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Geoecologia e Paisagem

Enfoques teórico-metodológicos
e abordagens aplicadas

Rosemeri Melo e Souza


Ana Maria Severo Chaves
Sheylla Patrícia Gomes do Nascimento
(Organizadoras)

Criação Editora
ARACAJU | 2021
SUMÁRIO

5 Informações dos autores

15 Apresentação

21 Prefácio

Parte I - Enfoques Teórico-metodológicos em Geoecologia de Paisagem


29 Paisagem e interfaces geoecológicas para o planejamento am-
biental
Ana Maria Severo Chaves
Rosemeri Melo e Souza

53 Estudos de paisagem integrada: episteme, evolução e aplicação


Ana Caroline Damasceno Souza
Fernando Eduardo Borges da Silva
Marco Túlio Mendonça Diniz

73 Geoecologia e paisagem: aplicabilidade do modelo funcional


nos ambientes litorâneos e semiáridos de Alagoas
Sheylla Patrícia Gomes do Nascimento
Edilsa Oliveira dos Santos
James Rafael Ulisses dos Santos
Rosemeri Melo e Souza

Parte II - Abordagens aplicadas ao ambiente urbano e rural


105 Geoecologia aplicada ao estudo das paisagens urbanas: impli-
cações das mudanças estruturais e funcionais nos bairros cos-
teiros de Aracaju/SE
Luana Santos Oliveira Mota
Rosemeri Melo e Souza
131 Tensões antropogênicas no município de Pacatuba-SE
Jeisiane Santos Andrade
Rosemeri Melo e Souza
Felippe Pessoa de Melo

145 Análise de degradação das Paisagens em Piranhas/AL e Araca-


ju/SE
Fernanda Monteiro
Ívia Rejane Ferreira Silva

Parte III - Abordagens aplicadas à vegetacão


173 Fitogeografia e serviços ambientais prestados pelo manguezal
do estuário do Rio Apodi-Mossoró (RN)
Diógenes Félix da Silva Costa
Yuri Gomes de Souza
Ana Caroline Damasceno Souza

195 Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conser-


vação em Sergipe, Brasil
Sindiany Suelen Caduda dos Santos
Maria do Socorro Ferreira da Silva
Rosemeri Melo e Souza

217 Mapeamento e análise da cobertura vegetal e uso do solo do


monumento natural dos cânions do subaé com o suporte das
geotecnologias
Marcelo Torres Ávila
Dante Severo Giudice
Silvana Sá de Carvalho

245 O papel dos incêndios florestais na dinâmica da paisagem do


Parque Nacional Serra de Itabaiana-SE
Ingride Natane Miguel Santos
Bartira Alves de Mel

265 Os incêndios florestais e a estrutura vertical da paisagem do


Parque Nacional da Serra de Itabaiana
Gabriel Carvalho Santos
Mayara de Santana Silva Santos
FLORESTAS DE MANGUEZAIS E OS DESAFIOS
DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
EM SERGIPE, BRASIL

Sindiany Suelen Caduda dos Santos


Maria do Socorro Ferreira da Silva
Rosemeri Melo e Souza

Introdução

Os manguezais são encontrados em 123 países no contexto


mundial e cobrem uma área estimada de 152.000km2, o equiva-
lente a menos de um por cento de toda floresta tropical (UNEP,
2014). As florestas de mangues são taxonomicamente diversas: são
70 espécies subdivididas em vinte e sete gêneros, vinte famílias,
e nove ordens, as quais compartilham um conjunto de adapta-
ções convergentes para habitats salinos e anóxicos (TOMLINSON,
1986; DUKE et al., 2007).
No que se refere à flora, das 70 espécies de mangues que se dis-
tribuem mundialmente, a maioria na Ásia e Oceania, está sob risco
de extinção e desaparecimento na próxima década, o que poderá
provocar consequências devastadoras, principalmente para as co-
munidades costeiras que sobrevivem dos recursos oferecidos pelos
manguezais (POLIDORO et al., 2010). Os autores afirmaram que 11
(16%) espécies, do quantitativo 70, qualificaram-se para uma das
três categorias da Lista Vermelha de ameaça, como criticamente em
perigo, em perigo ou vulnerável (POLIDORO et al., 2010).
No ano de 1983, Saenger et al. (1983), estimaram a distribuição
de mangues na costa brasileira em 25.000km², com diversificação
aparente. Os mangues dos estados do Amapá, Pará e Maranhão
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

possuem árvores de até 40m de altura; entre o Ceará e o Espírito


Santo, as árvores podem alcançar até 20m, e, entre o Rio de Janeiro
e Santa Catarina é possível ver manguezais de altura máxima de
10m (VANNUCCI, 2002). Apenas o estado costeiro do Rio Grande
do Sul não possui manguezal (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 2000).
Essas variações ocorrem em meio aos fatores abióticos distintos e
reguladores da dinâmica litorânea brasileira.
De modo geral, existem sete espécies de árvores de mangues no
Brasil: Rhizophora mangle L., Rhizophora harrisonii Leech, Rhi-
zophora racemosa Meyer, Avicennia schaueriana Stapf e Laechm,
Avicennia germinans (L.) L., Laguncularia racemosa (L.) Gaertn f.
e Conocarpus erectus L. (SCHAEFFER-NOVELLI et al., 1990). To-
davia, apenas as espécies A. germinans, L. Racemosa e R. mangle,
são encontradas ao longo de toda a costa brasileira, onde os man-
gues distribuem-se desde o Cabo Orange (04°21’N) até a cidade
de Laguna (28°30’S), em Santa Catarina. Configuração esta, que
fora fortemente influenciada e determinada pelas variações glá-
cio-eustáticas do nível relativo do mar (NRM), do período holocê-
nico (SOARES, 2009).
Dentre as funções socioambientais, o manguezal protege a linha
costeira; atua como barreira mecânica contra a ação erosiva das ondas
e marés; retém sedimentos carreados pelos rios; possui ação depura-
dora, atua como filtro biológico natural da matéria orgânica e como
área de retenção de metais pesados; é ambiente de concentração de
nutrientes; área de renovação da biomassa costeira; estabilizador cli-
mático (ROBERTSON, PHIILLIPS, 1995; VANNUCCI, 2002; SCAVIA et
al., 2002); barreira protetiva contra desastres naturais; provém meios
de subsistência às populações e é ambiente de valorização cultural e
estética para diversos povos (POLIDORO et al., 2010).
Consoante os autores, os manguezais são capazes de sequestrar
até 25,5 milhões de toneladas de carbono por ano e fornecer mais
do que 10% do carbono orgânico essencial para os oceanos globais.
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

Embora seja difícil quantificar o valor econômico de manguezais, o


número relativamente pequeno de espécies de mangues em todo
o mundo fornece coletivamente uma variedade de serviços e bens.
Todavia, a gama de serviços ecossistêmicos fornecidos revela-
-se comprometida por fatores naturais e principalmente antropo-
gênicos (LYMBURNER et al., 2020). Dentre os principais fatores
antrópicos causadores desta perda, vale mencionar: remoção das
áreas para desenvolvimento da agricultura, desenvolvimento ur-
bano e costeiro, aquicultura e sobre-exploração da pesca (POLI-
DORO et al., 2010). Os autores reforçam que estas duas últimas são
as maiores ameaças às espécies de manguezal dos próximos 15
anos (POLIDORO et al., 2010). O que implica dizer que os mangue-
zais estão suscetíveis às transformações decorrentes dos tensores
mencionados até o ano de 2025, e podem perder a capacidade de
resiliência neste intervalo de tempo.
Além das ameaças dos tensores antropogênicos supracita-
dos, do ponto de vista de impactos sofridos pelos manguezais, é
relevante salientar que no ano de 2019, a costa nordeste brasilei-
ra sofreu com a maior tragédia ambiental por derramamento de
petróleo da história do Brasil, com prejuízos para as florestas de
mangues ainda incalculáveis em Sergipe. De acordo com Getter
et al. (1984) e Duke e Burns (1999), os efeitos do óleo podem ser
caracterizados como agudos ou crônicos; manifestados a curto ou
de médio a longo prazo, respectivamente. Consoante Snedaker
(1985), existem três etapas de destaque da ação do óleo sobre os
manguezais, são elas: (1) asfixia mecânica; (2) toxicidade química
crônica e; (3) recuperação. A forma como o ecossistema respon-
derá irá depender da quantidade de óleo, da composição química
deste e do tempo de permanência sobre o manguezal.
Nessa perspectiva, acende-se um alerta quanto a necessidade
de refletir sobre uma legislação ambiental que garanta a manu-
tenção da biodiversidade dos serviços ecossistêmicos dos man-
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

guezais e de todos os outros ecossistemas a eles associados.


O Brasil possui um arcabouço de regulamentos e instituições
que alicerçam a conservação dos manguezais. De acordo com a
Lei brasileira de n° 12.651/12, os manguezais são reconhecidos
como Áreas de Preservação Permanente (APPs) (BRASIL, 2012). O
Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o órgão federal responsá-
vel pela política e planejamento de atividades ambientais, além de
cuidar do uso e conservação dos recursos oferecidos pelos man-
guezais. Já o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) fica responsável pela execução das
deliberações do MMA. O Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) é responsável pela criação, gerencia-
mento e monitoramento das Unidades de Conservação (UCs) de
cunho federal (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).
No que se refere aos estados e municípios que abrigam a faixa
litorânea brasileira onde ocorrem os manguezais, do Amapá até
Santa Catarina, cabem a estes apenas suplementar a legislação
federal e estadual (CANOTILHO; MORATO LEITE, 2007). Assim,
estados e municípios podem criar espaços com restrições am-
bientais mais explícitas atendendo a realidade local. Entretanto,
a criação destes espaços deve, a priori, estar submetida princi-
palmente aos requisitos estabelecidos pela ordem jurídica, no
tocante ao exercício regular da competência legislativa e ao res-
peito pelas normas determinadas pela esfera federal (NIEBUHR,
2012). Nesse ponto de vista, cabem aos órgãos estaduais de meio
ambiente a execução de políticas em suas áreas de jurisdição
(SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). Em Sergipe, esta responsabilida-
de fica a cargo da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recur-
sos Hídricos (SEMARH/SE).
Nos municípios, as políticas ambientais locais, o diagnóstico
para zoneamento ambiental e os processos de licenciamento e
fiscalização ambiental nas áreas de competência ficam por conta
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

das agências ambientais municipais, as quais integram o Sistema


Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Este é regido pelo Con-
selho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e
deliberativo de alto nível.
Apesar disso, o marco legal do novo Código Florestal abre um
precedente preocupante quando se trata das áreas de manguezal,
principalmente quando se considera que as atividades antropogê-
nicas têm sido intensificadas em todo litoral brasileiro. Segundo o
art. 8° da Lei n° 12.651/12, § 2°:

§ 2o A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em


Área de Preservação Permanente de que tratam os incisos
VI e VII do caput do art. 4° poderá ser autorizada, excepcio-
nalmente, em locais onde a função ecológica do manguezal
esteja comprometida, para execução de obras habitacionais
e de urbanização, inseridas em projetos de regularização
fundiária de interesse social, em áreas urbanas consolida-
das ocupadas por população de baixa renda (BRASIL, 2012).

Por um lado, o inciso VII, do art. 4° da referida lei, refere-se aos


manguezais em toda sua extensão, enquanto APPs. Por outro lado,
a lei não menciona a execução de trabalhos de recuperação de áreas
de manguezal quando estas demonstrarem-se ameaçadas de extin-
ção, mas sim, através do art. 8°, autoriza que novas áreas de man-
guezal sejam destruídas, caso não apresentem os elementos carac-
terizadores que definem o manguezal como APP protegida por lei:
terrenos baixos sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodo-
sas recentes ou arenosas, de solo limoso, com influência flúvio-ma-
rinha, coberto por vegetação natural de mangue (BRASIL, 2012).
Esta lacuna legislativa abre o leque de possibilidades para ex-
tinção de áreas de manguezal no Brasil e contribui para o aumento
da taxa de degradação das florestas. Os manguezais desaparecem
em uma faixa de 3,6% ao ano nas Américas por conta dos impactos
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

antropogênicos, principalmente em virtude das práticas não-sus-


tentáveis da aquicultura (DUKE et al., 2007).
E, ainda que, de acordo com o art. nº 38, Seção II, da Lei
9.605/1998, que trata dos crimes ambientais, seja proibida a
destruição ou o ato de danificar floresta considerada de preser-
vação permanente, mesmo que em formação, ou utilizar dessa
vegetação com infringência das normas de proteção (BRASIL,
1998), a fiscalização ambiental no Brasil é incipiente e acaba
permitindo que práticas danosas estressem o ambiente de ma-
neira crônica, ao ponto de comprometê-lo em sua sobrevivên-
cia. Como resultado do processo de distúrbio crônico sobre o
ecossistema, o manguezal passa a ser descaracterizado e a lei
abrirá brechas para a execução de obras habitacionais e de ur-
banização, o que, consequentemente extinguirá mais uma área
de manguezal.
Nesse contexto, a assinatura da portaria que dispõe sobre o Pla-
no de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas e
de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal - PAN
Manguezal, em 9 de janeiro de 2015 pelo presidente do ICMBio foi
um importante passo rumo a conservação dos manguezais brasilei-
ros. O objetivo geral do PAN Manguezal é conservar os manguezais,
de modo que a degradação seja reduzida e a proteção das espécies
focais do PAN sejam efetivadas, mantendo as áreas e usos tradicio-
nais, mediante a relação direta entre o poder público e a sociedade,
sem deixar de considerar o conhecimento da academia e os sabe-
res tradicionais (BRASIL, 2015) das comunidades envolvidas.
As regiões definidas como áreas estratégicas do PAN Manguezal
abrangem: a costa norte; nordeste e Espírito Santo; sudeste e sul.
Ou seja, toda a costa brasileira deverá abranger o Plano de Ação,
o qual estabelece ações de conservação para 74 (setenta e quatro)
espécies da fauna aquática dependente dos manguezais, das quais
20 (vinte) estão ameaçadas no Brasil, 9 (nove) sofrem ameaças em
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

nível regional e 45 (quarenta e cinco) são espécies de importância


socioeconômica e não ameaçadas (BRASIL, 2015). Nesta última
lista estão incluídas as espécies florísticas: A. germinans, A. schaue-
riana, C. erectus, L. racemosa, R. harrisonii e R. mangle.
Apesar das medidas, o cenário de degradação das florestas de
manguezais é uma realidade. A preocupação amplia-se na medida
em que a flora, a qual garante que o ecossistema exista, não tem
sido considerada como ameaçada e inúmeras florestas têm sido
destruídas.
Tal constatação exige que se reflita sobre o papel das Unidades
de Conservação para a proteção das florestas e consequentemente
dos serviços ecossistêmicos ofertados. Nesse sentido, este artigo
objetiva refletir acerca dos desafios para a proteção de florestas
de manguezais, especialmente aquelas inseridas em Unidades de
Conservação de domínio público em Sergipe.

1 Material e Métodos

1.1 Procedimentos Metodológicos

Quanto aos procedimentos metodológicos, este artigo foi cons-


truído com base em pesquisa documental, com análise de fontes
primárias (leis e decretos) e fontes secundárias, a partir de obser-
vação assistemática entre os anos de 2012 e 2016 realizada duran-
te trabalhos de campo de pesquisa de doutoramento da primeira
autora. A construção também se dá a partir de pesquisa bibliográ-
fica feita em revistas científicas, teses, dissertação e páginas ele-
trônicas que tratam sobre as UCs sergipanas, especialmente as de
posse e domínio públicos com informações atualizadas até o mês
de janeiro de 2021. Os resultados serão apresentados em quadro
sistematizado e as análises serão feitas com base na literatura.
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

2 Resultados e Discussão

Consoante o disposto na legislação do Sistema Nacional de Uni-


dades de Conservação (SNUC), Sergipe conta com 24 UCs criadas,
embora nem todas estejam implementadas na prática. O quadro
1 revela como as UCs de Sergipe estão organizadas conforme as
categorias estabelecidas pelo SNUC nos dois grupos previstos na
referida lei, de Uso Sustentável e de Proteção Integral.
O quadro 1 revela as 10 UCs detentoras de áreas de manguezal.
No entanto, serão abordadas apenas as Unidades de Proteção In-
tegral e de Uso Sustentável de posse e domínio públicos.
A Reserva Biológica (Rebio), Santa Isabel, o Parque Ecológico Tra-
mandaí, o Parque Natural do Poxim e o Parque Estadual Marituba
são as quatro UCs sergipanas classificadas como de Proteção Integral.
Segundo o Decreto nº 96.999 20/10/1998 que trata da criação da
Reserva Biológica de Santa Isabel, esta UC foi criada em Sergipe,
entre os municípios de Pirambu e Pacatuba, especialmente com o
propósito de proteção da fauna local, principalmente das tartaru-
gas marinhas encontradas na praia de Santa Isabel, que utilizam a
área para reprodução e está sob o gerenciamento do ICMBio.
Rebio de 2.766 hectares abrange terrenos de marinha e acresci-
dos (BRASÍLIA, 1988), o que inclui os manguezais presentes na faixa
de proteção entre os municípios de Pirambu e Pacatuba. Apesar de
tratar-se de uma UC de proteção integral, a região enfrenta proble-
máticas que afetam até mesmo a conservação dos ecossistemas.
São 45km de extensão com notáveis áreas cobertas por restingas, as
quais estão associadas aos manguezais não fiscalizados e degrada-
dos da zona de amortecimento (GOMES et al., 2006).
Consoante o SNUC, a zona de amortecimento corresponde ao
entorno da UC, onde as ações humanas encontram-se restritas às
normas e restrições específicas, pois o maior objetivo é minimizar
os impactos que interferem na unidade (BRASIL, 2000).
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

Quadro 1- Unidades de Conservação (UCs) em Sergipe


Lei/Decreto
Unidade de Conservação Administração Área/situação Localização Domínio
/Portaria
PROTEÇÃO INTEGRAL
Reserva Biológica Santa Decreto n° 96.999 Mata
Federal 2.766ha1 Pirambu e Pacatuba
Isabel* 20/10/1988 Atlântica
Decreto Municipal
Parque Ecológico de Mata
Municipal 3,6ha n° 112 Aracaju
Tramanday* Atlântica
13/11/1996
Parque Natural Municipal Decreto n° 041 Canindé de São
Municipal 278,99ha Caatinga
de Lagoa do Frio 23/10/2001 Francisco
Areia Branca, Ita- Mata
Parque Nacional Serra de Decreto n° baiana, Laranjeiras, Atlântica
Federal 7.966ha
Itabaiana 15/06/2005 Itaporanga D’Ajuda, e
Campo do Brito Caatinga
Poço Redondo,
Monumento Natural da Decreto n° 24.922
Estadual 2.183ha Canindé do São Caatinga
Grota do Angico 21/12/2007
Francisco
Refúgio da Vida Silvestre Decreto n° 24.944 Mata
Estadual 766ha Capela
Mata do Junco 26/12/2007 Atlântica
Delmiro Gouveia,
Decreto s/n° Olho d’Água do
publicado em 05 de Casado e Piranhas
Monumento Natural do
Federal 27.736,30 ha junho de /2009 - Alagoas; Paulo Caatinga
Rio São Francisco
Portaria n° 29 de Afonso – Bahia;
08/05/2009 e Canindé de São
Francisco - Sergipe.
Parque Natural Municipal Decreto nº 5.370 Mata
Municipal 173,20ha Aracaju
do Poxim* 02/08/2016. Atlântica
Barra dos Coqueiros
Parque Estadual Decreto nº 40.515 Mata
Estadual 1.754,44 ha e Santo Amaro das
Marituba* 22/01/2020 Atlântica
Brotas
USO SUSTENTÁVEL
Sem delimita-
APA da Foz do Rio Vaza-
ção territorial Lei n° 2795 Mata
-Barris – Ilha do Paraíso Estadual Itaporanda D’Ajuda
– sem imple- 30/03/1990 Atlântica
e da Paz*
mentação
Sem delimita-
ção territorial Lei n° 2825 Aracaju, Barra dos Mata
APA do Rio Sergipe* Estadual
– sem imple- 23/07/1990 Coqueiros Atlântica
mentação
50km de exten-
Itaporanga d’Ajuda,
são e 10km
Decreto n° 13.468 Estância, Santa Mata
APA do Litoral Sul* Estadual de largura do
22/01/1993 Luzia do Itanhy, Atlântica
litoral para o
Indiaroba
interior
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

Lei/Decreto
Unidade de Conservação Administração Área/situação Localização Domínio
/Portaria
Decreto n° 13.713 Mata
APA do Morro do Urubu Estadual 213,872ha Aracaju
14/06/1993 Atlântica
413,12km²
Sem Pirambu, Japoatã,
Decreto n° 22.995 Mata
APA do Litoral Norte* Estadual implementa- Pacatuba, Ilha das
09/11/2004 Atlântica
ção – fase de Flores, Brejo Grande
recategorização
Floresta Nacional do Decreto n° 19 Nossa Senhora do Mata
Federal 144,017ha
Ibura* 09/2005 Socorro Atlântica
Área de Relevante
Decreto n°30.523 Mata
Interesse Ecológico Mata Estadual 59,70ha Siriri e Capela
16/02/2017 Atlântica
do Cipó
Portaria n° 99-N
Mata
RPPN Fonte da Bica Particular 13,72ha do IBAMA de Areia Branca
Atlântica
14/09/1999
RPPN Bom Jardim (Mata
Portaria n° 102 do Santa Luzia do Mata
01) e Tapera (Mata 02,03 Particular 297,05ha
IBAMA 2006 Itanhy Atlântica
e 04)
RPPN Marinheiro (Mata Portaria n° 4 do
Santa Luzia do Mata
01 e 02) e Pedra da Urça Particular 174,26ha IBAMA
Itanhy Atlântica
(Mata 03) 10/01/2007
Portaria n° 92 do
RPPN de Lagoa Encanta- Mata
Particular 10,75ha ICMBio - DOU 222 Pirambu
da do Morro da Lucrécia Atlântica
18/11/2011 -
Portaria n° 71 do
RPPN Dona Benta e Seu Mata
Particular 23,60ha ICMBio Pirambu
Caboclo Atlântica
27/08/2010
Portaria n°4 do
Particular Mata
RPPN do Caju* 763,37ha ICMBio Itaporanga D’Ajuda
(EMBRAPA) Atlântica
17/01/2011
Portaria n° 135
do ICMBio - DOU
RPPN Pirangy Particular 13,59ha Itabaianinha Caatinga
243/2012
18/12/2012
Portaria n° 3 do
RPPN Natural Campos ICMBio - DOU
Particular 102,77ha Carira Caatinga
Novos 17/2014
20/01/ 2014
1 Medida em hectares.
*UCs que dispõe de florestas de manguezais.
Fonte: Organizado pelas autoras com base nas Leis, Portarias e Decretos de criação, 2021.
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

Apesar da clareza expressa no SNUC, a Rebio apresenta sua


zona de amortecimento com indícios de degradação. Melo e San-
tana (2013) ressaltam que se pode observar a paisagem desca-
racterizada, em meio ao uso e ocupação desordenados, além de
outras ações antropogênicas que incluem evidência de resíduos
sólidos, queimadas, extração de areia e retirada da vegetação. Es-
tes elementos antrópicos comprometem fortemente o equilíbrio
ecossistêmico dos sistemas costeiros ambientais locais e põe em
questão a não efetividade da fiscalização ambiental na zona de
amortecimento da Rebio.
Quanto ao Parque Ecológico Tramandaí, a área de mangue-
zal a ela pertencente está situada na zona sul, urbana e nobre da
capital, denominada bairro Jardins. O Parque Ecológico foi cria-
do antes mesmo do surgimento do bairro, entretanto, a medida
não foi suficiente para deter o processo de degradação do ecos-
sistema. Desde o surgimento de grupos econômicos interessados
em transformar a área em shopping, condomínios de luxo e posto
de combustível, como o foi feito. Nesse sentido, os manguezais,
salinas e alagados deram lugar às mencionadas construções que
abriram espaço para a contínua degradação na região. O antigo Ria-
cho Tramandaí que passava pela região, hoje na verdade constitui
um canal a céu aberto que lança os dejetos sem tratamento prévio
sobre a área de manguezal. Inúmeras espécies invasoras de flora
habitam o local, enquanto o que resta de L. racemosa e R. mangle
sofre com o distúrbio crônico imposto pelos impactos negativos
das ações humanas. Esta realidade aponta a ineficácia da uni-
dade de Proteção Integral referida, na área urbana e revela mais
uma das problemáticas inerentes as deficiências da gestão e do
gerenciamento das florestas de manguezais ditas como protegidas.
O Parque Natural Municipal do Poxim, foi criado em 2016 no
município de Aracaju, nos Bairros Inácio Barbosa, Farolândia e
São Conrado, com a finalidade de preservar os recursos naturais,
- 206 -
Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

garantindo a integridade dos fragmentos de manguezal e dos pro-


cessos ecológicos a eles associados. Porém, além da pressão antró-
pica em virtude da especulação imobiliária e das deficiências no
saneamento básico, tem sido palco de impactos socioambientais
devido à disposição inadequada de resíduos sólidos e efluentes
domésticos; a retirada da vegetação; aterramento do mangue; der-
ramamento de óleo; dentre outros. Essas ações trazem várias con-
sequências para a população, tais como: enchentes e alagamentos
de ruas; perda de bens dos moradores (móveis); assoreamento do
Rio Poxim; aumento da proliferação de vetores e doenças de vei-
culação hídrica; perda da biodiversidade; afeta a pesca artesanal;
dentre outras.
O Parque Estadual Marituba, localizado nos municípios de
Santo Amaro das Brotas e Barra dos Coqueiros, foi criado em 2020
com o objetivo de proteger ecossistemas costeiros de relevância
ecológica e beleza cênica, tais como: dunas; manguezais; lagoas;
e parte do aquífero Marituba. Nesse Parque, um único poço é ca-
paz de produzir um volume suficiente de água para atender uma
população de 25.000 pessoas (SERGIPE, 2020). Todavia, os impac-
tos como resultado dos tensores antropogênicos e da especulação
imobiliária são notórios, o que denota a urgência na elaboração e
implementação do Plano de Manejo para garantir a conservação
dessas florestas e dos serviços ecossistêmicos ofertados.
Vale mencionar que essas quatro UCs não possuem Plano de
Manejo, o que certamente está entre os desafios enfrentados pelos
gestores para garantir a implementação e conservação destas flo-
restas e dos serviços ecossistêmicos associados.
No que se refere às faixas de manguezal de Sergipe protegidas
por UCs de Uso Sustentável, destacam-se: a Floresta Nacional do
Ibura e as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) - APA do Litoral
Norte, APA do Rio Sergipe, APA da Foz do Rio Vaza-Barris e APA
do Litoral Sul.
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

Segundo o Art 1° do decreto DSN de 19/09/2005, que trata a


respeito da Flonai, esta foi criada com os objetivos de:

promover o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais,


a manutenção de banco de germoplasma in situ de espécies
florestais nativas, inclusive do bioma Mata Atlântica com
formações de floresta estacional semidecidual nos está-
gios médio e avançado de regeneração, em associação com
manguezal, a manutenção e a proteção dos recursos flores-
tais e da biodiversidade, a recuperação de áreas degradadas
e a pesquisa científica (BRASÍL, 2005).

Esta UC localiza-se na Rodovia BR-101-km 85, no Povoado Es-


tiva, em Nossa Senhora do Socorro, ao norte limita-se com o man-
guezal do Rio Cotinguiba, ao sul com a Ferrovia Centro Atlântica
S/A e com propriedade da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora
do Socorro. Ao leste está limitada com a faixa de domínio da Rodo-
via BR-101, do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens-
-DNER, e ao oeste, com propriedades particulares (SILVA, 2012).
A Flonai é responsável por abrigar o remanescente florestal que
mantém características biofísicas e socioambientais relevantes
para o estado de Sergipe, dentre eles o aquífero Sapucari, que fa-
vorece a captação da água para uso da sociedade para sobrevivên-
cia (SILVA, 2012). A população da Grande Aracaju (7%) e do po-
voado Estiva, na cidade de Nossa Senhora do Socorro, dependem
da captação da água realizada pela Companhia de Saneamento de
Sergipe (DESO), mas a escassez de água mostra que se deve ficar
alerta, pois apenas dois dos poços de captação estão funcionando,
complementou a autora.
Um dos grandes entraves desta UC, assim como nas outras áre-
as protegidas de Sergipe, refere-se aos impactos antropogênicos
das adjacências da Flonai. No seu entorno residem populações dos
povoados Estiva, Tabocas e Porto Grande, além disso, observa-se o
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

Gasoduto da Petrobrás, estação de tratamento de esgoto, canaviais,


fábricas de cimento, tecelagem e indústria de fertilizantes nitroge-
nados (SILVA, 2012). Entretanto, a morosidade para a aprovação do
Plano de Manejo da UC, que ocorreu somente em 2016, dificulta a
sua implementação e conservação da biodiversidade.
Sobre a categoria Área de Proteção Ambiental, a APA do Litoral
Norte foi criada com o objetivo de promover o desenvolvimento so-
cioeconômico dos municípios envolvidos (Quadro 1), especialmen-
te para as atividades que protegem e conservam os ecossistemas
ou processos fundamentais à biodiversidade, à manutenção dos
atributos ecológicos, bem como à melhoria de vida da população
submetida as condições legais impostas pela APA (SERGIPE, 2004).

Segundo o parágrafo único do Decreto n° 22.995, os objeti-


vos específicos da criação da APA consistiram em:
I. dos ecossistemas estuarinos, dunares e de áreas úmidas,
bem conservados e monitorados;
II. da atividade pesqueira desenvolvida de forma susten-
tável;
III. da comunidade ambientalmente conscientizada;
IV. da proteção e recuperação da Mata Atlântica e de seus
ecossistemas associados;
V. da disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos sub-
terrâneos e superficiais;
VI. da diversificação das atividades econômicas e sociais,
voltadas especialmente para o turismo ecológico;
VII. do desenvolvimento sustentável da área (SERGIPE,
2004).

De acordo com a Lei nº 2825 de 23/07/1990, a APA do Rio Sergi-


pe foi criada como área de especial proteção ambiental para todo
o trecho do rio Sergipe, que serve de divisa entre os municípios
de Aracaju e Barra dos Coqueiros. Nesta área de domínio de Mata
Atlântica também é possível encontrar manguezais que necessi-
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

tam de maior atenção. Desde a criação da APA até os dias atuais, a


região não deixou de ser alvo de impactos ambientais, sendo um
deles a ponte “Construtor João Alves”, que liga a cidade de Aracaju
ao município de Barra dos Coqueiros, construída no ano de 2006.

Quanto à APA da Foz do Rio Vaza Barris, esta abrange a ilha


localizada na foz do rio que leva o nome da APA, denomi-
nada Ilha do Paraíso e a foz do Rio Santa Maria, situada em
frente ao povoado Mosqueiro, chamada Ilha da Paz. Con-
forme a Lei n° 2.795 de 30 de março de 1990, devem ser ve-
dadas:
I. A instalação de qualquer obra de natureza permanente,
tais como edificações, cercas ou muros;
II. Qualquer utilização que impliquem modificação das ca-
racterísticas geomorfológicas ou de sua gênesis, bem como
de sua cobertura vegetal nativa (SERGIPE, 1990).

Todavia, tanto a APA do Rio Sergipe, como a APA do Rio Vaza


Barris, pelos conflitos da sua criação, a exemplo da inexistência
de memorial descritivo, da ausência de consulta pública e da no-
menclatura distinta daquelas indicadas pelas categorias do SNUC,
estão em fase de recategorização. É essencial frisar que há regis-
tros sobre o andamento do processo de criação da Reserva de De-
senvolvimento Sustentável (RDS) Foz do Rio Vaza-Barris, a qual
contemplará trechos de Mata Atlântica dos municípios de Aracaju,
Itaporanga D’ajuda e São Cristóvão (DESTAQUE NOTÍCIA, 2016).
Já a APA do Litoral Norte está aguardando regulamentação
(SILVA, 2012), ou seja, se passaram dez anos da pesquisa realizada
pela autora, e infelizmente, a situação ainda não foi resolvida.
Considerando o desenvolvimento socioeconômico na área do
litoral decorrente da implantação da Rodovia SE/100 – SUL, bem
como o patrimônio natural formado pelos ecossistemas de man-
guezais, áreas estuarinas, dunas, restingas, lagoas e outras fitofi-
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

sionomias de valor paisagístico, o governo do estado de Sergipe


criou no ano de 1993, a APA do Litoral Sul de Sergipe (SERGIPE,
1993). A APA, está limitada ao sul pela margem esquerda do Rio
Real, no limite com o estado da Bahia, ao norte pela margem direi-
ta do Rio Vaza-Barris, ao leste pelo Oceano Atlântico e ao oeste por
uma linha distante 10Km dos pontos de preamar média de 1831,
consoante o decreto supracitado.
Contudo, a APA só teve seu processo de implementação inicia-
do no ano de 2009, quando a Secretaria de Meio Ambiente e Re-
cursos Hídricos (SEMARH) definiu os contornos da UC. Isso indica
que durante 16 anos de intervalo entre a criação e implementação
a APA foi marcada pelo desenvolvimento de atividades socioeco-
nômicas de forma desenfreada, tanto no perímetro interno da UC
como em seu entorno (SILVA; MELO e SOUZA, 2010). Ademais,
nas análises das autoras, os quase 20 anos de não implementação
implicou na ampliação de conflitos territoriais que giraram em
torno da posse das paisagens exibidas pelas praias mais atrativas
do litoral sergipano, como é o caso das praias da Caueira, no mu-
nicípio de Itaporanga D’ Ajuda, do Abaís e do Saco, em Estância.
A APA do Litoral Sul abriga os manguezais presentes na bacia
mais produtiva do estado (SERGIPE, 1984), por onde passam os
rios formadores do Complexo estuarino Real-Piauí-Fundo, no li-
mite dos estados de Sergipe e Bahia.
De maneira incomum, todas as UCs, tanto de Proteção Inte-
gral, como de Uso Sustentável, sofrem com distúrbios crônicos em
decorrência de impactos negativos. No caso das APAs, Silva (2012)
afirmou que os maiores problemas estão associados ao desma-
tamento relacionado ao desenvolvimento de atividades ligadas à
agropecuária e ao turismo. As APAs do Litoral Norte e do Sul do
estado merecem destaque quanto à intervenção do turismo não
sustentável relacionado à especulação imobiliária. Consequente-
mente, complementou a autora, comunidades pesqueiras sofrem
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Sindiany Suelen C. dos Santos; Maria do Socorro F. da Silva; Rosemeri Melo e Souza

com a perda das áreas de extrativistas e da biodiversidade de que


dependem para sobreviver.
Tão grave quanto a existência de tensores e impactos ambien-
tais capazes de destruir as florestas de manguezais e o ecossiste-
ma como um todo é a morosidade para se efetivar uma política
séria de conservação através das Áreas Protegidas. Boa parte das
UCs que abrigam manguezais em Sergipe não dispõe de plano de
manejo. Este fator, em meio aos desafios para a gestão ambiental
das UCs, associado às falhas da política de fiscalização, amplia os
riscos de degradação dos manguezais.

Considerações finais

A natureza fez do emaranhado de raízes do gênero Rhizophora


e do tapete de pneumatóforos dos gêneros Laguncularia e Avicen-
nia, o habitat de muitas espécies da fauna aquática. A calmaria e
a riqueza singular do manguezal fornecem o suporte físico neces-
sário para as espécies aquáticas que precisam deste sistema am-
biental para reproduzir-se, abrigar-se, alimentar-se e sobreviver
em meio à dinâmica e competição dos mares e rios. Não menos
importante, é essa biodiversidade que mantém vivas as comuni-
dades tradicionais pesqueiras por gerações.
Embora os manguezais sejam considerados por lei como APPs
e parte de suas florestas estarem incluídas em UCs, no litoral ser-
gipano, observam-se vários tensores antropogênicos que compro-
metem a sua conservação e a manutenção dos serviços ecossistê-
micos prestados gratuitamente.
Dentre os impactos socioambientais estão: retirada da vegeta-
ção; aterramento de manguezais; ocupação desordenada; efeitos
adversos da carcinicultura; disposição inadequada de resíduos
sólidos e efluentes domésticos; derramento de óleo por embar-
cações ou por acidentes; extração de areia; dentre outros. Esses
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Florestas de manguezais e os desafios das unidades de conservação em Sergipe, Brasil

impactos refletem as deficiências na gestão e implementação das


UCs, como exemplo, a demora para a elaboração do Plano de Ma-
nejo, como é o caso da APA do Litoral Sul, criada há 28 anos e ain-
da sem o instrumento aprovado.
É oportuno encerrar reforçando que, para avançar na proteção
dos manguezais, faz-se necessário priorizar os preceitos estabele-
cidos nos instrumentos legais de modo a garantir a sua conserva-
ção em consonância com os anseios das comunidades tradicio-
nais que vivem nessas áreas.

Agradecimentos

À Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do


Estado de Sergipe (FAPITEC).

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