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TOPOGRAFIA

APLICADA

Rafael Savietto
Nivelamento topográfico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir o conceito de topografia aplicada.


„„ Identificar os métodos de nivelamento topográfico e as fórmulas de
cálculo.
„„ Usar a aplicação da topografia aplicada e a função do nivelamento
topográfico para o processo da gestão de obras.

Introdução
O levantamento topográfico altimétrico, denominado nivelamento, é um
conjunto de operações para captação de pontos e feições em um terreno
ou equipamentos em uma indústria, sobre o plano horizontal em relação a
uma referência vertical arbitrária (cota) ou nível médio do mar (altitude).
Assim, determina os desníveis (DN) entre os pontos levantados e também
o transporte das cotas ou altitudes de uma referência de nível (RN). O
produto final (desenho topográfico) é a representação tridimensional
(X, Y e Z).
Neste capítulo, você vai estudar o conceito, os métodos e as aplicações
dos nivelamentos topográficos.

Topografia aplicada
Etimologicamente, a palavra topos, em grego, significa “lugar”, e graphen
significa “descrição”. Isso compõe a representação detalhada da superfície de
um lugar, porção limitada da superfície terrestre, desconsiderando a curvatura
resultante da esfericidade da Terra.
O objetivo da topografia é efetuar o levantamento de campo (medir ângu-
los, distâncias e desníveis) para representar uma porção da superfície terrestre
em uma planta, carta ou mapa com uma escala adequada. Denominamos isso
de levantamento topográfico.

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A topografia é aplicada na base de qualquer projeto e de qualquer obra


realizada por engenheiros ou arquitetos. Fornece, por exemplo, os métodos e
instrumentos que permitem o conhecimento do terreno e asseguram a correta
implantação da obra ou do serviço. Confira o que é possível com o levanta-
mento topográfico:

„„ Implantação e monitoramento de usinas hidrelétricas e barragens.


„„ Implantação e restauração de rodovias, ferrovias, aeroportos, hidrovias,
telecomunicações, túneis e portos.
„„ Implantação de edifícios e núcleos habitacionais.
„„ Controle de recalque (deslocamento vertical de grandes estruturas).
„„ Controle volumétrico (movimentação de solo e minérios).
„„ Locação altimétrica de platôs (terraplenagem).

O levantamento topográfico altimétrico, denominado nivelamento, é


um conjunto de operações para captação de pontos e feições em um terreno
ou equipamentos em uma indústria, sobre o plano horizontal em relação a
uma referência vertical arbitrária (cota) ou nível médio do mar (altitude). Ele
determina os desníveis (DN) entre os pontos levantados e também o trans-
porte das cotas ou altitudes de uma referência de nível (RN). O produto final
(desenho topográfico) é a representação tridimensional (X, Y e Z).
A altitude é um ponto da superfície terrestre definida como a distância
vertical deste ponto à superfície média dos mares (nível verdadeiro). A cota é
um ponto da superfície terrestre definida como a distância vertical deste ponto a
uma superfície referenciada, arbitrariamente “fictícia”. Essa superfície referen-
ciada pode estar abaixo ou acima da superfície do nível médio dos mares (nível
arbitrário). Observe a Figura 1 para entender como é realizado o nivelamento.

Figura 1. Nivelamento topográfico.

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Métodos de nivelamento topográfico


Os métodos de nivelamento topográfico são o nivelamento taqueométrico, o
trigonométrico e geométrico. Continue a leitura para conhecer cada um dos
métodos de nivelamento!

Nivelamento taqueométrico
A taqueometria, do grego takhys (rápido), e metren (medição), permite ope-
rações que constituem um processo rápido e econômico (pouco preciso) para
obter indiretamente a distância horizontal e a diferença de nível.
O instrumento utilizado é o teodolito mecânico ou eletrônico. Ele é
provido de fios estadimétricos que auxiliam nas as leituras na mira, além de
fazer a medição de ângulos verticais e horizontais.

Equipamentos utilizados

Observe na Figura 2 os equipamentos utilizados no nivelamento taqueométrico.

a b c

d e

Figura 2. Os equipamentos utilizados no nivelamento taqueométrico:


a) teodolito eletrônico; b) teodolito mecânico; c) tripé; d) mira graduada
topográfica; e) nível de cantoneira.

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No levantamento são efetuadas as leituras dos fios estadimétricos (supe-


rior, médio e inferior). A Figura 3 mostra a operação em campo e as leituras
efetuadas para o cálculo da distância horizontal e a diferença de nível.

Figura 3. Operação e leituras em campo.

A Figura 4 mostra como funciona a leitura dos fios estadimétricos na mira


graduada. A Figura 5, por sua vez, ilustra a simbologia usada na identificação
na mira graduada.

Figura 4. Fios estadimétricos e mira graduada.


Fonte: Monitoria Ativa (c2017?).

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Superior: 3095 m
Médio: 3067 m
Inferior: 3040 m

Figura 5. Simbologia para identificar na mira graduada


(metro).

Fórmulas

DHa-b = 100 × g × cos2 α


DNa-b = 50 × g × sen (2 × α) - FM + Hi

Em que:

FS = fio estadimétrico superior


FM = fio estadimétrico médio
FI = fio estadimétrico inferior
DH = distância horizontal
g = intervalo de leituras na mira (FS – FI)
α = (90° - ângulo vertical zenital)

Observe que α pode ser positivo ou negativo.

DN = diferença de nível
FM = leitura no fio médio da mira
Hi = altura do aparelho

Nivelamento trigonométrico
Para realizar o nivelamento trigonométrico, são utilizadas operações de
medidas de distâncias horizontais ou inclinadas e ângulos de inclinação entre
pontos para determinar a cota ou altitude através de relações trigonométricas.

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Portanto, os valores obtidos podem estar relacionados ao nível verdadeiro ou


nível arbitrário , dependendo da finalidade do levantamento.
O nivelamento trigonométrico divide-se em pequeno alcance (com visadas
de até 250 m) e grande alcance (com visadas acima de 250 m). Para visadas
de grande alcance, considere a influência da curvatura da Terra e da refração
atmosférica sobre as medidas coletadas em campo.

Equipamentos utilizados

Clinômetro analógico ou digital

O clinômetro é um dispositivo capaz de informar a inclinação (α) entre


pontos de um terreno de até 150 m. É indicado, também, para a medição de
ângulos de até aproximadamente 30°. O clinômetro (Figura 6) é constituído
por luneta, arco vertical e bolha tubular, e pode ser utilizado sobre um tripé.
O limite de precisão na medição de ângulos é de 40”; na das distâncias, até
1 cm em 50 m (1:5000).

Figura 6. Clinômetro analógico e clinômetro digital.


Fonte: Adaptada de Misura (2017).

Clisímetro

O clisímetro é capaz de ler, em escala ampliada, declividades de até 40%,


equivalentes a ângulos de até 22° e lances inferiores a 150 m. No aspecto, é
similar ao clinômetro. Sua precisão de leitura pode chegar a 1/10%, ou seja,
4’ de arco. A Figura 7 mostra a você como é o clisímetro.

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Figura 7. Clisímetro.
Fonte: Interastro (c2017).

Teodolito: mecânico e eletrônico/estação total

O teodolito é capaz de ler ângulos com precisão de 1’ (teodolito mecânico)


e até 0,5” (teodolito eletrônico ou estação total). Os teodolitos mecânicos
são indicados para lances de até 250 m; já o eletrônico ou a estação total são
indicados para lances superiores a 250 m (Figura 8).

a b c

Figura 8. Teodolitos: a) mecânico; b) eletrônico; c) estação total.

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Confira na Figura 9 outros acessórios que também são utilizados para o


auxílio na medição do nivelamento topográfico.

a b c d

f g

Figura 9. Equipamentos utilizados no nivelamento trigonométrico: a) nível de cantoneira;


b) tripé; c) baliza; d) bastão telescópico; e) prisma com alvo e suporte; f) miniprisma; g) trena.

A Figura 10 mostra como a operação em campo e as leituras são efetuadas


para realizar o cálculo da diferença de nível.

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Figura 10. Operação e leituras em campo.

Fórmulas

Se for medida distância horizontal (DH):


DNa-b = DH × Cotg Z + Hi - Hs
Se for medida distância inclinada (DI):
DN a-b = Di × Cos Z + Hi - Hs

Em que:

Hs = altura do prisma ou baliza


DH = distância horizontal
Di = distância inclinada
DN = diferença de nível
Hi = altura do aparelho
Z = ângulo vertical zenital
α = (90° - ângulo vertical zenital)

Observe que α pode ser positivo ou negativo.

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Nivelamento geométrico
O nivelamento geométrico é o método mais preciso e diferencia-se dos demais,
pois está baseado somente na leitura de réguas ou em miras graduadas, não
envolvendo ângulos.
O aparelho utilizado deve estar estacionado a meia distância entre os pontos
(ré e vante), dentro ou fora do alinhamento que será medido. Assim como para os
métodos anteriores, as medidas de DN ou DV podem estar relacionadas ao nível
verdadeiro ou ao nível arbitrário, conforme a finalidade do levantamento.

Tipos de nivelamento geométrico

Nivelamento simples

Neste método, conforme mostra a Figura 11, o equipamento é instalado em


um ponto estratégico, situado ou não sobre a linha a nivelar e equidistante aos
pontos de nivelamento, fazendo a medição de nível apenas uma vez.

Figura 11. Demonstração de nivelamento geométrico simples.


Fonte: Adaptada de Lima (2010).

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Após proceder a leitura dos fios estadimétricos (FS, FM e FI) nos pontos
de ré e vante, o desnível pode ser determinado pela relação:

Se DN (+), então o terreno está em aclive (de ré para vante).


Se DN (-), então o terreno está em declive (de ré para a vante).

Esse tipo de nivelamento pode ser longitudinal, transversal ou radiante e


é aplicado a terrenos relativamente planos.

DN = FMRE - FMVANTE

Nivelamento composto

Neste método, conforme a Figura 12, é exigido que o equipamento seja instalado
mais de uma vez, pois o desnível do terreno entre os pontos a nivelar é superior
ao comprimento da régua. Instala-se o nível equidistante aos pontos de ré e
intermediário (primeiro de uma série de pontos necessários ao levantamento
dos extremos), evitando-se ao máximo os lances muito curtos.
Procede-se a leitura dos fios estadimétricos (FS, FM e FI) nos pontos
em questão; assim, o desnível entre os dois primeiros pontos será dado pela
seguinte relação:

DNponto = FMRE - FMIntermediária

Figura 12. Demonstração de nivelamento geométrico composto.


Fonte: Adaptada de Lima (2010).

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Se DN (+), então o terreno está em aclive.


Se DN (-), então o terreno está em declive.

Assim, o desnível total entre os pontos extremos será dado pelo somatório
dos desníveis parciais.

DN = ΣDNponto

Equipamentos utilizados

Nível ótico

O equipamento apresenta luneta telescópica com um ou dois níveis de bolha,


sendo instalado sobre um tripé e duas miras ou réguas graduadas, preferen-
cialmente de metal invar (Figura 13). A característica principal do nível ótico
é ter movimento de giro somente em torno de seu eixo principal (horizonte).

Figura 13. Nível ótico.


Fonte: Adaptada de Instop (c1998-2017).

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Nível digital

É um nível para medição eletrônica e registro automático de distâncias hori-


zontais e verticais (Figura 14). Seu funcionamento está baseado no processo
digital de leitura, ou seja, em um sistema eletrônico de leitura da régua
(mira) graduada, cujas divisões estão impressas em código de barras (escala
binária). Esse tipo de régua é bastante precisa quanto à divisão da graduação.

Figura 14. Nível digital.


Fonte: Adaptada de AGF Topografia (c2011).

Nível a laser

É um nível automático cujo funcionamento está baseado na tecnologia do


infravermelho (Figura 15). Assim como o nível digital, é utilizado na obtenção
de distâncias verticais ou diferenças de nível. O nível a laser não mede ângulos.
É um aparelho peculiar, pois não apresenta luneta nem visor LCD; a leitura
da altura da régua (FM), utilizada no cálculo das distâncias por estadimetria,
é efetuada diretamente sobre a mesma, com o auxílio do detector laser, pela
pessoa encarregada de segurá-la. Os detectores são dotados de visores LCD
que se iluminam automaticamente e soam um sinal sonoro ao detectar o raio
laser emitido pelo nível.

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Figura 15. Nível a laser.


Fonte: SITECH (c2017).

LIMA, N. S. A. D. Nivelamento. [S.l.: s.n.], 2010. Disponível em: < http://www.ebah.com.


br/content/ABAAABfCcAL/nivelamentos-nilbert-daniel>. Acesso em: 23 fev. 2017.
MISURA. Inclinómetro Digital Smart Tool. México: [s.n], 2017. Disponível em: < http://
topografiaguadalajara.com/producto/inclinometro-digital-smart-tool/> Acesso em:
23 fev. 2017.
MONITORIA ATIVA. Topografia. [S.l.: s.n, c2017?]. Disponível em: < https://sites.google.
com/site/monitoriaativa/home/topografia>. Acesso em: 23 fev. 2017.

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