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TEXTO 1: FUNDAMENTOS, PRINCÍPIOS DA GESTÃO

DEMOCRÁTICA.

Falar sobre política e gestão da educação envolve assuntos complexos


porque uma gestão democrática exige do educador relacionar os assuntos
administrativos e financeiros, pedagógicos, além de todos os outros que estão presentes
no ambiente da escola e além dela. O gestor escolar deve atuar e agir coletivamente
considerando todos os seguimentos escolares, professores, alunos, equipe técnica
administrativa e pedagógica e a comunidade onde se insere a escola. Além da escola o
gestor trabalha, implementa e articula as políticas educacionais definidas em instâncias
do sistema educacional (Ministério da Educação, Secretarias Estaduais e Municipais de
Educação).
Importa, para uma maior clareza do assunto, que o educador estude o conceito
etimológico da palavra gestão, os fundamentos de gestão democrática para colocar em
ação a sua prática social voltada para uma escola transformadora e construtora do
conhecimento com base no trabalho coletivo.
Resgatamos a origem da palavra “gestão” a partir da sua origem latina que se
deriva do verbo gestar. Como afirma CURY:
“Gestão provém do verbo latino gero, gessi,
gestum, gerere e significa: levar sobre si,
carregar, chamar a si, executar, exercer, gerar.
Trata-se de algo que implica o sujeito. Isto
pode ser visto em um dos substantivos
derivados deste verbo. Trata-se de gestatio, ou
seja, gestação, isto é, o ato pelo qual se traz
em si e dentro de si algo novo, diferente: um
novo ente. Ora, o termo gestão tem sua raiz
etimológica em ger que significa fazer brotar,
germinar, fazer nascer. Da raiz provêm os
termos genitora, genitor, gérmen”. (2001,
apud, “Escola de Gestores”, MEC, 2008).
Compreender a origem da palavra gestão é de muita importância em razão das
implicações decorrentes das várias concepções que direcionam as políticas educacionais
e a gestão da educação escolar. A gestão pode ser exercida de forma não democrática.
As políticas educacionais podem ser definidas para atender interesses de grupos ou de
poucos. Numa outra direção, a gestão pode revelar um compromisso com todas as
pessoas. Então, podemos afirmar que a gestão pode significar conservação e
manutenção de estruturas autoritárias e, contraditoriamente, pode significar e apontar as
possibilidades de mudanças e até de rupturas com o autoritarismo, com as ações
direcionadas para grupos privilegiados.
O conceito de gestão na perspectiva democrática supõe a ação de participação, de
trabalho coletivo onde as pessoas analisam os problemas e resolvem em conjunto para
equacioná-los. O trabalho conjunto, associado aos interesses de todos promove a
participação, a construção coletiva do conhecimento e a construção de experiências
educativas que revelam a vontade coletiva e o envolvimento de todos no processo
decisório da escola. A experiência de todas as pessoas, o conhecimento compartilhado
em razão da solução dos problemas e da consecução dos objetivos comuns são
elementos fundamentais numa gestão democrática.
Os estudos sobre gestão apontam que desde o final a década de 70 os pesquisadores
e estudiosos sobre gestão percebem o impacto da gestão participativa na eficácia das
escolas como organizações. (Paro, 1998).
Existem três tendências globais que justificam o acolhimento da concepção da
gestão democrática: a gestão participativa, o novo papel que deve ser exercido pelo
gestor escolar e a busca pela autonomia escolar. São tendências que se completam. A
gestão participativa exige que o gestor escolar exercite permanentemente o diálogo, o
trabalho coletivo, o acolhimento de todos ao compartilhar os desafios e os problemas
que dificultam a escola cumprir o seu papel social e político. O gestor escolar deve
exercer o novo papel com disposição para o diálogo. A autonomia escolar deve ser
entendida como conquista da comunidade, ou seja, autonomia para decidir os objetivos
da escola, o seu projeto político-pedagógico e o processo de decisão e de avaliação.
Segundo Paro:
“Embora no senso comum de uma sociedade
autoritária a gestão (ou a administração, que será aqui
tomada como sinônimo) apareça ligada a relações de
mando e submissão, não é isso que lhe dá a
especificidade e a razão de ser, mas sim seu caráter de
mediação para concretização de fins. Ao administrar,
ou ao gerir, utilizam-se recursos da forma mais
adequada possível para a realização de objetivos
determinados”. (2001, p.49).
Continua o mesmo autor:
“Mas os fins e a forma de atingi-los não são
independentes entre si, senão que, em certa medida,
condicionam-se mutuamente. Assim, dado
determinado fim, é preciso selecionar os meios, bem
como forma de utilizá-los, para atingir precisamente o
que se deseja. De igual modo, meios inadequados
podem desvirtuar os fins ou comprometer o seu
alcance” (2001, p 49).
Em decorrência desta posição que é orientada pelos fins e meios para atingi-los a
gestão escolar deve está comprometida com a democracia, com a ética, com a liberdade,
com uma educação de qualidade social.
Em síntese, a gestão da educação deve ser pautada na defesa da escola de
qualidade que considere a educação como um processo complexo, inconcluso,
dinâmico, social e que incorpora a cultura como uma criação da pessoa humana.
É ainda Paro quem afirma:
“[...] Como processo de atualização histórico-
cultural, a educação envolve dimensões individuais e
sociais, devendo visar tanto ao viver pessoal quanto
à convivência social, no desfrute dos bens culturais
como herança histórica que se renova
continuamente”. (2001, p.45).
Portanto, nesta perspectiva compartilhamos com o autor a concepção de uma
gestão da educação democrática e de políticas educacionais que signifiquem a
afirmação radical da função da escolar de formar as pessoas para a democracia.

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