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Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

U.C. 21033
Elementos de Análise Infinitesimal III

30 de janeiro de 2020

- INSTRUÇÕES -

• A prova é composta por 5 grupos de questões e respectivas alı́neas, contém 2


página(s) e termina com a palavra FIM.

• Verifique o seu exemplar e, caso encontre alguma anomalia, dirija-se ao professor


vigilante nos primeiros 15 minutos da prova, pois qualquer reclamação sobre de-
feito(s) de formatação e/ou de impressão que dificultem a leitura não será aceite
depois deste perı́odo.

• Todas as questões deverão ser respondidas no Caderno de Prova. Todos os cabeçalhos


e espaços reservados à identificação, deverão ser preenchidos com letra legı́vel. Uti-
lize unicamente tinta azul ou preta.

• Verifique no momento da entrega da(s) folha(s) de ponto se todas as páginas estão


rubricadas pelo vigilante. Caso necessite de mais do que uma folha de ponto, deverá
numerá-las no canto superior direito.

• Não serão aceites folhas de ponto dobradas ou danificadas. Exclui-se, para efeitos
de classificação, toda e qualquer resposta apresentada em folhas de rascunho.

• Não é permitido o uso de máquina de calcular, nem de elementos de consulta.

• Tenha em atenção que a prova tem a duração máxima de 2 horas e 30 minutos.

Cotação e critérios de correção:


• A distribuição da cotação total (20 valores) pelos cinco grupos de questões é a
seguinte: Grupo I: 5 val.; Grupo II: 4 val.; Grupo III: 4 val.; Grupo IV: 5 val.;
Grupo V: 2 val.

• Serão fatores a ter em conta para a avaliação da prova, a correção matemática das
respostas, a apresentação de todos os cálculos necessários para a compreensão
do raciocı́nio, bem como a justificação cuidada das respostas e a redação clara e
organizada das mesmas. Respostas apresentadas sem qualquer justificação, mesmo
que corretas, serão classificadas com zero valores.
I. Seja Ω o subconjunto de R2 definido por

Ω = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 6 2 ∧ |y| 6 x \ (x, y) ∈ R2 : x > 1 ∧ y < 0


 

a) Esboce cuidadosamente Ω.
b) Escreva uma expressão para a área de Ω usando um ou mais integrais duplos
em coordenadas cartesianas
c) idem, com os integrais em coordenadas polares.
d) Usando uma das expressões determinadas nas duas alı́neas anteriores, à sua
escolha, calcule a área de Ω.
(
2y, se x ∈ Q
II. Seja g : R2 → R a função definida por g(x, y) =
1, caso contrário.

a) Para cada um dos seguintes integrais iterados determine o seu valor, caso este
exista, ou justifique que não existe:
Z 1 Z 1 Z 1 Z 1
 
g(x, y)dx dy g(x, y)dy dx.
0 0 0 0

b) Estude a integrabilidade de g em I = [0, 1]2 e, se for integrável, calcule o valor


do integral ZZ
g.
I

III. Considere o campo vetorial G : R2 → R2 definido por


 1 1 
G(x, y) = , .
1 + (x + y)2 1 + (x + y)2

a) Verifique se G é um campo gradiente e, se for, determine um seu potencial.


b) Determine o trabalho realizado por G ao longo da espiral de equação polar
1
r = 2π θ entre os pontos com ângulos θ = 0 e θ = 2π.

IV. A estação ferroviária Warszawa Ochota (vd. Figura 1), em Varsóvia, tem um acesso

Figura 1: Estação ferroviária Warszawa Ochota, Varsóvia.


cuja cobertura, de planta quadrada de 20 metros de lado, é uma porção de superfı́cie
paraboloide-hiperbólica. Assumindo que a origem das coordenadas cartesianas está
no centro do chão do edifı́cio e os eixos dos xx e dos yy estão dirigidos para o meio
dos lados do quadrado, a superfı́cie que representa a cobertura pode ser descrita
1
pela equação cartesiana z = 25 xy + 4.

a) Determine uma parametrização para a cobertura da estação.


b) Recorrendo a um integral de superfı́cie apropriado, determine a área da cobertura
da estação.

V. Use o teorema de Stokes para mostrar que se f : D ⊂ R3 → R3 é um campo vetorial


de classe C 2 no aberto D, e se Γ é um caminho seccionalmente regular que descreve
uma curva fechada, simples, γ, contida em D, então
Z
∇f · dγ = 0.
Γ

fim

2
RESOLUÇÃO

I.a) Para esboçar cuidadosamente Ω comecemos por esboçar os conjuntos

(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 6 2 ∧ |y| 6 x


e
(x, y) ∈ R2 : x > 1 ∧ y < 0


separadamente. Na Figura 2 apresentam-se os esboo̧s em causa.

Figura 2: À esquerda: esboço do conjunto {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 6 2 ∧ |y| 6 x}. À direita:


esboço do conjunto {(x, y) ∈ R2 : x > 1 ∧ y < 0}.

Atendendo ao apresentado na Figura 2 é agora imediato concluir que o conjunto Ω


tem o esboço apresentado na Figura 3.

Figura 3: Esboço do conjunto Ω.

I.b) Atendendo ao esboço de Ω apresentado na Figura 3, tem-se


√ √
Z 1 Z x Z 2 Z 2−x2
Vol2 (Ω) = dydx + dydx.
0 −x 1 0

I.c) Analogamente, inspecionando o esboço apresentado na Figura 3 conclui-se que,


usando coordenadas polares com θ ∈ (−π, π], a área de Ω pode ser expressa por
1 π

Z 0 Z
cos θ
Z
4
Z 2
Vol2 (Ω) = rdrdθ + rdrdθ.
− π4 0 0 0

3
I.d) Usando a expressão em coordenadas polares obtém-se
Z π 0
1 0
Z
1 4 1 π 1 π
Vol2 (Ω) = 2
dθ + dθ = tan θ + = +
2 − π4 cos θ 0 2 − π4 4 2 4

II.a) Fixe-se y = yb entre 0 e 1 Observe-se que o integral mais interior no primeiro integral
iterado escrito no enunciado é Z 1
g(x, yb)dx,
0
e g(·, yb) é uma função do tipo função de Dirichlet para qualquer ŷ 6= 1, sendo, por-
tanto, descontı́nua para todos os valores de x exceto em x = 12 . Consequentemente
o integral iterado (de Riemann)
Z 1 Z 1

g(x, y)dx dy
0 0
não existe. Quanto ao segundo integral iterado do enunciado tem-se, fixando x =
b ∈ Q,
x Z 1 Z 1
g(b
x, y)dy = 2y dy = 1,
0 0
b 6∈ Q vem
e se fixarmos x = x
Z 1 Z 1
g(b
x, y)dy = 1 dy = 1.
0 0
Consequentemente, tem-se sempre
Z 1 Z 1 Z 1

g(x, y)dx dy = 1 dx = 1
0 0 0

II.b) Observe-se que g é descontı́nua em todos os pontos de [0, 1]2 exceto os do segmento
[0, 1] × { 21 } : De facto, seja (bx, yb) ∈ [0, 1]2 \ [0, 1] × { 21 } e considere-se ε > 0 su-
ficientemente pequeno para que todos os pontos da vizinhança Vε (b x, yb) estejam
2 1
em [0, 1] \ [0, 1] × { 2 }. Portanto, em Vε (b x, yb) haverá sempre pontos com coor-
denada x irracional, para os quais g = 1, e pontos com coordenada x racional,
para os quais g(x, yb + ε/2) = 2(b y + ε/2) = 2b y + ε > 1 + ε > 1 (se yb > 12 ), ou
g(x, yb − ε/2) = 2(b y − ε/2) = 2by − ε < 1 − ε < 1 (se yb < 12 ). Portanto, qualquer
que seja o caso, dado δ > não é possı́vel escolher ε > 0 de modo a que todos os
pontos de Vε (b x, yb) estejam a uma distância de (b x, yb) inferior a δ. isto quer dizer que
2 1
todos os pontos de [0, 1] \ [0, 1] × { 2 } são pontos onde g é descontı́nua. Como este
conjunto não tem medida nula (de facto, a sua medida é igual à de [0, 1]2 , que é
igual a 1) concluı́mos que a função g não é integrável em [0, 1]2 .
III.a) Observando que o domı́nio de definição de G = (G1 , G2 ) é R2 (que é um conjunto
estrela) basta verificar que G é um campo vetorial fechado. Sendo G uma função
racional, é de classe C ∞ . Cálculos elementares permitem concluir que1
∂G1 ∂ 1 2(x + y) ∂ 1 ∂G2
= 2
=− 2 = 2
= .
∂y ∂y 1 + (x + y) 1 + (x + y)2 ∂x 1 + (x + y) ∂x
1
Um outro modo de chegar a estas conclusões sem efetuar qualquer cálculo é reparar que, dado que
(a) (b) (1) (2) (3)
G1 (x, y) = G2 (x, y) e G(x, y) = G(y, x), tem-se ∂G ∂G2 ∂G2 ∂G2
∂y (x, y) = ∂y (x, y) = ∂x (y, x) = ∂x (x, y), onde
1

(1) é consequência de (a), a igualdade (2) é apenas uma alteração de notação — onde estava x fica y e
vice-versa — e (3) deve-se a (b).

4
Portanto, G é um campo vetorial gradiente. Um potencial ϕ de G é, então, uma
função C 2 tal que G = ∇ϕ. Consequentemente, uma integração simples resulta
imediatamente que um potencial é
ϕ(x, y) = arctan(x + y)
ou qualquer função que difira desta por uma constante.
III.b) Sendo G um campo gradiente com potencial ϕ podemos calcular o trabalho em
causa do seguinte modo:
Z
W = G · dγ = ϕ(Pfinal ) − ϕ(Pinicial ),
γ

onde Pinicial e Pfinal são os pontos inicial e final do caminho. Pela definição do caminho
dada no enunciado, estes pontos são, em coordenadas cartesianas, Pinicial = (0, 0)
(correspondente a θ = 0) e Pfinal = (1, 0) (correspondente a θ = 2π). Assim, o
trabalho pedido tem o valor
π
W = arctan(1) − arctan(0) = .
4
IV.a) Atendendo ao enunciado, a planta do edifı́cio da estação que é coberta pela su-
perfı́cie que queremos estudar é a apresentada na Figura 4: portanto, o intervalo de

Figura 4: Planta do edifı́cio da estação de Warszawa Ochota.

variação do parâmetro (x, y) é [−10, 10]2 , e atendendo à equação cartesiana para a


cobertura, uma parametrização desta pode ser dada por
 
h : [−10, 10]2 → R3 , 1
h(x, y) := x, y, 25 xy + 4 .

IV.b) A área da cobertura, S, da estação pode ser calculada pelo integral de superfı́cie
ZZ Z q
Vol2 (S) = dh = det Dh(x, y)T Dh(x, y) dxdy.
S [−10,10]2

Como  
1 0
Dh(x, y) =  0 1
y x
25 25

5
tem-se det Dh(x, y)T Dh(x, y) = 1 + (x/25)2 + (y/25)2 pelo que, usando a parame-
trização escolhida acima, a área da cobertura pode ser calculada pela expressão
Z 10 Z 10 q
Vol2 (S) = 1 + (x/25)2 + (y/25)2 dxdy
−10 −10

V. Nas condições do enunciado, seja S a superfı́cie limitada e orientável de D cuja fron-


teira é Γ. Seja ν a normal a S compatı́vel com o sentido do percurso de Γ. Então,
o teorema de Stokes permite escrever
Z ZZ
∇f · dγ · dγ = rot(∇f ) · dγ (1)
Γ S

Atendendo a que2

e1 e2 e3
 
∂ ∂ ∂ 
rot(∇f ) = det  ∂x ∂y ∂z
∂f ∂f ∂f
∂x ∂y ∂y
2 2
 ∂ 2f
∂ f ∂ f  ∂ 2f   ∂ 2f ∂ 2f 
= e1 − − e2 − + e3 −
∂y∂z ∂z∂y ∂x∂z ∂z∂x ∂x∂y ∂y∂x
= 0

onde a última igualdade é consequência do facto de f ser de classe C 2 e de, portanto,


pelo teorema de Schwarz, as derivadas cruzadas serem iguais. Consequentemente,
usando este resultado em (1), obtém-se o pretendido.

2
A utilização da regra mnemónica para o rotacional não é, obviamente, necessária!

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