Você está na página 1de 132

Nos últimos quinhentos anos, os Cahill silenciosamente dominaram o mundo.

Sua busca
desesperada pelas 39 pistas foi motivo de alguns dos maiores mistérios da História – o
monstro do lago Ness, a corrida para atingir o cume do monte Everest, a vida e a morte
de Harry Houdini. Agora, finalmente os segredos serão revelados. Com uma introdução
assinada pelo consagrado autor Rick Riordan, O Livro Negro da Família Cahill apresenta
tudo o que você queria saber sobre a família mais famosa de todos os tempos. Um guia
completo para quem não quer ficar de fora desta emocionante aventura.

Vocês foram escolhidos como os que têm mais chance de sucesso na maior e mais
perigosa empreitada de todos os tempos, uma busca de importância vital para a família
Cahill e para todo o planeta.

1
A origem do Livro Negro
por Rick Riordan, agente Janus

Eu tinha absoluta certeza de que não sairia com vida da reunião.


Vim preparado, acompanhado de reforços e usando um colete à prova de balas, é claro.
Escondidos em minhas mangas havia dois tubos de fácil abertura: com um movimento
dos punhos, eu poderia liberar spray de pimenta em quantidade suficiente para
incapacitar todo o centro de Manhattan.
Ainda assim... os sete agentes nunca tinham se reunido em um mesmo lugar antes. Não
confiávamos uns nos outros e tínhamos feito inimigos poderosos ao publicar os
resultados de nossas pesquisas sobre as 39 pistas. Muitos vilões adorariam a
oportunidade de nos apanhar juntos para nos interrogar... ou coisa pior. A reunião tinha
sido uma péssima ideia. Mas tinha sido minha ideia. Não havia escolha. Caso contrário,
toda a família Cahill poderia ser exterminada.
Os outros seis já tinham chegado. Estavam envolvidos em pesados sobretudos,
aguardando ansiosamente no telhado do quartel-general da editora Scholastic, nossa
fachada nos meses em que transmitimos o legado da família Cahill sob forma de livros
de ficção juvenil. Antes fosse ficção...
Nenhum dos demais agentes tinha notado minha presença. Antes de subir as escadas,
voltei-me para minha equipe de apoio – um exército particular, minhas armas secretas
– disposta nos degraus. “Fiquem aqui”, eu lhes disse. “Farei um sinal para chamá-los”.
Os membros da equipe resmungaram, ansiosos para entrar em combate, mas
concordaram com a cabeça.
Subi no telhado e os outros seis agentes se voltaram para mim.
“Riordan”, rosnou o agente Korman, “Teve muita audácia nos chamando aqui.”
Com a cabeça raspada, o olhar aguçado, roupas pretas e coturnos, o agente Korman
me lembrava um soldado da Forças Especiais. Pelo que eu sabia, ele bem poderia ser
um. Era membro do clã Janus, como eu, mas isso não fazia dele automaticamente um
aliado. Ouvi rumores de que tinha escapado de todo o Exército Vermelho depois de
“soltar” arquivos secretos sobre os Cahill em Pequim. Soube que mantinha pregos
escondidos na ponta dos coturnos e, certa vez em Viena, derrotou seis inimigos usando
apenas os pés enquanto terminava um concerto de Mozart no piano. Não era minha
intenção descobrir se tais rumores eram verdadeiros.
“Relaxe, Gordon”, eu disse. “O inimigo não sou eu. Temos um problema em comum.”
O lado dele, um homem usando um boné de beisebol soltou uma gargalhada. “Nem me
fale. Quase fui capturado vindo para cá. Isto é algum tipo de armadilha?”
O sorriso amistoso e a piscada de olhos do famoso agente Peter Lerangis, outro Janus,
davam-lhe uma aparência de tranquilidade, mas que eu sabia ser falsa. Na sua busca
pelas 39 pistas, aquele homem já tinha enfrentado samurais e guerreiros zulus. Não era
apenas o maior especialista mundial em caligrafia japonesa, tranças africanas e
figurinhas antigas de beisebol. Era um agente implacável. Houve um momento em que
o clã Tomas chegou a oferecer uma recompensa de 4 milhões de dólares pela cabeça
dele, incluindo o boné.

2
“Não é armadilha, Peter”, garanti. “Estamos diante de uma ameaça que pode destruir
todos os Cahill, temos de trabalhar juntos.”
“Rá!”, Patrick Carman, o mais alto dentre os agentes do grupo, deu um passo à frente.
Ele se aproximou ameaçadoramente de mim, e não pude deixar de me afastar um
pouco, pois Carman, como a maioria dos membros do clã Lucian, é um especialista em
agulhas, dardos, lenços embebidos em cianureto. E o período que passou na Rússia
pesquisando sem dúvida acrescentou muitas toxinas novas ao seu arsenal. “Tenho
novidades, Riordan”, ironizou ele. “A busca pelas pistas chegou ao fim. Amy e Dan
venceram. Que motivo haveria para voltarmos a trabalhar juntos?”
“Há um motivo”, disse uma voz de mulher. “A busca pelas pistas era apenas o começo,
não é mesmo?”
Ela deu um passo adiante: a agente Jude Watson – este era, ao menos, um de seus
muitos nomes. Seu cabelo ruivo, cor de fogo, enrolava-se ao redor do seu rosto, e o
cachecol e os óculos de aro grosso conferiam-lhe a vaga aparência de uma aviadora –
como Amelia Earhart, a quem ela tentou arduamente rastrear ao longo do Pacífico Sul.
Um anel dourado em forma de escaravelho reluzia e sua mão direita, sem dúvida uma
lembrança de suas viagens pelo Egito. Todos os outros agentes se voltaram para ela:
era difícil determinar se o que faziam era por respeito ou por medo. A agente Watson
não tinha uma aparência ameaçadora, mas nunca conheci ninguém que quisesse cruzar
seu caminho. Ela dizia pertencer ao clã Ekaterina, apesar de atrair tantas atenções a
ponto de eu me perguntar se ela não seria uma das mestres em manipulação da família
Cahill. Seria possível que ela fosse Madrigal?
“Riordan está certo quanto a uma coisa”, prosseguiu ela. “A caçada terminou, mas os
Cahill têm diante de si o maior desafio que já enfrentaram. Não somos os únicos que
almejam o segredo do poder de nossa família. Agora que o temos em nossas mãos,
precisamos defendê-lo... dos outros.”
Os agentes se inquietaram, apreensivos. Watson não precisou dizer o nome do nosso
inimigo, todos sabiam a quem ela se referia. Tratava-se do pior e mais sombrio pesadelo
dos Cahill, uma memória raramente sussurrada vinda do passado, um adversário cuja
existência preferíamos acreditar ser apenas uma lenda.
Ao lado de Watson, uma mulher de cabelos escuros usando um casaco de caxemira
sacudiu a cabeça. “Mas é... impossível.”
A agente Linda Sue Park não se assustava com facilidade. Mestre em decifrar códigos
e especialista em armas a serviço do clã Lucian, tinha vasculhado o Caribe em busca
de segredos mais valiosos que o tesouro dos piratas. Era capaz de usar como armas
mortíferas 46 tipos diferentes de objetos comumente disponíveis em qualquer
residência. Já a vi provocar mais estragos com um clipe de papel do que a maioria seria
capaz usando uma metralhadora. Mas, à menção dos grandes inimigos dos Cahill, a
agente Park pareceu aterrorizada.
“Isso não passa de um mito”, disse ela, esperançosa. “Uma fábula, uma...”
“Uma mentira?”, completou a sétima agente, Margaret Peterson Haddix. “Você está
enganada, Park. Eles estão lá fora. E virão atrás de nós.”
Dentre os agentes, Haddix era a que eu menos conhecia, mas estava familiarizado com
sua reputação. Ela tinha uma aparência discreta: usava calça preta, joias douradas e
um corte de cabelo que imitava o penteado de Cleópatra. Ela poderia ser jornalista,

3
professora, mãe – na verdade, já tinha sido tudo isso. Mas era também uma das
principais mentes por trás do clã Ekaterina, uma inventora capaz de criar qualquer coisa,
desde um robô a vapor até um plano para dominar o mundo. Tinha acabado de voltar
da Irlanda, onde fora designada para investigar a parte mais crítica da caça às 39 pistas:
o antiquíssimo desafio final. Sinceramente, acho que essa missão coube a ela porque
só Haddix poderia compreender o funcionamento interno daquela caverna.
“O que vi na Irlanda prova que nosso inimigo é real”, disse ela. “Riordan tem razão.
Temos todos um grave problema.”
Nervoso, Peter Lerangis endireitou o boné. “Mas já escrevemos sobre a busca pelas
pistas. Já contamos ao mundo a respeito dos Cahill. O que mais podemos fazer?”
“Um guia de sobrevivência?”, sugeriu Jude Watson. “Reunir nosso conhecimento. É isso
que Riordan tem em mente, não?”
Como sempre, sua intuição me inquietava. Seria possível que ela tivesse um espião
infiltrado em minha base de operações? Ainda assim, tentei manter a calma. A
negociação prometia ser difícil.
“Sim”, concordei. “Temos de preparar os clãs para a guerra. E a única maneira de fazê-
lo é...”
“Partilhar os segredos dos clãs?”, Park riu, incrédula. Ela olhou para Patrick Carman,
seu colega Lucian, em busca de apoio. “Os demais clãs não podem esperar que nós,
os Lucian, revelemos nossos arquivos secretos. Estamos anos-luz à frente de todos
vocês!”
Gordon Korman bufou. “Ora, vamos. Já invadi suas bases muitas vezes. Vocês não têm
nada.”
“Ora, seu Janus metido...”, Patrick Carman procurou o smiley em sua lapela. Ele
provavelmente estava prestes a borrifar algum líquido venenoso no agente Korman, mas
a agente Haddix se interpôs entre eles. “Parem os dois”, ordenou. “É esse tipo de
comportamento que nos impediu de cooperar por quinhentos anos! Agora temos de
trabalhar juntos, ou todos morremos.”
Peter Lerangis balançou a cabeça, impressionado. “Está falando sério? Participaria
disso, Haddix? Seria capaz de revelar ao mundo, por escrito, todos os segredos dos
Ekaterina?”
Haddix cerrou os lábios. “Não estou dizendo que gosto dessa ideia. Mas temos de
cooperar. Isto só funcionará se todos os clãs contribuírem.”
“Podem esquecer!”, disse Korman. “Os Janus não pretendem revelar seus
conhecimentos a ninguém. Além disso, nenhum de nós pertence ao clã Tomas. Vão
precisar de muita sorte para conseguir fazer com que se comportem.”
O projeto poderia ter morrido ali mesmo. Olhando para os outros seis agentes, pude
sentir o quanto estavam sofrendo com a tensão e a paranoia, com a desconfiança que
manteve os Cahill separados durante séculos. Tínhamos trabalhado juntos o suficiente
para documentar a caça às 39 pistas, mas parecia impossível unir os Cahill para
enfrentar uma ameaça externa.
Felizmente, eu tinha algumas armas secretas.

4
“Posso dizer que contamos com a ajuda do clã Tomas”, anunciei. “Muita ajuda, por
sinal.”
Levantei a mão e minha equipe de apoio saiu das sombras da escada: meia dúzia de
jovens agentes usando o equipamento ninja completo, com o urso azul do brasão dos
Tomas bordado na manga.
Os autores-agentes ficaram pasmos, mas, antes que pudessem agir, os jovens Tomas
deram saltos mortais e ficaram em posição, com bastões, espadas e armas não-letais
prontos para entrar em ação. Num piscar de olhos, tinham nos cercado.
Peter Lerangis jogou o boné no chão e pulou sobre ele “Eu sabia que era uma armadilha!
Você nos vendeu aos Tomas, Riordan? Traidor!”
“Não é uma armadilha”, eu disse. “Esses jovens agentes...”
Jude Watson soltou uma exclamação de surpresa. “Os agentes da internet! São
participantes do jogo!”
Novamente, a intuição a havia conduzido à verdade. Quando nossa busca pelas pistas
teve início, lançamos na internet um site de recrutamento com o objetivo de identificar
quem seriam os mais promissores agentes Cahill em todo o mundo. Chamamos o site
das 39 pistas de “jogo”, mas a operação era de máxima seriedade. Os melhores
participantes logo conheciam mais sobre as 39 pistas do que eu jamais soube.
“Nunca estivemos sozinhos nisto”, eu disse aos meus colegas autores. “Desde o início,
os agentes digitais estavam ao nosso lado, liderando a busca. Amy e Dan nunca teriam
conseguido sem a ajuda deles. Eu sabia que nunca chegaríamos a um acordo sem a
ajuda do clã Tomas, então tomei a liberdade de entrar em contato com alguns de seus
jogadores de pontuação mais alta.”
Os olhos de Patrick Carman se arregalaram, mostrando que finalmente compreendia a
situação. O soldado do clã Tomas diante dele não poderia passar de um adolescente e
era muito mais baixo, mas Carman se afastou, em pânico.
“Céus”, exclamou ele. “Você... você é WiseSaladin1!”
O soldado fez um gesto solene com a cabeça, confirmando seu pseudônimo on-line.
“É isso mesmo”, eu disse. “Na última contagem, WiseSaladin1 tinha mais de quatro mil
pontos no jogo. E aqui temos BaseballDragon1, OnyxEagle7 e...”
“Está bem!” Gordon Korman estava pálido, com a testa coberta de suor. “Já
entendemos, Riordan. Você trouxe a elite dos agentes Tomas. O que quer de nós? Por
favor, nada de armas!”
Fiz um gesto para os soldados e eles abaixaram as armas.
“Eles não estão aqui para combater”, afirmei. “Estão aqui para ajudar. Prometeram
compartilhar conosco os segredos dos Tomas, desde que os demais clãs se
comprometam a fazer o mesmo. Devo insistir para que todos nós cooperemos.”
Haddix pareceu ser a primeira a se recuperar. Ela inspirou profundamente, apesar de
ainda parecer nervosa.

5
“Pois bem”, disse ela. “Todos concordamos em partilhar os segredos de cada clã.
Vamos reuni-lo num único volume e publicá-lo com o objetivo de beneficiar a todos os
agentes Cahill.”
“O LIVRO NEGRO DA FAMÍLIA CAHILL”, sugeriu Watson. “É assim que vamos chamá-
lo.”
Park olhou nervosamente para o soldado a sua esquerda, provavelmente imaginando
se seria capaz de desarmar o jovem agente antes de ser golpeada com um bastão ninja.
Aparentemente não se sentiu muito confiante.
“Está certo”, concordou ela. “Um livro negro, a reunião definitiva de todo o conhecimento
dos Cahill. Acho que enxergo os benefícios disso. Um poder como esse, reunido num
único volume poderá ser vendido por milhões!”
“Não”, disse Haddix. “Devemos torná-lo disponível para todos, tratá-lo como um livro
comum, como fizemos com a história da busca pelas pistas. O Livro Negro, aberto para
todos os Cahill, pode nos levar ao conhecimento necessário para derrotar o inimigo.”
“Ou então pode nos condenar para sempre”, resmungou Gordon Korman. “Estaríamos
abrindo mão de nossos segredos ao confiar nos outros clãs. E se isso nos levar a mais
conflitos internos?” Ele lançou um olhar suspeito na direção de OnyxEagle7.
“Precisamos tentar”, eu disse. “O inimigo está se preparando para a guerra. Temos de
unir nosso conhecimento para combatê-lo. Nossas opções são claras: publicar ou
perecer.”
Um a um, os agentes concordaram com um gesto de cabeça. Ninguém se sentia à
vontade ao compartilhar tamanha quantidade de informações sigilosas, mas todos
sabiam que eu tinha razão. O Livro Negro era nossa única chance. E certamente
ajudava o fato de eu ter ao meu lado um exército de agentes Tomas garantindo o meu
apoio.
Assim, sobrevivi à reunião. Um acordo foi estabelecido. O LIVRO NEGRO DA FAMÍLIA
CAHILL foi criado.
Este é o livro que agora está em suas mãos.
Nestas páginas você encontrará tudo de que precisa para se tornar um agente Cahill
insuperável. Aprenderá a localização secreta dos quartéis-generais de cada clã
espalhados pelo mundo, até mesmo dos Madrigal. A identidade de cada um dos
principais agentes de cada equipe é revelada. Os dossiês dos agentes foram abertos
pela primeira vez em toda a história dos Cahill, mostrando exatamente quem trabalha
para qual equipe e quais habilidades cada um possui.
Você aprenderá a respeito dos ultrassecretos arsenais de armas e dispositivos de cada
equipe. Nada foi omitido. Depois de ler este livro, você terá todo o conhecimento dos
clãs da família Cahill.
Lembre-se: estamos arriscando tudo para prepará-lo para as batalhas futuras. Mas que
ninguém se engane: os Cahill podem ter sobrevivido à busca pelas 39 pistas, mas nosso
maior desafio ainda está por vir. Mantenha este Livro Negro fechado o tempo todo. O
inimigo se aproxima.

6
QUEIME DEPOIS DE LER

Mensagem em código Morse

7
Madrigal

Madrigal em relance

Por séculos, a palavra Madrigal causou arrepios nos Cahill.


Ninguém sabia ao certo quem eles eram nem por que surgiam das sombras para atacar
quem buscava as pistas. Ainda mais se estivesse perto de fazer uma descoberta
importante. Em 1826, alguns Lucian da Rússia, liderados pelo grão-duque Constantino,
chegaram muito perto de reunir as 39 pistas. Um dia antes de um agente voltar de sua
missão com mais uma pista, Constantino ouviu um terrível estrondo, seguido de gritos.
Eram os Madrigal. Quando o grão-duque chegou ao seu laboratório secreto, os Madrigal
não estavam mais lá. O trabalho de toda a sua vida fora destruído. Restava apenas um
imenso M marcado a fogo no chão, cercado de cacos de vidro e papéis queimados.

História secreta

8
Até pouco tempo, nenhum dos outros Cahill sabia que os Madrigal eram, na verdade,
um quinto clã da família, descendente de Madeleine Cahill, a filha mais nova de Gideon
e Olivia. Ele foi vítima de um incêndio que destruiu seu laboratório onde ocultava os
segredos das 39 pistas. A morte despedaçou a família. Dois de seus filhos achavam
que o irmão mais velho, Luke, era o responsável pelo incêndio. Quando Madeleine
nasceu, seus irmãos e irmãs tinham deixado o país, abandonando a mãe numa pequena
ilha do mar da Irlanda.
Olivia ficou desolada ao ver como a obsessão de seus filhos pelas pistas tinha dissolvido
a família. Ela percebeu que o poder das 39 pistas era perigoso demais para ser
conhecido por um único indivíduo. Então educou Madeleine para acreditar na
importância da união familiar... e também para vigiar os irmãos e impedi-los de reunir
todas as pistas.

Estratégia

Enquanto os clãs Lucian, Ekaterina, Janus e Tomas competiam pelo domínio mundial,
os Madrigal trabalhavam para manter o equilíbrio. Eles sabiam que, se um dos clãs
encontrasse as pistas, o poder alcançado seria devastador.
Nos últimos cinco séculos, os Madrigal vigiaram os outros Cahill, muitas vezes infiltrando
agentes duplos. Até o grande astro dos Lucian, Napoleão Bonaparte, não sabia que um
de seus principais conselheiros era, na verdade, um espião. Sempre que um grupo
chegava perto de reunir todas as pistas, os Madrigal interferiam, fazendo de tudo para
manter o poder destruidor fora de alcance.
Em geral, isso significou a destruição de bases secretas e de documentos preciosos.
Em situações extremas, os Madrigal se mostraram dispostos também a derrubar sangue
para impedir o surgimento de um Cahill onipotente.

9
Ilustres

Nos últimos quinhentos anos, pessoas inocentes sofreram enquanto os Cahill


derrubavam governos, iniciavam guerras e desenvolviam novas armas para encontrar
as pistas. Parte da filosofia Madrigal envolve conter o estrago provocado pela busca. Os
Madrigal fundaram organizações como a Cruz Vermelha e outros grupos dedicados à
promoção da paz, da saúde e da harmonia.

Bases secretas

Há oficialmente duas bases secretas Madrigal. A primeira é localizada numa ilha deserta
no mar da Irlanda e a segunda, na ilha de Páscoa, no Pacífico Sul, escondida sob uma
de suas misteriosas estátuas de pedra. Algumas organizações Madrigal tornaram-se
bases secretas não-oficiais, como o quartel-general da ONU, em Nova York, por
exemplo.

Brasão

Os Madrigal usam como símbolo o C dos Cahill, na esperança de que um dia os clãs
rivais se reconciliem. Quando querem intimidar, usam o M. Dar de cara com o símbolo
já fez muitos dos mais corajosos caçadores de pistas fugirem apavorados.

10
Ilustres

Nos outros clãs da família Cahill, basta ser filho de um membro para também fazer parte
do grupo. Os Madrigal, no entanto, precisam conquistar o direito de integrar na equipe.
Devem demonstrar bravura, compaixão e capacidade de defender suas crenças,
mesmo sob circunstâncias difíceis. Entre os ilustres Madrigal estão:

Hope Cahill
Arthur Trent
Grace Cahill
Amelia Earhart
Florence Nightingale
Abigail Adams
Harriet Tubman
Frederick Douglass
Anne Bonny
Nanny Sharpe
William Shakespeare
Walt Whitman
Camille Wizard
Madre Tereza

11
Hope Cahill (1960-2001)
Hope Cahill só soube a respeito das pistas quando tinha 12 anos. Ela nem imaginava
por que tinha aulas de chinês e suaíli, de caratê e de como manusear explosivos. Hope
acabou se comprometendo com a causa Madrigal e decidiu estudar Arqueologia. Como
arqueóloga, ela poderia viajar pelo mundo sem chamar atenção e aprender habilidades
necessárias para descobrir pistas que ficaram ocultas durante séculos.
No começo, Hope encarava a caça às pistas como uma grande aventura. Ela encontrou
sua primeira pista enquanto trabalhava numa escavação perto de Petra, na Jordânia, e
passou dias sorrindo. A emoção da descoberta era viciante. Depois de se casar com
Arthur Trent, o matemático bonitão que conheceu em Istambul, Hope passou a viajar
acompanhada do marido. Suas missões em busca de pistas pareciam uma lua de mel
prolongada, exceto quando envolviam escavar sepulturas, invadir museus e desviar de
balas de revólver.
Porém, depois que Amy e Dan nasceram, Hope começou a ver a caça às pistas com
outros olhos. As perigosas missões que antes a deixavam em êxtase agora traziam
ansiedade. Hope começou a se preocupar com o que aconteceria aos filhos se ela e
Arthur morressem. Ao mesmo tempo, a caçada se tornava cada vez mais urgente. Hope
aprendia mais sobre os outros clãs e crescia seu compromisso em manter as pistas
longe deles. Depois de testemunhar o assassinato de um guarda em um museu na
África do Sul por Isabel Kabra, Hope chegou a uma terrível conclusão: era mais
importante tornar o mundo seguro para seus filhos do que estar viva para criá-los.

Arthur Trent (1959-2001)

Os Cahill acreditam que foram capazes de se manter em segredo. Entretanto, algumas


pessoas sabem a respeito das pistas. São os Vesper. Arthur Trent veio de uma família
fortemente associada a essa organização secreta. Foi educado para acreditar que os
Cahill eram fracos e que os detentores legítimos do poder das pistas eram os Vesper.
Não foi coincidência estar na Turquia na mesma época que Hope. Ele tinha sido enviado
12
para encontrá-la e conquistá-la. Mas, quando Arthur conheceu seu belo alvo, alguma
coisa mudou. Foi enfeitiçado pela inteligência e pela doçura de Hope, e também pela
maneira como seu nariz franzia ao sorrir.
Na Turquia, Arthur descobriu informações aterrorizantes sobre os Vesper. Ele percebeu
que precisava romper seu elo com a organização, mas isso significaria viver para
sempre sob ameaça. Antes de pedi-la em casamento, Arthur contou a Hope a verdade
sobre seu passado, mas ela já sabia de tudo. Ele tinha sido seguido por espiões de
William McIntyre durante meses.
Apesar de nunca ter sido oficialmente admitido pelos Madrigal, Arthur se tornou um de
seus principais agentes e demonstrava total compromisso. Foi por isso que, na noite do
incêndio, ele voltou para o escritório em vez de fugir com os filhos. As chamas cada vez
maiores e as nuvens de fumaça não foram suficientes para distraí-lo de seu objetivo,
apesar de terem lhe custado a vida.

Florence Nightingale (1820-1910)


Florence Nightingale foi uma britânica que serviu como enfermeira durante a Guerra da
Crimeia. Quando percebeu que os soldados morriam mais em consequência de
doenças que dos ferimentos de batalha, Florence desenvolveu uma série de métodos
para melhorar a higiene. Resultado: salvou inúmeras vidas e revolucionou a
enfermagem. Depois de conquistar um posto entre os Madrigal, Florence aproveitou
suas viagens pela Europa para dedicar-se à busca pelas pistas.

Madeleine Cahill (1507-?)


A família de Madeleine Cahill foi destruída antes de ela nascer. Seu pai, Gideon, morreu
num incêndio que consumiu seu laboratório. Dois dos irmãos dela, Thomas e Katherine,
acusaram de sabotagem o astuto irmão mais velho, Luke. Furioso, Luke deixou o lar,
seguido pela irmã favorita, Jane. Thomas e Katherine partiram pouco tempo depois para
esconder suas pistas num lugar em que Luke jamais pudesse encontrá-las. A mãe,
Olivia, foi abandonada na ilha dos Cahill, próxima à costa da Irlanda.

13
Madeleine nasceu nos braços de uma mãe arrasada, que
passou o resto da vida lamentando o fim da família. No entanto, Olivia sabia que
precisava ser forte. Ela trabalhou duro para construir a vida na ilha e se dedicou à
educação de Madeleine. Criou a filha ensinando-lhe o valor da bravura, da generosidade
e da compaixão. Principalmente, ensinou que era crucial dar fim ao cisma da família
Cahill.
Olivia obrigou Madeleine a jurar que faria todo o possível para impedir os irmãos de
reunirem as 39 pistas. Até que aprendessem a confiar novamente uns nos outro, Luke,
Katherine, Thomas e Jane usariam o poder das pistas para se destruírem. Como se não
fosse desafio suficiente, Olivia também incumbiu Madeleine de proteger as pistas e um
antigo anel de ouro de Gideon de Damien Vesper, um amigo que se tornara o mais
perigoso rival do pai dela.
Olivia sabia que estava pedindo muito à filha mais nova, mas não fazia ideia de que os
Madrigal passariam os próximos quinhentos anos lutando para cumprir essas metas.

William Shakespeare (1564-1616)


William Shakespeare foi um poeta e dramaturgo britânico considerado por muitos o
maior escritor de todos os tempos. Mas Shakespeare não era um membro do clã Janus.
Ele era neto de Madeleine Cahill e se tornou um poderoso agente Madrigal.
Estudiosos nunca entenderam os “anos perdidos” de Shakespeare, período em que ele
parece sumir de todos os registros. Mas os Madrigal conhecem a verdade: Shakespeare
estava viajando em busca das pistas dos outros clãs. Depois de se casar, o autor
abandonou a caçada e dedicou-se à arte, mas suas obras sempre foram inspiradas pela
dor da cisão dos Cahill.
Shakespeare escreveu muito sobre brigas entre famílias, de Romeu e Julieta a Rei
Lear. Outras peças tratavam de líderes com sede de sangue, como Júlio
César e Macbeth. No entanto, apesar de Shakespeare temer as consequências da caça
às pistas, ele ainda esperava que houvesse paz. Chegou até a escrever secretamente
uma peça sobre uma reunião da família Cahill: Trabalhos de amor vencidos.
Embora escrevesse sobre temas sérios, ele também era um gênio da comédia e tinha
um dom para insultos. É necessário ser um verdadeiro mestre do idioma para criar
ofensas como “massa informe de sórdida disformidade”.
Shakespeare ocultou várias pistas em suas peças. O número exato delas é um dos
últimos segredos dos Madrigal, mas muitas já foram desvendadas, por exemplo, trevo,
osso, lírio, alecrim e sangue.

14
Dossiê: Grace Cahill
Foi como se tivesse coberto Londres. A escuridão entrou pelas janelas. Os carros
cruzavam a noite com faróis apagados. Os moradores eram proibidos de fumar na rua
– um bombardeio alemão poderia usar como alvo o brilho incandescente da brasa.
Ainda assim, enquanto corria com Beatrice pela escuridão, Grace Cahill, de 15 anos,
sentia uma onda de euforia atravessando seu corpo e provocando um frio na barriga.
Ela trocaria Massachusetts por Londres sem pensar duas vezes, mesmo com a ameaça
de ataque aéreo. Animava-se com o som dos sapatos batendo no asfalto. As alunas da
Escola Feminina da senhora Harper eram proibidas de correr.
Grace sentia-se como uma prisioneira que tivesse se libertado dos grilhões e
começasse a se reacostumar com a sensação de movimento. Seu segundo ano no
colégio interno fora uma interminável sequência de aulas de etiqueta e visitas invasivas
das inspetoras de alojamento. As únicas coisas que a impediam de fugir era o
treinamento, os livros que devorava sobre história egípcia e as horas no ginásio, em que
praticava saltos mortais na trave olímpica.
Quando os Madrigal a convocaram, ela estava pronta.
Grace e Beatrice frearam ao alcançar a sombra da Torre de Londres.
“Não acredito que estamos fazendo isso”, murmurou Beatrice. Mesmo no escuro ela
parecia pálida.
Grace olhou para o relógio e sorriu. “Vamos. Já está na hora.”
As duas meninas correram mais alguns metros e então se apoiaram contra o muro ao
lado dos portões. “Só mais um minuto”, sussurrou Grace.
“Como sabe?”
“A Cerimônia das Chaves é realizada todas às noites às 21h52min, há mais de
setecentos anos.”
“Onde está todo mundo?”, perguntou Beatrice.
“A torre está fechada ao público desde o inicio da guerra.”
“O que vão fazer se nos pegarem?” Beatrice tinha começado a tremer, apesar de a noite
de verão estar agradável.
Grace sorriu outra vez. “Acho que não vamos descobrir a resposta.”
O som de pesadas botas fez com que ela virasse. Uma fila de soldados da guarda da
Torre de Londres estava diante do portão, e um homem de uniforme preto e vermelho
à moda antiga, o chefe dos Beefeaters, se aproximou. Grace prendeu a respiração
enquanto ele iniciava o ritual que trancava a Torre de Londres.
“Quem vem lá?”, gritou um dos soldados.
“As chaves”, respondeu o chefe.
“A quem pertencem as chaves?”
“Ao rei George.”
“Entregue as chaves do rei George. Tudo está bem.”

15
Grace agarrou o braço de Beatrice. Aquele era o sinal combinado. Mas Beatrice nem se
mexeu. Ela simplesmente ficou olhando para os soldados marchando pelos portões.
“Vamos”, sibilou Grace. “Temos que ir agora.”
Os olhos de Beatrice estavam arregalados. “Não vou conseguir”, sussurrou.
Grace respirou fundo. Ela sabia lidar com a irmã mais velha. “Está bem”, disse,
despreocupada. “Vou sozinha, então.” E deu um passo.
Grace ouviu Beatrice resmungar. “Você sabe que não posso deixá-la fazer isso.”
Grace voltou-se para ela e sorriu. “Então, vamos.”

Enquanto corriam, Grace tirou da sacola um gancho de escalada. Beatrice carregava


um rolo de corda. O coração de Grace batia acelerado e seus pulmões inspiravam o ar
noturno. Apesar do ritmo frenético, ela era capaz de identificar o movimento de cada
parte de seu corpo; a adrenalina a colocava em estado de alerta. Ela nunca tinha se
sentido tão viva.
As duas pararam subitamente em frente a uma construção que Grace reconheceu dos
preparativos para a missão. A Torre de Sal. Grace amarrou a corda de Beatrice ao
gancho, rodopiou-o sobre a cabeça e, com um gesto treinado à exaustão, arremessou-
o.
Ouviu-se um barulho metálico quanto o gancho se prendeu à janela. “Primeiro você”,
sussurrou Grace para Beatrice. Ela nem se moveu. “Vai!”, ordenou Grace, um pouco
mais alto. A irmã cerrou os dentes, agarrou a corda e começou a escalar.
Lá dentro, Grace ligou a lanterna e iluminou o cômodo úmido e escuro. As paredes de
pedra estavam cobertas de palavras. Com o coração acelerado, Grace deu um passo à
frente para examiná-las de perto. Por séculos, prisioneiros gravaram mensagens nas
paredes. Promessas de vingança, despedidas. Ela sentiu um arrepio percorrer-lhe o
corpo, pensando nos incontáveis condenados, homens e mulheres, que passaram suas
últimas noites naquela cela.
“Grace”, sussurrou Beatrice. “Venha ver.” O facho da lanterna estava focado sobre uma
imagem na parede. Uma cobra. Grace tirou da sacola um martelo e um cinzel e começou
a martelar as extremidades da pedra. Quando terminou, removeu cuidadosamente o
pedaço de pedra da parede, revelando um compartimento oculto. Dentro havia uma
tigela de madeira cheia de pequenos cristais brancos. Sal? Não, não seria tão simples.
Sal escondido na Torre do Sal? Grace apanhou a tigela e despejou parte do conteúdo
num tubo de ensaio, fechou-o e pôs dentro da sacola. Recolocou a pedra na parede e
agarrou Beatrice pelo braço. “Vamos.”
Elas saíram correndo, subiram uma escada em espiral e passaram por um alçapão para
chegar ao telhado. Grace olhou para o relógio e então inclinou o pescoço para olhar
para o céu. Já era hora de ir.
O coração dela batia pesado dentro do peito, como um metrônomo contando seus
pensamentos. Eles precisam vir. Eles precisam vir. Eles precisam vir.
Ela ficou tão concentrada naquele ritmo que não reparou outras batidas, de passos
pesados. Ela viu duas filas de homens correndo pelo beco que levava à Torre de Sal.

16
Seus distintivos vermelhos, com o desenho de cobra, reluziam sob o luar. Os Lucian
estavam atrás delas.
Grace se voltou e viu a irmã ofegante. Sua respiração estava curta e rápida, ela
hiperventilava. “Respire”, ordenou Grace, agarrando os ombros de Beatrice. “Você
precisa respirar.”
“Eles estão vindo. Estão vindo”, sussurrou Beatrice, com os olhos arregalados de terror.
As duas filas de homens desapareceram. Entraram na torre e deviam estar subindo as
escadas.
Grace correu até a beirada da torre. Elas sobreviveriam se pulassem? Um barulho vindo
de cima chamou a atenção. Um avião preto voava com uma escada pendendo da
escotilha.
Beatrice gritou. O alçapão se abriu, e o primeiro dos guardas Lucian saltou para o
telhado. Ele olhou para a aeronave e gritou algo para os companheiros, mas Grace não
conseguiu ouvir em meio ao barulho do avião. A escada passou perto de Beatrice. Ela
saltou e agarrou um dos degraus. “Grace!”, gritou enquanto a escada voava na direção
da irmã. Grace só teria uma chance. Cinco homens corriam em sua direção, sacando
as armas.
Grace saltou e agarrou a escada, segurando-se em Beatrice enquanto as duas
oscilavam no ar. Lentamente, começaram a subir. Os agentes Madrigal puxaram a
escada. As meninas desabaram no piso do avião.
“Uhu!”, gritou Grace enquanto um dos agentes tentavam envolvê-la num cobertor.
“Conseguimos! Foi inacreditável!” Ela voltou-se para Beatrice: outro agente punha uma
máscara de oxigênio sobre o rosto dela. Beatrice ainda não tinha parado de tremer.
“Beatrice.” Grace de um passo à frente. “Você está bem?”
Beatrice murmurou algo que Grace não entendeu. Ela deu mais um passou na direção
da irmã.
“Você está bem?”, repetiu.
Beatrice afastou a máscara. Seu rosto estava branco como giz e seus lábios, azulado.
“Estou fora”, soluçou. “Nunca mais farei algo desse tipo.”

17
18
Agentes

Nos últimos anos, as admissões dos Madrigal caíram drasticamente. Depois que um
descuido permitiu a um impostor entrar, os Madrigal mudaram o processo seletivo, e os
critérios tornaram-se muito mais rigorosos. Encontrar um candidato qualificado é muito
difícil. Os Madrigal não podem se dar ao luxo de correr riscos. Eles são responsáveis
por proteger os mais valiosos segredos do mundo. Sabem que o destino do planeta está
em suas mãos.

Entre os agentes Madrigal ativos estão:


Amy Cahill
Dan Cahill
Nellie Gomez
William McIntyre
Fiske Cahill
Saladin
Emily Martella
Nataliya Ruslanovna Radova (Agente dupla Lucian)
Robert Bardsley (Agente duplo Tomas)
Ana Kosara

Robert Bardsley

19
O professor de música Robert Bardsley nasceu no clã Tomas e se envolveu ativamente
na busca pelas pistas durante a juventude. Entretanto, frustrou-se com as constantes
lutas internas e era contra ferir alguém por interesse. Acabou deixando o clã, com a
promessa de abandonar a busca. Anos mais tarde, sua amiga Grace tentou recrutá-lo
parra os Madrigal. Robert ficou horrorizado: ele tinha ouvido apenas coisas terríveis
sobre os Madrigal e não era capaz de acreditar que sua querida amiga fosse um deles.
Mesmo depois de saber a verdade sobre o grupo, Robert se recusou a ingressar. Ele já
farto de tanto ódio e derramamento de sangue. Não queria nenhum tipo de
envolvimento. Decidiu dedicar-se à música e ao ensino. No entanto, quando a busca
levou Amy e Dan à África do Sul, Robert sabia que era seu dever ajudar os netos de
Grace. Depois de resgatá-los heroicamente, recebeu outro convite dos Madrigal. Desta
vez, aceitou. Ver Isabel Kabra tentando matar as crianças fez com que ele percebesse
a seriedade da caçada e a incalculável importância da causa Madrigal.

Saladin

O gato de Grace, Saladin, pode parecer um bichano mimado, mas é, na verdade, um


agente honorário por mérito, responsável por grandes feitos. Grace treinou seu Mau
Egípcio para invadir edifícios perigosos, como a base secreta dos Lucian em Moscou.
Ela até criou equipamentos de vigilância especiais para ele transportar durante as
missões. Saladin sempre mostrou-se prestativo, mesmo quando precisou usar
equipamento de mergulho e nadar. Nada parece tão difícil quando a recompensa é um
suculento filé de salmão.

Emily Martella
Emily é doutora a serviço dos Médicos Sem Fronteiras. Apesar de estar sempre
ocupada, ela é também uma das principais agentes do grupo. Quando os Madrigal
descobriram que os Tomas estavam próximos de recriar o soro Ekaterina, enviaram
Emily numa missão urgente ao Triângulo das Bermudas. Treinada em mergulho pelo
clã, Emily localizou e desativou o submarino Tomas que procurava a base secreta Ekat.
Além de impedir que encontrassem a pista, ela evitou o caos que se instalaria quando
os Ekaterina descobrissem o roubo. O conflito entre os clãs já tinha resultado em muitas
mortes de inocentes.

William McIntyre

20
A mãe de Willian McIntyre fazia parte dos Madrigal, o pai não era um Cahill. Aos 18
anos, ele se juntou às forças de elite da marinha entes de cursar a faculdade de Direito,
na qual se formou como primeiro da turma. Quando Grace estava à procura de um
advogado, ela ficou intrigada com os conhecimentos excepcionais de William. Alguns
podem se perguntar por que um advogado precisaria saber pular de um avião ou
desarmar uma bomba submarina, mas Grace tinha critérios de seleção muito
específicos. Ela precisava de alguém que fosse capaz tanto de redigir um contrato como
de libertá-la de uma prisão. William foi admitido entre os Madrigal e se tornou um dos
amigos e conselheiros mais próximos de Grace. Ele foi o responsável por falsificar os
passaportes que Amy e Dan usaram para viajar à Rússia e pelo cartão de
crédito gold. Desde que descobriu isso. Dan insiste para que William lhe dê outro cartão
daqueles.

Ana Kosara
A liderança da organização ficou muito entusiasmada ao conceder a Ana Kosara o
status Madrigal. Professora, ativista política e membro do clã Ekaterina, passou com
louvor no teste. Os líderes Madrigal ficaram particularmente impressionadas com o
financiamento de orfanatos na Bulgária, seu país de origem. No entanto, pouco depois
da entrada de Ana na equipe, ocorreram coisas estranhas. Documentos secretos
desapareceram. Agentes Madrigal não conseguiam completar missões simples. Era
como se os outros clãs soubessem dos planos de antemão. A liderança Madrigal abriu
uma investigação e fez uma descoberta chocante: Ana era uma impostora. Sim, ela era
da família Cahill, mas seu currículo era falso. Ela mentiu sobre a experiência como
professora, inventou a história dos orfanatos. Tudo era parte de um plano para se infiltrar
entre os Madrigal a pedido dos Vesper, uma organização secreta que tenta sabotar os
Cahill há quinhentos anos. Ana foi expulsa e os Madrigal alteraram drasticamente seu
processo de seleção, mas o estrago já estava feito.

21
Fiske Cahill (O homem de preto)

Na infância, Fiske Cahill era tímido. Não do tipo que fica nervoso antes de apresentar
um trabalho na escola, mas, sim, daquele que sente as orelhas arderem e age como se
tivesse um sapo hiperativo na barriga quando fala com estranhos. Para piorar, Fiske era
gago. Mesmo as pessoas mais simpáticas e pacientes do mundo tinham dificuldade em
compreender o que ele dizia. E, na família Cahill, nem todos eram simpáticos.
A timidez de Fiske fez dele um alvo. Os parentes pensaram que seria mais fácil intimidá-
lo do que Grace, e também que ele saberia mais que Beatrice. Nas reuniões da família
Cahill, agentes de outros clãs o pressionavam para obter informações. Quando Fiske
chegou ao ensino médio, carros o seguiam. Os Janus chegaram até a enviar um ator
mirim para espioná-lo, fingindo ser amigo dele para poder fuçar em seu quarto.
Apesar de Grace ser compreensiva com Fiske, o pai deles, James, ficava furioso. Ele
esperava que o filho desempenhasse um papel importante no mundo dos Cahill,
presidindo reuniões e liderando missões. Quando Fiske foi cursar a faculdade de artes,
a pressão se tornou insuportável. Ele não sabia quem era amigo, quem era espião.
Finalmente, Fiske tomou uma decisão desesperada: fugiu e passou quase cinquenta
anos escondido.

22
Fiske nunca ficou à vontade com a própria decisão. Ainda assim, recusou os pedidos
de ajuda de Grace até poucas semanas antes da morte dela, quando voltou para
supervisionar a competição e para manter Amy e Dan em segurança.
Depois de quase cinco décadas longe da família, Fiske está compensando o tempo
perdido: ele é tutor de Amy e Dan. Mas, apesar de se divertir comprando livros com Amy
e assistindo a filmes de ninja com Dan, Fiske nunca consegue relaxar. Ele sabe que é
apenas questão de tempo até que esta nova paz seja perturbada.

Nellie Gomez

Nellie nunca estranhou o fato de ter suas aulas de pilotagem de


avião enquanto os amigos jogavam bola, nem o de ter recebido cinco bolsas de estudos
para idiomas. E, quando seu pai a inscreveu num curso de direção defensiva, ela
imaginou que fosse por causa daquele dia em que ela prestou mais atenção no cara
gatinho do carro ao lado do que no sinal vermelho. Ela não poderia imaginar que um dia
suas habilidades no volante salvariam sua vida... e também a de dois irmãos
encarregados de proteger o mundo.
Grace sabia que precisaria de alguém para tomar conta de Amy e Dan. Uma pessoa
que pudesse mantê-los a salvo, mas que também fosse louca o bastante para segui-los
na caçada.
Nellie era a candidata perfeita. A família dela tinha sido a guardiã de um tesouro
inestimável para os Cahill. Ela tinha um domínio prodigioso de idiomas. E, como
mostrava seu histórico escolas, não via problema em quebrar regras. Grace sabia que
a busca pelas pistas não exigia que Nellie “libertasse o porquinho-da-índia da classe”,
mas isso indicava que ela tinha atitude.
Grace e Willian Mclntyre proporcionaram a Nellie incontáveis oportunidades para que
ela recebesse o treinamento necessário para ajudar Amy e Dan: idiomas, primeiros
socorros, autodefesa e mergulho. Quando pensa nas venturas que viveu, Nellie percebe
que todas essas habilidades já lhe foram úteis, com exceção das aulas de mergulho.
Por enquanto...

23
Amy e Dan Cahill

De: Amy Cahill


Para: Fiske Cahill

Querido tio Fiske,


Desculpe não ter atendido sua ligação. Não podemos usar celular na escola. Li o
regulamento na noite passada para compensar as aulas da orientação que perdi.
Dan disse que eu preciso relaxar. Ele falou também que deve existir uma regra proibindo
duas crianças de aterrissarem um helicóptero no topo do monte Everest. Expliquei que,
como o Everest fica na fronteira do Tibete com o Nepal, ninguém tinha jurisdição sobre
o cume. Dan disse que eu era nerd que nem parecia alguém que tinha acabado de
salvar o mundo. Eu retruquei e disse que uma pessoa que tinha acabado de salvar o
mundo devia parar de usar cuecas com a estampa do Pokémon.
A primeira aula (história geral) foi um pouco estranha. A senhora Withers perguntou por
onde eu estive nas últimas três semanas.
Fiz aquilo que você me recomendou e respondi que estava “cuidando da um parente
doente”. (O que é em parte verdade: com certeza Dan é doente da cabeça.) Ela suspirou
e disse que era melhor eu correr para recuperar o conteúdo perdido para não atrapalhar
toda a classe.
Foi horrível. Todos ficaram olhando para mim, e minhas bochechas começaram a
arder – eu sabia que estava ficando vermelha.
Mas então, durante a aula, a senhora Withers fez uma pergunta sobre a estratégia de
batalha de Shaka Zulu. Acho que ela passou alguma leitura sobre ele enquanto eu estive
fora. Ninguém sabia a resposta. Eu disse que Shaka dispunha seus guerreiros na
formação de chifre de búfalo, o que lhe permitia vencer os inimigos mesmo que tivessem

24
armamento superior. A senhora Withers ficou me encarando até o sinal tocar alguns
segundos depois.

Preciso ir, tenho muita lição para fazer.


Com amor, Amy

P.S: Você vai ter que encontrar o coordenador de Dan quando voltar.
Ele se meteu em encrenca ao mostrar golpes ninja na aula. Não se preocupe. Isso
acontece bastante.

25
Últimas notícias: Agentes Amy e Dan Cahill

Depois de sobreviver a explosões, ataques de cobras e a um vazamento num


submarino, Amy Cahill não queria morrer em uma rodovia.
“Nellie”, gritou enquanto a au pair desviava de mais um carro.
“Não há mais ninguém nos perseguindo. Já podemos andar a menos de 140 por hora!”
“Caught in a bad romance. Uooooo-oh-ooooh!”, Nellie cantava acompanhando a música
altíssima do rádio.
“Nellie”
“O que foi?”. Ela olhou para o lado e viu Amy furiosa. ”Desculpe garota.” Nellie sorriu,
um pouco envergonhada. “Mas este possante precisa satisfazer seu desejo de
velocidade.” Ela acariciou o volante. Quando percebeu que Amy não tinha respondido,
fez uma careta. “Você tá bem? Quero dizer, sei que hoje vai ser...”
“Estou bem”, interrompeu Amy, com um sorriso forçado.
“Já posso parar de cobrir os ouvidos?”, perguntou Dan, deitado no banco de trás. “Nellie
já parou de bancar a Lady ‘Gagá’?”
“Beleza, admito que cantar não é o meu forte”, disse Nellie. “Mas, se me pedirem
indicação de um restaurante de comida fusion mongol-brasileira... Rá. Aposto que esse
GPS poderia nos ajudar. Deixe-me ver...” Nellie tirou uma das mãos do volante e
começou a mexer na tela.
“Nellie”, gritou Amy enquanto carro começava a se aproximar do muro de concreto da
estrada. “Preste atenção!”
“Relaxa, Amy”, gritou Dan. “Nada pode nos acontecer dentro do Madrigalmóvel.”
Madrigalmóvel era o nome que Dan tinha dado ao novo carro deles, uma enorme
caminhonete de luxo que Fiske tinha comprado quando eles voltaram para Boston. Amy
queria um carro ecológico, mas Fiske insistiu em um bebedor de gasolina blindado. “
Isabel Kabra pode estar jogada em uma cela”, disse ele, “mas ainda há outras pessoas
que desejam feri-los.”
É claro ele na tinha pensado no perigo de entregar a Nellie uma máquina assassina de
duas toneladas, com acesso a todas as músicas do mundo.
Na saída seguinte, Nellie deixou a rodovia e entrou numa entrada margeada por árvores.
Os postos de gasolina desapareceram. Depois de alguns quilômetros, a estrada ficou
mais estreita e eles se viram deslizando sob uma copa contínua de folhas de vários tons
de amarelo e marrom. Dan sentou-se. Sem que ninguém pedisse, Nellie desligou a
música.
Eles rodaram mais alguns minutos até que Nellie rompeu o silêncio. “Não consigo
acreditar que Beatrice nunca trouxe vocês aqui”, disse. “Que maldade.”

26
Amy voltou seu olhar para Dan. Ele nunca perdia uma oportunidade de caçoar da tia-
avó. Mas, desta vez, ele não disse nada.
Depois de uma curva, eles viram os portões de ferro: CEMITÉRIO CRESTWOOD. Nellie
estacionou o carro. Ninguém se mexeu. Após um longo momento, a au pair estendeu o
braço e apertou a mão de Amy. “Vamos dar um oi para os seus pais, mocinha.”
Eles subiram a mesma colina de sete anos atrás. Amy lembrava-se de ter segurado
firme a mão de Dan porque a grama molhada o fazia escorregar com os sapatos
novinhos.
Os túmulos de Hope e Arthur ficavam lado a lado. As lápides estavam um pouco gastas
e a grama havia crescido sobre os montinhos de terra.

HOPE CAHILL ARTHUR TRENT


1960-2001 1959-2001
AMIGA,MÃE,EXPLORADORA PROFESSOR,PAI,AVENTUREIRO

Amy deu alguns passos e se ajoelhou, ignorando a grama úmida, estendeu o braço e
tocou a lápide de Hope. Ninguém a tinha deixado se aproximar do túmulo durante o
funeral. Amy não conseguia nem mesmo ver o que estava acontecendo atrás da barreira
de roupas pretas. “Olá, mamãe”, disse em voz baixa, tocando as letras do nome de
Hope.
Amy fechou os olhos. Depois do incêndio, ela ficava acordada até tarde da noite,
convencida de que poderia ouvir os pais se ficasse no mais absoluto silêncio. Ela
pressionou a mão sobre a lápide, sentindo o frio da pedra. Depois de algum tempo,
soltou o ar. Nem tinha percebido que prendera a respiração.
Ela tirou do bolso uma conta de âmbar que ela e o irmão encontraram na Rússia. Amy
a depositou no vão entre a grama e a lápide. “Acho que você estava procurando isto.”
Ao lado dela. Dan salpicava noz-moscada na lápide de Arthur. “Queria que vocês
estivessem com a gente na Jamaica”, disse. “O Lester era muito legal.”
Amy correu os dedos por um dos entalhes na lápide da mãe na gravura de uma rosa.
Havia apenas uma flor, que parecia ter nascido da pedra. “Mamãe adorava rosas”, Amy
contou a Dan. “Papai sempre trazia para ela.”
Dan estendeu o braço e tocou no entalhe. “Tem algo diferente aqui”, afirmou.
“Você tinha 4 anos na época do enterro. É claro que as coisas parecem diferentes.”
“Não é isso”, Dan olhava com curiosidade para a rosa. “O que quero dizer é que este
detalhe é diferente dos outros.” Ele passou os dedos pela pedra e então aproximou o
ouvido da lápide.

27
Amy suspirou. Eles estavam paranoicos: nem mesmo conseguiam visitar o túmulo dos
pais, como pessoas comuns. “Dan”, começou Amy, “não podemos...”
“Espere aí”, ele interrompeu. “Acho que encontrei alguma coisa.”
Antes que Amy conseguisse impedi-lo, Dan apertou a rosa. Eles ouviram um estranho
clique, como uma engrenagem, e uma alavanca metálica surgiu ao lado da lápide.
“Uaaaaaau!”, Amy ouviu Nellie exclamando. “E eu que pensava já ter visto de tudo.”
Dan olhou para Amy. “Esse tipo de coisa não é comum, certo?”
“Não. Pelo menos não na maioria das famílias.”
Dan esticou o braço em direção a alavanca. “Espere”, interrompeu Amy, agarrando a
mão dele. A caçada tinha chegado ao fim. Eles não precisavam mais daquilo. Ela
pensou nos passaportes que associavam que ela viveu convencida de que Hope e
Arthur eram assassinos. Para Amy, já bastava de segredos.
Dan olhou para a irmã. Amy sabia que ele era capaz de adivinhar seus pensamentos.
“Não podemos fazer com que as coisas voltem a ser como antes. A busca era parte da
vida deles. Sabemos disso agora.” Ele fez uma pausa. “Mas não significava que eles
não nos amavam nem que consideravam a busca mais importante que nós.”
Amy sorriu. “Você pode ser um idiota, mas é um idiota muito sábio.”
Ele concordou, com a expressão séria. “Aprendi tudo com o Mestre Yoda.” Dan
estendeu o braço de novo. “Pronta?”
Amy assentiu.
Dan puxou a alavanca. Um pequeno frasco emergiu da lápide. Estava cheio de um
líquido translúcido. Vinagre, pensou Amy. Uma das pistas. Dan apanhou o objeto. Havia
letras gravadas no vidro. Outro código.
LZMSDMGZL N ZMDK CD FHCDNM Z RZKUN
Mas, desta vez, eles não teriam que correr até o aeroporto assim que decifrassem o
enigma. Podiam simplesmente voltar para casa. Enquanto Dan mostrava para Nellie o
que tinham encontrado, Amy inclinou-se e sussurrou as duas palavras que tinha
esperado sete anos para dizer. “Adeus, mamãe.”

28
Bases

Durante quase quinhentos anos, os Madrigal agiram em completo sigilo, iniciando suas
missões a partir de algumas bases cuidadosamente localizadas ao redor do mundo.
Entre elas:

Ilha Cahill, Irlanda


Genebra, Suíça
Haia, Países Baixos
Sede da ONU, Estados Unidos
Madagascar
Attleboro, Estados Unidos
Ilha de Páscoa, Chile

Irlanda
Mesmo antes de completar o soro mestre, Gideon Cahill tinha rivais desesperados para
roubar o resultado de suas pesquisas e, por isso, tirou a família da Irlanda e a levou
para uma ilha deserta. Conforme Gideon se aproximava do segredo das 39 pistas, ele
se tornava cada vez mais paranoico. Com exceção de Damien Vesper, ninguém mais
podia ir à ilha, decisão que custaria a vida de Gideon. Nos anos que se seguiram, os
Madrigal usaram essa obsessão em proveito do clã. Subornaram cartógrafos para que
apagassem a ilha dos mapas e, em questão de poucas gerações, ninguém mais se
lembrava da existência daquela pequena porção de terra.

29
Madagascar
Quando surgiram rumores de que Grace tinha encontrado uma pista no Egito, a
liderança do clã Ekaterina mandou soldados invadirem sua mansão. Eles não
encontraram Grace, mas o incidente serviu como alerta. A imagem de um militar
derrubando a porta do quarto onde dormia a pequena Hope, de apenas dois anos, a
assombrou pelo resto da vida. Para garantir a segurança da família, Grace decidiu
construir sua própria base secreta em um local distante, e comprou um terreno no meio
da selva de Madagascar. O lugar tornou-se a base para suas missões e também um
espaço seguro para armazenar seus pertences mais importantes, desde documentos
secretos até seu amado avião, o Lêmur Voador.

Organização das Nações Unidas


Ao longo dos anos, a filosofia Madrigal foi se expandindo. Além de querer reunir os clãs
da família Cahill, os Madrigal promovem a paz e a cooperação entre todos os povos.
Eles foram os responsáveis pela fundação da ONU, organização internacional que
trabalha para impedir guerras, prestar auxilio e promover a justiça no mundo. A sede
das Nações Unidas, em Nova York, funciona como uma base não oficial, assim como o
Tribunal Penal Internacional, nos Países Baixos.

Ilha de Páscoa

Em meados do século
XX, os Madrigal construíram uma segunda base na ilha polinésia conhecida por suas
imensas estátuas de pedra, ou moais. A Ilha de Páscoa é uma das mais isoladas do
mundo. A 3.700 quilômetros da costa do Chile, é o local perfeito para uma base secreta.
Os Madrigal construíram um moai falso para esconder a entrada subterrânea. Lá um
centro de vigilância de alta tecnologia permite monitorar as atividades dos Cahill em
todo mundo.

30
Lucian

Lucian em relance

Os Lucian são lideres natos: governam países, administram empresas e lideram


exércitos. Sua natureza implacável e seu talento sempre fazem com que cheguem ao
topo. Apesar de alguns terem prosperado respeitando as regras, o clã é conhecido pelas
traições e sabotagens. Eles até estiveram por trás de alguns dos assassinatos mais
famosos da História.
Furtivos, os Lucian também são excelentes espiões. Eles desenvolveram uma
tecnologia de vigilância avançada e armas mortíferas. Sua marca registrada é ocultar
veneno em objetos comuns, com o objetivo de surpreender seus inimigos.

31
Brasão Lucian
O brasão Lucian mudou, mas o símbolo do clã continua o mesmo: uma serpente de
duas cabeças. Os Lucian valorizam a dissimulação e os ataques surpresa, típicos das
serpentes. Às vezes, a vítima nem sabe que é um alvo até sentir o veneno correndo em
suas veias.

Líderes do clã
Os Lucian anseiam pelo poder e desejam ter a liderança, porém, comandar o clã é um
dos trabalhos mais perigosos do mundo. Os chefões sabem que os assassinos e
espiões mais bem treinados podem estar em um complô para matá-los a qualquer
momento.
Eles não escolhem seus líderes pelo voto; uma eleição acabaria num banho de sangue.
Em vez disso, os atuais líderes escolhem seus sucessores, em geral, parentes ou
protegidos. O sistema restringe o número de assassinatos relacionados à liderança.
Os chefes atuais são Vikran e Isabel Kabra, um casal de negociantes de obras de arte
que mora em Londres, apesar de ter imóveis em quase todos os continentes. Sob a
mansão londrina, os dois conspiram com outros Lucian do alto escalão e também
supervisionam as reuniões realizadas nas fortalezas Lucian espalhadas pelo mundo.
Era assim, pelo menos até Isabel ser presa por homicídio.

Bases secretas

Os outros clãs costumam manter em segredo a localização de suas


bases, mas os Lucian instalam as suas em locais notórios. Sempre tiveram acesso a

32
castelos, arsenais, cofres do Tesouro e outros prédios fortificados ao redor do planeta,
nos quais fazem reuniões, escondem pistas e interrogam inimigos. Entre as principais
bases Lucian atualmente em operação há edifícios em Paris, Moscou e Londres.

Influência dos Lucian pelo mundo

Os Lucian dominam a política e a economia em quase


todos os países. Foi deste clã que saíram os mais poderosos reis, rainhas, presidentes,
banqueiros e empreendedores. Os Lucian adoram exibir a própria riqueza, característica
que, apesar do treinamento, facilita sua identificação em meio à multidão. Basta reparar
na pessoa que estiver usando um relógio cravejado de brilhantes, relaxando no convés
de um iate, observando a paisagem enquanto a governanta alimenta o gato albino com
caviar.
A busca dos Lucian pelas 39 pistas influenciou a História. Eles fundaram nações,
fomentaram revoluções, travaram guerras e assassinaram nobres para se aproximar do
seu objetivo. Em 1914, o mundo ficou chocado quando o arquiduque Francisco
Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, foi morto em Sarajevo, capital da
Bósnia. Costuma-se dizer que o assassino tinha motivações políticas. Mas aqueles que
conhecem os Cahill sabem que o arquiduque era membro do clã Janus e o assassino
era um Lucian que tentava desesperadamente encontrar uma pista ligada à família real
austríaca. O acontecimento é considerado um dos estopins da Primeira Guerra Mundial,
um dos conflitos mais sangrentos de todos os tempos.

33
Ilustres

Líderes natos e ambiciosos, os Lucian sabem inspirar e manipular. Sidney George


Reilly, membro ilustre do clã Lucian conhecido como Ás dos Espiões, simulou a própria
morte, roubou planos de defesa dos japoneses e invadiu uma reunião do exército
alemão. Era um verdadeiro James Bond. Entre os mais famosos – e infames – membros
do clã Lucian estão:

Benjamin Frankln
Ching Shin
Gustave Eiffel
Sidney George Reilly
Anastácia Romanova
William Stoughton
Napoleão Bonaparte
Catarina, A Grande
Theodore Roosevelt
Isaac Newton
Rainha Vitória
Winston Churchill

Luke Cahill (1484-?)

34
O mais velho dos filhos dos Cahill e fundador do clã Lucian, Luke nunca ficou satisfeito
com a parte das pistas que lhe coube. Ele sonhava usar seus talentos para criar um
império justo. Entretanto, Luke não era ingênuo de achar que conseguiria sozinho. Ele
sabia que precisava de todas as 39 pistas para atingir seu objetivo. Mas, depois de ser
injustamente acusado pelos irmãos de matar o pai, alguma coisa mudou. Ele tornou-se
obcecado pela vingança. Então viajou para a Inglaterra, onde usou seus dotes políticos
para se tornar um dos principais conselheiros do rei Henrique VIII. Com o passar dos
anos, o ódio pelos irmãos só aumentou. A vida na corte ensinou-lhe que tudo é possível,
especialmente para aqueles que estão dispostos a recorrer ao suborno, à chantagem e
a outras formas de persuasão. Com os recursos do rei à sua disposição, Luke começou
a enviar por toda a Europa espiões incumbidos de procurar os irmãos, autorizando-os a
usar “todos os meios necessários” para encontrar as pistas.

Benjamin Franklin (1706-1790)

Um dos fundadores dos Estados Unidos, Benjamin Franklin era também cientista e
inventor famoso. Ele inventou os óculos bifocais, o para-raios e até o hodômetro.
Entretanto, poucos sabem que ele era também um dos Lucian mais renomados. Em
meio aos experimentos com a eletricidade e ao trabalho como embaixador na França,
Franklin impressionou a liderança ao descobrir todas as pistas dos Lucian... e então

35
ocultá-las do restante do clã. Franklin era orgulhoso de ser Lucian, mas se decepcionou
ao ver como a busca pelas pistas trazia à tona o pior de seus colegas agentes. Por isso,
ele decidiu escondê-las dos outros membros.

Ching Shih (Aprox. 1775-1844)

A temida pirata Ching Shih era a encarnação da ferocidade dos Lucian. Ela foi uma das
mais bem-sucedidas caçadoras de pistas de sua época, rastreando indícios em todo o
Leste Asiático. Ching Shih era conhecida por castigar os piratas que a traíam – os
desertores pagavam com as orelhas; ladrões era decapitados. Apesar de sua longa lista
de crimes, ela estabeleceu com o governo chinês um acordo permitindo que ficasse com
os tesouros roubados e continuasse a busca.

Gustave Eiffel (1832-1923)


A arquitetura é uma profissão que costuma atrair os Ekaterina. Porém, Gustave Eiffel
reunia a genialidade arquitetônica com a astuta ambição Lucian. Suas construções ao
redor do mundo tornaram-se importantes bases. As mais famosas obras de Eiffel são a
Estátua da Liberdade e a Torre Eiffel, mas esses monumentos foram erguidos para
atender a um propósito secreto: esconder pistas.

William Stoughton (1631-1701)

36
Stoughton foi um dos juízes nos julgamentos das bruxas de
Salem – episódio em que pessoas inocentes durante o período colonial norte-americano
foram acusadas de bruxaria e enforcadas. Stoughton foi enviado à Nova Inglaterra para
roubar pistas de outros clãs. Para acabar com seus rivais, ele e seus colegas Lucian
acusaram outros Cahill de bruxaria. Seu objetivo era eliminar todos os membros dos
clãs Ekaterina, Tomas e Janus da região e roubar suas pistas. Vinte acusados foram
executados e o julgamento mostrou até que ponto os Lucian estavam dispostos a
chegar.

Anastácia Romanova (1901-1918?)

A grã-duquesa Anastácia da Rússia era a filha mais nova do último czar, Nicolau II. O
irmão de Anastácia, Alexei, sofria de hemofilia, e os desesperados esforços de sua mãe
na busca por uma cura a levaram a Grigori Rasputin, um homem que afirmava ser
curandeiro. Ela não fazia ideia de que Rasputin era na verdade um espião Tomas.
Quando teve inínicio a Revolução Russa, os outros Cahill tentaram encorajar o ódio
contra a família real. Em 1917, o pai de Anastácia abdicou do trono, e a família ficou sob
regime de prisão domiciliar em Ekaterimburgo, a mais de 1.500 quilômetros de seu lar
em São Petersbugo. Em 1918, os Romanov foram todos executados. Esta é, ao menos,
a versão divulgada. Durante quase um século, os Lucian trabalharam para ocultar a
verdade: Anastácia sobreviveu.

37
Depois de escapar, Anastácia assumiu identidade falsa e se mudou para uma pequena
cidade perto de Moscou, onde conheceu Vladimir Radov, um agente Lucian. Depois de
adulta, Anastácia se tornou uma dedicada caçadora de pistas. O trauma causado pelo
assassinato da família a deixou obcecada com a ideia de poder total, pois assim ela
jamais teria de se preocupar com a possibilidade de alguém ameaçar seus entes
queridos outra vez.

Napoleão Bonaparte (1769-1821)

Napoleão Bonaparte nasceu na Córsega, filho de agentes Lucian aposentados. Assim


que ficou sabendo das 39 pistas, Napoleão se tornou obstinado pela busca. Convenceu
os pais a deixá-lo frequentar a academia militar perto da base secreta Lucian em Paris.
Depois de se formar, juntou-se ao exército francês e subiu de patente com
impressionante rapidez.
Num clã formado pelos homens e mulheres mais competitivos da História, Napoleão se
tornou o mais ambicioso de todos. Logo obteve o controle sobre o exército e o usou
como sua força particular na busca pelas pistas.
Quando invadiu o Egito em 1798, Napoleão trouxe consigo uma equipe de cientistas.
Em 1799, eles encontraram exatamente o que o general estava procurando – a Pedra
de Roseta, um antigo artefato egípcio que continha uma pista. Entretanto, em 1801, os
soldados de Napoleão foram atacados por britânicos do clã Ekaterina, que roubaram a
pedra e a confiaram aos cuidados do Museu Britânico em 1802.
Apesar desses tropeços, Napoleão foi nomeado imperador da França. Os demais clãs
ficaram tão perturbados com sua ascensão que formaram um exército de coalizão – o
primeiro em toda a história dos Cahill. Sob a liderança de um agente Tomas, o duque
de Wellington, atacaram Napoleão e o derrotaram na batalha de Waterloo.

Irina Spasky (1964-2008)


Aos 16 anos, Irina Spasky invadiu sua escola de madrugada, desativando o alarme com
um clipe. Ela abriu um arquivo trancado para ter acesso às transcrições oficiais de sua
turma e abaixar as notas dos alunos que caçoavam dela por causa do tique nervoso no
olho. Uma semana mais tarde, foi recrutada e se tornou a mais jovem agente da KGB.
Quando Irina fez 18 anos, a KGB a enviou para a Universidade de Oxford como agente
infiltrada. Ela conheceu Vikram Kabra e Isabel Vesper-Hollingsworth, que apresentaram

38
Irina aos seus amigos da elite. Durante uma de suas festas secretas, Isabel e Vikram
convocaram Irina para uma conversa particular e fizeram um anúncio que para sempre
mudaria sua vida: Irina era membro do clã Lucian.

Com o treinamento da KBG e sua inteligência insuperável,


Irina logo se tornou uma das melhores agentes. Ela rastreou pistas em todos os cantos
do mundo e ganhou fama pelas unhas envenenadas. Mas havia uma pessoa que
enxergava em Irina algo além de uma assustadora agente Lucian. O filho dela, Nikolai,
a amava acima de tudo. Quando Isabel Kabra ordenou que Irina partisse numa missão
enquanto Nikolai estava doente, ela tentou argumentar com Isabel. Entretanto, esta se
recusou a dar-lhe ouvidos. Irina foi e voltou dias depois, para descobrir que Nikolai
morrera inesperadamente, sem a mãe ao seu lado para ouvir suas últimas palavras e
segurar-lhe a mão.

39
Dossiê: Winston Churchill
Winston Churchill sabia que muitas pessoas tinham inveja de sua casa, mas ele não se
sentia mal com isso. Afinal, elas não precisavam dormir sob o mesmo teto que seus
parentes mortos. Winstons endireitou as costas e fez o cavalo Rob Roy diminuir o passo.
Mesmo a distância, o Palácio de Blenheim parecia imenso com suas altas colunas, os
ambientes amplos e a capela particular que incluía até um mausoléu. Ele sentiu um leve
tremor percorrer-lhe o corpo. Winston passara toda a vida em Blenheim, mas onze anos
não tinham sido suficientes para que ele se acostumasse a participar de missas cercado
por túmulos.
Ao menos os parentes mortos não podem nos criticar, pensou. Ele sentia o calor subir-
lhe às bochechas enquanto se lembrava daquela manhã. Winston ficara muito animado
quando seu pai, lorde Randolph, o convocara ao escritório. O pai estava prestes a partir
numa viagem à África do Sul, e Winston passara as últimas semanas empenhado numa
campanha para acompanhá-lo. Ele sabia que outros agentes às vezes levavam os filhos
mais velhos durante as missões, e Winston ansiava pela chance de poder mostrar seu
valor.
Que desperdício, lembrou amargamente. Quando o menino entrou no escritório, o pai
simplesmente começou a ler seu boletim numa voz baixa e inexpressiva. Depois que
terminou, balançou a cabeça. “Durante séculos, esta família se dedicou apenas a duas
coisas.” Ele olhou para Winston.
“À pátria e às pistas”, completou Winston, rapidamente.
“Correto. E como você espera se tornar um grande líder, ou um talentoso agente, se
não é nem capaz de ser aprovado em geometria?”
Winston manteve o olhar fixo no chão até ser dispensado. Mas agora, depois de galopar
por quilômetros, sua cabeça estava cheia de respostas.
Se visse o que fiz com meu professor de criptografia...
Se soubesse quantas horas passei estudando o globo...
Se soubesse o quanto avancei no aprendizado de zulu...
Mas agora era tarde demais. O pai já havia partido para Londres. Talvez já estivesse a
bordo do navio que o levaria à África do Sul. Era possível que anos se passassem até
que Winston tivesse outra chance.
Com o canto do olho, Winston viu um vulto. Era escuro demais para ser um veado. As
orelhas de Rob captaram o som e o animal ergueu a cabeça. Winston incitou o cavalo,
sabendo que os dois não fariam muito barulho sobre o chão coberto de musgo.
“Lorde Randolph partiu”, disse uma voz masculina. Winston sentiu o coração acelerar.
“Então chegou a hora”, respondeu outra voz. “Mas não será fácil subir no telhado em
plena luz do dia.”
“É por isso que a liderança nos autorizou a recorrer a medidas extremas.”
Winston foi tomado pelo pânico. Seu pai tinha muitos rivais políticos. Seriam
assassinos? Ele inclinou-se para ver melhor. Os homens estavam montados em
imensos cavalos e vestiam roupas pretas, exceto pelo emblema azul de urso na lapela.

40
Winston engasgou. Agentes Tomas infiltraram-se na propriedade. Deve ser algo
relacionado às pistas no palácio.
Sem pensar, Winston fez Rob dar meia-volta e saiu galopando. Ele não tinha ideia de
que havia algo em Blenheim. O pai nunca deixou escapar nada. Porém não havia tempo
para se preocupar com isso naquele momento.
Os Tomas estavam na estrada e provavelmente se aproximariam em silêncio. Se
Winston tomasse o atalho pela floresta, seria capaz de chegar ao palácio dez minutos
antes.
Quando chegaram lá, Winston e Rob estavam ofegantes. Ele desmontou, sentindo o
suor do animal contra a própria camisa úmida. Soltou as rédeas e correu para dentro,
subindo quatro lances de escadas até o corredor onde havia um alçapão que levava ao
último andar do castelo.
Winston quase foi cegado pela luz do sol quando chegou ao telhado, sem fôlego. Ele
protegeu os olhos enquanto se voltava na direção da estrada. Dois vultos sombrios
estavam avançando rumo ao castelo. Chegariam ao portão em menos de cinco minutos.
Com o olhar, Winston vasculhou o telhado. Torres erguiam-se a uma distância de
poucos metros umas das outras, dificultando o trabalho. Seria impossível inspecionar
tudo antes que os cavaleiros chegassem ao palácio. Ele sentiu o estômago embrulhar
enquanto as palavras do agente ecoavam em sua cabeça. Medidas extremas. Winston
sabia que os Cahill tinham feito coisas terríveis uns contra os outros. Mas não esperava
que algo do tipo pudesse ocorrer em seu próprio lar.
Ele respirou fundo, tentando manter a calma enquanto se celebro acelerava. Como
poderia haver algo oculto aqui? Não havia rachaduras. Nada de pedras soltas, a não
ser...
Os olhos de Winston pousaram sobre o busto de Luís XIV, rei francês e agente Tomas.
O Palácio de Blenheim foi entregue ao primeiro duque de Marlborough, ancestral de
Winston, como recompensa por uma importante vitória numa batalha contra os
franceses. Seguindo o espírito Lucian, o duque ordenou que o busto de seu rival fosse
construído sobre o palácio, para que o rei vencido pudesse contemplar os feitos do
adversário vitorioso.
Wnston correu até o busto para examiná-lo. Seus olhos repararam nos detalhes da
cabeça. Nada. Ele voltou a olhar para a estrada. Os vultos estavam cada vez maiores e
pareciam mais rápidos – nuvens de poeira se levantavam atrás deles. Winston voltou
ao busto e começou a correr as mãos pela pedra quente. Ele se deteve quando os dedos
resvalaram em algum tipo de inscrição. Havia símbolos inscritos na nuca da cabeça de
pedra. Um código.

41
Winston sentiu uma súbita excitação. Ele reconheceu os símbolos, pois os estudara com
o professor de criptografia. Passou os dedos sobre a mensagem e, murmurando para
si mesmo, a decifrou: “Um duque Lucian morto é mais forte que um rei Tomas vivo”.
Winston inspirou fundo: havia algo escondido na cripta da família.

O interior da capela era escuro e frio. Sem velas, a única iluminação vinha do fraco sol
de fim de tarde, que brilhava pelos vitrais. Winston concentrou-se no grande sarcófago.
Se tinha entendido corretamente, o primeiro duque de Marlborough ordenara que uma
pista Tomas fosse enterrada com ele.
Um grito fez com que Winston se voltasse para a janela. Uma copeira aterrorizada
estava no gramado, apontando para algo no telhado. Ele sabia que os agentes Tomas
deviam ter encontrado um meio de subir.
Winston apressou-se até a tumba e correu os dedos pela escultura do duque sobre a
placa de mármore. Ele nem pensou no que havia lá dentro. Quando chegou aos pés,
deteve-se e agachou-se. Havia um pequeno entalhe mostrando uma cobra
estrangulando um urso. Winston inclinou-se e reparou numa pequena fissura ao redor
do tornozelo da escultura. Ele agarrou o pé e o puxou, soltando-o facilmente. O interior
era oco. Sem parar para pensar que estava profanando o túmulo do ancestral, Winston
enfiou a mão e tirou de lá um rolo de papiro. Ele abriu o velho documento com mãos
trêmulas. As letras já estavam meio apagadas. Ele reconheceu as
palavras soro e guerreiros zulu.
Segurando o papiro, Winston deu um salto e correu para fora da capela. Passou pela
porta já assoviando para Rob Roy. Num único gesto ágil, subiu na sela e partiu
galopando pela estrada. Olhou para trás e viu os homens no telhado olhando para ele.
Winston estava longe demais para ver as expressões deles, mas imaginava como
ficariam quando descobrissem que tinham sido vencidos por um menino de 11 anos.
Apesar do pulso acelerado e da respiração ofegante, Winston conseguiu sorrir. Aquilo
tinha de ser mais importante do que ser aprovado em geometria.

42
Agentes

Para poder caçar pistas, os agentes Lucian tem que passar pelo treinamento especial
completo. Entretanto, a liderança do clã por vezes abre exceções para jovens
candidatos talentosos. Atualmente, fazem parte do alto escalão os seguintes agentes:

Isabel Kabra
Vikram Kabra
Ian Kabra
Natalie Kabra
Irina Spasky
Chrissy Collins
Andras Gergely
Alana Flores
Barack Obama
Nataliya Ruslavnova Radova
Macacos Espiões
Clyde Silverman

43
Isabel Kabra
Isabel Vesper-Hollingsworth era uma agente Lucian inativa antes de ir para a
universidade e conhecer Vikram Kabra, filho do líder do clã. Ela ascendeu rapidamente,
destacando-se como interrogadora implacável. Sem suar nem mesmo quebrar as
unhas, Isabel era capaz de fazer o mais corajoso e experiente agente revelar os maiores
segredos. Depois e se casar com Vikram, ela começou a trabalhar como negociante de
arte e se tornou figura conhecida na alta sociedade londrina. Os fotógrafos nunca se
cansavam da linda e estilosa Isabel. Todos que não pertencem à família Cahill ficaram
chocados ao saber da verdade: sob aquelas roupas de alta costura se escondia uma
assassina.

Alana Flores
A inescrupulosa ambição e a mente sofisticada de Alana fazem dela uma inimiga
assustadora. Depois de conquistar o mundo do xadrez competitivo, ela foi logo rastreada
pela liderança Lucian para ser treinada como agente. Sua base de operações fica em
Hong Kong, onde trabalha num banco durante o dia e dedica as noites à busca de pistas.
Alana é um dos poucos Lucian que não morrem de medo de Isabel. Ou ela é
extremamente corajosa, ou logo vai se dar mal.

Nataliya Ruslavnova Radova

Filha da grã-duquesa Anastácia e do ex-líder Lucian Vladimir Radov, Nataliya


Ruslavnova Radova faz parte da realeza Lucian. Entretanto, um mal sanguíneo impediu
que ela participasse das expedições de caça às pistas. Em vez disso, Nataliya cumpre
seus deveres de dentro da base secreta de Moscou. Seu dom para idiomas e códigos

44
cifrados tornou-a líder ideal de missões. Mas, apesar do sucesso, Nataliya tinha
dificuldade em ouvir seus agentes mentindo para os aliados e em presenciar a entrega
de venenos a rivais incautos. A pedido de Grace Cahill, Nataliya começou a pensar em
maneiras de impedir que os Lucian se tornassem poderosos demais. Foi por isso que
ela decidiu ajudar Amy e Dan, traindo o clã para servir como agente dupla Madrigal.

Chrissy Collins

Os pais de Chrissy são agentes Lucian aposentados que decidiram criar os filhos longe
do mundo Cahill. No entanto, Chrissy sempre quis se juntar à caçada. Começou a treinar
por conta própria, autodidata em acrobacias, abrir fechaduras, programar computadores
e decifrar códigos. Quando descobriu que a cidade em que morava ficava perto de uma
base secreta Lucian, ela decidiu agir. Aos 17 anos, tentou invadir o Fort Knox e quase
conseguiu. Por sorte, os Kabra intervieram antes que Chrissy se tornasse a primeira
chefe de torcida a ser mandada para a prisão federal.
A liderança do clã sabia que Chrissy tinha potencial para se tornar uma lenda entre os
membros, e por isso ela foi enviada a Paris, ao treinamento especial. Ela apresentou
resultados impressionantes em criptografia avançada, mas teve dificuldade no preparo
de venenos. Chrissy dedica-se à vitória dos Lucian, mas não gosta da ideia de jogar
arsênico na bebida dos rivais. Antes de ser presa, Isabel Kabra planejava curar Chrissy
de seu “coração mole”. Por sorte, Isabel foi para a prisão antes de ter oportunidade de
dar início ao plano: obrigar Chrissy a envenenar porquinhos-da-índia.

45
Ian e Natalie Kabra

Ian Kabra

Quando Ian e Natalie voltaram a Londres depois da caça às pistas, imaginaram que
teriam de viver fugindo. Sua mãe estava sob custódia policial, mas eles ainda tinham de
responder ao pai e ao clã. Ninguém compreenderia o que ocorrera na ilha. Depois de
quinhentos anos de planos, complôs e sacrifícios dos Lucian, Ian e Natalie deixaram a
última pista escorregar por entre os dedos.
Entretanto, horas depois da prisão de Isabel, Vikram Kabra fretou um voo com destino
ao Brasil para fugir das perguntas. Em Londres, os mais graduados Lucian também se
esconderam antes que a polícia pudesse ligá-los aos crimes de Isabel.

46
Com Isabel na prisão e Vikram escondido, não havia ninguém para comandar as
atividades multimilionárias da família no ramo das obras de arte. Ian assumiu a tarefa e
começou a se reunir com importantes clientes ao redor do planeta. Apesar da pouca
idade, eles foram seduzidos pelo charme do garoto, e Ian logo descobriu sua
especialidade: convencer senhoras muito ricas a comprar quadros horríveis que
ninguém mais desejava.
Ele tenta atualmente fazer com que Jonah Wizard o leve para um passeio pela base
Janus, em Veneza. Seu interesse não é roubar pistas, mas visitar a galeria de arte
secreta: pode haver ali uma obra de Picasso pequena o bastante para ser escondida no
casaco.

Últimas notícias: agente Ian Kabra


Aquilo que o deixava louco eram os sorrisos. Ian não era capaz de imaginar o que
deixava todos em Boston tão felizes. Certamente não era o clima. O céu era de um cinza
desanimador e ele via pessoas com chapéus e cachecóis lutando contra o vento.
Certamente não era por serem ricos. A mulher sentada na mesa ao lado estava até
usando um casaco de pele falsa. Ian sentiu um calafrio ao pensar em fibras artificiais
roçando sua pele esfoliada. Ele era capaz de suportar uma dose considerável de
desconforto, mas irritação na pele já era demais.
Ainda assim, todos sorriam para ele. O recepcionista gordo e careca. O rapaz que levou
as malas. A camareira que veio ao quarto depois de Natalie se queixar de que as fronhas
dos travesseiros não combinavam. E agora sorria também a garçonete. Ela estava
radiante, como se Ian tivesse acabado de lhe entregar um cachorrinho.
“Posso lhes trazer mais alguma coisa?”, perguntou enquanto tirava os pratos intocados.
“Parece que não gostaram muito do café da manhã!”
“Apenas a conta, por favor.”
Ela sorriu. “Vão fazer algum passeio hoje? O primeiro ponto do ônibus que percorre a
Trilha da Liberdade fica na esquina. Se perguntarem ao Bob, ali na recepção ele pode...”
“Temos outros planos”, interrompeu Ian.
“Que ótimo! Vão se divertir?”
Natalie ergueu os olhos na direção da garçonete, com um sorriso falso. Nela, aquela
expressão parecia demoníaca. “Nossa mãe é acusada de homicídio. O veredicto sairá
hoje. Mas, se tudo acabar cedo, prometemos dar uma olhada na Trilha da Liberdade.”
O sorriso da garçonete desapareceu.
Mas, quando chegaram ao tribunal, Ian sentiu falta da alegria. Parecia que ninguém
jamais sorria no Tribunal Superior de Massachusetts. Pela primeira vez desde que
tinham chegado a Boston, na noite anterior, eles pareceram finalmente se dar conta do
verdadeiro propósito da viagem. Não se tratava de uma daquelas festas de fim de ano
em que a família embarcava num jato com destino a Boston para que Isabel fizesse
compras de Natal. Ian e Natalie estavam sentados num duro banco de madeira, num
tribunal gelado. E a mãe deles não estava experimentando roupas numa loja da Prada.
Todos ficaram de pé quando o juiz entrou, vestido com a toga preta. Dois guardas
seguiram-no, acompanhando uma mulher alta de macacão laranja. Era Isabel. Na última

47
vez em que Ian e Natalie a viram, ela estava sendo colocada, inconsciente, no avião
dos Starling. McIntyre certificou-se de que a polícia os esperaria quando aterrissassem
na Inglaterra.
Mesmo sob lâmpadas fluorescentes, sem maquiagem e com olheiras, Isabel parecia
mais jovem. Ian não conseguia se lembrar de ter visto a mãe sem batom. Os lábios
pálidos reviraram seu estômago. Como se estivesse olhando para algo que devesse
permanecer oculto.
Ele virou para sussurrar algo a Natalie, mas a irmã estava olhando fixo para a frente.
Seu foco não estava em Isabel, nem em ninguém. Ela não se mexia, mas Ian percebeu
sua mandíbula tensa. Natalie tentava conter o choro. Ele tomou a mão da irmã e apertou.
Ela não reagiu.
Ian não conseguia imaginar o que Natalie estava sentindo. Na última vez em que a
menina estivera com a mãe, Isabel tinha atirado no pé dela. Ainda assim, nos últimos
meses, Ian flagrara várias vezes Natalie no quarto de Isabel. Ele chegou até a encontrá-
la dormindo no closet da mãe, repousando a cabeça numa roupa de cashmere. Natalie
disse que estava apenas escolhendo o que guardar e o que levar. Mas nenhuma das
roupas jamais deixou o armário.
O juiz bateu seu martelo. Ian sentiu Natalie tremer. Os jurados entraram em fila,
tomando seus assentos. Eles evitaram cruzar os olhares com Isabel, mas Ian reparou
que ela os observava, torcendo o nariz. O rapaz não sabia dizer se era uma
manifestação de desprezo ou deboche.
“O júri chegou a um veredicto?”, perguntou o juiz.
Uma mulher de terninho azul levantou-se. “Sim, Meritíssimo.”
“Prossiga.”
A jurada limpou a garganta. “No caso da Comunidade de Massachusetts versus Isabel
Kabra, consideramos a ré culpada de homicídio doloso qualificado.”
Por mais que tentasse olhar em outra direção, Ian não conseguia afastar os olhos do
rosto da mãe. Ela estava imóvel e sua esnobe expressão de tédio continuava a mesma.
Ele viu o advogado dela se inclinando para sussurrar algo. Isabel esboçou um leve
sorriso.
“Policial, leve a prisioneira daqui.”
Ian a observou enquanto o guarda a algemou e depois a acompanhou pelo corredor,
em direção à porta. Pela primeira vez em sua vida, Ian viu as pessoas olhando para a
mãe com um sentimento diferente do medo. Todos olhavam para ela com desprezo.
Ao passar diante de Ian e Natalie, os olhos de fixaram nos do filho por um instante, e
então ela virou o rosto.
Uma multidão de repórteres tinha se reunido do lado de fora do tribunal. Quando Isabel
saiu, houve uma saraivada de flashes das câmeras e gritos ansiosos enquanto os
guardas tentavam abrir caminho em meio à imprensa para chegar ao furgão blindado
da prisão.
“Sente-se culpada, Isabel?”
“Por que cometeu o crime?”

48
“Onde está seu marido?”
“O que vai acontecer com o iate?”
“Tem algum arrependimento em relação às crianças?”
Isabel franziu o cenho e encarou o repórter que fizera a última pergunta. “Arrependo-me
de ter fracassado com meus filhos. Permiti que crescessem como tolos fracotes
desprovidos da força de vontade necessária para tomar as decisões mais difíceis.” Ela
fez uma pausa. “Nunca vão ser nada na vida”, disse antes de se virar para a câmera.
Apesar das mãos algemadas, ela conseguiu jogar o cabelo comprido sobre o ombro
com um gracioso gesto de cabeça. “Eles nunca estarão nas manchetes dos jornais.”
Que ela tenha seu último momento sob o holofote, pensou Ian, enquanto conduzia
Natalie pelos degraus do tribunal. Depois de toda uma vida dedicada a encantar
convidados em coquetéis e aterrorizar os maiores espiões do mundo, Isabel passaria o
restante de seus dias numa prisão federal. Logo o nome dela sumiria da memória de
todos. Desapareceria dos jornais, das listas de benfeitores, dos registros sociais. A
mulher tão desesperada para governar o mundo seria apagada. Aquele era o fim de
Isabel Kabra. Restava apenas a prisioneira número 44. 850.

49
Truques e ferramentas

Os Lucian São especialistas em sigilo, sabotagem e, acima de tudo mentiras. Equipados


com as ferramentas que desenvolveram, são caçadores de pistas quase invencíveis.
Entre os truques e ferramentas que costumam empregar, temos:

Mecanismos de Envenenamento
Anéis
Unhas
Dardos
Abotoaduras
Ursinhos de Pelúcia
Guarda-chuva

Armas
Adagas
Lâminas retráteis
Espadas escondidas em bengalas
Canetas balísticas

Transportes

50
O Tubarão
Limusines à prova de balas
Caças a jato avançados
Iates de velocidade (com heliporto)

Comunicações
Códigos
Escutas e Grampos
Celulares não rastreáveis
Polígrafos

Veneno
Os Lucian usam venenos há séculos; trata-se de ferramenta perfeita para ataques
sorrateiros e silenciosos. Eles desenvolveram venenos que são quase impossíveis de
detectar. Gostam de fazer seu trabalho sujo da maneira mais rápida e discreta possível.

Anéis envenenados

Os anéis envenenados sempre foram um dos recursos mais queridos pelos Lucian da
realeza. Era possível participar de um banquete trazendo consigo uma dose letal de
veneno. Com suas minúsculas agulhas de injeção, os anéis envenenados só funcionam
quando os agentes ficam próximos das vítimas. É o que torna os Lucian tão perigosos:
podem estar sorrindo pra você e, no momento seguinte, atacá-lo com um anel
envenenado antes mesmo que tenha a chance de devolver o sorriso.

Unhas envenenadas

51
Conforme os anéis mais ornados foram saindo de moda, tornou-se necessário ocultar o
veneno de maneiras ainda mais furtivas. Entre as alternativas mais astutas estavam as
unhas envenenadas: pequenas agulhas escondidas sob as unhas e ativadas com um
estalo dos dedos. Os demais clãs temem a invenção, pois é quase impossível detectá-
la e pode transformar o gesto mais corriqueiro, como um aperto de mão, num momento
mortal.

Transportes

O Tubarão
Embora os melhores engenheiros sejam do clã Ekaterina, os Lucian sempre estiveram
na vanguarda das tecnologias de vigilância e transporte. O Tubarão, um revolucionário
helicóptero escondido na base secreta Lucian em Moscou, é capaz de voar a velocidade
de até 480 quilômetros por hora e é invisível à maioria dos sistemas de radar.

Limusines à prova de balas


Esses carros veículos costumam pertencer a presidentes, primeiros-ministros e outros
pessoas que correm risco de ser assassinadas. O mais recente modelo de limusine
projetados pelos Lucian é a prova de balas, bombas e fogo. As janelas são equipadas
com leitores de retina ocultos, o que permite que os passageiros saibam quem está
tentando ver através do vidro escuro.

Comunicações

Códigos
Os Lucian são excelentes criadores de sigilo, é essencial que possuam meios seguros
para trocar informações. Entre os métodos favoritos podemos listar:

52
Códigos de embarque em avião
Anagramas
Escrita espelhada
Códigos de substituição
Pictogramas
Cifras maçônicas
Códigos nos esmaltes das unhas
Códigos em cartaz de filme
Códigos para iPod

Polígrafos / Análise da linguagem corporal


Os Lucian são especialistas em mentira: não só em contar como também em detectar.
Eles estudam a linguagem corporal, o que torna quase impossível enganá-los. Basta
um movimento do nariz ou da sobrancelha para que saibam exatamente o que se passa
pela sua cabeça – até mesmo o local onde a pista está escondida.

53
Bases

Quem não pertence a família Cahill nem perceberia uma base Lucian. Entretanto,
visitantes mais atentos poderiam repara em imagem de cobras entalhadas em lugares
inesperados. Talvez, se apurassem os ouvidos, perceberiam gritos distantes. Poderiam
até se perguntar por que algumas das pessoas que entram nesses locais não saem
mais. Entre as regiões e locais de domínio Lucian, podemos citar:

Torre de Londres
Estação X, Inglaterra
Paasy, França
Palácio de Versalhes, França
Catacumbas de Paris, França
Kremlin, em Moscou, Rússia
Salem, Estados Unidos
Parlamento Húngaro
Ekaterimburgo, Rússia
Torre Eiffel, França
Área 51, Estados Unidos
Fort Knox, Estados Unidos
Mansão Kabra, Inglaterra
Wall Street, Estados Unidos

54
Mansão Kabra
As mais importantes reuniões da liderança Lucian são atualmente realizadas na mansão
Kabra, em Londres. Todos os visitantes passam por um scanner corporal antes de entrar
na sala de reuniões de segurança máxima, num abrigo de titânio sob a casa. A entrada
é protegida por leitores de retina e escudos a laser ativados por comando de voz.

Kremlin, em Moscou
Durante séculos, o Kremlin de Moscou, centro do governo russo, foi um dos complexos
mais vigiados do mundo. Permaneceu fechado aos turistas ate 1955 e, hoje, há partes
do edifício que um visitante não gostaria de conhecer. Os Lucian construíram uma base
ultrassecreta sob o Palácio Estatal do Kremlin. Quando os Lucian russos querem que
alguém desapareça, eles trazem a vitima à prisão no andar inferior. Com suas paredes
à prova de ruído e as celas de confinamento solitário, o local é conhecido por ter levado
os mais corajosos Cahill à loucura.

Wall Street
Nem sempre os Lucian usam a astúcia para controlar países. Durante o século passado,
os Lucian se tornaram incrivelmente poderosos em Wall Street – o coração financeiro
dos Estados Unidos. Há até uma sala secreta para reuniões dentro da bolsa de valores
de Nova York. Antes da abertura do pregão, corretores de ações Lucian participavam
de videoconferências com colegas do clã para bolar uma estratégia capaz de render
bilhões de dólares para eles.

Torre de Londres
Construida a partir de 1078, a Torre de Londres serviu como palácio, fortaleza, zoológico
real e prisão para os inimigos mais aristocráticos do Estado. Muitas pessoas conhecem
a história dos prisioneiros mais famosos que lá foram executados, mas poucos sabem
que a maioria era composta por rivais que os Lucian pretendiam eliminar. Além de matar
os inimigos, o clã usou a torre para reuniões altamente secretas. As espessas paredes
de pedra da fortaleza garantiam que ninguém bisbilhotasse os planos diabólicos.

55
Ekaterina

Ekaterina em relance

Em 1903, os irmãos Wright entraram para a História ao voar no primeiro avião do mundo.
Os dois agentes Ekat, Orville e Wilbur, tinham descoberto uma forma de invadir
furtivamente regiões controladas pelos Tomas e fugir em alta velocidade.

Ilustres
O clã foi fundado por Katherine Cahill, brilhante cientista e egiptóloga. Muitas das mais
famosas mentes do mundo dos últimos quinhentos anos forma agentes Ekaterina,

56
incluindo Tomas Edison, Marie Curie e Albert Einstein. Alguns foram agentes Ekat não
ativos, que usaram seus talentos para melhorar o mundo. Outros foram grandes
agentes, cujas invenções foram criadas para auxiliar na caça às pistas.

Líderes do clã

A liderança costuma ser transmitida hereditariamente. O último líder oficial do clã foi o
empresário coreano Bae Oh, mas ele foi detido por um crime ocorrido a décadas atrás:
o assassinato de Gordon Oh, seu irmão gêmeo . De acordo coma tradição, o filho de
Gordon, Alistair, deveria assumir a liderança. Entretanto, há rumores de que ele teria
traído os Ekaterina ao partilhar pistas com outros clãs. A investigação está em aberto.

Bases secretas
A estratégia Ekaterina para a caça as pistas sempre envolveu o desenvolvimento de
tecnologia de ponta e, por isso, a maioria de suas bases secretas contem laboratórios
avançados. Sua principal base fica escondida dentro de um hotel de luxo no Cairo. Ela
conta com um dos sistemas se segurança mais avançados do mundo, equipado com
lasers, leitores de DNA e dispositivos de reconhecimento vocal. Há bases Ekaterina
também no Triângulo das Bermudas, nas instalações do Cern (Centro Europeu de
Pesquisa Nuclear), localizadas na fronteiras entre França e Suíça, e no Museu Britânico.

Estratégia

57
Os Ekaterina inventaram as melhores câmeras espiãs e dispositivos de invasão
eletrônica, por isso sempre sabem o que os outros clãs estão tramando. As informações
permitiram que os Ekaterina trabalhassem do modo discreto e furtivo. Entretanto, os
Ekat também são extremamente perigosos. Costumam ficar tão concentrados na
ciência que esquecem as consequências das pesquisas. Além de inventos capazes de
salvar vidas, como os antibióticos, eles criaram algumas das armas mais mortíferas,
incluindo a bomba atômica.

Brasão

O símbolo do clã é o dragão. Criatura mitológica, ele representa a criatividade, a


engenhosidade e a inteligência do clã, mas também sua disposição de destruir tudo pelo
caminho.

58
Ilustres

De John Flamsteed, primeiro astrônomo real e rival de Isaac Newton, até Albert Einstein,
brilhantes Ekaterina revolucionaram a caça às pistas e também o mundo. Entre os
Ekaterina ilustres incluem-se:

Anne Cahill
Thomas Edison
Nicola Tesla
Robert Henderson Cahill
Sir John Flamsteed
Marie Curie
Howard Carter
T. E. Lawrence
Orville Wright
Wilbur Wright
Gordon Oh
Abraham Lincoln
Albert Einstein
Steve Jobs

59
Katherine Cahill (1492-?)
A fundadora do clã foi a segunda criança de Gideon e Olivia Cahill. Como o pai, ela
cresceu fascinada pela ciência. Depois de deixar a Irlanda, tornou-se uma das primeiras
egiptólogas do mundo. Também aprendeu a ler hieróglifos antigos séculos antes dos
“primeiros” tradutores oficiais. Entretanto, antes de partir para o Egito, Katherine tomou
uma decisão que alteraria o rumo da História. Furiosa com o irmão favorito, Thomas,
ela roubou uma das pistas dele e fugiu para terras distantes. Como resultado, os
Ekaterina e os Tomas mantêm há quinhentos anos uma rivalidade amarga.

Thomas Edison (1847-1931)


Antes mesmo de aprender sobre a família Cahill, Thomas Edison demonstrava possuir
todas as qualidades de um verdadeiro Ekat. Quando menino ele trabalhou vendendo
doces e jornais em trens. Quando as vendas diminuíam, ele realizava experimentos
científicos num laboratório improvisado nos fundos de um vagão. O sistema funcionava
bem... até o dia em que provocou uma pequena explosão.
Apesar do episódio infeliz, ele se tornou um dos inventores mais famosos de todos os
tempos: foi ele quem inventou a lâmpada. Edison também era um Ekat dedicado. Depois
de descobrir que uma das pistas de Katherine estava relacionada à eletricidade, ele
começou a pesquisar o tema incessantemente. Entretanto, Edison e o seu assistente, o
agente Ekat Nicola Tesla, discordaram em relação ao melhor método de transmitir a
eletricidade, e a briga entre eles se tornou uma das rivalidades mais famosas da ciência.

T. E. Lawrence (1888-1935)
60
Thomas Edward Lawrence, conhecido como Lawrence da Arábia, era um arqueólogo e
oficial do exército britânico. Quando jovens, passou um bom tempo no Egito,
participando da escavação de sítios arqueológicos. Ele ficou sabendo que uma pista
estava relacionada à Pedra de Roseta e rastreou um livro que tinha uma dica crucial.
Após o início da Primeira Guerra Mundial, ele viajou para o Oriente Médio e começou a
trabalhar como espião a serviço dos britânicos. Apesar de ter sobrevivido à guerra, os
Lucian descobriram que Lawrence guardava o livro que continha a chave para a pista.
Lawrence morreu num “acidente” de motocicleta, em 1935.

Alexander Hamilton (1755-1804)


Quando os Madrigal chegaram às colônias americanas, eles imaginaram uma terra
pacífica, livre da violência da caça às pistas. Entretanto, o sonho durou pouco. Quando
John Adams se tornou presidente, sangue Cahill já havia sido derramado no país, e as
tensões só aumentavam. O Ekat Alexander Hamilton, primeiro secretário do Tesouro,
tornou-se obcecado com a eliminação dos rivais, principalmente do vice-presidente
Lucian, Aaron Burr. Hamilton acreditava que merecia o cargo de vice-presidente, e, anos
depois da eleição, continuou a falar mal de Burr. Com a honra em jogo, Burr desafiou
Hamilton para um duelo. Apesar de a maioria dos duelos da época terminar com os
participantes disparando contra o chão, Hamilton e Burr miraram um no outro. Hamilton
foi ferido e morreu no dia seguinte. A tragédia foi o pior pesadelo dos Madrigal, pois os
Estados Unidos ficaram para sempre associados ao poder destrutivo das pistas.

Gordon Oh (1923-1948)
Gordon Oh e seu irmão gêmeo, Bae, eram filhos de agentes de elite dos Ekaterina.
Todos sentiam que um dos meninos lideraria o clã. Desde a infância, Gordon parecia
ser a escolha óbvia. Entretanto, ele nunca teve essa chance. Apesar de negligenciar os
deveres de agente, Bae se ressentia do sucesso do irmão. Em 1948, Bae armou para
que Gordon fosse morto numa viagem a Nova York. Estirado na rua, sangrando, Gordon
conseguiu sussurrar algumas palavras à mulher: “Mantenha Alistair a salvo”.
61
Nicola Tesla (1865-1943)
Tesla foi um inventor sérvio conhecido por sua obra revolucionária na engenharia
elétrica e por sua loucura. Ele convidava amigos para conversar em seu laboratório
enquanto milhares de volts mortais estalavam no teto. Tinha verdadeira obsessão pelo
número três e por pombos. Ele também nutria uma rivalidade amarga com o colega Ekat
Thomas Edison.
Embora a liderança quisesse que os dois agentes mais talentosos do clã trabalhassem
juntos, Edison e Tesla protagonizaram uma das mais célebres brigas da história da
ciência. Tesla continuou suas pesquisas sozinho, mesmo depois de os Madrigal o
considerarem perigoso demais, destruindo seu laboratório.
Os extravagantes experimentos deram resultado. Ele descobriu a pista, e, antes de
morrer, enviou-a ao lar de sua família, na Croácia. Ela permaneceu intocada por
décadas até que o diretor de cinema Janus, Leslie D. Mill, fez um filme sobre Tesla,
inspirando agentes de todos os clãs a rastrear seu paradeiro.
Smiljam, na Croácia, se tornou um centro de atividade Cahill, mas apenas os melhores
caçadores de pistas foram capazes de descobrir como passar pelo sistema de
segurança de Tesla.

Marie Curie (1867-1934)

Marie Curie foi uma cientista que fez descobertas revolucionárias no campo da radiação.
Ela e o marido, Pierre, receberam o prêmio Nobel de Física em 1903, e Marie recebeu
o de química em 1911. Entretanto, somente os Cahill sabem que as pesquisas faziam
parte da tentativa de descobrir uma pista perdida.
O casal sabia que era apenas questão de tempo até que os outros clãs atacassem.
Tomaram o cuidado de manter seu laboratório trancado, escondendo todos os

62
documentos importantes. Porém, havia perigos que nenhum dos dois pôde prever. Em
1906, Pierre morreu depois de ter sido atropelado por uma carroça.
Os relatos do incidente são discrepantes. Algumas testemunhas disseram que ele
simplesmente escorregou na frente da carroça. Outros afirmam que o cocheiro atingiu
Pierre de propósito. Os Lucian fizeram tais pessoas desaparecerem rapidamente.
Apesar do coração partido, Marie seguiu em frente. Além das contribuições à ciência
moderna, ela se distinguiu ao identificar a pista, que foi então enviada à base secreta
Ekat no Triângulo das Bermudas. Infelizmente, o sucesso de Marie teve um preço
altíssimo. Ela passou os últimos momentos de sua vida agonizando por causa do
envenenamento por radiação. Até hoje, seus pertences apresentam tamanho índice de
radiação que são guardados em caixas de chumbo.

Howard Carter (1874-1939)

Howard Carter foi um arqueólogo e egiptólogo famoso por descobrir a tumba de


Tutancâmon. Como Katherine Cahill, sua ancestral, Carter era fascinado pela
antiguidade egípcia, mas tinha um motivo secreto para explorar as tumbas. Ele
acreditava que uma pista fora escondida em algum lugar do Egito, e que haveria dicas
da localização dentro de quatro estátuas da deusa Sakhet.
Carter estava tão desesperado para encontrar as estátuas que se arriscou à lendária
“maldição dos faraós”: o castigo por perturbar o túmulo de um rei do Egito. Apesar do
ceticismo, alguns dos cientistas que o acompanhavam morreram pouco depois da
abertura do túmulo. Carter não acreditava na maldição, mas, mesmo assim, registrou
uma série de acontecimentos estranhos. Um mensageiro enviado à casa do arqueólogo
encontrou uma serpente – o símbolo da monarquia egípcia – repousando numa gaiola.
E, quando Carter começou a escavação, viu vultos de chacais – que simbolizam os
guardiões dos mortos. Carter viveu mais dezesseis anos, mas nunca encontrou a última
estátua de Sakhet; era como se tivesse sido amaldiçoado a procurar para sempre.

63
Dossiê: Katherine Cahill
Katherine sentou-se na cama, acordada pelas batidas do próprio coração. Voltou-se
para a janela e vasculhou o céu escuro até encontrar: Ursa Maior estava perto do
horizonte. Faltava cerca de uma hora para a alvorada. Se ia mesmo seguir adiante, tinha
de partir.
Ela envolveu os ombros com o manto, apesar da agradável noite portuguesa. Quanto
menos carregasse, melhor. Só o equipamento já era o suficiente para quase encher a
sacola. Ao jogá-la sobre o ombro, sentiu o telescópio metálico nas costas e as pesadas
balanças nos quadris.
Ela fez uma pausa em frente ao quarto de Thomas e sua mulher, Luísa. Os roncos eram
fortes o bastante para chacoalhar a porta. Se Katherine prosseguisse, nunca mais veria
Thomas. Estava rompendo o último laço que tinha com a família. Por um momento, ela
se viu tomada por memórias. Fugir de casa para olhar as estrelas com Thomas. Sonhar
com as aventuras que viveriam quando finalmente navegassem para longe da Irlanda.
Mas a cientista dentro dela venceu. Um cirurgião jamais hesita antes de amputar um
membro gangrenado, independentemente do quão fiel esse membro tenha sido ao
paciente no passado.
Era chegada a hora de fazer a primeira incisão.

O escritório estava trancado, como sempre. Por questões de segurança, Katherine tinha
projetado um trinco que precisava de duas chaves. Tentando sufocar a culpa, ela tirou
duas chaves da sacola. Tinha roubado a chave de Thomas do bolso dele durante o
jantar.
O baú de madeira no canto também estava trancado. Katherine e Thomas não quiseram
correr riscos. Era apenas questão de tempo até que os espiões de Luke os rastreassem.
Uma camada de pó cobria a tampa do baú. Ele não tinha sido aberto desde que
Katherine e Thomas haviam se mudado para Portugal. Planejavam ficar no país
algumas semanas. Depois que Thomas conheceu Luísa, ele implorou para que ficassem
mais. Três anos já tinham se passado.
Katherine já tinha esperado o bastante. Na Inglaterra, Luke estava ganhando poder
como conselheiro do rei. Eles tinham de levar suas pistas para muito longe. China. Egito.
Novo Mundo. Qualquer uma das terras distantes com as quais eles sonhavam. Foi por
isso que deixaram a Irlanda. Abandonaram a mãe enlutada que, sem nunca parar de
sorrir, passava a impressão de uma flor que brotava enquanto morria. Eles tinham de
manter suas pistas a salvo, longe das mãos de Luke.
Caso contrário, pensou Katherine, partimos o coração de mamãe sem motivo.
Ela destrancou o baú, tossindo dentro da nuvem de poeira que subiu. Limpou os olhos
e, ao ver o que tinha ali dentro, quase engasgou. De início, pensou que estava
enganada, mas olhou outra vez. Era verdade. Havia apenas saquinhos dourados lá
dentro. Ou quem sabe... ela aproximou o rosto. Sete saquinhos dourados e um único
saquinho azul, bordado com o símbolo de um urso. Thomas tinha levado as pistas.

64
O coração dela parou quando viu o pedaço de pergaminho dobrado. Com dedos
trêmulos, ela o abriu.

Querida irmã,
Por favor, perdoe-me. Vi a expressão inquieta em seu rosto e temi que fizesse algo
imprudente. Seja o que for que tenha planejado, imploro para que reconsidere. Juntos
somos fortes. Sozinhos, temo que nos tornemos presas das sombras que habitam todos
da família. Tenho certeza de que, no fim, você vai tomar a decisão certa. Deixei aqui
uma de minhas pistas como prova de fé, da crença de que você jamais me trairia.
– Thomas

Katherine pôs a mão sobre a boca para que não gritasse. Antes de deixarem a Irlanda,
ela e Thomas decidiram guardar as pistas juntas até encontrarem um esconderijo. Se
os espiões de Luke atacassem, os dois teriam de pegá-las e fugir: não haveria tempo
para procurar pela casa. Entretanto, prometeram jamais olhar a pista um do outro. Mas
Thomas não tinha confiado nela. Ele quebrou a promessa e levou as próprias pistas! A
mistura de culpa e ansiedade transformou-se em raiva.
Um ruído acima a fez saltar. Os passos eram pesados. Thomas? Ela podia ouvir as
tábuas rangendo. Sem tempo para pensar, Katherine agarrou os sete saquinhos
dourados e a única pista que o irmão tinha deixado.

Katherine chegou ao porto quando o navio estava levantando a âncora. A prancha de


embarcar já tinha sido removida. Ela jogou a sacola no convés e então saltou das docas,
agarrando-se a uma corda para não cair na água. Ela desabou no convés. O coração
batia tão rápido que teve a sensação de que o peito explodiria. Um grupo de marinheiros
olhava curiosamente, mas Katherine não se importou. Ela tinha conversado com o
capitão na véspera e pagara sua passagem até o Egito.
Depois que a pulsação desacelerou, Katherine levantou, apoiando-se nas grades. Ainda
estava um pouco tonta. Balançou a cabeça, esforçando-se para recuperar o foco.
Katherine olhou para cima enquanto o navio começava a se afastar do porto. O sol tinha
se levantado, e os pescadores estavam montando suas barracas. Ela podia ouvir o ruído
monótono do mercado. Os gemidos dos homens enquanto tiravam dos barcos os peixes
apanhados. Os fregueses pechinchando amistosamente.
Subitamente, outro ruído rompeu o burburinho, algo entre um trovão e um uivo feroz.
Katherine observou horrorizada enquanto Thomas abria caminho entre as carroças,
mandando peixes pelos ares. Ele avançava a toda velocidade pelo porto. Mesmo do
convés, Katherine podia ver que o rosto dele estava vermelho de raiva.
“KATHERINE!”, rosnou ele. “Devolva-me!”
Ela deu um passo e se afastou do gradil.
Thomas aproximava-se a uma velocidade impossível, as imensas pernas
impulsionando-o na direção do navio.

65
“Não pode fazer isso!”, bradou ele. “Fizemos uma promessa!”
Katherine sentiu o rosto corar. Ela deu um passo adiante. “Uma promessa
quevocê quebrou quando nos manteve apodrecendo aqui por três anos, esperando por
Luke como dois alvos fáceis”, gritou ela. “Você foi negligente com seus deveres,
Thomas. Mas não vai me obrigar a ser com os meus.”
Ele estava a alguns metros do fim das docas e não parecia que diminuiria a velocidade.
Na praia, todos assistiam à cena. Observaram atônitos quando Thomas deu um salto
no ar, voando até o outro lado do abismo que separava o navio das docas.
Ouviu-se um baque quando o corpo dele se chocou com o navio. Ele usou uma mão
para se agarrar a uma corda que pendia para fora.
O barco ganhava velocidade conforme as velas se abriam. Mesmo com sua incrível
força, Thomas tinha dificuldade para se segurar.
“Entregue-me agora”, berrou ele, para ser ouvido sobre o vento. “Ou garanto que vai se
arrepender amargamente.”
“Este homem vai viajar com a senhora?”, perguntou o capitão.
Ela olhou por sobre o gradil. O rosto de Thomas estava retorcido de dor e fúria. Ela
observou os poderosos músculos tremendo com o esforço.
“Não.”
O capitão tirou a espada da bainha. Com um movimento ágil, cortou a corda à qual
Thomas estava agarrado. Katherine observou o irmão caindo. Os olhos dele fixaram-se
nos dela e Thomas caiu quinze metros até as agitadas águas do mar.

66
Agentes

Na verdade, os Ekaterina não são os cientistas loucos que os outros clãs imaginam.
Podem ser pensadores e inventores visionários, mas muitos agentes Ekat são também
entusiasmados caçadores de pistas que usam suas habilidades tanto no laboratório
como na busca. Os agentes Ekat atualmente em atividade possuem diferentes talentos.
Entre eles, incluem-se:

Alistair Oh
Bae Oh
Lilya Chernova
Vladimir Chernov
Vera Chernova
Sinead Starling
Ned Starling
Ted Starling
Devin Cooper
Yasmeen Badawi
Teodora Kosara
Victor Wood

Lilya Chernova

67
Lilya Chernova é a filha de dois agentes russos de alto escalão Ekat. Suas raízes podem
ser verificadas nos seus feitos acadêmicos: ela é a melhor aluna de matemática de sua
escola. Entretanto, sua verdadeira paixão é a moda. Algumas pessoas descrevem as
roupas de Lilya como estranhas (Natalie diz que são “nojentas”), mas ela sabe que os
críticos não têm imaginação. Afinal, é preciso ser muito criativo para usar um vestido de
lantejoulas verdes com bota de caubói rosa numa competição de matemática.

Yasmeen Badawi
Aos 20 anos, Yasmeen é uma engenheira de robôs do subúrbio do Cairo. Depois que
sua mãe foi morta pelos Lucian, Yasmeen passou boa parte da infância no quartel-
general Ekat estudando, aprendendo sobre a história do clã e sonhando em se tornar
uma agente importante, assim como sua mãe. Ela destacou-se depois de vencer uma
competição de robótica e criar um novo sistema de segurança para a base do Cairo. A
busca pelas pistas é especialmente importante para Yasmeen, pois ela considera os
Ekat sua verdadeira família e fará de tudo para provar sua lealdade.

Os trigêmeos Starling
Ned, Ted e Sinead Starling passaram suas vidas se preparando para a caça. Mesmo
depois que a explosão no Instituto Franklin os deixou gravemente feridos, eles se
recusaram a desistir e conseguiram se recuperar. Depois da caçada, os trigêmeos
entraram para a faculdade. O cão-guia de Ted, Flamsteed, tornou-se o mais popular
dentre os residentes do alojamento estudantil depois que Sinead o ensinou a anunciar
o cardápio do jantar. Usando seu olfato hipersensível, Flamsteed late uma vez para
pizza, duas vezes para hambúrgueres e três para carne louca.

Victor Wood

68
O estudante de química Victor Wood quebrou o protocolo Ekat quando usou o
laboratório da universidade para pesquisas altamente secretas sobre as pistas.
Entretanto, ao invés de punir o jovem, Bae o escolheu como seu assistente. Agora,
Wood divide o tempo entre os estudos em Londres e as obrigações na base secreta do
Cairo, onde passa boa parte do tempo no laboratório de segurança máxima.
Diferentemente de seu relacionamento com o sobrinho, Alistair, Bae enxerga em Victor
um imenso potencial e acredita que ele será o futuro do clã Ekaterina.

Teodora Kosara

Na Bulgária, Teodora não teve acesso aos mesmos recursos que os agentes nas
verdadeiras bases Ekat. Contudo, isso não a impediu de se dedicar à busca, usando
cada oportunidade para realizar pesquisas e seguir dicas. Durante uma viagem
escolar, ela conseguiu fugir e explorar a Torre de Londres, famosa base secreta dos
Lucian. Teodora é obcecada pelas pistas, mas sua lealdade aos Ekaterina é
questionável. Ela mantém laços com os Vesper – o único outro grupo no mundo que
sabe a respeito das pistas.

69
70
Últimas notícias: agente Alistair Oh

Depois de salvar o mundo, Dan merecia todos os doces que conseguisse comer. Ao
menos foi isso que ele disse enquanto desabava no assento ao lado de Alistair, com
uma tonelada de pacotes no colo.
Eles estavam no aeroporto de Dublin. O senhor McIntyre tinha comprado para Amy, Dan
e Nellie passagens com destino a Boston. Alistair estava embarcando num voo para
Londres, de onde partiria para Seul.
“O embarque para o voo 2039 com destino a Boston começou agora no portão 14A”,
anunciou uma voz pelos alto-falantes.
Nellie suspirou. “Adoro o sotaque irlandês.” Ela fez uma pausa. “E também o australiano
e o inglês.” Uma expressão sonhadora iluminou seu rosto. “O sotaque de Theo era
simplesmente demais.”
Dan bufou. “É mesmo, pena que houve um probleminha e ele se revelou um ladrão
traiçoeiro e duas-caras.”
Nellie virou os olhos. “Bom, todas as pessoas que conhecemos querem roubar algo de
vocês.”
“Ou nos matar”, acrescentou Amy, com a voz doce. Ela não tinha falado muito desde
que os três deixaram a ilha naquela manhã. Alistair franziu o cenho. Uma menina de 14
anos não deveria parecer tão cansada.
Foram tantas as vezes em que eles escaparam por pouco. A explosão na Filadélfia. O
incêndio na Indonésia. A armadilha de Isabel no hangar. Alistair não tinha certeza se

71
Amy e Dan percebiam quantas vezes os dois quase perderam a vida. Ou quão próximo
ele esteve de quebrar a promessa feita a Hope.
Dan abriu a embalagem de um chocolate e deu uma mordida gigante. Amy olhou para
ele, preocupada. “Sabe que são apenas seis horas de voo, né? Você trouxe doces para
seis semanas.”
“Preciso garantir meu estoque”, explicou, lambuzando o rosto enquanto falava.
“Eca!”, resmungou Amy, tentando limpar as gotas de chocolate da pele. “Nunca vão te
deixar voltar pra cá. Você é uma ameaça a saúde pública.”
Alistair suspirou. Percebeu que sentiria falta das crianças.
Enquanto Nellie pegava os cartões de embarque, Amy e Dan se levantaram para a
despedida. Amy deu um breve abraço no tio. Dan demorou-se. Alistair apertou-o nos
braços, apesar de saber que o terno provavelmente ficaria sujo de chocolate.
Enquanto se afastavam, ele se perguntou se voltaria a vê-los. Será que um dia de
altruísmo poderia compensar seis semanas de traição? Ou, pior ainda, por toda a vida
que eles teriam de passar sem os pais? Tudo porque Alistair tivera medo de contrariar
Isabel. Tivera medo de contestar o tio.
Ele levantou-se. Talvez não fosse tarde demais. Caminhou até o balcão de passagens
e trocou seu destino de Seul para o Cairo.

Sete horas mais tarde, Alistair estava no saguão do Hotel Exelsior, no Cairo. Tudo
parecia surpreendentemente familiar. A água da fonte corria serena num canto. O cheiro
das violetas emanava do balcão. Depois de tudo o que ocorreu na Irlanda, foi estranho
encontrar o hotel no mesmo estado. Como se os últimos dias tivessem sido um sonho.
Ele olhou para o relógio. Alistair tinha cinco minutos para levar o tio para fora, ou o plano
poderia não funcionar. Mas, antes que Alistair tivesse tempo de se preocupar, o elevador
se abriu e Bae saiu, cercado por dois homenzarrões de terno escuro. Ele tinha mordido
a isca.
Bae caminhou até chegar tão perto que Alistair pôde ver o próprio reflexo nos olhos
furiosos do tio.
“É verdade?”, berrou Bae. Alistair sentiu no rosto seu hálito quente.
Quando Alistair não respondeu, Bae se voltou e fez um gesto aos homens de terno. Eles
avançaram e agarraram Alistair pelos ombros, prendendo-o contra a parede do hotel.
“Não vou perguntar outra vez. Os rumores são verdadeiros?” A voz de Bae elevou-se
de modo alarmante, como nas numerosas ocasiões em que disse a Alistair que o boletim
escolar dele era constrangedor. Que sua última missão fora um fracasso. Ou que o pai
ficaria envergonhado...
Alistair sentiu o corpo ser erguido do chão, e as pernas se agitam no ar.
“Acredite no que quiser, tio.” Os homens apertaram-no mais e um deles pôs as imensas
mãos ao redor de seu pescoço. Ele sentiu a palma de uma mão pressionando o esôfago.

72
Bae aproximou-se. “O que você quer dizer?” Alistair sentiu a saliva respingar em suas
pálpebras. Tentou falar, mas as palavras saíram engasgadas. Com um gesto de Bae,
os homens largaram Alistair, que caiu no chão. Ele rolou de costas e olhou para as
brilhantes lâmpadas fluorescentes.
“Você... é... capaz de...”, ofegou Alistair, cada palavra ferindo sua garganta como uma
faca. “... convencer a si mesmo do que quiser. De que merecia ser o líder do clã. Que
meu pai merecia morrer”.
Bae caminhou na direção dele. “Você sempre tentou me culpar pelos seus fracassos.”
A voz dele tremia de raiva. “Mas eu tentei. Foi você que nunca se mostrou à altura.”
Alistair ficou de pé e deu um passo trêmulo. Ele tinha de chegar a porta.
“Foi você que me deu as costas”, vociferou Bae, olhando para Alistair, que cambaleava.
“Traiu seu clã. Você é pior que um fracasso: é um traidor.”
A porta estava a poucos metros. Ele estava quase lá.
“Não permitirei que sejamos sabotados pela sua fraqueza outra vez”, berrou Bae
enquanto sua bengala golpeava a cabeça de Alistair.
Alistair desabou no chão; a bengala atingiu-o outra vez, e uma onda de dor percorreu-
lhe o corpo. Ele gemeu enquanto estendia o braço. Estou tão perto.
Apesar da dor que sentia, ele se levantou e abriu aporta, gemendo pelo esforço. Com
um lamento, arrastou-se até a luz do sol. Ouviu enquanto Bae gargalhava. “Acha que
pode fugir rastejando? Mais um de seus planos brilhantes. Não vou...” Ele parou e olhou
diante de si. A entrada para carros estava cheia de caminhonetes de luxo com o símbolo
da ONU.
Um homem uniformizado surgiu. “Bae Oh, você está preso pelo assassinato de Gordon
Oh, pelo tráfico de armas ilegais, pelo transporte de materiais perigosos” ele olhou para
Alistair, “ e por agressão e lesão corporal.”
O som das algemas rompeu o zumbido de dor na cabeça de Alistair.
“Obrigado por atraí-lo, senhor”, disse o soldado, fazendo um gesto de cabeça para
Alistair. “Não queríamos pôr em risco nenhum dos hóspedes.”
“Não é isto que Gordon teria desejado”, implorou Bae enquanto o soldado o arrastava
na direção do veículo. “Ele nunca desejaria que eu passasse os últimos anos de minha
vida na prisão.”
“Acho que teria de acreditar em você, tio”, respondeu Alistair, afastando a mão de um
médico. “Eu só tive quatro anos para conhecê-lo. Mas você passou os últimos sessenta
convivendo com o fantasma dele. Tenho certeza de que continuará em excelente
companhia na solitária.”
Enquanto os veículos se afastavam, Alistair finalmente permitiu que o médico o
ajudasse. “Obrigado”, agradeceu, fazendo uma careta enquanto limpava o pó do terno.
“Senhor, precisamos leva-lo a um hospital.”
“Não, tudo bem. Tenho questões a resolver aqui.” Alistair apanhou o chapéu do chão e
pôs na cabeça. “Questões de família.” Esforçando-se para disfarçar a perna manca,

73
caminhou até o saguão do hotel. A próxima reunião de liderança Ekat estava prestes a
começar.

Bae Oh

Em 1948, Bae Oh armou para que o irmão gêmeo, Gordon, líder do clã, fosse morto
durante uma viagem de negócios a Nova York. Menos de uma semana depois do
enterro, Bae tornou-se o líder.
Quando a mulher de Gordon morreu alguns anos depois, Bae se tornou o guardião do
filho dela, Alistair. Se Bae sentia culpa, não usou o relacionamento com Alistair para se
redimir. Aproveitou cada oportunidade para atormentar o sobrinho órfão, dizendo que
ele não passava de um fracasso e um desapontamento.
Por mais de sessenta anos. Bae liderou o clã usando intimidação e chantagem. Quando
percebeu que Hope e Arthur Trent estavam se tornando poderosos demais, conspirou
com os Kabra, planejando uma intervenção. Bae não se preocupou com os dois filhos
pequenos do casal. Ele certamente não se preocupou com o fato de Alistair gostar muito
de Hope – Alistair considerava a jovem e Grace sua verdadeira família.
Depois da Irlanda, Alistair decidiu por fim no reino de terror de seu tio. Usando seus
contatos entre os Madrigal, relatou a ONU as muitas atividades ilegais de Bae. As
Nações Unidas enviaram sua força de paz ao Cairo e detiveram Bae do lado de fora da
base Ekat. Atualmente, ele se encontra detido em Haia, aguardando julgamento por
assassinato, extorsão e tráfico de armamentos. E por agressão e lesão corporal.

74
Truques e ferramentas

Naturalmente, os Ekat criam os truques e ferramentas que empregam na caça às pistas.


Dentre eles:

A bengala de Alistair Oh
A Cluecraft 3000
Botas de agente secreto
Submarino em forma de monstro
Skates a jato
Facas espiãs.
Moedas espiãs.
Hipnose
Saltos de paraquedas HALO/HAHO

Saltos de paraquedas HALO/HAHO

75
Apesar de os Tomas terem inventado o paraquedas, foram os Ekat que aperfeiçoaram
a técnica. Para invadir bases rivais, desenvolveram os métodos HALO e HAHO. Agentes
corajosos o bastante para tentar um salto HALO esperam até o último segundo e só
então abrem os paraquedas. A jogada perigosa permite que atinjam velocidades tão
altas que não são detectados por radar. O método HAHO é mais indicado para uma
entrada furtiva em locais específicos, como a base Tomas em Alcatraz.

A Cluecraft 3000

Depois de décadas no ramo da espionagem, os Ekat perceberam que havia uma pista
Tomas escondida em alguma parte das Cataratas Vitória – uma imensa série de
quedas-d’água no sul da África. Eles precisavam de uma embarcação que vencesse as
poderosas correntes para explorar as cavernas atrás da parede de água. Os
engenheiros Ekat usaram a tecnologia mais avançada de que se dispunham para
produzir a Cluecraft 3000, a única lancha do mundo capaz de suportar a vazão das

76
cataratas – mais de 1.070 metros cúbicos de água por segundo.

Moedas espiãs
Os Ekaterina têm acesso a tecnologias inimagináveis, como câmeras e microfones
quase microscópios, que podem ser ocultados dentro de uma moeda. Nem o rastreador
de escuta dos Kabra é capaz de detectar as moedas, que permitem aos Ekat monitorar
os passos de alguns de seus inimigos mais poderosos.

Submarino Lago Ness

Para proteger uma pista escondida no fundo do lago Ness, na Escócia, os Ekat
desenvolveram um submarino que parece com o lendário monstro do lago. Pode ser
pilotado manualmente por um agente Ekat, ou ser programado para patrulhar as águas
sozinhas, usando avançados sistemas de radar e detecção de calor para perceber
invasores.

A bengala de Alistair Oh
Mais que um acessório, a bengala de Alistair Oh funciona como base móvel. Contêm
câmera oculta, cofre de titânio reforçado e uma lâmpada de luz negra. Ela foi
extremamente útil para Alistair, pois evitava que ele tivesse de voltar com regularidade
à base secreta dos Ekaterina. Assim escapava de encontrar o tio, que constantemente
o chamava de “inútil”, entre outras coisas do gênero. Com a prisão de Bae, Alistair
felizmente terá mais sossego.

Skates a jato
O skate a jato ainda está em fases de testes, mas promete ser uma das principais
ferramentas da caça, especialmente para os agentes mais jovens. Permitirá andar em
relevos acidentado e empreender fugas espetaculares.

Botas de agente secreto

77
Quando os Tomas esconderam uma pista em Machu Picchu, no alto das montanhas do
Peru, eles imaginavam que nenhum outro Cahill teria coragem e resistência física para
encontrá-la. Porém, a bota espiã do Ekaterina permite superar os terrenos mais
traiçoeiros do planeta. Ela conta com GPS, cadarços que podem ser usados como
cordas de rapel e um atirador de dardos que dispara projéteis envenenados a partir do
dedão do pé.

78
Bases

Ao longo do último meio milênio, os Ekaterina usaram sua tecnologia avançada para
ocultar pistas nos locais mais seguros e secretos do planeta. Entre as bases conhecidas
podemos citar:

CERN
Smilian, Croácia
São Petersburgo, Rússia
Lago Ness, Escócia
Triângulo das Bermudas
Museu Britânico, Inglaterra
Cairo, Egito
Luxor, Egito
Nova York, EUA

São Petersburgo
Durante séculos, os Lucian foram os únicos Cahill na Rússia. Os Ekaterina sabiam que
alguém precisava manter o poder deles sob controle na região e então estabeleceram
uma base secreta em São Petersburgo. O edifício é disfarçado como um complexo de
apartamentos e é atualmente ocupado pelos Chernov, uma família de agentes do alto
escalão. O cofre de segurança máxima dentro do prédio guarda alguns artigos de valor

79
incalculável, entre eles a pista Tomas roubada: uma gema cortada a partir da mesma
pedra que o lendário diamante Hope.

Lago Ness
Mesmo com seus QIs geniais, até os Ekat enfrentam problemas para conservar as
próprias pistas. Uma delas quase foi perdida quando Titanic afundou. Décadas mais
tarde, um acidente de avião fez com que a pista fosse parar no fundo do lago Ness, na
Escócia. Em vez de correr o risco de transportá-la novamente, decidiram deixá-la no
fundo do lago e bolaram uma maneira inovadora de protegê-la. Eles aproveitaram-se do
mito que cercava o lago e criaram um submarino em forma de monstro, operado por um
rechonchudo agente Ekat chamado Charlie. Assim, ninguém mais se aproxima da pista,
graças à “temível criatura”.

Triângulo das Bermudas


O Triângulo das Bermudas é um dos locais mais misteriosos do planeta. Navios
desapareceram sem deixar traço. Pilotos perdem-se e acabam desviando quilômetros
das rotas. Enquanto alguns acham sobrenatural, a verdade é que os Ekaterina mantêm
uma base ultrassecreta numa pequena ilha dentro do Triângulo. Seus avançados
sistemas de segurança embaralham o radar dos navios e aviões que se aproximam,
para garantir que nenhum dos outros Cahill encontre a base.

Museu Britânico
No final do século XVII, os Ekat britânicos fundaram um museu para abrigar alguns dos
tesouros descobertos no mundo. Ele foi considerado o local perfeito para guardar aquela
que era então a mais recente descoberta: a Pedra de Roseta, um artefato egípcio que
continha uma dica crucial para a localização de uma pista Ekat. A Pedra de Roseta é
permanentemente exibida ao público, mas os Ekat usam seu avanço sistema de
vigilância para acompanhar atentamente a movimentação dos visitantes. Quem passar
tempo demais na galeria egípcia acaba levantando suspeitas e ganha um presentinho:
conhecer a prisão secreta que ocupa o subsolo.

80
Tomas

Tomas em relance

Os Tomas são viciados em adrenalina. Moldaram a História com coragem e insaciável


sede de aventura. Seus inimigos tendem a chamá-los de adversários “de grande força
física e pouca inteligência”, mas a verdade não poderia ser mais diferente. Os Tomas
são visionários que descobriram novas terras, escalaram os cumes mais altos e
testaram os limites da resistência humana. Sua ânsia por explorar novas fronteiras os
levou aos locais mais extremos da Terra. O clã produziu os mais famosos exploradores,
atletas, líderes militares e astronautas.

Brasão

81
O Símbolo dos Tomas é o urso-polar, que, apesar da temida reputação, raramente ataca
sem ser provocado. Mas, quando obrigado a lutar, o resultado é sempre mortífero. Da
mesma maneira, os Tomas preferem usar sua força nos campos esportivos e não nos
campos de batalha. Porém, se necessário, convertem-se em guerreiros letais. Também
valorizam o urso-polar por ser um caçador furtivo que muitas vezes mata sua presa
antes mesmo de ela perceber que é um alvo – os Tomas ainda estão aperfeiçoando
essa habilidade.

História
Os mais famosos guerreiros da História eram do clã Tomas, desde Shaka Zulu e seu
destemido exército até os samurais japoneses. Mas os Tomas não vencem as batalhas
apenas com rapidez e força. Eles são estrategistas. O clã teve entre os seus líderes
alguns comandantes militares lendários, como George Washington e o duque de
Wellington, que deu cabo de Napoleão.

Líderes do clã

O líder atual é Ivan Kleister, esquiador radical de Osio, Noruega. Quando não está
presidindo reuniões no Japão ou na África do Sul, ele pode ser encontrado em um
helicóptero rumo ao cume de uma montanha, calçando os esquis e saltando para fora
da aeronave.
Os Tomas possuem um método próprio para a escolha do líder. Qualquer um pode se
indicar, mas os candidatos precisam concorrer num campeonato. A primeira etapa é um
triatio Iron Man – prova que consiste em 3,8 quilômetros de natação, 180 de ciclismo e
mais 42 de corrida. Os primeiros dez a concluírem passam então para a rodada de
orientação espacial e sobrevivência. Cada candidato é vendado e largado, de
helicóptero, numa localização remota como o Deserto do Saara ou a Floresta
Amazônica. Os primeiros cinco agentes a encontrar o caminho de volta à base avançam
para a fase final: uma prova sobre história militar e estratégia. Na improvável
possibilidade de um empate, o vencedor é determinado por meio de uma partida de
xadrez – sobre brasas.

Bases secretas

82
As bases secretas Tomas costumam se localizar em antigos centros militares, como a
ilha de Alcatraz, na baía de São Francisco, ou em áreas de acesso extremamente difícil,
como o interior do monte Fuji, no Japão. Embora os Tomas usem sistemas de vigilância
de alta tecnologia, como o restante dos Cahill, sua forma preferida de garantir a
segurança é simplesmente escolher um ponto que seus rivais não poderão alcançar –
como o cume de montanhas traiçoeiras ou o fundo de cavernas ocultas atrás de
cataratas.

Características
Os Tomas são o clã mais teimoso dos Cahill. Assim que alguém diz a palavra
“impossível”, eles começam a bolar um plano para mostrar que a pessoa está errada.
Afinal, não foram os Ekaterina que levaram o homem à Lua pela primeira vez. A missão
da Apollo 11 foi liderada por engenheiros e astronautas Tomas que se recusaram a
aceitar a impossibilidade da viagem espacial.
Apesar do talento para a estratégia, os agentes Tomas nem sempre são os mais
sorrateiros na busca pelas pistas. Eles acreditam que sua força superior lhes permite
“invadir primeiro e fazer perguntas depois”, o que às vezes causa problemas. Entretanto,
para cada retrocesso, há incontáveis vitórias – e celebrações bastante animadas.

83
Ilustres

Os integrantes do clã Tomas incluem os mais corajosos exploradores, os mais


talentosos atletas e os mais ousados líderes. De George Mallory, primeira pessoa a
escalar o Everest, até Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, os membros do
clã sempre procuraram novas fronteiras. Entre eles estão:

Sir Jhon Franklin


Jean-Batiste Tavernier
Annie Oakley
Gertrude Ederle
Buchanan Holt
George Washington
Meriwether Lewis
William Clark
Sacagawea
Neil Armstrong
David Livingstone
Simón Bolívar
Ulisses S. Grant
Dwight D. Eisenhower
George Mallory

84
Marie Marvingt
Jesse Owens
Rei Luís XIV

Thomas Cahill (1494-?)

Quando criança, o futuro fundador do clã passou incontáveis horas na companhia da


irmã Katherine, sonhando com aventuras. Mas, antes que tivessem a chance de içar
velas e partir, a tragédia atingiu a família. O pai deles, Gideon, morreu num incêndio
suspeito. Thomas e Katherine acreditavam que o irmão, Luke, tinha sido o responsável
e que viria atrás dos dois. Quando deixaram a Irlanda, Thomas e Katherine não estavam
à procura de aventura – tinham embarcado numa missão desesperada para ocultar as
pistas. Viajaram até Portugal, onde poderiam tomar um navio para terras distantes. Mas,
antes de partir, Thomas se casou com uma portuguesa. Furiosa por Thomas ter
escolhido o amor em vez do dever, Katherine deixou Portugal escondida, levando
consigo uma das pistas dele. Quando descobriu a traição, Thomas prometeu se vingar.
Ele deixou a esposa em Portugal e partiu atrás de Katherine. Sua busca o levou ao
Japão, onde construiu a primeira base secreta Tomas.

Annie Oakley (1860-1926)


Annie Oakley, nascida Mosey, cresceu numa fazenda em Ohio quando o estado fazia
parte da fronteira ocidental. O pai da moça morreu quando ela era jovem, e Annie
começou a caçar para ajudar a família. Certo dia, um atirador chamado Frank Butler
veio à cidade mais próxima, oferecendo 100 dólares (o equivalente a 2 mil nos padrões

85
atuais) a quem quer que conseguisse atirar melhor do que ele. Depois que Frank errou
o 25º disparo, Annie se tornou a vencedora. Ela e Frank casaram-se em 1882.
Em 1885, o casal se juntou ao Circo do Velho Oeste de Buffalo Bille viajou por todos os
Estados Unidos. Os talentos de Annie chamaram a atenção da liderança Tomas, que
percebeu o potencial de uma grande caçadora de pistas. Eles prepararam tudo para
que o Circo do Velho Oeste embarcasse numa turnê pela Europa. Quando não estava
no palco, Annie era enviada em missões secretas, como invadir a Torre de Londres.
Entretanto, sua fama a tornou um alvo fácil. Quando se apresentou para o príncipe da
Prússia, o futuro kaiser Guilherme II, ela acertou um tiro no cigarro na boca dele. A
plateia não sabia disso, mas o príncipe era membro do clã Janus e Annie estava lhe
dando um alerta.

George Washington (1732-1799)

George Washington foi o comandante do Exército Continental durante a Revolução


Americana e ascendeu até se tornar o primeiro presidente dos Estados Unidos. Foi um
grande caçador de pistas na juventude, mas acabou se cansado da rivalidade
sangrenta. Em vez disso, usou suas habilidades na luta pela independência americana.
Foi um general brilhante e sabia como inspirar os soldados, mesmo na pior situação.
Sendo um dos americanos mais famosos da História, Washington é personagem de
muitas lendas, como a anedota dos seus dentes de madeira. Os Cahill têm sua própria
versão do mito: cada dente de Washington seria, na verdade, feito de uma pista
diferente, como osso, tungstênio e ouro. No entanto, somente parte da história é
verdadeira. Em certa ocasião, Washington encomendou um par de dentaduras feitas a
partir do marfim de hipopótamo, que parece osso.

George Mallory (1886-1924)

86
George Mallory foi um professor britânico e alpinista dedicado a ser o primeiro a chegar
ao topo do Everest, a montanha mais alta do mundo. Depois de duas tentativas, ele e
seu parceiro de escalada, Andrew Irvine, partiram uma terceira vez. Nenhum dos dois
jamais voltou.
Mallory foi visto pela última vez a poucas centenas de metros do cume. Seu cadáver
congelado foi encontrado na montanha 75 anos mais tarde, e os especialistas ainda
debatem se ele morreu na subida ou na descida. A maioria acredita que a obsessão de
Mallory pela escalada do Everest vinha da ambição e do gosto pela aventura. Contudo,
havia uma motivação anda mais forte: ele estava tentando ocultar uma pista.

Shaka Zulu (c. 1787-c. 1828)

Shaka foi um guerreiro zulu famoso por sua estratégia diferenciada. Em vez de
arremessar lanças a distância como faziam os outros, ele usava lanças curtas que
provocaram ferimentos mais mortíferos. Shaka também foi o criador do famoso ataque
“chifre de búfalo”. Ele dividia seus comandado em três grupos. O primeiro deles atacava
diretamente o inimigo. Enquanto os adversários se defendiam da ofensiva, os outros
dois grupos desviavam sorrateiramente para atacar pelos flancos. Poucos eram
capazes de sobreviver a um embate contra o chifre de búfalo da Shaka.

87
O dom para a liderança permitiu que ele criasse a primeira nação zulu. Mas suas
ambições eram ainda maiores. Quando um britânico chamado Henry Francus Flynn
chegou ao reino zulu, Shaka enxergou uma oportunidade para ampliar seu poder. Flynn
era um Tomas que tinha viajado até a África em busca de uma planta necessária para
o soro Tomas. Em troca de ajuda na tarefa, Flynn prometeu incorporar Shaka ao clã e
dividir com ele um pequeno gole do último frasco restante do soro.
Shaka tornou-se um agente Tomas e o guardião da pista aloe. Deu ordens para que ela
fosse enterrada consigo, a fim de protegê-la mesmo depois de morto. Os guerreiros
Tomas não permitem que algo tão insignificante quanto a morte fique no caminho do
cumprimento do dever.

Toyotomi Hideyoshi (1536-1598)

Os historiadores consideram o guerreiro japonês Toyotomi Hideyoshi um verdadeiro


enigma. Sabe-se muito pouco a respeito o início de sua vida. É quase como se ele
tivesse aparecido num passa de mágica. Entretanto, os agentes Tomas conhecem a
verdade: ele era filho de Tomas Cahill.
Thomas chegou ao Japão perto de 1514. Depois que ficou sabendo da morte da
primeira esposa, casou-se com uma japonesa chamada Keiko, com quem teve quatro
filhos. Thomas sabia que a família jamais estaria a salvo do irmão, Luke. A única
maneira de proteger os filhos era treiná-los para que se tornassem guerreiros.
O filho dele, Hideyoshi, cresceu e se tornou um poderoso senhor da guerra, governando
o Japão como regente imperial. Mas ele sabia que era apenas questão de tempo até
que seus primos Cahill chegassem ao Japão para caçar as pistas. Hideyoshi adotou
uma política rigorosa contra os estrangeiros e ordenou até a execução de missionários
ocidentais, que poderia secretamente ser membros dos clãs Cahill.
Como medida adicional de proteção, Hideyoshi proibiu os camponeses de possuir
espadas, confiscando ermas em todo o país. A maioria acreditava que as espadas
tinham sido derretidas para erigir uma estátua do Buda, mas os agentes Tomas do alto
escalão sabem que Hideyoshi as enviara para uma caverna secreta na Coreia do Sul
juntamente com um artigo ainda mais precioso – uma pista.

Buchanan Holt (1931-1982)

88
Quando jovem, Buchanan Holt foi o menino de ouro do clã. Jogador de futebol
americano da seleção dos Estados Unidos, ganhou uma medalha de ouro no remo nas
Olimpíadas de Inverno de 1948. Foi também um agente notável. Em 1952, ele se
classificou para as Olimpíadas na patinação de velocidade. Entretanto, Buchanan nunca
conseguiu o que queria: ganhar medalhas nas duas Olimpíadas, de inverno e de verão,
e assim marcar História.
Naquele ano, a liderança o acusou de ter vazado segredos fundamentais do clã para os
Ekaterina. Buchanan fora escolhido para transportar um arquivo importantíssimo da
base secreta no monte Fuji até a África do Sul – algo importante demais para ser enviado
pelo correio. Alguns dias mais tarde, o mesmo documento apareceu na base Ekat, no
Cairo.
Buchanan negou as acusações, mas era difícil ignorar as provas. Se os próprios Ekat
tivessem roubado o documento, eles teriam se gabado do caso. Mas eles estavam tão
confusos quanto os agentes Tomas. Ninguém jamais suspeitou que houvesse outro
grupo dedicado a semear a discórdia dentro da família Cahill – um grupo que havia
séculos acompanhava os movimentos dos diferentes clãs.
Buchanan foi afastado da caça. Quando nasceu Eisenhower, seu filho, o sobrenome
Holt era sinônimo de traição. Desesperado para protegê-lo de um destino semelhante,
Buchanan se tornou obcecado em transformar Eisenhower num grande agente e num
dos maiores caçadores de pistas, assim como ele. No entanto, depois da morte de sua
mulher, começou a enfrentar dificuldades cada vez maiores para se comunicar com o
filho pequeno. O relacionamento entre os dois foi tenso até a morte de Buchanan.

89
Dossiê: Annie Oakley
Annie Mosey, a futura Annie Oakley, prendeu a respiração. Se fizesse o mínimo barulho,
o cervo perceberia sua presença e correria pela floresta. Annie era pequena para os 12
anos, mas seu peso era suficiente para partir um graveto – e assim sua família passaria
fome mais um dia.
Ela ergueu o rifle, repousando a coronha no ombro, exatamente como o pai ensinara.
Sabia que um desconhecido riria se chegasse ao local e visse aquela menininha
empunhando uma arma tão grande, mirando um cervo a trezentos metros de distância.
Era hora do crepúsculo, e o alvo estava parcialmente escondido nas sombras, Annie
sorriu. Era um disparo que acertaria até dormindo. Fechou um dos olhos para em
seguida apertar o dedo contra o gatilho e então...
“Ei, você. Olá.”
Assustada, ergueu o rifle e atirou no ar. O cervo saiu correndo em alta velocidade. Annie
girou o corpo e viu um homem alto usando um casaco cinzento e apertado, de aparência
cara.
“Pela madrugada!”, gritou ela, enfurecida. “Já fazia quase três horas que eu estava
rastreando aquele cervo. Faz ideia de que horas são?” Sem dar ao intruso tempo de
responder, ela agitou o rifle no ar. “É hora de acender as velas. O que significa que logo
estará completamente escuro. É tarde demais para encontrar outra presa.” Ela sentiu a
raiva borbulhando. “Você me deve 10 dólares, moço.”
Ele ergueu as sobrancelhas. “É mesmo?” Seu sotaque era estrangeiro, diferente de
todos que Annie já tinha ouvido. As roupas eram ainda mais curiosas. Ela reparou nos
botões dourados do casaco dele. Ursos, pensou.
Outro homem saiu das sombras. Ele usava um casaco idêntico. “Não pode ser esta
menina, Edwin”, disse com o mesmo sotaque, um pouco mais pesado. “Ele não passa
de uma criança.”
Edwin sorriu para Annie. “Dez dólares é o preço do cervo?”
“Pode apostar”. Ela estendeu a mão, mostrando a palma suja.
Edwin riu. “Tenho uma ideia melhor. Soube que existe uma atiradora muito talentosa
por estas bandas. Seria você?”
Annie ergueu o queixo. “Não dou bola para os boatos, Mas...”, ela abriu um leve sorriso,
satisfeita ao ver que sua reputação a precedia “... será mais difícil encontrar alguém que
atire melhor do que pegar uma doninha dormindo.”
O segundo homem riu. “Vamos, Edwin. Estamos perdendo tempo. Esta não pode ser a
menina de quem a liderança falou. Devemos ter errado ao decodificar a mensagem.”
“Paciência, Hans.” Ele voltou-se para Annie. “Importa-se de participar de uma pequena
aposta?” Ele apontou para uma árvore distante. “Se for capaz de atingir aquele ninho,
lhe darei seus 10 dólares.” Annie apertou as pálpebras. Ela mal enxergava o punhado
de gravetos congelados. Mas recusar um desafio seria algo inédito.
Num instante, Annie apoiou o rifle no ombro e fez pontaria. Ouviu-se um estalo quando
a bala atingiu o galho, e então outro ruído quando ele caiu no chão.

90
Os dois ficaram olhando fixamente para ela. Edwin tirou um maço de notas do bolso e
entregou a Annie 10 dólares. Ela meteu as notas no bolso e deu um passo atrás. “Achou
que já é hora de ir, então.”
“Espero um minuto. Vou lhe dar a chance de dobrar os ganhos.” Ele pôs a mão no bolso
do casaco e tirou uma carta de baralho. Uma rainha de copas. “Já participei de muitas
demonstrações de pontaria e nunca vi ninguém conseguir acertar mais do que quatro
balas numa carta.” Ele fez uma pausa. “Acha que é capaz de bater a marca?”
Annie deu mais um passo. Aquelas propostas eram muito estranhas. Que tipo de pessoa
passava noites de nevasca em florestas fazendo apostas? Ainda assim, 20 dólares
seriam suficientes para alimentar a família durante meses. Annie respirou fundo. “Acho
que não custa tentar.”
Edwin ergueu a carta, Annie fez um gesto com a cabeça para mostrar que estava pronta.
Ele lançou a carta no ar e se afastou. Ela disparou rapidamente. Com o canto do olho,
a menina viu Hans se encolher e cobrir os ouvidos. A carta flutuou até cair no chão.
Todos avançaram. Havia seis buracos de bala. Edwin sorriu para Hans. “Parece que a
encontramos.”
Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça. “E foi bem a tempo. É impossível saber o
que aconteceria se os Ekat soubessem antes.”
Ekat? Annie balançou a cabeça. “Não entendo bem o que vocês dizem com esse
sotaque de bacana, mas acho que é hora de ir.” Ela pensou nos irmãos famintos e em
como a luz de seus olhos acendia quando ela chegava com uma presa fresca ou o bolso
cheio de moedas.
“Espere um momento, Annie.” Edwin deu um passo adiante.
Ela fez um gesto brusco com a cabeça. “Como sabe meu nome?”, perguntou ela,
erguendo o rifle.
Edwin riu, “Está tudo bem. Abaixe a arma.”
Hans girou os olhos, “É por isso que detesto recrutar agentes americanos. É apenas
questão de tempo até que atirem em nós.” Ele fez uma pausa, “Ou que nos ataquem
com uma enxada.”
Edwin deu mais um passo na direção da Annie, “Estamos procurando você faz bastante
tempo, Annie. Seu talento é incrível.”
“É um dom que vocês conhecerão na pele se não se afastarem agora mesmo”, alertou
Annie. Ao ver que ele permaneceu imóvel, Annie deu de ombros e apoiou o rifle no
ombro. “Vocês é que sabem, o enterro não é meu.”
“Precisa de ajuda, Edwin?”, chamou uma voz. Seis homens saíram das sombras na
clareira iluminada pelo luar. Usavam uniformes cinza, com emblemas de ursos azuis.
“Fiquem longe!”, ordenou Edwin aos recém-chegados. Ele voltou-se para Hans.
“Eu disse que devíamos ter vindo sozinhos.” Virou-se novamente para Annie. “Sinto
muito. Não foi assim que planejei o encontro. Como vê, temos grandes planos para
você, Annie. Há algum lugar onde possamos conversar?”
Annie não fazia ideia de que quem eram aquelas pessoas nem imaginava que diabos
queriam com ela, mas não estava ansiosa para descobrir.

91
Ela olhou para cima e reparou nas árvores sobre sua cabeça. Annie tinha de agir rápido,
ou seria tarde demais. Ela ergueu o rifle e mandou pelos ares uma série de disparos.
Ouviu-se um forte estalo quando um galho de árvore se quebrou e caiu, trazendo
consigo muito galhos menores. Houve um instante de gritaria seguido por um coro de
gemidos.
Annie girou o corpo e começou a correr na direção da floresta. Ela ouviu Edwin chamar
ao longe, “Ainda nos veremos outra vez, Annie. Você tem um grande futuro!”
Talvez, pensou Annie enquanto avançava pela neve, com a respiração ofegante por
subir a colina. Mas aposto que é bem longe desses homens-ursos do estrangeiro. No
cume, ela fez uma pausa e olhou para trás. As únicas pegadas eram as suas. Annie
respirou fundo e pôs a mão no bolso. As notas ainda estavam ali. A família teria alimento
o bastante até a primavera. Ela expirou e então apertou os lábios com firmeza. E decidiu
que dormiria com um dos olhos aberto, para o caso de aqueles homens-ursos serem
tolos o bastante para reaparecer.

92
Agentes

Alguns agentes empregam suas habilidades atléticas na caça. Outros usam o talento
para atingir o estrelato no futebol ou nas competições de força. Mas, sempre que estão
chutando uma bola, erguendo pesos ou invadindo bases secreta inimigas, há algo que
nunca muda: os Tomas sempre são os mais rápidos, fortes e barulhentos. Entre seus
agentes estão:

George McClain
Paul Addison
Heinrich Heinrichson
Hamilton Holt
Reagan Holt
Madison Holt
Einsenhower Holt
Mary-Todd Holt
Ivan Klester
Herbert Malusi
Andrew Bhekisisa
Maleia Kalani

Eisenhower Holt

93
Em Eisenhower, quase tudo é superdimensionado. Seus pés, bíceps e temperamento.
E o intenso desejo de provar ao clã sua capacidade. Quando criança, Eisenhower
sonhava em se tornar um grande caçador de pistas. Ele cobriu a parede do quarto com
um mapa e marcou todas as localizações conhecidas de pistas, bem como os lugares
para onde apontavam suas suspeitas. Ele estava certo a respeito da pista Lucian na
Área 51. Mas, no caso de sua teoria sobre a pista Janus na prateleira de tintas de uma
loja de material de construção em Milwaukee, as coisas não foram bem assim.
Entretanto, as oportunidades de Einsenhower eram limitadas. O pai dele, Buchanan,
tinha sido acusado de vazar informações altamente secretas para os Ekaterina. Depois
daquilo, ninguém mais confiou em Buchanan nem em sua família. Eisenhower
acreditava que o pai tinha sido vítima de uma armação e cresceu comprometido com a
missão de limpar o nome dos Holt. Mas sua má sorte continuou na academia militar.
Quando Buchanan veio visitá-lo, Eisenhower estava tão animado para mostrar seu rifle
que se esqueceu da regra que proíbe os cadetes de tirar as armas do campus. O colega
de quarto de Eisenhower, Arthur Trent, o delatou ao superintendente, e Eisenhower foi
expulso.
Depois de anos de frustação, Eisenhower viu na caça às pistas sua última chance de
ganhar fama. Estava disposto a fazer tudo o que fosse necessário para esmagar a
concorrência. Porém, quando seu filho Hamilton emergiu da base secreta Madrigal,
Eisenhower não se importou com o fato de ter entregado as pistas. Ele percebeu que o
respeito pelo clã não era nada comparado ao amor pelo filho.

Ivan Kleister

Ivan Kleister é um campeão de hóquei. É também um boxeador lendário. E um dos


maiores esquiadores do planeta. Contudo, seu dom de liderança não chega a ser tão
poderoso quanto seu gancho de direita. Apesar de não ver problema em tomar decisões
num milésimo de segundo em pleno ar ou sobre o gelo fino, sua confiança não é tão
sólida na hora de bolar uma estratégia. Em vez de tomar a decisão errada, às vezes
Ivan prefere não tomar decisão nenhuma. Ele é muito comprometido com a causa e
deseja muito que encontrem as pistas, mas se sente mais confortável organizando um

94
campeonato vôlei do que uma caça ao tesouro. Ainda assim, sua clássica personalidade
Tomas o impede de aceitar a derrota. Sempre que as coisas dão errado, Ivan culpa
outra pessoa.

Paul Addison
Paul Addison vive em Drumnadrochit, Escócia, perto do famoso lago Ness. Ele
costumava passar os verões se escondendo dos turistas que vinham à cidade na
esperança de ver “Nessie”. Paul detestava suas imensas câmeras. Desprezava as
garrafas de água em forma de monstro que compravam. E não suportava Charlie
Wallace, o homem que administrava o Quiosque do Nessie e oferecia passeios pelo
lago. Havia alguma coisa estranha nele, como se o guia rechonchudo estivesse
escondendo algo mais, além da pança de cerveja. Paul decidiu investigar, e a situação
logo ficou feia. Mas, apesar dos grandes esforços da liderança Ekaterina, o jovem
Tomas foi o responsável por denunciar uma das maiores conspirações da história dos
Cahill: “Nessie” era na verdade um submarino Ekat encarregado de proteger uma pista.

Maleia Kalani
Durante a infância passada no Havaí, Maleia teve poucas oportunidades de participar
das missões. Entretanto, sempre que não estava surfando, dedicava-se à pesquisa de
possíveis localizações de pistas o redor do mundo. Ela foi uma das únicas agentes entre
todos os clãs a suspeitar que houvesse atividade Cahill na Ilha da Páscoa. Depois de
vencer alguns torneios de surfe no Havaí e na Califórnia, Maleia se classificou para uma
competição no Tahiti. Ela convenceu o patrocinador a deixar que passasse pela Ilha da
Páscoa na viagem da volta e se tornou a primeira Cahill a chegar a menos de 3.200
quilômetros da base secreta Madrigal. Ela não conseguiu encontrar o moai que ocultava
a entrada secreta, e provavelmente foi o melhor assim. É impossível saber o que os
Madrigal teriam sido obrigados a fazer se uma Tomas tivesse descoberto o segredo.

95
Os irmãos Holt

No subúrbio de Milwaukee, onde moram, os irmãos Holt são os inimigos públicos


número 1, 2 e 3. (A ordem varia de acordo com a época do ano e com qual deles estiver
jogando um esporte que envolva grandes bastões de madeira.) Mas, apesar de terem a
reputação de valentões, a verdade é que simplesmente nunca aprenderam a interagir
com outras crianças. Um menino de 6 anos capaz de enfrentar os jogadores da equipe
juvenil de futebol americano sempre terá problemas no parquinho.
O pai das crianças não facilitou as coisas. Eisenhower estava obcecado em transformar
os filhos em campeões – uma família de atletas habilidosos e grandes caçadores de
pistas que mudaria a opinião do clã sobre os Holt. Assim que aprenderam a andar,
Hamilton, Madison e Reagan começaram um intenso treino que envolvia corridas às
quatro da manhã, sessões de halterofilismo às seis e semanas inteiras dedicadas à
marcha, ao montanhismo ou a torneios de força.
Entretanto, as coisas mudaram desde que os Holt voltaram da caça. As crianças não
temem mais o pai, Hamilton entrou para o clube de computação e, depois das primeiras
semanas, os outros membros pararam de se esconder quando ele entrava na sala.
Reagan confessou que ia a aulas de balé. Depois de revelar o segredo, pôde convidar
a família para ver sua apresentação de O lago dos cisnes. Os Holt gostaram de ver
Reagan saltando e rodopiando mais do que todas as outras. Madison está finalmente
aprendendo que não se pode falar mal das outras bailarinas. Mas eles ainda estão
tentando ensinar ao cachorro Arnold a diferença entre cisnes reais e uma menina de
tutu.

96
Últimas notícias: agente Hamilton Holt

“Pare de sorrir, Madison”, ordenou Eisenhower quando faziam uma pausa para comer
um lanche energético. Hamilton viu a irmã sorrindo sob o capuz do casaco roxo
enquanto fazia uma pose para a câmera da mãe.
Depois de mais de quatro horas de caminhada, os Holt estavam se aproximando do
cume do monte Fuji. Os campos do Japão tinham desaparecido e tudo o que podiam
ver era o céu azul e nuvens brancas.
“Você precisa dar um jeito na sua postura”, gritou Eisenhower em meio a uma lufada de
vento. “Temos de entrar na base como campeões.” Hamilton reconheceu aquele olhar
determinado dos momentos em que Einsenhower tentava programar o gravador de
DVD.
Hamilton sentiu uma pontada de ansiedade, sentimento já familiar. Desde que William
McIntyre pedira aos Holt que convencessem alguns Tomas a se juntar à causa Madrigal,
ele tinha a sensação de que um peso fora depositado sobre seus ombros. E enquanto
escalavam o Monte Fuji, o fardo se tornava mais pesado. Nos últimos quinhentos anos,
nenhum agente Tomas tinha desistido nem de um jogo de basquete. E agora os Holt –
os forasteiros – deveriam aparecer e sugerir que mudassem de lado?
“Ainda falta muito, docinho?”, perguntou Mary-Todd.
Eisenhower ergueu os olhos. “Bem, a base secreta fica 1.700 metros acima da estação
Fujinomiya.” Ele voltou-se para olhar ao redor. “E o sol se põe no oeste.” Ele coçou a
cabeça enquanto olhava para o céu. “Mas estamos no hemisfério oriental, o que significa
que, ãhn, temos que dividir tudo por dois...”
“Ei!”, gritou Madison. “Vejam aquilo!” Ela apontou para uma imagem abstrata esculpida
na pedra. Parecia um pouco com um animal de quatro patas. “Não sabia que havia alces
no Japão.” Ela se aproximou um pouco mais. “Tire uma foto minha, mamãe!” Ela abriu
um largo sorriso.
“Madison! Nada de sorrisos!”
Hamilton deu um passo adiante e apertou as pálpebras. “Não acho que seja um alce.”
Mas Madison estava ocupada discutindo com Eisenhower. “Saia do caminho, papai.
Quero tirar uma foto com o alce!”
“Tá bem. Cadê a expressão de vencedora?”
“Mas os alces me deixam feliz! Lembra daquela vez em que estávamos acampando e
eu vi o filhotinho de alce e disse: ‘Oi, filhotinho de alce’. E então a mamãe alce se
aproximou e...”
“Espere um pouco”, gritou Hamilton. “Não. É. Um...”
“E então tivemos que subornar o guarda-florestal para que ele nos deixasse...”
“É um URSO!”, berrou Hamilton. Ele respirou fundo, percebendo que, depois de dizer
aquilo, não haveria como voltar atrás. “Encontramos a entrada.”

97
O túnel estava coberto de retratos de agentes Tomas. George Washington, Annie
Oakley, LeBron James. Eles chegaram ao fim e, um de cada vez, pressionaram as mãos
contra o leitor de impressões digitais ao lado da porta. Ela deslizou e abriu.
Hamilton ficou pasmo. Eles estavam num terraço, olhando para o mais amplo espaço
interno que já tinham visto – era pelo menos dez vezes maior do que um estádio de
futebol americano. Abaixo havia gramados de futebol, quadras de basquete e salas de
ginástica. Mais além havia pistas de atletismo, ringues de boxe e o que parecia ser um
cartódromo. Ele sentiu um aperto na barriga enquanto reparava na expressão
concentrada dos agentes. Eles não pareciam ser capazes de nutrir alguma simpatia por
adolescente de 15 anos decidido a partilhar as pistas do clã.
“Vejam!”, gritou Madison. Hamilton voltou-se e viu que toda a lateral da base era
composto por uma gigantesca rampa coberta de esqui, completa com máquinas de neve
e até um teleférico.
Esquiadores e snowboardes desciam em alta velocidade os diferentes trajetos ou
pairavam no ar nas manobras no gigantesco half pipe.
Um dos esquiadores era ainda mais rápido do que os demais, descendo a rampa quase
vertical em linha reta. Ele passou pela beirada inclinada se preparando para um salto e
voou tão longe que saiu da área de esqui. Hamilton acompanhou com o olhar enquanto
ele cruzava o ar, aterrissando com um pesado barulho sobre o terraço.
Era um homem loiro e alto, de pele bronzeada e olhos de um azul gelado. Apesar de
estar vestindo um par de esquis de alto desempenho, estava relaxado e confiante.
“Bem-vindos, família Holt”, disse com um leve sotaque norueguês.
Einsenhower jogou os ombros para trás. “Olá, Ivan.”
O nível de ruído dentro da base secreta caíra dramaticamente. Hamilton percebeu que
as pessoas tinham interrompido os jogos e olhavam fixamente para eles.
“Vocês têm um perfeito senso de oportunidade. Acabo de voltar da base sul-africana.
Tive de supervisionar algumas mudanças na equipe.”
Hamilton viu um lampejo de preocupação percorrer o rosto de Eisenhower. “Malusi não
está mais no comando de lá?”
“Não.” Ivan balançou a cabeça. “Infelizmente, o estado atual do senhor Malusi o impede
de desempenhar tais funções.”
“O que houve?”, perguntou Mary-Todd.
Ivan sorriu, mostrando impressionantes dentes brancos.
“Ele permitiu que as crianças Cahill roubassem uma pista. Não podemos permitir que
esse tipo de negligência fique sem castigo.”
Hamilton limpou a garganta e deu um passo adiante. Era ele quem deveria dar notícias.
“Hum, com licença, Ivan?”, começou. “Estava me perguntando se eu poderia falar com
todos os presentes.”
Ivan lançou um olhar gelado. “E este deve ser o jovem que entregou as pistas a Amy e
Dan. É claro que você pode falar aos presentes”, disse ele, fugindo entusiasmo.
“Pretende nos fazer uma palestra inspiradora a respeito de como desistir?”, ele caçoou.

98
“Afinal, você é o único Tomas capaz de nos mostrar em primeira mão como ser um
perdedor patético.”
“Como ousa?” O rosto de Einsenhower estava ficando roxo. Ele deu um passo na
direção de Ivan, mas Mary-Todd o puxou.
“Agora não, chuchuzinho”, disse ela, cravando os calcanhares no chão.
Todas as demais atividades na base foram interrompidas. Uma multidão formou-se sob
o terraço. Até os esquiadores pararam para assistir, tentando não escorregar na pista.
“Se ao menos me dessem a chance de explicar”, começou Hamilton.
“Explicar?”, Ivan cuspiu, dando um passo à frente. “Existe uma explicação para o fato
de você ter aberto mão das pistas? Como explicar que você se tornou o maior traidor
da história dos Tomas desde o seu avô?”
Hamilton ouviu o pai engasgar.
“Ei, você, sujeitinho de olhos assustadores?”, chamou Madison. “Sabe o que faz um
alce quando alguém insulta sua família?”
Ivan ergueu as sobrancelhas.
“Isto!”
Madison inclinou-se e correu na direção de Ivan. A cabeça dela o atingiu em cheio na
barriga. Perdendo o equilíbrio sobre os esquis, ele agitou os braços no ar para se firmar,
mas já era tarde. Com uma pancada pesada sobre uma pilha de colchonetes.
Sussurros e expressões de espanto percorreram a base. Hamilton foi na direção da
porta. Será que os agentes tentariam pegá-los? Subitamente, uma voz os chamou.
“Queremos ouvir o relato do que ocorreu”.
Ele deu um passo adiante e olhou para a multidão. Todos o observavam com uma
mistura de expressões. Confusão. Raiva. Curiosidade. Excitação. Mas nenhum deles
parecia querer acertá-lo com um taco de beisebol. Hamilton respirou fundo. Era chegada
a hora do jogo decisivo.

99
Truques e ferramentas

Os talentos Tomas tornam-se habilidades úteis na caça. Seus dotes atléticos e sua
coragem permitem que ocultem pistas em locais traiçoeiros. E sua força, que combatam
até o mais furtivo inimigo. Entretanto, os Tomas possuem talentos menos conhecidos
que também contribuem para o sucesso. Por causa de sua tolerância para a dor, os
agentes cobrem o corpo de tatuagens – estratégia ideal para esconder dicas
importantes! Os Tomas são também jeitosos com os animais, o que faz deles excelentes
vaqueiros... ou treinadores de leões-marinhos. Entre os truques e ferramentas mais
usados podemos citar:

Tatuagens cifradas
Parkour
Shurikens cifrados
Escalada urbana
Placares cifrados
Habilidades de localização
Artes marciais
Leões-marinhos espiões
Montanhismo
Exploração
Habilidades de samurai
Equitação

100
Escalada urbana / parkour

Quando querem invadir uma base secreta, os Tomas não perdem tempo estudando as
plantas do sistema de calefação nem preparando disfarces elaborados. Eles
simplesmente usam suas habilidades de escalada urbana para subir no edifício.
Os Tomas são capazes de escalar qualquer coisa: monumentos, estátuas, pontes – e
até arranha-céus! Recentemente, a liderança do clã mandou agentes para escalar a
Torre Eiffel em busca de uma pista Lucian. Eles chegaram com facilidade ao topo, mas,
infelizmente, a pista havia sido temporariamente levada para a Estátua da Liberdade.
É claro que nem todas as missões ocorrem tão tranquilamente. Quando precisam de
uma rota de fuga, eles recorrem ao parkour – uma série de corridas, saltos e outros
movimentos acrobáticos por meio dos quais os agentes correm pelos ambientes
urbanos. Os especialistas em parkour podem saltar sobre carros, paredes e mesmo
telhados, apesar de ser necessário um treinamento especial para as acrobacias
altamente arriscadas.

Exploração

Como Thomas, seu fundador, os membros do clã são famosos por sua sede de
exploração. Eles anseiam pela aventura e gostam de explorar paragens distantes. Sua
paixão por descobrir novas terras moldou a História, pois foram os primeiros a chegar
ao Polo Norte, ao Polo Sul, ao topo do monte Everest e à superfície da Lua. O espírito
de aventura dos Tomas lhes confere também uma vantagem sobre a concorrência. As
pistas deles costumam ser as mais bem protegidas, pois as escondem em lugares aos
quais ninguém consegue chegar, como a fossa mais profunda do oceano.

101
Equitação
O talento dos Tomas para a equitação tem sido uma peça-chave para o sucesso na
busca pelas pistas. Durante séculos, os melhores guerreiros foram também os
cavaleiros mais ousados, pois sobressaíam no campo de batalha. No século XIX, a
habilidade dos Tomas na montaria permitiu que dominassem o Oeste americano. Os
bandidos Tomas eram capazes de cavalgar e atirar melhor que todos, incluindo os
representantes da lei, o que fazia deles o clã mais poderoso a oeste do Mississipi.
Entretanto, os agentes que respeitavam a lei eram igualmente importantes. A maioria
dos cavaleiros do Pony Express era do clã Tomas, o que lhes conferia acesso às
mensagens escritas em todo o Oeste – mesmo aquelas que tinham sido cifradas.

Leões-marinhos espiões

Apesar de grandes atletas, os Tomas sabem que suas habilidades têm limites. O mais
experiente mergulhador não é páreo para a combinação de um par de pés de pato,
sentidos aguçados e bigodes charmosos. Os Tomas que fazem parte do exército usam
leões-marinhos para detectar bombas, transportar equipamento e vigiar a presença de
mergulhadores inimigos. A marinha dos Estados Unidos chegou até a treinar os animais
a algemar intrusos pelas pernas e trazê-los aos seus treinadores para interrogatório.
Os Tomas também usam leões-marinhos espiões em suas missões. Leões-marinhos
membros do corpo especial de agentes Tomas patrulham as águas perto de importantes
localizações para o clã – como as proximidades da fossa das Marianas –, dificultando
para os rivais Cahill a tarefa de invadir secretamente o local. Eles podem ainda ser
usados para espionar as atividades dos outros clãs. Os Tomas ligam câmeras
subaquáticas aos arreios dos animais então os enviam para fotografar territórios
inimigos.

102
Bases

As bases Tomas costumam ser locais remotos perfeitos, como o Ártico canadense, ou
então abrigam grandes eventos dos esportes radicais, como Teahupo’o, onde são
realizados os mais famosos torneios de surfe. As bases Tomas incluem:

Monument Valley, Estados Unidos


Ilha de Alcatraz, Estados Unidos
Coreia do Sul
Machu Picchu, Peru
Fossa das Marianas
West Point, Estados Unidos
Polo Norte/ Ártico canadense
Palácio Nacional, México
Baía de Waimea, Estados Unidos
Rota Iditarod, Estados Unidos
Teahupo’o, Tahiti
Cidades-sede das Olimpíadas
Monte Fuji, Japão
Cataratas Vitória, África
Tóquio, Japão

103
Cidades-sede das Olimpíadas
São necessários anos para que o COI (Comitê Olímpico Internacional) escolha uma
cidade para receber os Jogos Olímpicos. A votação é feita em segredo e é difícil
determinar por que os membros do comitê tomam suas decisões. Somente os
familiarizados com a história dos Cahill sabem a verdade: as Olimpíadas são
administradas pelos Tomas, e o COI escolhe a localização com base na estratégia da
caça às pistas. Os jogos de 2000 foram realizados em Sydney para que os agentes
Tomas pudessem procurar a pista perdida de Amelia Earhart. Durante as Olimpíadas
de 2008, em Pequim, os Tomas estavam procurando a pista do Imperador Pu Yi, do clã
Janus. Agora que a caçada chegou ao fim, as cidades que foram ignoradas durante
anos finalmente terão uma chance de receber as Olimpíadas. Pode comemorar,
Cleveland.

Monte Fuji
Os Ekaterina gostam de fingir que os Tomas não são tão tecnologicamente avançados
quanto o restante dos Cahill. Bae Oh certa vez espalhou o boato de que Ivan Kleister
mantinha um adesivo colorido colado ao controle remoto da TV para lembrá-lo das
funções dos botões. Entretanto, a base Tomas no Monte Fuji, no Japão, sugere o
contrário. É preciso muita astúcia para construir uma base secreta dentro de uma
montanha, principalmente com rampa interna de esqui. Os Tomas são também
habilidosos na hora de misturar negócios com prazer. Depois de intensas reuniões do
clã dentro do monte Fuji, os agentes Tomas aliviam a tensão com um relaxante torneio
de vale-tudo ou uma bucólica partida de rúgbi. É claro que nem tudo é diversão. O centro
de vigilância dentro da base secreta funciona 24 horas por dia, monitorando as bases
pelo mundo.

Ilha de Alcatraz

No século XIX, o poder no Oeste americano era determinado por quem pudesse
cavalgar mais rápido, atirar melhor e provocar mais medo. Naturalmente, eram os
Tomas que controlavam aquele ambiente. Sua principal base de operações no Velho
Oeste era a ilha de Alcatraz, na baía de São Francisco. Antes um forte militar e uma
prisão, Alcatraz sempre pertenceu aos Tomas e foi operada por eles. A ilha remota,
cercada por águas geladas cheias de tubarões, também foi o lugar perfeito para

104
esconder uma pista. Antes de a prisão na ilha ser fechada, os Tomas adoravam
aprisionar os rivais na “rocha”. Os detentos muitas vezes enlouqueciam sabendo o
quanto estavam perto de uma pista.

West Point
A Academia do Exército dos Estados Unidos em West Point é dominada pelos Tomas
desde sua fundação, em 1802. A academia produziu dois presidentes Tomas: Ulysses
S. Grant, herói da guerra civil, e Dwight D. Eisenhower, que liderou as forças aliadas
rumo à vitória na Segunda Guerra Mundial. Era tão difícil ser aceito que os próprios
Tomas às vezes penavam. Os cadetes tinham de ser nomeados pelo congressista, algo
difícil para os Tomas, que habitavam distritos controlados pelos Lucian. Além de
oferecer uma excelente educação militar, West Point é um local ideal para aqueles que
desejam espionar os Tomas... como o grupo que enviou para lá o cadete Arthur Trent
na década de 1980.

Teahupo’o
Teahupo’o é um lendário local para o surfe, na costa o Tahiti, uma ilha na Polinésia
Francesa. As imensas ondas atraem surfistas de todo o mundo, o que faz de Teahupo’o
um ponto de grande atividade Tomas. Foi lá que aperfeiçoaram a técnica do surfe tow-
in, usada para permitir que os surfistas peguem ondas grandes e rápidas demais para
serem alcançadas simplesmente com as remadas dos braços. No método tow-in, os
surfistas são rebocados para a onda presos a um jet ski ou helicóptero. Os Cahill de
outros clãs gostam de observar da praia, torcendo por uma vaca espetacular dos
Tomas. Entretanto, com frequência, os visitantes vão embora ainda mais preocupados
com a caça. Depois de ver os agentes Tomas surfando, todos percebem que o clã não
tem medo de nada.

Cataratas Vitória

Em 1866, o missionário e explorador escocês David Livingstone partiu para descobrir a


nascente do rio Nilo. Ao menos é o que a maioria das pessoas pensa. Os Cahill
suspeitavam que ele estivesse procurando por uma pista Tomas – em algum lugar no

105
coração da selva africana. Livingstone passou muitos anos sem manter contato com o
mundo exterior.
Ansiosos para descobrir o segredo de Livingstone, os Janus mandaram o repórter Henry
Morton Stanley à África para segui-lo. Stanley acabou encontrando Livingstone, mas a
pista já estava escondida em segurança em uma caverna atrás das cataratas Vitória –
uma série de enormes quedas-d’água na fronteira entre Zâmbia e Zimbábue. Durante
anos os outros clãs tentaram descobrir uma forma de recuperar a pista. Os Ekat
chegaram até a projetar uma embarcação especial para vencer as águas turbulentas,
apesar de enfrentarem dificuldades para encontrar voluntários para pilotá-la.

106
Janus

Janus em relance

Nos últimos quinhentos anos, muitos dos mais criativos e bem-sucedidos artistas foram
membros do clã Janus. Pintores inovadores como Vincent van Gogh, autoras ilustres
como Jane Austen, músicos visionários como Wolfgang Amadeus Mozart, e atores
celebrados como Daniel Radcliffe estão entre eles.
Mas os talentos dos Janus vão além das artes. A criatividade de seus agentes permite
que se destaquem em atividades competitivas, como as artes marciais e as acrobacias
aéreas. Sua imaginação também lhes confere vantagens em relação aos rivais na caça.
O ás Gervais Raoul Lufbery era um agente Janus que usou sua engenhosidade para
voar em círculos ao redor de pilotos inimigos durante a Primeira Guerra Mundial.

107
Estratégia
Os Janus nutrem tanta paixão pela arte quanto pela caça às 39 pistas. Eles acreditam
que ela faz do mundo um lugar melhor, e que o poder vai permitir transformá-la no foco
da sociedade mundial.
Algumas das mais famosas obras de arte foram criadas como parte da caça. A
inspiração por trás do livro Frankenstein, de Mary Shelley, surgiu durante uma reunião
do alto escalão dos agentes na Suíça no início do século XIX, e a autora chegou até a
esconder uma pista no texto.
Apesar de os Janus terem a fama de sonhadores pacíficos, eles podem ser tão
perigosos quanto os demais clãs. Ao longo da história, os líderes Janus puseram a
criação artística acima das necessidades de seus povos, deixando súditos passarem
fome enquanto erguiam seus palácios luxuosos e monumentos exuberantes. Os Janus
também estão dispostos a usar métodos brutais: os agentes são tão habilidosos com a
espada quanto com o pincel.

Líderes do clã

Até o século XIX, o clã era comandado por um líder eleito. Para os criativos e muitas
vezes impulsivos Janus, não era o ideal. Às vezes, o líder era tomado por uma
“inspiração irresistível” e desaparecia por dias enquanto trabalhava num quadro ou em
uma sonata. Os Janus perceberam que seria melhor ter três líderes por vez, para assim
dividirem as responsabilidades e estabelecer um equilíbrio entre as personalidades
excêntricas.
Os últimos líderes foram Cora Wizard, Halima Amad e Spencer Langodeon. Entretanto,
Cora considerava o sistema tríplice ineficiente. Ela acreditava que, para superarem os
demais clãs, precisavam de um líder forte, capaz de tomar decisões. Pouco depois de
ser eleita, Cora encontrou uma maneira de conquistar o poder: subornou Halima a
abdicar e, quando Spencer resistiu, vazou documentos falsos mostrando que ele tinha
plagiado seu premiado livro de poesias. Em desgraça, Spencer renunciou.

Brasão

108
É adequado que o símbolo dos Janus seja um lobo, representação da elegância e da
sabedoria. Entretanto, apesar de os lobos pacíficos serem criaturas belíssimas, eles
podem se tornar assassinos violentos quando necessário.

Bases secretas

A principal base secreta Janus fica em Los Angeles, escondida sob o famoso letreiro de
Hollywood. Existe outra base importante em Veneza, Itália, onde guardam obras de arte
de valor incalculável e dicas. A influência do clã em todo o mundo também pode ser
vista nos incontáveis edifícios e monumentos projetados por arquitetos Janus, desde a
Catedral da Sagrada Família, na Espanha, até a Igreja de Santa Sofia, em Istambul.

109
Ilustres

Os Janus são polivalentes. Quem disse que não se podem compor óperas e caçar
pistas? E o simples fato de uma atriz ser famosa não significa que não possa ser
também agente secreta. Ao longo da história, os Janus dividiram carreiras brilhantes
com a caça. Entre eles incluem-se:

Thomas Jefferson
Jane Cahill
Alessandro Cagliostro
Harry Houdini
Gervais Raoul Lufbery
Henry Morton Stanley
George, Lorde Byron
John Keats
Mary Shelley
Percy Bysshe Shelley
Jane Austen
Vincent van Gogh
Imperador Maximiliano do México
Luís II da Baviera
Ambrose Bierce

110
Sir Walter Raleigh
Josephine Baker
Charlie Chaplin
Hedy Lammar
James Dean
Mark Twain
Nannerl Mozart
Imperador Pu Yi da China
Wolfgang Amadeus Mozart

Jane Cahill (1497-?)

Aos 10 anos, Jane, futura fundadora do clã, ficou devastada quando o irmão mais velho,
Luke, fugiu. Apesar das evidências, ela não acreditava que seu irmão favorito tivesse
começado o incêndio que custou a vida do pai. Quando percebeu o sumiço de Luke,
Jane correu até as docas para alcançá-lo, mas era tarde demais. Ele a tinha
abandonado. Jane sabia que nunca poderia voltar para casa. Apesar da culpa que
sentia por deixar a mãe, ela estava se sentindo sufocada na pequena ilha. Jane queria
explorar seus talentos num ambiente inspirador. Entretanto, ela logo percebeu que, para
uma moça, era tão difícil sobreviver como artista em Londres quanto numa ilha. As
mulheres não eram levadas a sério como autoras e instrumentistas. Muito menos uma
jovem mocinha vinda da Irlanda. Incapaz de encontrar quem se dispusesse a publicar
suas poesias e permitir que ela tocasse harpa, Jane começou a se passar por menino;
desse modo, seu talento falava por si. Em questão de poucos anos, Jane – ou John –
se tornou uma das maiores atrações de Londres.

111
Sir Walter Raleigh (1552-1618)
Os poetas eram os astros do rock do século XVII, e Walter Raleigh era o mais rebelde
entre todos. Explorador e pirata, Raleigh era também um dedicado caçador de pistas e
se tornou o primeiro Janus a roubar uma pista Lucian. Como sabia que ela jamais estaria
em segurança na Inglaterra, mandou-a secretamente para o Novo Mundo. Raleigh fez
preparativos para que um grupo de colonos se instalasse na ilha Roanoke (atualmente
no estado da Carolina do Norte) a milhares de quilômetros da base Lucian mais próxima.
Alguns anos mais tarde, um navio partiu da Inglaterra e descobriu que toda a colônia
desaparecera – preparando o palco para um dos maiores mistérios da história. Mas
quem conhece a história dos Cahill sabe a verdade: os Lucian rastrearam a pista
roubada, encontraram-na do outro lado do oceano e destruíram a colônia. Eles então
conspiraram para que Raleigh fosse detido na Torre de Londres. Ele foi executado em
1618.

Josephine Baker (1906-1975)


Como bem sabe Jonah Wizard, às vezes as celebridades são os melhores espiões.
Nascida nos Estados Unidos, Josephine foi uma cantora, dançarina e atriz que se
mudou para a França e tornou-se um dos nomes mais famosos do entretenimento.
Quando teve início a Segunda Guerra Mundial, Baker entrou para a Resistência
Francesa, levando para fora do país informações cruciais nas partituras musicais. Além
de apoiar a Resistência, Baker usou suas habilidades para ajudar alguns Janus. Quando
os Lucian decidiram que seria mais seguro levar uma de suas pistas para longe da
Europa pós-guerra, Baker foi enviada para interceptá-la. O agente Lucian que
transportava a pista ficou tão encantado ao ver sua cantora favorita que ela pôde roubar
a pista bem debaixo do seu nariz.

Luís II da Baviera (1845-1886)

112
Luís II da Baviera, o Rei Louco, adorava música e era apaixonado pela obra do
compositor Richard Wagner. Chegou até a decorar um de seus exuberantes palácios, o
Castelo de Neuschwanstein, com cenas das óperas de Wagner. Luís ganhou fama
devido à mania de construir castelos – ele quase levou seu país à falência ao construir
imensos palácios dignos de contos de fadas. O Palácio de Linderhof contava com um
lago interno onde o rei podia ser levado para passear num barco a remo em forma de
concha.
Os inimigos de Luís tentaram fazer com que o rei parecesse louco, mas havia bons
motivos para construir os palácios. Ele tinha sido incumbido de proteger uma pista e
sabia que as numerosas construções serviriam como alvos falsos. O rei fez bem em
tomar tais precauções. Em 1886, ele morreu em circunstâncias misteriosas – seu corpo
foi encontrado às margens de um lago.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)

Wolfgang Amadeus Mozart é considerado o maior músico de todos os tempos. O pai de


Mozart, Leopold, era um agente Janus que desejava desesperadamente fazer parte do
alto escalão. Quando seus filhos pequenos, Wolfgang e Nannerl, mostram sinais de
genialidade musical, ele percebeu que isso poderia ser a chave para aquele mundo.
Leopold fez com que Wolfgang e Nannerl se apresentassem em toda a Europa,
passando por Alemanha, França, Inglaterra e Itália. Ele concentrou as atenções em
Wolfgang e logo o firmou entre os mais talentosos jovens músicos da Europa.
Quando adulto, Wolfgang compôs mais de seiscentas obras, incluindo 41 sinfonias e
numerosas óperas, como As bodas de Fígaro e A flauta mágica. Mozart estava sempre
criando. Há relatos sugerindo que compunha enquanto conversava com amigos e até
enquanto jogava bilhar.
Mozart também cresceu e se tornou um dedicado caçador de pistas. Sua obsessão era
recriar o soro Janus. O compositor costumava sonhar com a revolução musical que ele
lideraria com a dose extra de talento. Entretanto, rastrear a localização das pistas
revelou-se uma tarefa cara. Mozart morreu falido e foi sepultado numa vala comum.
113
Com o passar dos anos, os jazigos do cemitério de São Marcos, em Viena, foram
redistribuídos, e o corpo de Mozart foi perdido. Até hoje, ninguém sabe ao certo onde
repousam seus ossos.

Harry Houdini (1874-1926)

A maioria das pessoas talvez não ache que escapar de uma lata de leite seja uma forma
de arte. No entanto, o agente Houdini era um gênio capaz de transformar seu talento
para as fugas num espetáculo impressionante. Ele deixou multidões impressionadas ao
vencer desafios mesmo algemado, preso numa camisa de força ou até suspenso do
teto pelos pés.
Conforme os perigos numerosos fizeram dele uma celebridade internacional, ele usou
a fama como pretexto para percorrer o mundo... e se envolver em missões secretas.
Com talento para abrir fechaduras e capacidade para escapar de qualquer situação,
Houdini se tornou a primeira opção para as tarefas mais importantes – e possivelmente
letais.
Ainda assim, à medida que os desafios de Houdini se tornavam cada vez mais ousados,
os outros clãs começaram a suspeitar. Depois de escapar de um carro-prisão com
destino à Sibéria, os Lucian perceberam que ele estava procurando uma de suas pistas.
Mandaram dois homens se disfarçarem de fãs e o desafiarem a provar uma de suas
afirmações: de que seria capaz de suportar qualquer golpe contra seu abdômen. De
acordo com a maioria dos relatos, um dos sujeitos o golpeou antes mesmo de que ele
pudesse se preparar, provocando sérios danos em seus órgãos. Houdini adoeceu após
o encontro e morreu logo depois.
Entretanto, os Janus sempre acreditaram que Houdini foi envenenado pelos Lucian. Em
2007, seu sobrinho-neto pediu que o corpo fosse exumado e reexaminado, mas
legisladores Lucian bloquearam a solicitação. Eles preferem que o serviço permaneça
um segredo.

114
Dossiê: Raoul Lufbery
Gervais Raoul Lufbery levantou a cortina da barraca e não ficou surpreso com o que
viu. Pode-se dizer muito sobre leões, mas não que gostem de levantar cedo. Whiskey
ainda dormia profundamente.
“Whiskey. Acorde”, disse numa voz calma. O filhote nem se mexeu. “Whiskey. Réveille-
toi”, repetiu em francês, um pouco mais alto. Whiskey respondeu abrindo um dos olhos,
piscando preguiçosamente, e fechando-o outra vez.
Era quase hora do almoço, e a lona da barraca não filtrava o barulho de fora: passadas
ritmadas de coturnos, ambulâncias trazendo os feridos e, distante, um tiroteio. Ainda
assim, Whiskey estava largado como um hóspede de um hotel quatro estrelas.
“Está bem”, disse Raoul, vestindo a jaqueta. “Parece que terei de ir sozinho nesta
missão.”
As orelhas de Whiskey se ergueram. Ele levantou a cabeça e inclinou-a para o lado.
“É isso mesmo”, continuou Raoul, aproximando-se para afagar a cabeça peluda do leão.
Whiskey fechou os olhos e jogou as orelhas para trás de modo que Raoul alcançasse a
coceira. “Temos trabalho a fazer. Allons-y.”
Whiskey se sentou e bocejou. Ele ergueu a imensa pata, lambeu-a algumas vezes, e
então passou-a no rosto. Lançou na direção de Raoul um olhar cheio de expectativa.
“Está lindo”, elogiou. Apanhou do baú os óculos, caminhou até a cama e os colocou na
cabeça de Whiskey. “Vamos.”
Whiskey saltou da cama e segui Raoul. Um soldado que passava por eles deu um grito
e pulou para o lado ao ver o leão. “Não sei se um dia vou me acostumar com ele,
Lufbery”, disse o soldado. “Por que você não arruma um cachorro?”
Raoul sorriu. “Porque disputar o cobertor com um leão faz combater os alemães parecer
brincadeira.”
Raoul caminhou animado em meio ao labirinto de barracas com Whiskey trotando logo
atrás. O acampamento estava muito agitado. Fumaça subia de cozinhas improvisadas,
oficiais bradavam ordens e soldados corriam em todas as direções.
“Salut, Whiskey!”, cumprimentou um tenente. “Ça va bien?”
“Opa, Whiskey”, saldou um piloto americano enquanto passava correndo. “Espero que
goste de filé à la kaiser, pois vou lhe servir uma porção do original em breve.”
“Mais oui, Pete”, disse Raoul. “Assim que você aprender a distinguir o nariz da cauda
de um avião.” Ele sorriu. “Avise-me se precisar de ajuda.”
Conforme ele e Whiskey se aproximavam da barraca do hospital, o sorriso se desfez.
Macas estavam dispostas ao longo do caminho. Alguns dos soldados estavam
acordados, tentando se manter animados com piadas. O estado de outros era muito
mais grave. Raoul desviou o olhar ao passar por um homem que gemia. O sangue
encharcava as ataduras que iam até o joelho. Havia soldados com gazes nos olhos. Gás
mostarda, pensou Raoul. O homem na última maca não apresentava ferimentos visíveis,
mas o rosto estava pálido e ele não se mexia. Um enfermeiro sentiu a pulsação. Ele
balançou a cabeça e cobriu o corpo com um lençol.

115
Raoul sentiu um aperto no estômago. Ele pensou que a guerra seria a maior aventura
e também a melhor maneira de procurar as pistas. Tinha razão em relação à segunda
parte. Mas a guerra não era uma aventura. Era apenas um fluxo contínuo de sofrimento
e desperdício trágico de jovens vidas.
É por isso que temos de ser os primeiros a encontrar as pistas. Não haveria guerras se
o mundo fosse controlado pelos Janus. As pessoas viveriam unidas pelo amor à arte,
com pinturas, músicas, livros ou com a beleza de uma acrobacia aérea executada com
perfeição.
Raoul caminhou até o campo onde sua unidade mantinha os aviões. Georges, um dos
mecânicos, estava inspecionando uma das hélices do avião de Raoul. “Bounjour, Raoul.
Bounjour, Whiskey”, cumprimentou Georges enquanto se aproximavam. “Pensei que
tinham tirado o dia de folga.”
“Vou apenas treinar algumas manobras”, respondeu num tom casual. “Não se preocupe.
Trarei o avião de volta inteirinho.”
“Você sempre o traz de volta intacto”, sorriu Georges.
Raoul entrou na cabine e deu partida no motor. Enquanto as hélices começavam a
girar, deu um alto assovio, e Whiskey saltou para o assento de trás. Alguns minutos
mais tarde, homem e leão cortavam os ares.

Logo se viram sobrevoando campos de um verde contínuo que ainda não possuíam as
cicatrizes das trincheiras que se estendiam pela maior parte do front ocidental. Ele olhou
para o painel de instrumentos e depois para o horizonte. Por um instante, Raoul sentiu
um incomum nervosismo. Uma coisa era voar em círculos em torno dos alemães. Ir até
o centro de Paris já era algo bem diferente. Mesmo que ninguém tentasse derrubá-lo,
seria difícil manter a missão em segredo. Ninguém acreditaria se o piloto mais festejado
da França dissesse que tinha se perdido.
“Está pronto, Whiskey?”, gritou ele, olhando por sobre o próprio ombro. Os olhos do
filhote estavam fechados e o vento batia em seu rosto, balançando sua juba.
As casas abaixo se tornavam cada vez mais numerosas, e, na distância, a paisagem
parisiense começava a se distinguir. Raoul conseguia identificar Notre Dame, o Arco do
Triunfo e um pouco além, interpondo-se à paisagem, a Torre Eiffel.
Os Janus sempre suspeitaram da verdadeira motivação de Gustave Eiffel. A liderança
acreditava que havia uma pista escondida no topo, e encontrá-la era a tarefa que cabia
a Raoul.
Ele começou a descer, diminuindo de altitude até distinguir o formato das charretes e
os toldos das lojas. Então virou e começou a circular a torre, ciente de que as pessoas
no parque abaixo apontavam em sua direção.
Raoul se aproximou numa espiral, chegando cada vez mais perto. Enquanto se
aproximava do cume, inclinou o avião quase perpendicularmente ao chão. “Agora!”
gritou o piloto. Whiskey se levantou, pôs as patas sob a fuselagem e saltou, aterrissando
em uma das vigas da torre.

116
Sob o rugido do motor e o uivo do vento, Raoul ouvia os gritos das pessoas na forma
de observação. Ele fez mais uma volta redor da torre. Quando retornou ao ponto inicial,
Whiskey estava equilibrado sob uma viga, segurando algo na boca. Enquanto Raoul
passava voando, Whiskey saltou para dentro do avião e os dois saíram pelos ares,
afastando-se da cidade tão rápido quanto tinham se aproximado.
“Bom menino, Whiskey!”, gritou Raoul. Depois de terem se afastado bastante, ele
apanhou aquilo que Whiskey trouxera. Seu coração pareceu afundar. Era apenas um
pedaço de papel, umedecido com a saliva do leão. Raoul o analisou e viu uma série de
letras escritas. Um código Lucian.

Ele suspirou, mas respirou fundo e olhou para trás. “Não tem problema, garoto. Um dia
vamos encontrá-la.” E sorriu. “Vamos nos animar dando um belo susto naqueles
alemães.” Ele estendeu a mão atrás de si e fez um afago no leão. “Soube que o Barão
Vermelho tem medo de gatos.”

Gervais Raoul Lufbery (1885-1918)


Lufbery tinha três qualidades que certamente fariam de qualquer Cahill um grande
caçador de pistas...
Era um cidadão tanto dos Estados Unidos como da França, o que lhe conferia acesso
a duas vezes mais esconderijos.
Era um ás em seu avião.
E tinha dois leões de estimação.
De pai americano e mãe francesa, Lufbery nasceu na França. O pai era químico,
trabalhava numa fábrica de chocolate de dia e caçava pistas à noite.
No início da Primeira Guerra Mundial, Lufbery se alistou no treinamento de pilotos e se
juntou à Força Aérea Francesa, Janus nato, transformou o voo numa arte, com seu
estilo ousado e acrobacias perigosas. Derrubou um número recorde de inimigos,
recebendo o título de “ás voador”.
Quando não estava ocupado voando em círculos em torno dos adversários, Lufbery
usava as habilidades de piloto para buscar pistas, afastando-se dos campos de batalha.
Os agentes de outros clãs sabiam que de nada adiantaria interferir nas missões dele.
Além de sua pontaria mortífera, seus animais de estimação eram dois filhotes de leão –
Whiskey e Soda – que com frequência o acompanhavam para protegê-lo. Tragicamente,
Lufbery foi morto antes do fim da guerra, mas continua a ser um dos mais celebrados
agentes da história Janus.

117
118
Agentes

Os demais Cahill tendem a subestimar os Janus, questionando se alguém pode mesmo


ser artista e caçador de pistas. Os Janus gostam de mostrar como os rivais estão
errados ao enviar agentes habilidosos como Maria Marapao, poeta e campeã de artes
marciais. Como muitos Janus, Maria é uma caçadora de pistas treinada, que desarma
uma bomba tão rápido quanto escreva um haicai. Os principais agentes do clã são:

Jonah Wizard
Cora Wizard
Broderick Wizard
Steven Spielberg
Justin Bieber
Sophie Watson
Lan Nguyen
Ophir Dhupam
Leslie D. Mill
Daniel Radcliffe

Cora Wizard

119
Cora Wizard é uma artista mundialmente famosa. Depois de se tornar a mais jovem
escritora a receber o Prêmio Nobel da Literatura, ela mudou o foco para a pintura.
Passou os últimos anos viajando, em exibições nas mais prestigiadas galerias do
mundo. Mas apenas aqueles que conhecem o segredo dos Cahill sabem o verdadeiro
motivo das viagens de Cora. Como líder do Janus, ela precisava visitar as bases e
supervisionar os esforços do clã. Às vezes, sua rota de viagem coincidia com a turnê de
seu filho. Nas apresentações, Jonah sempre observava a seção VIP da plateia à procura
de sua mãe, mas ela nunca comparecia. Agora, ele sabe que não adianta mais procurar
por Ela. Depois que Jonah compartilhou suas pistas na base secreta Madrigal, Cora
prometeu nunca mais falar com ele.

Sophie Watson
Sophie Watson é a filha dos dois agentes Janus mais graduados de Londres. Eles
concordaram em enviá-la para a mesma escola que Natalie Kabra para que a menina
pudesse espionar a rival Lucian. Natalie passa boa parte do tempo caçoando das roupas
criativas de Sophie e de suas apresentações de dança experimental, mas nem imagina
que ela aprendeu a invadir sua conta de e-mail e lê suas mensagens todos os dias.
Sophie não se importa que Natalie caçoe dela. A jovem Janus sempre ri por último
quando repassa à liderança do clã as informações secretas dos Kabra.

Lan Nguyen

120
Filha de dois Janus aposentados, que queriam criar a filha longe da loucura da caça às
pistas, Lan cresceu em Melbourne, Austrália. No entanto, quando descobriu a história
secreta da família, se comprometeu com a causa. Lan tinha ouvido falar de uma pista
escondida em alguma parte da Índia e viajou milhares de quilômetros para rastreá-la.
Quando Cora ficou sabendo dos feitos dela, convidou-a para um treinamento avançado
a base secreta de Hollywood. Atualmente, é considerada uma das jovens agentes mais
promissoras do clã.

Leslie D. Mill

Leslie D. Mill é diretor de Hollywood e agente Janus. Quando Cora descobriu que havia
uma pista perdida ligada a Nikola Tesla, ordenou a Leslie que começasse a produzir um
filme sobre o inventor. Assim, os Janus receberiam permissão para explorar locais
importantes como parte de sua “pesquisa de locações”. Contudo, o filme não foi
finalizado. As “diferenças artísticas” entre Cora e Leslie fizeram com que os dois
brigassem para definir cada detalhe, dos atores ao figurino. Como resultado, Cora
escolheu um diretor diferente para o próximo projeto: um filme sobre a vida de Josephine
Baker.

Ophir Dhupam
Ophir é um grande astro da indústria cinematográfica indiana. No entanto, não se
satisfaz com o amor de milhões de fãs – quer também provar seu valor para os colegas
Janus, encontrando mais pistas que qualquer outro agente. Ele chegou até a fazer
preparativos para produzir um filme sobre a vida de Shah Jahan e assim obter livre

121
acesso ao Taj Mahal. Mas os esforços de Ophir não surtiram o resultado esperado.
Descobriu-se que a pista estava em outro monumento: o Forte Vermelho, em Délhi.

Broderick Wizard

Broderick não nasceu membro do clã. Ele só conheceu os Cahill após se casar com
Cora. Mesmo depois de dezessete anos de casados, há segredos que ela se recusa a
compartilhar com o marido, pois ele não possui o nível exigido de autorização de acesso.
Porém, como empresário de Jonah, Broderick tinha trabalho o bastante para mantê-lo
ocupado e distante da caça. Cora não se interessou pela carreira meteórica de seu
célebre filho, por isso deixou que Broderick cuidasse do assunto. As viagens em turnê
com Jonah eram o único momento em que Broderick tinha a oportunidade de tomar
decisões sozinho – algo raro para alguém que não é membro do clã e vive ao lado de
uma das mulheres mais poderosas do planeta. Mas tudo mudou após a caça. Cora
deserdou Jonah e, depois de anos na sombra da mulher, Broderick decidiu tomar uma
posição: preferiu ficar ao lado do filho, opondo-se à esposa.

122
Últimas notícias: agente Jonah Wizard

“Meu nome é Jonah Wizard. Bem-vindos ao meu pedaço.” Jonah tentou sorrir para a
câmera, mas, depois de oito tomadas, suas bochechas já estavam começando a doer.
“Esta foi melhor”, disse Lisa, a produtora do programa MTV Cribs. “Mas será que não
dá pra se livrar do gesso na próxima tomada? Sabe como é, ele não é muito “‘gangsta’.”
Jonah olhou para o gesso que cobria sua perna do tornozelo até a coxa. Depois de sair
da base secreta Madrigal, ele voara direto para Londres, onde se submeteu a uma
cirurgia de oito horas para reconstruir a perna esmagada.
“Não, na verdade não”, respondeu. “A não ser que vocês prefiram voltar daqui a três
meses.”
“Bem...”, Lisa franziu o cenho. “Será que você pode ao menos contar aos espectadores
como foi que se machucou?” Os olhos ela se arregalaram. “Já sei. Você estava
cantando em cima de um elefante quando uma multidão de fãs histerias chegou e o
bicho saiu correndo assustado.” Ela fez uma pausa. “E foi um raríssimo elefante albino,
por sinal.” Ela se voltou para o assistente que usava fones de ouvido. “Veja se
conseguimos fazer uma montagem de imagens.”
“Espera aí”, atalhou Jonah. “Não curto esse negócio de mentir para os fãs.”
Lisa o encarou por um momento. “Ceeerto. Então, diga, o que foi que realmente
ocorreu?”
Jonah imaginou o que aconteceria se contasse a verdade. Sou um membro da família
mais poderosa da História e participei de uma caça a 39 pistas que... Claro. Daria
supercerto.

123
“É uma história chata”, disse Jonah. “Mas”, prosseguiu depois que Lisa fez uma careta,
“eu sou o primeiro artista a receber um Prêmio do Público Infantil numa UTI.”
Lisa fez um gesto afirmativo, “Isso é gangsta. Então, vamos rodar.”
Três horas mais tarde, Jonah estava começando a se arrepender de ter comprado uma
casa tão grande. Estava ficando tarde, e ele ainda não tinha mostrado à equipe de
filmagem o estúdio de gravação nem a pista de kart. Ele olhou para o celular. Quatro
chamadas perdidas. Enquanto olhava o identificador de chamadas, sentiu um aperto na
barriga. Eram todas de Boston. Teria de esperar até que a equipe da MTV fosse embora
para descobrir o que aconteceu.
Eles estavam na biblioteca, uma sala ultramoderna que ocupava metade do terceiro
andar. Foi aquele cômodo que o levara a comprar a mansão. Ele também gostava do
imenso jardim, que tinha espaço suficiente para o lago de crocodilos que instalou. Os
paparazzi pensariam duas vezes antes de invadir sua propriedade.
Lisa estava percorrendo freneticamente o cômodo, apontando ao cinegrafista. “Isto
é demais”, gritou ela da varanda. “Então você mora aqui sozinho com seus pais?”
Uma série de imagens passou pela cabeça de Jonah. A nova cama king-size de
Broderick com um único travesseiro. O banheiro quase vazio, sem nenhuma joia nem
maquiagem. Uma mesa de jantar que não estava coberta com os rascunhos da mãe.
Ele inspirou. Quem poderia imaginar que um dia sentiria saudade o cheiro de tinta?
Jonah lançou na direção de Lisa um sorriso falso. “Pois é, somos só nós três.” Ele se
afastou antes que ela reparasse que seus olhos não sorriam.

Logo antes de iniciarem a filmagem, o celular de Jonah tocou outra vez. Ele ficou tenso.
Lisa correu até Jonah. “Acho que está tudo pronto para começarmos. Tudo certo,
Chloe?”, gritou ela para a apresentadora do MTV Cribs.
Jonah suspirou. Chloe não largou do pé dele desde que ficou sabendo de sua versão
hip-hop de Romeu e Julieta. Ela achava a TV um desperdício do seu “talento” e estava
ansiosa para fazer a estreia no cinema.
“Pronta!”, gritou Chloe enquanto avançava equilibrando-se no salto agulha.
“Muito bem”, disse Lisa. “Podem rodar.”
“E então Jonah”, começou Chloe enquanto avançava na direção da estante. “Conte-nos
sobre a biblioteca. Você lê bastante?”
Jonah fez uma pausa. Ele se lembrou da conversa que teve com a senhora
Pluderbottom na Inglaterra, quando tentou esconder seu amor por Shakespeare. Aquilo
parecia uma vida passada. Ele se voltou para Chloe. “Pois é, eu leio o tempo todo.”
Os grandes olhos dela se arregalaram mais. “É mesmo? Que interessante. Por isso
você tem tantos livros.” Ela se virou para a estante e começou a passar os dedos pelas
lombadas. “Uuaaaauu, este aqui é bonito”, disse, parando num volume encadernado
em tecido roxo, gravado com letras douradas. “Trabalhos de amor vencidos.”
“Não toque nisso!”, gritou Jonah, mancando até ela.

124
“Por que não?”, Chloe franziu o cenho. “Foi presente de alguma garota? Você tem
namorada? Por acaso ela é atriz?”, perguntou. A voz da moça ficava cada vez mais
estridente.
“Não”, respondeu Jonah, tirando o livro dela. “Mas é que ele é... muito antigo.”
Séria, Chloe concordou: “Entendi. Tenho em casa um exemplar quase intacto de uma
revista de moda de 1976.”
Jonah lançou para ela seu famoso sorriso. “Parece da hora, hein? Vamos lá, vou mostrar
o spa.”

Depois que a equipe finalmente terminou de guardar o equipamento, Jonah voltou à


biblioteca. Quando chegou à estante, estava sem fôlego.
Da próxima vez vou trocar o armário de tênis por um elevador.
Ele olhou ao redor, apesar de saber que estava sozinho em casa. Broderick tinha uma
reunião com o advogado de Jonah. E Cora estava... bem, não sabia ao certo onde a
mãe estava. Ele não a via desde que voltara aos Estados Unidos.
Ele tocou na parte superior do livro roxo, Trabalhos de amor vencidos, e puxou-o da
estante. Ouviu-se um clique e a estante se afastou, revelando uma porta metálica. Ele
digitou um código no teclado e a porta se abriu.
Jonah desceu cuidadosamente as escadas. Se caísse, ninguém o encontraria. Quando
chegou embaixo, apertou um botão na parede e ouviu a porta metálica se fechar. E,
alguns instantes depois, o barulho abafado indicando que o livro voltava ao lugar.
Jonah acendeu as luzes e olhou ao redor. O isolamento acústico da sala era perfeito.
Ninguém jamais poderia ouvi-lo ensaiar novas músicas nem – seus olhos passaram pelo
imenso monitor na parede – bisbilhotar quando estivesse participando de uma conversa
confidencial. Ele mancou até a tela e pressionou a mão. A imagem brilhou, mostrando
as palavras “quatro chamadas de vídeo não atendidas”. Logo abaixo, apareceram os
seguintes registros:

15: 24 Amy Cahill


16: 07 Dan Cahill
17: 12 William McIntyre
17: 23 Dan Cahill

Ele apertou o ícone indicando um balão de diálogo ao lado do nome de Amy para que
fosse reproduzida sua mensagem de voz. “Jonah”, gritou a voz de Amy. Havia muita
estática no fundo. “Sou eu. Estou com Dan na Suíça. Fomos ao banco de Grace e...”
Havia um som abafado. Jonah não era capaz de distinguir se era apenas estática ou
choro. “Eles nos encontraram.”
Ela estava sem fôlego. “Os Vesper estão vindo.”

125
Truques e ferramentas

Os Janus sabem misturar prazer e negócios como ninguém. A maioria as estratégias


envolve arte e criatividade. Seja ocultando códigos em partituras musicais, seja rodando
um filme em localizações importantes, as mais furtivas missões dos Janus são sempre
cumpridas com estilo. Seus truques e ferramentas incluem:

Códigos Musicais
Imitações
Camuflagem
Códigos em livros
Disfarces
Furgões de vigilância
Filmes inspirados nas pistas
Ocultação de mensagens em obras de arte

126
Imitações
Com talento para atuação e criação de figurinos, os Janus há muito usam imitações
como tática. No final do século XIX, descobriram que uma pista Tomas tinha sido levada
à França. Houve rumores de que estava em um diamante que se tornaria parte das joias
da Coroa. Numa tentativa de interceptar a pedra, o clã enviou uma atriz interpretando
Maria Antonieta para se encontrar com os ourives. Apesar de ter fracassado, o plano
mostrou como os imitadores habilidosos poderiam ser úteis.
Quando Cora Wizard precisou desesperadamente de um documento escondido na base
secreta Lucian em Paris, a artista bolou um plano brilhante. Descobriu uma atriz Janus
capaz de se fazer passar por Isabel Kabra. Depois de uma preparação, a atriz aprendeu
cada detalhe da voz e dos maneirismos de Isabel, de seu sotaque esnobe à
aterrorizante sobrancelha erguida que costumava anteceder ordens de execução. A
missão da atriz foi um sucesso. O único lado negativo foi a inclusão de Cora na extensa
lista de futuras vítimas de Isabel.

Ocultação de mensagens em obras de arte


Durante séculos, os Janus usaram livros, quadros, esculturas e edifícios para ocultar
pistas e dicas. Como no romance Frankenstein, de Mary Shelley. Para o olhar leigo, as
obras-primas parecem apenas arte, mas muitas contêm informações cruciais. A maior
parte dos quadros de Cora traz mensagens aos agentes de alto escalão, desde o local
da próxima reunião até a identidade de quem está no topo da lista de “mais procurados”.
No momento, o posto é ocupado por Isabel Kabra, pelo que fez a Jonah. É verdade que
ela não tem falado com o filho, mas ninguém tem o direito a mexer com um Wizard a
não ser a própria Cora.

Pombos espiões

A criatividade dos Janus permite que inventem ferramentas malucas, mas eficazes. Há
séculos pombos são usados para enviar mensagens. Na Primeira Guerra Mundial, um
corajoso pombo correio, Cher Ami, chegou a ser condecorado com uma medalha depois
de ter entregado uma mensagem que salvou quase duzentos soldados. Entretanto os
Janus foram os primeiros a equipar pombos com câmeras para que espionassem.

127
Quando os demais clãs descobriram que poderia haver uma pista no Castelo de
Neuschwanstein, os Janus enviaram toda uma frota de pombos para monitorar os
movimentos dos inimigos.

Filmes inspirados nas pistas

Os Cahill gastam bilhões de dólares por ano espionando uns aos outros, e isto faz com
que os clãs tenham dificuldade em proteger seus segredos. Entretanto, os Janus têm
uma estratégia para garantir que ninguém tome conhecimento das missões. Sempre
que decidem investigar um local onde suspeitem que haja uma pista, simplesmente
fazem preparativos para rodar um filme lá. É por isso que os outros clãs monitoram
todos os filmes produzidos por Hollywood, embora tenham dificuldade em distinguir
projetos reais de fachadas. O ator Ophir Dhupam tinha quase terminado de filmar sua
produção sobre Shah Jahan quando os outros clãs descobriram o verdadeiro motivo de
seu interesse pelo Taj Mahal.

128
Bases

Uma base precisa ser ultrassegura e secreta, mas não precisa ser feia. Essa é a filosofia
Janus. Eles estabeleceram bases nas cidades e edifícios mais belos. Porém, sua paixão
pela arte não os torna menos espertos que seus rivais. A Igreja de Santa Sofia pode ter
impressionantes mosaicos, mas também se mostrou um esconderijo ideal. No decorrer
dos últimos três séculos, ninguém foi capaz de encontrar a pista dentro da antiga igreja.
As bases Janus incluem:

Montreal, Canadá
Taj Mahal, Índia
Budapeste, Hungria
Hollywood, Estados Unidos
Catedral da Sagrada Família, Espanha
Igreja de Santa Sofia, Turquia
Castelo de Neuschwanstein, Alemanha
Roanoke, Estados Unidos
Viena, Áustria
Forte Vermelho, Índia
Roma, Itália
Veneza, Itália
Lisboa, Portugal

129
Veneza
Uma das principais bases Janus fica em Veneza, Itália. Trata-se de um vasto complexo
subterrâneo secreto que contêm ateliês de artistas, galerias e salas de reunião, além de
espaço para o armazenamento de incontáveis obras primas de valor incalculável.
Agentes do alto escalão podem admirar quadros secretos de Van Gogh ou ler o romance
que Jane Austen escreveu exclusivamente para os colegas Janus. O avançado sistema
de segurança da base torna o local ideal para esconder pistas e indícios confidenciais,
como as páginas desaparecidas do diário de Nannerl Mozart.

Hollywood
Os Janus têm sido de grande importância em Hollywood desde o nascimento da
indústria cinematográfica na década de 1910, conquistando fama como atores,
roteiristas, diretores, figurinistas, etc. a maior parte dos principais nomes da indústria de
entretenimento é composta por membros do clã, como Marlon Brando, Marilyn Monroe,
Charlie Chaplin, Steven Spielberg e Daniel Radcliffe. Como muitos moram e trabalham
na região de Los Angeles, eles construíram sua principal base secreta sob o famoso
letreiro das colinas de Hollywood. A entrada fica dentro de uma das letras O. Para obter
o acesso, os agentes se posicionam diante do leitor de retina oculto. Então, para se
certificarem de que o visitante não é um impostor ladrão de globos oculares, é preciso
responder a uma pergunta sobre a história Janus, como o nome da continuação inédita
de Frankenstein. Se o agente responder corretamente, um dos painéis que forma o O
se abre, revelando um elevador secreto.

Taj Mahal

O arquiteto Janus Lahauri projetou o Taj Mahal, um dos edifícios mais famosos do
mundo, a pedido do imperador Shah Jahan em honra à sua falecida esposa. Durante
séculos, houve rumores de que Lahauri teria escondido uma pista dentro do Taj Mahal,
mas os principais agentes Cahill descobriram que a pista estava em outro monumento
de Lahauri, o Forte Vermelho, em Délhi.

Castelo de Neuschwanstein

130
Um dos muitos palácios de contos de fadas do reio Luís II da Baviera, o Castelo de
Neuschwanstein tinha quartos luxuosos, salas de concerto, salões de jantar e até uma
lagoa interna com queda d’água artificial. Os familiarizados com a história dos Cahill
sempre suspeitaram que Luís tivesse escondido uma pista num dos palácios, mas,
mesmo depois de sua morte, nenhum clã descobriu o esconderijo ultrassecreto. A pista
permaneceu a salvo no lago interno de Neuschwanstein por séculos.

Igreja de Santa Sofia

Durante o auge do poder Janus na Turquia, o clã decidiu esconder uma pista na Igreja
de Santa Sofia, igreja transformada em mesquita antes de se tornar um museu. O
edifício era perfeito. A riquíssima decoração satisfazia a necessidade de se cercar da
beleza e facilitava a tarefa de ocultar uma dica minúscula: o símbolo do chumbo na
alquimia.

131
132

Você também pode gostar