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TRIENAL A – 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES


SL 18.1-6(7-16) | JÓ 38.4-18 | RM 10.5-17 | MT 14.22-33

“CORAGEM! EU SOU. NÃO TENHA MEDO!”

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.


Queridos irmãos irmãs, no evangelho da semana passada vimos que Jesus, depois de
dar graças a Deus, operou o milagre da multiplicação e alimentou uma multidão com apenas
cinco pães e dois peixes. Os discípulos, presos nos limites da razão e da lógica, nem sequer
imaginaram que uma coisa assim pudesse acontecer, mesmo sabendo que o Mestre Jesus já
rinha feito coisas extraordinárias diante de seus olhos. O texto do evangelho de hoje mostra o
que acontece na sequência.
“Logo a seguir, Jesus fez com que os discípulos entrassem no barco e fossem
adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões.” (Mt 14.22). O verbo

no original grego (ἀναγκάζω - anankazó: necessitar com urgência, obrigar) indica


que não foi um pedido, mas sim uma ordem de Jesus. Alguns estudiosos afirmam que isso foi
necessário, porque a multidão começou a enxergar Jesus como um libertador político. O
Senhor não queria que seus discípulos fossem influenciados por essa ideia.
O texto segue dizendo que “tendo despedido as multidões, Jesus subiu ao monte, a
fim de orar sozinho. Entretanto, o barco já estava longe, a uma boa distância da terra,
açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário.” (Mt 14.23-24). É interessante notar
aqui o tempo que Jesus dedicou à oração, porque um estudo detalhado do texto sugere que o
intervalo entre a despedida das multidões, o “estar só” para orar e o encontro com os
discípulos no mar, é de mais ou menos 7 horas. Isso nos ajuda a compreender que, ao
embarcarem os discípulos, o tempo estava limpo e o mar tranquilo. Caso contrário, acredito
que eles nem sequer teriam entrado no barco.
O texto segue dizendo que, “De madrugada, Jesus foi até onde eles estavam,
andando sobre o mar.” (Mt 14.25). Notem a conexão entre os fatos relatados. No episódio
anterior, Mateus fez questão de mencionar que, para eles — os discípulos —, a única opção
lógica era despedir as multidões para que pudessem se alimentar. Então, Jesus lhes mostra
que isso não era necessário, porque o pão da vida estava diante deles. Então, acontece o
milagre da multiplicação. Agora, Mateus, mais uma vez, parece fazer questão de detalhar a
ordem de Jesus para que eles entrassem no barco; o tempo que Jesus dedica à oração e o
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encontro com eles, ao caminhar por sobre as águas. Talvez, para muitos, este seja o grande
milagre que o texto relata. Mas, para mim, ele não chega nem perto do milagre que está para
acontecer.
O texto segue dizendo que “Os discípulos, porém, vendo-o andar sobre o mar,
ficaram apavorados e disseram: — É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram. Mas
Jesus imediatamente lhes disse: — Coragem! Sou eu. Não tenham medo!” (Mt 14.26-27).
Queridos irmãos e irmãs, como bem sabemos, a expressão “não tenha medo ou não
temas”, aparece no texto bíblico 365 vezes. Uma vez para cada dia do ano. Essa é uma
verdade que precisamos guardar em nossos corações, sobretudo, em tempos de aflição, dor e
sofrimento. No entanto, mais importante do que tal afirmação, é aquele que a profere. É Jesus
quem está dizendo: “Coragem! Sou eu!”
O texto original grego traz a fórmula “Sou eu” como ἐγώ εἰμι, cuja tradução literal é
“EU SOU”. No Antigo Testamento, “EU SOU” designa o nome de Deus. Em Êxodo,
quando Deus se manifesta a Moisés através da sarça ardente, ele diz: “Assim você dirá aos
filhos de Israel: “EU SOU me enviou a vocês” (Ex 3.14). Em diversas passagens do Novo
Testamento, o Senhor Jesus também afirmou:
“EU SOU o Pão da vida.”
“EU SOU a Luz do mundo.”
“EU SOU a porta das ovelhas.”
“EU SOU o Bom Pastor.”
“EU SOU a videira verdadeira.”
“EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida.”
“EU SOU a Ressurreição e a Vida.”
Agora, Jesus caminha sobre as águas e, diante dos discípulos apavorados, diz:
“Coragem! EU SOU. Não tenham medo!” Então, o texto diz que Pedro (sempre o Pedro
impulsivo, que não pensa antes de falar) diz: “— Se é o Senhor mesmo, mande que eu vá
até aí, andando sobre as águas. Jesus disse: — Venha! E Pedro, descendo do barco, andou
sobre as águas e foi até Jesus. Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e,
começando a afundar, gritou: — Salve-me, Senhor! E, prontamente, Jesus, estendendo a
mão, o segurou e disse: — Homem de pequena fé, por que você duvidou? Subindo ambos
para o barco, o vento cessou. E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: —
Verdadeiramente o senhor é o Filho de Deus!” (Mt 14.28-33).
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Queridos irmãos e irmãs, quando Mateus relata este episódio, e nos faz imaginar a
cena de Jesus andando sobre as águas, aprendemos, juntamente com ele e os demais
discípulos, que Jesus não é meramente um libertador político que nos dá esperança de uma
vida melhor e mais justa aqui neste mundo. Aprendemos que Jesus é “EU SOU”; Senhor
sobre tudo e sobre todos. Aquele que tem domínio, não apenas sobre todas as coisas que
foram criadas, como peixes, o mar, o vento (porque ele estava lá quando tudo passou a
existir), mas também sobre as leis da física. Quando Mateus relata aquilo que aconteceu com
Pedro, aprendemos que mais importante que o milagre de caminhar sobre as águas, é o
milagre da graça e misericórdia para com aqueles que não merecem. Quando Jesus mergulha
sua mão para Pedro e o resgata do naufrágio do seu pecado, aprendemos que Jesus é
verdadeiramente o “Filho de Deus!” (Mt 14.33). O libertador da escravidão do pecado, do
diabo e da morte. Aquele que nos concede uma vida melhor e “já e ainda não”.
Queridos irmãos e irmãs, diante das tempestades da vida, temos a tendência de prestar
mais atenção na força do vento e acabamos ignorando aquilo que Deus nos diz diariamente:
“Coragem! EU SOU. Não tenham medo!” Assim como Jesus conhecia a aflição dos seus
discípulos, ele também conhece as nossas aflições. E Jesus vem ao nosso encontro quando ele
acha oportuno e não no momento que nós determinamos. É diante do sofrimento que
aprendemos a ser mendigos diante de Deus e reconhecemos nossa dependência dele.
Não há ninguém que exemplifique isso melhor do que Jó, um homem popularmente
conhecido como alguém de extrema paciência. Mas, engana-se quem acredita que essa tenha
sido sua maior virtude. Jó, antes de mais nada, era alguém temente a Deus. Um pai que, por
amor aos seus filhos, “se levantava de madrugada e oferecia sacrifícios em favor de cada
um dos seus filhos, para purificá-los. Pois Jó pensava assim: ‘Talvez os meus filhos
tenham pecado e blasfemado contra Deus em seu coração.’ Jó fazia isso continuamente.”
(Jó 1.5).
Jó também nos dá o exemplo de que um pai temente a Deus também passa por
aflições e desgraças em sua vida. Mas, ainda assim confessa: “O Senhor o deu e o Senhor o
tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1.21). Uma confissão de fé como essa, mesmo
em meio às desgraças da vida, só é possível mediante um coração que ouve e confia nas
palavras de Jesus: “Coragem! EU SOU. Não tenha medo!” Alguns de vocês já não têm mais
seus pais (ou nunca tiveram); talvez, alguns de vocês já não têm mais seus filhos. “Coragem!
EU SOU. Não tenha medo!” Essa ainda é a mensagem de Cristo em meio às tempestades
que enfrentamos em nossas vidas.
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Queridos pais e mais aqui presentes, hoje Deus não pede que vocês ofereçam
sacrifícios em favor de seus filhos. Deus pede que vocês sejam sacrifícios vivos; creiam em
seu nome, orem por eles e ensinem sua Palavra para que tenham vida já aqui e,
principalmente na eternidade. Como, porém, seus filhos invocarão o nome do Senhor se não
crerem nele? E como crerão em Jesus se não ouvirem nada a respeito dele? E como seus
filhos ouvirão a respeito de Cristo, se vocês não os ensinar, pregar e viver a fé em Cristo
dentro de vossos lares? Vocês foram chamados por Deus e vocacionados para serem
portadores de boas notícias aos seus filhos.
É verdade que o mundo está cada vez mais longe de Deus e criar os filhos nos
caminhos do Senhor é mais difícil a cada dia. No entanto, não podemos reparar na força do
vento que que está sempre diante de nós. Mas se, porventura, afundarmos, não precisamos
entrar em desespero. Jesus estenderá sua mão para nos resgatar, porque antes ele imergiu nas
profundezas do inferno e emergiu para a nossa salvação. Por isso, podemos confiar em suas
palavras: “Coragem! EU SOU. Não tenha medo!”. Amém.

Rev. Werek da Cruz Silva


Congregações Trindade e Paz | São Luís-MA

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