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Artistas Da Fome
Artistas Da Fome
Pseudônimo: Cortázar
As mãos maternas davam um sutil impulso à frente nas costas do casal de crianças
espanto que nos segundos posteriores se naturalizava aos filhos dos núcleos urbanos.
Estes jantavam, na maioria das vezes negavam, e por fim sussurravam a situação do trio
familiar; isto é, a mãe por si só era acusada, réu inquestionável, enquanto o casal de
crianças era visto como vítima, sem saúde, educação, higiene, mas, principal e
Por sorte, característica da espécie ou ironia de uma época de amores efêmeros, o íntimo
elo entre a mãe, a filha de sete e o filho de cinco era o amor: o tradicional e recorrente
amor.
A praça de alimentação era o lugar de costume deles, sabiam a quem pedir e a quem não
pedir, onde e quando. Indelicadeza tanta era suplicar com fome no momento em que os
repuxos faciais e olhares. Quando não, a fala da mãe se interrompia com indagações
O mundo era a praça, e, no dia em que surgiu um palhaço viajante elaborando mágica e
de notas e moedas, algumas mesas chamavam o artista para beliscar uns petiscos ou
trazendo consigo os problemas esquecidos por uma ligeira distração. Dias correram e o
palhaço tornou-se uma vaga e nostálgica lembrança, perdendo seu brilho de ineditismo
A mãe, dias depois, pôs-se a refletir sobre o evento circense e entre remendos de trapos
coloridos, perucas de fitas e narizes marcados com um velho batom vermelho da sua
época de adolescente.