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HISTORIOGRAFIA CRÍTICA
Esclarecimento e emancipação em tempos de neonacionalismos. A Escola de
Frankfurt e as metamorfoses da História

Estevão de Rezende Martins


Universidade de Brasília

As concepções de História nos autores da assim chamada Escola de Frankfurt,


desde a fundação do Instituto de Pesquisa Social em 1924 e de sua revista, publicada
entre 1932 e 1941, são mutantes.1 A perspectiva crítica desde a qual o fenômeno do agir
humano no tempo e no espaço é visto, por pensadores como Max Horkheimer ou
Theodor Adorno, combina teoricamente interpretações, autônomas e criativas, é certo,
notadamente de autores como Hegel, Marx, Freud e Max Weber, de que são tributárias.
A pressão do ambiente político, econômico e social nos anos 1920 e 1930,
marcado pelo movimento ascendente dos nacionalismos, tão autocentrados quão
pretendentes a hegemonia, projetou espessas sombras sobre a emancipação crítica do
pensamento na, já então, longa tradição iluminista do esclarecimento.
Os cataclismos políticos e os sangrentos conflitos entre 1933 e 1945, agravados
pela persistência das crises de confiança no futuro, no final dos anos 1960, causou o
renascimento do interesse pelo pensamento frankfurtiano em 1968 e nos anos seguintes,
redourando o brasão de uma linha filosófica de reflexão afinal nem tão conhecida assim
no imediato pós-2ª. guerra mundial.
O primeiro modo de ver a História, nos anos 1920, ficou marcado, por
conseguinte, pelo duro desafio que proviera do insucesso das tentativas de estabelecer
repúblicas soviéticas na Alemanha, após o naufrágio da 1ª Guerra Mundial. Com efeito,
entre 1918 e 1920 a Alemanha neorrepublicana estava desorientada e os ecos da
revolução russa pareceram ser a saída, com base em Marx e em Engels, para a
regeneração e a socialização dos alemães e, por extensão, do mundo – mesmo se essa
extensão fosse problemática.

1
O Instituto de Pesquisa Social foi fechado assim que os nazistas assumiram o poder, em 1933. Na
Alemanha saiu apenas o 1º. volume da revista. Os volumes 2 a 7 foram publicados em Paris (até que os
nazistas a ocupassem, em 1940), e os dois últimos volumes (8 e 9) , em Nova Iorque.
1
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A apropriação redutora e político-partidária de fragmentos do pensamento de


Marx pelos comunistas, no entanto, gerou um diagnóstico crítico quanto à parcialidade
das opções, ao partidarismo ideológico e ao totalitarismo político. A leitura
neodespótica de Marx no plano político causou desconforto intelectual entre os
pensadores de Frankfurt, gerando um sentimento de abuso e insuficiência. Abuso
porque se constatava uma nova versão de dominação, ideológica. Insuficiência, porque
as consequências filosóficas do deslocamento temporal ao longo praticamente de um
século de transformações entre 1848 e 1930, pareciam deixadas de lado.
Para situar tal contexto, recorramos à extraordinária introdução analítica de
Alfred Schmidt (1931-2012) à edição facsimilar completa da Zeitschrift für
Sozialforschung, organizada pela editora C. H. Beck, de Munique, em 1970, é
provavelmente uma das sínteses mais pertinentes do espírito e do alcance do ambiente
que envolveu a fundação da revista. Nascido no ano anterior ao do lançamento da
revista, Schmidt possivelmente foi um dos pensadores que mais claramente incarnou o
espírito da reflexão crítica e independente sobre o pensamento de Marx, como afirmou
Rudolf Walther no elogio póstumo publicado na Tageszeitung (Berlim) em 31 de agosto
de 2012.
Nessa introdução, Schmidt lembra o papel inicial, fortemente inabitual nos anos
1920, do primeiro diretor do Instituto de Pesquisa Social, Carl Grünberg (1861-1940).
Grünberg foi certamente um dos raros marxistas confessos a dispor de uma cátedra em
uma universidade alemã. Após longa carreira em Viena, foi nomeado em 1924 para
Frankfurt. Atuou efetivamente só até 1927, tendo de retirar-se por graves problemas de
saúde. Seu sucessor, em 1929, foi Max Horkheimer.
Considerado um dos pais do austromarxismo, Grünberg fundara em 1911 a
respeitada revista Archiv für die Geschichte des Sozialismus und der Arbeiterbewegung,
publicada até 1930. Como em muitos empreendimentos do gênero, a revista não
sobreviveu à enfermidade de seu fundador e diretor. Seu viés político-ideológico,
mesmo se não político-partidário, vinculado à ideia oitocentista do socialismo utópico e
da idealização parcialmente heroica do operariado, restringia igualmente o alcance da
revista, em um mundo em que a repressão à liberdade de expressão e a ascensão das
ideologias fascistas comprometiam seriamente a independência do pensamento crítico.
A essa sina não escapou, como se sabe, a Revista de Pesquisa Social, que surgiu não
para substituir o Archiv, mas para ser possivelmente o marco inaugural da escola de
história social alemã, à maneira dos famosos Annales d’Histoire Économique et Sociale,
2
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fundados por Lucien Febvre e Marc Bloch em Estrasburgo, em 1929. Embora não se
encontre referência mútua entre as duas publicações nos anos 1930, bem se entende
como a realidade então contemporânea suscitava uma profunda revisão dos métodos de
abordagem da experiência social e histórica de um e de outro lado do Reno.
Antes da 1ª Guerra Mundial, com o Archiv, no intervalo das catástrofes, nos
anos 1930, com os Annales e a ZfSF, pairava sobre os empreendimentos a ânsia de
enfim emancipar pensamento e sociedade da imaturidade dolosa em que se haviam
mantido, apesar do alerta pungente de Kant, ao escrever, em 1784, que o esclarecimento
(Aufklärung) se destinava justamente a libertar a humanidade desse grilhão.2
No discurso de posse de 1924, o veterano Grünberg proclamou princípios
orientadores para o novo Instituto de Pesquisa Social diretamente hauridos no
unitarismo metodológico da filosofia neodespótica de Marx: “unicidade
[Einheitlichkeit] na formulação das questões e em sua resolução”.3 Essa unicidade
centralizadora não logrou o resultado objetivado por Grünberg. Não por falta de vontade
do autor, mas pelas circunstâncias políticas que envolveram a atualidade alemã do final
dos anos 1920 e do início dos anos 1930. Além do mais, Grünberg conservara uma
ligação direta com sua revista, podemos dizer: preferida, o Archiv. Somente após seu
afastamento e a chegada de Horkheimer à direção é que começam a se delinear os
contornos do que marca a Escola de Frankfurt: a teoria crítica.
Essa teoria não manteve o que Grünberg considerava, à época, ser uma espécie
de panaceia universal: o marxismo, mesmo em uma versão aparentemente mitigada.
Com efeito, a concepção de História como o caminho da atuação humana programada e
absoluta estava marcado, para ele e outros pensadores do austromarxismo, como Karl
Kautski ou Otto Bauer, pela inevitabilidade do determinismo socioeconômico marxista,
O caráter lacunar e inconclusivo desse determinismo já fora combatido por muitos
pensadores, mesmo se de modo indireto, como Max Weber, e foi fortemente ressaltado
por um contemporâneo, Ludwig von Mises. Em suas memórias, von Mises sublinhou o
fato de que a carência de opções na teoria econômica nos anos 1920 conduziu a um
interesse exagerado pelo determinismo marxista. Chegou mesmo a dizer de Otto Bauer
que, se não tivesse sido tão tacanhamente apegado ao marxismo de então, poderia ter-se

2
Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung? Berlinische Monatsschrift. Dezember-Heft 1784. S. 481-
494. Ed. brasil. Via Verita, 2011. Há também a tradução de Luiz Paulo Rouanet em linha:
http://ensinarfilosofia.com.br/__pdfs/e_livors/47.pdf
3
Carl Grünberg, Discurso inaugural na instalação do Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurter
Universitätsreden, vol. XX, Frankfurt am Main 1924, p. 8.
3
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tornado um homem de Estado destacado no mundo austríaco.4 O mesmo valeria para


muitos dos pensadores que não souberam distinguir, como o acabou por fazer a teoria
crítica, entre o pensamento de Marx e seu uso político nas opções estatais e autoritárias
da primeira metade do século 20.
Desde Grünberg a abordagem da História se fazia a partir de uma perspectiva
filosófica. Referência direta à historiografia propriamente dita, como ocorre com os
Annales, passa usualmente ao largo dos frankfurtianos. A noção de marxismo, nos anos
1920-1930, serve para designar um sistema econômico fechado em si, uma determinada
visão do mundo e um método único de pesquisa. A visão de mundo (Weltanschauung)
de que se fala à época, não tem contornos claros e inclui um otimismo metódico,
positivista e ingênuo, quanto à determinação histórica de uma evolução inevitável: a
superação do capitalismo pelo socialismo.
Tal concepção primária da História é tributária de um unitarismo filosófico
típico do período, em que também a unicidade absoluta da ciência era buscada com afã,
como no pensamento do Círculo de Viena.5 O método único se resumiria ao
materialismo histórico entendido ingenuamente como um positivismo realista imediato
e instrumentalizado como coluna-mestra do socialismo científico. Com tal simplismo
filosófico, a concepção de História não passaria de um sistema filosófico que, para
Grünberg, não pretende ser metafísico nem herdeiro do materialismo histórico clássico.
Embora Grünberg usufruísse de uma sólida reputação como autoridade em economia
política, a ingenuidade de seu marxismo parapolítico pouco ou nada teria contribuído
para o renome posterior da teoria crítica.
Com efeito, a dimensão crítica da escola de Frankfurt não pode abrir mão de
Hegel e da concepção filosófica da dialética, que Grünberg simplesmente ignora.
Justamente a diversidade e a complexidade do fenômeno social concreto, com suas
múltiplas origens, efetivações e consequências, é que movem e inspiram a renovação
radical do pensamento filosófico, mais especificamente após o choque e a depressão
cultural do pós-guerra.

4
Memoirs (1940). Auburn: Ludwig von Mises Institute, 2009, p. 14.
5
Uma breve e pertinente introdução ao Círculo de Viena: Mélika Ouelbani. O Círculo de Viena. São
Paulo: Parábola Editorial, 2009.
4
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Tal complexidade inspira os trabalhos de Horkheimer e de Adorno, notadamente


na obra Dialética do Esclarecimento (Dialektik der Aufklärung), que pode ser
considerada uma espécie de manifesto fundador da teoria crítica.6

II. Razão e materialidade

Com efeito, o ‘materialismo’ de Horkheimer não implica crença alguma na


inevitabilidade de um progresso qualquer – a situação crítica do pós-guerra aponta
justamente na direção da admissibilidade mesmo de uma involução histórica. Em artigo
publicado em 1942, intitulado “O estado autoritário”7, Horkheimer analisa a evolução
das principais sociedades de seu tempo como fenômeno da ascensão do capitalismo
estatal, da burocratização das organizações políticas, em especial dos partidos de massa.
As contradições econômicas do capitalismo, para ele, parecem cristalizadas, bloqueadas
pelo planejamento e pelas políticas conjunturais, em particular nos países em que
domina a ditadura do estado monopartidário, alienada da realidade social. Obviamente,
as circunstâncias da guerra, em um momento em que o nazismo parecia triunfar, e a
tirania estalinista na União Soviética aparentava ser intocável, condicionam tais modos
de pensar.
Para Horkheimer, os movimentos sociais (em sua época considerava-se quase
que exclusivamente o movimento operário industrial urbano), de baixa densidade
organizacional, estão longe de serem eficazes contra as estruturas econômicas e sociais
do Estado, ou por tentarem copiá-las ou por estarem cooptadas por elas. A teoria crítica,
para ele, tem de enfrentar tais desafios: pela superação tanto dos evolucionismos
econômicos ingênuos quanto dos determinismos metafísicos. Assim, a História não
pode estar pré-programada, mesmo se a contingência do ocorrido no passado se
transforme em uma necessidade de fato, já não mais substituível, mas certamente não
obrigatoriamente repetível. O esclarecimento, formulado em termos de emancipação e

6
Theodor W. Adorno/Max Horkheimer. Dialektik der Aufklärung. Philosophische Fragmente.
Amsterdam: Querido, 1947. Edição brasileira: A Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1985. O livro foi redigido em cooperação entre Adorno e Horkheimer, entre 1939 e 1944, quando se
e o trava asilados os Estados U idos. O su título Frag e tos filosófi os sugere erto aráter
ensaístico, pois os textos são resultado das conversas entre os autores, registradas por escrito pela
esposa de Adorno, Gretel. Somente em 1969 foi reeditado, em alemão.
7
Em M. Horkheimer. Gesammelte Schriften (ed. Gu seli “ h id Noer , vol. , „Dialektik der
Aufkl ru g u d a dere “ hrifte 9 -1950. Frankfurt/Meno: DTV, 1987, p. 293-319.
5
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libertação, passa forçosamente pela crítica da crença no progresso e da admissão do


horizonte do desenvolvimento econômico como referência.
Essa agenda da teoria crítica, tal como esboçada por Horkheimer, é certamente
estratégica. Ela não está mais a serviço de uma determinada visão de mundo e de um
determinado grupo social. A perspectiva crítica torna-se independente, por natureza, de
todos os formatos de elaboração de uma interpretação da realidade – passada, presente
ou futura. Como lembra Rüsen, malgrado não mencionar diretamente a escola de
Frankfurt ou a teoria crítica, em sua Teoria da História, a atitude e a abordagem críticas
são as molas propulsoras da passagem da abordagem tradicional à exemplar e à genética
na produção historiográfica.8 Essa interpenetração crítica das três formas de produção
historiográfica ocorre também em dois outros níveis. Um nível pré- ou paracientífico,
em que se elabora e atribui sentido ao tempo, historicizando-o. E um nível pós- ou
paracientífico, em que se dá a apropriação dos sentidos históricos disponíveis na
sociedade e na cultura, pelos processos da educação histórica.
Horkheimer já diagnosticara que a análise crítica põe a questão da razão na
sociedade e na História em termos de sua irradiação ou de seu eclipse.9 O triunfo de
uma razão crítica e emancipadora, que habilita todo e qualquer um (e não apenas um
que outro) a ser o senhor de sua história, é o projeto a ser buscado e, propriamente, o
projeto original do esclarecimento tal como formulado no século 18. Esse projeto está
sempre em curso, não se esgotando nos diversos formatos específicos com os quais a
razão seria identificada. Essa identificação contingente com projetos específicos, como
o da revolução proletária ou o da sociedade anárquica, por exemplo, na realidade
promove uma instrumentalização da razão. Razões instrumentais esgotam seu sentido
nos projetos – efêmeros, como mostra a História – a serviço dos quais são postas. São
meros meios para a obtenção de fins imanentes, contingentes, vinculados a propostas e
objetivos específicos, marcados pela transitoriedade e pela unidimensionalidade. Razão
crítica é o foro e a esfera privada da autonomia reflexiva, instância judicante, à maneira
de Kant, sobre as razões de ontem, as razões do momento e as razões do amanhã.10
A razão crítica se enraíza, pois, no sujeito, que a razão instrumental usualmente
negligencia, quando não coisifica. A redução mistificadora e, em certo sentido,

8
Jörn Rüsen. Historik. Theorie der Geschichtswissenschaft. Colônia-Viena: Böhlau, 2013, p. 215 e 260.
9
O livro de M. Horkhei er, E lipse of Reaso , de 9 7, foi traduzido para o alemão com o título de
Críti a da raz o i stru e tal Zur Kritik der instrumentellen Vernunft. Frankfurt/Meno: Suhrkamp,
1967).
10
Crítica da Razão Pura (1787), B 779.
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mistificadora, da razão a meio para fim, é certamente um problema crítico. Afinal, a


tradição moderna do pensamento iluminista coloca a razão como instância crítica,
penhor imediato da autonomia do sujeito, para cuja maturidade o processo histórico da
educação é ao mesmo tempo fundamental e decisivo.
Como lembra Franklin Leopoldo e Silva, a propósito da função crítica nos
processos psicológicos, a teoria crítica requer entender as causas da aplicação rotineira
do modelo racional a uma realidade que parece lhe ser adversa. O triunfo histórico de
certo paradigma de racionalidade instrumental, por assim dizer distante, reduz seu
objeto a coisa inerte, constituindo-o como homogêneo, mesmo ao preço do completo
afastamento da realidade a ser conhecida. A força da instrumentalização amolda seu
produto ao paradigma, sem considerar a efetividade concreta da História. “Isto indica - e
por isto o exemplo da Psicologia é estratégico - não apenas o grau a que pode chegar o
construto artificial no conhecimento, mas principalmente o abandono, por parte da razão
instrumental, do sujeito, cuja emancipação e enaltecimento havia sido a tarefa mais
insigne da própria razão, no nascimento da modernidade.”11 O diálogo entre a
historiografia e a teoria crítica, assim, é um requisito sem o qual a análise promovida
pelas opções filosóficas da Escola de Frankfurt se tornariam inócuas. Essa afirmação
pode ser forte, mas encontra-se regularmente, nas investigações históricas
independentes na segunda metade do século 20, como indica a reconsideração
pragmática contemporânea da razão instrumental, já sem o viés de crítica da alienação,
ainda forte em Horkheimer. Assim, a aceitação de normas instrumentais, de caráter
metódico, é usual na Filosofia, na Economia, na Sociologia ou na História, despidas da
controvérsia da alienação ou da manipulação.12 A metacrítica da razão instrumental não
elude o risco de persistirem situações de interferência, alienação, manipulação, tutela,
notadamente no espaço público. Nesse espaço, desempenham papel relevante
convicções nacionais, derivas nacionalistas, estratégias políticas, resiliências culturais,
objetivos educacionais, conteúdos instrucionais, interpretações sociais do passado,
preferências étnicas, crenças transcendentais, ideologias de todos os tipos e assim por
diante.

11
SILVA, Franklin Leopoldo e. Conhecimento e Razão Instrumental , Psicol. USP, São Paulo, v. 8, n. 1,
1997. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65641997000100002.
12
Christoph Halbig/Tim Henning (orgs.). Die neue Kritik der instrumentellen Vernunft, Frankfurt/Meno:
Suhrkamp, 2012.
7
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Para apreender a complexidade deste processo requer-se compreender algo da


história da razão, e assim tentar seguir um movimento que se caracteriza
simultaneamente pelo progresso e pela regressão. Uma das contribuições básicas de
Adorno e Horkheimer para a compreensão do processo histórico de desenvolvimento do
iluminismo foi chamar a atenção para a relação dialética entre estes dois polos,
mostrando assim a necessidade de introduzir a consideração da contradição na história
da razão e no processo emancipador, cuja realização se daria ao longo desta própria
História.
Na segunda geração da Escola de Frankfurt, o pensamento crítico de Jürgen
Habermas é fundamental. Sua teoria do agir comunicativo é um elemento estruturante
para compreender o processo ao longo do qual e por força do qual se dá a construção da
consciência histórica e da educação histórica. A abordagem da História permanece, em
Habermas, no plano filosófico. O diálogo com a historiografia empírica é somente
indireto (e muito indireto). No entanto, desde O Absoluto e a História, tese de
doutoramento em 1954, em que se debruça sobre o pensamento de Schelling, sob a
orientação de Erich Rothacker, Habermas demonstrou preocupação justamente com a
tensão dialética entre o duradouro (absoluto) e o efêmero (contingente) – binômio
categorial paralelo ao binômio caro à reflexão histórica: permanência e mudança.
Por certo a evolução política, econômica, social e cultural dos últimos setenta
anos atravessou fases e promoveu transformações de monta. As rupturas não foram
todas do mesmo tipo. A Guerra Fria consistiu em fraturas e ameaças letais que, ao
cristalizar certezas aparentes, desestabilizaram as esperanças e expectativas de paz e
equilíbrio. A revolução dos costumes e da iconoclastia, sob o epíteto de “Maio de 68”,
ao dar expressão à saturação e ao desencanto, não resolveu tudo nem apaziguou todo o
mundo. As crises do petróleo e as guerras espalhadas por toda a parte estigmatizaram a
segunda metade do Novecentos e a salpicaram de sangue e desespero. A desesperança e
a falta de perspectiva, tão bem diagnosticada, a contrario sensu, por Ernst Bloch em O
princípio esperança, mostrou a função impulsionadora e consoladora do pensamento
utópico no mundo contemporâneo.13
A utopia concreta é o reconhecimento crítico de que o horizonte de expectativa
está sempre além da experiência concreta do tempo natural, transformado em história

13
Ernst Bloch. Das Prinzip Hoffnung. Obras completas. Frankfurt/Meno: Suhrkamp, vol. 5, 1985. Escrito
durante o exílio nos Estados Unidos, entre 1938 e 1947, foi publicado inicialmente na antiga Alemanha
Oriental, entre 1954 e 1959. Edição brasileira: São Paulo: Contraponto Editora, 2005.
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pela reflexão.14 Como Hans Jonas, em seu O princípio responsabilidade15, também


Habermas considera que a utopia só se concretiza, mesmo que parcialmente, se
emoldurada, canalizada, orientada pela relação social da autonomia crítica individual e
do respeito comunitário pela ação consciente e integrada no meio cultural, em tempos
de aceleração técnica e tecnológica da instrumentalização do saber, da vida e do agir.16
A apropriação da perspectiva crítica tornou-se rotina entre os pesquisadores em
ciências sociais da atualidade. Não necessariamente nos termos formulados por
Horkheimer e Adorno. Essa atitude, hoje mais difusa, está mais próxima do pensamento
de Habermas e de Max Weber, numa combinação bem sucedida que supera os impasses
do historicismo, do positivismo, do marxismo e da política em suas versões mais
estreitas.
A concepção de História da Escola de Frankfurt contrapõe-se, por conseguinte, a
duas posições filosóficas: de um lado, contra a concepção otimista de que a História é o
progresso inexorável da humanidade a caminho da civilização; de outro lado, contra a
submissão ingênua da História ao formalismo positivista e sua instrumentalização no
capitalismo tardio. Horkheimer, Adorno e Herbert Marcuse veem a totalidade da
História até sua época como o processo da crescente dominação do homem sobre a
natureza, o que equivale a uma crescente dominação do homem sobre o homem,
fortemente internalizada nos indivíduos e nas sociedades. Na História deve operar uma
forma de conhecimento do todo, que se choca com a opacidade cinzenta do quotidiano.
Nessa concepção dos frankfurtianos ecoam tanto a fórmula metódica de Fernand
Braudel, de promover a histoire totale17, quanto o pessimismo existencial de um Jean-
Paul Sartre, quanto à opacidade da existência e quanto ao outro como fator de risco e
ameaça (l’enfer c’est les autres)18. Esse eco não é, contudo, explicitamente reconhecido
ou mencionado.

14
Ver Estevão de Reze de Marti s. Utopia: uma história sem fim , e Marcos Antônio Lopes; Renato
Moscatelli (orgs.). Histórias de países imaginários. Variedades dos lugares utópicos. Londrina: Editora da
Universidade Estadual de Londrina, 2011, p. 11-19.
15
Hans Jonas. Das Prinzip Verantwortung: Versuch einer Ethik für die technologische Zivilisation.
Frankfurt/Meno: Suhrkamp, 1979.
16
Erkenntnis und Interesse. Frankfurt/Meno: Suhrkamp, 1968. Technik und Wissenschaft als „Ideologie“.
Frankfurt/Meno: Suhrkamp, 1968
17
Civilisation matérielle, économie et capitalisme. Paris: A. Colin, 1979, 3 vols..
18
Huis clos [Entre quatro paredes] (1944). Extrato em
http://www.philo5.com/Les%20philosophes%20Textes/Sartre_L%27EnferC%27EstLesAutres.htm
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O método que deveria apreender as estruturas universais (totais, globais) deve


incluir também o sofrimento que a dominação acarreta, ao estudar a economia
(componente social) e a psicologia (componente individual) para desvelar a organização
rígida da sociedade como uma função instrumental de dominação do processo
histórico.19 A teoria crítica busca preservar a consideração unitária da História, sem
contudo personalizar na humanidade seu sujeito no tempo e no espaço. “A História
continua sem possuir um sujeito único, seja lá como for. Seu sujeito é a função
estruturante dos sujeitos individuais concretos. ... Afirmar que haja na História um
plano universal para o progresso, diante das catástrofes atuais e futuras, seria cínico.
Isso não basta, porém, para negar a unidade que se forja ... nas fases e momentos
descontínuos da História ... .”20
A “lógica” que Hegel ou Marx atribuem à História é uma ilusão (index falsi),
pois aniquila o irracional no agir humano, ao reduzir tudo à racionalidade e ao princípio
de identidade da razão. A preeminência da razão não pode ignorar, negligenciar, omitir
o que parece ou aparece como irracional, insubmisso, irredutível. A hipervalorização da
História como um programa a ser cumprido, seja por força de transcendência – como
nas concepções teológicas – seja por força de uma imanência – como na teoria marxista
– está sempre comprometida pela idealização, pela divinização mesmo, de uma razão
desumana. É certo que a teoria crítica de modo algum tencionava apresentar-se,
enquanto proposta de organização das ciências humanas e da cultura, como exterior ao
mundo, pois isso representaria uma recuperação do procedimento metódico que
criticava no positivismo (à maneira simplista, se não simplória como o entendiam21), de
mero coletor imparcial de fatos. A inteligência da conexão, do contexto, da função, da
origem e do destino dos agires humanos é, decididamente, um requisito da teoria crítica
frankfurtiana. Habermas, mais independente e menos complexado do que Adorno neste
particular, insiste que a gestão dialética do universal, do particular e do singular é
fundamental na elaboração do pensamento histórico, pois consciência histórica é, para
ele como para outros autores, sinônimo de consciência crítica – e vice versa. Com
efeito, o fenômeno sociocultural da produção histórica de uma determinada (ou de mais
de uma) forma de sociedade tem de ser entendido, e não descartado por não se encaixar

19
M. Horkhei er. Ges hi hte u d Psy hologie 9 , e A. Schmidt (org.). Kritische Theorie. Eine
Dokumentation. Frankfurt/Meno: S. Fischer, 1968. Vol. I, p. 9-30.
20
Theodor W. Adorno. Dialética negativa. Rio: Jorge Zahar, 2009 [Or. alemão 1996], p. 278.
21
Ver Theodor W. Adorno e outros. Der Positivismusstreit in der deutschen Soziologie. Neuwied/Berlim:
H. Luchterhand, 1966.
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em algum tipo de apriori, como a diabolização da “razão moderna” pela primeira


geração dos frankfurtianos parecia exigir.22 A reflexão crítica precisa lidar com essa
totalidade enquanto contexto global de toda e qualquer ação e estruturação de poder
mediante a conjunção operacional entre método analítico e hermenêutico. A análise dos
dados empíricos e a elaboração interpretativa geram a resultante crítica de que emerge a
maturidade racional de que todos e cada um necessitam para alcançar a consciência
histórica, organizar seu pensamento histórico e assenhorear-se da cultura histórica de
que é simultaneamente produto e produtor.
A abertura do campo de interpretação sob a égide de uma concepção totalizante
é também considerada por Rüsen como bem-vinda. Rüsen a situa no plano da filosofia
da História, ou seja, naquele campo em que o produto historiográfico em sentido estrito
não é a fonte, mas eventualmente subproduto da teoria filosófica. A Teoria da História
que Rüsen elabora possui, no entanto, o viés epistemológico que percorre o caminho
inverso. Aqui importa ter presente, contudo, que a análise filosófica de uma teoria como
a teoria crítica tem seu lugar no conspecto reflexivo da História, em geral.23 A Teoria da
História, para Rüsen, necessita de uma filosofia da História que reflita sobre os
fundamentos categoriais que formatam a consciência histórica em geral. Categorias
estão presentes tanto no procedimento metódico da História como ciência quanto na
cultura histórica acumulada na tradição, entendida como o legado temporal do agir
humano em quaisquer lugares ou épocas.
A cultura histórica está permeada de narrativas memoriais em que a ideia do
tempo e do sentido do tempo são enunciadas, transmitidas, adotadas. A categorização e
a articulação teórica dessas ideias é um resultado comum e regular ao longo da História,
reconstruíveis pela reflexão sistemática. Nesse ponto, Rüsen indica com clareza que a
“dialética negativa” de Adorno é insuficiente e mesmo derrotista – justamente porque
segue Walter Benjamin e porque este, por sua vez, inspira-se em Nietzsche.24
O diálogo, nem sempre descontraído, promovido pela teoria crítica – um pouco à
sua própria revelia – gerou uma frenética produção reflexiva desde os anos 1970, em
cujo debate a percepção do antropocentrismo na História e em suas diversas versões tem

22
Nesse sentido a ideia de Horkheimer, de subsumir Descartes em Marx, por exemplo, como escreve no
pós-escrito de 1942 ao artigo Teoria tradicional e teoria crítica (1937), vai nessa direção. Por certo o
contexto de então, como já lembrado, tem peso específico na análise do autor. Ver Bárbara Freitag.
Teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 38 ss.
23
Ver J. Rüsen, o. cit., p. 131.
24
Ver J. Rüsen, o. cit., p. 128, nota 105; p. 141.
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por horizonte a humanidade como contexto e a humanização como projeto. Uma agenda
que provém do modelo pragmático idealizado no século 18, como motivo e modelo do
esclarecimento. Uma razão esclarecida é uma razão crítica, uma razão crítica é o modo
no qual o agente racional humano se torna historicamente consciente e praticamente
atuante.
Rememorar essa agenda e reformulá-la para hoje, no que aqui segue brevemente,
é uma forma de situar o plano do debate em que a perspectiva crítica ganhou foro de
padrão metódico da História em geral e da historiografia em particular.

III. Consciência histórica e razão esclarecida

O sentido do iluminismo – em uma acepção dupla: a do esclarecimento enquanto


projeção de luz, que faz fugirem as sombras e a do esclarecimento como processo de
desvendamento, de explicação – tem, desde a definição magistral de Kant em 1783, o
matiz da liberação de uma limitação de que é culpado seu próprio autor/ator: o homem.
Libertar-se de uma imaturidade, de uma menoridade – mesmo se culposa – é uma
missão constante. A observação de Kant não se restringe a um momento temporal
determinado, mas refere-se a uma situação intrínseca à condição humana. Essa situação
é típica de todo e qualquer homem que deva chegar à idade da razão. Nela, é-lhe
imperioso aprender a servir-se de seu entendimento sem a tutela de qualquer outro. Por
esse motivo Kant, no ano seguinte, já podia responder à pergunta sobre de vivemos em
uma época esclarecida com a afirmação: “Não, mas sim em uma época do
esclarecimento”. Anos antes, no prefácio à Crítica da Razão Pura (1781), Kant já
destacava que sua época é a da crítica, à qual tudo se deve submeter. Se então Kant
alertava para o fato de que a religião com sua pretensão de santidade e a legislação com
sua pretensão de soberania não poderiam eximir-se do exame crítico. A expressão
kantiana é de uma atualidade estonteante: nada pode pretender a ser levado em conta
pela razão sem passar por sua crítica livre e aberta.
O que Kant sinaliza, no ponto alto do projeto esclarecido de emancipação da
razão e do entendimento humanos, é compartilhado desde seus contemporâneos até
hoje. Essa contemporaneidade não se restringe a seus coetâneos, mas estende-se a uma
contemporaneidade ideal-típica, a uma comunidade virtual que parece estar sediada,
hoje, na universidade. Ou pelo menos naqueles que, como Edward Saïd, por exemplo,

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sentem-se integrantes de uma ágora crítica, espaço supranacional e supra-ideológico da


cidadania do mundo inteligível.25
Em que consiste a atitude básica dessa reflexão emancipadora? Pode-se destacar
três componentes fundamentais:
(i) o engajamento esclarecedor, iluminador, desvelador;
(ii) a atitude liberal-democrática;
(iii) a cientificidade rigorosa e produtiva.
Aos três componentes é comum a dimensão histórica. Na medida em que agente
racional humano algum nasce em um mundo sem história e que toda sociedade é
historicamente concreta, a consciência histórica e a cultura que a ela corresponde
desempenham um papel decisivo na concepção do tempo, da origem, da evolução e das
metas que organizam o agir. Assim, a perspectiva estrutural histórica é fundamental. A
investigação histórica fornece, caso a caso (e comparativamente), os elementos
empíricos que identificam os agentes, seus agrupamentos, suas formações sociais, seus
componentes mentais, suas opções intelectuais, suas decisões políticas, suas formas de
produção econômica, seus modos de institucionalização estatal. Organizados
teoricamente em uma explicação compreensiva da sociedade, esses elementos servem
de rede categorial de referência para a análise e a crítica dessa mesma sociedade. A
historiografia, por conseguinte, exerce uma função social crítica que esteia o exame do
homem e de suas circunstâncias, e não apenas destas.
O esclarecimento objetivado pelas Luzes setecentistas é, pois, uma tarefa
constante, cuja meta última é a libertação do homem de quaisquer coerções, de
preconceitos tradicionais e de dominação ilegítima, mediante educação, crítica pública e
debate livre que superem a ignorância, a superstição e a intolerância. Para lá se chegar, é
indispensável o recurso ao uso maduro da razão como reguladora de todas as relações
privadas e públicas. Sem identificar-se necessariamente com os projetos concretos de
sua época, a proposta iluminista se articula como mola propulsora da modernidade, em
que crítica e utopia se completam. Como escreveu Friedrich Nicolai em 1806, a história
porta o facho do iluminismo26, pois sem a história o entendimento humano é cego,
como afirmava Christian Thomasius, um dos “iluministas precoces”, cuja obra foi uma

25
Culture and Imperialism. Nova Iorque: Vintage Books, 1994.
26
Ver Bernd Witte. Friedrich Nicolai, em Deutsche Dichter. Leben und Werke deutschsprachiger Autoren.
Stuttgart: Reclam, 1988, vol. 3, p. 254-265.
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das fontes de formação de Kant e de sua geração.27 O espírito das Luzes informou o
interesse social e científico pela história, em particular no aspecto da crítica da tradição
e a sensibilidade individual e coletiva quanto à mudança, à educabilidade, ao
aperfeiçoamento.
Independentemente das interpretações restritivas, deterministas ou fatalistas
construídas ao longo do século 19 e fortemente politizadas durante o século 20, a
posição iluminista trouxe para a ciência histórica moderna quatro inovações de monta:
(a) a ideia corrigida de progresso – isto é, a humanidade, tomada enquanto
coletivo-singular (nas duas acepções enunciadas acima) – como referência de
perfectibilidade constante do agente, de suas razões, de seus motivos, de seus objetivos;
(b) os métodos rigorosos de controle da validade das asserções, cujo fundamento
é a pesquisa empírica e a intersubjetividade;
(c) a perspectividade do conhecimento histórico – vale dizer: qualquer
conhecimento histórico é sempre construído (embora não inventado) a partir de certo
ponto de vista (habitualmente teórico) e carece de sustentação; do que decorre a quarta
inovação;
(d) a forma expositiva do conhecimento histórico deve ser sistematicamente
argumentativa, demonstrativa.
A ciência histórica fornece, por conseguinte, com a densidade do controle
metódico da teoria e da prática de pesquisa, a tessitura explicativa das necessidades de
auto-identificação dos agentes racionais humanos, mediante referência crítica ao
presente, sem contudo submeter-se a este ou deixar-se por ele instrumentalizar. Assim,
“luzes” têm sempre a ver com conduta metódica, com racionalização, com disciplina,
com autocontrole, estabelecendo ordem e contenção na espontaneidade. A crítica, que
se exprime por uma dúvida metódica, deve pois começar pelo próprio “meio ambiente”
universitário que parece ter-se dela assenhoreado. A universidade contemporânea parece
enfeitiçada pela descoberta do poder paralelo que imagina possuir com relação ao
estado, conquanto dependa dele em quase tudo. Tem-se a impressão de que se comporta
como um aprendiz de feiticeiro que subitamente se vê ultrapassado pelas forças que
desencadeou, ao insistir na simplificação politizada das equações sociais. No século 20
– em particular na segunda metade –, o itinerário dos estados e a fragilidade das
sociedades levaram ao surgimento de um ceticismo crescente quanto à possibilidade de

27
Einleitung zu der Vernunfft-Lehre. Halle (Saale), 1691.
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qualquer instituição que seja (e ainda menos indivíduos) poder conduzir evoluções
socioculturais complexas e levar os homens (ou a humanidade, no sentido do coletivo
singularizado) a uma práxis histórica efetiva como sujeitos conscientes da ação no
tempo. A história, com sua chamada à consciência clara dos percursos reais dos homens
e de suas sociedades, contribuiria com o ‘roteiro’ de construção da identidade e com o
‘porto seguro’ nos vendavais das transformações valorativas, econômicas e políticas.
Constata-se, assim, uma vez mais, o caráter mutante das teorias da racionalidade
e das concepções de História, tangidas pela necessidade imperiosa de responder
criticamente aos desafios de cada tempo.28

Prof. Dr. Estevão C. de Rezende Martins


Professor titular de Teoria da História e de História contemporânea
Universidade de Brasília
Departamento de História e Instituto de Relações Internacionais
ecrm@terra.com.br

Outubro de 2013

28
Ver Reinhart Koselleck. Crítica e crise. São Paulo: Contraponto, 2012. (Or. aAlemão 1954).
15

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