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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MESTRADO PSICOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA

SIMONE DALLEGRAVE MARCHESINI

FATORES GRUPAIS E SÓCIO-HISTÓRICOS QUE INFLUENCIAM NA


REAQUISIÇÃO DE PESO, EM PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA
BARIÁTRICA

CURITIBA
2013
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
MESTRADO PSICOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA

SIMONE DALLEGRAVE MARCHESINI

FATORES GRUPAIS E SÓCIO-HISTÓRICOS QUE INFLUENCIAM NA


REAQUISIÇÃO DE PESO, EM PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA
BARIÁTRICA

Dissertação de Mestrado apresentada em forma de artigos


ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito necessário
para obtenção do título de Mestre em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Social Comunitária
Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Antunes

CURITIBA
2013
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação da publicação
Biblioteca Sidney Lima Santos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Marchesini, S.D.
Fatores Grupais e Sócio-Históricos que influenciam na Reaquisição de Peso, em Pacientes
Submetidos à Cirurgia Bariátrica/ Simone Dallegrave Marchesini - Curitiba; 2013.

Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Universidade Tuiuti do


Paraná.
Área de concentração: Psicologia Social Comunitária
Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Antunes, Curitiba, PR.

Palavras-Chave: obesidade, cirurgia bariátrica, reaquisição de peso.


Nome: Simone Dallegrave Marchesini
Título: Fatores Grupais e Sócio-Históricos que Influenciam na Reaquisição de Peso, em
Pacientes Submetidos à Cirurgia Bariátrica

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de


Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Tuiuti
do Paraná para obtenção do Título de Mestre em
Psicologia.

Aprovada em: / /

Banca examinadora

Professora Doutora
Instituição:
Assinatura ______________________________________________________________

Professora Doutora
Instituição:
Assinatura________________________________________________________________

Professora orientadora Doutora Maria Cristina Antunes


Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná
Assinatura _______________________________________________________________
Meu corpo não é meu corpo,
é ilusão de outro ser.
Sabe a arte de esconder-me
e é de tal modo sagaz
que a mim de mim ele oculta

Meu corpo, não meu agente,


meu envelope selado,
meu revólver de assustar,
tornou-se meu carcereiro,
me sabe mais que me sei.

Carlos Drummond de Andrade


Agradecimentos

Agradeço aos meus amores, Leonardo e Celso Javorsky, de quem roubei tempo e atenção e

privei de minha companhia.

Aos meus pais João Batista e Elvira Marchesini, agradeço pela oportunidade do conhecimento e

o cultivo à cultura.

Aos meus mestres e colegas, deixo meus agradecimentos pela paciência com meu espírito

inquieto e questionador. À minha orientadora Maria Cristina Antunes que incansavelmente

corrigiu meus tropeços sem, contudo me deixar desistir.

Aos meus pacientes agradeço a confiança que tiveram em mim e a disponibilidade em falar de

suas dores mais íntimas.

Agradeço ainda ao Dr. Carlos Harmath pelo infinito incentivo quando nos desejos de

desistência e ao acolhimento fraterno do Dr. Giorgio A.P.Baretta, meu irmão.


Sumário

Resumo .................................................................................................................................. 7

Apresentação .......................................................................................................................... 8

Artigo 1 – Fatores Grupais e Sócio-Históricos que Influenciam na Reaquisição de Peso,

em Pacientes Submetidos à Cirurgia Bariátrica ............................................................... 11

Artigo 2 – A Percepção do Corpo em Pacientes Bariátricos e a Experiência do Medo do

Retorno da Obesidade........................................................................................................ 43

Anexos ................................................................................................................................ 64

Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................................. 64

Anexo II – Roteiro de Entrevista ...................................................................................... 66

Anexo III – Autorização do Comitê de Ética .................................................................... 70


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Resumo

O presente estudo teve como objetivo mostrar fatores de convívio grupal e do contexto sócio-

histórico que interferem sobre a reaquisição de peso em pacientes que se submeteram à cirurgia

bariátrica. A técnica de opção para o estudo foi o bypass gástrico com derivação em Y-de-Roux,

considerado o padrão ouro entre as técnicas bariátricas no Brasil. Para a realização do estudo

qualitativo foram entrevistados dez pacientes com quatro anos ou mais de cirurgia e que

tivessem recuperado pelo menos 15% do peso perdido. Os pacientes foram entrevistados

segundo um roteiro de entrevista semiestruturada cujas perguntas abordaram os dados

demográficos, hábitos alimentares, mudanças no estilo de vida, mudanças comportamentais,

imagem corporal, autoestima e preconceitos vivenciados e reaquisição de peso. As entrevistas

foram filmadas e transcritas para a realização da análise do conteúdo. A partir dos dados obtidos

foi possível constatar que o medo de recuperar peso foi um dado presente em todos os

entrevistados. O emagrecimento permitiu o acesso a roupas mais joviais e à maior quantidade

de vestimentas a menor custo. Não houve descrição de constrangimento quanto a presenciar os

pares se alimentando. O retorno social como sinalizador da forma corporal e da reaquisição de

peso foi considerado importante pelos operados como reguladores de sua imagem percebida.

Novos hábitos alimentares foram instalados após a operação. Foi possível constatar através dos

relatos que o grupo insiste na observação da quantidade alimentar ingerida pelo operado

bariátrico, que a pouca quantidade ingerida por ele é fator de incômodo social e suscita dos

pares, maior oferta de alimento.

Palavras-chave: obesidade, reaquisição de peso, cirurgia bariátrica.


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Apresentação

O tema do controle alimentar aparece em momentos históricos distintos e em proporções

diferentes para cada pessoa. As transformações que se processam no corpo e as mudanças na

noção do próprio eu se dão em sistemas paralelos e interligados, que afetam a concepção do

espaço ocupado no mundo. O descontrole sobre o comportamento alimentar e a falta de

identidade com o corpo no qual habita são questões subjetivas comuns àqueles que chegam ao

estágio máximo da obesidade.

O problema da obesidade deixou de ser de cunho individual ou pertinente a um grupo

pequeno. Existe uma população obesa e muitos indivíduos ainda virão a fazer parte dessa

categoria. A atual situação está exigindo postura de prevenção e atitude intervencionista. A

oferta progressiva de conforto, a praticidade dos recursos alimentares e a falta de energia física

ao final da rotina de trabalho fazem do peso excedente elemento de identidade entre as nações.

A preocupação com a obesidade como doença surgiu não há muito tempo. Estava muito

longe de nosso imaginário o cenário que foi encontrado quando a cirurgia bariátrica chegou ao

estado do Paraná. Pessoas com baixa qualidade de existência, alto nível de exclusão social e

condições degradáveis de saúde psíquica. Escondidos em seus lares, esses indivíduos estavam

apenas esperando para morrer. Considerado pela própria classe médica como não aderente aos

tratamentos, de poucos resultados clínicos, preguiçoso e mentiroso, o gordo sempre lutou contra

a sociedade, contra si mesmo. Nunca houve quem advogasse a seu favor. Em outubro de 1995,

depois de uma proposta realizada em bastidores de congresso, foi realizada a primeira cirurgia

bariátrica em Curitiba. A parceria do pioneiro Dr. Arthur Belarmino Garrido Jr., de São Paulo e

do Dr. João Batista Marchesini, de Curitiba trouxe a então psicóloga da equipe paulistana,

Marlene Monteiro da Silva, para palestrar sobre as contingências do obeso mórbido no pré-

operatório. O primeiro paciente curitibano foi pesado em uma balança especial, capacitada para
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mercadorias além de 200 kg. Camas, cadeiras e instrumentos hospitalares não eram

especializados para pessoas desse porte. A realidade parecia absurda para ser real. O atual

contexto é leve e tênue: passados dezoito anos, pessoas estão engordando para obter o

procedimento por planos de saúde; buscam o procedimento cirúrgico como freio preventivo e

solicitam um retorno para a vida social.

Marlene Monteiro da Silva, do Hospital das Clínicas de São Paulo, vinha de uma

formação psicanalítica e aplicava testes psicológicos. Estava iniciando programas de grupos

como os norte-americanos; trabalho com o qual não criei nenhuma identidade. Nessa época,

estava atuando como psicóloga no já extinto Ambulatório de Transtornos Alimentares no

Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Mantinha em clínica privada

atendimento a pacientes em condições de cuidados paliativos. Em busca de uma identidade

própria de trabalho e sem nenhum outro modelo a seguir, caminhei por um saber disponível no

campo da Psicologia, da Psiquiatria e da Fisiologia, fechando e reabrindo conceitos.

Entre 1996 a 2010 participei de todos os congressos da Sociedade de Cirurgia Bariátrica

e Metabólica; inclusive fazendo parte de sua fundação. Em alguns encontros, chegava a ter

quatro a cinco atividades. Palestrava para cirurgiões que me ouviam na ânsia de entender por

que estas pessoas comiam, por que burlavam a cirurgia para continuar comendo e se diziam

infelizes obesas.

No Mestrado de Psicologia Social Comunitária da Universidade Tuiuti do Paraná a

oportunidade de ver para além da clínica psicológica me foi dada. O foco sócio-histórico

permitiu tirar o obeso do banco dos réus e fazer uma inversão de papéis. Foi dada a voz ao

obeso para falar da sociedade em que vive. E pela primeira vez eu acessei este campo teórico,

para mim até então estranho.

Se através do presente trabalho puder deixar registrado um olhar ao revés e operar uma

mudança de perspectiva, ele terá atingido os objetivos pessoais, sociais e científicos que o
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sustentaram: concretizar o discurso das pessoas que passaram pela cirurgia para reduzir o peso e

transmiti-lo para os profissionais de saúde, de forma clara e objetiva. Desvelar realidades sobre

o universo da obesidade desde a perspectiva do obeso e mostrar os limites do livre arbítrio num

universo manipulativo. Desenvolver a capacidade crítica diante do consumo alimentar é uma

das tarefas do psicólogo bariátrico.

Inegavelmente a cirurgia se transformou em bem de consumo. A proposta é vê-la como

tratamento cirúrgico da obesidade, muito mais um processo que uma intervenção. Como

processo, a jornada não exclui o acompanhamento clínico multidisciplinar. O novo homem

somente deixará de tratar seu corpo como produto de vitrine, se alterar o olhar sobre o corpo e a

saúde em nossa cultura.


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FATORES GRUPAIS E SÓCIO-HISTÓRICOS QUE INFLUENCIAM NA

REAQUISIÇÃO DE PESO, EM PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA

BARIÁTRICA

Simone Dallegrave Marchesini

Maria Cristina Antunes

Artigo a ser submetido à Revista Temas em Psicologia

Resumo

O presente estudo teve como objetivo mostrar que elementos de convívio grupal e fatores sócio-

históricos interferem sobre a reaquisição de peso de pacientes que se submeteram à cirurgia

bariátrica. A técnica de opção para o estudo foi o bypass gástrico com derivação em Y-de-Roux,

considerado o padrão ouro entre as técnicas bariátricas no Brasil. Para a realização do estudo

qualitativo foram entrevistados dez pacientes com quatro anos ou mais de cirurgia com no

mínimo 15% de reaquisição do peso perdido. Os pacientes foram entrevistados segundo um

roteiro de entrevista semiestruturada cujas perguntas abordaram categorias dadas a priori: dados

demográficos, hábitos alimentares, mudanças no estilo de vida, mudanças comportamentais,

imagem corporal, autoestima e preconceitos vivenciados e reaquisição de peso. As entrevistas

foram filmadas e transcritas para a realização da análise do conteúdo. A partir dos dados obtidos

foi possível constatar que o medo de recuperar peso foi um dado presente em todos os

entrevistados e que o emagrecimento foi elemento importante para o acesso a roupas mais

jovens de maior disponibilidade. O fator constrangimento quanto a presenciar os pares se

alimentando desapareceu e o retorno social sobre a imagem corporal e reaquisição de peso foi

considerado importante pelos operados. Novos hábitos alimentares foram instalados após a
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operação. Foi possível verificar que o grupo de convívio insiste na observação da quantidade

alimentar ingerida pelo operado bariátrico, que a pouca quantidade ingerida por ele é fator de

incômodo social e suscita dos pares, maior oferta de alimento.

Palavras-chave: obesidade, reaquisição de peso, cirurgia bariátrica.

Abstract

The present study aimed to show that factors of group interaction and social historical factors

interferes on weight regain of patients who have undergone bariatric surgery. The technique of

choice for the study was the Roux-en-Y gastric bypass, considered the gold standard in Brazil.

To conduct the qualitative study ten patients were interviewed. The criteria of selection of these

patients were at least 15% of weight regain of the total weight loss and four or more years of

bariatric surgery. The patients were interviewed according to a semi-structured questionaries’

that addressed demographics data, dietary habits, lifestyle changes, behavioral changes, body

image, self-esteem and prejudice experienced and weight regain. The interviews were recorded

and the data were transcribed to perform content analysis. It was found that all interviewed

patients had the fear of weight regain, that getting thin allows to access slimming and younger

clothes, pairs feeding do constraint bariatric patients, they considered the social return of body

shape an important marker and weight regain was noticed when people spoke about the issue.

New eating habits were installed after the operation, like beer and chocolate. It was found that

the group insists on observing the amount of food eaten by bariatric surgery patients and the

little amount of food raises social and peer food supply.

Keywords: obesity, weight regain, bariatric surgery.


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Introdução

A obesidade mórbida é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1998)

uma doença crônica que exige abordagem e tratamento multidisciplinares. Essa doença, que,

segundo a OMS (2012), atinge atualmente o estado de epidemia de proporção global, é

caracterizada pelo acúmulo de 40% de excesso de gordura corporal e leva a enfermidades

limitantes ou fatais. O Tratamento Cirúrgico da Obesidade Mórbida no Sistema Único de Saúde

(SUS) surgiu como solução pós-epidêmica. Ele não é uma política de prevenção em obesidade,

mas um tratamento incisivo, de resultados drásticos, que necessita de acompanhamento em

longo prazo e disciplina do indivíduo operado. É também a única política pública voltada

exclusivamente para a obesidade.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM,

2011), há registros de 60.000 operações em 2010 pelo SUS. Os números indicam crescimento

de 23,7% entre 2007 e 2009. Os números são alarmantes: todo ano 2.6 milhões de pessoas

morrem devido às consequências da obesidade ou sobrepeso. O Brasil é o segundo no ranking

mundial de cirurgias bariátricas e perde apenas para os Estados Unidos.

Mongeau (2010), do Departamento Social de Medicina Preventiva de Quebec, insiste

que na tentativa de solucionar a obesidade epidêmica a abordagem deve ser mista: macrossocial

e individual. Uma ação de direção apenas individual não será capaz de vencer a cultura em

massa desenvolvida pela política de consumo, em que o alimento é apenas uma mercadoria a

ser adquirida em maior quantidade por menor custo. A OMS (2000) evidencia a necessidade de

ações que influenciem toda a população, através de mudanças sociais, culturais, políticos e

físicos do ambiente.
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Steinbrook (2004) considerou o fato da epidemia da obesidade ter desencadeado outra, a

das cirurgias bariátricas. O autor constatou que a publicidade em torno de pessoas famosas que

se submeteram à operação influenciou na visão comum da cirurgia da obesidade tomando-a um

recurso cosmético e estético.

Em 2002, uma pesquisa australiana (Reidpath, Burns, Garrard, Mahoney & Townsend,

2002) se preocupou em mostrar a influência do ambiente obesogênico; aquele que promove

maior consumo alimentar e menor prática de exercício físico, como base da disseminação da

doença obesidade. A pesquisa concluiu que pontos mais concentrados de oferta de alimentação

rica em gordura e calorias se aglomeram em ambientes de baixa renda. Já em ambientes de

altíssima renda, a população não é exposta a postos de venda de fast food.

Pesquisas relacionadas à Perspectiva Ambiental na Prevenção do Ganho de Peso

dedicaram-se ao estudo do impacto do ambiente obesogênico sobre a conduta alimentar. Os

autores Kremers, Bruijn, Visscher, Mechelen, Vries e Brug (2006) pertencentes à área da

Nutrição Comportamental se preocuparam em estudar a influência do ambiente no

comportamento. Os autores reconheceram a existência de processos diretos e indiretos sobre o

comportamento da dieta. Indireto, quando a influência no comportamento tramita pelos

conceitos e influência direta quando o ato é automático e impulsivo.

Swinburn, Gill e Kumanyika, (2005) foram os pesquisadores interessados em

transformar teoria em ação eficaz. Esquematizaram os fatores obesogênicos em quatro tipos

diferentes. Quanto à influência física (condições funcionais do ambiente): transportes, ciclovias,

parques; distanciamento entre restaurantes e lanchonetes. Quanto ao aspecto econômico (qual o

custo), uma vez que doenças, qualidade de vida e análises econômica estão diretamente ligadas.

Quanto à visão política, o estabelecimento de leis e distribuição financeira para prevenção à

saúde, protocolos informativos e pedagógicos para incentivo à qualidade de vida. E quanto à

perspectiva sociocultural, com foco no contexto e nos hábitos, o incentivo em programas


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sociais, com promoção na redução de horas ociosas e campanhas para a diminuição das

propagandas que influenciam a ingestão alimentar infantil e interação família-escola no controle

da obesidade. Rigo e Santolin (2012) verificaram a presença de 46 leis em que “obesidade” ou

“sobrepeso” apareciam como tema. Dessas leis 32 eram municipais, 13 estaduais e 1 nacional.

O Rio de Janeiro e São Paulo foram os que tiveram legislações estaduais e municipais mais

direcionadas à questão preventiva à obesidade, sendo 16 e 14 leis, respectivamente. O modelo

mais utilizado foi a distribuição de folders com o intuito de informar e promover a redução das

horas em frente à televisão. Houve foco na diminuição das propagandas de marcas que

influenciam a ingestão alimentar de crianças e jovens.

A chamada para a Conferência de Promoção em Saúde de 2012 anunciou uma proposta:

fazer da escolha saudável a mais fácil. A proposta foi ampliar a consciência, incrementar a

motivação e criar ambientes que favoreçam a manutenção da saúde. O’Donnell (2012) revelou

recentemente que há 30 anos se pensava que, em promoção de saúde, bastaria fornecer

informações para educar uma população e mudar seu comportamento. Áreas que envolvem

riscos tão maléficos como tabagismo, consumo alimentar de má qualidade, álcool e drogas

pareciam ser fáceis de combater através do simples confronto com seus malefícios em longo

prazo. Os benefícios da prática regular de exercícios físicos, o consumo de alimentos nutritivos,

o manejo de situações estressoras e atitudes proativas de autocuidado médico pareciam setores

visivelmente benéficos e de fácil assimilação. Mas três décadas de experiência mostraram aos

mestres em promoção de saúde que a informação, além de não ser eficaz, não interfere em nada

na mudança comportamental.

Miller (2012) também se refere ao consumismo da beleza corporal como autopromoção

por via da própria embalagem. Cuidar do corpo seria como aprimorar o rótulo do produto que

somos. Nisso investem as indústrias de cosméticos, clínicas de emagrecimento e estética


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corporal, indústrias de silicone, o universo da cirurgia plástica estética, as academias de

ginástica, o universo dos aparelhos de ginástica, os promotores de triátlon.

No campo subjetivo o homem vive o embate do convívio com estímulos paradoxais: o

consumo dos “prazeres orais” e dos “prazeres estéticos”. Nos pacientes bariátricos a luta com a

alimentação e com o peso ao longo da história individual revela sujeitos em busca de

estabilidade dinâmica, também demandada no coletivo no qual se constrói. Em interação com o

ambiente, o sujeito estrutura sua identidade corporal, como afirmam Lorber e Martin (2011). E

o modo como uma sociedade atribui significado à qualidade de vida, às doenças, disponibiliza

ar puro, água limpa e condições gerais de existência e bem estar, envolve o clima cultural no

qual o corpo é configurado.

Schlosser (2001) destacou a importante participação da mídia direcionada para o público

infantil no desenvolvimento mundial da obesidade. Desenhada em torno de pesquisas

demográficas, as propagandas e recursos de marketing teriam aumentado em três vezes o

consumo de refrigerante em meninos e duas vezes em meninas, ao mesmo tempo em que teria

diminuído o consumo de leite, segundo o autor.

Bleil (1998) apontou, em estudos sobre as mudanças da alimentação no ocidente, para a

interferência da industrialização dos alimentos, urbanização e da globalização e para as demais

mudanças ocorridas nos últimos 50 anos. O acesso mais fácil ao alimento, à variedade de oferta,

o incremento da engenharia de produção de alimentos, o desenvolvimento de texturas e sabores

mais palatáveis e com menor custo de produção.

Ainda não muito longe no tempo, alimentos industrializados de alto valor calórico e

baixo valor nutricional eram comercializados nas escolas brasileiras. Um estudo americano

realizado por Wouters, Larsen, Kremers e Dagnelie (2010) avaliou o consumo de refrigerantes e

salgadinhos em 749 adolescentes entre 12 e 17 anos de idade. O objetivo foi verificar a

influência dos pares no consumo desta qualidade de alimentos oferecidos em ambiente escolar.
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O estudo mostrou que salgadinhos e refrigerantes são mais consumidos pelos meninos;

refrigerantes são mais consumidos por adolescentes menos favorecidos em termos educacionais

e salgadinhos foram consumidos por aqueles que tinham menor peso. A influência dos pares foi

detectada em maior escala nos rapazes; nos adolescentes educacionalmente menos favorecidos

e nos de maior peso. A combinação entre características individuais, influência dos pares e

principalmente pela oferta deste tipo de alimentos na cantina da escola, compõem o trinômio da

obesidade juvenil. Em última instância, na alimentação, trabalhamos com oferta e procura;

dinâmica em que o ambiente e a persuasão estão envolvidos.

Os Convênios Médicos investiram de US$ 20 a US$ 50 mil para cobrir a operação e os

cuidados pós-operatórios de pessoas que nem sempre conseguiram manter seus resultados.

Segundo Saunders (2004), num período de 2 a 5 anos há reaquisição de quantidade considerável

de peso, às vezes com retorno à condição de obesidade mórbida (grau III). Essa falha em longo

prazo torna possível supor que, pacientes submetidos a cirurgias bariátricas sofrem várias

influências na reaquisição de peso. Além dos aspectos biológicos da obesidade e mecânico, da

cirurgia os processos presentes nas interações grupais e sociais na vida do novo magro

interferem no processo.

As dificuldades com a imagem corporal e as ideias de magreza e gordura, segundo

Orbach (2009) são conceitos complexos de difícil expressão. A autora destacou o quanto o

corpo passou a ser ele mesmo uma forma de trabalho e percorre o caminho contemporâneo “do

corpo produzido” atingindo a categoria de produto. O cerne da questão da engorda global é o

modo como estamos nos desenvolvendo. O indivíduo inserido na modernidade implica na

escolha do alimento correto num corpo moldado também corretamente. Do mesmo modo que

tendemos a perder as diferenças de linguagens, perderemos as variantes corporais.

Sepúlveda e Calado (2011) se preocuparam em mostrar a influência da globalização

sobre a autoimagem e suas repercussões sobre os conceitos de beleza. As autoras sublinharam


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que há indução cultural na política antigordura que se reflete em insatisfações com o próprio

corpo. Os transtornos alimentares surgiram também, em decorrência de agentes da mídia. A

comunicação de massa, segundo as autoras, contribuiu severamente para a determinação dos

valores contemporâneos entre os quais está a ideia de que apenas o magro preenche os critérios

de beleza física. A obesidade é vista como estereótipo que inclui a crença de que o peso é

plenamente controlável e de que o gordo é desleixado. Este ideal da magreza associado à eterna

juventude dá ao corpo a condição de objeto sem tempo, estático e imutável e cria uma categoria

de formas corporais que exclui, negando a diversidade.

Fatores individuais e pessoais exercem importante determinação no comportamento de

consumo alimentar, interferem em atitudes, graduam expectativas, estabelecem normas internas,

e possibilitam a autoimagem e percepção própria. Mas é inegável que fatores ambientais,

sociais, econômicos e políticos têm grande parcela no desenvolvimento de comportamentos e

na constituição dos cidadãos. Popkin (2009) afirmou que fatores políticos, industriais,

comerciais e culturais estão engordando o mundo, os genes e hormônios relacionados à

obesidade que já foram descobertos “não nos matam. Dieta e balanço energético são o que nos

matam.” (p. 119). De acordo com esse raciocínio é compreensível que uma cirurgia que

restringe a ingestão alimentar e diminua a absorção de nutrientes possa corrigir, em parte, o

efeito obesidade.

Christakis e Fowler (2007) perceberam em seus estudos sobre convívio grupal que viver

numa rede de contatos com pessoas obesas tende a mudar a tolerância sobre o fato de ser obeso,

e mais, tende a mudar as atitudes frente à comida e alterar escolhas dos alimentos. Entre as

relações avaliadas, os pesquisadores estudaram as geográficas (de vizinhança), as de parentesco

(entre irmãos de mesmo sexo e de sexos diferentes), as de casais (maritais) e as de amizade

(entre sexos iguais e sexos opostos), além de avaliarem a influência mútua entre obesos e

magros nos comportamentos alimentares. Os autores pretendiam mostrar que a obesidade se


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espalha de pessoa a pessoa contribuindo para a disseminação do problema mundial. O estudo

forneceu indicadores da influência do obeso sobre o comportamento do amigo magro em 57% e

pontuou em 37% a chance do parceiro magro vir a engordar, se casar-se com um mais pesado.

O que permanece em aberto, porém, é a manutenção dos resultados obtidos em

pesquisas, como as de Freeman, Fletcher, Collins, Morgan, Burrows e Callister (2012), que

fazem supor a necessidade de interferências macrossociais que venham a interferir na

significação do alimento e da estética corporal, assim como em alterações nas estruturas

políticas em torno da saúde, da educação e do comércio alimentar.

Objetivo

Descrever fatores grupais e sócio-históricos que influenciam na recuperação de peso em

um grupo de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica em Curitiba.

Método

Participantes: Foram entrevistados dez indivíduos, selecionados intencionalmente,

todos submetidos à cirurgia bariátrica, com quatro anos ou mais decorridos do procedimento

cirúrgico. Os participantes tiveram como critério de seleção terem se submetido à mesma

técnica cirúrgica: o bypass gástrico com derivação em Y-de-Roux, mais conhecida no Brasil

como cirurgia de Capella ou Fobi-Capella. Outro elemento de referência entre os participantes

da pesquisa foi a reaquisição de 15% no mínimo, do peso perdido em quilogramas.

Instrumento: A entrevista foi elaborada com o intuito de abordar fatores grupais, dentro

do contexto sócio-histórico, que interferem na ingestão e nas escolhas alimentares dos operados

bariátricos, tanto em seu aspecto quantitativo como no qualitativo. Para tal, foi elaborado um
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roteiro de sessenta e quatro perguntas baseadas na própria experiência de avaliação e

acompanhamento de pacientes bariátricos, supervisionadas pela orientadora do mestrado. As

perguntas delinearam categorias para posterior análise do discurso. Entre as categorias

estabelecidas a priori houve cautela para que alguns aspectos fossem reavaliados no transcorrer

das entrevistas, uma vez que ocorrem mudanças nos conceitos com a passagem do tempo.

Categorias que delinearam a entrevista:

 Dados sociodemográficos: incluíram a faixa etária e a camada social, econômica e

educacional dos entrevistados; abordou o Índice de Massa Corporal (IMC) ao operar

e o menor atingido, e considerou a percentagem de reaquisição de peso até a data da

entrevista;

 Hábitos alimentares anteriores e posteriores à cirurgia bariátrica: permitiu analisar

alterações no paladar e na consistência alimentar. Aspectos como velocidade da

ingestão alimentar e rituais à mesa também tiveram espaço em torno das perguntas

elaboras para circunscrever essa categoria;

 Mudanças no estilo de vida: rastrearam melhoria na interação social, ganhos

profissionais, estudantis ou afetivas com as mudanças proporcionadas pela cirurgia.

Investigou ganhos na diversidade dos alimentos, na apresentação pessoal, e na rotina

diária;

 Mudanças comportamentais: tanto as advindas da restrição alimentar quanto os

benefícios de saúde pela perda de peso. Procurou rastrear a influência da restrição

alimentar sobre o humor, a emoção e o convívio com os pares;

 Influências grupais e sociais no comportamento alimentar: tema central da pesquisa

buscou circunscrever os hábitos familiares em torno da mesa e as atitudes do grupo

frente ao recém-operado. A inclusão do grupo de novos-magros, não mais


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pertencentes à categoria de obesos e sem sentimento de pertença ao grupo dos

magros. A participação do grupo no comportamento alimentar; como incentivo ou

boicote;

 Influência midiática, do marketing e da interferência da indústria alimentícia sobre

consumos: efeito indutor de consumo provocado pelas estratégias de propaganda,

estudos de rotulagem e embalagem para a venda de produtos alimentícios,

desenvolvimento de conservação e sabor de alimentos e bebidas;

 Imagem corporal avaliações subjetivas sobre o processo do emagrecimento via

cirúrgico: categoria abordada através de perguntas mais reflexivas, abarcaram o

significado social de “ser gordo” e “ser magro” e adesão ou não às cirurgias plásticas

e outros tratamentos estéticos;

 Preconceitos vivenciados e reaquisição de peso: novos comportamentos e relações

interpessoais, presença de críticas sociais ou grupais em relação ao novo modo de

vida, nova forma corporal ou novos hábitos sociais adquiridos.

Procedimentos: Em novembro de 2011, iniciou-se a seleção dos participantes da

pesquisa. Foram selecionados indivíduos que apresentavam em seu histórico clínico o critério

de reaquisição de peso, num montante de 15% do peso perdido, e que tivessem se submetido à

cirurgia do tipo bypass gástrico, além de tempo de operação igual ou maior a quatro anos. A

seleção foi elaborada através de dados coletados por contato telefônico com pacientes de uma

clínica particular de Curitiba, cujo objetivo foi avaliar a assiduidade dos pacientes às consultas

com a equipe multidisciplinar e a reaquisição de peso. A referida tabela de controle continha o

registro da data da operação, tipo de cirurgia, assiduidade às consultas, presença de

intercorrências, mudanças de endereço ou óbito. Entre 433 pacientes listados foram escolhidos

dez para serem entrevistados.


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Os convites foram realizados por via telefônica. Houve três negativas devido ao horário

de trabalho dos convidados. As entrevistas ocorreram de abril a junho do ano de 2012 e cada

uma delas teve duração aproximada de uma hora e quarenta e cinco minutos.

Oito dos dez participantes mostraram satisfação e disponibilidade imediata mediante o

convite para a pesquisa. De início houve opção de exclusão de indivíduos não residentes em

Curitiba. Mas houve total disponibilidade da participação de uma paciente que estava de

passagem, em Curitiba, fazendo suas consultas de rotina.

Dos entrevistados que se dispuseram a participar da pesquisa, três tinham características

diferenciadas. Um já havia recuperado 42,62% do peso perdido e voltado à condição de

obesidade grau III. Passou por uma segunda cirurgia para promover menor absorção alimentar e

maior emagrecimento. Outro paciente estava realizando aplicações de argônio para restringir a

passagem do estomago novo para o intestino. Um terceiro indivíduo, que já havia passado por

perda excessiva de peso, aumentou por via cirúrgica, a capacidade de absorção intestinal. Este

último, no momento da entrevista, passava pela reaquisição de peso que ultrapassava o ponto

desejado.

As entrevistas foram realizadas individualmente, no mesmo local em que os

participantes do estudo fizeram a rotina pré-operatória para a cirurgia bariátrica. A Clínica conta

com profissionais de especialidades associadas à cirurgia bariátrica que avaliam e acompanham

os candidatos e pacientes que se submetem ao referido procedimento. Entre essas especialidades

associadas estão a Psicologia, a Nutrição, a Fisioterapia, a Clínica Médica, a Psiquiatria, o

Treinamento Físico, a Cirurgia Plástica, a Endoscopia Digestiva.

Todos os participantes foram devidamente comunicados que estavam fazendo parte de

uma pesquisa. Foram consultados acerca da possibilidade de serem filmados, bem como

informados do total sigilo sobre o conteúdo das informações que ali surgissem. Foram também

alertados sobre o direito de interromperem sua participação no estudo a qualquer momento, não
23

implicando esse fato em dano para eles próprios. Os 10 participantes assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido (TCLE) e permitiram a filmagem da entrevista. Nenhum dos

participantes constrangeu-se pela presença da câmera filmadora.

Análise de Dados

A Análise de Conteúdo constitui um método de investigação, utilizado por

pesquisadores qualitativos cujo objetivo, segundo Rocha e Deusdará (2005), é alcançar um

sentido profundo ou estável, conferido pelo pesquisador no próprio ato de produção do texto. O

objetivo da análise de Conteúdo é chegar a um “significado mais profundo” dos textos.

Segundo Franco (2008), a criação de categorias é característica pontual da Análise de

Conteúdo, pois por definição elas são critérios que norteiam a investigação científica e têm

como base o conhecimento prévio do pesquisador acerca do problema de pesquisa. A crítica

estabelecida às categorias de análise à priori, segundo a autora se deve à busca que o

pesquisador realiza de indícios para classificar as respostas obtidas em suas entrevistas.

No presente artigo o método de análise dos resultados foi a análise do conteúdo das

seguintes categorias: Influências grupais e sociais no comportamento alimentar; preconceitos

vivenciados e reaquisição de peso; e novos comportamentos e relações interpessoais. Mediante

a análise das três categorias foi destacada, no conteúdo das entrevistas, a presença de críticas

sociais ou grupais que interferiram no comportamento alimentar do operado bariátrico de modo

a conduzi-lo à reaquisição de peso. Novos hábitos sociais e novo estilo de vida interferiram na

reaquisição de peso. Hábitos grupais em torno da mesa e relativos ao consumo alimentar

implicados no convívio social foram diretamente afetados. A inserção do indivíduo numa

identidade bariátrica que se localiza numa lacuna entre os grupos obeso e magro. A reação ao

incentivo ambiental ao emagrecimento ou ao boicote à perda de peso.


24

Resultados

A presente pesquisa constatou que a reaquisição do peso após a cirurgia bariátrica ocorre

em função de características pertencentes ao método cirúrgico, mas existem diferentes fatores

pessoais, grupais e de âmbito macrossocial que interferem nesses resultados.

No que tange ao IMC, o maior foi de 57,24 e o menor foi de 35.86. Houve a presença de

três participantes com IMC abaixo de quarenta acompanhados de doenças associadas à

obesidade. A idade dos participantes variou entre 32 e 69, mas a media foi de 49,6 anos. Quanto

à reaquisição de peso, os entrevistados apresentaram uma taxa mínima de 17,33% de acréscimo

de peso sobre o montante perdido em quilogramas e máximo de 37,5%.

No setor profissional foram três servidores públicos, dois profissionais da saúde, dois

empresários, uma da área do Direito, outra da área administrativa e outra para o setor hoteleiro.

Quanto à motivação para a cirurgia a maioria apontou questões referentes à saúde como

motivo inicial. Após o emagrecimento houve a revelação de motivos subjetivos acobertados

pela motivação médica. Duas pessoas admitiram a necessidade de melhorar a autoestima e três

falaram do cansaço da condição de gordo. O preconceito com o status de obeso só não foi

demarcado por um participante, cuja identidade acolhedora e receptiva foi de encontro com a

função ocupada em seu trabalho. Apenas um em dez referiu a sobrevivência de apelidos do

tempo da obesidade, como “Maria Gorda” e “bojão de gás”. O estigma social foi demarcado por

ressentimento, percebido no conteúdo dos relatos:

Existe agressividade gratuita com o gordo; o gordo é discriminado, relaxado porque

come.

Muitas pessoas tem pena do gordo, subjugam a inteligência dele... o gordo é o errado...

é uma pessoa que não tem o controle.


25

A atribuição de significado do processo após a cirurgia teve variações. Houve medo do

insucesso no tratamento em função da experiência comum de dietas com reaquisição posterior e

acréscimo de quilogramas. Ocorreram descrições de alteração de paladar, em que pessoas que

antes não apreciavam doces, passaram a sentir necessidade do açúcar. Relataram dificuldades

na adaptação ao novo espaço gástrico, se servindo de porções maiores do que a capacidade de

ingestão; impulsos de garfadas grandes de comida com entaladas frequentes, e dificuldade na

deglutição. Dores físicas devido ao dreno cirúrgico apareceram como dado objetivo. No campo

subjetivo a presença da sensação de salvação, enfim como uma solução para a doença

obesidade, foi atribuída à cirurgia bariátrica.

O medo de recuperar o peso se apresentou como dado quase unânime. Apenas um dos

participantes da pesquisa disse sentir apreensão e não medo, pois recorreria à outra cirurgia caso

viesse a readquirir muito peso. Relatos dos participantes deixaram evidente a vivência

traumática da obesidade:

Esse sobrepeso que eu adquiri agora tá me incomodando... É muito ruim... eu não to me

aceitando. É por que é um fantasma... Pra mim é um horror, voltar a ter aquele peso ou

algo perto.

Tenho! Morro de medo... eu entrei na menopausa e parei de fumar... até pensei em

fumar de novo... o meu medo de engorda é tão grande,... eu não posso voltar ser aquela

gorda que eu era... de jeito nenhum.

Morro, morro, morro! Porque enquanto eu estou assim eu não too magra, mas não too

gorda... Eu quero viver pra mim. Pela joia de viver.

... foi muito sofrimento, né... muito... muito... muito medo que eu morresse, então ela

disse (mãe) você tem que se cuida, porque a pressão sobe... você sabe como é... tal... eu

nunca saio da dieta... é aquela e pronto...


26

As mudanças comportamentais após a cirurgia foram observadas pelos pacientes de

modos distintos. Primeiramente a avaliação de si próprios como merecedores de maior atenção

e cuidados pessoais, além de qualificar como “maior autoestima” as mudanças conceituais

operadas sobre si mesmos. Ressaltaram que tiveram oscilações do humor, do desânimo à

irritabilidade. Também houve mudanças na intensidade da motivação. Destacaram a diferença

da ocupação do espaço no mundo, em termos objetivos e subjetivos. Houve a reafirmação do

preconceito com os obesos, agora pela perspectiva do operado bariátrico novamente ameaçado

de engordar, sua aceitação social e pessoal, e finalmente a necessidade de uma vida mais

disciplinada.

A cirurgia plástica teve efeito importante sobre a construção da nova imagem corporal.

No período intermediário entre a obesidade e o estado corporal saudável há a passagem pelo

corpo flácido. Para seis em dez dos participantes, a cirurgia plástica foi considerada importante

no processo bariátrico.

Dois pacientes relataram terem adiado a cirurgia plástica somente por problemas de

saúde na família. Um alegou não precisar do procedimento estético e outro referiu temor de se

submeter ao procedimento. Um único argumentou não valer o benefício da beleza pelo custo do

risco cirúrgico.

A dificuldade com a adaptação ao novo tamanho do estômago apareceu em nove dos

dez participantes. Mas a persistência da sensação do estômago pequeno permaneceu em sete.

Três alegaram não sentir a limitação do espaço gástrico, sendo que um deles sofreu uma

segunda operação para retirada do anel de restrição e para maior derivação gástrica; perdeu mais

45 kg após a nova intervenção.

Todos referiram mudanças de hábitos alimentares após o procedimento cirúrgico, mas

não necessariamente para hábitos saudáveis. A carne foi um alimento citado como de maior

dificuldade de ingestão e melhor consumida se crua, moída ou com molhos. Alimentos secos ou
27

de consistência mais sólida foram citados como de má digestão e com tendência a serem

vomitados. Houve a descrição de um participante com restrição de consumo de carne vermelha

por dois anos e meio. Outro entrevistado referiu não ingeri-la por impaciência na mastigação.

O padrão alimentar anterior à cirurgia foi descrito como compulsivo e desatento, no qual

o indivíduo vivia experiência dissociativa, comia como ato automático sem ter percepção do

que estava fazendo e muitas vezes sem sentir o prazer da alimentação. Em mais de metade da

amostra, em algum momento do pós-operatório, o chocolate apareceu como elemento de prazer

imediato. É um alimento que não necessita de mastigação, altamente energético e com reforço e

efeito imediatos.

Dos dez participantes, sete passaram a valorizar a estética do prato mais que antes da

cirurgia. Um dos entrevistados ressaltou a importância do cheiro do alimento e outro da

consistência suave, sem a qual não adianta querer ingerir qualquer comida. Apenas três da

amostra de dez abandonaram o refrigerante e um persistiu com o refrigerante normal. Sete

abandonaram o acompanhamento nutricional. Dos três que persiste, um frequenta no

esporadicamente. Dos entrevistados, dois afirmaram que fazem acompanhamento com médicos

nutrólogo e ortomolecular. Todos aprenderam a incluir frutas, verduras ou legumes em seus

cardápios. Quatro não se fixaram em leituras de rótulos e composições nutricionais nas

embalagens. Dois dos participantes não consomem enlatados e embutidos; os demais evitam,

embora apreciem o produto e dele façam consumo eventual.

De todos os dez entrevistados, sete ousaram experimentar produtos novos em

supermercados, quatro não experimentaram jamais comidas étnicas e somente dois são

plenamente adeptos das entregas em casa (delivery).

A síndrome de dumping1, fenômeno esperado mediante a ingestão excessiva da

sacarose, foi confundida com sintomas provocados pela ingestão rápida ou excessiva de

1
A síndrome de dumping é um conjunto de sintomas esperado no bypass gástrico, quando o paciente come
certos tipos de alimentos, como doces ou certas fontes de carboidratos (carboidratos simples como açúcar e
28

alimentos. O comportamento impulsivo, seguido da necessidade de induzir vômito com náuseas

e sudorese acompanhado de palpitações foi confundido com sintomas de mal-estar. Dos dez

participantes, apenas quatro esboçaram um conhecimento sobre o dumping. Foi possível

perceber a dificuldade de identificar a síndrome, a formação excessiva de gases e sua relação

com a alimentação. Também houve confusão entre este fenômeno cirúrgico e a intolerância à

lactose, presente em alguns operados bariátricos.

A progressão no treinamento com a mastigação e com o ritmo alimentar tendeu a

solucionar a intimidade com o novo espaço gástrico, desde que não houvesse adaptação para a

alimentação de consistência pastosa. Os entrevistados forneceram como causas das dificuldades

nas mudanças dos comportamentos alimentares a alteração do paladar, o mal-estar provocado

pela inabilidade de mastigar, a dificuldade em ritmar a ingestão do alimento, a comodidade da

ingestão de alimentos pastosos, o prazer provocado pelo alimento. Assim, relatos como “...

eliminei carne, porque eu não tenho paciência pra mastigar. Eu não vou mastigar um pedaço

de carne 50 vezes” denunciam a acomodação da consistência alimentar ao novo estômago para

não alterar a velocidade da ingestão.

Quanto à comparação entre ao padrão alimentar anterior e posterior à cirurgia, foi

possível observar a presença de transtornos alimentares no período pré-cirúrgico que se

alteraram devido ao espaço gástrico. A constatação da alteração da preferência alimentar ajudou

na detecção de um possível fator comportamental ou de oferta ambiental que agiram na

reaquisição de peso ao longo do tempo. Relatos comparativos entre os padrões alimentares

antes e depois mostraram a falta de percepção alimentar existente no obeso, dada à

impulsividade e dissociação no ato alimentar:

alguns amidos). É o resultado da passagem muito rápida do alimento para o intestino delgado e também pode
ocorrer como resultado de um excesso alimentar, pela distensão rápida do estômago.
29

Antes: Você quer saber a verdade? Eu comia e nem sabia o que eu comia. Eu era um

obsessivo comedor.

Depois: Pra mim a melhor refeição é o pão: café com leite; pãozinho com manteiga e

queijo branco, não precisa mais nada.

Antes minha comida predileta era tudo que era comida. Eu só punha pra dentro. Nem

sentia o gosto. Doce pra tira o gosto do salgado... o salgado pra tira... Antes eu comia

uma pizza inteira com um litro de Coca-Cola. Hoje não sou eu que escolho, é ele. Meu

estômago...!

Nenhum dos entrevistados referiu saudosismo em relação a algum alimento específico.

Um deles, porém, referiu sentir a falta da sensação subjetiva de sentar-se à mesa e comer sem

limites. Oito dos dez entrevistados referiram não constrangerem-se com o fato de serem

observados por outras pessoas enquanto se alimentam, dois participantes colocaram uma

ressalva quanto ao modo e ao contexto da observação alheia.

Quanto às oposições familiares ao ato cirúrgico, entre os dez foram quatro os que

receberam reprovação franca à iniciativa de operar. Os demais tiveram opiniões superficiais que

diziam respeito a apreensões isoladas. Apenas três referiram arrependimento passageiro no

momento em que estavam no hospital e ainda viviam a dor do pós-operatório. Após esta

passagem, não houve mais arrependimento por parte de nenhum dos participantes.

A maioria vivenciou o processo de emagrecimento indo além da expectativa e embora

tivesse consciência da magreza excessiva, sentiu prazer em estar revertendo o quadro da

obesidade para o estado diametralmente oposto:


30

Eu ficava ansiosa pra me pesar, né, porque assim mesmo, é contraditório... mesmo

quando você olha e diz: nossa!... parece que não sou eu... to muito magra... você quer

perde mais.

Do mesmo modo que houve a sinalização social em relação à perda de peso, os

entrevistados relataram comentários acerca da reaquisição do peso após a cirurgia bariátrica. A

reação social frente à aparência física dos operados entrevistados foi para eles regulador da

própria condição corporal. Mais do que a balança, os comentários do grupo de convívio exerceu

importante efeito na busca de recursos para controlar novamente o peso.

Dos dez indivíduos, dois acabaram suas experiências bariátricas em divórcio. Em um

deles o cônjuge permaneceu obeso e o grupo social cobrou insistentemente para que se operasse

também. O outro divórcio se deu por ciúmes excessivos e desconfiança devido aos olhares e

elogios que a pessoa operada passou a receber. A maior dedicação a si mesmo que ocorre no

operado bariátrico permite supor que, em algumas situações, a falta de estrutura do

companheiro em conviver com uma pessoa com a autoestima mais elevada e funcionamento

emocional mais independente exerce influência sobre a relação afetiva. Duas famílias ficaram

temerosas quanto ao possível desenvolvimento de anorexia nervosa após o emagrecimento de

pessoas obesas desde a infância.

A memória de ter sido obeso foi considerada marcante por todos os participantes e

abrangeu a experiência da discriminação social e as limitações experimentadas num ambiente

não receptivo aos que possuem condições diferentes. Foram demarcados os significados

culturais atribuídos ao obeso como culpado pelo seu mal, diferentemente de qualquer outra

doença. A marca da imagem corporal e das experiências emocionais presas a ela causou, em

geral, dificuldade de considerar a obesidade como uma etapa passada da vida.


31

Todos os dez operados relataram continuar a vida social como antes, a não ser por

questões financeiras ou de outras doenças. A maior dificuldade no convívio social foi fazer o

grupo compreender que comer pouco não se referia à rejeição em relação ao grupo ou ao local

escolhido para confraternização. Houve necessidade de expor a situação da cirurgia em grande

parte das situações, para desfazer o mal-entendido acerca da refeição reduzida. Quanto à

dificuldade de presenciar outras pessoas se alimentando na fase de maior restrição alimentar,

sete dos dez entrevistados relataram não terem sentido interferência, devido à ausência da fome.

Um dos entrevistados relatou servir os pratos da mesa aos colegas e fazer propaganda de cada

prato ligeiramente degustado em pequenas porções.

Os grupos em geral não alteravam seus programas ou locais escolhidos por conta da

presença do operado bariátrico. Todos os dez referiram adaptação às condições normais de

convívio social. A realização da à cirurgia bariátrica muitas vezes caia em esquecimento.

Eventualmente teriam de levar um suporte pessoal do tipo “lanche de casa”, facilmente

digeríveis, com pouca gordura e sem açúcar.

Seis dos dez entrevistados referiram ampliação dos contatos e grupos de convívio após a

cirurgia bariátrica. Um deles adquiriu peso pela mudança de grupo, mudança de ambiente e de

hábitos. Passou a ingerir bebida alcoólica após o ingresso na faculdade e conviver com pessoas

mais jovens. Outro entrevistado passou pelo período de compras excessivas.

Metade dos participantes entendeu que existe preconceito com os operados bariátricos

por serem vistos como incapazes de perder peso e a cirurgia seria a comprovação de um ato de

falência diante do controle alimentar.

Quanto à influência da mídia, apenas três disseram que programas de TV influenciavam

em seu apetite. Diante da opção entre propaganda de roupa ou propaganda de comida, o foco

dos entrevistados deslocou-se da comida para outros pontos. Exceção aos que trabalham com

setor alimentício.
32

Dois participantes do grupo mantiveram seu estilo de vestimenta e modo de

apresentação. Os oito restantes disseram ter certa dificuldade em comprar roupas e adaptaram o

novo esquema corporal a um padrão mais jovem de vestimentas. Os relatos demonstraram a

percepção corporal e o retorno social recebido:

... você tá magra. Você usa roupa de magra! Não vou usar aqueles sacos. Então

comprei... Dei todas as minhas roupas. Mas dei tudo, tudo, tudo. Comprei calça jeans

cintura baixa... Tudo que eu queria usa, sabe? Passou... foi aquela fase... porque

assim... Eu acho assim que a gente fica numa fase de euforia. A gente qué tudo, tudo,

tudo. Daí a calça baixa, não sei o quê, top... E depois nada daquilo é importante.

Como categoria a posteriori foi interessante observar a contradição entre fazer uma

cirurgia para perder peso e entrar em conflito com a imagem demasiadamente emagrecida.

Quase todos os entrevistados, pelo menos oito dos dez, recuperaram peso para chegar a uma

imagem condizente com sua identidade, mas passaram do montante necessário, voltando a ter

conflito com a questão do excesso de peso.

A maioria almoça fora e janta em casa, sendo que dois conseguem eventualmente

almoçar em casa e um tem mantido este hábito.

Quanto à crítica ao padrão estético vigente na sociedade, cinco dos dez entrevistados o

considera exagerado e artificial. Dois consideraram que o padrão estético está bom e que a

valorização do belo deve permanecer. Um dos participantes da pesquisa ressaltou a questão da

necessidade de valorizar a saúde para além da beleza. Um dos entrevistados culpou a mídia pelo

padrão rígido de beleza e houve outro que destacou a necessidade de uma beleza sustentável.

Dos fatores sociais que influenciaram na reaquisição de peso foi possível destacar a

oferta constante do alimento como forma de agradar e ser aceito, bem como sinal de boa
33

recepção. Mas os fatores já citados anteriormente como críticas sociais sobre a imagem

corporal, comentários que geram ciúmes e discórdia na relação conjugal, convívio com grupos

com hábitos alcoólicos ou padrões alimentares mais frouxos interferem no acréscimo

progressivo dos quilogramas.

Discussão dos Resultados

Nos vinte anos de experiência em cirurgia bariátrica no Brasil (Magro, 2006) já foi

demonstrado que ao longo do tempo (entre 18 a 24 meses) o paciente bariátrico volta a ganhar

peso. A abordagem nutricional buscou avaliar apenas a conduta individual como principal causa

da reaquisição de peso, desconsiderando fatores grupais e sócio-históricos. Os casos

considerados como insucesso foram aqueles em que os pacientes não seguiram o

acompanhamento multidisciplinar e eram portadores de Transtorno de Compulsão Alimentar

Periódica no pré-operatório. Segundo a autora, eram indivíduos que passaram ao padrão

“beliscador” de alimentos calóricos e pouco nutritivos no período pós-operatório, substituindo a

ingestão compulsiva. Os resultados aqui alcançados revelaram que existem questões sociais que

antecedem o comportamento do indivíduo e colaboram para que transtornos alimentares se

agravem.

Parte do problema que se impõe ao obeso é o preconceito social e o ambiente promotor

da obesidade. O próprio ambiente que o estimula a ter uma alimentação inadequada é aquele

que o condena e exclui. Durante nove meses alguns autores (Felippe; Friedman; Alves; Cibeira;

Surita & Tesche, 2004) realizaram um estudo com indivíduos obesos, em Porto Alegre, cujo

foco foi a discriminação social nos meios de comunicação. Os autores do estudo delinearam as

categorias humilhação, desvalia discriminação, padrão estético, autoestima e


34

informação/orientação. Os autores reforçaram o papel da mídia na criação e no reforço de

prejulgamentos.

Felippe et al. (2004) esclarecem que a mídia se direciona à comunicação do que é mais

vendável e rentável, sendo, portanto uma divulgação ideológica. Ao vender informação, ela não

considera a repercussão que sua comunicação atingirá na saúde, assim foram as construções do

modelo de beleza e da concepção de obesidade como falta de controle e desleixo. Nesse estudo,

os autores trazem excertos de notícias de jornais e revistas em que o obeso é discriminado,

qualificado com menor valor, excluído como padrão de desejo afetivo-sexual, humilhado e foco

de literatura de reorientação e educação.

Mudar hábitos alimentares não é tarefa fácil. Se o fosse, pessoas obesas severas não

recorreriam a técnicas cirúrgicas como recurso de tratamento para a obesidade. Existem também

dificuldades na adesão a programas de perda de peso que envolve reeducação de hábitos

alimentares e intensificação da atividade física.

Segundo Coutinho, Gentil e Toral (2008), as tendências de consumo alimentar mudaram

ao longo dos anos com a maior disponibilidade de calorias per capita e aumento da participação

de alimentos de origem animal. Houve melhora na disponibilidade de alimentos e queda na

qualidade. Na pressa cotidiana, foi aumentada a praticidade da preparação e a comida passou a

ser enlatada, congelada e rápida.

Outro fator contribuinte para a reaquisição de peso foi o contexto cultural e industrial do

mercado alimentício. Padrões alimentares nos conectam com o ambiente uma vez que comer é,

na maioria das vezes, um ato comum. Repartir comida é um ato de vínculo e de socialização. A

mesa é um lugar de aprendizagem de contenção e de regras sociais. Ter comida à disposição de

modo rápido, instantâneo, com durabilidade estabelecida, passível de estocagem difere em

muito das condições dos primitivos ancestrais. Hoje o homem não dispende energia para buscar

seu alimento.
35

Para perder peso, as pessoas obesas devem consumir menos calorias do que gastam.

Deste modo, a maior parte dos programas para perder peso baseia-se na modificação individual

do comportamento. Os programas ensinam como fazer mudanças seguras, sensatas e graduais

nos hábitos alimentares que aumentam o consumo de hidratos de carbono complexos (frutas,

vegetais, pão e massa) e que diminuam o consumo de gorduras. Cada vez mais, os médicos

prescrevem medicamentos para perder peso. Quando o medicamento é interrompido, recupera-

se rapidamente o peso. Na obesidade, o surgimento da cirurgia foi uma revolução na terapêutica

e passou a ser o tratamento mais aceito. Seus resultados têm se demonstrado efetivos, pelo

menos em curto prazo.

As influências do grupo no comportamento alimentar dos operados foram analisadas no

presente estudo e observou-se que o foco no indivíduo obeso é unilateral. Há descaso com os

fatores do entorno que tornam o indivíduo vulnerável ao maior consumo de alimentos e bebidas

que provocam ganho de peso. Dado ao estigma social da obesidade, após o emagrecimento o

ato alimentar se torna menos carregado do significado de controle e força de vontade e há

diminuição da sensação de estar sendo vigiado ao comer. Comer em público se descarrega do

sentido gerador de ansiedade, mas favorece a maior liberação do impulso em consumir alimento

em grupo.

A realização de uma segunda cirurgia para conter a obesidade e a técnica das aplicações

de argônio são recursos que demonstram a que se submete o indivíduo que já sofreu a marca

subjetiva da obesidade mórbida. O comportamento de se defender da reaquisição de peso se

arma diante da experiência traumática de ter sido obeso. Qualquer garantia de segunda chance

de emagrecimento é bem-vinda. A ingestão de alimentos ricos em açúcares, gorduras e

carboidratos alivia ansiedades, frustrações e ameniza a sensação de vazio psicológico.

O medo de ganhar peso foi quase unânime. Este medo denota mais profundamente o

temor ao estigma social. É o medo da exclusão. Os próprios pacientes referem perceber estar
36

comendo demais, porém o modo do comer se altera. A literatura refere que de 26.3% afirmavam

ser “beliscadores” antes do processo operatório, mas há um crescimento para 38.0% depois da

cirurgia, como mostra Colles, Dixon e O’Brien (2008) em seu estudo.

Thompson e Smolak (2001) descreveram a imagem corporal como o resultado de

múltiplos fatores. Para os autores a satisfação com o peso é um dos elementos envolvidos na

constituição desta imagem. A acurácia da percepção do tamanho do corpo, a satisfação com o

próprio corpo, a atribuição de valor à própria aparência, orientação da aparência, a estima

corporal, a noção do corpo ideal, padrão físico próprio, o esquema corporal, percepção sensorial

do corpo, a distorção corporal e as possíveis distorções da imagem corporal, entre outras

participam da imagem corporal. Thompson, Berg, Roehrig, Guarda e Heinberg (2004)

desenvolveram e validaram a Escala-3 de atitudes socioculturais de aparência (SATAQ-3) e

obtiveram resultados que confirmaram que influências midiáticas interferem na formação

idealizada da aparência. O processo de formação da imagem corporal sofre diversas

interferências ao longo de sua estruturação: o gênero, a idade, os já citados meios de

comunicação, as relações parentais e a cultura do ambiente (com suas crenças e valores).

Vestir uma nova silhueta trouxe a princípio, confusão para as pessoas que participaram

desta pesquisa. Os fatores de rejuvenescimento, aumento da mobilidade corporal, maior

disponibilidade de vestimentas por menor custo, melhora da qualidade da vida e sensação de

realização pessoal após a cirurgia interferiram na autoestima e na avaliação de si mesmos. Os

convívios sociais e grupais são de extrema importância para o operado bariátrico no que

concerne à estruturação da nova imagem e forma corporal. Interfere na configuração de sua

identidade, na aquisição de seu espaço na sociedade e em sua nova apresentação ao grupo. O

paciente bariátrico necessita do espelho social para modelar-se. Já não pode mais resgatar o

corpo magro do passado, ou construir um corpo imaginário que nunca teve sem passar pelo
37

social. Necessita do retorno estruturante do grupo, que o contém e ampara. Os achados do

presente estudo foram de encontro com a literatura citada

A clientela bariátrica precisa passar por constante reeducação, conscientização e

informação para proteger-se da sedução da oferta alimentar fácil e do que, segundo Saunders

(2004), é o comportamento altamente perigoso e arriscado de beliscar. O beliscar tende a

substituir o comer grandes quantidades em pequeno espaço de tempo e socialmente é mais

adaptado.

A bebida alcoólica tem implicações sobre o quadro nutricional já prejudicado do

paciente bariátrico, pois possui alto valor calórico e provoca reaquisição de peso. Os meios de

comunicação e redes sociais, bem como campanhas antiobesidade, deveriam investir na

construção de uma cultura de boa nutrição, controlando o consumo alcoólico e alimentar. A

bebida alcoólica é fonte de prazer e divide o compartilhamento social do ser humano à mesa

com o alimento. É de fácil ingestão, altera estado de consciência, relaxa e facilmente promove

distração. Fisiologicamente envolve circuitos de neurotransmissores cerebrais similares ao do

consumo de drogas, como verificaram Parr e Rasmussen (2012).

É comum que em grupos sociais sejam comentados assuntos referentes a emagrecimento

e novos recursos de perda de peso. Morris e Nichols (2013) mostraram o quanto o mundo está

obsessivo pela beleza do corporal e pela magreza, tanto quanto está voraz. Mas ao ouvir a

palavra obesidade, a associação com a cirurgia como solução parece inevitável para os que

sofreram com o fardo do problema.

A banalização do conceito de obesidade e do ser gordo tem afetado os conceitos éticos,

estéticos e o limiar de autoestima nos adolescentes da era atual (Rayner, 2007). O sobrepeso

está sendo visto como obesidade e as cirurgias bariátricas já alteraram seus requisitos para sua

realização. As pessoas que viram a situação real da morbidez da gordura com sua saúde ou
38

autonomia prejudicada se exaltam e confessam o grau de indignação perante o afrouxamento do

conceito de doença (Cohen-Cole & Fletcher, 2012).

Ainda Cohen-Cole e Fletcher (2012) afirmam que a obesidade é contagiosa, pois

perceberam que ela se espalha em redes sociais de convívio. No estudo atual tivemos o veículo

do convívio social como um dos fatores que colaboraram para a reaquisição de peso. Grupos de

convívio foram capazes de induzir ao consumo de líquidos como bebida alcoólica; a relação

grupal aumentou o volume alimentar do operado bariátrico através da insistência para comer

por via do apelo emocional; fizeram parte da construção da nova imagem corporal do sujeito

emagrecido cirurgicamente, ao sinalizar a necessidade de perder ou ganhar peso conforme seu

referencial de beleza. Os elogios sociais têm importante papel na construção da autoestima

quebrada e estigmatizada do gordo. Estímulos mais amplos como o marketing e sua influência

subliminar fazem também parte do aspecto mais amplo das causas da reaquisição de peso.

Conclusão

A partir do presente estudo foi possível perceber que a obesidade e o processo de

reaquisição de peso sofrem influências claras dos grupos de convívio e do contexto sócio-

histórico vigente. No que concerne ao operado bariátrico, após quatro anos de pós-operatório, a

vulnerabilidade ao ambiente gerador de obesidade fica aumentada. Foi possível verificar que a

psicoeducação tem seus limites, uma vez que atribui ao sujeito a responsabilidade total sobre a

manutenção dos resultados cirúrgicos. Existem fatores médicos determinantes, mas é necessária

a intervenção macro social, através da criação de impostos sobre alimentos ricos em açúcar e

gorduras não saudáveis (hidrogenada e saturada). Ao mesmo tempo é necessário que se

disponibilize o acesso a alimentos saudáveis e haja redução em seus impostos para a facilitação

do consumo.
39

As intervenções para prevenção da obesidade e reaquisição de peso, historicamente,

foram focadas na responsabilidade individual e nas mudanças comportamentais do sujeito. Esse

estudo demonstrou que outros aspectos colaboram com a obesidade, indicando a necessidade de

intervenções grupais, macrossociais e de mudanças nas políticas públicas que englobam

alterações na política midiática e na indústria alimentícia. Haverá um longo trabalho no sentido

de abranger a obesidade como problema social na mesma magnitude e intensidade como vem se

pronunciando.

Referências

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43

A PERCEPÇÃO DO CORPO EM PACIENTES BARIÁTRICOS E A EXPERIÊNCIA

DO MEDO DO RETORNO DA OBESIDADE

Simone Dallegrave Marchesini

Maria Cristina Antunes

Artigo a ser submetido à Revista Reflexão e Crítica

Resumo

O presente artigo buscou mostrar que a percepção do corpo, após o emagrecimento maciço,

sofre transformações ao longo do tempo e tem relação com o medo da reaquisição de peso.

Foram realizadas 10 entrevistas com pacientes de uma clínica particular em Curitiba, que foram

submetidos à cirurgia bariátrica de bypass gástrico com derivação em Y-de Roux há quatro anos

ou mais. Os indivíduos selecionados foram os pacientes que tinham readquirido 15% ou mais

do peso perdido. O roteiro de entrevista semiestruturada contou com questões sobre os dados

demográficos, hábitos alimentares, mudanças no estilo de vida, mudanças comportamentais,

imagem corporal e autoestima e preconceitos vivenciados e reaquisição de peso. As entrevistas

foram gravadas e o foram transcritas, para a realização da análise de conteúdo. Os resultados

demonstraram que a recuperação de peso se dá de modo despercebido até que sinalizado

socialmente; o emagrecimento excessivo é malvisto; a cirurgia plástica é considerada parte do

procedimento de reconstrução da imagem corporal, existe medo acentuado de voltar à

obesidade mórbida; as mudanças provocadas pela cirurgia bariátrica afetam as relações afetivas

e a imagem corporal passa por oscilações na busca de sua reconstrução, nunca correspondendo

fielmente ao corpo físico.

Palavras-chave: obesidade, imagem corporal, cirurgia bariátrica.


44

Abstract

The present paper aims to show that after massive weight loss the perception of body image

undergoes transformations over time and is related to fear of weight regain. There were

interviewed 10 patients at a private clinic in Curitiba, who underwent Roux-Y Gastric Bypass

since four years or more. These selected subjects were patients who had regained 15% or more

of total lost weight. The interviews were semi structured and included questions about

demographics data, dietary habits, lifestyle changes, behavioral changes, body image, self-

esteem, prejudice experiences and weight regain. The interviews were recorded and have been

transcribed to perform content analysis. The results showed that weight regain occurs unnoticed

until signaled socially; excessive weight loss is frowned upon; plastic surgery procedure is

considered part of the reconstruction of body image, fear is accentuated back to possibility of

morbid obesity. Changes caused by bariatric surgery affect personal relationships and wanting

for a structured body image undergoes oscillations until a sensation of reconstruction. Body

image never corresponds faithfully to the physical body.

Keywords: obesity, body image, bariatric surgery.

Introdução

Segundo Sarwer (2012), numa entrevista sobre a correlação entre a imagem corporal e a

perda de peso, não há garantias que o caminho da diminuição numérica na balança seja a receita

certa para o aumento da autoestima. Em seus dados observou que mesmo pacientes bariátricos,

que perdem grande quantidade de peso, permanecem com insatisfações relacionadas à imagem

corporal. Nos primeiros três a seis meses há uma grande satisfação, mas em seguida, viver com
45

a sobra de pele tem mobilizado um número equivalente a 50.000 americanos a buscar a cirurgia

plástica corretiva e estética.

Cash, Cash e Butters (1983), Stice e Shaw (1994) e Then (1992) constataram que quanto

mais expostas a modelos perfeitos apresentados pela mídia, menos satisfeitas ficam as mulheres

com seus próprios corpos e mais os homens as julgam como pouco atraentes. E mais, esses

modelos criam insatisfações nos relacionamentos afetivos. Mídia, aparência, insatisfação

corporal, pouca autoestima, transtornos alimentares, depressão e ansiedade estão intimamente

relacionados.

Os autores Agliata e Tantleff-Dunn (2004) constataram que mulheres sofrem maior

influência da opinião de seu grupo sobre a estruturação da imagem ideal do corpo que os

homens. Para eles as personalidades de fama e sucesso são referenciais do ideal. O agravamento

da situação ocorre, no entanto, quando a mídia exibe imagens artificiais como reais afastando

em demasia o possível do impossível e aumentando o grau de insatisfação corporal e o índice de

distúrbios da alimentação.

Segundo Cash (2004), a imagem corporal envolve a autopercepção do corpo e a

autopercepção das atitudes relacionadas ao próprio corpo. Este conjunto envolve pensamentos,

crenças, sentimentos e comportamentos direcionados ao eu corporal. Na perspectiva de Rosen

(1990), o termo Imagem Corporal vem sendo usado para abarcar a imagem mental que uma

pessoa faz de seu eu físico, uma avaliação da própria aparência e a influência que esses fatores

exercem sobre o comportamento dela. O distúrbio da imagem corporal tem sido estudado no

intuito de se conhecer sua influência e correlação com a personalidade e a quadros

psicopatológicos.

Rosen (2001) estudou a imagem corporal no obeso e verificou que é inegável a

insatisfação existente neste grupo. Esta insatisfação é que motiva o indivíduo com peso

excedente nas tentativas frequentes de redução de peso, mas a insatisfação com o corpo pode
46

ser uma causa de sofrimento e prejuízo psicossocial. O autor percebeu que é possível intervir na

mudança de atitudes e comportamentos de pessoas obesas através de uma abordagem

estritamente psicológica, sem qualquer intervenção nos hábitos alimentares. Os resultados são

positivos em curto prazo, mas desconhecidos na obesidade ao longo do tempo. O autor admite a

necessidade de maior prática da técnica junto à população obesa.

Segundo Orzech (2005), numa sociedade focada no corpo magro e esculturalmente

construído, pessoas obesas e severamente obesas são deixadas à margem. Esses indivíduos

sofrem discriminações tanto em ambientes escolares quanto no mercado de trabalho,

prejudicando sua vida pessoal e relacionamentos interpessoais. A cirurgia tem sido um meio de

diminuir esses problemas e resolver questões sérias ligadas à saúde que levam a vida a péssimas

condições de qualidade no seu dia a dia.

O tratamento cirúrgico da obesidade deixa ao paciente uma série de tarefas e de

responsabilidade sobre a manutenção dos resultados obtidos. Segundo Pilcher (Orzech, 2005),

antes do emagrecimento em grande escala provocado pelo tratamento cirúrgico, o paciente tem

crenças sobre seu corpo e sua forma física e sobre como as pessoas o percebem. Após o

procedimento é comum que ocorram dificuldades nas mudanças de suas concepções já

enraizadas. Os registros das crenças antigas precisam ser confrontados e acomodados junto às

novas experiências e a própria forma corporal. A concepção que o operado passa a ter de si

próprio e de seu valor pessoal tendem a se alterar e o divórcio após a cirurgia bariátrica ocorre

em larga escala. O fato de a pessoa ter sido obesa no momento do casamento ou quando o

relacionamento iniciou estabelece um risco de ruptura do vínculo de 80 a 85% dentro de um

período de dois anos após a cirurgia. A autoestima do operado e sua atratividade física exercem

ameaça sobre o parceiro, antes acomodado com a garantia da relação. O reconhecimento dessa

relação, considerada abusiva por Pilcher (Orzech, 2005), passa a não ser mais tolerada pelo

indivíduo operado.
47

Segundo Thompson (2001), que atua no aconselhamento de bariátricos, em especial as

mulheres obesas costumam ser ignoradas socialmente. Muitas vezes esse é propósito de

tamanha gordura, mas ao se tornarem mais magras passam a ficar vulneráveis. Nessas situações,

a ajuda de um psicólogo é recomendada. Novos olhares e atenções são inevitáveis numa

sociedade que valoriza a imagem e o corpo. Para aqueles que foram obesos desde sempre, a

experiência do flerte e da iniciação do cortejo é nova e a imagem atraente é acompanhada de

certa ingenuidade.

Quanto à cirurgia plástica após cirurgia bariátrica, Steffen, Sarwer, Thompson, Mueller,

Baker e Mitchell (2012) fizeram um estudo sobre a procura e a satisfação da técnica da cirurgia

plástica do contorno corporal. Foi utilizado um questionário de aparência física após cirurgia

bariátrica, no qual os participantes expressaram a insatisfação com o excesso de pele na

circunferência abdominal e regiões da coxa. A maior procura pela cirurgia plástica foi pela

região da barriga e cintura e o nível de satisfação com a cirurgia do contorno corporal foi

grande. O Índice de Massa Corporal (IMC) não interferiu sobre a satisfação dos resultados, mas

o tempo de cirurgia bariátrica interferiu sobre a motivação de se submeter à plástica. Os autores

destacam a importância de incluir no preparo pré-operatório informações explícitas sobre a

necessidade de cirurgias plásticas estéticas ou corretivas, para que as expectativas possam ser

mais realistas.

McNally (2008), que trabalha com aconselhamento em bariátrica, afirma que muitas

pessoas descrevem seu processo após o tratamento cirúrgico da obesidade como uma montanha

russa. Muitas emoções positivas são vividas ao mesmo tempo em que experiências em relação

ao novo corpo também aparecem. Ressalta que o estado elevado de humor existe na maior parte

do tempo, mas para algumas pessoas, perder o peso não é o suficiente. Existem questões que

envolvem aceitação, melhoria na imagem corporal, aumento da autoestima. Essas questões

dependem das vivências sociais e psíquicas de cada um e necessitam de um longo trabalho


48

interior. A aceitação pessoal não pode ser baseada apenas na percepção alheia e aceitação

externa, segundo a autora.

Colles, Dixon e O’Brien (2008) se referem aos gatilhos emocionais e situações que

desencadeiam o desejo de comer após a cirurgia bariátrica. Perceberam num estudo que o medo

intenso de readquirir peso e a percepção do retorno de velhos hábitos alimentares, são os fatores

que retroalimentam o desejo de comer. Aqueles que já tinham a característica de terem desejos

intensos de comer perante muitos gatilhos emocionais foram os pacientes do estudo que

continuaram comendo, mesmo que estivessem se sentindo cheios e satisfeitos, apesar do medo

de recuperar o peso.

Método

Participantes: Para a realização do presente estudo foram inicialmente contatados 30

pacientes de uma clínica particular em Curitiba, submetidos à técnica cirúrgica de bypass

gástrico com derivação em Y-de-Roux. Destes pacientes, 16 se dispuseram a serem

entrevistados. Apenas 10 foram selecionados por preencherem os critérios de reganho de mais

de 15% do peso perdido num período de quatro anos ou mais após a cirurgia bariátrica.

Instrumentos: Foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturado, que contou com

64 perguntas a partir da experiência da autora com candidatos à cirurgia bariátrica e pacientes

operados, sob supervisão e orientação da coautora. Os tópicos abordados foram:

 Dados sociodemográficos: faixa etária, renda e escolaridade; abordou o IMC ao ser

operado e o mínimo atingido após a cirurgia; foi calculada a percentagem de

reaquisição de peso até a data da entrevista;


49

 Hábitos alimentares anteriores e posteriores à cirurgia bariátrica: a quantidade

ingerida de alimento, grupos alimentares de preferência (carboidratos, proteínas,

gorduras, gorduras saturadas e trans., açúcares, frituras), alterações no paladar,

velocidade da ingestão alimentar, rituais à mesa (se existem, se comem em ambiente

inapropriado), aspectos que colaboraram para reaquisição de peso;

 Mudanças no estilo de vida: mudanças na interação social, profissional, educacional

ou relacional com as mudanças proporcionadas pela cirurgia; mudanças na

apresentação pessoal e na rotina diária;

 Mudanças comportamentais: mudanças de humor, sentimentos e nas relações

interpessoais;

 Imagem corporal e autoestima: memória do corpo obeso, reações sociais ao corpo

emagrecido, reações sociais ao corpo que readquiriu peso, adaptação do vestuário

após emagrecimento veloz e maciço, noção de flacidez e necessidade de cirurgia

plástica;

 Preconceitos vivenciados e reaquisição de peso: críticas e reações do grupo perante a

obesidade, perda e reaquisição de peso, nova forma corporal e novos hábitos

alimentares.

Procedimentos: Em novembro de 2011 iniciou-se a seleção de 10 pacientes de uma

clínica particular em Curitiba, que foram submetidos à cirurgia bariátrica do tipo bypass

gástrico, que apresentavam em seu histórico clínico o critério reaquisição de peso, e tempo de

operação igual ou maior a quatro anos. A seleção foi realizada através do controle de

assiduidade às consultas e o contato inicial foi realizado por telefone.

Na ocasião da entrevista, cada participante recebeu o termo de consentimento livre e

esclarecido (TCLE), documento no qual contavam as principais informações da pesquisa,


50

garantia o sigilo referente às informações a serem coletadas, autorizava o registro das

informações em vídeo e informava sobre a liberdade de desistir da participação no estudo a

qualquer momento. O TCLE foi devidamente assinado e datado por cada participante. Cada

entrevista durou em média uma hora e quarenta e cinco minutos. Nenhum dos participantes

manifestou oposição à filmagem da entrevista. Todas as entrevistas foram transcritas e os dados

obtidos foram submetidos à análise de conteúdo.

Análise de Dados

A Análise de Conteúdo constitui um método de investigação utilizado por pesquisadores

qualitativos que, segundo Rocha e Deusdará (2005), objetivaram alcançar um sentido profundo

ou estável, conferido pelo pesquisador no próprio ato de produção do texto. Segundo Franco

(2008), a criação de categorias é característica pontual da Análise de Conteúdo, pois por

definição elas são critérios que norteiam a investigação científica e têm como base o

conhecimento prévio do pesquisador acerca do problema de pesquisa. A crítica estabelecida às

categorias de análise à priori, segundo a autora se deve à busca de indícios para classificar as

respostas obtidas nas entrevistas realizadas pelo pesquisador. As respostas fornecidas pelos

entrevistados foram agrupadas de acordo com as perguntas realizadas. Os diversos conteúdos

presentes no discurso dos participantes foram descritos de forma a analisar as diferentes

experiências subjetivas referentes às categorias estudadas.

Resultados

Das 10 pessoas que foram submetidas à entrevista semiestruturada, foi possível observar

a heterogeneidade nas profissões, idades e demandas da cirurgia bariátrica. As idades dos


51

entrevistados ficaram entre 32 e 69 anos. O tempo de cirurgia, como critério da pesquisa, ficou

em 4 anos ou mais de realização. No dia da cirurgia bariátrica as idades dos operados ficaram

entre 32 e 58 anos de idade. O maior IMC foi de 57.61 e o menor de 35.98, ambos com doenças

variadas correlacionadas à obesidade mórbida e emergência pela cirurgia bariátrica particular a

cada entrevistado. A maior redução de peso ficou em 47% do peso total do indivíduo e a maior

recuperação ficou em 23.7% do montante perdido, na mesma pessoa.

A partir da análise do conteúdo das entrevistas observou-se que o medo e a apreensão

estão presentes em relação à reaquisição de peso dos participantes. Esses afetos negativos

reforçam a ideia de que o estigma social e moral sofrido pelo obeso mórbido são marcas

psíquicas mediadas pela vivência social. Dos dez participantes, nove apresentaram no discurso a

palavra medo ou apreensão de readquirir peso, constituindo esse elemento discursivo comum a

todos:

Tenho medo. Morro de medo. Entrei na menopausa e parei de fumar. Meu medo de

engordar é tão grande... eu não posso voltar a ser aquela gorda que eu era.

Eu tenho medo de voltar tudo que eu tinha... daí eu fico me cuidando... foi muito

sofrimento, né?!

Existe... ah existe o medo de engordar sim! Quando começo a comer sem sentir o gosto

do que eu tô comendo... eu sei que tô muito ansiosa, então tá na hora de pará”.

Tenho medo! Tô com medo muito grande! ... Eu já lutei tanto, sofri tanto pra ficar

magro, né?! E agora de uma hora pra outra, não sei o porquê tô recuperando peso.

Todos descreveram a memória da obesidade como algo impresso no corpo, isto é, uma

experiência vivida concretamente, que deixou marcas psíquicas negativas e marcas físicas que

não podem ser negadas: flacidez, estrias, registro de privações alimentares, dores cirúrgicas,
52

cicatrizes de plásticas em maior ou menor grau. Relatos como: dificuldades em comprar

vestimentas; dificuldade no preparo de pequenas quantidades de alimentos; a experiência da

discriminação; a obesidade como limitante da vida natural; a reaquisição de peso como um

fantasma; a dificuldade de pensar na comida como um magro (cabeça de magro); e o retorno de

memórias que ressurgem em flashes.

A dificuldade em comprar roupa é uma queixa geral dos entrevistados já no pré-

operatório e intimamente ligada à condição da obesidade. Embora existam lojas especializadas

em tamanhos plus size, as roupas desses estabelecimentos são descritas como “-Roupas de

velha, bege, em forma de saco!”; “ -Até parece que gordo não tem sexo, só tem lingerie bege!”.

Roupas da moda, vendidas em lojas de departamentos e a preços acessíveis pertencem a moldes

em que o tamanho extragrande veste o médio, segundo os pacientes bariátricos.

Para pacientes jovens a obesidade mórbida traz limites físicos que antecipam a sensação

do avanço da idade. A pessoa fica ofegante, com dificuldades no sono e movimentos mais

limitados. Passa a existir falta de disposição para fazer exercícios e mesmo os que têm

disposição ficam mais propensos a distensões musculares e lesões. A experiência do

emagrecimento promovido pela cirurgia bariátrica devolve o corpo jovem para a cabeça que

ainda funciona com desejos jovens.

Ainda que a fome seja reduzida pela própria técnica cirúrgica, o apetite é da ordem do

desejo, e muitos pacientes passam a ter dificuldade em adequar a alimentação após a liberação

da dieta Quando estão aptos para a rotina normal fazem seus pratos com quantidades maiores do

que são capazes de comer, até que experimentem os limites e as texturas mais adequadas..

A reaquisição de peso é um fantasma que persegue pessoas que lutaram repetidas vezes

para perder peso. As experiências anteriores foram seguidas de curto período de manutenção,

reaquisição do peso perdido e mais um adicional. Um dos entrevistados do estudo chegou a

desenvolver anorexia pós-bariátrica com o pensamento obsessivo de que a cirurgia, para ele,
53

não daria certo. Outro entrevistado ainda induz vômito quando se sente cheio, pensa que comeu

desnecessariamente, e essa sensação o relembra os tempos da obesidade.

Quanto à dificuldade de alterar o modo de pensar a comida, existe um vínculo específico

com o alimento desenvolvido por cada pessoa, família e cultura. A comida, em geral, vista

como satisfação oral, apareceu em respostas sociais referentes à quantidade alimentar. Uma

indignação frente à quantidade ingerida foi confundida com mal-estar do operado, não

apreciação do prato ou desprezo a quem oferece o alimento. A cultura alimentar ainda revela

que dar alimento e receber alimento são comportamentos cercados de significados de

acolhimento, aceitação, agrado e afeto.

Algumas memórias relacionadas à obesidade foram citadas como flashes que ressurgem

como sensações corporais ou pensamentos ligados ao constrangimento do passado: sensação da

roupa pegando no corpo; ser olhado quando entra em um ambiente cheio; não usar shorts numa

praia; o controle familiar da perda de peso.

Os pacientes do presente estudo relataram a importância do feedback social no que

concerne à recuperação do peso. A sinalização teve função de espelho que os fez raciocinar

sobre a imagem corporal e as atitudes alimentares, mas comprovou a hipótese dos sujeitos de

que o obeso é objeto de observação social constante:

É, as pessoas avisam... - Olha você tá engordando de novo! E eles têm razão, né?!

Todo mundo, todo mundo dizia: O que adiantou fazer a cirurgia bariátrica se tá gorda

de novo? É!! Passou tanto sacrifício, fez tanta coisa pra ficar toda balofa aí de novo!

Ah, você precisa manerá, porque você tá engordando! Ah, você engordo! Tem essa

coisa de vigilância.

Olha, você vai voltar ao normal, hein?! Vai voltar de novo! Você já tá com 90... daqui a

pouco tá com 100!! Mas eu mesmo me preocupo!!


54

A memória de ter sido obeso foi considerada marcante por todos os participantes. A

experiência da discriminação social ou as limitações experimentadas num universo não

acolhedor a qualquer ser que possua condições diferentes das normas estabelecidas deixaram

lembranças desagradáveis. O obeso foi demarcado como culpado pelo seu mal, diferentemente

de qualquer outra doença, da qual se é vítima. Também foi sublinhada a dificuldade de

considerar a obesidade como uma etapa passada, dado ao tempo de doença em proporção à

idade etária.

Como categoria a posteriori surgiu a contradição entre fazer uma cirurgia para perder

peso e o conflito com a imagem excessivamente magra. Quase todos os entrevistados, pelo

menos oito dos dez, recuperaram peso para chegar a uma imagem condizente com sua

identidade, isto é, uma imagem que se encaixasse com a figura interna imaginária que

carregavam de seu próprio corpo. Mas, nessa tentativa, passaram do montante necessário. Essas

questões parecem estar permeadas pelos conceitos de “flacidez” e pela “aparência de doente”:

Depois eu fiquei bem alegre, eu fiquei magra, todo mundo... só que daí eu emagreci

demais e envelheci demais também... Eu fiquei realmente abatida.

Eu ficava ansiosa pra me pesar, né, porque assim mesmo, é contraditório... mesmo

quando você olha e diz: nossa! Parece que não sou eu... tô muito magra... você quer

perde mais.

Dois participantes do grupo mantiveram seu estilo de roupa e modo de apresentação

igual à antes da cirurgia. Os oito restantes disseram ter certa dificuldade em comprar roupas e

desenvolverem tentativas de encaixar seu esquema corporal num padrão mais jovem:
55

você tá magra... você usa roupa de magra... não vou usar aqueles sacos ... então

comprei... dei todas as minhas roupas, mas dei tudo... tudo.... tudo.... comprei calça

jeans cintura baixa... tudo que eu queria usa, sabe... passou ... foi aquela fase... porque

assim... eu acho assim que a gente fica numa fase de euforia. A gente que tudo...

tudo...tudo... daí a calça baixa... não sei o quê... top... e depois nada daquilo é

importante.

Dos dez indivíduos, dois afirmaram que suas experiências bariátricas acabaram em

divórcio devido à falta de estrutura do companheiro em conviver com alguém com a autoestima

mais elevada, isto é, com uso de mecanismos psíquicos mais maduros e menos complementares

nas doenças. Duas famílias ficaram temerosas quanto ao possível desenvolvimento de anorexia

nervosa após o emagrecimento de pessoas que foram obesas desde a infância.

A opinião sobre a cirurgia plástica não necessariamente coincidiu com o fato ter se

submetido ao procedimento estético. Muitos são favoráveis à cirurgia plástica, mas têm

conflitos em relação ao procedimento. Abaixo, relatos que demonstram ambiguidades em

relação à segunda chance de vida dada pela bariátrica e risco da cirurgia plástica:

não adianta você só fazer a cirurgia. Você vai emagrecer... tá ... mais ... é... e toda

aquela pele que tá sobrando, sabe. Você não consegue se visualizar porque você tem

que trabalhar também depois... é o espaço corporal.

quando eu penso na plástica eu sempre penso que é uma coisa meio supérflua, assim,

sabe? Daí eu penso: Ai será que eu vou, mas eu vou me submeter a isso e sendo que não

é uma necessidade! Eu não vou morrer se eu não fizer. Deus já foi tão bom comigo,

né?! Me fez todas as cirurgias, tá tudo certo, tô feliz, tô bem, Aí eu fico pensando se não

é um excesso, sabe? Não quero ficar com essa pele na barriga, sabe?! Seio...
56

vou fazer, fazer uma lipo abdominal, vou cortar aqui em baixo, tirar o excedente,

levantá isso aqui que tá tudo caindo lá pra baixo. O tecido tá pesado de gordura, e

quero tirar as duas mamas, assim... Quero tirar!! Tenho vergonha dos meus peitos! Eu

tenho vergonha. Então, por exemplo, eu não vou à praia.

Há um longo trajeto da obesidade até o corpo idealizado e mesmo após as cirurgias

plásticas não existe garantia do acesso à imagem corporal que foi idealizada no pré-cirúrgico.

Discussão dos Resultados

O estigma e o preconceito, de acordo com o site “Obesidade e Sociedade”, englobam

ações e atitudes de não aceitação aos padrões que ameaçam às normas de um grupo ou

sociedade. Todos os padrões que sejam julgados como diferentes e ameaçadores para um grupo

tendem a ser banidos e deixados à margem. A falta de identidade com o grupo promove no

“diferente” um afastamento enquanto os iguais tendem a se aglomerar por afinidade e sensação

de acolhimento e compreensão. A diferença e a semelhança entre os pares tendem a afetar as

nossas relações interpessoais e as atividades globais em longo prazo. A amostra estudada

demonstrou o importante papel atribuído à aprovação ou desaprovação do grupo social em

relação à imagem corporal do operado bariátrico. A sinalização da reaquisição de peso como

alerta de um possível retorno da exclusão social foi bem recebida como afeto positivo e

cuidado.

O estigma se manifesta de várias formas. Na forma verbal se manifesta em provocações

orais expondo o diferente ao ridículo. Aparece em forma de insultos, formação de estereótipos,

nomes depreciativos, ou linguagem pejorativa. O estigma físico se manifesta em forma de


57

brincadeiras estúpidas, qualificadas hoje no critério de bulling, como tocar, agarrar, ou

manifestar outros comportamentos agressivos.

Os benefícios com um corpo magro em agilidade, locomoção, sono, oxigenação,

circulação, sexualidade e funcionamento geral, dão indícios do medo da reaquisição de peso em

100% na amostra e explicam as discriminações em torno do obeso. A exposição dos indivíduos

a barreiras e obstáculos que evidenciam seu peso como equipamentos médicos pequenos demais

para pacientes obesos, cadeiras ou assentos em locais públicos que não acomodem pessoas

obesas, ou lojas que não tiverem roupas em tamanhos grandes, etc. entram nessa classificação.

Rusch e Andris (2007) descreveram a força do estigma em relação à obesidade através

de um estudo que mostra que pacientes com início da obesidade na infância ou pré-adolescência

demonstram menor satisfação com a imagem corporal depois de perder peso, do que pacientes

com obesidade tardia. Eles compararam dois padrões de recuperação de peso intencional após a

cirurgia bariátrica, ambos ligados à imagem corporal. Um deles seria o desgosto com a pele

pendurada e a flacidez. O outro padrão descrito é o emagrecimento excessivo, com o

aparecimento dos ossos das costelas e a desproporção ao tronco. Como a cirurgia plástica não é

financiada por convênios encher um pouco a pele, no primeiro caso, ou ganhar peso, no

segundo, seriam modos de reestruturar a imagem corporal.

No Brasil também os convênios médicos não financiam as cirurgias estéticas. É

necessário todo um trâmite legal para que o paciente comprove que a cirurgia plástica é

reparadora. Mais estudos nesse sentido teriam de ser desenvolvidos. No entanto, o que se sabe é

que quanto mais tarde é realizado o procedimento estético, maior é a acomodação com a

imagem corporal, mesmo que haja insatisfação com essa imagem segundo estudos de Cash

(2008) e Sperry, Thompson, Sarwer e Cash (2009).

No presente estudo encontramos o relato de grupos e familiares que exerceram função

crítica sobre a nova imagem corporal do paciente. Uns aconselhando o ganho de peso, outros
58

criticando a falta de manutenção dos resultados. Mas apesar da recuperação de uma quantidade

de peso, o medo de voltar a engordar e do sofrimento ligado à experiência de ter sido obeso

ficaram como memória e ameaça.

Intrinsecamente existe, desde o pré-operatório, o temor de que o emagrecimento não

seja autolimitado e mais, de que a imagem da magreza seja associada à fraqueza e doença.

Rusch e Andris (2007) chegaram às mesmas conclusões que o presente estudo. A intenção de

modelar o corpo com uma pequena reaquisição de peso passou do ponto desejado em sua

amostra e avançou para números mais altos.

Mitchell, Lancaster, Burgard, Howell, Krahn, Crosby, Wonderlich e Gosnell (2001)

realizaram um estudo de seguimento com um grupo de 100 pacientes bariátricos em que todos

inicialmente relataram benefícios em termos de saúde física e qualidade de vida. No entanto

68% permaneceram com vômitos depois de decorrido tempo de cirurgia bariátrica e 42,7%

permaneceram com “entaladas” devido a dificuldades com o ritmo alimentar. Oito pacientes

faleceram. Neste mesmo estudo o medo de voltar a engordar apareceu em 89,7 % do total

acompanhado e 98.7% insatisfeitos com a imagem corporal.

Sarwer (2012) relatou, em entrevista sobre o seu estudo (Sarwer, Thompson, Mitchell &

Rubin, 2008) que envolveu a cirurgia plástica na satisfação com a imagem corporal, que até

2008 cinquenta e cinco mil indivíduos tinham se submetido à técnica de contorno corporal

depois da cirurgia bariátrica. Teoricamente, a insatisfação com a imagem corporal deveria

motivar a busca das cirurgias plásticas, mas estudos pregressos como os de Cash (2008) e

Sperry et al. (2009) tem mostrado que esta insatisfação procrastina a busca pela correção

estética. Um dos motivos é a falta de cobertura dos convênios. Mas de acordo com o estudo

aqui presente, foi constatada a presença de um grau variante de temor em submeter-se a outro

risco cirúrgico, que engloba pós-operatório e suas particularidades.


59

Thompson (2001) afirma que o índice de divórcio é alto assim como Pilcher (Orzech,

2005). Muitos casamentos de pessoas obesas têm como base a estima rebaixada e a crença de

que devem se acomodar ao primeiro parceiro que as aceite. Na medida em que passam a

experimentar a possibilidade de optar, ocorre instabilidade nas relações afetivas. Com o

aumento da autoestima e consciência da atratividade física muitos repensam a permanência em

relações insatisfatórias.

De acordo com o estudo aqui apresentado foi possível perceber a dificuldade de

conviver com a pessoa mais magra e independente, antes submissa numa relação de poder, bem

observado anteriormente na citação de Pilcher (Orzech, 2005). Mas é inegável que em muitas

entrevistas pré-operatórias, contextos conjugais desastrosos aparecem e o parceiro obeso vem

buscar na cirurgia uma maneira de mudar o padrão existencial. Assim, parece que alguns

divórcios e separações já estavam implícitos no processo de transformação como um todo.

A descrição dos conflitos nas compras de novas roupas ou com a perda dos cabelos

foram encontradas em livros e artigos de operadas bariátricas que trabalham no aconselhamento

de antigos e futuros pacientes. Thompson (2001) e McNally (2008) descrevem que a perda de

cabelo em 1/3 dos operados em resposta à dieta restritiva deve ser tratada com reposição

nutricional. Quanto às compras de novas roupas, suas observações são semelhantes ao presente

estudo. Existe a tendência de solicitar em lojas ou pegar tamanhos maiores do que os que

realmente servem. Em geral o corpo real está menor que a roupa escolhida do mesmo modo que

o prato servido está mais cheio que a capacidade gástrica pós-operatória. A sensação de

rejuvenescimento que acompanha a perda de peso faz com que uma parcela de pacientes vá à

busca de roupas mais modernas e juvenis. Para alguns existe a insegurança quanto ao balanço

entre a crítica social e a autocrítica.


60

Conclusão

O estudo realizado permitiu, através da análise das entrevistas de pacientes bariátricos

que recuperaram peso entrar em contato com a percepção corporal desses indivíduos. Nesta

análise foi possível verificar o intervalo existente entre o emagrecimento no corpo e a

construção da imagem corporal, principalmente para aqueles que nunca tiveram a experiência

de serem magros. Para aqueles que já experimentaram a magreza, a cirurgia teve papel de

resgate de uma imagem já existente, porém se faz necessário estudo mais aprofundado para

avaliar a magnitude da satisfação dos resultados nesses dois grupos. O período de

emagrecimento excessivo foi vivido com ambiguidade: prazer e consciência da necessidade de

reaquisição de peso. A possibilidade de reverter a condição de obeso para magro foi vivido com

satisfação, principalmente em seu contexto social, ao ouvir o grupo pedir para que coma mais e

que engorde. A perda do controle na reaquisição do peso se tornou problema para os operados

na medida em que os números cresceram na balança e acionaram o medo de voltar a engordar,

experiência já vivida. A sinalização social da reaquisição de peso passou a ser de grande

importância, agiu como freio de um processo através da avaliação do grupo. O medo do retorno

à obesidade, na grande maioria das vezes, esteve ligado ao estigma social, às experiências de

rejeição, sentimento de inadequação que fizeram com que o próprio sujeito, como parte da

sociedade, rejeitasse a si mesmo.

As cirurgias plásticas em cirurgia bariátrica foram buscadas no ideal da reconstrução

corporal. Tidas como complementação e parte do processo bariátrico. Ainda existem

dificuldades quanto à equação flacidez X cicatriz. Existe busca de um ideal sem marcas ou

memórias da obesidade mórbida, mas existem implicações conjugais em que o ciúme do

parceiro impede o embelezamento do operado. Estes elementos do âmbito conjugal necessitam

também de maiores explorações qualitativas. Os dados demonstram a necessidade de


61

aprofundar os estudos sobre a reconstrução da imagem corporal após a cirurgia bariátrica, o seu

impacto na autoestima e autoconceito. Também evidencia a necessidade de aprofundar os

estudos sobre a influência das relações interpessoais, do contexto social e grupal (que constroem

o ideal de beleza) na construção da autoimagem corporal.

Referências

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Mitchell, J. E., Lancaster, K. L., Burgard, M. A., Howell, L. M., Krahn, D. D., Crosby, R. D.,

Wonderlich, S. A., & Gosnell, B. A. (2001). Long-term follow-up of patients’ status after

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Orzech, D. (2005). Counseling bariatric surgery patients. Social Work Today, 5 (6), p. 24.
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Sarwer, D. B., Thompson, J. K., Mitchell, J. E., & Rubin, J. P. (2008). Psychological

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Association, Washington, DC.

Thompson, B. (2001). Weight loss surgery. Finding the thin Person hiding inside you! USA:

Word Association.
64

Anexos

Anexo I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado a participar de um estudo intitulado “Fatores grupais e sócio-

históricos que influenciam no reganho de peso, em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.”,

que tem por objetivo descrever os fatores grupais e sócio-históricos que influenciam no reganho

de peso de pacientes que foram submetidos à cirurgia bariátrica, de autoria de Simone

Dallegrave Marchesini, mestranda da Universidade Tuiuti do Paraná em Psicologia Social

Comunitária. As atividades desenvolvidas constarão de:

(a) responder a perguntas sobre os fatores grupais e sócio-históricos que contribuíram

para que ganhasse peso após a cirurgia e participar de pequenos grupos de discussão. Esses

grupos terão encontros marcados na Clínica, cito à Rua Bruno Filgueira 369 11º andar, Batel,

para conversar sobre o problema da recuperação do peso após a cirurgia.

Estes encontros serão gravados, se você autorizar, para que cada detalhe seja registrado,

e nenhuma informação seja distorcida. Seu sigilo será sempre garantido e sua privacidade

respeitada. Caso não concorde com a gravação, cada detalhe deverá ser manualmente

registrado.

Após as discussões, as conclusões serão usadas para montar um manual de prevenção de

reganho de peso para pacientes bariátricos como você.

Simone Dallegrave Marchesini é aluno(a) do Mestrado em Psicologia da Universidade

Tuiuti do Paraná responsável pela pesquisa e poderá ser encontrada no telefone (41) 3342-6264.

Sua supervisora é a Professora Dra Maria Cristina Antunes docente do Mestrado em Psicologia

da Universidade Tuiuti do Paraná.


65

Para podermos realizar a Pesquisa “Fatores grupais e sócio-históricos que influenciam

na reaquisição de peso, em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica”, precisamos de sua

colaboração autorizando a coleta de dados.

Você poderá interromper a sua participação na pesquisa a qualquer momento, sem que

isto lhe acarrete qualquer tipo de prejuízo. Garantimos que não haverá consequências danosas

por sua participação ou interrupção na pesquisa.

Garantimos o total sigilo aos dados aqui obtidos assegurando que o tratamento dos

mesmos será realizado dentro dos princípios éticos que regem os procedimentos em pesquisa.

As informações aqui obtidas serão utilizadas apenas para publicações científicas.

Antecipadamente agradecemos a sua valorosa colaboração que contribuirá para o

desenvolvimento do conhecimento nesta área e sem a qual este estudo não poderia ser realizado

Eu, _____________________________________________________, autorizo a coleta de

dados desta pesquisa e compreendo que poderei interromper a minha autorização a qualquer

momento.

Curitiba, ______de ______________________ de ____________.


66

Anexo II – Roteiro de Entrevista (Marchesini & Antunes, 2011)

 Dados sociodemográficos

1. Qual é o seu nome?

2. Qual a sua idade atual?

3. Qual é sua altura?

4. Qual é a sua profissão?

5. Com que idade fez a cirurgia bariátrica?

6. Com que peso estava quando fez a cirurgia?

7. Que peso atingiu após a cirurgia?

8. Qual o peso atual?

 Significado da obesidade, do ser magro e do reganho de peso

9. Qual o motivo que o levou a fazer a cirurgia bariátrica, naquela época?

10. Como foi o processo depois da cirurgia?

11. Você sentiu diferença em relação ao mundo sendo “gordo” e sendo “magro”?

12. Você tem medo de voltar ao peso que tinha antes de operar?

13. Seu comportamento mudou depois da cirurgia?

14. Como ficou sua imagem corporal?

15. Você optou por fazer cirurgias plásticas depois da bariátrica?

16. O que acha de cirurgias plásticas depois da cirurgia da obesidade?


67

 Hábitos alimentares antes e após cirurgia

17. Você sente seu estomago pequeno?

18. Mudou seu jeito de comer depois da cirurgia?

19. Qual era sua comida predileta antes da cirurgia?

20. E hoje, o que você mais gosta de comer?

21. Você sabe o que é dumping?

22. Você teve dumping?

23. Alguma vez comeu mais do que cabe no seu novo estômago?

24. Teve alguma alergia ou intolerância alimentar?

25. Tem saudades de alguma comida?

 Preconceitos vivenciados em virtude da obesidade, da opção pela cirurgia e pela reaquisição

de peso.

26. Ser observado interfere no que você come?

27. Teve críticas quando optou pela cirurgia?

28. Em algum momento se arrependeu de ter operado?

29. O que aconteceu com você quando parou de perder peso?

30. Tem apelido do tempo de gordinho?

31. Você recuperou peso? Quanto?

32. Se você recuperou peso, como seu grupo de convívio reagiu quando começou a

engordar?
68

 Influência da família e dos grupos na rotina do novo-magro

33. Como sua família reagiu em relação à sua nova forma magra, saudável e com

autoestima?

34. Ficou na sua memória a experiência de ter sido obeso (a)?

35. Alguém ainda tenta agradá-lo (a) com comida?

36. Você aceita convites (a) para jantares, almoços e lanches?

37. Seu grupo de convívio entende o que aconteceu com seus hábitos sociais?

 Influência grupal no comportamento alimentar

38. Como foi, depois da operação, ver as pessoas comendo normalmente?

39. Houve insistência para que você se alimentasse mais?

40. Seu grupo se preocupa com você quando escolhe o local para comer fora?

41. Explique como foi mudar a alimentação?

42. Seu grupo é o mesmo?

43. Frequenta os mesmos lugares para se divertir?

44. Você altera o que come quando sai com amigos?

45. Seus amigos têm criticado você por algum hábito rígido?

46. Você bebe com os amigos? Em que quantidade?

47. Você percebeu preconceito em relação a ser operado?

48. Você bebe em casa? Quantidade.


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 Influência da mídia no comportamento alimentar

49. Programas de TV que envolvem comida lhe despertam o desejo de comer?

50. Como é quando ouve pessoas reclamando de excesso de peso?

51. O que acha do padrão de beleza de hoje?

52. Propagandas de TV influenciam no tipo de comida que escolhe?

53. Como é para você comprar roupas da moda, hoje?

54. O visual da comida é importante para você?

55. Você considera que as propagandas de TV influenciam na escolha da comida?

56. O que chama mais sua atenção: propaganda de roupas ou propaganda de comida?

 Influência da indústria alimentícia no comportamento alimentar

57. Você consome refrigerante?

58. Você almoça e janta em casa?

59. Você come alimentos enlatados ou embutidos?

60. Você lê os rótulos dos alimentos que ingere?

61. Você está consumindo frutas e verduras?

62. Você ainda faz acompanhamento nutricional?

63. No Supermercado experimenta produtos novos?

64. Comidas da moda o atraem? (Japonês, Mexicano, Indiano)

65. Prefere comer comida mais prática ou comprada pronta (delivery)?


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Anexo III – Autorização do Comitê de Ética

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