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https://www.estadao.com.br/alias/inedito-no-brasil-poochytown-celebra-os-70-
anos-de-jim-woodring/
Jim Woodring certa vez disse que não se diverte ao criar suas histórias em quadrinhos.
O cartunista fez uma comparação ousada, lembrou um hábito do cineasta Alfred
Hitchcock (1899-1980) para definir seu envolvimento em suas criações: quando
terminava os rascunhos, a obra perdia a graça. Executar a criação é quase como uma
obrigação para Woodring, que esquematiza mentalmente os originais de seu
personagem Frank, uma criatura antropomórfica parecida com um esquilo esquálido de
luvas de mickey-mouse.
A primeira vista inocente e fofo, o ser de Woodring nada tem a ver com os personagens
convencionais da Warner Bros ou Walt Disney. A não ser pela invencibilidade, pois a
personagem resiste às investidas mais nocivas, como terremotos, rebeliões e distorções
visuais. Frank está à mercê de um mundo onírico onde o surrealismo lhe impõe
constante provação. Ou seja, se há algo muito quieto na cena, como um botão isolado no
meio de um Jardim do Éden cheio de perigos, Frank vai apertá-lo.
Os devaneios surrealistas começaram quando Jim Woodring tinha apenas três anos de
idade. “Estava deitado na cama e via rostos grandes, silenciosos e giratórios pairando
sobre o pé da minha cama, rostos que eram muito caricaturados, na verdade”, disse ao
The Comics Journal em 1993. Um episódio parecido com ficção, mas que fadou
Woodring a partir daquele “encontro” a ter visões por toda a vida.
Nascido em Los Angeles na década de 1950, Jim Woodring teve uma juventude intensa,
ao menos enquanto dormia. A fertilidade do mundo dos sonhos rocambolescos seria,
mais tarde, sintoma de alguns transtornos, como paranoias, alucinações e paroniria, os
pesadelos frequentes.
Cultuado por Neil Gaiman e Alan Moore, Jim Woodring dá contornos sólidos para o
um mundo disforme dos sonhos por meio de traços bem definidos. “O mundo criado em
Frank parece estar mais envolvido com objetos orgânicos. ‘Eu prefiro um cenário com
algo construído pelo homem. Realça a dimensão da arte ou do artífice. Uma árvore é um
mistério incompreensível”, lembra o pesquisador Fabio Mourilhe Silva, da UFRJ.
Tendo aparecido pela primeira vez em 1991, na segunda e última edição de Buzz, uma
antologia de quadrinhos de Mark Landman, Frank e Manhog (que dão nome ao livro
homônimo) viraram personagens recorrente no universo de Woodring, como Congress
of the Animals, que deu origem a Poochytown, e The Frank Books, de 1995, obra
definitiva sobre o personagem que ganhou prefácio de Francis Ford Coppola.
Poochytown
Jim Woodring
DarkSide
112 páginas
R$ 57,90