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Riam muito, cinéfilos! O filme “Coringa” de Todd Phillips e Joaquin Phoenix está pra ser
lançado, pronto para libertar uma nova onda de crimes - e pasmem! - de uma maneira que
Hollywood não fazia desde “O cavaleiro das trevas”, com Heath Ledger aterrorizando Gotham há
mais de uma década. Mas a história do mais infame dos vilões de Batman é por si só tão
interessante quanto as do cavaleiro das trevas mostradas nas telas ou nas páginas. Eis aqui um guia
rápido para a história do mais perigoso inimigo do homem morcego!
Nas primeiras histórias, Coringa é um maníaco sangue-frio com um sorriso constante que
comete uma onda de assassinatos antes de ser detido por Batman. Coringa usa uma espécie de
veneno que deixa um sorriso macabro no rosto das vítimas. Ele usa esta arma já em sua primeira
aparição na revista.
As mortes pararam em 1942, quando Coringa já era um dos oponentes mais populares e
frequentes de Batman. Depois disso, seus crimes usavam armadilhas e roubos elaborados, cômicos
e geralmente inofensivos. Na edição de número 44 de Batman (1946), Coringa leva a sorte grande
num casino, o que o inspira a construir uma máquina de apostas imensa. Ele procura acertar moedas
gigantes em Batman e Robin e, ao falhar, tenta esmagá-los com dados gigantes. A tendência para
este tipo de conteúdo aumentou com o surgimento de uma legislação específica de censura para
histórias em quadrinhos em 1954.
Durante esta fase de transição na história do personagem, Bill Finger criou sua versão, que
acabou sendo a usada mais frequentemente. Publicada em 1951, o número 168 de
Detective Comics revelou que o vilão foi, no passado, Red Hood (Capuz Vermelho), um criminoso
mascarado que afundou num caldeirão de ácido enquanto tentava escapar de Batman. Quando
voltou à superfície, ele estava arrasado, com cabelo verde, pele branca como a de um cadáver e o
sorriso forçado permanente. Foi esta versão que Alan Moore e Brian Bolland desenhariam para a
clássica revista com a história “A Piada Mortal” (The Killing Joke) em 1988.
O Coringa estava em baixa quando o estrelato da cultura pop emergia. O Palhaço do Crime
era a escolha perfeita para a série pop de William Dozier e Lorenzo Semple Jr., de 1966. Sendo o
vilão mais frequente da série, ele foi interpretado pelo galã veterano Cesar Romero, que
conhecidamente se recusou a raspar seu tradicional bigode para o papel, tendo, no fim, a tinta
aplicada sobre ele.
A série dos anos 60 provocou amor e ódio nos fãs ao longo dos anos, uns criticando sua falta
de seriedade e outros aplaudindo o design vibrante e as performances afiadas. O Coringa de Romero
está longe de ser sinistro. É uma versão leve comparada às mais recentes de que estamos
acostumados, mas acredite: sua performance extravagante e teatral definitivamente influenciou as
demais interpretações do arqui-inimigo do Cavaleiro das Trevas.
Cesar Romero, da série ‘Batman’
da década de 60 / 20th Century Fox
/ Kobal / Shutterst
Retorno à escuridão
O sucesso da série televisiva fez o Batman dos quadrinhos adotar o estilo “bam-pow-zap”.
Quando esta começou a decair, os quadrinhos voltaram às suas raízes rústicas dos anos 40 - uma
mudança que só foi possível devido ao relaxamento do código censor e com o surgimento de uma
nova geração de artistas talentosos. Na edição de número 251 publicada em 1973, o escritor Dennis
O’Neil e o desenhista Neal Adams reintroduziram o Coringa nas revistas depois de quatro anos de
ausência. E o mais importante: eles resgataram os assassinatos para o repertório do vilão depois de
trinta anos. O Palhaço do Crime podia de novo promover suas carnificinas livremente.
Ao trabalhar com o desenhista Irv Novick, O’Neil pôde também apresentar o templo
máximo de Coringa: o asilo Arkham, instituição para tratamento de saúde mental para criminosos.
Os leitores tiveram o primeiro contato com o asilo na edição 258 de 1974. A dupla também criou a
série solo do vilão em 1975. Juntando-se a outros vilões como Lex Luthor, Duas Caras ou o
Pinguim, ou então agindo sozinho, o personagem se tornou uma estrela do universo DC daquele
ponto em diante.
A segunda metade dos anos oitenta é provavelmente o melhor período da história das
publicações do personagem. O grande tiro inicial, a obra-prima de Frank Miller “O Retorno do
Cavaleiro das Trevas” em 1986, narra um futuro distópico em que ambos herói e vilão cancelam a
aposentadoria ressurgindo mais ameaçadores do que nunca. Esta edição perturbadora fez Coringa se
tornar um assassino em massa que ri uma vez só: quando captura Batman com a intenção de matá-
lo quebrando seu próprio pescoço. Em seguida, acontece uma batalha alucinante num parque de
diversões.
Naqueles dias, o Príncipe Palhaço do Crime começou a devorar os aliados de seu maior
inimigo como ácido. Considerada por muitos a melhor história do Coringa (apesar do próprio autor
recusar), “A Piada Mortal” enfatizou a relação simbiótica entre herói e vilão. Ainda desfrutando do
sucesso de Watchmen, Moore reintroduziu a história de origem do “Capuz Vermelho”, imaginando
o homem que viria a ser o Coringa como um comediante falido forçado a entrar para o crime com o
intuito de sustentar a esposa grávida. Em um de seus piores atos de violência, o brincalhão
psicopata aleijou a filha do comissário Gordon, Barbara, também conhecida como Batgirl.
O assistente de Batman, Robin, sofreu ainda mais naquele mesmo ano. Em “Morte na Família”,
criação do roteirista Jim Starlin e do ilustrador Jim Aparo, Coringa, munido de um pé de cabra,
agrediu gravemente Jason Todd, o segundo rapaz a encarnar o garoto prodígio. Em seguida, Robin
foi vítima de uma explosão. Os leitores puderam telefonar para votar se Jason sobreviveria ou não.
O próprio Coringa ficaria feliz com o resultado.
A quarta publicação desta nova versão do palhaço - cujo nome também foi título de jogos de
videogame décadas depois - foi Asilo Arkham, de 1989, criação do visionário Grant Morrison e do
artista multimídia Dave McKean. A dupla revelou um vilão com personalidade quase mítica de
tanto caos. Na história, Batman invade as casas de seus piores inimigos, quase enlouquecendo no
processo. Tal narrativa é um pesadelo alucinado cheio de manchas, uma das mais arrepiantes do
personagem.
Lançado no verão de 1989 logo após uma campanha insana de divulgação, o filme Batman,
dirigido por Tim Burton, tem Jack Nicholson interpretando o Coringa, papel que muitos
acreditavam ser perfeito para o ator. Dada a interpretação discreta de Michael Keaton como Bruce
Wayne com seu conhecido alter ego, o rei do crime sábio e irônico de Nicholson mereceu tamanho
sucesso. Sua performance foi inspirada nos pontos positivos do Coringa de Romero, junto com um
senso de volatilidade. Mas somente Nicholson poderia adotar uma fala como “Você costuma dançar
com o diabo sob a luz pálida da lua?” e, de algum modo, soar genuinamente desequilibrado e
ameaçador. Quando o elogiado desenho animado de Batman (criação de Paul Dini e Bruce Timm)
foi ao ar de 1992 a 1995, quem foi convidado para dar voz ao Coringa? Ninguém menos que o
próprio Luke Skywalker, Mark Hamill. Mark sempre teve um pouco do lado escuro dentro dele.
Agora o Príncipe Palhaço do Crime está pronto para conquistar Hollywood novamente no
novo filme de Todd Phillips, estrelado por Joaquin Phoenix. O diretor não guardou segredo sobre
sua devoção aos personagens de filmes de Martin Scorsese, principalmente Travis Bickle, do Taxi
Driver e Rupert Pupkin de O Rei da Comédia. Phoenix, por sua vez, inevitavelmente traz reflexos
do doente mental Freddie Quell, que interpretou no filme O Mestre. O filme ganhou o Leão de Ouro
no Festival Internacional de Cinema de Veneza. As primeiras críticas ficaram divididas entre boas e
ruins. Seria este realmente um bom filme do Coringa, com todas estas influências óbvias?
Esta pergunta nos traz a maior diferença entre este Coringa e os anteriores. Ele agora é o
herói, ou anti-herói, de sua própria história. As versões de Romero, Nicholson e Ledger tinham
Batman como oponente, enquanto o personagem de Leto foi uma espécie de coadjuvante da
Arlequina. A história da origem do personagem de Phoenix, no entanto, é triste, sobre um anônimo
infeliz sem nenhum super-herói para ampará-lo. Será que o personagem se tornou uma presença tão
grande na cultura de massa que o público vai ficar satisfeito com um vilão sem os crimes? No início
ele é um assassino de sangue frio todo colorido. Agora o holofote está apontado para ele. Mal
podemos esperar para ver as próximas manchetes.
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