolescentes escolares, chegando à conclusão que: “[...] as substâncias
psicoativas, sejam lícitas ou ilícitas, são freqüentemente experimentadas na adolescência,
tanto pelos meninos como pelas meninas, muitas vezes em idades bem precoces[...]”.
Fonseca (2002), investigou sobre a aquisição de drogas entre estudantes brasileiros, e
chegou a conclusão que as drogas mais amplamente usadas são as legais, tais como o
tabaco e o álcool. O álcool aparecendo em primeiro lugar entre os alunos pesquisados.
Sendo, assim, outro estudo que confirma os dados da presente pesquisa, e revelam,
também, uma tendência de maior consumo de drogas lícitas, principalmente o álcool, por
conta da influência exercida pelo círculo de amizades. Pode-se, aqui, levantar o seguinte
questionamento: o que tem levado os jovens se anestesiarem? Eis uma questão para uma
investigação futura.
Outro dado interessante que se destacou, podendo ser trazido para discussão, é o
receio de exclusão por parte do grupo de amigos que o entrevistado freqüenta, como razão
de influência para o consumo. Isto é, uma tendência dos jovens consumirem conforme as
regras de consumo do seu grupo, para se sentir socialmente ajustado. Campos (2002, p.
117), afirma que o jovem querendo construir uma identidade, que não é mais a de criança
dependente, mas também não é a de um adulto, recorre ao que lhe é parecido, buscando um
grupo que tenha percepções semelhantes sobre a vida para, assim, sentir-se inteiro e não
despedaçado pelas diferenças observadas e apontadas, culturalmente, pelo o mundo adulto.
Segundo a autora, “[...] trata-se do espírito de grupo em que se dá uma superidentificação
de massa, onde todos se identificam com cada um”.
Corroborando, também, com os dados desta pesquisa, sobre os motivos da
influência do grupo nas escolhas do indivíduo, estão os postulados de Erikson (1972). O
autor afirma que o processo de construção da identidade pessoal é a tarefa de maior
importância da adolescência, é um momento divisor de águas. Momento da mudança
adolescente para o mundo adulto. Ter uma identidade construída implica em saber valores e
caminhos a serem tomados pela vida. Ainda, conforme o autor, na construção da identidade
o jovem recebe influências: intrapessoais, das capacidades inatas do indivíduo e
características adquiridas; interpessoais, ou identificações com outras pessoas; e culturais, o
que seriam os valores sociais, de modo geral, a que os indivíduos estão expostos. Sendo
assim, os jovens são campo fértil para influências produzidas pelas inter-relações. Minayo
et al.(1999, p. 18) defendem que “[...] o grupo é o lugar privilegiado de construção de
identidade para os jovens”. Conforme estes autores, o conceito de identidade diz respeito
aos possíveis pertencimentos do sujeito: seja social, assim como, cultural, étnico e de
gênero. E esse pertencimento é construído nos ambientes sociais e institucionais, de modo
geral, onde o sujeito compara e contrasta nas suas inter-relações socioculturais.
Assim, esta investigação constatou que, em linhas gerais, os jovens apresentam
tendência de considerarem o consumo como algo indispensável, necessário, prazeroso; o
consumo é reconhecido como o meio que permite ter status social e, através do qual os
jovens podem ser aceitos continuamente, ou não, no grupo em que está inserido, isso vai
depender da forma que se consome.
Ou seja, essas tendências de consumo e significados que os jovens deram ao
consumo, se revelam como as representações sociais que jovens universitários tem
desenvolvido de forma dinâmica, através de suas interações sociais. Em vista disso, como
foi constatado através dos resultados desta pesquisa, os atravessamentos produzidos pelo
grupo de amigos e pela mídia são de grande importância na construção e reprodução de
representações sociais.
Tais dados vêm reforçar o grande valor de investigações sobre tendências e
representações sociais dos jovens sobre o consumo. Estudos desta natureza adquirem
préstimo ao permitir, com seus resultados, reflexões e ampliação da visão de jovens, da
sociedade e da Psicologia. Assim, com este estudo se esperou produzir questionamentos
sobre os discursos que permeiam o dia-a-dia dos sujeitos, com a finalidade de construir
reflexões sobre os mecanismos de manutenção do poder, dessa máquina capitalista, que se
impõem na essência da produção de tendências e representações sociais do consumo entre
jovens.
O presente estudo, embora tenha apontado resultados importantes, deve ser visto
com certas limitações devido ao fato, principalmente, de que o ser humano está em
processo de constantes mudanças. Assim, se pode considerar estes resultados como parciais
de um tempo e um local. Podendo sugerir a realização de diversos estudos a serem
realizados, para confirmação ou não dos resultados aqui obtidos.

REFERÊNCIAS

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