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O movimento étnico-racial é uma parte crucial da história e da sociedade

contemporânea em muitos lugares ao redor do mundo. Esse movimento geralmente


envolve a luta por direitos, igualdade e justiça para grupos étnicos e raciais que
historicamente enfrentaram discriminação, marginalização e opressão.

O rap é um exemplo significativo de como a arte se tornou uma forma importante de


expressão e mobilização dentro do contexto do movimento social étnico-racial. No
entanto, a música “Corra”, que é uma obra do rapper brasileiro Djonga, fala sobre
racismo estrutural, violência policial e desigualdade social, temas que são centrais
nesse contexto. A música possui um pouco mais de três minutos e parece ser um
diálogo entre um casal negro sobre o racismo e escravidão.

LETRA:

Amor, olha o que fizeram com nosso povo

Amor, esse é o sangue da nossa gente

Amor, olha a revolta do nosso povo

Eu vou, juro que hoje eu vou ser diferente

Éramos milhões, até que vieram vilões

O ataque nosso não bastou

Fui de bastão, eles tinham a pólvora

Vi meu povo se apavorar

E às vezes eu sinto que nada que eu tente fazer vai mudar

Auto estima é tipo confiança, só se quebra uma vez

'To juntando os cacos, não Barcelos, nem Antibes

Sou antigo na arte de nascer das cinza

Tanto quanto um bom motorista, é

Na arte de fazer baliza

Eu 'to na arte de fazer

Eles são a resposta pra fome

Eles são o revólver que aponta

Vocês são a resposta porque tanto Einstein no morro morre e não desponta

Vocês são o meu medo na noite

Vocês são mentira bem contada


Vocês são a porra do sistema que vê mãe sofrendo e faz virar piada, porra

Eu vi os menor pegando em arma, pois 'cês foram silenciadores

Eu vi meu pai chorando o desemprego, desespero

Pra que isso, mano?

Eu não quero vida de pizzaiolo, e sim ser dono da pizzaria

Querem que eu me contente com nada

Sem meu povo tudo não existiria

Eu disse óh como 'cê chega na minha terra

Ele responde "quem disse que a terra é sua?"

Ôôôôôôô

Ôôôôôôô

Aquela noite eu te ensinei coisas sobre o amor

Durante o dia eu só tinha vivido o ódio

Deus deu o frio e não me deu o cobertor

Perdão Senhor, mas na pista eu só vejo sódio

Se pá são a causa da seca, e da cerca que nos separa

Depois nos acusam de 'tá dividindo demais

Já se apropriaram de tudo

Minha mente me diz get out Gustavo, corra

Você sabe o mal que isso faz

Pra eles nota seis é muito

Pra nóis nota dez ainda é pouco

Pros meus qualquer grana é o mundo

Pros deles qualquer grana é troco

E eu 'to errado antes de fazer, defasar é o prazer

De quem 'tá com o controle do game

Não treme, não geme, se cala vadia


Aqui é a porra do senhor de engenho

Eu sou tudo, eu sou vídeo, eu sou foto, eu sou frame

Tem que se vender pra mim se tu quiser um Grammy

Sou a morte, o diabo, o capeta

A careta que te assombra quando fecha o olho

Enquanto eles gozam com o choro

Existirei pra fazer tu sorrir, amor

Sou seu colete à prova de balas

Seu ouvido à prova de falas

Eu vou tomar nosso mundo de volta

Amor, olha o que fizeram com nosso povo


Amor, esse é o sangue da nossa gente
Amor, olha a revolta do nosso povo
Eu vou, juro que hoje eu vou ser diferente

https://youtu.be/cMvuaT7c0MY?si=1L0Zbf-2rdFK_0DE

A letra inicia com um apelo emocional, onde o amor é convocado como testemunha
do sofrimento e da luta do povo. Djonga faz referência à chegada dos colonizadores
('Éramos milhões, até que vieram vilões'), destacando a desvantagem bélica e o
terror vivenciado ('Fui de bastão, eles tinham a pólvora').

Segue descrevendo a quebra da autoestima de seu povo e a luta para reconstruí-la,


utilizando metáforas como 'nascer das cinzas' e 'fazer baliza', que simboliza
renascimento e habilidade de manobrar em situações difíceis. Ele critica o sistema
que marginaliza e silencia vozes negras ('Einstein no morro morre e não desponta'),
e expressa o desejo de superação e autonomia ('não quero vida de pizzaiolo, e sim
ser dono da pizzaria').

Portanto, ele conclui a música com uma promessa de mudança e a determinação de


retomar o que foi perdido ('Eu vou tomar nosso mundo de volta'). 'Corra' é uma
chamada para a ação, um grito de guerra contra a opressão e um hino de
esperança para um futuro onde a igualdade prevaleça.

Podemos dizer que a canção é uma interlocutora de acontecimentos culturais e


sociais no mundo contemporâneo, é uma poderosa expressão artística que se
encaixa dentro do contexto do movimento social étnico-racial.

A letra de "Corra" é marcada por uma narrativa franca e direta, na qual Djonga
compartilha suas próprias experiências e observações sobre as injustiças
enfrentadas pela população negra.

A linguagem utilizada é rica em metáforas e imagens fortes, criando uma atmosfera


intensa e impactante ao longo da música.Djonga denuncia a violência policial e a
discriminação racial de maneira explícita, fazendo referência a casos reais de
abusos e assassinatos cometidos contra jovens negros nas periferias das grandes
cidades brasileiras.

Ele também aborda questões mais amplas relacionadas ao racismo estrutural, à


falta de oportunidades para a população negra e à persistência de estereótipos
racistas na sociedade.

Além da crítica social, "Corra" também contém elementos de autoafirmação e


resistência. Djonga reivindica sua identidade e sua voz como artista negro,
recusando-se a ser silenciado ou diminuído pelos padrões discriminatórios da
sociedade. A música transmite uma mensagem de força e determinação,
incentivando os ouvintes a se unirem na luta por justiça e igualdade racial.

SLIDE:

https://youtu.be/cMvuaT7c0MY?si=1L0Zbf-2rdFK_0DE

"Relação da Música 'Corra' com o Movimento Social Étnico-Racial"

A música "Corra" do rapper brasileiro Djonga estabelece uma poderosa conexão


com o movimento social étnico-racial no Brasil. Com sua letra contundente e batida
envolvente, a música aborda questões fundamentais relacionadas ao racismo, à
violência policial e à desigualdade social, temas centrais na luta por justiça racial.

Por meio de metáforas fortes e narrativa direta, Djonga denuncia abusos de poder e
discriminação racial, expondo as realidades enfrentadas pela população negra no
país. A música não apenas educa e conscientiza, mas também inspira ação e
mobilização, incentivando os ouvintes a se engajarem na luta por igualdade e
dignidade.

"Corra" serve como uma expressão artística poderosa dentro do movimento


étnico-racial, amplificando vozes marginalizadas, fortalecendo a identidade e o
empoderamento da comunidade negra e desafiando as estruturas de opressão. Sua
mensagem ressoa além da música, estimulando reflexão e diálogo sobre as
questões raciais e sociais que permeiam a sociedade brasileira.

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