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t.me/SBDLivros
Diretor Editorial
Christiano Menezes
Diretor Comercial
Chico de Assis
Gerente Comercial
Giselle Leitão
Gerente de Marketing Digital
Mike Amelia
Editores
Bruno Dorigatti
Raquel Moritz
Editores Assistentes
Lielson Zeni
Nilsen Silva
Designers Assistentes
Aline Martins / Sem Serifa
Arthur Moraes
Revisão
Aline T.K Miguel
Jéssica Reinaldo
Impressão e acabamento
Gráfica Geográfica
Produção em ebook
SBD-GD
Maniscalco, Kerri
Príncipe Drácula / Kerri Maniscalco; tradução de Ana Death
Duarte. — Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2019.
424 p. (Rastro de sangue; 2)
ISBN: 978-85-9454-166-6
Título original: Hunting Prince Drácula
19-0527
CDD 813.6
(2019)
Todos os direitos desta edição reservados à
DarkSide® Entretenimento LTDA.
Rua Alcântara Machado, 36, sala 601, Centro
20081-010 — Rio de janeiro — RJ — Brasil
www.darksidebooks.com
SBD
Para minha mãe e meu pai, por me
ensinarem que inúmeras aventuras podem
ser encontradas entre as páginas dos livros.
WILLIAM SHAKESPEARE
1. FANTASMAS DO PASSADO
Expresso do Oriente, Reino da Romênia
1° de dezembro de 1888
Querida Liza,
Como você ressaltou em
várias ocasiões até agora —
não que eu esteja mantendo
um registro de tais coisas -,
seus entendimentos em
relação a questões de uma...
natureza delicada são
superiores aos meus.
Especialmente ao tratar-se
do sexo menos belo. (Estou
brincando, naturalmente!)
Falando em termos claros,
temo que eu possa ter
magoado o sr. Cresswell de
tal forma que até mesmo a
bravata dele teria
dificuldades de se recuperar.
É só que... ele me leva
totalmente à loucura! Ele
vem sendo um completo
cavalheiro, o que é ao
mesmo tempo intrigante e
enlouquecedor por si só. Em
alguns dias, eu tenho
certeza de que viveríamos
tão felizes quanto a Rainha
com seu amado príncipe
Albert. Em outros momentos,
eu juro que sinto minha
autonomia sendo
arrancada das pontas dos
meus dedos enquanto ele
insiste em me proteger.
Contudo, de volta ao
problema em questão: eu
reprovei severamente o sr.
Cresswell. Ele havia
informado a um de
nossos professores que
minha constituição não era
lá muito robusta. O que não
parece assim tão horrível,
exceto que era a segunda
vez que ele havia tentando
interferir na minha
independência. Audácia
absoluta!
Nossos colegas de classe se
divertiram bastante com
isso, embora eu não fosse (e
não seja) nem um pouco
assim. Minha resposta
enraivecida pode ter
alienado os afetos do sr.
Cresswell. Antes que você
me peça detalhes sórdidos,
eu expliquei - de forma um
tanto cruel - que eu
preferiria morrer sozinha a
aceitar a mão dele em
casamento. Caso ele
pensasse em oferecê-la,
quero dizer.
Por favor, ajude-me com
qualquer conselho que você
possa ter. Sou muito mais
bem equipada para extrair
um coração do que para
encorajar um, pelo que
parece.
Sua
Liza
XI
XXIII
VIII
Querida Liza,
Depois de ler sua última
correspondência, eu pensei e
repensei sobre ela por um
bom tempo. Acredito que
esteja certa, embora eu
saiba que você
provavelmente não tinha
dúvida quanto a isso.
Eu me dei conta de que
estava magoada e com
raiva. As ações equivocadas
de Thomas nasceram não de
uma falta de afeto da parte
dele, mas sim de um mal-
entendido em relação a
como ele poderia oferecer o
apoio correto a mim. (O que
claramente não inclui avisar
professores sobre o meu
estado emocional.)
No entanto, tenho outras
preocupações. Preocupações
sobre as quais tenho medo de
falar. Por favor, queime esta carta
assim que a tiver lido, e não conte
a ninguém sobre seu conteúdo.
Não consigo me livrar da
sensação de estar sendo
observada. Um aluno foi
encontrado morto e um corpo não
identificado foi descoberto aqui
na academia em questão de
semanas. Um deles não
apresentava sinais externos de
assassinato, e o outro havia
falecido de... modos mais
horrendos. Ainda assim, ambos os
corpos haviam tido seu sangue
completamente drenado. Uma
coisa terrível sobre a qual falar;
peço desculpas. Além disso, há
quase uma semana não
tenho notícias de uma amiga
daqui e estou preocupada
com ela.
Eu não conseguirei viajar
para casa para passar as
festas de fim de ano devido
ao clima ruim e também à
falta de tempo livre, mas
escreverei com frequência
para compensar. A família de
Thomas tem uma casa em
Bucareste e a irmã dele nos
convidou para irmos a um
baile lá, e eu não faço a
mínima ideia do que vestirei
em tal evento. Deixei os
meus mais queridos vestidos
em casa. É uma bobagem
falar de tamanhas
frivolidades quando há
coisas muito piores
acontecendo.
Tia Amelia voltou a
considerar a ideia de mandar
você em uma viagem pelo
continente? A irmã de
Thomas, a srta. Daciana
Cresswell, prometeu
escrever a ela em seu nome.
Talvez você pudesse pedir
que sua mãe reconsiderasse
e lhe concedesse permissão
para essa viagem como
presente de Natal. Ou talvez
ela fosse concordar que
viajássemos para os estados
Unidos, eu adoraria passar
um tempo lá e visitar a vovó.
Nós talvez poderíamos
persuadir a minha avó a
falar em nosso nome
também. Você sabe como
ela consegue ser
convincente.
Peço desculpas por não
acrescentar mais detalhes a
esta carta. Eu tenho que ir
correndo para a cama. A
aula de anatomia é a
primeira, logo pela manhã. É
de longe a minha aula
preferida (mesmo que o
diretor seja um bruto
horrendo). Que surpresa,
não é mesmo?
Sua prima afetuosa,
AR
Obs.: Como está o meu pai?
Dê a ele um abraço por mim,
por favor, e diga-lhe que
escreverei em breve. Eu
sinto uma falta tremenda
dele, e me preocupo que vá
cair no encanto de seu
láudano em minha ausência.
Fique atenta quando ele se
trancar em seu estúdio.
Nada de bom provém disso.
29. VISLUMBRES DE FITA FRETA
Camere din turn
Câmaras da torre, Castelo de Bran
14 de dezembro de 1888
XXII
Branco, vermelho, verde e maldoso
O que assombra essa floresta permanece duvidoso
Dragões, ao alto, rondam o céu e as frestas
E obstruem a passagem de almas funestas
Coma esta carne e beba este sangue
Deixe na banheira o restante
Branco como marfim, brilhante como a sorte
Siga este caminho e encontrará a morte
Prezada Wadworth,
Eu finalmente fui libertado
do inferno úmido que eles
dignificam como o nome de
"masmorra". Agora estou
sentado em meus
aposentos, contemplando a
possibilidade de escalar as
muralhas do castelo para me
divertir. Ouvi os guardas
falando e me parece que
essa noite pode ser nossa
melhor chance para nos
esgueirarmos até o bosque e
procurarmos por quem quer
que tenha sido arrastado
para lá pelo túneis naquela
noite.
Ao contrário de nosso
prezado diretor, eu não creio
que você tenha inventado
aquele cenário, e estou
preocupado com o fato de
que talvez tenhamos errado
em relação à possibilidade
de Ileana estar envolvida
nisso, criminosamente
falando. Ela pode muito bem
ser mais uma vítima, mas só
há uma maneira de saber ao
certo.
Se você não receber mais
notícias minhas, é porque
estou me esgueirando pelos
corredores a caminho de
seus aposentos.
Sempre seu,
Cresswell
33. INFERNO ÚMIDO
Camere din turn
Câmaras da Torre, Castelo de Bran
17 de dezembro de 1888
Querido pai,
O reino da Romênia é
realmente encantador. Uma
das primeiras coisas em que
pensei ao ver o Castelo de
Bran e seus piráculos foram
aquelas histórias infantis que
o senhor e mamãe
costumavam ler para mim
antes de dormir. As telhas
nas torres são cortadas de
tal forma que me lembram
escamas de dragões. Eu
meio que espero que um
cavaleiro venha cavalgando
em seu corcel a qualquer
momento. (Embora nós dois
saibamos que
provavelmente eu vá pegar
o cavalo dele emprestado
para mim mesma e sair
buscando um dragão para
matar. Se ele realmente for
um cavaleiro e um
cavalheiro, tenho certeza de
que ele não se importaria
com isso.)
Os Cárpatos estão entre as
montanhas mais grandiosas
de todo o mundo, pelo
menos de acordo com o que
vi delas. Eu mal posso
esperar para admirar esta
terra durante a primavera.
Imagino que as montanhas
cobertas de gelo sejam
irrompidas pelo verde. Creio
que o senhor iria gostar de
passar férias aqui.
Eles têm uns salgados
divinos de carne, recheados
com deliciosos cogumelos e
todo tipo de maravilhosos
sucos e temperos.
Eu os tenho comido quase
todos os dias até agora! Para
falar a verdade, minha
barriga está roncando só de
mencioná-los. Devo levar um
pouco para casa quando for
visitá-lo.
Espero que você esteja
bem em Londres. Sinto
muita falta do senhor, e
tenho uma fotografia sua
aqui para a qual eu
frequentemente digo boa-
noite. Antes que me
pergunte, direi que o sr.
Cresswell tem sido um
perfeito cavalheiro. Ele
assumiu seu dever a sério e
é um acompanhante bem
irritante. O senhor teria
orgulho dele.
A irmã dele, a srta. Daciana
Cresswell, nos convidou para
um baile de Natal em
Bucareste. Se o tempo
permitir, será adorável. Eu
realmente gostaria de poder
voltar para casa para uma
visita no ano novo. Queira
expressar meu amor à tia
Amelia e a Liza. E cuide
delas e de você mesmo.
Escreverei novamente em
breve. Estou aprendendo
muito aqui na academia e
não tenho como lhe
agradecer o bastante por
permitir que eu estude fora.
XI
Cresswell,
Tenho um pedido urgente a lhe
fazer. Eu preciso ver o livro Poezii
Despre Moarte. Traga-o até os
meus aposentos depois da ceia.
Planejei uma noite um pouco
cheia de aventuras para nós.
Sua,
AR
Obs.: Por favor, não tente escalar
as paredes do castelo dessa vez.
Eu tenho certeza de que você
conseguirá pensar em alguma
maneira criativa de esgueirar-se
pelos arredores sem ir parar na
masmorra de novo ou
esparramado no gramado da
academia.
“Você pode levar isso para o sr. Cresswell para mim, por
favor?”, perguntei à camareira quando ela chegou para me
entregar meu lanche da tarde. Ela engoliu em seco e olhou
de relance para a carta, como se ela tivesse dentes prestes
a mordê-la. “Este urgent."
“Foarte bine, domnişoară." Com relutância, ela colocou o
bilhete em sua bandeja. “Precisa de algo mais?”
Balancei a cabeça em negativa, sentindo-me terrível por
envolvê-la em meu plano, mas não vendo nenhuma outra
forma de passar a mensagem adiante.
Andei de um lado para o outro e planejei o restante do
dia, o que era um imenso teste de paciência. A tarde
certamente demorou para virar noite, mas, uma vez que ela
colocou seu manto noturno, eu nunca antes tinha ficado tão
satisfeita por ver o céu preto como nanquim. Enquanto eu
marchava pela sala de estar, temi que Thomas pudesse não
vir, no fim das contas. Talvez a camareira não tivesse
entregado minha carta a ele. Ou talvez ele tivesse sido pego
por um guarda e estivesse novamente na masmorra.
De todos os cenários que eu havia imaginado, eu não
tinha pensado em realizar meu plano sozinha. Quando me
convenci de que ele não vinha e de que estava na hora de
seguir para o próximo passo, ouvi uma batida suave na
minha porta. Thomas entrou de fininho antes que eu fizesse
qualquer movimento, seu olhar aceso de preocupação.
“Eu tenho a sensação de que você não me convidou a vir
aqui para nos beijarmos. Embora não custe perguntar.” Ele
abriu um largo sorriso ao ver os trajes que eu vestia, e
esfregou as mãos uma na outra, enquanto centelhas de
travessura brilhavam como fogos de artifício ao seu redor.
“Você está vestida para andar furtivamente pelo castelo de
Drácula. Fique parado, sombrio coração que está prestes a
derreter. Você certamente sabe como fazer um rapaz se
sentir vivo, Wadsworth.”
38. A CAÇADA COMEÇA
Camere din turn
Câmaras da torre, Castelo de Bran
22 de dezembro de 1888
XI
As damas em prantos, os homens às lágrimas
Dizem adeus, descendo a estrada
A terra se move, as covas se abrem
Profundas na terra, no inferno ardem
Fria e profunda, a água vai transbordar
Uma vez ali dentro, você ela não vai durar
“Veja isso”, falei. Alguém havia pegado uma pena e
rabiscara o você, substituindo-o por ela. Engoli a ansiedade
que girava em meu organismo. “Você acredita que isso seja
uma referência à sua irmã?” Thomas leu o poema
novamente. Fiquei observando a transformação, enquanto a
calidez e os ares de flerte eram substituídos pela expressão
clínica que ele usava para quase todo o restante das
pessoas. Porém, a tensão ainda estava presente em seus
ombros, o único sinal de que ele não estava à vontade.
“Eu acredito que esteja se referindo a ela, ou
possivelmente a Ileana. Talvez até mesmo a Anastasia.”
Thomas continuou fitando o poema. “É realmente
extraordinário. Quem quer que tenha planejado isso...” Ele
endireitou os ombros. “Isso tudo vem sendo um jogo
mórbido, e só agora nos damos conta de que somos seus
jogadores.”
Estremeci. Anastasia havia mencionado uma vez que
Moldoveanu gostava de adicionar elementos lúdicos aos
cursos de avaliação. Embora eu não acreditasse que isso
incluísse assassinar alunos em potencial ou sua querida
protegida. E não importava que as fofocas do castelo
pudessem levar alguém a acreditar que ele estava atrás de
sangue durante esse período de teste. Eu tinha visto a
expressão de verdadeira devastação em Moldoveanu depois
que o corpo de Anastasia fora recuperado.
Thomas suspirou. “Eu não acho que você ficará satisfeita
em permanecer aqui e jogar uma partida de xadrez até que
os guardas reais corram atrás dessa pista, não é?” Balancei
lentamente a cabeça em negativa. “Muito bem, então. O
que você tem em mente?”
Deixei um bilhete, no meu canapé endereçado ao diretor,
temendo que isso pudesse ser exatamente o que nos
impediria de conseguir aqueles dois estimados lugares na
academia. Ignorei a pontada de arrependimento. Até onde
eu sabia, se nós impedíssemos esse assassino, poderíamos
ser admitidos na academia. De uma coisa eu tinha certeza:
se não voltássemos essa noite, eu queria me certificar de
que Moldoveanu saberia onde nos encontrar. Antes de nos
expulsar para sempre. Fiz um sinal para que Thomas ficasse
quieto.
“Nós vamos caçar vampiros, Cresswell.”
Descemos sorrateiramente a escada da torre e
conseguimos seguir por todo o caminho até o corredor das
criadas antes de avistarmos uma patrulha. Eles marchavam
pelo corredor principal, seguindo ruidosamente seu caminho
em nossa direção, com o couro rangendo e armas
suficientemente barulhentas para alertar os mortos de sua
presença. Puxei Thomas para uma alcova escondida por
uma tapeçaria. Contanto que eles não acendessem um
lampião ou olhassem muito atentamente para trás da obra
de arte, estaríamos bem. Eu esperava que sim.
Eu me remexi no pequeno recanto, dando-me conta de
quão pequeno era aquele espaço para uma pessoa, quem
diria duas. O calor do corpo de Thomas estava me
distraindo de formas que eu não tinha imaginado que
fossem possíveis, ainda mais quando estávamos caçando o
Empalador, ou a Ordem, ou quem quer que realmente
estivesse por trás dessas mortes.
Uma parte minha desejava deixar essa missão para a
guarda real e aproveitar a posição em que nos
encontrávamos. Pensamentos similares pareciam estar
passando pela mente de Thomas; sua garganta subia e
descia um pouco mais do que o normal enquanto ele se
espremia mais para junto de mim. Os passos ficavam cada
vez mais altos no corredor, tão pesados quanto a carga
elétrica que crescia entre nós dois.
Thomas voltou o rosto na direção do meu, e nossas
respirações vinham em ímpetos silenciosos. Se de medo ou
anseio, eu não conseguia discernir. Talvez ele estivesse
inventando uma desculpa para estarmos em um corredor
caso fôssemos descobertos. Ou talvez ele desejasse reduzir
a distância remanescente entre nós tanto quanto eu queria.
Os olhos dele tremularam e se fecharam, e o desejo que
eu havia visto neles foi o bastante para me arruinar ali
mesmo. Ergui o rosto, permitindo o mais leve e breve
contato entre nossos lábios. Não passou da sombra de um
beijo, mas acendeu um fogo por todo o meu corpo. A
respiração de Thomas ficou alta o bastante a ponto de parar
meu coração, o corpo inteiro enrijecendo-se, quando as
passadas dos guardas pararam abruptamente.
Os guardas fizeram uma parada não muito longe de onde
nós estávamos aninhados, cessando sua conversa baixa.
Sem soltar nenhum pio, Thomas encolheu a distância entre
nossos corpos. Cada centímetro dele me tocava enquanto
ele escondia meu corpo com o dele, abrigando-me para que
eu não fosse vista.
Nós ficamos daquele jeito, presos entre a parede e os
guardas, respirando parcamente. Eu mal conseguia pensar
direito. A lógica havia saído de férias e não tinha se dado ao
trabalho de voltar. Eu lutava contra todas as premências
irracionais que me tomavam e mantive as mãos presas nas
laterais do meu corpo, em vez de deslizá-las pelo corpo
dele.
Depois do que pareceu ser uma década, os guardas
continuaram caminhando pelo corredor. Nem eu nem
Thomas nos mexemos. O calor irradiava-se entre nós de
uma maneira que me levou a ter os mais indecentes
pensamentos que eu jamais considerara antes. Lá se fora a
moça que ficaria ruborizada só de pensar em expressar sua
paixão.
Senhor, como eu queria que esse caso terminasse logo.
Se eu não beijasse Thomas, eu poderia muito bem entrar
em combustão e virar cinzas. Minha tia Amélia teria ficado
horrorizada com minhas ações pecaminosas, mas eu não
me importava nem um pouco com isso. Se um romance não
fosse uma distração que pudéssemos nos dar ao luxo de ter,
eu viveria com o ardor desse momento por toda a
eternidade. Mesmo com esses pensamentos racionais
espiralando-se na minha cabeça, eu ainda vivenciava uma
grande dificuldade em encerrar nosso contato.
Por fim, Thomas moveu-se o suficiente para sussurrar ao
meu ouvido, seus lábios trilhando o caminho da linha do
meu maxilar.
“Você muito certamente será a morte da minha
dignidade, Wadsworth.”
Abri um sorriso doce, permitindo-me um instante para
recuperar o fôlego. “Sua dignidade pereceu há muito tempo.
Venha, temos que nos mover rapidamente antes que eles
deem meia-volta.” E antes que eu mesma me decida por
não fazer nenhuma investigação forense e passar o restante
da noite beijando-o em um corredor deserto enquanto um
assassino encontra-se à espreita. Um sorriso de diversão
iluminou o rosto de Thomas, e eu me dei conta de que ele
estivera sussurrando. “O que houve?”
“Em que diabos você estava pensando agorinha mesmo?
Eu disse, querida Wadsworth, que parece que alguém
colocou uma bandeja cheia de doces na sua frente.
Talvez...”, ele levou a boca provocantemente para perto da
minha, “eu possa oferecer uma guloseima a você antes de
partirmos, não?”
“Tentador.” Eu passei por baixo dos braços dele e desferi-
lhe um olhar por sobre meu ombro, desfrutando por
completo a forma como o olhar dele acompanhava os meus
movimentos. “Infelizmente, por ora devo recusar. Nós temos
um encontro clandestino nos túneis secretos.”
Thomas soltou um suspiro.
“Eu meio que gostei mais da minha sugestão.”
XII
Vermelho como sangue, branco como marfim,
Algo que há muito se desfez está próximo a mim
Na Árvore da Morte há um coração de pedra
Ao entrar sozinho na cripta, sua alma se quebra
A cada simples passo, ele vai te acompanhar
Cravar os olhos em sua presa e então atacar
Vermelho como sangue, branco como marfim
Os que deveriam ter fugido jazem próximo a mim
XXII
Branco, vermelho, verde e maldoso
O que assombra essa floresta permanece duvidoso
Dragões, ao alto, rondam o céu e as frestas
E obstruem a passagem de almas funestas
Coma esta carne e beba este sangue
Deixe na banheira o restante
Branco como marfim, brilhante como a sorte
Siga este caminho e encontrará a morte
Atenciosamente,
Wadin Moldoveanu
Diretor, Institutului Național
Criminalistică şi Medicină Legală
Academia de Medicina e Ciências
Forenses
EPÍLOGO. UMA POSSIBILIDADE ELETRIZANTE
Residência dos Cel Rău-Cresswell
Bucareste, Romênia
26 de dezembro de 1888
TRANSILVÂNIA: