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do

GROUZEIRO URBANO

bit.ly/M-M-G-U
Minimanual
do
Grouzeiro Urbano
Edição do autor
Venda proibida.
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Lançado em comemoração
aos 50 anos de publicação do
Minimanual do Guerrilheiro Urbano,
de Carlos Marighella
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Este material tem como objetivo informar e educar sobre o uso de


drogas e redução de danos. É livre a reprodução, a redistribuição,
a impressão e reimpressão, o compartilhamento digital e físico
por qualquer meio do conteúdo deste livro, de forma integral ou
em partes, exceto para fins comerciais ou visando lucro.
O autor não se responsabiliza por eventuais danos ao leitor ou a
terceiros decorrentes da interpretação e aplicação das
recomendações e práticas contidas nesta obra.

Capa: adaptado de freepik.com/o autor.


Diagramação/e-book/Mobi: o autor.
Arte e ilustrações: o autor.

São Paulo
Junho de 2019
Quando o Sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal

E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal

Os palácios vão desabar


Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar o barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal

Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural

Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal

As pragas, as ervas daninhas


As armas, os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval
— João Nogueira e Paulo César Pinheiro,
As forças da natureza
Sumário
A planta ................................................................................ 5
Você e a planta ......................................................................... 7
A repressão ........................................................................8
A “solução final” para a questão das drogas ................11
A vacilação ........................................................................ 18
Desumanizar indivíduos não garante seus direitos .. 19
Ihhh, moiô! ....................................................................... 20
Visita policial .......................................................................... 21
De quem é o mato? .............................................................. 22
Nunca assine o 33! .............................................................. 23
O grouzeiro urbano ...................................................... 24
As qualidades de um bom grouzeiro ............................ 24
Grouzeiro fornecedor ........................................................... 25
A chapação .............................................................................. 27
Como vive e resiste o grouzeiro urbano ....................... 31
Preparação técnica do grouzeiro urbano ..................... 32
O lugar................................................................................ 33
Rotina e pessoas ................................................................... 34
O grou mais adequado ao lugar ...................................... 34
Vazamentos de luz ............................................................... 35
Vazamentos de cheiro ......................................................... 36
Armário, gabinetes, sapateiras… ..................................... 37
A estica..................................................................................... 39
Segurança em primeiro lugar ......................................... 39
A luz .................................................................................... 40
Comece com led ..................................................................... 40
Ciclos de luz ........................................................................... 42
Timers/temporizadores ...................................................... 44
Luz de emergência ............................................................... 44
A ventilação ..................................................................... 45
O substrato ...................................................................... 46
Substrato não perdoa erros .............................................. 47
Solos prontos .......................................................................... 48
A semente......................................................................... 50
Vá de automática .................................................................. 50
Onde conseguir ....................................................................... 51
Prenseeds ................................................................................ 52
Rega e fertilização ....................................................... 54
Checklist ........................................................................... 55
Glossário ........................................................................... 56
Referências.......................................................................57
Artigos e matérias ............................................................... 57
Cultivo....................................................................................... 58
Fascismo, nazismo e mentalidade reacionária .......... 58
História e repressão ............................................................ 59
Agradecimentos ............................................................ 59
A planta
Já viu na fazenda quando nego finda o trabalho? Às
vez ele fica de olho pregado. Às vez ele desaparece e
quando a gente vê tá com banzo. É saudade da terra
livre que ele conheceu. O homem puxa a diamba pra
refrescar. Aí vê o céu azul negrinho caindo em cima
da gente, mas lá do arto… [...] O oio fica vermeio de
choro mas num chora. Mas dói por dentro. Fica tudo
sem sentido. Nós enxerga as coisa toda. Depois tudo
explode dentro da gente.
— Ganga Zumba (1963), direção de Cacá
Diegues

O cânhamo usado na produção de tecidos e cordas


chegou no Brasil com os portugueses, mas o uso da
maconha como hábito recreativo e terapêutico foi
introduzido e mantido no Brasil pelos escravos vindos da
África, sendo também apropriado pelos indígenas. O
consumo da planta (o chamado “fumo de Angola”) permitia
ao escravo negro suportar a opressão e os maus tratos
perversos do sistema escravista. Mas como podemos ver no
filme Ganga Zumba, de Cacá Diegues, o efeito era
provavelmente o oposto: a maconha causava o banzo, a
angústia mesclada com saudade da terra livre do outro lado
do mar. Até hoje a criminalização da maconha está
intimamente ligada com a manutenção de um sistema
repressivo que sempre encontra novas formas de guetizar,
oprimir e exterminar a população pobre e negra em grandes
cidades e nas zonas rurais do Brasil.
O hábito de consumo recreativo da maconha sobreviveu
na cultura da diáspora africana ao redor do globo e na
cultura afro-brasileira como mais um de seus inúmeros

𓇼 𓇼
recursos de resistência à opressão: dos quilombos até a
associação com a capoeira, a umbanda (onde o cigarro de
maconha é conhecido como itaba de ungira) e o Santo Daime
(e mais modernamente o umbandaime, sincretismo da
umbanda com o daime), o samba (com seu maior
representante e maior denunciador do contexto de
preconceito e repressão a essa cultura no Brasil: Bezerra da
Silva), além do reggae jamaicano e do jazz, do rap e do hip-
hop nos Estados Unidos.
A maconha brasileira tem uma genética complexa e
misteriosa, mas geralmente fixada em plantas que
apresentam traços de genética +sativa e -indica. Os nomes
mais famosos desses tipos cultivados por longos períodos
em regiões como Maranhão, Pernambuco e em todo o
Nordeste do Brasil incluem cabeça-de-nego (por causa de
seus pistilos escuros), manga-rosa (sativa de cheiro
adocicado), racha-coco (provavelmente uma sativa de forte
efeito psicoativo), santa-maria (nome de referência religiosa
geralmente associado ao Santo Daime) e cabrobró.
Cabrobró é o nome de uma região em Pernambuco, no
sertão do São Francisco, conhecida pelo cultivo da cebola e
pelo cultivo ilegal da maconha, mais vantajoso aos
latifundiários e um meio de sobrevivência para agricultores
pobres, que subsistem e sobrevivem num contexto de
violência, assassinatos e corrupção.
Novamente, isso tudo mostra que no Brasil a maconha
sempre esteve ligada a um contexto de repressão e
preconceito, seja nas áreas rurais, seja nas regiões
periféricas e guetizadas das grandes cidades.

𓇼 𓇼
Você e a planta
Para quem não quer fazer parte desse contexto de tráfico,
violência e repressão, a alternativa é o cultivo caseiro da
maconha. Esse cultivo demanda investimento, tempo,
paciência, segurança e confidencialidade. Hoje é possível
simplificar o cultivo e dar acesso a essas informações a
todos que desejam parar de alimentar o tráfico e ao mesmo
tempo lutar pela legalização.
Pra isso criei este Minimanual. A ideia é guiar o grouzeiro
novato em pontos vitais pra sua segurança pessoal e pro seu
sucesso como cultivador nos seguintes aspectos:
• como iniciar um cultivo barato, simples e seguro em
casa (a ideia principal aqui é que cultivar sua própria
maconha em casa não é só coisa pra rico e playboy);
• segurança do cultivo e de terceiros (como montar um
grou seguro, evitando curtos-circuitos e incêndios);
• segurança jurídica e direitos do grouzeiro (pra evitar
ou minimizar abusos de agentes de segurança e do
sistema jurídico);
• como comprar sementes de bancos confiáveis ou como
fazer uma seleção de sementes de prensado;
• principais aspectos do cultivo (rega, ciclos de luz,
substrato, nutrientes, etc.);
• checklist e insumos necessários;
• quais são os erros mais comuns no cultivo e como
corrigir esses problemas;
• uso da internet de forma segura e anônima; e
• onde buscar mais informações.
Além desses tópicos, a proposta com este Minimanual é
não só ensinar técnicas básicas envolvidas no cultivo

𓇼 𓇼
caseiro da maconha: proponho aqui também um diálogo
sobre como pode ser possível manter uma subcultura de
resistência do cultivo da maconha no Brasil enquanto o
aparato jurídico e o sistema político-econômico brasileiro
oprimem o povo e restringem a liberdade individual ao
criminalizar o cultivo e o consumo de uma planta. Enquanto
não legalizam, resistimos com cultura.

A repressão
[O] Estado Penal […], pelo discurso da "insegurança
social", aplica uma política voltada para repressão e
controle dos pobres. A marca mais emblemática deste
quadro é o cerco militarista nas favelas e o processo
crescente de encarceramento, no seu sentido mais
amplo. As UPPs tornam-se uma política que fortalece
o Estado Penal com o objetivo de conter os
insatisfeitos ou "excluídos" do processo, formados por
uma quantidade significativa de pobres, cada vez
mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões.
— Marielle Franco, UPP – A redução da favela
a três letras

A repressão policial, política e jurídica como reflexo do


que Marielle Franco chamava de Estado Penal no Brasil
impede que o cidadão brasileiro comum, morador da
periferia ou das favelas e comunidades, tenha não só meios
pra começar seu próprio cultivo caseiro de maconha mas
também a paz, a dedicação, a tranquilidade e o acesso à
informação necessários para essa atividade: pobres e ricos
recorrem ao tráfico, mas quem sofre todas as consequências
da guerra às drogas é a população pobre.
Na mente do reacionário que apoia a guerra às drogas
(seja ele um policial ou agente de segurança, seja um

𓇼 𓇼
cidadão comum que não busca se informar), a maconha é
uma droga de gente pobre e ao mesmo tempo também é
droga de intelectual comunista da classe média alta
estudante de universidade federal; a maconha deixa as
pessoas burras mas ao mesmo tempo faz com que os
usuários se tornem militantes que lutam por direitos
essenciais e comuns, como educação; na cabeça de
reacionários e fascistas, a legalização da maconha levaria a
um caos social, mas ao mesmo tempo eles apoiam uma
guerra que mata e encarcera milhares todos os anos;
também dizem que a maconha vicia e traz mais danos que o
álcool, mas se rejeitam a aceitar e divulgar dados e estudos
científicos e sérios sobre as duas drogas, como a recente
censura ao estudo sobre o uso de drogas feito ao longo de
quatro anos por especialistas da Fiocruz – que foi não
apenas censurado, mas descreditado pelo atual ministro da
Cidadania, Osmar Terra, por razões puramente ideológicas.

Entrou pela mão do vício. Lenitivo das rudezas da


servidão, bálsamo da cruciante saudade da terra
longínqua onde ficara a liberdade, o negro trouxe
consigo, ocultas nos farrapos que lhe envolviam o
corpo de ébano, as sementes que frutificariam e
propiciariam a continuação do vício.
— A. Dias, Algumas plantas e fibras têxteis
indígenas e alienígenas (Bahia, 1927)

Assim como a capoeira e o Carnaval, a maconha é apenas


um dos diversos elementos de resistência da cultura negra
combatidos e criminalizados pela elite brasileira ao longo
da nossa história. O objetivo desse preconceito é claro: o
extermínio de indivíduos “indesejados” de acordo com os
padrões da sociedade “cristã, branca e de bem”.

𓇼 𓇼
Como o extermínio de uma população “indesejada” hoje
em dia não pode ser feito apenas com base em conceitos
eugenistas como “raça” (como fizeram não só os nazistas,
mas muitos dos médicos e políticos que faziam parte da elite
brasileira urbana no início do século passado), a elite de hoje
usa elementos “culturais” para criar a associação entre uma
população indesejada e a criminalidade. O serviço sujo,
como sempre, é feito pela polícia ou por milicianos. A
mesma elite que premia e condecora policiais e milicianos
por esse serviço sujo prefere ver esses mesmos policiais
mortos do que permitir a legalização do cultivo e do
consumo de uma planta.
A “boa intenção” dessa elite reacionária, cristã e branca é
perversa, e é preciso ser macabramente estúpido e
ignorante para não enxergar que o policial que traumatiza
um jovem usuário de maconha batendo na cara dele ou o
policial que extermina negros como forma de limpeza social
causa muito mais danos para a sociedade que milhares de
jovens e adultos que consomem maconha de forma
recreativa em momentos de lazer. Faço aqui a mesma
pergunta que o pesquisador Elisaldo Araújo Carlini: o que
causa mais danos a um indivíduo, a um jovem negro? Cinco
anos de detenção em um presídio superlotado tomado pelo
crime organizado ou cinco anos de uso recreativo de
maconha?
Que o Brasil está passando por um novo período de
obscurantismo fascista é mais que evidente há anos. Mas é
um obscurantismo que, além de herdar tudo que havia de
pior na velha guerra às drogas, também inovou. Essa
inovação se dá na linguagem e nas atitudes.

𓇼 𓇼
A “solução final” para a questão
das drogas
Uma dessas inovações é a importação e a exportação da
anarquia e da anomia, como a exaltação e até mesmo a
condecoração da repressão praticada por milicianos ou a
maior facilidade de acesso de parte da população civil a
armas e munições. Lembre que um dos passos essenciais
para criar uma ditadura é a promoção da ausência de leis em
regiões guetizadas (seja num gueto na Polônia tomado por
paramilitares nazistas, seja numa favela no Rio de Janeiro
tomada por milicianos).

Quando eu escuto a palavra ‘cultura’ já boto a mão


na minha arma!
— Hanns Johst (poeta e escritor membro do
partido nazista)

Outro elemento inovador desse fascismo é aliar o


obscurantismo a um ódio pela promoção da ciência, da
cultura e da racionalidade. Tanto é assim que a gente pode
imaginar que a frase acima, de Hanns Johst, poderia muito
bem ter saído da boca de qualquer reacionário novo-cristão
protofascista que vive hoje no Brasil. A comparação com o
nazismo aqui não é para polemizar, pois guardadas as
devidas proporções, a mentalidade fascista se baseia numa
mentalidade comum de redução da complexidade social a
um “nós contra eles”.
É também nessas épocas de ansiedade que mais surgem
teorias conspiratórias absurdas e fake news. O objetivo
delas é criar caos, desinformação e descrença nas
instituições (universidades, órgãos de pesquisa, instituições

𓇼 𓇼
que garantem direitos individuais, etc.). São essas
instituições que garantem civilidade: a descrença nelas leva
ao caos e à luta de todos contra todos pela “sobrevivência”.
O livro de Hitler não se chamava Minha luta por acaso: ao
contrário do que parece à primeira vista, a “luta” de Hitler
não é sinônimo de batalha e superação — é uma luta literal
de fortes contra fracos, de aptos contra inaptos, de uma raça
superior contra uma “sub-raça”.
A ideia de que existe doutrinação nas universidades foi o
que levou nazistas a promover queimas de livros e
transformar universidades de medicina (como a
Universidade de Estrasburgo) em laboratórios para
experiências médicas e eugenistas macabras com judeus.
Esse tipo de promoção da violência é nada mais que
resultado da descrença nas instituições que garantem
direitos, com a demonização de determinadas categorias de
indivíduos que não se encaixam num padrão tido como ideal
por aquela sociedade: um governador reacionário que
sobrevoa favelas dentro de um helicóptero com machões
portando fuzis não faz isso porque tem poder pra isso — ele
faz isso porque as instituições que garantem civilidade e
direitos individuais estão sob descrença e descrédito geral.
Nós brasileiros prezamos pelos valores cristãos e
tradicionais de Deus, família e propriedade, mas temos
também o Carnaval — legado que devemos à cultura negra
tanto quanto devemos aos negros uma resposta e reparação
pelas injustiças e pelos danos causados por décadas de
guerra às drogas. O presidente que acena para esses valores
morais tradicionais em seu perfil no Twitter ao mesmo
tempo ironiza e demoniza o seu oposto. Esses acenos
estúpidos e cínicos são mais que claros: os negros são

𓇼 𓇼
culpados por tudo que tem de ruim no Brasil. É deles a culpa
pelo Carnaval, pela maconha, pela macumba, pelo funk, pelo
multiculturalismo… Ao ironizar tudo isso, o presidente
ironiza também o sofrimento: o sofrimento do passado (a
escravidão, a opressão social sistêmica) e o sofrimento do
presente, de mães e famílias negras, de comunidades
inteiras guetizadas.
Reforço aqui o que são esses acenos cínicos, esses memes
macabros: os nazistas nunca tiveram uma palavra para
aquela invenção tenebrosa, o genocídio e o extermínio total
dos judeus da Europa — quando precisaram criar um nome
pra esse “projeto inovador”, surgiram com um “meme”: a
irônica expressão “solução final”. Tá aí pra quem quiser ver:
aqueles que promovem a guerra às drogas acreditaram e se
referiram a esse projeto sempre como uma solução final.

Os ricos fazem campanha contra as drogas e falam


sobre o poder destrutivo delas. Por outro lado
promovem e ganham muito dinheiro com o álcool
que é vendido na favela.
— Mano Brown/Racionais MCs, Um homem
na estrada

Nos países ditos subdesenvolvidos, a proibição e a guerra


às drogas cria uma rede de crime e corrupção em larga
escala no tecido social, indo de esquemas de lavagem de
dinheiro, tráfico de armas, tráfico de pessoas, superlotação
carcerária e a manutenção de um sistema jurídico e de uma
polícia classista e racista a serviço de uma elite urbana
corrupta, segregacionista e reacionária.
Nessa onda fascista que está permeando nossa cultura e
nossa política, as pessoas de determinada classe, apesar de

𓇼 𓇼
viverem nos chamados ‘países de terceiro mundo’, trocam
com um governo corrupto a chance de terem acesso a bem-
estar e ascensão social: ao mesmo tempo que vivem
cercadas por favelas e sofrem assaltos, elas podem
desfrutar de um estilo de vida cheio de comodidades,
segurança e entretenimento — seja dentro dos próprios
países subdesenvolvidos, em cidades cada vez mais
condominalizadas (para os ricos) e guetizadas (para os
pobres), seja no exterior, por meio de viagens, acesso a
locais exclusivos e o passe livre em regiões elitistas do
primeiro mundo.
Os nazistas chamavam esse bem-estar de Lebensraum: o
espaço vital. Essa palavra tem duplo sentido: para os
nazistas, significava não somente o “espaço vital”
geográfico e político-econômico necessário para a expansão
do Reich: significava também algo como “espaço para viver”,
“sala de estar”.
Esse espaço vital nazista era um lugar ideal de convívio
entre iguais — sem judeus, sem comunistas, sem
homossexuais e outros “tipos degenerados”. Para o cidadão
nazista comum, esse espaço vital era sua sala de estar,
símbolo do bem-estar familiar e da ascensão social alemã.
Para o soldado nazista fanático, esse espaço era o front da
guerra: era a terra desolada onde ele podia imperar sem leis,
onde poderia levar sua nova lei, onde poderia exterminar a
sub-raça de judeus sem ser julgado. O resultado disso no
passado, por um lado, foi que a população de classe média
nas cidades alemãs passou a ter emprego, moradia,
segurança e alimentação — ou seja, bem-estar. Por outro
lado, nas regiões distantes, periféricas e sem lei, o resultado
foi a guetização, a deportação e o extermínio de judeus.

𓇼 𓇼
Hoje nós temos no Brasil uma classe média que protesta
pelo fim da corrupção e que deseja bem-estar; mas ao apoiar
a guerra às drogas, a boa família cristã reacionária quer
manter seu espaço vital às custas da guetização e do
extermínio no espaço sem lei das favelas dominadas por
paramilitares milicianos apoiadores de um partido fascista
— e para isso precisam de um líder que prometa que ele é a
pessoa certa para levar adiante esse projeto.
Não é por acaso que os alemães se referiam a Hitler de
duas formas diferentes: a primeira e mais geral era
simplesmente Adolf Hitler — era a forma política, a máscara
civilizada que aparecia em documentos oficiais e nos
jornais; a segunda forma era Führer — era a forma mítica,
usada pelos mais fanáticos, por aqueles que sabiam ver em
seu líder a face verdadeira do sadismo e da perversão. Agora
repare em como nós brasileiros nos referimos ao nosso
presidente: a forma civilizada é seu nome completo — é
também a forma política, que aparece no seu perfil no
Twitter e na boca de seus ministros; a segunda forma é
“Mito”: é a forma macabra, memética, a forma usada pelos
seus partidários mais fanáticos, por aqueles que se
identificam mais profundamente com os valores e com as
atitudes macabras, sórdidas e perversas que não podem ser
nomeadas abertamente.
Falando de forma resumida: os mesmos indivíduos que
impedem a legalização da maconha nos países
subdesenvolvidos e no Brasil podem desfrutar dos seus
benefícios (e de outros diversos luxos) quando viajam pro
exterior, onde têm ainda mais espaço vital.
Da mesma forma que os executivos das grandes
empresas e indústrias alemãs jamais pagaram pela sua

𓇼 𓇼
colaboração com o regime nazista (pelo contrário: se
beneficiaram do extermínio dos judeus e lucraram com isso
antes, durante e depois da guerra), os empresários e a elite
brasileira jamais vão reparar os danos causados pela guerra
às drogas promovida e apoiada por essa mesma elite. Se
algum dia essa elite permitir a legalização da maconha no
Brasil, vai dar o acesso a ela e aos seus ganhos e benefícios
apenas para a própria elite.
A exemplo do que já aconteceu em nosso passado
recente, quando imigrantes europeus (italianos, alemães,
japoneses, etc.) puderam se beneficiar do acesso ao
trabalho, à educação e à moradia por meio de diversos
incentivos do governo brasileiro, enquanto que os negros,
então libertos, eram relegados a viver nas periferias, sem
acesso à terra, à moradia, aos bens culturais e ao mercado
de trabalho, a produção de maconha no Brasil, se legalizada,
será feita apenas por grandes empresas mantidas por essa
mesma elite detentora de terras, maquinário e know-how,
segregando o acesso de negros, pobres e favelados aos
benefícios da produção, do comércio e da cultura canábica.
Não acredito que a elite brasileira, reacionária, branca,
neofascista e cristã, vá abrir mão de privilégios e colaborar
com a legalização da maconha e de seu cultivo e consumo
adulto/recreativo num futuro próximo. Criei este
Minimanual não só para dar dicas de cultivo, mas também
para que tenhamos registrado o contexto de opressão que
permeia nossa sociedade hoje. Se a maconha vier a ser
legalizada um dia, provavelmente este livro ficará
ultrapassado e não será mais lido, mas no futuro poderá ser
útil como registro de um período obscurantista da nossa
história.

𓇼 𓇼
Apesar desse cenário tenebroso, a proposta deste livro é
desde já conscientizar o leitor de que o cultivo pessoal e
caseiro da maconha — e, num futuro próximo, quem sabe,
até mesmo o cultivo comunitário — é possível de ser feito de
forma barata, segura, prática e consciente.
Esse cultivo ao mesmo tempo pode ser lazer e resistência.
Existem riscos, mas as recomendações e dicas a seguir
buscam tornar tudo mais claro, sempre com o objetivo de
informar, educar, tranquilizar, equipar e conscientizar o
grouzeiro e cultivador caseiro de maconha que deseja se
afastar do tráfico e promover a cultura de resistência a esse
sistema da forma que puder no seu dia a dia.
Acredito que tudo pode ser criticado, inclusive os
argumentos e as afirmações deste livro. Acredito também
que a crítica a qualquer argumento feito com palavras deve
ser feito também apenas com palavras; jamais com ameaças
e violência.
Por pressa e pela necessidade de resumir essa arte
complexa que é o cultivo, deixei de fora detalhes que alguns
leitores talvez julguem essenciais. O essencial pra mim,
porém, é que aqueles que sofrem os efeitos letais da guerra
às drogas se conscientizem da realidade atual e da
mentalidade fascista que está infectando nossa cultura. Se
esse leitor vier a se tornar um grouzeiro, pra mim isso é uma
grande vitória. Mas se esse mesmo grouzeiro ignorar os
problemas da guerra às drogas que afetam famílias inteiras
e não lutar contra essas injustiças, isso pra mim é o mesmo
que uma derrota.
Creio que hoje é mais que evidente que a guerra às drogas
é antes de tudo uma guerra “cultural”, eugenista e racista.

𓇼 𓇼
Ser a favor da descriminalização não é apenas se posicionar
a favor do uso medicinal, social e industrial da maconha: é
lutar contra injustiças e privilégios. Entretanto, quem luta
contra essas injustiças e privilégios deve estar bastante
ciente de que essa é uma luta diária, sem fim.

A vacilação
Trocaram o delegado de polícia
quem é malandro lá na vila vai se ver mal.
— Toniquinho Batuqueiro, A pontinha

O grouzeiro não pode ser vacilão. Vacilão é o malandro


otário: ele até consegue enganar ou tirar vantagem dos
outros — mas só por um tempo. Outra característica do
vacilão é a pretensiosidade: ele se acha melhor e mais
esperto que todo mundo. Aprenda desde já: o grouzeiro
vacilão que se acha mais esperto que um policial mais cedo
ou mais tarde vai se dar mal.
Embora a polícia no Brasil não seja um modelo de moral
e ética em muitos aspectos, isso não significa que o
grouzeiro deva se achar melhor ou mais esperto que a
polícia só porque consegue cultivar sua maconha em casa
sem ser descoberto — até porque um dia ele pode ser
descoberto.
A polícia no Brasil vive entre progressos e retrocessos, e
a lei de drogas atual (Lei 11.343/2006) é apenas reflexo
desses retrocessos políticos e sociais. Hoje em dia muitos
policiais militares e agentes de segurança pública estão se
conscientizando de que eles próprios são usados como
bucha de canhão na guerra às drogas. Essa consciência por

𓇼 𓇼
parte de alguns agentes de segurança ajuda a humanizar a
relação entre a PM e moradores das comunidades, usuários
de drogas e pessoas socialmente vulneráveis. Sendo assim,
não veja a polícia e os agentes de segurança pública como
seus inimigos diretos.
Não demonize indivíduos apenas porque eles fazem parte
de um sistema estúpido ou agem em nome de instituições
elitistas: o inimigo de verdade são as instituições
corrompidas, as ideias ultrapassadas, o preconceito
sistemático, e não as pessoas enquanto indivíduos. Pessoas
são humanas: elas refletem paixões, opiniões, convicções,
falhas, defeitos e qualidades que aprenderam e que formam
seu caráter — e policiais são humanos. Lembre que agentes
de segurança são também vítimas desse sistema, e por falta
de diálogo, cultura e informação, eles muitas vezes apenas
reproduzem os maus exemplos que veem cotidianamente ao
redor.

Desumanizar indivíduos não


garante seus direitos
O grouzeiro não deve reproduzir esse tipo de
mentalidade que desumaniza indivíduos. A ‘vantagem’ que
os policiais obtêm como agentes dessas instituições é muito
relativa: se o receio do grouzeiro, do usuário (e mesmo do
traficante) é ser preso, o receio do policial é o de ser
corrompido, exonerado ou morto. Marielle Franco
reconhecia esse paradoxo e não demonizava os policiais: ela
denunciava o que havia de sistematicamente errado nos
órgãos e nas instituições de segurança pública falidos que

𓇼 𓇼
davam abrigo a “profissionais” e agentes que promoviam ou
mantinham a corrupção dentro dessas instituições.
Sei que é paradoxal e irônico que, enquanto escrevo este
texto, esteja sendo noticiado que os assassinos de Marielle
foram encontrados e que se tratam de policiais — mas
lembre que os assassinos de Marielle não são de fato
policiais: antes de tudo são milicianos, ou seja, agentes
corruptos gestados por um sistema corrupto.
Resumindo: o que garante sua integridade física,
psicológica e moral e seus direitos como ser humano e
grouzeiro/usuário não é a demonização de outros
indivíduos — o que garante isso é conhecer e exigir seus
direitos e crer nas instituições que resguardam esses
direitos; é dialogar e conscientizar outros indivíduos
(estejam eles ou não do seu lado) sobre os problemas que se
refletem nas instituições e nos órgãos jurídicos e de
segurança na sua comunidade, no seu bairro, na sua cidade
e no seu país.

Ihhh, moiô!
A principal preocupação do grouzeiro que tem algumas
plantas de maconha em casa é uma visita da polícia.
Segundo a Cartilha de comportamento para visita policial
da Associação Cannábica do Brasil (ACB), o ato de cultivar
plantas de maconha em casa deixou, de modo geral, de
constituir crime de tráfico, sendo caracterizado como
contravenção penal. Nesses casos, a pena geralmente é a
prestação de serviços comunitários e o comparecimento

𓇼 𓇼
obrigatório a programas socioeducativos. Leia a cartilha da
ACB na íntegra; ela traz informações muito valiosas.
Estamos cansados dos abusos e das atitudes sórdidas e
arbitrárias por parte de agentes de segurança. O resultado
é que, em vez de nos calarmos, estamos aprendendo cada
vez mais como podemos nos proteger disso. Então antes de
tudo preste atenção nas dicas a seguir.

Visita policial
Como grouzeiro, seja inteligente: caso a polícia bata na
sua porta, mantenha a calma e dialogue de igual pra igual. A
polícia não tem o direito de entrar na sua casa sem um
mandado. Caso tenha um mandado, o documento deve ter
um objetivo claro. Um mandado não é uma carta branca pra
polícia entrar na sua casa e fazer o que quiser: um mandado
é um documento oficial com objetivos específicos, prazo
determinado e devidamente assinado por um juiz. Um
agente só pode entrar em sua casa (com um mandado!)
durante o dia, nunca à noite.
Aqui eu pressuponho que você é um grouzeiro inteligente
o suficiente pra não deixar flagrantes à vista. Este livro é
feito pra grouzeiros urbanos, que plantam de forma
escondida e em segredo, e não pra grouzeiros ‘do campo’ ou
outdoor, que deixam suas plantas ao ar livre. Caso um
policial consiga ver sua planta (caso você deixe ela no
quintal da sua casa, por exemplo, ou se o seu vizinho cagueta
ver sua planta pela janela), o agente de segurança pode usar
isso como justificativa pra um flagrante e poderá entrar em
sua casa mesmo sem um mandado.

𓇼 𓇼
De quem é o mato?
Caso você more com outras pessoas, receba uma visita
policial e acabe sendo flagrado (ou seja, caso a polícia
apreenda suas plantas), seja esperto: as plantas são suas,
você é o único usuário e o produto final obtido das plantas é
para seu uso individual. Você não compartilha, vende ou
oferece a maconha que cultiva pra ninguém. Caso você diga
ao policial ou ao agente de segurança que você e seu
namorado, por exemplo, usam a maconha do cultivo, isso
pode ser tipificado como tráfico. Sendo assim, lembre-se:
você, grouzeiro, é o único usuário (mesmo que outras
pessoas morem na sua casa e saibam ou não do seu cultivo).
Acho que nem preciso dizer, mas não mantenha em sua
casa itens como balanças de precisão, dinheiro em cédulas
trocadas/miúdas e armas. Caso seja levado à delegacia,
assine o termo circunstanciado de ocorrência (TCO) apenas
se o documento especificar que você NÃO tem esses itens
em casa e que nada disso foi encontrado em sua posse. O
TCO também deve trazer especificado que você se coloca à
disposição para fazer exames toxicológicos para comprovar
que sua produção caseira de maconha é para seu consumo
individual e nunca é vendida.
A polícia também pode querer apreender suas plantas
como prova do crime. Dialogue com calma e explique aos
agentes que eles deverão apreender somente a planta, e não
equipamentos, vasos, computadores, luzes, etc. (caso nada
disso esteja especificado no mandado). O crime é o cultivo
da planta, e mais especificamente de plantas fêmeas
(produtoras de tricomas com princípio ativo), e não a posse
de vasos, equipamentos, substratos, fertilizantes, luzes,

𓇼 𓇼
computadores, etc. Há relatos de alguns policiais e agentes
que apreendem a planta com o vaso e pesam tudo junto para
fazer parecer que o grouzeiro produz quilos e quilos de
droga, o que não é verdade — e pior: é uma atitude de má-fé.
Faça de tudo pra registrar atitudes desse tipo. Caso os
policiais queiram apreender a planta como prova, peça a
eles que cortem a planta ou que retirem ela do vaso com a
raiz e que coloquem ela em um saco/recipiente. Caso eles
insistam em fazer tudo ao contrário, peça a presença do seu
advogado.

Nunca assine o 33!


Não assine nada sem a presença de um advogado e sem
ler o documento. Não ceda à pressão de agentes
inescrupulosos! Caso o documento tipifique sua conduta no
artigo 33 (tráfico) da Lei 11.343/2006, não assine! Você não
é traficante e não é obrigado a produzir provas contra si
próprio, muito menos é obrigado a assinar documentos que
tipifiquem sua conduta de forma diferente do que você de
fato está praticando. Você é usuário: assine o documento
apenas se ele traz tudo isso especificado e se enquadrar você
APENAS no artigo 28 (não assine nada que contenha
qualquer menção ao artigo 33!).
Por fim, tenha sempre o contato de um advogado à mão e
sempre acompanhe notícias relativas a julgamentos de
usuários e cultivadores e sobre mudanças nas leis.

𓇼 𓇼
O grouzeiro urbano
O bom grouzeiro é um maconheiro consciente de todo o
processo envolvido no cultivo, na produção e na distribuição
da maconha até ela chegar a ele pronta pra ser fumada; ou
seja, um bom grouzeiro é um maconheiro consciente de
tudo que envolve a maconha — é antes de tudo um não-
alienado.
Um bom grouzeiro é um guerrilheiro: ele reconhece o
sistema opressivo em seu entorno e se nega a acreditar que
a maconha é acessível e ‘legalize’ só porque ele pode obter
prensado com relativa facilidade sem nunca tomar
enquadro da polícia (por ser branco ou classe média). Por
mais que você tenha fácil acesso à maconha (seja ela de boa
ou má qualidade), isso não é justificativa pra acreditar que
no Brasil não existe um sistema estruturado pra
criminalizar a maconha como forma de coagir e reprimir a
cultura e os indivíduos associados a ela. Mais cedo ou mais
tarde você pode acabar vítima desse sistema. E então? Você
vai esperar pra ver ou vai lutar?

As qualidades de um bom
grouzeiro
A primeira qualidade do grouzeiro é a discrição. O
grouzeiro urbano sabe que seu cultivo é um segredo. Como
bem diz a galera do Grow Room, “o segredo do sucesso é o
segredo”; e como diz Sérgio Costa, criador do canal
THCProcê, “o cultivo indoor é pra quem não quer esparrar,
pra quem não quer que visitas vejam”. Então, ressaltando de

𓇼 𓇼
novo: não seja vacilão, tome todos os cuidados devidos
relativos a segurança, discrição e todos os detalhes que
envolvem o cultivo. Tendo essa consciência, o bom
grouzeiro vai tratar sua relação com a maconha e com suas
plantas de forma mais responsável e consciente, podendo se
sentir mais seguro e tranquilo, o que faz dele uma pessoa
sempre melhor e mais disciplinada.
Aqui eu posso dar a lição mais essencial que aprendi ao
longo desses anos de cultivo e relação com a maconha:
Você cultiva a planta tanto quanto a planta te cultiva.
Por fim, o cultivo é um processo e um treino: não queira
aprender tudo de uma vez. Plante uma planta por vez.
Avance uma etapa por dia. Leia um artigo por dia.
Mantenha-se sempre curioso. Observe sua planta e a si
mesmo.

Grouzeiro fornecedor
Não vire escravo do seu próprio cultivo. É muito comum
que grouzeiros mais experientes (que conseguem cultivar
algumas plantas a mais do que o necessário pro próprio
consumo) sejam aliciados por usuários inescrupulosos que
fazem dele um fornecedor/traficante elitista. Não venda,
troque ou ofereça suas flores cultivadas com carinho pra
qualquer um. Que sentido faz criar seu próprio grou pra
fugir do tráfico e acabar você mesmo se tornando
traficante?
Existem muitas pessoas que adoram usufruir dos
benefícios da maconha sem ter nenhum trabalho pra obter
ela que não seja esvaziar a carteira. Essas são as mesmas

𓇼 𓇼
pessoas que oferecem uma boa grana para que um grower
experiente se torne seu fornecedor exclusivo. Não caia
nessa. Mantenha sempre poucas plantas (apenas o
suficiente pro seu consumo!) e evite a tentação de cultivar
uma floresta dentro de casa. Ao cultivar muitas plantas você
pode cair em várias armadilhas: aos olhos da polícia, em
primeiro lugar, você deixa de ser um cultivador e se torna
traficante (mesmo que não seja de fato traficante); caso
cultive e venda, você é de fato traficante, então esqueça todo
o papo de ativismo e direitos caso a casa caia pra você. Além
disso, aumentando a quantidade de instalações elétricas e
toda a parafernália necessária pra manter um grou de
fornecimento com várias plantas, você arrisca sua
segurança e a de terceiros.
Fornecer faz você virar um administrador, um burocrata
que só se preocupa em calcular gastos e lucros; você vira
escravo dessa administração: esqueça férias, visitas de
amigos em sua casa, esqueça a tranquilidade enquanto
estiver na rua, no trabalho, fazendo compras, ao deitar e
acordar e até mesmo quando for fumar seu beck, pois o grou
vai sugar seu tempo de lazer e sua vida social funcional.
Por fim, ao manter muitas plantas, você provavelmente
vai manter também um estoque de ganja em casa e acabar
tentado a vender esse estoque (principalmente se ficar
desempregado): se você tem ganja sobrando em casa, por
que não vender, usar a grana pra investir no seu grou e,
quem sabe, até largar seu emprego chato, não é mesmo?
Pois é, mas não tem saída: além de ter deixado de ser um
grouzeiro que mantém uma relação saudável com sua
planta, você e suas plantas vão se tornar escravos dessas
pessoas.

𓇼 𓇼
Ser traficante, mesmo que “elitista”, ser “o cara que vende
flor”, não é tão legal quanto parece. Pense em todo o sistema
infernal que você pode acabar criando ao seu redor:
usuários insatisfeitos ou com problemas com a polícia
podem te denunciar; você vai ter de administrar gastos e
lucros (talvez gaste mais tempo nisso do que cuidando das
suas plantas); você pode acabar precisando de ajuda pra
lidar com tantos afazeres e terá de envolver outras pessoas
(amigos, namorada, etc.) nesse esquema; por fim, talvez você
nunca mais fume sua ganja com tranquilidade, sem
paranoia, pensando que a polícia pode bater na sua porta a
qualquer momento.
No final, o grouzeiro-traficante se torna um escravo de
ricos inescrupulosos, gente sórdida e hipócrita que muitas
vezes até mesmo se posiciona contra a legalização da
maconha. Novamente: não se torne escravo do cultivo e de
usuários que querem fazer de você um traficante elitista.
Tenha momentos dedicados pro seu cultivo, pra sua vida
pessoal, pro trabalho e pro lazer. Mantenha uma agenda.
Imponha limites e organização a si próprio. Fique de boa e
cultive poucas plantas. Na verdade, como você verá mais
adiante, eu recomendo que você comece com apenas uma
planta.

A chapação
Não use maconha e outras drogas (principalmente
cigarro e álcool) antes de estar maduro o suficiente pra isso.
Muitos pesquisadores e médicos alertam para os efeitos
negativos da maconha na adolescência, e recomendam o uso
adulto somente após os 25 anos ou mais de idade. Falando

𓇼 𓇼
de forma pessoal, e por mais que eu tenha começado o uso
de maconha esporadicamente aos 19 anos de idade, eu
recomendo o uso adulto/recreativo da maconha apenas
após os 21 anos de idade. É também apenas depois dessa
idade mais madura que você terá os recursos necessários
para criar e manter seu grou sem maiores preocupações.
Eu recomendo a todos os grouzeiros que abandonem o
consumo de álcool de forma radical não só por causa dos
malefícios do consumo compulsivo, mas também porque
não vejo razão em ficar chapado usando drogas que têm
efeitos tão diferentes. Pare de comprar aqueles engradados
de cerveja barata e ruim e invista essa grana no seu grou.
Parando com o álcool, é mais fácil também reduzir o
consumo de carne.

Aí o papo dele pra mim: pra eu ficar só no baseado.


Nada de pó, nem crack, nem balinha, esses bagulhos.
Até loló ele falou que era pra eu não usar, que loló
derrete o cérebro. Sem contar os neguim que já
rodaram com parada cardíaca porque se derramaram
na loló. Naquele dia prometi pra ele e pra mim que
nunca que ia cheirar cocaína. Fumar crack muito
menos, tá maluco, só derrota. Loló eu até dou uns
puxão às vez, no baile, mas me controlo. Hoje eu vejo
que o papo era reto, bagulho é ficar só no baseado
mermo, até bebida é uma merda. Pra tu ver, no meu
aniversário fiquei doidão, vacilando. Por causa de
quê? Cachaça!
—Geovani Martins, Rolézim

Ao contrário do prensado, a maconha cultivada em casa é


um psicoativo bastante potente. Ninguém pensa em tratar
um doente com cachaça, mas o extrato de canabidiol (CBD),
por exemplo, tem efeitos medicinais tão potentes e efetivos

𓇼 𓇼
que pode ser usado no tratamento de crises epiléticas e
convulsivas, esclerose múltipla e dores associadas a
doenças que acometem o sistema nervoso central. A
maconha de hoje tem uma taxa de tetraidrocanabinol (THC,
componente mais ‘psicoativo’) que varia numa média de
20%, o que é bastante e mais que o suficiente pro uso
adulto/recreativo.
Sabendo disso, aqui posso falar de outra qualidade do
grouzeiro urbano: a partir do momento que você se torna
grouzeiro, deve deixar de lado o estereótipo do maconheiro
que fuma tudo que vê pela frente toda hora que tem
oportunidade. Pra plantar e cultivar sua maconha é
necessário disciplina, e muitos grouzeiros falham nesse
sentido porque ficam ansiosos visando apenas o resultado
final, sem se organizar, sem pesquisar e sem dar a devida
atenção ao processo, ou seja, ao cultivo da planta (e de si
próprio), e acabam voltando a recorrer ao tráfico por hábito,
comodidade e conveniência e falta de organização.
Nem preciso dizer que o fumo do cultivo é muito melhor
que o fumo prensado em vários sentidos (o prensado na
verdade não é nem mesmo fumo; é no máximo um
subproduto extremamente prejudicial à saúde). Agora para
e pensa: se o fumo do grou é mais potente e melhor que o
prensado, você não precisa fumar suas flores como fumava
seu prensado. E falo aqui especialmente de quantidade.
Reduza o número de vezes que você fuma maconha (e a
quantidade dela) já durante o processo de se tornar um
grouzeiro. Ao colher sua flor, você não precisa fumar ela
toda. Aliás, não é bom nem mesmo fumar um beck todo. Hoje
existem vaporizadores, blunts de vidro, pipes, bongs e

𓇼 𓇼
outros acessórios que permitem que você controle melhor o
seu uso, reduzindo danos.
Você também não precisa pensar em plantar dezenas de
plantas pra fazer extrações super concentradas. Isso é moda
de americano empreendedor que só pensa em “inovar”. É
mais provável que essas extrações super potentes façam
mais mal que bem. Além disso, querendo ou não, fazer
extrações desse tipo fazem com que você pareça um
químico, um inventor macabro a serviço de traficantes sem
escrúpulos. Criar essa imagem de químico especialista em
extrações não é lá muito inteligente pro grouzeiro que quer
evitar problemas com a polícia.
Mesmo depois de anos fumando maconha, até hoje um ou
dois tragos de ganja cultivada por mim é o suficiente pra me
dar uma brisa boa que me mantém funcional. Assim eu
economizo minha ganja (as flores de uma única planta
podem durar meses), reduzo os danos (menos tragadas é
igual a menos fumaça ferrando o pulmão) e evito
comprometer o sistema de busca-prazer-satisfação do meu
cérebro.
Quando tiver sua planta colhida, trimada, curada e
pronta pra ser fumada, estabeleça uma rotina pra esse
ritual: escolha os melhores dias e um lugar confortável pra
fumar. De preferência, fume sua ganja depois de ter feito
seus afazeres, depois de ter realizado algo (depois de um
trabalho que precisava ser feito, depois de resolver um
problema ou até mesmo depois da faxina). Dessa forma você
evita viciar o sistema de busca-prazer-satisfação do seu
cérebro, e assim vai poder fazer um bom uso da maconha
durante anos e anos sem viciar esse mesmo sistema, com

𓇼 𓇼
menos danos também ao seu organismo (ao pulmão,
principalmente), além de se manter socialmente funcional.

Como vive e resiste o grouzeiro


urbano
Respeite seus vizinhos e seja um bom cidadão como os
outros. Não deixe que o orgulho suba à sua cabeça. O
grouzeiro urbano não pode se destacar ou querer estar
acima da sua comunidade e das pessoas do seu entorno.
Não importa que você faça tudo na privacidade da sua
casa: você não será um bom grouzeiro ao arrumar briga e
criar um clima de antipatia e guerra com seus vizinhos, com
os porteiros ou com o síndico do seu condomínio. Você será
um bom grouzeiro ao ser discreto, humilde, ter senso
comunitário e principalmente ao inspirar outros a
adotarem boas características do seu estilo de vida.
Não fique dando pala: evite fazer algazarras, fumar
compulsivamente em lugares abertos e expor suas plantas
em lugares abertos.
Lembre-se também de não importunar outros grouzeiros
com falta de educação ou abordagens sem noção. Pra evitar
quebrar a cara, siga as dicas de etiqueta e educação pra
growers criadas pela galera do Grow Room e que podem ser
acessadas neste link.
Evite fazer download de conteúdos pirateados: as
grandes empresas estão cada vez mais intolerantes em
relação a conteúdos piratas pela internet, e os órgãos e
segurança têm ajudado a combater a pirataria. Evite baixar
games e filmes via torrent.

𓇼 𓇼
Falando ainda em internet, procure evitar se expor com
suas plantas. Confira sempre se as fotos que você está
tirando com seu celular estão sem localização (muitos
aplicativos inserem sua localização automaticamente, e
esses dados permanecem no arquivo de imagem mesmo
depois de postados nas redes sociais). Crie perfis separados
para sua vida pessoal e para sua vida de grouzeiro.
Mantenha poucas redes sociais. Evite discussões e intrigas
pela internet com pessoas sem escrúpulos que podem vir a
te denunciar. Se possível, livre-se de vez do WhatsApp e do
Facebook (se possível, se livre até mesmo do seu celular).
Se aperfeiçoe sempre: não plante e pare por aí. Leia, se
exercite, dialogue, milite, se mantenha curioso. Um
grouzeiro que se esquece de se educar e de combater
injustiças pode acabar vítima de injustiças ele mesmo. Sua
melhor arma de resistência são seus amigos e seus livros.

Preparação técnica do grouzeiro


urbano
Obviamente, o grouzeiro que se interessa por assuntos
como pequenos consertos (elétrica principalmente),
jardinagem orgânica e que saiba operar ferramentas
básicas (furadeira, alicates, chaves, etc.) está em maior
vantagem que o grouzeiro leigo. Mas a principal arma do
grouzeiro é a pesquisa.
Um grouzeiro que não lê, não pesquisa e não se informa
não é um grouzeiro: é no máximo um jardineiro ruim e um
maconheiro chato. Procure sempre aprender mais sobre
áreas como química, botânica, biologia e ecologia. Falando
de forma pessoal, o curso técnico em meio ambiente que

𓇼 𓇼
cursei quando mais novo foi um dos melhores
investimentos que já fiz na vida (por mais que nunca tenha
atuado na área): química e ciclo da água, química e
microbiologia do solo, compostagem, reciclagem,
fertilizantes, etc. — aprender sobre esses temas é útil para o
cultivo caseiro de maconha e para a vida como um todo.
Adotar a tática de tentativa e erro é perda de tempo e
dinheiro, pra não falar na vacilação de acabar sendo
descoberto ou denunciado por alguém caso algo dê errado.
Procure assistir a tutoriais sobre consertos elétricos de
tomadas, luminárias, etc. Além de aprender a montar um
grou seguro e organizado, de quebra você também vai
aprender a fazer pequenas reformas em casa. Tome sempre
cuidado com sua segurança e com a segurança de terceiros.

O lugar
Antes de tudo aprenda duas lições essenciais:
1. Todo grou é uma groubiarra.
Por mais mega-top-foda-master-elite-dos-State que seja
uma cabine/tenda de cultivo, todo grou é uma gambiarra.
Esqueça aqueles anúncios de tendas e cabines de cultivo que
custam o olho da cara. Deixa isso pros impacientes que
tratam o grou como se fosse uma máquina de lavar pratos.
A sua atitude diante do grou deve ser diferente: de
paciência, pesquisa e um tanto de criatividade (ou seja, de
improviso).
2. Toda groubiarra pode (e deve) ser melhorada.

𓇼 𓇼
Por mais profissa que seja sua tenda de cultivo comprada
prontinha, sempre vai haver algo a ser melhorado ou
corrigido. De novo: pesquise e seja criativo.
Tendo consciência disso, vamos ver agora alguns pontos
essenciais antes de montar seu grou.

Rotina e pessoas
Antes de começar a pensar no lugar, pense na sua rotina,
no seu dia a dia nesse lugar:
• Quantas horas por dia você fica em casa?
• Outras pessoas entram com frequência na sua
casa/quarto (ou outro cômodo onde vai ficar o grou)
quando você está fora?
• Você tem alguma forma de chegar na sua casa
rapidamente caso algo dê errado?
• Você conversou com sua/seu namorada/o e pessoas
próximas e de confiança sobre seu projeto de cultivo?
Caso algo dê errado, eles te darão apoio e ajuda?
Pense sempre nesses pontos (e em outros) antes de
começar a escolher o lugar. Trace um plano para ajustar sua
rotina de acordo com o cultivo.

O grou mais adequado ao lugar


O seu grou deve estar adequado à sua rotina e às pessoas
que visitam sua casa e também estar bem escondido de
estranhos. Pense nos seguintes pontos:
• Meu grou pode ser visto por vizinhos? Há pontos
cegos que podem ser mais seguros?

𓇼 𓇼
• O melhor pra mim é um grou fixo (como dentro de um
armário) ou móvel (dentro de um gabinete de
computador)?
• Eu posso camuflar facilmente meu grou quando
receber visitas estranhas?
Além desses pontos, há dois problemas que mais
preocupam grouzeiros iniciantes: vazamentos de luz e de
cheiro.

Vazamentos de luz
Vazamento de luz é algo preocupante quando usamos
leds pois a luz é realmente potente e pode chamar a atenção
de curiosos. O ideal é investir em lona de polietileno
refletivo metalizado ou em lona duplalon (plástico preto de
um lado e branco do outro) para “forrar” seu grou. Essas
lonas podem ser facilmente encontradas à venda por metro
(em torno de R$ 70 o metro quadrado) em growshops ou no
Mercado Livre.
Corrigir vazamentos de luz é uma das partes mais
complicadas para quem quer ter um grou totalmente
camuflado e livre de suspeitas. Caso não queira investir na
lona metálica logo no começo e se o seu grou não precisar
ficar totalmente camuflado, você pode usar esse mesmo
valor pra comprar uma cortina black-out (corta-luz) pra
usar na janela do cômodo onde vai ficar o grou (afinal, sua
preocupação pode não ser com quem entra no seu cômodo,
mas você terá de tomar muito cuidado com curiosos e
olhares que venham do lado de fora da sua casa). Tome
cuidado pra fechar a cortina sempre antes de anoitecer.

𓇼 𓇼
Especialmente em grous de armário, tiras de espuma de
polietileno de alta densidade ou outros tipos de espumas
podem ser muito úteis para vedar vazamentos de luz em
frestas e portas. O ideal em grous de armário é que você
insira algum tipo de fechadura que ajude a manter as portas
sempre bem juntas e unidas, usando a espuma para
compensar vazamentos de luz em frestas e aberturas. Você
pode ainda usar produtos como Flex Seal, Sika Boom e
outros tipos de veda-frestas tanto nas frestas quanto nos
buracos feitos para ventilação e nos dutos de ar.

Vazamentos de cheiro
Com vazamentos de cheiro você pode se preocupar
menos e não precisa investir em filtros de carvão logo de
cara: caso cultive uma ou duas plantas fêmeas, dificilmente
o cheiro será percebido por vizinhos se o lugar do seu grou
for relativamente isolado. Com plantas machos a história é
diferente: o pólen realmente tem um cheiro mais forte que
pode ser notado de longe (mesmo no caso de uma única
planta). Entretanto, como plantas machos não são de nosso
interesse, fica a recomendação de eliminá-las do seu grou
assim que você notar sacos de pólen na sua planta.
Em apartamentos, escolha cultivar no cômodo mais
distante da porta que dá para o hall/áreas comuns.
Novamente: não compre filtros de carvão e exaustores caros
caso pretenda cultivar uma ou duas plantas fêmeas e caso o
lugar escolhido pro seu grou seja relativamente isolado.
Quando a planta começar a florescer, se você notar um
cheiro forte que esteja vazando além do lugar do grou, aí sim

𓇼 𓇼
pode pensar em investir num sistema de filtragem de ar
(filtro de carvão, exaustor, etc.).

Armário, gabinetes, sapateiras…


Você pode usar sua criatividade pra escolher onde
montar seu grou de acordo com o seu orçamento.

𓇼 𓇼
Armários são a opção mais barata, prática, discreta e
segura. Você pode inserir uma fechadura para ficar mais
seguro. Por outro lado, é mais complicado furar um armário
para adaptar o sistema de ventilação (leia mais sobre
ventilação a seguir); e ventilação é essencial pra ter uma
planta saudável.
Caso você opte por um armário, pense em investir num
armário móvel de uma ou duas portas com prateleiras. No
desenho acima você pode conferir um grou de armário com
uma prateleira/divisória para duas partes: a parte de baixo
para plantas mais avançadas; a parte de cima para
mudas/clones menores.
Um banheiro ou lavabo sem uso também é uma boa
alternativa. Entretanto, um banheiro/lavabo cheio de
plantas é ainda menos discreto que uma tenda de cultivo:
pessoas curiosas podem querer abrir a porta e conferir o
que tem lá dentro (e você não poderá mover ou camuflar um
grou de lavabo tão facilmente quanto faria com um grou de
gabinete de computador ou um grou de armário). Janelas de
banheiros/lavabos tapadas com papelão (pra evitar
vazamento de luz) podem atrair olhares de curiosos.
Além disso, o principal problema, a meu ver, em cultivar
plantas em banheiros é a tentação de cultivar muitas
plantas por causa do espaço de sobra. Isso pode levar o
grouzeiro iniciante a acumular plantas e mais plantas num
local que não é muito estratégico. Nesse caso, o mais
recomendável é evitar cultivar em banheiros e investir
numa tenda de cultivo: as plantas podem ser escondidas e a
tenda pode ser desmontada rapidamente caso algo dê
errado.

𓇼 𓇼
Caso seu grou precise ser extremamente discreto, pense
em investir num groubinete: gabinetes de computador têm
a vantagem de serem móveis (você pode esconder ele dentro
de um armário) e facilmente adaptáveis com sistemas de
ventilação usando coolers silenciosos. Além disso,
dificilmente alguém vai estranhar um vazamento de luz led
saindo de uma CPU. Caso você opte por um groubinete,
preste muita atenção à escolha da genética de sua semente:
escolha plantas de genética +indica e -sativa (e de
preferência sementes de plantas automáticas em vez de
sementes de plantas fotoperíodo). Use vasos mais
horizontais e quadrados (evite os altos e redondos) e
aprenda técnicas de low stress training pra manter sua
planta baixa. O reddit tem um board exclusivo pra cultivo de
plantas pequenas chamado r/microgrowery – dê uma
googlada e confira as ideias e a criatividade da galera por lá.

A estica
Ao planejar seu grou, sempre leve em consideração a
altura do vaso, o tamanho da planta (leia mais no capítulo “A
semente”) e a “estica” da planta: durante a fase de floração,
sua planta “esticará” bastante, podendo dobrar ou triplicar
de tamanho. Leve sempre isso em consideração. Para
manejar o tamanho/altura da planta, pesquise por técnicas
de low stress training.

Segurança em primeiro lugar


Por fim, existem alternativas mil: sapateiras, caixas de
papelão, tambores, geladeiras antigas, etc. Em todo caso,
sempre preste muita atenção à segurança! Procure sempre

𓇼 𓇼
minimizar a quantidade de fios emendados com fita isolante
e o uso de papel, papelão e plástico e outros materiais
inflamáveis no seu grou. Caso use caixas de
plástico/papelão ou madeira, procure aplicar tinta/verniz
antichamas em toda a parte interna e externa do seu grou e
jamais mantenha aparelhos elétricos perto de embalagens
com água e outros líquidos (como fertilizantes, por
exemplo).

A luz
Depois de escolher o lugar e pensar bastante na sua
rotina, pense na luz. Eu não começo falando de sementes,
substrato, rega nem nada disso – começo falando da luz por
dois motivos:
1. a luz é o aspecto mais importante do seu grou; a luz é
indispensável para a fotossíntese; e
2. começar um cultivo indoor com luzes erradas ou
insuficientes vai atrasar o desenvolvimento da sua planta
e estressá-la.
Prenseeds, por exemplo, têm uma genética muito
instável: elas podem hermafroditizar (ou seja, mostrar sacos
de pólen em vez de cálices com tricomas; leia mais sobre isso
no capítulo “A semente”) caso a luz seja fraca ou caso o ciclo
de luz/escuridão não seja estável e constante.

Comece com led


Outros tipos de luz são menos seguros e mais
descartáveis. Mas tome cuidado: compre leds de qualidade

𓇼 𓇼
e evite leds chineses/genéricos. Ajude a cena de growshops
e evite comprar leds de lugares que não tenham
envolvimento/engajamento com nossa cena. Busque
também sempre comprar de lugares que forneçam garantia
de pelo menos um ano.
Caso seu objetivo seja manter apenas uma planta no seu
primeiro cultivo (o que eu recomendo fortemente), um led
de 150 W é mais que o suficiente. Caso não possa investir
num led de 150 W, poderá começar com os ‘leds de mercado’:
são leds em formato de refletores usados para iluminação
de áreas externas (como em condomínios), com potências
que variam entre 30, 50, 100 ou mais watts. Geralmente são
mais baratos e podem ser usados no comecinho do cultivo
de poucas plantas. Com o tempo você poderá aumentar o
número deles ou investir num led full spectrum de 150 W ou
mais. Com leds de mercado, o aquecimento é um problema:
como são lâmpadas para áreas externas, eles não contam
com sistemas de ventilação. Caso seu grou acumule muitos
leds desse tipo, provavelmente você terá de compensar o
aquecimento do seu grou com mais exaustão de ar.
Falando em ventilação, um problema comum com todos
os leds é a ventoinha/cooler que vem junto deles:
geralmente são coolers de baixa qualidade que pifam com
alguns meses de uso. Coolers com problemas podem gerar
curtos e fazer muito barulho (caso você esteja longe do seu
grou, um cooler barulhento pode ser uma dor de cabeça e
atrair curiosos). Mantenha um cooler extra de 80 mm (8 cm)
sempre à mão. Você pode achar esses coolers facilmente em
lojas de informática (ou pode até mesmo reaproveitar o que
encontrar em gabinetes de computadores usados). Ter um

𓇼 𓇼
cooler reserva evita que você tire das suas plantas a fonte
principal de luz delas até que consiga resolver o problema.

Ciclos de luz
A fase vegetativa (chamada de “vega”) é a etapa de
crescimento da planta. Ao contrário das
automáticas/ruderalis, sementes com genética fotoperíodo
precisam passar por mudanças no ciclo de luz para que
comecem a florescer (chamada de “flora”); do contrário, sua
planta fotoperíodo crescerá continuamente, e poderá até
florescer, mas pode demorar a formar flores mais
compactas.
A partir do momento que sua planta germina e sai à luz,
você pode começar a contar o período de cultivo. Assim que
sua planta fotoperíodo começar a receber de 10 a 12 horas
ininterruptas de escuridão, ela começará a florescer. No
caso de automáticas (plantas de genética ruderalis), a fase
de floração começará automaticamente (daí seu nome), após
algumas semanas de crescimento, sem necessidade de
alteração do ciclo de luz exigido pelas plantas do tipo
fotoperíodo.
Me baseando na tabela de cultivo da Fat Crystal (que pode
ser baixada em formato PDF neste link), recomendo um
cronograma de cultivo de 14 semanas no total:
• germinação (baby cannabis) — 2 semanas (germinação
em pote pequeno); ciclo de luz: 16 horas de luz / 8 horas
de escuridão;

𓇼 𓇼
• vega — 3 semanas; antes dessa etapa você fará o
transplante do pote pequeno para o vaso maior e
definitivo; é importante que você aprenda técnicas de low
stress training e outras técnicas de poda e
manejo/amarração dos galhos para produzir mais buds;
ciclo de luz: 18 a 20 horas de luz / 6 a 4 horas de
escuridão;
• flora — 7 semanas; ciclo de luz: 10 a 12 horas de luz / 14
a 12 horas de escuridão;
• flush — 2 semanas; ciclo de luz: idem ao da vega; nessa
etapa você pode suspender a aplicação de fertilizantes
(ou seja, usar somente água) para que a planta use os
nutrientes restantes no solo e comece a “decair” e
amarelar, produzindo menos clorofila (o que ajuda a
obter flores com sabor mais suave).
Para ter uma noção desse período, pense sempre no
prazo de 3 meses e 15 dias (esses últimos 15 dias são pro
flush). É um prazo bom para diversos tipos de plantas.
Algumas automáticas podem ser cultivadas e colhidas até
mesmo num período menor. Sativas, por outro lado, podem
exigir mais tempo (às vezes até 5 meses ou mais). De
qualquer forma, eu sempre recomendo o período de 3 meses
e 15 dias de cultivo do início (germinação) ao fim (flush e
colheita), não importando se sua planta é sativa, indica ou
automática. Cultivar por mais tempo pode atrair pragas e
trazer ansiedade, fazendo com que você desista do cultivo
no meio do caminho. O mais importante nesse prazo é
alterar o ciclo de luz da fase vegetativa para a fase de
floração no tempo correto, evitando prolongar o cultivo por
mais tempo.

𓇼 𓇼
Timers/temporizadores
Timers são um ótimo investimento pra ajudar a controlar
esses ciclos. Entretanto, invista num timer somente se sua
semente for fotoperíodo. (Leia mais sobre sementes
fotoperíodo, automáticas e feminizadas no capítulo “A
semente” a seguir.) Caso você pretenda começar com uma
automática/ruderalis, pode manter sua planta do início ao
fim no ciclo 18-20 horas de luz e 6-4 horas de escuridão.
Além de timers, uma alternativa para controles do ciclo
de luz é o Sonoff: um pequeno interruptor controlado por
aplicativo no celular e via wifi.
Se você decidir investir em fertilizantes e nutrientes (de
preferência orgânicos! evite sempre os fertilizantes
minerais), verá que eles trazem no rótulo “vega”, “flora”,
“final”, entre outros termos que indicam o momento em que
devem ser usados, de acordo com o estágio de crescimento
da planta (a tabela da Fat Crystal pode te ajudar a se
organizar nesse sentido).

Luz de emergência
Se sua região sofre quedas de energia constantes, invista
também numa lanterna led: ela pode servir de fonte de luz
pras suas plantas enquanto a energia não retorna. Isso evita
que suas plantas fotoperíodo comecem a entrar em floração
quando estiverem ainda na fase vegetativa. Mantenha sua
lanterna sempre recarregada ou com pilhas à mão para
esses momentos.

𓇼 𓇼
A ventilação
Minha opção favorita para ventilação são os coolers.
Coolers têm uma capacidade de exaustão de ar muito menor
do que exaustores; em compensação, são muito mais
baratos e extremamente silenciosos. Caso seu grou precise
ser bem discreto, coolers são a melhor escolha.
Para um grou pequeno de uma planta (algo como 1,50 m
de altura por 50 cm x 50 cm), você pode usar o seguinte
esquema (obviamente, você pode começar com um número
menor de coolers, mas adaptá-los ao seu grou depois pode
dar mais trabalho):
• 2 coolers de 8 cm para exaustão (saída de ar);
• 2 coolers de 8 cm para ventilação (entrada de ar);
• 2 coolers de 20 cm para ventilação interna (ventilação
sobre a planta, pra evitar acumular umidade nas folhas);
• 2 metros de duto flexível de alumínio.
Você deverá arranjar um esquema pra instalar esses
coolers de forma segura. Coolers de computador
geralmente precisam de uma fonte de energia de 12 volts.
Existem adaptadores/fontes feitos especialmente pra
transformar a saída de 110 volts (das tomadas domésticas)
para 12 volts. Entretanto, recomendo que você monte esse
sistema de coolers com algum especialista em elétrica ou
informática.
Instale os coolers em locais estratégicos do seu grou:
evite instalá-los na parte frontal ou na porta do seu grou.
Prefira as laterais ou mesmo o fundo. Caso opte pelo fundo,
procure manter o grou um pouco afastado da parede para

𓇼 𓇼
que o cooler possa operar com liberdade, podendo ventilar
com toda sua capacidade.
Em vez de ventiladores barulhentos que ficam
trepidando, coolers de 20 cm também podem ser usados
para a ventilação interna: a ventilação voltada sobre as
plantas evita que as folhas (e as flores, principalmente)
fiquem úmidas demais, o que ajuda a evitar a proliferação de
pragas (nas folhas) e fungos (principalmente nas flores).
Mas cuidado: muita ventilação interna (ou um ventilador
muito potente e muito próximo da planta) pode acabar
secando as folhas e o substrato.
Depois da colheita, você pode transformar seu grou
numa cabine de secagem: basta desligar as luzes e
direcionar os coolers internos na direção das flores (que
podem pender amarradas em varais feitos com
cordões/linhas ou arames dentro do grou).
Para evitar vazamentos de luz nos buracos feitos para
encaixar os coolers de exaustão/ventilação, você pode
investir em dutos flexíveis de alumínio. Para quatro coolers,
de dois a quatro metros de duto flexível é o suficiente.

O substrato
Meu substrato preferido por agora (e o mais em conta) é
uma mistura de perlita, vermiculita e húmus de minhoca. A
proporção é de uma parte de perlita para duas partes de
vermiculita. O húmus de minhoca é usado em bem pouca
quantidade (algumas colheres de sopa) apenas para que o
substrato não fique totalmente inerte (ou seja, sem
microrganismos). Seu substrato deve ser leve e aerado; a

𓇼 𓇼
perlita ajuda nisso e, assim como a vermiculita, ajuda
também a reter a água por mais tempo.
Para ajudar na aeração, faça diversos furos de diferentes
tamanhos até a altura de ⅓ ou de metade do vaso. Para que
o substrato não escorra pelos furos junto com a água, use
fibra de coco para formar uma espécie de rede para reter o
substrato; essa rede pode ir até a altura dos furos. Por fim,
no fundo do vaso, use argila expandida (ou, como alternativa
mais barata, brita/pedriscos limpos e lavados ou pedaços de
tijolo/azulejo quebrado).

Substrato não perdoa erros


Com solos e substratos evite gambiarras: solos retirados
de qualquer lugar (como terra do quintal da sua tia, terra de
canteiros de obras ou terras vendidas em lojas de 1,99) são
muito prejudiciais pra planta porque geralmente são
compostos por argilas (o que dá a eles o aspecto de lama) ou
por matéria orgânica em decomposição (restos de folhas,
galhos, etc.), o que eleva muito o pH do solo
(consequentemente, a planta sofre dificuldade de absorver
e processar nutrientes importantes).
Não é raro ver sementes desperdiçadas em solos que
estão longe de serem adequados, bem como atraso no
desenvolvimento de plantas que poderiam crescer
saudavelmente se fossem plantadas desde o início num
substrato adequado.

𓇼 𓇼
Solos prontos
Caso queira investir em um solo pronto de qualidade,
você pode conferir os produtos da Fat Crystal. O substrato
Fat Solo da Fat Crystal conta com a vantagem de ser
orgânico, testado, com pH equilibrado e muito rico em
microrganismos benéficos. Com esse solo a vantagem é que
não é preciso complementá-lo com nutrição externa: você
pode levar sua planta do começo ao fim sem precisar
recorrer a nutrientes e fertilizantes. A Fat Crystal informa
que há outras fontes de fertilização (como chá de composto,
alga marinha em pó e outros produtos) que podem ser
usadas no solo para complementar e manter a nutrição.
O Carolina Soil é outro substrato pronto muito
recomendado. Pessoalmente, entretanto, eu sempre senti a
necessidade de complementar o Carolina Soil com perlita
para fornecer mais aeração ao substrato.
No desenho a seguir você pode conferir os componentes
do substrato (mistura de perlita, vermiculita e húmus) e a
ordem em que a planta, o substrato, a rede de fibra de coco
e a argila devem ser dispostos no vaso:

𓇼 𓇼
𓇼 𓇼
A semente
Atenção antes de escolher sua semente: você tem que
escolher o tipo de variedade e de planta adequado ao seu
grou. Não adianta escolher uma semente de uma planta com
genética +sativa se o seu grou não tem espaço vertical o
suficiente para sativas (plantas longas, que esticam
bastante principalmente durante a floração). Da mesma
forma, não adianta comprar dezenas de sementes se você só
tem espaço e luz pra uma única planta.
Então, antes de tudo, pense no grou que você quer ter
para só então escolher a planta que você vai cultivar (e a
quantidade de plantas que pretende cultivar): você pode
cultivar uma planta pequena dentro de um gabinete de
computador (microgrou), uma planta +sativa e longa dentro
de um armário comprido de uma porta ou ainda várias
plantas pequenas +indica dentro de um armário baixo e
largo. As possibilidades são infinitas.

Vá de automática
Para o primeiro grou, recomendo que você cultive uma
única planta automática de uma seed feminizada. Eu
comecei com uma única planta automática feminizada de
ótima genética que me rendeu flores o suficiente para um
ano.
Automáticas são plantas que têm parte de sua genética
de plantas ruderalis, e podem ser tanto +indica quanto
+sativa (embora seja mais comum encontrarmos
automáticas +indica). A ruderalis se adaptou para produzir
flores sem a necessidade de alteração no ciclo de luz; ou seja,

𓇼 𓇼
sua automática vai começar a florir sem que você precise
alterar o ciclo de luz. Mesmo assim, é uma boa ideia investir
num timer logo no início para que você não interfira no ciclo
de luz (o que evita estressar a planta) e ao mesmo tempo
economizar energia.
Mas atenção: para acertar no cultivo de automáticas, três
coisas são essenciais: luz, ar e substrato. Sendo assim, não
plante mais de uma planta no seu primeiro cultivo. Germine
uma única semente de automática e plante somente ela,
dando a ela bastante luz, ar e outros cuidados. Invista no
sistema de ventilação e tome muito cuidado pra não
“sufocar” sua planta. Por fim, invista num substrato de
qualidade e fique atento às regas e à nutrição.

Onde conseguir
O grouzeiro pode começar a treinar com prenseeds. Mas
caso ele possa investir uma graninha e queira evitar
surpresas, pode optar por seedbanks nacionais.
Evite seedbanks internacionais e sites estrangeiros,
especialmente sites traduzidos para português: sites de
seedbanks estrangeiros traduzidos atraem muitos
compradores de ocasião ou compradores impulsivos que
adquirem sementes sem muito planejamento e estratégia.
Exatamente por atrair muitos compradores brasileiros, os
envelopes enviados por esses seedbanks internacionais são
os mais visados pela polícia e por órgãos de fiscalização
quando chegam no Brasil.
Quando não tínhamos muitos cultivadores brasileiros, os
seedbanks estrangeiros eram a opção mais segura e de
qualidade (em relação a genéticas estáveis); mas hoje o

𓇼 𓇼
cenário mudou e temos muitos grouzeiros que cultivam
plantas saudáveis e que assim conseguem produzir e vender
sementes. Se com isso, por um lado, surgiram muitos
esquemas e golpes de venda de sementes no Brasil, por
outro lado existem cultivadores/seedbanks brasileiros
confiáveis que ajudam a tornar mais segura a compra de
seeds com boa qualidade – e tudo isso sem mais ficarmos
dependentes de seedbanks internacionais e ansiosos com o
envio e a fiscalização de envelopes pela polícia e por órgãos
de fiscalização. Sem dar mais detalhes por questões de
segurança, vou ser curto e direto: Insta.

Prenseeds
Prenseeds são uma ótima opção caso você já tenha lido
bastante e pesquisado o que pôde sobre cultivo. Caso você
não tenha lido muito sobre cultivo, mesmo assim pode
começar com prenseeds desde que seja rápido e pesquise
bastante. Isso porque prenseeds são imprevisíveis e sempre
uma surpresa: cada uma pode (e vai) se comportar de um
jeito diferente.
De modo geral, prenseeds têm uma genética +sativa, o
que significa que serão plantas mais longas (verticais), e
exigem um período de cultivo/floração mais longo que o de
plantas +indica. Então tome cuidado com os seguintes
pontos:
• Caso opte por prenseeds, escolha as sementes mais
saudáveis e firmes. Você pode germinar em torno de 10 a
15 prenseeds em potinhos individuais. A partir dessa
seleção, escolha as mudas (quatro ou cinco) que mostram
um desenvolvimento mais saudável.

𓇼 𓇼
• Plantar prenseeds significa não saber qual será o sexo
da planta. Sendo assim, você vai precisar manter algumas
plantas pra ter certeza de que terá ao menos uma planta
fêmea; ou seja, seu grou vai precisar ter um espaço maior.
Para um grou de armário com área de 70 x 70 cm, você
poderá manter pelo menos 4 ou 5 mudas pequenas.
Mantenha apenas as fêmeas.
• Caso sua planta se mostre longa, com internós
espaçados, folhas finas e longas, trata-se de uma planta
de genética +sativa. Caso ela se mostre baixa, com folhas
mais ovaladas e internós mais unidos, trata-se de uma
planta de genética +indica.
• Cultive sua planta de genética +sativa como se fosse
uma indica: use o mesmo período de vega e flora e evite
ultrapassar as 14 semanas de cultivo. Isso evita que sua
planta fique longa demais (ocupando um espaço que você
pode não ter no seu grou), além de evitar que ela comece
a decair e atrair pragas.
• Pesquise técnicas de low stress training e
poda/defoliação; isso ajudará a manter sua planta +sativa
menor e a ter buds mais cheios.
• Apesar de plantas de genética +sativa exigirem menos
nutrição em comparação com as +indica, é uma boa
investir em fertilizantes orgânicos para ter buds mais
cheios.
• Dê atenção especial ao ciclo de luz: plantas +sativa de
prenseeds podem demorar mais para mostrar o sexo,
mas se mantenha firme e não prolongue o ciclo
vegetativo.
• Caso sua planta esteja pequena na fase vegetativa,
não se preocupe: ela poderá ainda compensar a
altura/estica na fase de floração.

𓇼 𓇼
Rega e fertilização
Uma preocupação comum dos grouzeiros é a quantidade
de água e a frequência da rega e de nutrição/fertilização.
Mas não se preocupe: acompanhando sua planta todos os
dias você dificilmente deixará ela secar. Por outro lado,
procure evitar regar demais a sua planta: é mais provável
que você afogue sua planta por regá-la demais do que deixe
ela morrer por regar de menos. Acompanhe sua planta
todos os dias para aprender o ritmo dela.
Uma dica para rega é sentir o peso do vaso: caso esteja
muito leve, é hora de regar. Caso o solo fique muito seco, sua
planta pode começar a murchar: as folhas começam a ficar
pendentes e a ponta dos galhos começam a dobrar –
também é hora de regar.
Para fertilização, eu recomendo um kit de fertilizantes
orgânicos. Eles geralmente vêm separados por frascos para
o estágio inicial, para o estágio vegetativo (vega) e para o
estágio de floração (flora). Basta misturá-los em água
filtrada num frasco (uma garrafa PET, por exemplo) e regar
o solo.
Uma sugestão é investir num bom filtro de barro com
velas de tripla ação, que ajudam a remover o cloro da água
(o cloro é altamente prejudicial para as plantas). Para
evaporar o cloro, você também pode (e deve) deixar a água
descansar por alguns dias antes de usá-la na rega.
Evite fertilizantes minerais/químicos: apesar de trazer
resultados mais rapidamente, eles matam os
microrganismos benéficos presentes no solo.
Pessoalmente, não uso mais fertilizantes químicos há muito

𓇼 𓇼
tempo porque, mesmo com o flush, tenho a sensação de que
o fumo e os efeitos não são iguais aos de uma planta
cultivada organicamente. Acho o fumo de uma planta
cultivada com fertilizantes minerais/químicos mais
irritante para a garganta, com sabor desagradável; os
efeitos também são diferentes pra mim, com mais sensação
de tremor pelo corpo e “ressaca”.

Checklist
Use a lista abaixo como uma lista de compras. Ao fazer
suas pesquisas pela internet, anote o valor e o lugar em que
pretende comprar cada item. Entre parênteses eu deixei
algumas sugestões de lugares e valores.
• led 150 W (growshops ou Insta) ou “led de mercado”
(no mínimo 30 W para germinação, podendo aumentar o
número de leds depois);
• timer/temporizador ou Sonoff;
• substrato (ou solo pronto):
▪ perlita;
▪ vermiculita;
▪ húmus de minhoca;
▪ fibra de coco;
▪ argila expandida.
• lonas (Mylar, duplalon, etc., mais facilmente
encontradas no Mercado Livre);
• tiras de espuma para vedação;
• veda-frestas;
• fita isolante e outros tipos de fitas de isolação;
• duto de alumínio flexível (2 a 4 metros);
• coolers:

𓇼 𓇼
▪ 2 coolers de 8 cm para exaustão (saída de ar);
▪ 2 coolers de 8 cm para ventilação (entrada de ar);
▪ 2 coolers de 20 cm para ventilação interna
(ventilação sobre a planta, pra evitar acumular
umidade nas folhas).
• vasos (para 1 planta):
▪ 1 vaso ou pote pequeno para germinação;
▪ 1 vaso grande (capacidade para pelo menos 11 litros)
para a fase vegetativa (vaso definitivo);
• sementes (Insta) ou prenseeds;
• fertilizantes (pelo menos a partir da fase vegetativa;
sempre use fertilizantes orgânicos).
Além do grou em si (armário, tenda de cultivo, etc.), isso
é o básico pra começar seu cultivo. Você poderá melhorar
seu grou com o tempo: medidor de pH, filtros para controle
de odor, tesouras de cortes de diferentes tipos,
compostagem própria, clones de plantas-mãe, etc.

Glossário
Eu havia pensado em criar um glossário pros termos
mais recorrentes e pras gírias mais usadas pelos
grouzeiros, mas então me dei conta de que gírias são
códigos essenciais pra sobrevivência de uma cultura que
está à margem da legalidade.
Criar um glossário que explique os vários termos pode
ser usado pela polícia e por agentes de segurança
inescrupulosos para criminalizar ou perseguir (ainda mais)
os indivíduos que têm envolvimento com a maconha. Não
vou fazer esse trabalho por eles.

𓇼 𓇼
Para o grouzeiro deixo a dica de sempre: pesquisa e
curiosidade são seus aliados. Confira mais informações nas
referências a seguir.

Referências
Listo aqui não só as referências usadas ao longo deste
livro, mas também recomendações diversas de conteúdos
ótimos (tanto pra se tornar um bom cultivador como pra ser
um indivíduo mais consciente).

Artigos e matérias
DEMOCRATIZANDO as polícias. Policial Pensador, [s.l.], 23
ago. 2018. Disponível em: <http://www.policialpensador.
com/2018/08/democratizando-as-policias.html>. Acesso
em: 15 mar. 2019.

FRANCO, Marielle. UPP – a redução da favela a três letras:


uma análise da política de segurança pública no Estado do
Rio de Janeiro. 2014. Dissertação (Mestrado em
Administração) – Faculdade de Administração e Ciências
Contábeis, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2014.
Disponível em: <https://app.uff.br/riuff/bitstream/
1/2166/1/Marielle%20Franco.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2019.

ROSSI, Mariana. Dudu Ribeiro: “Debater apenas a


legalização da maconha só trará mais conforto à classe
média”. El País, São Paulo, 1 jun. 2019. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/27/politica/1558
972773_128892.html>. Acesso em: 1 jun. 2019.

𓇼 𓇼
RUSSO, Guilherme. Conversamos com alguns policiais que
plantam maconha e defendem uma regulamentação mais
esclarecida em relação às drogas. Revista Trip, São Paulo, 6
nov. 2017. Disponível em: <https://revistatrip.uol.com.br/
trip/conversamos-com-alguns-policiais-que-plantam-
maconha-e-defendem-uma-regulamentacao-mais-
esclarecida-em-relacao-as-drogas>. Acesso em: 14 fev.
2019.

Cultivo
ASSOCIAÇÃO CANNÁBICA DO BRASIL (ACB). Cartilha de
comportamento numa “visita” policial. 2011. Disponível em:
<https://grhs.com.br/wp-content/uploads/2018/06/
Cartilha_de_comportamento__numa_visita_policial__A.C.
B._.pdf.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2019.

FAT CRYSTAL. Grow chart. [2018]. Disponível em:


<https://cdn.shopify.com/s/files/1/1763/2189/files/FD-
CHRT_dad2baf0-1c63-42ba-ae7f-
2e61e185e21e.pdf?14340511194206026079>. Acesso em: 25
jan. 2019.

Fascismo, nazismo e mentalidade


reacionária
SNYDER, Timothy. Terra negra: o Holocausto como
história e advertência. Tradução de Donaldson M.
Garschagen e Renata Guerra. São Paulo: Companhia das
Letras, 2016.

𓇼 𓇼
VÁ e veja (Idi i smotri). Direção: Elem Klimov. Roteiro:
Elem Klimov; Ales Adamovich. União Soviética: Mosfilm;
Belarusfilm, 1985. 2h 22 min., son., color.

História e repressão
BASEADO em fatos raciais (Grass is Greener). Direção: Fab
5 Freddy. Produção: Fab 5 Freddy, Vikram Gandhi. [S.l.]:
Netflix, 2019. 1h 37 min., son., color.

CARLINI, Elisaldo Araújo. A história da maconha no Brasil.


Jornal brasileiro de psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 55, n. 4.,
jan. 2006. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v55n4/a08v55n4.pdf>.
Acesso em: 27 fev. 2019.

HERER, Jack. The Emperor Wears No Clothes. Van Nuys: Ah


Ha Publishing, 1985. Disponível em: <https://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Jack_Herer_-
_The_Emperor_Wears_No_Clothes.pdf>. Acesso em: 27
mar. 2019.

SAAD. Luísa. “Fumo de Negro”: a criminalização da


maconha no pós-abolição. Salvador: Edufba, 2019. 160 p.

Agradecimentos
Devo reconhecer o esforço e a dedicação daqueles que
direta ou indiretamente lutam contra esse sistema
abertamente: membros da comunidade jurídica e muitos
políticos e ativistas, como Marielle Franco, que após seu
assassinato foi caluniada como ‘mulher de traficante’ e

𓇼 𓇼
‘maconheira’ em fake news espalhadas por reacionários e
conservadores de movimentos ‘liberais’. Jamais serão
esquecidos. A Marcha da Maconha é também uma das
maiores representantes do que reivindico neste livro não só
em relação a usuários e cultivadores: lá também é espaço
para o movimento negro, LGBTQ+ e feministas. Todos esses
movimentos têm algo em comum com este livro: denunciar
injustiças e tornar mais humanas as relações entre
indivíduos.
Também devo reconhecer o esforço inestimável dos
verdadeiros comerciantes e pequenos empresários do
mundo canábico que se distanciam e se diferenciam dos
empresários inescrupulosos, preocupados apenas com
marketing e lucro.
Agradeço também o esforço dos cultivadores que
mantêm bancos de sementes e que todos os dias correm o
risco de serem enquadrados como traficantes.
Devo agradecer também aos próprios cultivadores, que
passam pelo mesmo todos os dias. São eles os participantes
ativos de fóruns como o Grow Room, que ajudam iniciantes
com dúvidas e com assessoria jurídica nos casos de
grouzeiros que são importunados e têm suas vidas
reviradas do avesso com processos, promotores e
burocratas inescrupulosos. A galera do Grow Room há 17
anos faz parte dessa luta. Só tenho a agradecer a eles.
Devemos um reconhecimento inestimável aos médicos,
voluntários e cultivadores de maconha medicinal que
ajudam crianças e jovens e que lutam todos os dias contra o
obscurantismo anticientífico por formas mais humanas de
tratar quem precisa de ajuda.

𓇼 𓇼
Também não posso deixar de lembrar dos artistas,
músicos e escritores que tratam do tema e que usam sua
arte pra denunciar esse sistema. Além de Marighella, é
também inspirado nessa galera que decidi escrever este
livro. É o mínimo que eu poderia fazer como retribuição.

𓇼 𓇼
Aos curiosos: este livro foi escrito e diagramado entre o verão de
2018 e o inverno de 2019 em São Paulo-SP usando as fontes
Fyodor, Russo One, Kelly Slab e VidaLoka enquanto o autor
queimava sua manga-rosa de prenseeds autocultivadas ouvindo
sambistas paulistanos e cariocas cantando sua cultura.

𓇼 𓇼

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