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P A R A V I V E R M O S
C O M O F J L N O S
ISBN 972-751-591-6
(Edição original 88-315-2274-4)
Ao Padre Lino.
i
Apresentação
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o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados» - IJo
4, 10), fiel («Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode
negar-se a si mesmo» - 2Tm 2, 13; cf. Os 2, 21ss); um amor que,
diante do meu pecado, se transforma em misericórdia («O meu
coração dá voltas dentro de mim [...]. Não desafogarei o furor da
minha cólera» - Os 11, 8.9).
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Senhor nosso Deus, Pai da luz, enviaste ao mundo a tua
Palavra através da lei, dos profetas e dos salmos e, nos últi-
m o s tempos, quiseste que o teu próprio Filho, Palavra
eterna j u n t o de ti, nos desse a c o n h e c e r a tua Pessoa, Tu
que és o único Deus verdadeiro. Envia-me o teu Espírito
Santo, para que me dê um coração capaz de escutar, retire
o véu que tapa os meus olhos e me conduza a toda a ver-
dade. To peço por Cristo, o nosso Senhor, bendito pelos sé-
culos dos séculos. Amen 1 .
Ou:
1 Cf. U/i rnggio delia tua Ince. Prcghierc alio Spirito santo, direcção de E. Bian-
chi, Q i q a j o n , M a g n a n o (Vercelli) 1998, p. 148.
1 Ibidem, p. 147.
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QUARTA-FElliA DE ClNZAS
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Leiamos o texto
Meditemos a Palavra
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homens, mas para o Pai. Não devo praticar o bem para que
os h o m e n s me apreciem, me admirem. D e v o aprender a
fazer o bem olhando unicamente para Deus, em obediên-
cia e amor a Ele, para lhe agradar e c o r r e s p o n d e r à sua
vontade. Portanto, Jesus apela à minha relação filial com
Deus e convida-me a «purificar» o coração, a minha inte-
rioridade, para que nada substitua este amor ao Pai na ins-
piração da minha vida e das minhas obras.
A Q u a r e s m a é uma g r a n d e o p o r t u n i d a d e , o «tempo
propício» para purificar o coração, para aprender a viver
como filho de Deus, para amar com sinceridade o Pai e vi-
ver sob o seu olhar.
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Vivamos a Palavra
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QUINTA-FEIRA DEPOIS DE CINZAS
Leiamos o texto
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que sublinha como a sequela se realiza na disponibilidade
a «renunciar a si mesmo», seguem-se duas sentenças, ex-
postas com um jogo de contraposição. A primeira baseia-
-se num paralelismo construído sobre a antítese entre os
verbos «salvar» e «perder» («Quem quiser salvar... perdê-
-la-á»/«Quem perder... salvá-la-á»). A segunda assenta no
contraste entre «ganhar o m u n d o inteiro» e «perder-se ou
arruinar-se a si próprio».
Meditemos a Palavra
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vando como Ele a carregou na sua vida, deixando-me en-
corajar, ajudar por Ele, quando parece tornar-se demasia-
do pesada, quando sou tentado a abandoná-la.
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Vivamos a Palavra
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SEXTA-FEIRA DEPOIS DE CINZAS
A PRESENÇA DO ESPOSO
Leiamos o texto
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em que o j e j u m readquirirá o seu significado para os discí-
pulos, quando o esposo «lhes for tirado».
A expressão é r e t o m a d a de Isaías (53, 8: «Sem defesa
nem justiça, levaram-no à força [...]. Foi suprimido da terra
dos vivos») e descreve o servo do Senhor destinado à mor-
te. Jesus alude pela primeira vez à sua morte como a uma
realidade em que os discípulos t a m b é m são envolvidos.
Para a c o m u n i d a d e dos crentes, o j e j u m adquire signifi-
cado em relação ao destino de Jesus crucificado.
Meditemos a Palavra
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a minha relação com o Senhor dê um salto de qualidade,
para libertá-la da superficialidade das tomadas de posição
e de compromisso, do medo que adia as decisões.
Vivamos a Palavra
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SÁBADO DEPOIS DE ClNZAS
Leiamos o texto
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narrações de chamamento. A cena começa com a indicação
do olhar de Jesus sobre o escolhido que se encontra no seu
lugar de trabalho («Jesus viu um publicano chamado Levi,
sentado no posto de cobrança»). Ele recebe o convite («Se-
gue-me!»), ao que lhe responde imediatamente, deixando
tudo e começando a seguir Jesus. A cena seguinte apresen-
ta o banquete em casa de Levi, em que participam os pu-
blicanos e outras pessoas. A composição dos convidados
provoca a reacção dos fariseus e dos escribas («murmura-
vam») e o pedido de explicações aos discípulos de Jesus
(«Porque comeis e bebeis com os publicanos e os pecado-
res?»). Jesus justifica o seu comportamento, citando uma
espécie de provérbio («Não são os que têm saúde que pre-
cisam de médico, mas sim os doentes») e esclarecendo o
objectivo da sua missão («Eu não vim chamar os justos,
vim chamar os pecadores»).
Meditemos a Palavra
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terior. N a figura de J e s u s - m é d i c o reflecte-se a figura de
Y H W H (Javé) que diz ao seu povo:«Curarei a sua infideli-
dade, amá-los-ei de todo o coração, porque a minha cólera
se afastou deles» (Os 14,5). «Convertei-vos, filhos rebeldes,
e Eu vos curarei da vossa rebeldia» (Jr 3,22).
Em mim há um Levi que está afastado do Senhor, um
publicano que não é comensal de Jesus, porque ainda não
me deixo «curar» pelo Senhor, porque ainda não acolho
seriamente o seu convite para me converter. No aspecto do
meu carácter que continua a opor-se à imitação do Senhor,
no hábito do pecado que não quero interromper, na me-
diocridade que recusa toda a decisão corajosa, na mesqui-
nhez que se torna cálculo face a todo o empenhamento, na
avareza que se subtrai a uma caridade generosa, na relu-
tância a oferecer o m e u generoso testemunho de cristão,
na perda de tempo a fazer coisas fúteis, na busca do aplau-
so, do louvor dos outros; em tudo isto está o Levi, o publi-
cano que deve ser curado.
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ter-te como comensal à mesa de minha vida, porque não
consigo ser «justo», porque necessito de um médico que
trate pacientemente do meu coração inclinado ao mal, o
cure das feridas do mal feito. Faz com que quando me vens
procurar para me sentar à mesa do teu pão que dá a vida,
quando me ofereces a tua Palavra que converte, purifica o
coração e o cura, quando me chamas para que te siga, eu
não me afaste mas acolha com alegria o teu convite e te
diga o meu sim pronto e generoso. Amen.
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PRIMEIRA SEMANA
DA QUARESMA
11,1
SECUNDA-FEKA
«A MIM O FIZESTES»
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mos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente
ou na prisão, e não te prestámos assistência?" 45E Ele lhes res-
ponderá: "Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes
de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a
Mim o deixastes de fazer." '"'Estes irão para o suplício eterno e
os justos para a vida eterna» (Mt 25, 31-46).
Leiamos o texto
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Meditemos a Palavra
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Senhor, quantas pessoas vivem como se o mundo, a sua
vida, não devessem jamais acabar; quantas pessoas vivem
unicamente para si mesmas, exclusivamente atentas ao seu
bem-estar. Liberta-me da superficialidade de uma existên-
cia encerrada em si própria, que não tem em conta a comu-
n h ã o contigo, Senhor, com o Pai e com o Espírito a quem
se destina. Ajuda-me a viver a minha vida como um cami-
nho para ti, n o qual me pedes para me tornar próximo da-
queles que são p o b r e s , daqueles que sofrem e que nin-
guém vai procurar. Faz com que eu não me esqueça de que
em cada uma das minhas acções p o n h o as bases do juízo
que Tu um dia pronunciarás a meu respeito. Faz com que o
meu tempo, as minhas energias, os meus bens sejam em-
penhados no teu serviço e num amor solidário para com
os outros, s u p e r a n d o a tentação do egoísmo e do medo.
Acompanha-me nesta Quaresma para que todos os dias eu
renove a decisão de gastar-me por ti e pelos outros. Amen.
Vivamos a Palavra
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TERÇA-FEIRA
Leiamos o texto
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A instrução sobre a oração está inserida na secção que se
refere às três práticas religiosas judaicas: a esmola (vv. 2-4),
a oração (vv. 5-15) e o j e j u m (vv. 16-18). Falando da oração,
Jesus convida os seus ouvintes a evitar duas atitudes nega-
tivas: a dos hipócritas (vv. 5-6) e a dos pagãos (vv. 7-8). O s
hipócritas usam a oração para exibir a sua piedade e, dessa
maneira, adquirir credibilidade e estima. Os pagãos usam
as palavras de m o d o desenfreado, esforçando-se por do-
brar Deus às suas exigências. Jesus convida, antes de tudo,
a orarmos com confiança, porque o Pai sabe muito bem do
que precisamos; depois, propõe a oração do Pai-Nosso (vv.
9-13), a que junta um texto breve sobre o perdão ( w . 14-15).
Depois de uma invocação inicial que se dirige a Deus,
chamando-lhe «Pai», a oração exprime dois tipos de pedi-
dos: o primeiro refere-se prioritariamente à iniciativa de
D e u s (vv. 9b-10). O s e g u n d o , as necessidades h u m a n a s
fundamentais (vv. 11.13). Na breve instrução final do per-
dão - onde o verbo «perdoar», que é como que um eco da
oração do Pai-Nosso, ocorre quatro vezes - , Jesus retoma a
lógica do perdão divino que tem como condição o perdão
entre os homens.
Meditemos a Palavra
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que realmente preciso. Por isso, não é necessário recorrer a
muitas palavras com medo de que Ele não conheça ou não
se lembre das minhas necessidades e/ou para tentar vergá-
-lo aos m e u s desejos e aos m e u s pedidos. A confiança a
que Jesus me convida é a m e s m a que guiava a sua vida,
que habitava a sua oração e que o dispunha a realizar a
vontade do Pai.
O tempo de Quaresma oferece-me a possibilidade de
recuperar e aprofundar a minha confiança filial em Deus
Pai, de requalificar a minha oração, para que não se oriente
para convencer Deus a tomar conta de mim, a escutar-me,
mas para que faça crescer em mim a consciência do seu
olhar paterno voltado para mim e para que seja o lugar
onde aprendo a desejar e a escolher o que Deus Pai deseja
e escolhe para mim, onde recupero as relações com as pes-
soas e me torno capaz de lhes estender aquele perdão que
recebi do Pai.
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confiança no Deus que permanece fiel às suas promessas,
que não «se esquece» dos seus filhos. Livra-me da descon-
tinuidade e da superficialidade, para que a minha oração
não seja feita de m u i t a s palavras, mas seja guiada pela
consciência de que Deus é um Pai em quem se pode con-
fiar. Ensina-me a encontrar na oração filial a capacidade e a
força de um amor que sabe perdoar. Amen.
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QUARTA-FEIRA
O SINAL DEJESUS
Leiamos o texto
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«um sinal do céu» («Outros, para o experimentar, reclama-
vam um sinal do Céu» - 11, 16). A resposta começa com
uma investida contra esta «geração», construída sobre o
contraste entre a «geração perversa» que procura «sinais»
e Jesus que promete apenas o «sinal de Jonas». A interpre-
tação do sinal é dada por uma comparação entre o profeta
Jonas, sinal de Deus com a sua pregação aos «habitantes de
Nínive» e Jesus, o Filho do h o m e m (v. 30). A invectiva tor-
na-se condenação mediante duas sentenças, que apresen-
tam em paralelo um anúncio de julgamento, uma motiva-
ção e uma conclusão solene (vv. 31-32). A primeira sentença
alude à rainha do sul que foi ouvir Salomão; a segunda re-
toma o tema de Jonas, enviado aos habitantes de Nínive,
que se converteram, levados pela sua pregação. A parte fi-
nal das duas s e n t e n ç a s p r o p õ e uma c o m p a r a ç ã o dupla,
com Salomão e com Jonas («e aqui está quem é maior do
que Salomão... e aqui está quem é maior do que Jonas»),
que evidencia o papel da missão de Jesus em relação ao
Antigo Testamento.
Meditemos a Palavra
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que é apelo à conversão, mais urgente que o dirigido pelo
profeta J o n a s aos habitantes de Nínive e que revela a
sabedoria de Deus numa forma mais autorizada que a do
rei Salomão, procurado pela rainha de Sabá.
A Quaresma obriga-me, todos os dias, a colocar no cen-
tro dos meus interesses, das minhas buscas a pessoa de Je-
sus, a sua Palavra; a fazer da minha fé nele um amor tão
decidido para se tornar d e t e r m i n a n t e para qualquer
opção; a fazer da minha existência uma aventura exaltan-
te, através da qual receber e dar a sabedoria de Jesus.
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Vivamos a Palavra
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QUINTA-FEIRA
Leiamos o texto
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contra e a quem bate à porta abrir-se-á»). Jesus, para dar
ulterior força à exortação, faz referência ao comportamen-
to de um pai h u m a n o , e m p e n h a d o em conceder aos filhos
«coisas boas»: se n e n h u m pai terreno é tão «desumano»
que não atenda ao pedido dos filhos, muito menos o Pai
celeste se deixa superar na generosidade. O trecho termina
com a segunda exortação de Jesus que expõe a chamada
«regra de ouro», baseada sobre o princípio da solidarie-
dade/identificação que inspira a convivência h u m a n a e
corresponde à «Lei» e aos «Profetas».
Meditemos a Palavra
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(«Pai, dou-te graças por me teres atendido. Eu já sabia que
sempre me atendes...» - Jo 11,41-42).
Posso dizer que a minha oração é filial, inspirada por
esta confiança em Deus?
Vivamos a Palavra
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D u r a n t e a Q u a r e s m a , quero prestar muita a t e n ç ã o à
minha oração, para que seja vivida com ânimo filial, pleno
de confiança em Deus-Pai. Além disso, tornar-me-ei atento
na oração às pessoas que estão à minha volta e às situações
de sofrimento de que tenho conhecimento.
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SEXTA-FEIRA
A JUSTIÇA DO REINO
Leiamos o texto
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estabelece uma comparação negativa entre a «justiça» dos
escribas e dos fariseus e a dos discípulos do Reino (v. 20: «Se
a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não
entrareis no reino dos Céus»), Jesus apresenta esta nova jus-
tiça com a primeira de seis antíteses (vv. 21-48), construídas
com o m e s m o esquema: a citação do antigo Testamento
(«Ouvistes o que foi dito aos antigos»), a interpretação au-
torizada de Jesus introduzida pela expressão «Eu, porém,
digo-vos», um princípio geral interpretativo seguido de al-
gumas aplicações. Na primeira antítese discute-se o manda-
mento «Não matar» que faz parte do Decálogo (cf. Ex 2 0 , 1 -
-17). Com a expressão «Eu, porém, digo-vos» Jesus arroga-se
a autoridade de pôr à discussão a própria palavra de Deus.
Recorrendo a três exemplos e a duas imagens, não pre-
tende opor-se ao mandamento, mas mostrar as suas raízes
mais profundas. No primeiro exemplo refere-se o caso de
quem se zanga com o seu irmão, cuja pena corresponderá
ao próprio juízo de Deus. Os outros dois exemplos descre-
vem o conflito verbal que chega ao insulto e que conduz os
dois adversários à barra do «Sinédrio» ou à «geena de fo-
go». Jesus põe-se na linha do livro de Ben Sira (Eclesiásti-
co) 22,24, segundo o qual a injúria prepara o homicídio («o
vapor e o fumo precedem o fogo na chaminé; assim tam-
bém as injúrias precedem o derramamento de sangue»). O
conflito que tende ao aniquilamento do outro, antes de se
concluir com o homicídio, já está presente no choque verbal.
A nova apresentação do mandamento «Não matar» conti-
nua com a imagem de quem, ao aproximar-se do altar para
oferecer o sacrifício, se lembra de que o seu irmão tem algu-
ma coisa contra si. Para Jesus, essa situação, mesmo que uni-
lateral, anula o valor da acção litúrgica. Isto, na perspectiva
do Evangelho segundo Mateus, significa que a misericórdia
vale mais do que o sacrifício «Ide aprender o que significa:
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"Prefiro a misericórdia ao sacrifício"» - 9,13; cf. Os 6,6; 9,13;
12,7). A outra imagem apresenta o caso de duas pessoas que,
para resolver uma contenda, vão procurar o juiz. O convite
de Jesus é a busca de um entendimento antes que o adversá-
rio entregue o outro ao juiz, tendo consciência da implacabi-
lidade da lei («e sejas metido na prisão»).
Meditemos a Palavra
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O n d e vivo, sou artífice de c o m u n h ã o fraterna? C o m o
revolvo os conflitos com as pessoas? Evitando atitudes e
palavras que ferem, procurando a reconciliação?
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SÁBADO
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vertendo a última parte do m a n d a m e n t o , solicita o amor
aos adversários e convida a orar pelos próprios persegui-
dores, indicando como motivação o estilo de Deus-Pai que
«faz nascer o Sol sobre bons e maus e chover sobre justos e
injustos». A segunda parte (vv. 46-47), composta por duas
exemplificações que fundamentam ulteriormente o amor
indiscriminado, apresenta quatro interrogações: a primeira
e a segunda interrogação põem em questão um amor cor-
respondido, semelhante ao dos publicanos; a terceira e a
quarta, pelo contrário, uma saudação dirigida exclusiva-
mente aos irmãos, à maneira dos pagãos. O texto termina
com uma sentença que sintetiza a posição de Jesus («Por-
tanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito»).
A afirmação fundamenta o comportamento do discípulo à
m a n e i r a de Deus. O c u m p r i m e n t o da lei, realizado por
Jesus («Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas.
Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição» - 5,17), que
c o r r e s p o n d e à justiça «maior», tem c o m o c o n t e ú d o a
perfeição vivida pelo discípulo, fundamentada na própria
imagem do agir de Deus.
Meditemos a Palavra
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não há inimigos, mas apenas irmãos, porque para o Pai
não há estranhos, mas unicamente filhos com quem Ele se
preocupa. O cristão é aquele que imita Deus-Pai no seu
m o d o de agir na história dos h o m e n s , que é o do amor
misericordioso e indiscriminado. Trata-se de uma indica-
ção difícil de realizar na minha vida. Estou sempre dispos-
to a amar as pessoas que me amam e a orar por elas; contu-
do, p a r e c e - m e l o n g í n q u o o p e n s a m e n t o do amor pelas
pessoas que me são hostis, que, de algum modo, são mi-
nhas «inimigas». Basta olhar a fundo na minha existência
para ver quantas pessoas excluo, marginalizando-as com o
alheamento e a frieza nas relações.
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Vivamos a Palavra
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SEGUNDA SEMANA
DA QUARESMA
Í
i
K
SEGUNDA-FEIRA
Leiamos o texto
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Meditemos a Palavra
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de pecado, porque o Pai me ama. Dás-te a mim para me li-
vrar da minha condição de pecado, porque o Pai me ama.
Concedes-me o dom do teu Espírito, que m e guia no mun-
do, porque o Pai me ama. Estou-te grato, Senhor, por este
amor fiel e trasbordante. Faz com que eu experimente to-
dos os dias este amor misericordioso, até me sentir um per-
doado, um agraciado. Põe no meu coração tanta misericór-
dia para ser fraterno e generoso com todos aqueles com
'quem me encontro, a fim de que também eu revele a mise-
ricórdia trasbordante de Deus-Pai. Ámen.
Vivamos a Palavra
i
O importante é deixar que a palavra de Deus dê fruto na minha exis-
í têneia. A pergunta a que devemos responder é a seguinte: Quais as deci-
sões concretas a tomar a partir desta Palavra que escutei, meditei e rezei?
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TERÇA-FEIRA
Leiamos o texto
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dos responsáveis do povo, mas desaprova a dissociação
entre o ensino que oferecem e o seu comportamento («di-
zem e não fazem»), o seu exibicionismo («tudo o que fa-
zem é para serem vistos pelos homens»). As duas críticas
são a c o m p a n h a d a s por algumas motivações: a primeira
apresenta a imagem de escribas e fariseus que põem fardos
pesados aos ombros das pessoas (v. 4); a segunda desen-
volve diversos exemplos: alargam as filactérias (tiras de
couro que contêm algumas passagens bíblicas, como por
exemplo, Ex 13,1-10; 13,11-16; Dt 6, 4-9; 11,13-21, levadas
durante a recitação matutina do Shema' [Escuta, Israel...] e
as franjas, as quatro borlas penduradas nas bordas das ves-
tes que, feitas de cordão de púrpura violeta, recordavam
os mandamentos de Deus), gostam dos primeiros lugares
(v. 6), de ser saudados na via pública e de ser chamados
com títulos honoríficos (v. 7). A crítica em relação àqueles
que gostam de ser chamados «Mestres»,jseguida pelo con-
vite dirigido aos discípulos para que não aceitem este títu-
lo, mas vivam entre si uma relação de fraternidade (v. 8),
introduz um quadro de relações diversas do estilo de vida
dos escribas e dos fariseus (vV. 8-12). As imposições
[injunções] expressas em forma negativa («Não vos deixeis
tratar por "Mestres"», «Não chameis a n i n g u é m vosso
"Pai"», «Não vos deixeis tratar por "Doutores"»), são se-
guidas das respectivas motivações (vv. 8.9.10). O quadro
encerra com duas sentenças, uma no serviço (v. 11) e outra
na humildade (v. 12).
Meditemos a Palavra
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Jesus chama-me antes de tudo a uma unidade entre a
fé e a vida, para evitar a incoerência de um dizer que é
contradito pelos factos, pelos comportamentos. A disponi-
bilidade declarada ao Senhor deve influir nas minhas ati-
• .. o .
tudes, nos m e u s desejos e nas m i n h a s escolhas de vida.
Jesus previne-me para que faça o bem por si mesmo ou em
referência a Deus, e não para ser admirado, para obter re-
conhecimentos especiais, papéis de prestígio. Por isso, re-
corda-me que os seus discípulos, antes m e s m o de serem
diferentes uns dos outros - pela posição, pelas tarefas de-
senvolvidas - , são irmãos postos no mesmo plano, filhos
de um único Pai, discípulos de um único Mestre.
O c a m i n h o q u a r e s m a l é u m a ocasião preciosa para
identificar e superar as incoerências da minha vida cristã,
para aprofundar a minha ligação com o único Mestre e o
único Pai, que m e protege da tentação de realizar o bem
para promover a minha pessoa aos olhos dos outros e que
me permite viver uma fraternidade que se exprime n u m
serviço generoso.
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lho. Ensina-me a seguir-te com toda a minha vida, a tradu-
zir em obras de serviço a minha fé. Livra-me das palavras
que frequentemente criam ilusões. Torna-me muito humil-
de e simples para não fazer de exibicionista diante dos ou-
tros. Faz com que eu saiba anunciar, com a vida e com a
palavra, o teu Evangelho que salva. Amen.
Vivamos a Palavra
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QUARTA-FEIRA
que estes meus dois filhos se sentem no teu reino um à tua di-
reita e outro à tua esquerda.» "Jesus respondeu: «Não sabeis
o que estais a pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de be-
ber?» Eles disseram: «Podemos.» "Então Jesus declarou-lhes:
«Haveis de beber do meu cálice. Mas sentar-se à minha direita
e à minha esquerda não pertence a Mim concedê-lo; é para
aqueles a quem meu Pai o designou.» "Os outros dez, que ti-
nham escutado, indignaram-se com os dois irmãos. 1,;Mas Je-
sus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações
exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre
elas o seu poder. 2"Não deve ser assim entre vós. Quem entre
vós quiser tornar-se grande seja vosso servo 27e quem entre
vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo. "Será como o fi-
lho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir
e dar a vida pela redenção dos homens» (Mt 20,17-28).
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Leiamos o texto
i
Ler e reler o texto, tentando pôr em destaque os seus elementos mais
significativos. A pergunta fundamental é a seguinte: Que pretende o Se-
! nhor dizer com este texto?
63
Meditemos a Palavra
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Senhor Jesus, quero exprimir-te toda a minha gratidão
pela decisão de pores a tua existência ao serviço dos ho-
mens, e de a ofereceres por eles e por mim. Quiseste mani-
festar-te como a resposta do Pai misericordioso às nossas
misérias, inquietações e aspirações; tem-nas abundante-
mente superado, porque nos amaste como só Tu és capaz,
até dar a vida por nós, até derrotar os inimigos mais in-
quietantes do homem, do pecado e da morte. Senhor, re-
conheço-te como Messias e Salvador e p o n h o - m e no teu
seguimento. Faz por mim o que fizeste pelos teus discípu-
los: livra-me de que dobre sobre mim mesmo, do medo de
dar a vida. Faz com que, seguindo-te, eu assuma a tua co-
ragem da missão, pondo à disposição dos irmãos a minha
vida, gastando as m i n h a s energias para a sua salvação.
Amen.
Vivamos a Palavra
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QUINTA-FEIRA
«O HOMEM NA PROSPERIDADE
NÃO COMPREENDE...»
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Leiamos o texto
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pedido é repelido pelo patriarca, que convida a escutar
«Moisés e os Profetas». Ao pedido insistente do rico para
que mande Lázaro aos seus irmãos que, ao verem alguém
que chegou de entre os mortos, «se arrependerão», Abraão
lembra novamente «Moisés e os Profetas» que, se não fo-
rem escutados, tornam inútil o próprio facto de uma pes-
soa ressurgir dos mortos.
Meditemos a Palavra
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Rezemos com a Palavra
Vivamos a Palavra
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SEXTA-FEIRA
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Leiamos o texto
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Meditemos a Palavra
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para me salvar da experiência negativa do mal que gera
morte. Acolho-te como aquele que tanto me amou a ponto
de dar a vida por mim. Acolho-te como o portador das exi-
gências de c o m u n h ã o íntima que o Pai tem em relação a
mim. Faz, Senhor Jesus, com que na noite de Páscoa a mi-
nha profissão de fé exprima a minha adesão sincera a ti;
dá-me o Espírito, para que passe da profissão de fé à tua
imitação, na missão, dando todas as energias para os ir-
mãos, para que sejam salvos na alegria do teu amor. Amen.
Vivamos a Palavra
73
SÁBADO
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"Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um
anel no dedo e sandálias nos pés. "Trazei o vitelo gordo e ma-
tai-o. Comamos e festejemos, "porque este meu filho estava
morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado." E
começou a festa. ^Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e
as danças. 2"Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que
era aquilo. 2 7 0 servo respondeu-lhe: "O teu irmão voltou e
teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são
e salvo." "Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai
veio cá fora instar com ele. 2"Mas ele respondeu ao pai: "Há
tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem
tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os
meus amigos. *'E agora, quando chegou esse teu filho, que con-
sumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o
vitelo gordo." 3lDisse-lhe o pai: "Filho, tu estás sempre comigo
e tudo o que é meu é teu. "Mas tínhamos de fazer uma festa e
alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à
vida, estava perdido e foi reencontrado"» (Lc 15,1-3.11-32).
Leiamos o texto
75
tada a vida do filho mais novo, com duas cenas: o abando-
no da casa paterna (vv. 12-20) e o seu regresso ao pai: a de-
cisão do filho mais novo de deixar a casa, pedindo a heran-
ça ao pai (v. 12); a sua partida, a vida dissoluta (v. 13), a
situação de pobreza, agravada pela fome (v. 14); o trabalho
de guardador de porcos de um pagão (vv. 15-16); a decisão
de voltar a casa (vv. 17-20a). A segunda cena descreve o
m o d o c o m o o pai acolhe o filho. À declaração do filho
(«Pai, pequei contra o Céu e contra ti...») segue-se o acolhi-
mento carinhoso do pai («Encheu-se de compaixão e cor-
reu a lançar-se ao pescoço, cobrindo-o de beijos») e as dis-
posições que indicam a plena reintegração do filho na casa
(«Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe
um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo
e matai-o. Comamos e festejemos»), expressão de um amor
que quer restituir ao filho não só as coisas, mas também a
sua própria condição de filho. O segundo quadro (vv. 25-
-32) descreve o protesto do filho mais velho face ao modo
como o irmão foi tratado («Ele ficou ressentido e não que-
ria entrar»). No diálogo com o pai, o filho mais velho apre-
senta a sua fidelidade («Há tantos anos que eu te sirvo,
sem nunca transgredir uma ordem tua»), critica o compor-
tamento do pai a seu respeito («e nunca me deste um ca-
brito para fazer uma festa com os meus amigos») e em rela-
ção ao filho mais novo («E, agora, quando chegou esse teu
filho, q u e c o n s u m i u os teus b e n s com m u l h e r e s de m á
vida, mataste-lhe o vitelo gordo»). O pai corrige a atitude
servil do filho mais v e l h o e faz-lhe c o m p r e e n d e r a sua
dignidade filial («Filho, tu estás comigo e tudo o que é meu
é teu») e justifica a sua conduta em relação ao irmão («...tí-
nhamos de fazer uma festa e alegrar-nos porque este teu
irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi
reencontrado»).
76
1
Meditemos a Palavra
77
Rezemos com a Palavra
Vivamos a Palavra
78
TERCEIRA SEMANA
DA QUARESMA
SECUNDA-FEIRA
Leiamos o texto
81
feta é bem recebido na sua terra»), seguido de dois exem-
plos, que f a z e m referência ao profeta Elias (vv. 25-26) e
Eliseu (v. 27), onde a salvação não atingiu o povo de Israel
mas estrangeiros, como a viúva de Sarepta ( l R s 17, 7-16) e
Naamã, um sírio (2Rs 5,1-27).
O discurso polémico de Jesus provoca a reacção desde-
nhosa dos presentes, que tentam eliminá-lo. O episódio
termina com a partida de Jesus.
Meditemos a Palavra
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Rezemos com a Palavra
Vivamos a Palavra
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TERÇA-FEIRA
84
Leiamos o texto
85
cena (vv. 31-34) apresenta um diálogo entre o servo e o rei,
que agora o julga severamente («Servo mau»), recorda-lhe
o favor que lhe fez («Perdoei-te tudo o que me devias, por-
q u e m e pediste») e c e n s u r a - o pelo seu c o m p o r t a m e n t o
com o colega («Não devias, também tu, compadecer-te do
teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?»). A con-
clusão do encontro é diferente da anterior («E o senhor, in-
dignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o
que lhe devia»), Jesus conclui a parábola com uma aplica-
ção que se relaciona com a pergunta inicial de Pedro, evi-
dencia a necessidade de um perdão incondicional e chama
a atenção dos discípulos, advertindo-os, para um compor-
tamento similar ao do servo mau.
Meditemos a Palavra
86
pessoas partindo de um pressuposto que muda tudo: o
perdão imenso, gratuito, que continuo a receber de Deus.
Se me esquecer de que fui, primeiramente, perdoado por
Deus, gratuitamente amado, nunca compreenderei nada
acerca do p e r d ã o que devo c o n c e d e r n e m conseguirei
nunca perdoar.
Frequentemente, a Quaresma recorda-me o perdão que
Deus continua a conceder-me e convida-me a deixar-me
regenerar pelo encontro com este amor gratuito e pacien-
te, a assumir um m o d o novo de viver as relações com as
pessoas que vivem ao meu lado: o modo da gratuidade, da
paciência e do perdão generoso.
87
Vivamos a Palavra
88
QUARTA-FEIRA
Leiamos o texto
89
palavra de Deus. Também a interpretação dada por Jesus à
lei, com autoridade, não a destrói como revelação da von-
tade de Deus, mas confirma-a, reportando-a ao seu signi-
ficado original e ao fim a que se destina. Enunciado o prin-
cípio, Jesus explica-o com duas afirmações. De acordo com
a primeira (v. 18), n e n h u m p o n t o particular da lei - seja
um «jota» (a letra mais pequenina do alfabeto hebraico) ou
um «ápice» (um sinal acrescentado a algumas letras do al-
fabeto hebraico) - será descurado até ao fim do m u n d o ,
mas, pelo contrário, será cumprido. Mesmo as coisas mais
pequenas serão devidamente valorizadas no seu justo sen-
tido, no sentido ilustrado pelo ensino de Jesus. A segunda
afirmação (v. 19) é um realce posterior da precedente. Se
Jesus vem completar a lei, os discípulos devem-na obser-
var. É esta a condição e a medida do juízo divino.
Meditemos a Palavra
90
A caminhada quaresmal é uma ocasião propícia para
«escutar» com maior atenção a palavra do Senhor, para lhe
obedecer, para me afastar decididamente de tantas «pala-
vras» que ecoam na minha vida, que atulham o meu cora-
ção e acabam por substituir a palavra de Jesus.
A palavra de Deus, que me é oferecida por Jesus Cristo,
será verdadeiramente a lanterna para os passos da minha
vida, a luz sobre o meu caminho? Procuro-a com insistên-
cia, escuto-a com atenção, e executo-a com decisão?
91
Vivamos a Palavra
92
QUINTA-FEIRA
Leiamos o texto
93
O exorcismo de um endemoninhado (v. 14) provoca di-
versas reacções nos presentes (vv. 15-16). Uns - as multi-
dões - admiram-se; outros acusam Jesus de ligado a Belze-
bu, em cujo n o m e realiza milagres; outros ainda põem-no
à prova exigindo-lhe um sinal do céu. Jesus r e s p o n d e à
acusação com alguns argumentos (vv. 17-20). O primeiro
(vv. 17-18) acentua a impossibilidade de uma contraposi-
ção entre duas forças no interior da mesma instituição (rei-
no/casa), formulando uma interrogação que aplica o prin-
cípio a Satanás («Se Satanás está dividido contra si mesmo,
c o m o subsistirá o seu reino?»). No s e g u n d o a r g u m e n t o
(vv. 18b-20), Jesus retoma a acusação inicial - «expulsar os
demónios em n o m e de Belzebu» - e, com uma interroga-
ção retórica, compara os exorcismos por si realizados aos
efectuados pelos discípulos dos seus acusadores. A per-
gunta tem c o m o consequência a afirmação de que «eles
mesmos serão os vossos juízes». Por fim, Jesus apresenta a
sua interpretação dos exorcismos que realiza (v. 20): a sua
actividade de exorcista indica a presença do reino de Deus.
A semelhança do h o m e m «forte» vencido por outro ainda
mais forte que ele é seguida de uma sentença que realça a
existência de dois grupos, o dos que o acolhem e o dos que
o rejeitam ( « Q u e m não está c o m i g o está conta mim e
quem não junta comigo dispersa»).
Meditemos a Palavra
94
nhoria real de Deus que liberta o h o m e m do mal, mas até
se confundem radicalmente. Em Jesus encontro o liberta-
dor do mal que agride a minha vida de muitas maneiras.
Ele é mais forte que Satanás, livra-me dele e das suas su-
gestões, que alimentam em mim desejos desordenados,
provocam retracções e reticências. Contudo, Jesus pede-
-me que renove quotidianamente a minha adesão a Ele,
que esteja cada vez mais disponível para viver com Ele e
como Ele viveu. O reconhecimento de Jesus como autên-
tico libertador do mal, a adesão a Ele e o acolhimento da
sua Palavra, representam o sentido, o objectivo da minha
caminhada quaresmal.
A Q u a r e s m a acaba por ser u m a g r a n d e escola da fé
onde aprendo a acolher e a seguir Jesus, permitindo-lhe li-
vrar a minha vida do mal.
95
Vivamos a Palavra
96
SEXTA-FEIRA
Leiamos o texto
97
de uma pergunta do escriba, seguida da resposta de Jesus
(vv. 28b-31); a segunda é uma réplica do escriba seguida da
apreciação de Jesus (vv. 32-34). O trecho conclui-se com
uma anotação do evangelista («E ninguém mais se atrevia
a interrogá-lo»), A pergunta feita pelo escriba («Qual é o
primeiro de todos os mandamentos?») é típica de um in-
térprete da Tora (Lei). Se a Lei tem por missão comunicar a
vontade de Deus, qual dos mandamentos está «antes de
tudo» segundo a vontade de Deus? Jesus responde, citan-
do o Shema' da piedade hebreia («Escuta, Israel...» - Dt 6,4-
-5) que todos os israelitas têm de recitar de manhã e à tarde
como o f u n d a m e n t o da sua fé. O Deus único deve ser
objecto de amor, isto é, de uma devoção que se exprime na
obediência aos m a n d a m e n t o s . Ao lado deste primeiro
mandamento Jesus cita um segundo, que alude ao amor
do próximo («Amarás o próximo como a ti mesmo» e que é
tirado do Levítico (19,18b). Jesus conclui a resposta decla-
rando: «Não há nenhum mandamento maior que este.»
O escriba, caso único no Evangelho, replica a Jesus, ex-
primindo a sua concordância («Muito bem, Mestre! Tens
razão»). No entanto, reconhece em Jesus um mestre com
um ensino seguro, isto é, conforme a vontade de Deus; re-
toma a sua resposta, acrescentando que os dois manda-
mentos «valem mais do que todos os holocaustos e sacrifí-
cios»), Jesus reconhece a sabedoria da resposta e declara ao
seu interlocutor que não está «longe do reino de Deus»,
isto é, que está apto a entrar nele.
Meditemos a Palavra
98
A resposta de Jesus à pergunta do escriba indica que
aquilo que unifica a vida cristã, a minha existência de discí-
pulo, nas suas diversas expressões, é o amor. Um amor que
compreende Deus e os outros; que não tem o aspecto de
um sentimento frágil ou de um entusiasmo fugaz, mas em-
penha totalmente a minha pessoa. De facto, trata-se de
amar a Deus «com todo o meu coração, com toda a minha
inteligência e com todas as minhas forças» e de amar os
outros como «amo a mim mesmo». Amar Deus assim, com
tudo aquilo que sou, significa abrir-me a Ele sem reservas,
procurá-lo com um interesse profundo, deixar-me aproxi-
mar dele sem opor resistências e medos. Amar o próximo
«como amo a mim mesmo» significa aceitar os outros na
sua singularidade, reconhecer que também eles são queri-
dos por Deus, como eu. Um amor deste tipo exige um
exercício paciente e constante sobre o meu coração, sobre
a minha pessoa, sobre as minhas opções de vida, para que
não se limite a «sentir», a «experimentar alguma coisa» por
Deus, pelos outros, mas se decida a amar a Deus e aos ou-
tros como o Senhor indica. Certamente, trata-se de uma
decisão que, dada a sua radicalidade, precisa de ser acom-
panhada pelo Senhor, pela sua graça.
O convite que provém do tempo quaresmal à conver-
são encontra no mandamento do amor a sua concretização
mais autêntica: trata-se de converter a minha pessoa, a
minha existência a este tipo de amor, a Deus e aos outros.
99
Senhor, és radical nas tuas exigências. Exiges q u e os
teus discípulos a m e m a Deus-Pai, e m p e n h a n d o tudo aqui-
lo que eles são. Por ti, o amor ao Pai não é um sentimento,
uma emoção fugaz, mas uma forma de doação na qual eu
p o n h o em jogo toda a minha pessoa.
Pedes um amor ao próximo que se inspira no amor, no
cuidado, na atenção que cada um de nós tem por si mes-
mo. Como posso amar a Deus com tudo o que sou, se me
incomoda ter tempo para Ele, se, muitas vezes, estou tão
inseguro e cheio de medos, se fico fascinado com tantas
coisas da vida a ponto de me esquecer dele? Como posso
amar os outros com a mesma paciência e cuidado com que
me trato a mim mesmo, se me custa aceitar quem é dife-
rente de mim, a não me dobrar sobre mim próprio, a não
pôr em primeiro plano as minhas exigências, em não fazer
valer sempre as minhas decisões?
Senhor, ensina-me a amar o Pai e o meu próximo como
Tu me convidas a fazer. Por isso, dá-me o teu Espírito, que
é amor total e gratuito, corajoso e generoso, paciente e te-
naz, de m o d o que o teu mandamento se torne a tarefa da
minha vida. Amen.
Vivamos a Palavra
100
SÁBADO
Leiamos o texto
101
retomada no discurso centrado na apresentação dos dois
protagonistas, o «fariseu» e o «publicano». Ambos vão orar
ao templo, local onde se desenrola a narração da parábola.
O confronto entre os dois acontece através da apresenta-
ção da sua oração. O fariseu é apresentado de pé; a sua
oração (vv. 11-12), introduzida pelo vocativo «Meu Deus»,
é de agradecimento, com a motivação: «por não ser como
os outros homens». O fariseu conclui a oração referindo
como exemplos da sua diferença em relação aos outros ho-
mens, o j e j u m e o p a g a m e n t o do dízimo. O publicano é
apresentado na sua localização espacial («ficou à distân-
cia») e na sua dupla atitude («e nem sequer se atrevia a er-
guer os olhos ao Céu, mas batia no peito»). A sua oração é
muito mais breve do que a do fariseu; introduzida pelo vo-
cativo «Meu Deus», é seguida pela oração: «tende compai-
xão de mim, que sou pecador».
O m a n d a m e n t o de Jesus conclui a narração e compara
a acção de Deus com a dos dois protagonistas: «Este des-
ceu justificado para sua casa e o outro não» - v. 14). A nova
situação, uma reviravolta em relação à que foi apresentada
na parábola, é explicada com um comentário final: «Todo
aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha
será exaltado.»
Meditemos a Palavra
102
fazer reflectir. O primeiro é dado pelo facto de ele se sentir
auto-suficiente, sem o desejo de ser protegido por Deus,
que não o pode elevar a si, porque este homem se sente já
no alto, não se r e c o n h e c e necessitado do seu perdão. O
segundo, que parece uma agravante do primeiro, é que a
presunção da sua justiça vive do desprezo dos outros, pelo
facto de não estarem à altura de Deus. Os limites da oração
do fariseu d e v e m - m e fazer reflectir, p o r q u e p o d e m ser
também os meus. Não se trata de atribuir a mim próprio
culpas que não tenho ou de inventar pecados não cometi-
dos, nem sequer de não reconhecer o bem por mim reali-
zado. Pelo contrário, trata-se de saber agradecer a Deus
por me ter protegido e continuar a proteger e suplicar-lhe
por quem não se deixou proteger, porque se mantém afas-
tado dele, mantendo assim afastado de mim o desprezo, o
juízo que mata.
Sei agradecer a Deus o bem que há na minha vida? Re-
conheço-me necessitado da sua misericórdia, não à altura
do seu amor? Encarrego-me na minha oração de quem me
aborrece mais, de quem está longe do Senhor?
103
-te as graças que me fizeste, os momentos mais significati-
vos em que me manifestaste a tua bondade e a tua miseri-
córdia. Q u e r o recordar-te também as minhas infidelida-
des, para que se t o r n e m imploração. Eis-me, Senhor,
diante de ti com coração humilde e grato. Acolhe o m e u
louvor e escuta a minha súplica. Amen.
Vivamos a Palavra
104
QUARTA SEMANA
DA QUARESMA
I
SEGUNDA-FEIRA
'1
CREIO, SENHOR, NA TUA PALAVRA
107
Leiamos o texto
108
la hora Jesus lhe tinha dito: "O teu filho vive." E acreditou,
ele e todos os de sua casa»), E o último passo da fé: o fun-
cionário, através do «sinal», reconhece Jesus como dador
de vida.
Meditemos a Palavra
109
Senhor Jesus, também eu te dirijo a oração evangélica:
«Diz uma palavra e a minha alma será salva!» Com a tua
Palavra restituíste e continuas a restituir a alegria e a vida a
muitas pessoas. A tua existência é uma palavra de amor
para quem a escuta e a acolhe. Faz com que cada dia eu
saiba dedicar-lhe um tempo adequado de escuta atenta,
para a t r a n s f o r m a r em oração, para e x p e r i m e n t a r a tua
promessa: «Quem escuta a minha palavra passa da morte
à vida.» Suscita em mim todos os dias o desejo de escutar a
tua palavra de amigo, para que viva como teu discípulo.
Amen.
Vivamos a Palavra
110
TERÇA-FEIRA
111
Leiamos o texto
112
ce-o de que a cura não é o bem maior, porque muito mais
importante é evitar o pecado, é a ligação com Deus, e re-
corda-lhe o valor limitado do dom recebido. Conhecida a
identidade do seu curador, o h o m e m comunica-a aos Ju-
deus, que perseguem Jesus como pecador por ter violado o
repouso sabático.
Meditemos a Palavra
113
Rezemos com a Palavra
Vivamos a Palavra
114
QUARTA-FEIRA
115
nada por Mim próprio: julgo segundo o que oiço e o meu
juízo é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, mas
a vontade daquele que me enviou» (Jo 5,17-30).
Leiamos o texto
116
todos o reconheçam como seu enviado. Depois, Jesus afir-
ma que ninguém pode ficar indiferente à vinda do Filho.
Cada homem tem de escolher. Diante do Filho, o homem
p o d e assumir uma atitude de fé ou de incredulidade.
Q u e m acredita na sua Palavra, é feito participante na sua
verdadeira vida; quem não crê, auto-exclui-se da salvação.
Por fim, Jesus desenvolve o tema do juízo, que terá como
consequência a vida ou a morte eterna. A sua palavra vivi-
ficante comunica a q u e m a escuta c o m fé um g e r m e de
vida, que produzirá fruto só ao final da história, quando
Cristo julgar o mundo, completando a sua obra.
Meditemos a Palavra
117
Rezemos com a Palavra
Vivamos a Palavra
118
QUINTA-FEIRA
O TESTEMUNHO DO PAI
119
pois ele escreveu a meu respeito. 47Mas se não acreditais nos
seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?»
(Jo 5, 31-47).
Leiamos o texto
120
obras de Jesus, não podem acolher este testemunho. Por-
tanto, a palavra de D e u s n ã o p o d e « p e r m a n e c e r » neles
para dar frutos de salvação. O quarto testemunho a favor
de Jesus é o das Escrituras (vv. 39-40). Os judeus conside-
ram-nas fonte de vida porque contêm a palavra de Deus;
por isso, «examinam-nas» com assiduidade. Ora, as Escri-
turas são orientadas para Jesus Cristo, ponto de conver-
gência da história da salvação. Nelas, os judeus procuram
a vida, mas inutilmente porque não estão dispostos a aco-
lher Jesus que é a sua chave de leitura. Jesus identifica a ra-
zão de os j u d e u s se lhe oporem, pois vivem fora do am-
biente da sua Palavra, não deixando actuar neles o dom de
Deus e recusando-se a acolher o seu amor, princípio de
vida nova. Depois, eles estão disponíveis para ouvir todos
os que, em seu próprio nome, se apresentam como envia-
dos de Deus. Além disso, buscam apenas o parecer favorá-
vel dos outros («... recebeis glória uns dos outros»), esque-
c e n d o - s e de que a verdadeira glória se f u n d a m e n t a em
Deus e a autêntica segurança está na palavra de vida reve-
lada pelo Filho. Esta oposição merece aos judeus a acusa-
ção de Moisés, de quem se sentem discípulos, pelo facto
de, ao rejeitar Jesus, não darem crédito ao que Moisés es-
creveu sobre Ele.
Meditemos a Palavra
121
Pai, João Baptista, a própria vida de Jesus, o livro das Sa-
gradas Escrituras. E, contudo, basta um coração dobrado
sobre si mesmo, prisioneiro da sua própria auto-suficiên-
cia, para tornar estes testemunhos ineficazes. Assim acon-
teceu com os judeus e o mesmo acontece comigo sempre
que reproduzo na minha vida a sua recusa de Jesus, sem-
pre que procuro a minha glória junto dos outros. Por isso,
devo interrogar-me seriamente nesta Q u a r e s m a sobre a
minha fé em Jesus; devo verificar se busco o testemunho
que o Pai dá a Jesus por mim, para que eu acredite, se o
procuro nas Sagradas Escrituras, na Igreja, no meu cora-
ção, seriamente iluminado; devo desmascarar onde se ra-
dica a minha incredulidade, e o que é que a inspira.
122
Vivamos a Palavra
123
SEXTA-FEIRA
A V E R D A D E I R A O R I G E M DE JESUS
Leiamos o texto
124
O trecho apresenta outro debate polémico entre Jesus e
«algumas pessoas de Jerusalém». A cena introdutória apre-
senta Jesus decidindo inicialmente ficar na Galileia, para
fugir aos judeus que procuram matá-lo. Depois muda de
ideia e desloca-se a J e r u s a l é m para a festa dos Taberná-
culos (a festa, que ocorria em finais de Setembro/inícios de
Outubro e durava sete dias, era a mais alegre e popular
dos Hebreus, originariamente relacionada com uma cele-
bração de acção de graças pelas colheitas outonais e, de-
pois, associada à recordação da estada no deserto, nas ten-
das, durante os q u a r e n t a anos do êxodo do Egipto). O
debate é introduzido pelas i n t e r r o g a ç õ e s de «algumas
pessoas de Jerusalém» (vv. 25-26), que se admiravam de
que Jesus pudesse falar em público livremente no templo e
p u n h a m a hipótese de um possível reconhecimento, por
parte das autoridades judaicas, de Jesus como Messias. Os
interlocutores de Jesus excluem que Ele seja o Messias por-
que conhecem a sua proveniência («nós sabemos de onde
é este homem»), enquanto o Messias, segundo uma teoria
comum, deveria nascer em Belém para depois aparecer em
público i m p r e v i s t a m e n t e , de m o d o espectacular. Jesus
r e s p o n d e de maneira solene: «em voz alta ensinava no
templo, dizendo.» «Ensinar em voz alta» indica uma reve-
lação pública de especial importância; por isso m e s m o é
pronunciada no templo. Jesus afirma que os seus interlo-
cutores c o n h e c e m a sua origem terrena, mas não a sua
origem celeste: Ele «vem do Pai». Reivindica uma expe-
riência única, total do Pai pela sua comunhão de vida com
Ele. A reacção é uma tentativa de captura («procuravam,
então, prender Jesus»), que não acontece «porque ainda
não chegara a sua hora», o momento preestabelecido pelo
Pai.
125
Meditemos a Palavra
126
voz afectuosa do Pai e concede-me também que participe
na tua condição filial, para que me sinta envolvido pelo
amor do Pai e tenha a coragem de me doar aos meus ir-
mãos, para construir um mundo novo, habitado pelo amor
e pela justiça. Amen.
Vivamos a Palavra
127
SÁBADO
« N U N C A N I N G U É M FALOU C O M O ESSE H O M E M »
Leiamos o texto
128
O episódio narrado pelo texto coloca-se no último dia
da festa dos Tabernáculos («No último dia, o mais solene
da festa...» - 7, 37). O convite que Jesus proclamou em voz
alta («Se alguém tem sede, v e n h a a mim; e quem crê em
mim que sacie a sua sede! c o m o diz a Escritura, hão-de
correr do seu coração rios de água viva» - 7, 37-38) provoca
entre as gentes reacções diferentes. Alguns reconhecem
em Jesus «o profeta», o ungido de Deus. Outros, pelo con-
trário, recusam-se a considerar Jesus como o Messias, por-
que é um Galileu, enquanto o Messias deveria provir da
estirpe de David e nascer em Belém. Uma nova tentativa
de captura não é b e m sucedida e os próprios guardas, en-
viados alguns dias antes (cf. v. 32), ficam impressionados
com o ensino de Jesus («Nunca ninguém falou como este
homem»). Este apreço dos guardas irrita os chefes, que os
censuram de terem sido influenciados por um impostor
(«Também vos deixastes seduzir?»). Estes desprezam a opi-
nião da gente («Mas essa gente, que não conhece a Lei, es-
tá maldita») e respondem de maneira despicienda a Nico-
d e m o s que exige o respeito pela lei, c o n v i d a n d o - o a
estudar a lei, que exclui a proveniência de qualquer pro-
feta da Galileia.
Meditemos a Palavra
129
mana, para a vida dos h o m e n s e, portanto, também para a
minha vida. Para poder perceber este significado não devo
assumir a atitude cheia de preconceitos e de bloqueio dos
chefes de Israel. Tenho de perceber que não posso obrigar
Jesus a seguir os m e u s esquemas e as minhas categorias,
m e s m o religiosas, porque Ele representa uma novidade
absoluta. Não devo dobrar Jesus a mim; sou eu quem tem
de se abrir a Ele; não posso identificá-lo a partir das mi-
nhas representações, mas devo tornar-me ouvinte da sua
Palavra que o revela aos meus olhos, que m o dá a conhe-
cer. Trata-se de me converter como crente, isto é, de passar
de uma fé que tem as suas ideias sobre Jesus, a uma fé que
se põe à escuta de Jesus, de tudo o que Ele diz de si, de
Deus e dos homens.
A Quaresma, com o seu convite insistente à conversão,
é tempo favorável para esta purificação da minha fé, para
abandonar os meus preconceitos, as minhas leituras par-
ciais de Jesus.
130
obediente. Dá-me o teu Espírito para que me diga toda a
verdade sobre ti, a d e f e n d a e m mim das i n t e r p r e t a ç õ e s
parciais e desviantes. Amen.
Vivamos a Palavra
131
QUINTA SEMANA
DA QUARESMA
SECUNDA-FEIRA
Leiamos o texto
135
O texto relata o debate entre Jesus e os fariseus durante
a festa dos Tabernáculos, q u a n d o muitas luzes estavam
acesas no templo de Jerusalém e nas casas hebraicas. Cele-
brava-se a memória da nuvem luminosa que, no deserto,
havia indicado aos antepassados o caminho, e agradece-se
a Deus por ter guiado o povo. Jesus, diante deste cenário
sugestivo, fala ainda de si. O texto apresenta três momen-
tos: a auto-revelação de Jesus-luz, o valor do seu testemu-
nho e a recusa dos fariseus. O diálogo entre Jesus e os fa-
riseus começa com uma declaração solene («Eu sou a luz
do mundo. Q u e m m e segue não anda nas trevas, mas terá
a luz da vida» - v. 12) que revela a sua identidade (Ele é a
revelação de Deus que traz a luz, a vida e a salvação) e o
sentido da sua missão entre os homens (vence as trevas do
mundo, dando vida aos homens). O s fariseus reagem con-
testando a validade do seu t e s t e m u n h o («Tu dás teste-
m u n h o de ti próprio: o teu testemunho não é verdadeiro»
- v. 13). Jesus responde, reivindicando a credibilidade do
seu testemunho por dois motivos. Em primeiro lugar por-
que tem consciência da sua dependência do Pai, de quem
v e m e para q u e m voltará, depois de ter realizado a sua
missão («sei de onde vim e para onde vou» - v. 14b); de-
pois, porque o próprio Pai dá testemunho dele («e também
o Pai, q u e m e enviou, dá t e s t e m u n h o de mim» - v. 18).
Neste ponto os fariseus fazem a Jesus uma pergunta explí-
cita: «Onde está o teu Pai?» (v. 19). Jesus não responde di-
rectamente, mas reafirma o motivo e a consequência da in-
compreensão: «Não m e conheceis a mim nem a meu Pai»
(v. 19b). E uma acusação grave para os judeus que se van-
gloriavam de c o n h e c e r o verdadeiro Deus, em oposição
aos outros povos, q u e o i g n o r a v a m . C o m o conclusão o
evangelista assinala q u e «ninguém o p r e n d e u porque
ainda não chegara a sua hora».
136
Meditemos a Palavra
137
Senhor Jesus, Tu sabes como os passos dos homens são
f r e q u e n t e m e n t e inseguros e o seu coração confuso. Co-
nheces a nossa dificuldade em compreender e escolher o
bem, em identificar e «conquistar» o tesouro precioso que
torna bela e vivível a nossa vida e que « n e n h u m ladrão
pode roubar» n e m «a ferrugem corroer». Vês toda a escuri-
dão que invade o nosso coração e esconde o teu rosto aos
nossos olhos. Permanece connosco com a tua palavra que
ilumina e consola; que corrige as nossas leituras erradas
acerca de ti, de Deus, da vida e das pessoas que estão pró-
ximas de nós; que é mais forte que as nossas fragilidades;
que sabe falar ao nosso coração e transformar-se em cami-
nho da nossa vida. Fica connosco, Senhor, para que sobre a
nossa vida não desça uma noite sem luz, sem esperança e
sem amor. Amen.
Vivamos a Palavra
138
TERÇA-FEIIÍA
Leiamos o texto
139
O trecho, no qual prossegue o debate entre Jesus e os
chefes do povo, p o d e ser dividido em duas partes: a pri-
meira refere-se ao pecado dos judeus que determina uma
clara divisão entre eles e Jesus (vv. 21-24); a segunda apre-
senta a automanifestação de Jesus que terá o seu momento
culminante sobre o Gólgota (vv. 25-30). O pecado imputa-
do aos judeus é a incredulidade e a rejeição de Jesus como
Filho de Deus. A falta de adesão plena a Ele na fé explica a
ameaça de morte que pesa sobre eles («morrereis no vosso
pecado») e que os impede de se deslocar para onde Jesus
está a dirigir-se («Vós não podeis ir para onde Eu vou!»). A
razão da oposição está no facto de Jesus e os seus interlo-
cutores se moverem em dois planos radicalmente diferen-
tes («Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de cima; vós sois deste
mundo, Eu não sou deste mundo» - v. 23). Jesus pertence à
esfera de Deus e da vida, os judeus, pelo contrário, estão
sujeitos à morte e à mentira, por isso permanecem no seu
pecado. Jesus usa palavras fortes com os seus adversários
(«disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque se
não acreditardes que " E u sou", morrereis nos vossos peca-
dos» - v. 24). Antes, Jesus tinha falado de «pecado» no sin-
gular (v. 21), aqui fala de «pecados» no plural (v. 24). O «pe-
cado» é a incredulidade e a recusa de Jesus; os «pecados»
referem-se às diversas formas e consequências do pecado
que é a incredulidade. A única maneira de evitar o pecado
e a morte é acreditar em Jesus, através do qual Deus en-
contra os h o m e n s e os salva. O s judeus, depois de tudo o
que Jesus disse sobre a sua divindade, fazem-lhe uma per-
gunta: «Quem és Tu?» - v. 25). Jesus responde falando do
Pai e daquilo q u e e s c u t o u do Pai (v. 26). O s j u d e u s n ã o
c o m p r e e n d e m que Jesus está a falar do Pai. Neste ponto,
Jesus orienta os seus interlocutores para o acontecimento
da cruz-ressurreição, c o m o m o m e n t o de revelação e de
140
salvação: «Quando levantardes o Filho do homem, então
sabereis que "Eu sou" e que por mim nada faço, mas falo
c o m o o Pai m e ensinou» (v. 28). Neste contexto, o verbo
«levantardes» significa não só levantar fisicamente n u m
pau, mas também glorificar, exaltar. Ambos os significados
se realizam em Jesus. Falando da sua morte na cruz, Jesus
insinua que esta morte será um evento que superará a pró-
pria morte com o triunfo do amor e da vida. Jesus não se
desencoraja com a incompreensão e a oposição, sabe que o
Pai «está com Ele» e «não o deixa só», porque Ele «faz sem-
pre o que é do seu agrado».
O versículo final do trecho assinala a adesão a Jesus de
muitos dos seus ouvintes ( « E n q u a n t o Jesus dizia estas
palavras, muitos acreditaram nele»).
Meditemos a Palavra
141
nela este amor e experimentá-lo como amor que livra do
pecado que há em mim, tenho de chegar lá com o «coração
aberto», ou seja, capaz de captar no dom de Jesus a presen-
ça de D e u s na m i n h a vida (nos m e u s p e n s a m e n t o s , nos
meus afectos, nas minhas decisões, no meu presente e no
meu futuro), disponível para me deixar guiar por Ele con-
fiadamente.
Na proximidade da Páscoa, que devo rever na minha
caminhada de fé para alcançar a celebração pascal com o
coração mais aberto a Jesus Cristo, ao seu dom?
142
Vivamos a Palavra
143
QUARTA-FEIRA
144
mentiroso e pai da mentira. 45 Por isso, não acreditais em mim,
porque vos digo a verdade. 4 "Quem de vós pode acusar-me
de p e c a d o ? Se digo a verdade, por q u e não me acreditais?
4 7 Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; vós não as es-
cutais, porque não sois de Deus» (Jo 8, 31-47).
Leiamos o texto
145
realmente livres» - v. 36). Reconhece que os seus interlo-
cutores são descendentes de Abraão; contudo, em vez de
imitar a fé de Abraão, eles opõem-se à revelação de Jesus
que «disse a verdade que ouviu de Deus». Por isso, Jesus
exorta-os a imitar as obras do seu pai Abraão («Se fôsseis
filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Vós fazeis as
obras do vosso pai» - vv. 39.41).
A nova resposta dos j u d e u s introduz a segunda arti-
culação do debate. Eles replicaram reivindicando Deus co-
m o Pai e afirmando a sua fidelidade a Deus, sem cair na
idolatria (prostituição: cf. Os 2, 4). Jesus contesta que os
seus interlocutores t e n h a m D e u s c o m o Pai, porque não
acreditam nele que diz «as palavras de Deus» («Quem é de
Deus escuta as palavras de Deus; vós não as escutais, por-
que não sois de Deus» - v. 47), acusa-os de «terem por pai
o diabo», porque se c o m p o r t a m c o m o ele, realizando as
suas obras que são o homicídio e a mentira (cf. v. 44).
Meditemos a Palavra
146
meiro fruto bom que esta m i n h a fidelidade à palavra de
Jesus produz em mim é que me torno seu discípulo, sigo-
-o, partilho com Ele as coisas que ouviu ao Pai (cf. 15,15), a
sua vida, a sua paixão pelo Evangelho, o seu amor pelos
h o m e n s . Estar com Jesus c o m o seu discípulo, c o m o seu
«amigo», leva-me a conhecer aquela verdade que me torna
livre. A verdade que conheço e que me liberta não é uma
série de afirmações sobre Deus, sobre o h o m e m , sobre o
mundo, sobre a minha vida, mas é o próprio Jesus: é Ele a
verdade que, conhecida e acolhida, me liberta do mal, que
levo e m mim e que está à m i n h a volta, da mentira que
ofusca o meu coração, desvia os meus desejos e confunde
a minha caminhada.
Na caminhada quaresmal, permaneci fiel à palavra de
Jesus? Será que me tornei mais seu discípulo e mais livre?
147
morte para a m i n h a liberdade, d e r r o t a n d o - a na ressur-
reição. Dá-me, Senhor, o teu Espírito, que é Espírito liber-
tador. Ámen.
Vivamos a Palavra
148
QUINTA-FEIRA
Leiamos o texto
149
O debate entre Jesus e os j u d e u s termina com o con-
fronto entre J e s u s e Abraão. C o m u m a fórmula solene
(«Em verdade, em verdade vos digo»), Jesus associa a es-
cuta obediente da sua Palavra («Se alguém guardar a mi-
nha palavra») o alcance da vida em plenitude («nunca verá
a morte»). De novo, os judeus entendem mal as palavras
de Jesus e põem-no em discussão («Serás Tu maior do que
o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas t a m b é m
morreram. Q u e m pretendes ser?»). Jesus responde decla-
rando que a sua grandeza («a minha glória») provém do
Pai, com quem vive em perfeita comunhão («conheço-o»),
fazendo p l e n a m e n t e a sua vontade. Depois, proclama a
sua superioridade sobre Abraão, porque ele «exultou por
ver o m e u dia; ele viu-o e exultou de alegria» (v. 56). De
facto, Deus tinha prometido a Abraão uma descendência
numerosa, da qual haveria de nascer o Messias, b ê n ç ã o
para todos os povos. E Abraão exultou de alegria por esta
perspectiva da salvação, tornando-se, desta maneira, tes-
t e m u n h a do Messias. À afirmação sarcástica dos j u d e u s
(«Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?»), Jesus
responde declarando solenemente a sua divindade («Em,
verdade, e m v e r d a d e vos digo: Antes de Abraão existir,
"Eu sou"»). Ele, atribuindo a si mesmo o nome sacrossanto
de J H W H («Aquele que é»), proclama-se Deus, o Vivente,
como o é o Senhor Deus do Antigo Testamento. Esta pro-
clamação desencadeia a reacção dos judeus, que tentam
lapidar Jesus.
No livro do Levítico estava prescrito que quem blasfe-
masse o n o m e do S e n h o r fosse lapidado (24, 16). O uso
blasfemo da parte de Jesus do nome de J H W H merece-lhe,
segundo os judeus, a pena de morte por lapidação ou ape-
drejamento.
150
Meditemos a Palavra
151
Rezemos com a Palavra
Vivamos a Palavra
152
SEXTA-FEIRA
Jesus: «Não está escrito na vossa Lei: " E u disse: vós sois deu-
ses"? 15 Se a Lei chama " d e u s e s " a quem a palavra de Deus se
dirigia - e a Escritura não pode abolir-se - , v 'de mim, que o Pai
consagrou e enviou ao mundo, vós dizeis: "Estás a blasfemar",
por Eu ter dito: "Sou Filho de Deus"!» 17Se não faço as obras de
meu Pai, não acrediteis. "Mas se as faço, embora não acrediteis
em mim, acreditai nas minhas obras, para reconhecerdes e sa-
berdes que o Pai está em mim e Eu estou no Pai.» w De novo
procuraram prendê-lo, mas Ele escapou-se das suas mãos. ""Je-
sus retirou-se novamente para além do Jordão, para o local on-
de anteriormente João tinha estado a baptizar e lá permaneceu.
"'Muitos foram ter com Ele e diziam: «É certo que João não fez
n e n h u m milagre, mas tudo o que disse deste homem era ver-
dade.» 42E muitos ali acreditaram em Jesus (Jo 10,31-42).
Leiamos o texto
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O trecho apresenta um n o v o conflito entre Jesus e os
judeus. Desenrola-se no templo, sob o pórtico de Salomão,
durante a festa da dedicação do templo (cf. vv. 22-23). A
primeira parte do debate fora provocada pela pergunta
feita pelos judeus a Jesus («Até quando nos deixarás na in-
certeza? Se és o Messias, di-lo claramente» - v. 24). A res-
posta de Jesus («Eu e o Pai somos Um» - v. 30) os judeus
reagiram com uma nova tentativa de lapidação (v. 31), in-
dicando a razão na sua blasfémia («Tu, sendo h o m e m , te
fazes Deus» - v. 33). Jesus é formalmente acusado pela pri-
meira vez de blasfémia e esta representará o motivo da
pergunta a Pilatos da sua c o n d e n a ç ã o à morte («Porque
disse que é Filho de Deus» (19, 7). Jesus prova que é Filho
de D e u s b a s e a n d o - s e , e m primeiro lugar, nas Escrituras
(«Não está escrito na vossa Lei: " E u disse: vós sois deu-
ses"?» - v. 34). A citação é extraída do salmo 82, 6. A expli-
cação dos rabinos considerava os deuses simples h o m e n s
(como os Juízes, Moisés e Jeremias), pela autoridade rece-
bida de D e u s em função de u m a missão i m p o r t a n t e a
favor do povo. Jesus, seguindo este tipo de explicação, per-
gunta-se porque é que, se alguns homens por uma função
particular são chamados deuses, não se pode chamar Filho
de D e u s àquele «que o Pai consagrou e enviou ao m u n -
do»? (v. 36). Jesus extrai a segunda prova das suas obras
(«Embora n ã o acrediteis em mim, acreditai nas m i n h a s
obras»), cuja função é precisamente a de testemunhar a
perfeita unidade entre Jesus e o Pai («para reconhecerdes
e saberdes que o Pai está em mim e Eu estou no Pai»), A
reacção dos judeus é ainda negativa: procuram prendê-lo,
mas Jesus escapa-se das suas mãos.
O trecho termina com a notícia do retiro de Jesus «para
além do Jordão», o n d e Ele tinha iniciado a sua missão e
onde, diferentemente de Jerusalém, «muitos ali acredita-
ram em Jesus».
154
Meditemos a Palavra
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Senhor Jesus, v e n h o a ti para te pedir que abras o meu
coração à tua Palavra, para que eu a acolha com confiança,
sem medos ou preconceitos, de m o d o que saiba reconhe-
cer-te c o m o fonte p e r m a n e n t e da m i n h a existência, ga-
rantia de liberdade, p r o m e s s a credível do m e u futuro.
Estou diante de ti com o d e s e j o p r o f u n d o de me sentir
amado por ti, até abandonar todos os medos e superar to-
das as incertezas em escutar o teu testemunho e em aco-
lher a tua oferta. Amen.
Vivamos a Palavra
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SÁBADO
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Leiamos o texto
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Meditemos a Palavra
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morte desenraíze do meu coração toda a forma de egoís-
m o que me e n c e r r a perante os outros ou m e põe n u m a
atitude de possessividade e de exploração. Faz com que a
tua m o r t e t r a n s f o r m e a m i n h a existência n u m acto de
amor, que se torna dedicação sem cálculos, serviço sem
medida, fraternidade generosa em dar-se até ao sacrifício
pessoal. Dá-me, Senhor, um coração grande e magnânimo
que n e n h u m a ingratidão possa fechar e n e n h u m a indife-
rença possa parar. Amen.
Vivamos a Palavra
160
índice
Apresentação 7
Q U I N T A SEMANA DA QUARESMA