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INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
Dissertação de Mestrado
Goiânia
2017
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UFG
TERMO DE CIENCIA E DE AUTORIZAÇAO PARA DISPONIBILIZAR
VERSÕES ELETRÔNICAS DE TESES E DISSERTAÇÕES
NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG
Ciente e de acordo·
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Assinatura do(a) orientador(a)2 Data: r26.._/ SEi_/ �g/
1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão
deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão
disponibilizados durante o período deembargo.
Casos de embargo:
- Solicitação de registro de patente;
- Submissão de artigo em revista científica;
- Publicação como capítulo de livro;
- Publicação da dissertação/tese em livro.
2 A assinatura deve ser escaneada.
Versão atualizada em setembro de 2017.
Maria Eugênia de Oliveira Ferreira
Goiânia
2017
iii
iv
v
Dedico este trabalho a Sandra Regina Longhin,
extraordinária.
vi
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Ana e Lázaro, para os quais moral e ética são os verdadeiros valores de um ser
humano.
Ao meu irmão Léo, que se mostra fiel aos seus sonhos e dedicado. Um bom exemplo.
À minha amiga Jéssica Monteiro, palavras não descrevem sua importância e valor em minha
vida.
À minha querida amiga Ana Paula, que com sua sabedoria e ternura de mãe me acolhe e
aconselha, sempre que necessário, durante essa jornada.
Aos meus amigos Johnathan e Anderson, que apesar de não se conhecerem são muito parecidos,
e que tanto me ajudaram e auxiliaram. Não por acaso.
Ao professor Dr. Elias Yuki Ionashiro, pelo apoio nos cálculos e paciência demonstrada.
À Letícia Nascimento, Mayara Vieira e Carolina Fantt, que durante as disciplinas obrigatórias
me acolheram em seu grupo de estudo, pela parceria e por todos momentos de descontração
nesses dois anos.
À Ingryd Garcia. Nós entramos nessa empreitada juntas e juntas seguimos até o fim. Obrigada
por sempre acreditar que era possível, me incentivar e me ouvir.
vii
À todas as pessoas que passaram pela minha vida para me ensinar um pouco sobre a paciência,
o amor e resignação.
Muito obrigada.
viii
Eu aprendi que para se crescer como pessoa é
preciso me cercar de gente mais inteligente do que
eu.
Shakespeare
ix
RESUMO
x
ABSTRACT
Heavy petroleum fractions, especially the vacuum residue, concentrate the largest amounts of
nitrogen compounds. Such compounds are considered contaminants of the refining process, and
interfere in the conversion steps to obtain lighter derivatives from the heavy fractions. In this
study, the aim was to evaluate the removal of nitrogen compounds by adsorption process.
Quinoline solution solubilized in toluene was used as a synthetic filler. Commercial activated
carbons from coconut shell of babaçu and dendê in their original form and chemically modified
with concentrated solutions of nitric and sulfuric acid, as well as sulfonated carbon developed
from the rice husk, were evaluated for the adsorption capacity against compounds nitrogen
residues present in the vacuum residue and synthetic charge. The textural characteristics of the
adsorbents were also evaluated, in which it was observed that the modification with acid
reduces the specific area of the activated carbons, but it promotes an increase in the removal of
quinoline from the medium. From the preliminary batch adsorption test, the activated carbon
from dendê treated with sulfuric acid (CDAS) was able to remove 67.08% of the quinoline
present in the solution and was selected for kinetic and equilibrium study. The adsorption
kinetics of quinoline were relatively fast for the three concentrations studied (500, 2000, 5000
mg L-1), reaching equilibrium after 240, 120 and 60 minutes of contact, respectively. The kinetic
data for the three systems fit the pseudo-second order model better. The equilibrium data were
better adjusted to the Freundlich model, revealing the physisorption character of adsorptive
process. The maximum adsorption capacity obtained by Langmuir model was 56.63 mg g-1.
The results show that CDAS is a promising adsorbent for the removal of quinoline in organic
medium. In relation to the vacuum residue sample, batch adsorption tests were conducted in
such a way to ascertain the efficiency in class N removal. The results of Mass Spectrometry,
ESI (±) Orbitrap MS, showed that the adsorbents CBB and CBAN were more selective in the
removal of the non-basic nitrogen compounds, while the basic nitrogenous ones were more
persistent and were not removed by any of the adsorbents tested.
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Matriz energética (a) mundial (IEA, 2014) e (b) brasileira (MME, 2014)..........04
Figura 2.7 – Classificação das isotermas de adsorção segundo Brunauer et al. (1938)............16
Figura 3.1 – Aspecto visual do sistema de contato direto, com refluxo, para obtenção do carvão
sulfonado...................................................................................................................................29
Figura 4.5 – TG/DTA para o carvão de dendê tratado com H2SO4 antes (CDAS) e depois
(pCDAS) do teste inicial em adsorção.......................................................................................49
xii
Figura 4.6 – (a) Representação da molécula de quinolina (b) estrutura tridimensional da
molécula de quinolina................................................................................................................50
Figura 4.8 – Espectro de RMN ¹H (500 MHz, DMSO – d6) obtido para a quinolina (a) completo
(b) expandido.............................................................................................................................52
Figura 4.9 – Espectro de RMN ¹H (500 MHz, DMSO – d6) obtido para a quinolina antes e
após o teste inicial em adsorção (item 3.2.5) com o adsorvente CDAS....................................53
Figura 4.10 – Cinética de adsorção da quinolina em CDAS para concentrações iniciais de (a)
500 mg L-1 (b) 2000 mg L-1 (c) 5000 mg L-1 e os respectivos ajustes aos modelos não
linearizados de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem.............................................56
Figura 4.11 – Dados experimentais para adsorção de quinolina em CDAS e seu ajuste em
diferentes modelos (30 °C, 150 rpm, 24 h)................................................................................58
Figura 4.12 – Distribuição relativa das classes de compostos obtidos na análise por ESI (±)
Orbitrap MS após os ensaios de adsorção em diferentes
adsorventes................................................................................................................................62
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.2 – Dados obtidos a partir do Método de Boehm e do Ponto de Carga Zero..............44
Tabela 4.3 – Análise elementar dos adsorventes antes e após a o teste inicial em adsorção.....47
Tabela 4.5 – Parâmetros cinéticos calculados a partir dos ajustes dos modelos não linearizados
de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem aos dados experimentais........................57
Tabela 4.6 – Parâmetros dos diferentes modelos para a adsorção de quinolina em adsorvente
CDAS........................................................................................................................................59
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BET – Brunauer–Emmett–Teller
BJH – Barrett-Joyner-Halenda
CA – Carvão ativado
CBAN – Carvão ativado de casca de babaçu modificado quimicamente com ácido nítrico
CBAS – Carvão ativado de casca de babaçu modificado quimicamente com ácido sulfúrico
CDAN – Carvão ativado de casca de dendê modificado quimicamente com ácido nítrico
CDAS – Carvão ativado de casca de dendê modificado quimicamente com ácido sulfúrico
HDN – Hidrodenitrogenação
MS – Espectrometria de massas
RV – Resíduo de vácuo
TG – Termogravimetria
TMS - Tetrametilsilano
xvi
NOMENCLATURA DE SÍMBOLOS
q exp
j ,max Concentração máxima na fase sólida no equilíbrio obtida experimentalmente
(mg g-1)
q mod
j Concentração na fase sólida no equilíbrio calculada pelo modelo (mg g-1)
qexp
j Concentração na fase sólida no equilíbrio obtida experimentalmente (mg g-1)
𝑞̅𝑒𝑥𝑝,𝑖 Concentração média de quinolina na fase sólida para os dados experimentais (mg
g-1)
Da Dalton
m Massa
Ø Diâmetro
P Pressão
P0 Pressão de saturação
r2 Coeficiente de correlação
t Tempo
V Volume
xviii
Vb Volume gasto na titulação do branco
δ Deslocamento químico
xix
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
xx
3.2.3.4 Determinação do ponto de carga zero (pHPCZ) ......................................... 31
3.2.3.5 Determinação dos grupos superficiais do carvão ..................................... 32
3.2.3.5.1 Grupos básicos ................................................................................... 32
3.2.3.5.2 Grupos ácidos .................................................................................... 33
3.2.3.6 Análise Termogravimétrica (TG) e Análise Térmica Diferencial (DTA) 33
3.2.3.7 Análise elementar ..................................................................................... 34
3.2.4 Caracterização do adsorvato ..................................................................................... 34
3.2.5 Testes preliminares em adsorção .............................................................................. 35
3.2.6 Obtenção dos dados cinéticos................................................................................... 35
3.2.7 Obtenção dos dados de equilíbrio em batelada ........................................................ 36
3.2.7.1 Identificação dos parâmetros dos modelos matemáticos propostos ......... 36
3.2.8 Ensaios de adsorção em batelada do resíduo de vácuo ............................................ 37
3.2.9 Análise por ESI (±) Orbitrap MS............................................................................. 37
4.6 Análise da adsorção em batelada do resíduo de vácuo por ESI (±) Orbitrap MS ........... 61
5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 64
6 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 66
xxi
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, parte significativa das reservas de petróleo descobertas no mundo
consiste de óleo pesado de baixo grau API (< 20º). Estes óleos dão origem a uma maior
quantidade de frações pesadas, de menor valor agregado, em detrimento dos derivados leves.
De uma maneira geral, as unidades de refino foram se adaptando à necessidade de produzir
cortes de maior valor agregado a partir das frações mais pesadas, apresentando crescentes
investimentos para o desenvolvimento de tecnologias voltadas para seu processamento e
aproveitamento eficiente.
Dois tipos de resíduos são produzidos durante os processos de refino: o atmosférico,
obtido na torre de destilação atmosférica; e o resíduo de vácuo, fração mais pesada e que possui
maior ponto de ebulição, obtida na torre de destilação a vácuo. Estimativa feita por Sahu et al.
(2015) revela que, até hoje, aproximadamente 725 milhões de toneladas de resíduos de petróleo
foram aprimorados ou convertidos por meio de diferentes processos, em todo o mundo.
A presença de compostos nitrogenados, encontrados majoritariamente nas frações mais
pesadas, e consequentemente no resíduo de vácuo, representam um problema para o refino.
Mesmo estando presentes em baixas quantidades, os compostos nitrogenados básicos (classe
nitrogenada predominante no petróleo brasileiro) são conhecidos por terem um efeito inibitório
nos catalisadores utilizados nos processos de conversão do petróleo.
No petróleo, os compostos nitrogenados ocorrem, normalmente, em moléculas de
elevada massa molecular (~400 Da) contendo outros heteroátomos. No entanto, compostos de
média e pequena massa molecular, com estruturas bem definidas, como a quinolina, são
amplamente encontrados no refino de petróleo (AHMED; AHMARUZZAMAN, 2016). A
quinolina é classificada como um nitrogenado básico termicamente estável, cuja concentração
aumenta consideravelmente com o aumento do ponto de ebulição das frações.
Dessa maneira, as frações mais pesadas do petróleo necessitam passar por um pré-
tratamento, a fim de remover os compostos nitrogenados antes dos processos catalíticos, e assim
minimizar os efeitos negativos da presença de tais contaminantes (HAN et al, 2015).
Atualmente, o tratamento convencional utilizado para redução do teor de nitrogênio em
diferentes cargas nas refinarias é a hidrodenitrogenação (HDN). A HDN, no entanto, utiliza
condições extremas de operação, como alta temperatura e pressão e é considerada por alguns
1
autores como sendo de baixa eficiência e alto custo (HERNÁNDEZ-MALDONADO; YANG,
2004; WEN et al. 2010).
Alternativas têm sido estudadas para substituir ou até complementar o tratamento já
existente para a diminuição de nitrogenados. O carvão ativado (CA) é um adsorvente eficaz,
que apresenta elevada capacidade de adsorção para vários compostos orgânicos,
principalmente, porque possui uma estrutura de poros altamente desenvolvida, elevada área
superficial, baixa densidade e alta resistência química. A alta capacidade de adsorção do carvão
ativado também está relacionada com suas propriedades químicas. Sabe-se que a superfície do
CA é essencialmente não polar, no entanto certa polaridade pode ser desenvolvida por meio de
sua oxidação com ar ou com soluções de ácido nítrico, ácido sulfúrico, peróxido de hidrogênio,
entre outros (RODRÍGUEZ-REINOSO; MOLINA-SABIO, 1998). Esta prática usual visa
aumentar os grupos superficiais presentes no carvão, aumentando sua especificidade e poder de
adsorção.
A superfície química dos carvões ativados possui tanto grupos funcionais considerados
ácidos como básicos. As superfícies ácidas são caracterizadas pela presença de grupos
carboxílicos, fenólicos, lactônicos, anidridos e peróxido. Feng et al. (2015) observaram que a
disponibilidade de tais grupos superficiais oxigenados à quinolina (solubilizada em meio
aquoso) são importantes no desempenho do processo de adsorção. Almarri et al. (2009)
avaliaram a adsorção de compostos nitrogenados básicos por diferentes carvões ativados em
diesel. Os autores observaram que a presença dos grupos funcionais contendo oxigênio
contribuem mais na adsorção de tais contaminantes do que a porosidade e a área específica do
material. Li et al. (2011) comprovaram que os grupos carboxílicos presentes na estrutura dos
CA foram os maiores responsáveis pela adsorção dos compostos nitrogenados.
Apesar dos diversos estudos envolvendo a adsorção de contaminantes nitrogenados em
diferentes frações do petróleo (BU et al., 2011; HAN; LIN; ZHENG, 2015; LAREDO et al.,
2016; MAMBRINI et al., 2013; MISRA et al., 2016), principalmente em gasolina e diesel, sua
utilização para derivados mais pesados, em especial o resíduo de vácuo, ainda é pouco
investigada e, por isso, de grande interesse.
Dentro deste contexto, este trabalho é dedicado à avaliação de carvão sulfonado e de
carvões ativados tratados quimicamente no processo de adsorção de compostos nitrogenados
básicos. Para tanto, foram enumerados os seguintes objetivos específicos:
Sintetizar/obter carvão sulfonado de baixo custo a partir da casca de arroz;
2
Modificar quimicamente a superfície dos carvões comerciais com soluções
concentradas de ácido sulfúrico e ácido nítrico;
Caracterizar os adsorventes por meio de técnicas físico-químicas como
adsorção/dessorção de N2; espectroscopia no infravermelho, método de Boehm, ponto
de carga zero, termogravimetria (TG/DTA) e análise elementar CHN;
Caracterizar o adsorvato por meio de técnicas como Espectroscopia no Infravermelho e
Ressonância Magnética Nuclear;
Realizar testes preliminares de adsorção visando determinar o melhor dentre os
adsorventes testados;
Obter a cinética de adsorção do sistema;
Obter e avaliar os dados de equilíbrio, por meio das isotermas de adsorção;
Avaliar a remoção de compostos nitrogenados advindos de amostras de resíduo de
vácuo, utilizando o processo de adsorção em sistema batelada, por ESI (±) Orbitrap MS.
3
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Petróleo
O petróleo é definido pela American Society for Testing and Materials (ASTM) como
“Uma mistura de ocorrência natural consistindo, predominantemente, de hidrocarbonetos e
derivados orgânicos sulfurados, nitrogenados e oxigenados, a qual é ou pode ser removida do
subsolo no estado líquido”. Normalmente, apresenta-se como um líquido escuro, oleoso, onde
micelas e ou outros agregados moleculares de diferentes tamanhos e composição são
encontrados (BARKER, 1985; FARAH, 2002; MURGICH et al., 1996).
O petróleo possui notável aplicação como fonte de energia primária. A International
Energy Agency (IEA, 2014), indica que, de todas as fontes primárias de energia presentes na
matriz energética mundial, 31,40% do total da energia é gerada a partir do petróleo, sendo
considerado a principal fonte de energia do mundo, como mostra a Figura 2.1.a. No Brasil, tal
dependência é ainda maior, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME, 2014), o petróleo
é responsável por mais de 39% da matriz energética do país, conforme os dados da Figura 2.1.b.
Figura 2.1 - Matriz energética (a) mundial (IEA, 2014) e (b) brasileira (MME,2014).
4
petróleo é composto essencialmente por carbono (83 a 87% em peso), hidrogênio (11-14%),
enxofre (0,6 a 8%), nitrogênio (0,11 a 1,7%), oxigênio (0,1 a 2%) e traços de outros elementos
(ex.: níquel, vanádio, etc.).
Apesar da pequena variação da composição elementar dos petróleos, suas propriedades
físicas e termodinâmicas variam significativamente de acordo com a proporção dos diferentes
tipos de compostos presentes no mesmo. Estes compostos podem ser divididos em duas
grandes classes: os hidrocarbonetos (sejam eles parafínicos, naftênicos e aromáticos), e não
hidrocarbonetos, compostos por resinas, asfaltenos e contaminantes orgânicos sulfurados,
oxigenados, nitrogenados e organometálicos (SPEIGHT, 2014).
Pode-se ter petróleos muito fluidos e claros, que dão origem a grandes quantidades de
destilados leves, até petróleos muito viscosos e escuros com grandes quantidades de destilados
pesados. Aos componentes mais viscosos e pesados correspondem moléculas contendo grande
número de átomos de carbono, enquanto que os componentes mais leves e voláteis apresentam
número menor de átomos de carbono, formando cadeias menos longas (THOMAS, 2001;
SPEIGHT, 2014).
Desta forma, os diferentes petróleos podem ser classificados de acordo com a sua
densidade. Este sistema foi instituído a partir das normas do American Petroleum Institute e
ganhou a denominação de grau API. Quanto maior for a densidade do petróleo, menor será o
grau API e mais pesado será o petróleo. O API é um índice adimensional e o petróleo pode ser
identificado como leve, médio, pesado e extrapesado, como mostrado na Tabela 2.1. É chamado
de petróleo leve quando contém quantidades menores de compostos parafínicos e petróleo
pesado quando ocorre uma grande presença de compostos parafínicos e aromáticos. Petróleos
com maior grau API possuem maior valor no mercado (MACHADO, 2012).
5
No Brasil, o petróleo produzido é composto por 67 correntes predominantes. No ano de
2015, aproximadamente 24% destas correntes apresentaram petróleos com densidade média
inferior a 22 graus API (ANP, 2016). Petróleos mais pesados têm menor rendimento em
derivados leves, como a gasolina, a nafta e a querosene. Isso tem resultado na instalação de
nova capacidade de conversão nas refinarias, inclusive no Brasil, para ampliar o rendimento de
derivados leves a partir de petróleos pesados e revalorizar os petróleos pesados no mercado
internacional (CAMPOS, 2012).
O petróleo em seu estado natural possui um valor limitado. Uma série de etapas de
processamento industrial complexos e caros são necessários para converter petróleo bruto em
produtos derivados de ampla aplicação comercial. Estas etapas de processamento constituem
juntas, uma refinaria de petróleo. Cada refinaria é diferente e, desta forma, as estapas escolhidas
irão depender do petróleo que esta sendo processado e as especificações exigidas dos produtos
que serão produzidos (CLEWS, 2016).
As refinarias modernas incorporam operações tais como: a de separação, processo físico
na qual ocorre a divisão do petróleo em frações com diferentes intervalos de destilação; a
conversão, processo químico utilizado para a produção dos derivados, usualmente por alteração
do esqueleto carbônico ou da função química dos componentes; e por fim, o acabamento, que
envolve as etapas de purificação para a remoção ou transformação dos contaminantes (AITANI,
2004). A Figura 2.2 apresenta um esquema típico de uma refinaria de alta conversão.
6
Figura 2.2 - Diagrama esquemático de uma refinaria de alta conversão.
O processo físico mais importante em uma refinaria é a destilação, realizada nas torres
de destilação atmosférica e de vácuo. A destilação envolve a separação do petróleo em frações
mais leves, de acordo com os diferentes pontos de ebulição de cada fração. Aqueles
componentes que inicialmente não são passíveis de serem destilados na torre de destilação
atmosférica, constituem o resíduo atmosférico. O resíduo da destilação atmosférica serve de
carga para a unidade de destilação a vácuo. Por meio da destilação a vácuo, que opera em
menores pressões é possível obter gasóleo leve, gasóleo pesado e um produto residual, o resíduo
de vácuo (CARDOSO, 2005).
Os demais processos de refino visam principalmente a melhoria das várias correntes
provenientes das unidades de destilação, e a obtenção de misturas de hidrocarbonetos de maior
7
interesse econômico. Para tanto, reações químicas são promovidas mediante a ação conjugada
da temperatura e da pressão, na presença do meio reacional conveniente. Estes processos
geralmente utilizam catalisadores e são de elevada rentabilidade, principalmente quando
transformam frações de baixo valor comercial (gasóleo de vácuo e resíduos) em outras de maior
valor agregado (GLP, naftas, querosene, óleo diesel, lubrificantes ou petroquímicos básicos)
(BRASIL et al., 2011).
Os processos químicos mais importantes, começando com aqueles que lidam com as
correntes de refino mais leves, são apresentados a seguir:
Alquilação: O objetivo desse processo é produzir gasolina de alta octanagem a
partir de componentes presentes no GLP.
Reforma: O processo também visa produzir gasolina de maior índice de
octanagem, nesse caso, a partir de frações líquidas de baixa octanagem, como a
nafta.
Craqueamento térmico, catalítico e hidrocraqueamento: Os vários processos de
craqueamento da refinaria visam a obtenção de produtos mais leves a partir dos
componentes mais pesados, reduzindo o tamanho das moléculas.
Coqueamento: Processo que visa a valorização econômica dos óleos pesados.
Isto é conseguido expondo o resíduo de destilação a vácuo a alta temperatura
durante longos períodos de tempo. Este tratamento produz coque e uma
variedade de componentes mais leves.
8
sua vez, pode ser incorporado ao gasóleo de vácuo e ambos seguirem para uma unidade de
craqueamento catalítico fluidizado (FCC) a fim de serem convertidos em gasolina e GLP
(MACHADO, 2011).
O resíduo de vácuo pode também ser misturado com diluentes para produzir óleo
combustível. A terceira opção é ser um afluente da unidade de coqueamento retardado, em que
os produtos finais são coque, nafta, gasóleo leve e gasóleo pesado (Figura 2.2). A nafta e os
gasóleos podem ser reprocessados para originar derivados de maior valor comercial
(MACHADO, 2011).
Todavia, diversos estudos relatam que a presença de compostos contendo nitrogênio,
encontrados em maior quantidade principalmente no gasóleo de vácuo e no resíduo de vácuo,
interfere nos processos de conversão, diminuindo sua eficiência, devido a inativação dos
catalisadores utilizados (DONG, et al. 1997; XIAOBO et al., 2014; ZHANG et al., 2013).
9
expressivamente com o aumento do ponto de ebulição (BRASIL et al., 2011). Por esta razão,
são encontrados majoritariamente nas frações mais pesadas. Na Figura 2.4 é ilustrado tal
aumento para petróleos com diferentes graus API, sendo três deles nacionais (Cabiúnas, Marlim
e Urucu).
10
Figura 2.5 - Exemplos de compostos nitrogenados comumente encontrados no petróleo.
Os compostos nitrogenados básicos podem adsorver fortemente nos sítios ácidos dos
catalisadores utilizados no processo de refino do petróleo, ocasionando o envenenamento dos
sítios ativos. Por outro lado, os compostos nitrogenados não-básicos formam gomas de
polimerização que obstruem queimadores e injetores de unidades de processamento de petróleo
(LIU; NG, 2010; ZHANG et al., 2010). Além disso, a presença de compostos heterocíclicos
nitrogenados influencia a estabilidade dos combustíveis durante a estocagem. Os compostos
nitrogenados são ainda considerados precursores de agentes que causam poluição ambiental
(NOx e N2O) ao serem queimados como combustíveis (OLIVEIRA, 2004).
Historicamente, os compostos contendo nitrogênio têm sido removidos em um processo
denominado hidrodenitrogenação (HDN), na presença de hidrogênio em excesso, e condições
de alta temperatura e pressão (HERNANDEZ-MALDONADO, YANG, 2004). No entanto, a
HDN é relatada por Wen et al. (2010) como sendo de baixa eficiência por ser necessário alta
energia na quebra da ligação N-C. Além disso, segundo Anisuzzaman et al. (2014), o custo da
HDN tem aumentando rapidamente devido ao aumento da concentração de compostos
nitrogenados em combustíveis fósseis.
Outra maneira de se remover nitrogenados é utilizando o processo de adsorção.
Adsorventes e trocadores iônicos comerciais como o carvão ativado, a alumina ativada e as
zeólitas têm sido estudados na remoção de compostos contendo nitrogênio (YANG, 2003). Os
pesquisadores Wen et al. (2010) avaliaram a adsorção por carvão ativado como alternativa para
remoção de compostos heterocíclicos de nitrogênio em combustíveis modelos de diesel, óleos
de reciclo leves e de óleo de xisto. Os resultados mostraram que o carvão ativado possui boa
capacidade de adsorção para tais contaminantes.
11
2.2. Adsorção
Significante somente a
Possível em uma gama extensa
Faixa de temperatura temperaturas relativamente
de temperaturas.
baixas.
(𝐶0 −𝐶𝑡 )𝑉
𝑞𝑡 = (1)
𝑚
𝑑𝑞
= 𝑘1 (𝑞𝑒𝑞 − 𝑞𝑡 ) (2)
𝑑𝑡
A taxa de adsorção, segundo esse modelo pode ser determinada de acordo com a
Equação 4,
14
𝑑𝑞 2
= 𝑘2 (𝑞𝑒𝑞 − 𝑞𝑡 ) (4)
𝑑𝑡
na qual k2 representa a constante cinética de segunda ordem (g mg-1 min-1). Integrando nas
mesmas condições da Equação 3, tem-se a equação apresentada na forma da Equação 5,
𝑞𝑒𝑞 2 𝑘2 𝑡
𝑞𝑡 = (5)
(𝑞𝑒𝑞 𝑘2 𝑡+1)
15
Figura 2.7 - Classificação das isotermas de adsorção segundo Brunauer et al., (1938).
16
classificação da IUPAC para isotermas de adsorção engloba quatro tipos de histerese,
designados como H1, H2, H3 e H4. Estes tipos são ilustrados na Figura 2.8.
Dois tipos diferentes de estrutura mesoporosa são característicos dos tipos H1 e H2.
Enquanto o tipo H1 é representativo de um adsorvente com uma estreita distribuição de poros
relativamente uniforme, o tipo H2 está associado com uma estrutura mais complexa, no qual a
distribuição do tamanho de poro e a forma não estão bem definidas. Os tipos H3 e H4 não
exibem qualquer adsorção limitante em altas pressões relativas. Evidência clara de que os
adsorventes não possuem estruturas mesoporosas bem definidas (AMGARTEN, 2006).
Em 1960, Giles et al. propuseram um sistema de classificação de isotermas para
adsorção agora em fase líquida, conforme apresentado na Figura 2.9. As isotermas foram
divididas em quatro classes principais de acordo com a inclinação inicial (S, L, H e C) e cinco
subgrupos (1, 2, 3, 4 e mx), baseados nas formas das partes superiores da curva.
17
Figura 2.9. Classificação das Isotermas de Giles et al., (1960).
As isotermas do tipo S (Sigmoidal) apresentam uma curvatura inicial voltada para cima,
pois as interações adsorvente-adsorvato são mais fracas que as interações adsorvato-adsorvato
e solvente-adsorvente. As isotermas do tipo L (Langmuir) possuem curvatura inicial voltada
para baixo. Nesse caso, há uma diminuição da disponibilidade dos sítios ativos com o aumento
da concentração da solução. Isotermas do tipo H (“high affinity”) ocorrem quando o adsorvato
tem grande afinidade pelo adsorvente. A quantidade adsorvida inicial é alta e logo após o
equilíbrio é alcançado. As isotermas do tipo C (“constant partition”) possuem um início linear,
indicando que o número de sítios ativos é constante (GILES et al., 1960).
Quanto aos subgrupos, o primeiro engloba isotermas onde a quantidade adsorvida é
proporcional à concentração da solução no início da curva. O subgrupo 2 indica a saturação da
superfície em que o adsorvato tem mais afinidade pelo solvente do que pelas moléculas já
adsorvidas. O subgrupo 3 é caracterizado por uma subida após um ponto de inflexão e o
18
subgrupo 4 indica a formação de camadas múltiplas de adsorvato adsorvido. Por fim, as
isotermas do subgrupo mx apresentam um máximo a altas concentrações. É um caso raro e
indica que em altas concentrações do adsorvato as interações adsorvato-adsorvato aumentam
muito mais rapidamente do que as atrações adsorvato-adsorvente (GILES, et al., 1960).
O procedimento experimental para avaliar quantitativamente a adsorção por meio das
isotermas é bastante simples: basta colocar em contato a solução contendo o componente a ser
adsorvido em diferentes concentrações com massa fixa do adsorvente. O sistema assim formado
permanece sob agitação até o equilíbrio, para então ser obtida a quantidade adsorvida (𝑞𝑒𝑞 em
mg g-1) e a concentração de adsorvato que permanece em solução (𝐶𝑒𝑞 em mg L-1.). Com estes
dados é possível construir a isoterma de adsorção com o gráfico de qeq versus Ceq (PERRY,
1998).
A quantidade de adsorvato por unidade de massa de material adsorvente (qeq) obtida em
sistemas do tipo batelada é calculada de acordo com a seguinte relação:
(𝐶0 −𝐶𝑒𝑞 )𝑉
𝑞𝑒𝑞 = (6)
𝑚
Existem vários modelos de isotermas de adsorção que podem ser utilizados para ajustar
os dados das isotermas e obter parâmetros importantes sobre o adsorvente, como interação com
adsorvato e capacidade de adsorção (FEBRIANTO et al., 2009). Dentre os mais conhecidos os
modelos de Langmuir, Freundlich, Sips e Toth foram selecionados para este estudo.
19
sendo Ceq (mg L-1) a concentração da solução no equilíbrio e qeq (mg g-1) a quantidade adsorvida
no equilíbrio por unidade de massa de adsorvente. O parâmetro KL (L mg-1) representa a
constante do modelo, elevados valores de KL indicam forte afinidade do adsorvato pelos sítios
do material, enquanto que o parâmetro qmax (mg g-1) representa o número total de sítios
disponíveis no material adsorvente, ou seja, a capacidade de adsorção máxima.
1
𝑞𝑒𝑞 = 𝐾𝐹 . 𝐶𝑒𝑞 𝑛 (8)
𝑞𝑚𝑎𝑥 𝐾𝑆 𝐶𝑒𝑞 𝑛
𝑞𝑒𝑞 = (9)
1+ 𝐾𝑆𝐶𝑒𝑞 𝑛
20
2.3.2.4 Isoterma de Toth
𝑞𝑚𝑎𝑥 𝐾𝑇 𝐶𝑒𝑞
𝑞𝑒𝑞 = 1 (10)
(1+𝐾𝑇 𝐶𝑒𝑞 )𝑛
21
Figura 2.10 - Representação esquemática da estrutura do grão de carvão ativado.
Além do uso na adsorção, o carvão ativado também tem sido utilizado em várias outras
aplicações, tais como suportes de catalisadores, medicina, materiais de eletrodo, filtros de ar e
de armazenamento de gás. A demanda mundial por carvões ativados cresce 8,1% ao ano, com
previsão para 2,1 milhões de toneladas em 2018. Como consequência, dependendo da
aplicação, o custo do carvão ativado também pode crescer. Assim, o desenvolvimento de formas
de produção de carvões ativados mais econômicas é uma necessidade atual (MANEERUNG et
al., 2016, SAHIN et al., 2015).
Geralmente, os carvões ativados são produzidos a partir de ossos, madeira, carvão
mineral e de polímeros sintéticos (AL-SWAIDAN, 2011). Várias investigações têm sido
realizadas nos últimos anos, com o objetivo de desenvolver carvões ativados a partir de resíduos
agroindustriais com baixo custo, por exemplo casca de cacau (SAUCIER et al., 2015), fibras
de bambu (ZHAO et al., 2015), casca de coco (LI et al., 2009), casca de laranja (FERNANDEZ
et al., 2015), casca de palma (CHOI et al ., 2015), casca de arroz e serragem (KAZMIERCZAK-
RAZNA et al., 2015), casca de noz (GONZALEZ et al., 2009) e bagaço de cana
(KHANDELWAL e GAIKWAD, 2011). Uma das vantagens desta nova geração de precursores
de carvão ativado de baixo custo reside na possibilidade de obter benefícios a partir de resíduos.
Isso ao mesmo tempo contribui para a diminuição dos gastos com disposição dos resíduos e do
impacto negativo gerado para o meio ambiente (GONZÁLEZ et al., 2014).
Além disso, o Brasil ainda importa mais do que exporta carvão ativado. Entre julho/2015
e julho/2016, as importações chegaram a atingir aproximadamente 15,5 milhões de dólares,
sendo 5,5 mil toneladas importadas, contra 1,6 mil toneladas que saíram do país (MDIC,
Aliceweb. 2016). Tendo em vista que produção brasileira de carvão ativado mostra-se
22
insuficiente frente às reais necessidades do país, agregar valor à subprodutos de origem nacional
por meio da produção deste adsorvente é uma alternativa viável.
A princípio, qualquer material com alto teor de carbono, denominado agente precursor,
pode ser transformado em carvão ativado. A produção é realizada pela carbonização em
atmosfera inerte e ativação destes materiais, sendo a ativação classificada como química ou
física (SILVA, 2012).
A carbonização consiste no tratamento térmico (pirólise) do precursor em atmosfera
inerte a temperatura superior a 200 ºC. É uma etapa de preparação do material, em que se
removem componentes voláteis e gases leves (CO, H2, CO2 e CH4), produzindo uma massa de
carbono fixo e uma estrutura porosa primária que favorece a ativação posterior. Os parâmetros
importantes que irão determinar a qualidade e o rendimento do produto carbonizado são a taxa
de aquecimento, a temperatura final, o fluxo de gás de arraste e natureza da matéria prima
(CLAUDINO, 2003).
A ativação consiste em submeter o material carbonizado a reações secundárias, visando
o aumento da área superficial. É a etapa fundamental na qual será promovido o aumento da
porosidade do carvão. Deseja-se no processo de ativação o controle das características básicas
do material (distribuição de poros, área superficial específica, atividade química da superfície,
resistência mecânica etc.) de acordo com a configuração requerida para uma dada aplicação
específica (SOARES, 2001).
A ativação física ocorre em duas etapas e envolve a carbonização do material precursor,
seguida pela ativação a 800-1000 ºC na presença de agentes oxidantes tais como vapor, dióxido
de carbono, ar, ou suas misturas. Na ativação química, as etapas de carbonização e ativação
ocorrem simultaneamente, e o material precursor é impregnado com agentes desidratantes. Os
agentes desidratantes mais comumente utilizados são ZnCl2, H3PO4, H2SO4, KOH, K2CO3
(AHMADPOUR e DO, 1997; KARAGÖZ et al, 2008).
Gonçalves et al. (2014) propuseram um método alternativo para obtenção de materiais
carbonáceos de porosidade desenvolvida. O processo se dá apenas pela carbonização do
precursor com ácido sulfúrico concentrado em atmosfera oxidante, sem que haja a etapa de
ativação. O método ainda utiliza temperaturas inferiores a 200 ºC. Dentre as principais
23
vantagens da técnica, segundo os autores, estão o fato de que tais carvões sulfonados podem
ser preparados a partir de uma grande variedade de precursores de baixo custo, utilizam
menores temperaturas, são muito estáveis sob condições não-oxidantes, possuem baixa
densidade, boa estabilidade mecânica e o desenvolvimento da área superficial específica pode
ser controlada.
Os agentes precursores oriundos de resíduos agroindustriais, são os mais considerados
neste tipo de preparação. As aplicações encontradas na literatura para os carvões sulfonados
são vastas, concentram desde a sua utilização como catalisadores ou suporte para catalisadores,
na remoção de contaminantes de gases industrias, à adsorção de uma grande variedade de
moléculas orgânicas e íons metálicos presentes em soluções aquosas (GERÇEL et al., 2007;
GONÇALVES et al., 2014; KARAGÖZ et al., 2008; SINGH et al., 2008).
24
Figura 2.11 - Principais grupos químicos na superfície do carvão ativado.
26
Kim et al. (2006) avaliaram a remoção de compostos de nitrogênio em combustível
diesel modelo, utilizando três materiais diferentes (carvão ativado, alumina ativada e
adsorventes à base de níquel) em um sistema de adsorção de leito fixo. Este estudo revelou que
o carvão ativado apresentava maior capacidade de adsorção e seletividade para os compostos
de nitrogênio, em comparação com os demais adsorventes estudados.
Wen et al. (2010) avaliaram a remoção de contaminantes nitrogenados em conjunto com
contaminantes sulfurados, em diesel modelo, utilizando carvão ativado com H3PO4. Os autores
observaram que os compostos nitrogenados competem com os sulfurados pelos sítios ativos do
carvão, e que a adsorção dos compostos nitrogenados é favorecida.
Li et al. (2011) estudaram a capacidade de adsorção de compostos nitrogenados
utilizando soluções sintéticas de indolina e quinolina, por doze carvões ativados de diferentes
propriedades. Os adsorventes com características ácidas, principalmente aqueles que possuem
grupos carboxílicos, foram os maiores responsáveis pela remoção do adsorvato, no caso os
nitrogenados. Segundo o autor, o desempenho da adsorção de compostos contendo nitrogênio
pode ser melhorado de forma significativa pelo aumento dos grupos funcionais contendo
oxigênio desejados na superfície do carvão ativado.
Sano et al. (2004) relataram que a elevada área superficial e os grupos funcionais
oxigenados presentes na superfície do carvão ativado são fatores determinantes no desempenho
da adsorção de nitrogenados em gasóleo.
Alguns pesquisadores ainda, dedicam-se ao estudo da remoção de quinolina em meio
aquoso, utilizando diferentes adsorventes e obtendo índices superiores a 95 % de remoção do
contaminante (AHMED; AHMARUZZAMAN, 2016; LIAO et al., 2013; RAMESHRAJA et
al., 2012; VICO; ACEBAL, 2006). No entanto, o objetivo destes trabalhos encontra-se na área
ambiental, como remediação de solos e efluentes contaminados por este composto. Estes
elevados resultados de remoção podem ser justificados pela baixa solubilidade da quinolina em
meio aquoso (0,6 g/100 mL, à 20 ºC) devido ao caráter parcialmente apolar de sua estrutura, o
que culmina em uma maior interação da molécula de quinolina para com a superfície do
adsorvente a ser utilizado.
Até o presente momento não foi encontrado nenhum trabalho que avaliasse a operação
de adsorção dos nitrogenados utilizando o resíduo de vácuo. Sendo assim, a utilização deste
adsorvato surge como inovação deste trabalho, e disponibiliza informações sobre a seletividade
dos nitrogenados no processo em questão.
27
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.2 Métodos
O resíduo agroindustrial oriundo da casca de arroz foi cedido pela empresa Cerealista
Dom Veloso LTDA localizada na cidade de Panamá, interior de Goiás. O material foi moído
utilizando um moinho de bancada (A11 Basic, KA) e seco em estufa à 110 ºC, por 24 h.
O adsorvente foi preparado conforme metodologia descrita por Gonçalves et al. (2014),
com adaptações. A casca de arroz seca foi colocada em contato com o ácido sulfúrico (96 %),
sob refluxo, na proporção de 1:10 (mprecursor/mácido) à temperatura de 200 ± 10 °C, por 6 horas.
Após o tratamento, o carvão obtido foi lavado repetidamente com água destilada até pH 4,0,
28
seco em estufa a 120 ºC, por 24 h e peneirado. A Figura 3.1 apresenta o sistema para obtenção
do carvão, que foi denominado CAZ.
Figura 3.1 - Aspecto visual do sistema de contato direto, com refluxo, para obtenção do carvão
sufonado.
29
correlatos tratados com H2SO4 e HNO3 foram respectivamente denominados CBAS, CDAS e
CBAN e CDAN.
𝐷𝑖 +𝐷𝑖−1
𝑑𝑖 = (11)
2
30
em que: 𝐷𝑖 corresponde a abertura da peneira com maior retenção de partículas (mm) e, 𝐷𝑖−1 é
a abertura da peneira superior à de maior quantidade de partículas.
O ponto de carga zero (pHPCZ), foi determinado pelo “experimento dos 11 pontos”
(PARK; REGALBUTO, 1995). O procedimento consistiu em fazer a mistura de 50 mg das
31
amostras em 20 mL de solução aquosa de NaCl (0,1 mol L-1) sob 11 diferentes condições de
pH inicial (1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11 e 12). O pH das soluções foi ajustado utilizando soluções
0,1 mol L−1 HCl ou NaOH. Após agitação por 24 h, o pH final das misturas for determinado
utilizando um pHmetro de bancada. Fazendo-se o gráfico de pH final versus pH inicial, o pHPCZ
corresponde à faixa em que o pH final se mantém constante independentemente do pH inicial,
ou seja, a superfície comporta-se como um tampão.
Após a filtração da mistura contendo HCl 0,1 mol L-1 e a amostra, foram coletados 10
mL do filtrado, que foram titulados com solução de NaOH 0,1 mol L-1, usando-se o indicador
fenolftaleína. Foi feita uma prova em branco, em duplicata, tomando-se os 10 mL da solução
padrão de HCl 0,1 mol L-1, sem a adição da amostra, e titulando-se com a solução padrão de
NaOH 0,1 mol L-1 da mesma forma anterior. A quantidade de grupos básicos (QB), em mol g-
1
, foi determinada pela Equação 12,
(𝑉𝑏−𝑉𝑎𝑚).𝑀.𝑉𝑒
𝑄𝐵 (𝑚𝑜𝑙 𝑔−1 ) = (12)
𝑉𝑎𝑙.𝑚
32
em que Vam é o volume gasto para titular a amostra (mL); Vb é o volume gasto para titular o
branco (mL); M é a concentração real da solução de NaOH (mol L-1); Ve é o volume de solução
utilizado inicialmente (L); Val é o volume da alíquota retirado do filtrado (mL); e m é a massa
da amostra (g).
(𝑉𝑎𝑚−𝑉𝑏).𝑀.𝑉𝑒
𝑄𝐶 (𝑚𝑜𝑙 𝑔−1 ) = (13)
𝑉𝑎𝑙.𝑚
(𝑉𝑎𝑚−𝑉𝑏).𝑀.𝑉𝑒
𝑄𝐿 (𝑚𝑜𝑙 𝑔−1 ) = − 𝑄𝐶 (14)
𝑉𝑎𝑙.𝑚
(𝑉𝑎𝑚−𝑉𝑏).𝑀.𝑉𝑒
𝑄𝐹 (𝑚𝑜𝑙 𝑔−1 ) = − 𝑄𝐿 (15)
𝑉𝑎𝑙.𝑚
(𝑁𝑝 −𝑁𝑎 )
𝐴𝑢𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 (%) = . 100 (16)
𝑁𝑎
𝐶
𝑅𝐸𝑀 (%) = 100 (1 − 𝐶 ) (17)
0
35
2
(𝑞𝑒𝑞,𝑒𝑥𝑝− 𝑞𝑒𝑞,𝑐𝑎𝑙 )
[ ]
√ 𝑞𝑒,𝑒𝑥𝑝
𝛥𝑞𝑒𝑞 (%) = 100 ∑ (18)
𝑁−1
Os parâmetros das isotermas de adsorção foram obtidos a partir dos dados experimentais
de equilíbrio, buscando-se o mínimo da função objetivo (FOBJ), representada pela Equação 19.
O método de otimização Simplex não linear, desenvolvido por Nelder e Mead (1965), foi
utilizado para minimização de tal função.
2
n q exp q mod
FOBJ = j exp j (19)
q
j 1
j ,max
exp
em que n é o número de dados experimentais; q j é a concentração na fase sólida no equilíbrio
mod
obtida experimentalmente; q j é a concentração na fase sólida no equilíbrio calculada pelo
36
modelo e q exp
j ,max é a concentração máxima na fase sólida no equilíbrio obtida
experimentalmente.
O ajuste aos modelos foi avaliado pela análise do coeficiente de correlação (r2); pela
FOBJ e o Critério de Informação de Akaike (AIC), que considera os diferentes números de
parâmetros em cada modelo. O AIC é uma medida relativa da qualidade de ajuste de um modelo
estocástico estimado. Quanto menor seu valor, melhor o ajuste. Neste trabalho, foi utilizada
uma correção do Critério de Akaike (AICc), aplicada para pequenas amostras (n/p < 40)
(HURVICH; TSAI, 1991), de acordo com a Equação 20,
(20)
em que 𝑞̅𝑒𝑥𝑝,𝑖 e 𝑞̅𝑚𝑜𝑑,𝑖 representam a concentração média de quinolina na fase sólida para os
dados experimentais e calculados pelos modelos de equilíbrio, respectivamente e p é o número
de parâmetros do modelo ajustado.
Inicialmente foram separados 8 Erlenmeyers de 125mL, de tal maneira que cada tipo de
carvão (tratados e não tratados quimicamente) fosse avaliado quanto à sua capacidade adsortiva
para compostos nitrogenados no resíduo de vácuo. Para tanto, foi feita uma solução estoque,
em que 4,0 g de petróleo bruto foram solubilizados em 250 mL de tolueno grau HPLC. Em
seguida, desta solução estoque foram retiradas alíquotas de 30 mL e transferidas para os 8
erlenmeyers previamente separados. À cada um destes erlenmeyers, foi adicionado 2,0 g de
apenas um tipo de adsorvente. Assim, as amostras foram colocadas sob agitação a 150 rpm e
temperatura de 30°C, por 24 horas. Após esta etapa, as amostras foram filtradas e transferidas
para frascos de penicilina anteriormente separados.
37
As amostras, preparadas no item anterior, foram analisadas por espectrometria de
massas no laboratório LACEM do Instituto de Química/ UFG. A análise consistiu em dissolver
5,0 mg de cada amostra em 10 mL de tolueno. Em seguida, uma alíquota de 0,5 mL desta
solução foi transferida para um vial de 1 mL contendo metanol e 0,2% de ácido fórmico para
leituras no modo positivo e 0,2 % de hidróxido de amônia nas análises realizadas modo
negativo. As amostras foram injetadas no LTQ FT Ultra da Thermo Scientific (Bremen,
Alemanha) com o auxílio de uma micro-fonte customizada. As condições empregadas no ESI
foram: voltagem do iso spray (3.60 kV), tube lens (148 V), voltagem do capilar (-39 V),
temperatura do capilar (275 ºC).
Os espectros obtidos foram processados no software Composer® (Sierra Analytics,
Pasadena, CA, USA) versão 1.0.6 (2013) a fim de se obter os dados para gerar os gráficos de
distribuição relativa de classes.
38
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
39
Figura 4.1 - Isotermas de Adsorção/Dessorção de N2 para os adsorventes.
40
O carvão de arroz também apresenta isoterma do tipo IV, ou seja, é essencialmente
mesoporoso. A forma como foi produzido (baixa temperatura e ambiente oxidante), podem ter
contribuído para que a estrutura porosa fosse pouco desenvolvida. Isso pode ser inferido pela
pequena quantidade de nitrogênio adsorvido conforme o aumento de P/P0. Seu ciclo de histerese
é característico do tipo H3, retratando a predominância de poros na forma de cones com
extremidades abertas (GREGG; SING, 1967). O CAZ possui ainda, ampla distribuição de
tamanho de poros, com diâmetros entre 20 a 500 Å.
Os valores obtidos de área superficial específica, área de microporos, volume total de
poros e diâmetro médio de poros são apresentados na Tabela 4.1. A área total e de microporos
dos carvões tratados em meio ácido foram menores do que o observado para os carvões de
dendê e babaçu sem tratamento. Outros trabalhos também relataram diminuição semelhante na
área de superfície de carvões ativados após a oxidação da superfície (HUANG et al., 2015; LI,
LIU, LIU, 2011; PAK; JEON; JEON, 2016). As modificações por agentes ácidos, no entanto,
não afetaram significativamente o volume e diâmetro médio de poros dos carvões comerciais,
que permaneceram praticamente inalteradas.
O CAZ apresentou área total de poros bem inferior à dos carvões comerciais. O que está
de acordo com sua isoterma de fisissorção (baixo volume de N2 adsorvido). Novamente, o
processo de produção do CAZ em relação à dos comerciais contribui para que a área seja pouco
desenvolvida. Os carvões de dendê e babaçu foram obtidos por ativação física, em altas
41
temperaturas e ambiente inerte, o que contribui significativamente para a formação da estrutura
porosa.
Gonçalves et al. (2014) produziram carvões sulfonados a partir do resíduo de glicerol
utilizando o mesmo processo deste trabalho para o CAZ, no entanto com carbonização a 180
ºC. A área superficial de poros obtida pelo método BET foi menor que 10 m² g-1. Isso mostra
que a temperatura é um fator determinante para o desenvolvimento da estrutura porosa. Os
trabalhos de Hadi et al. (2016) e Brito et al. (2016) confirmam tal evento. No primeiro, um
aumento de 50 ºC na temperatura de carbonização elevou a área superficial de 188 para 225 m²
g-1, enquanto no segundo o mesmo aumento na temperatura foi capaz de dobrar a área
superficial total.
A Figura 4.2 apresenta os resultados dos PCZ para os carvões estudados. Nota-se a partir
da figura que os carvões comerciais CDB e CBB são levemente alcalinos (pHPCZ 7,6). Os
tratamentos químicos realizados na superfície destes carvões, foram capazes de diminuir o
pHPCZ em ambos os casos, deixando a superfície do carvão ácida. Observa-se ainda, que nos
dois casos o tratamento com H2SO4 resultou em uma maior diminuição do pHPCZ. Tanto o ácido
sulfúrico quanto o ácido nítrico são ácidos considerados fortes. No entanto, o aquecimento da
mistura carvão e H2SO4, pode ter levado à maior funcionalização das moléculas de SO3H na
superfície do carvão, conferindo assim maior acidez de Lewis.
A diminuição do pHPCZ para os carvões comerciais é importante, pois proporciona um
maior campo de utilização destes para a adsorção de compostos como a quinolina (pH 7,3), que
se ionizam positivamente em solução. Isso porque, para valores de pH superiores ao pHPCZ, a
carga superficial torna-se negativa e a adsorção de cátions é favorecida.
Já o CAZ apresentou pHPCZ mais ácido que os demais, principalmente porque foi
carbonizado em excesso de H2SO4 concentrado em condições de elevada temperatura e durante
maior tempo, quando comparado aos outros tratamentos realizados. Na Tabela 4.2 estão
representados os dados obtidos para o PCZ e para a quantificação dos grupos básicos e ácidos
pelo Método de Boehm. Não foi possível determinar para o CAZ grupos básicos na superfície
por este método. Os grupos ácidos totais, ou seja, a soma dos grupos carboxílicos, fenólicos e
lactônicos, assemelha-se ao valor encontrado na literatura. Gonçalves et al. (2014) obtiveram
42
3,3 mmolH+ g-1 para o adsorvente produzido a partir do glicerol, pelo mesmo método. Neste
trabalho, o carvão da casca de arroz apresentou 2,9 mmolH+ g-1 de grupos ácidos totais.
43
O método de Boehm constata ainda (Tabela 4.2), o que foi observado pelo PCZ para os
carvões de dendê e babaçu tratados: houve uma diminuição dos grupos básicos, seguido pelo
aumento dos grupos ácidos incorporados na superfície. Para o CDAS, a concentração de grupos
carboxílicos e lactônicos incorporados foi o dobro da concentração inicialmente presente no
CDB.
Tabela 4.2 - Dados obtidos a partir do Método de Boehm e do Ponto de Carga Zero.
44
Figura 4.3 - Espectros de Infravermelho para (a) carvão ativado de dendê e seus correlatados
tratados; (b) carvão de babaçu e seus correlatados tratados; (c) carvão sulfonado de arroz.
Para o CAZ, as bandas decorrentes do estiramento C=C em torno de 1620 cm-1 referem-
se à presença de compostos aromáticos. Tais bandas foram geradas durante o procedimento de
carbonização da casca de arroz (GONÇALVES et al., 2014). Em 1710 cm-1 foi observada uma
banda característica do estiramento de ligação -COOH de ácidos carboxílicos (PAVIA et al.,
2012). Segundo Gonçalves et al. (2014) bandas na faixa de 1200-1100 cm-1 podem ser ainda
atribuídas ao grupo SO3H, evidenciando dessa forma a eficiência do tratamento com ácido
sulfúrico. Além disso, o fato da banda entre 1330-990 cm-1 ser larga pode indicar a presença do
grupo Si-O, já que a casca de arroz possui silício em sua composição. Resultados semelhantes
foram relatados na literatura por diferentes autores que obtiveram carvões sulfonados (AL-
LAGTAH et al., 2016; GONÇALVES et al., 2014; GENG et al., 2011).
45
4.1.5 Análise Elementar CHN
A análise elementar foi realizada nos carvões antes e também depois dos testes
preliminares em adsorção (item 3.2.5). O objetivo foi verificar o aumento do conteúdo de
nitrogênio nas amostras, correspondente à quinolina adsorvida na superfície. Os resultados
foram avaliados por meio do cálculo de aumento percentual (Equação 16) e podem ser
observados na Tabela 4.3. Os carvões submetidos à análise após a adsorção, receberam a letra
“p” antes de sua denominação.
Para os carvões comercias (CDB, CDAN, CDAS, CBB, CBAN e CBAS), a oxidação
da superfície com soluções de ácido nítrico e ácido sulfúrico levou a uma pequena diminuição
do teor de carbono. O CAZ apresentou teor de carbono inferior aos carvões comerciais (C =
62,34 %). O que está de acordo com a literatura para carvões obtidos por processos semelhantes.
Gonçalves et al. (2014) obtiveram 69,9 % de carbono para carvões sulfonados produzidos a
partir do glicerol, utilizando a mesma metodologia. LI et al. (2013) obtiveram 40,96 % de
carbono em um catalisador sulfonado produzido a partir da carbonização da casca de arroz.
As amostras de carvão pós-adsorção (pCDB, pCDAN, pCDAS, pCBB, pCBAN,
pCBAS e pCAZ) foram secas a 120 ºC durante 24 h, para eliminação do solvente (PE tolueno
110ºC), de maneira a garantir que somente a quinolina estivesse adsorvida à superfície. É
possível observar (Tabela 4.3) que os carvões de dendê modificados quimicamente tanto com
H2SO4 quanto com HNO3, foram os que apresentaram maior retenção de N em sua superfície.
Observa-se ainda, que para o CDAS (N = 0,59 %) o aumento percentual de nitrogênio em
relação ao pCDAS (N = 0,91 %) foi de 54,23 %. As análises referentes a estes resultados serão
melhor discutidas no item 4.3.
46
Tabela 4.3 - Análise elementar dos adsorventes antes e após o teste inicial de adsorção.
Aumento
Adsorventes C (%) H (%) N (%) percentual
de N
CDB 86,47 0,56 0,54
44,44
pCDB 87,82 1,74 0,78
CDAN 83,50 0,64 0,69
46,37
pCDAN 89,38 1,58 1,01
CDAS 85,36 1,23 0,59
54,23
pCDAS 89,50 1,72 0,91
CBB 88,47 0,48 0,51
21,56
pCBB 89,68 1,73 0,62
CBAN 84,68 0,57 0,69
44,92
pCBAN 85,50 1,54 1,00
CBAS 83,89 0,56 0,53
45,28
pCBAS 84,15 1,55 0,77
CAZ 62,34 1,59 0,29
24,13
pCAZ 63,00 1,46 0,36
4.1.6 TG/DTA
47
Figura 4.4 - TG/DTA para os adsorventes.
48
A remoção da água adsorvida na superfície dos adsorventes com máximo em torno de
60 ºC, revela que a temperatura de secagem utilizada (110 ºC, durante 24h) garante que toda a
água presente nos poros seja removida, sem riscos de que haja uma combustão dos carvões ou
qualquer outro tipo de deformação estrutural que possa vir a comprometer as propriedades
adsortivas destes.
A análise de TG foi realizada ainda para o CDAS antes e depois do ensaio preliminar
em adsorção (item 3.2.5). Este foi escolhido uma vez que apresentou maior aumento percentual
de nitrogênio em relação aos demais adsorventes na análise elementar CHN. A análise, neste
caso, visa verificar uma possível perda de massa correspondente à dessorção da quinolina
aderida à superfície. A Figura 4.5 apresenta as curvas de TG para o CDAS e pCDAS. É possível
verificar uma perda de massa diferente da apresentada inicialmente para o CDAS bruto, que se
inicia entre 100 ºC e finaliza-se próximo a 350 ºC. A perda (~ 10%) pode indicar que de fato
ocorreu a adsorção do contaminante, já que este possui temperatura de dessorção próximo à
238 ºC.
Figura 4.5. Curvas de TG para o carvão de dendê tratado com H2SO4 antes (CDAS) e depois
(pCDAS) do teste inicial em adsorção.
110
100
90 ~10%
80
70
TGA (% massa)
60
50
40
30
20
TGA CDAS
10 TGA pCDAS
0
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Temp (C)
50
Figura 4.7 - Espectro de Infravermelho da quinolina obtida comercialmente pela Sigma
Aldrich.
quinolina
51
Figura 4.8 – Espectro de RMN ¹H (500 MHz, DMSO-d6) obtido para a quinolina (a) completo
(b) expandido.
(a)
(b)
52
Figura 4.9 - Espectro de RMN ¹H (500 MHz, DMSO-d6) obtido para a quinolina antes e após
o teste inicial em adsorção (item 3.2.5) com o adsorvente CDAS.
53
análises de ponto de carga zero e método de Boehm, em que a quantidade de grupos polares
quantificados para o CBAS e CDAS foi maior.
Tabela 4.4 -Teste inicial com diferentes adsorventes. A concentração inicial (C0 em mg L-1)
corresponde a 2797,85 ± 4,88.
à da nitração do benzeno. No entanto, o faz em pequenas quantidades, uma vez que para
promover a formação de tais íons é necessário a presença de um catalisador ácido, como ácido
sulfúrico. Por outro lado, a oxidação do carvão ativado com H2SO4 incorpora grupos SO3H e
SH na superfície do adsorvente (Gomes et al., 2011). Apesar de não ter sido possível observar
nos espectros de infravermelho para o CDAS e CBAS a presença de grupos sulfonados,
acredita-se que estes possam estar presentes em pequenas quantidades. E que o melhor resultado
observado para este último tratamento pode estar relacionado ao fato de que estes grupos
possuem maior afinidade pela molécula de quinolina.
Além disso, o carvão ativado da casca de dendê e seus correlatados tratados quando
comparados aos de babaçu, foram mais eficientes na remoção da quinolina. Apesar da menor
área superficial apresentada para o de dendê, este possui maior área de mesoporos disponível a
adsorção (ver Tabela 4.1). Aliada a características inerentes à sua origem e estrutura, o carvão
ativado de casca de dendê se mostrou melhor à adsorção do contaminante.
Observa-se ainda, que o desempenho apresentado pelo CAZ é similar ao do carvão
comercial CBB, uma vez que os resultados de concentração final de quinolina na solução não
diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey. Apesar da baixa área superficial e estrutura
54
porosa pouco desenvolvida, os grupos superficiais incorporados e a maior acidez em relação
aos demais adsorventes podem ter sido fatores determinantes para que esse resultado fosse
observado.
Confirmando os resultados apresentados pela caracterização por TG, Análise Elementar
CHN e RMN, o carvão CDAS se mostrou o mais efetivo para a adsorção do contaminante,
sendo capaz de remover 67,08% da quinolina presente na solução. Assim, por apresentar o
melhor resultado no teste inicial, o CDAS foi utilizado nos experimentos cinéticos e de
equilíbrio.
55
Figura 4.10 – Cinética de adsorção da quinolina em CDAS para concentrações iniciais de (a)
500 mg L-1 (b) 2000 mg L-1 (c) 5000 mg L-1 e os respectivos ajustes aos modelos não
linearizados de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem.
56
Tabela 4.5 – Parâmetros cinéticos calculados a partir dos ajustes dos modelos não linearizados
de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem aos dados experimentais.
Figura 4.11 - Dados experimentais para adsorção de quinolina em CDAS e seu ajuste em
diferentes modelos (30 ºC, 150 rpm, 24 h).
60
50
40
qeq (mg g )
-1
30
20 Experimental
Toth
10 Sips
Langmuir
Freundlich
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
-1
Ceq (mg L )
58
Tabela 4.6 - Parâmetros dos diferentes modelos para a adsorção de quinolina em adsorvente
CDAS.
Modelos Parâmetros
60
decano como solvente, em treze carvões ativados. O melhor adsorvente testado apresentou qmax
igual a 29,4 mg g-1.
Já neste trabalho, a capacidade máxima de adsorção observada para o CDAS, de acordo
com o modelo de Langmuir foi de 56,63 mg g-1. O que estabelece o uso de tal adsorvente como
promissor na remoção do contaminante nitrogenado presente em diferentes correntes de
petróleo.
4.6 Análise da adsorção em batelada do resíduo de vácuo por ESI (±) Orbitrap MS
61
quanto em ESI (-) os compostos com maior ionização relativa foram os compostos
nitrogenados.
Figura 4.12 - Distribuição relativa das classes de compostos obtidos na análise por ESI (±)
Orbitrap MS após os ensaios de adsorção em diferentes adsorventes.
ESI (+)
100
90 RV
80 CDB
Intensidade Relativa %
70 CDAN
CDAS
60
CBB
50 CBAN
40 CBAS
30 CAZ
20
10
0
N N3O2
Classes
ESI (-)
100
90
RV
80
CDB
Intensidade Relativa %
70 CDAN
60 CDAS
CBB
50
CBAN
40 CBAS
30 CAZ
20
10
0
N NO NO2 NS O O2 O3 O3S
Classes
63
5 CONCLUSÕES
65
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