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ANO BISSEXTO

Antes de falar de ano bissexto temos que fazer uma pequena referência ao calendário. Para nós, no dia-
a-dia, parece que todo o mundo utiliza o mesmo calendário. Contudo isso não é verdade.
Ao longo da história vários tipos de calendário foram criados. Alguns persistem até hoje, mas outros
foram simplesmente extintos e não são mais utilizados, como os calendários dos antigos egípicios,
sumérios, maias, babilônicos, astecas, etc.
Base para a contagem de tempo
O que o calendário tem a ver com astronomia? Tem tudo a ver. Isso porque para marcar a passagem do
tempo devemos tomar como base um fenômeno físico que ocorra periodicamente da mesma forma em um
mesmo intervalo de tempo. Assim, como o Sol, a Lua e seus ciclos sempre chamaram a atenção do homem
nada mais natural que basear a passagem do tempo nesses ciclos. Consequentemente a maioria dos
calendários (existentes ou que cairam em desuso) baseam-se nos ciclos do Sol e/ou da Lua. Existem apenas
algumas poucas excessões, como o calendário Maia que, além da Lua e do Sol, baseava-se também no
planeta Vênus.
O movimento do Sol no céu por exemplo serviu de base para acarretar na contagem dos dias. Já as fases
da Lua e seu movimento em relação às estrelas (que podem ser percebidos com grande facilidade com um
mínimo de lembrança do passado) originou o conceito de mês e semana. A sombra de objetos (para um
observador atento) indica que o caminho co Sol no céu também muda em ciclos. Ciclos esses que também
podem ser percebidos através do movimento do Sol em relação às demais estrelas, podem ter sido a base
para a criação da idéia de ano (através da percepção das estações do ano).
Dessa maneira, os diversos tipos de calendários existentes na atualidade (algo em torno de 40 tipos)
podem ser classificados em três tipos:
Calendários Solares: baseado no movimento de translação da Terra. Nesses calendários os meses
não possuem conexão com o movimento da Lua. Ex: Calendário Cristão (ou Gregoriano).
Calendários Lunares: baseados no movimento da Lua. Nesses calendários o ano não tem conexão
com o movimento de translação da Terra. Ex: Calendário Islâmico (ou Muçulmano).
Calendários Lunisolares: os anos estão relacionados com o movimento de translação da Terra e os
meses com o movimento de revolução da Lua. Ex: Calendário Hebraico (ou Judaico).
Os calendários
Calendário se origina do latim calendae, que era o primeiro dia do mês romano (dia na qual as contas
eram pagas). A palavra calendae por sua vez originou o termo calendarium, significado de “livro de contas
ou dívidas”, que ocasionou na palavra calendário. A maioria dos calendários, além da observação dos
astros, também tem origens atreladas à religião.
Atualmente os principais calendários existentes são: Calendário Judáico (ou Hebráico), Calendário
Muçulmano (ou Islâmico), Calendário Chinês e Calendário Gregoriano (ou Cristão).
O calendário utilizado no Brasil (e na maioria dos países ocidentais) é chamado de Calendário
Gregoriano e é originado do Calendário Juliano, implementado pelo imperador romano Caio Júlio César
em 46 a.C. A tabela a seguir descreve alguns calendários existentes e outros extintos.
ANO ATUAL
CALENDÁRIO CARACTERÍSTICAS (baseado no Calendário
Gregoriano)
É o mais antigo registro cronológico que se tem registro em toda a história.
Cada ano apresenta 12 lunações (ou 354 dias). Para se igualar ao calendário
solar são acrescentados a cada oito anos 90 dias. Assim, cada ano começa
sempre em uma lua nova entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro.
Calendário Além de contar o tempo em anos ele também considera ciclos. Cada ciclo tem Em 5 de fevereiro de
Chinês doze anos, que recebem nomes dos animais do horóscopo chinês: Boi, Cão, 2019 irá iniciar o ano do
(lunisolar) Carneiro, Cavalo, Coelho, Dragão, Galo, Macaco, Porco, Rato, Serpente e porco de 4717.
Tigre.
Em 1912 a China adotou oficialmente o calendário Gregoriano, mas a
população continua a seguir o sistema tradicional, sendo a comemoração do ano
novo chinês a maior festa popular do país.
Foi estabelecido pelos hebreus na época do Êxodo (há aproximadamente 1447
Calendário a.C.). Em 30 de setembro de
Hebraico, ou Tem como ponto de partida a criação do mundo, segundo a tradição hebraica. 2019 o calendário
Judaico Por ser lunisolar, cada mês é iniciado na lua nova seus meses se alternam entre judaico irá entrar no ano
(lunisolar) doze e treze. de 5780.
É usado pelo povo de Israel há mais de três milênios
Calendário Tem seu marco inicial preciso (ao contrário dos calendários Hebraico e
Islâmico, ou Gregoriano). Segundo a tradição islâmica o calendário inicia-se na fuga do Em 1 de setembro de
Muçulmano, ou profeta Maomé da cidade natal de Meca (chamada de Hégira) para Medina, no 2019 o calendário
Hegírico dia 16 de julho de 622 d.C. judaico irá entrar no ano
Seu ano é composto por 12 meses de 29 ou 30 dias intercalados e possui 354 ou de 1441.
(lunar)
355 dias.
Calendário Foi proposto por Sosígenes (astrônomo de Alexandria) e implementado pelo
O calendário Juliano
Juliano imperador romano Caio Júlio César em 45 a.C.
está sempre 13 dias atrás
Alguns países, como a Grécia e a Rússia, o usaram até o século passado e ainda do Gregoriano.
(solar)
é adotado por alguns cristãos ortodoxos.
Originou-se do Calendário Juliano, foi proposto por Aloysius Lilius (astrônomo
de Nápoles) e promulgado pelo papa Gregório XIII, seguindo instruções co
Concílio de Trento, em fevereiro de 1582.
Seu marco inicial é o nascimento de Jesus Cristo, no ano de 0 a.D.
Calendário Por motivos técnicos (o calendário Juliano estava 10 dias atrasados em relação
Gregoriano ou ao ano tropical quando o Gregoriano foi adotado) 10 dias do ano de 1582 foram É nosso calendário base,
Cristão simplesmente ignorados no mês de outubro, passando de 4 de outubro de 1582 nesse exemplo, 2018.
diretamente para 15 de outubro de 1582. Assim, os dias 5 a 14 de outubro de
(solar)
1582 não constam da historia dos países que adotaram o Calendário Gregoriano
(Portugal, Espanha, Itália e Polônia).
Como o ciclo solar tem aproximadamente 365 dias e 6 horas as horas
“restantes” são “acumuladas” por quatro anos até serem suficientes para um dia
a mais no ano.
Tabela de calendários: indica os principais calendários existentes atualmente com suas principais características.
O ano bissexto
Parte importante do Calendário Gregoriano, o ano bissexto serve para adequar o calendário anual à
translação da Terra ao redor do Sol e aos eventos sazonais relacionados às estações do ano.
O ano bissexto será aquele na qual é acrescentado um dia a mais, ficando com com 366 dias. No
Calendário Gregoriano esse dia é acrescentado no mês de fevereiro que passa a ter 29 dias.
A Terra demora 365,2422 dias solares para dar uma volta completa ao redor do Sol, equanto o ano
calendário possui 365 dias solares. Por isso a cada ano acumulamos um atraso de quase seis horas (0,2422
X 24 = 5,8128 horas, ou 5 h 48 m 46 s, aproximadamente 6 horas) em relação à rotação terrestre. Ao
acúmulo de quatro anos temos um dia (6 horas X 4 = 24 horas, ou um dia) de atraso, que é acrescentado ao
calendário para “recuperar o atraso”. Mas o que acontece com as 0,1872 horas (6 – 5,8128 = 0,1872) que
ficaram faltando para completar as seis horas restantes a cada ano? Essas horas serão corrigidas de tempos
em tempos, conforme regras estabelecidas na implantação do Calendário Gregoriano. As regras são as
seguintes:
1. Todo ano divisível por 4 é bissexto (assim, a cada 4 anos temos um bissexto);
2. Todo ano divisível por 100 não é bissexto (mesmo sendo divisível por quatro);
3. Todo ano divisível por 400 é bissexto (mesmo sendo divisível por 100).
O item 3 prevalece sobre o item 2 que por sua vez prevalece sobre o item 1.
Todas essas regras foram adotadas para amenizar ainda mais aquelas 0,1872 horas acrescentadas para
arredondar o atraso de 5,8128 horas acumuladas durante um ano para 6 horas. Acompanhe os cálculos a
seguir para facilitar a sua compreenção (faremos os cálculos apenas em dias para facilitar):
1º - O ano solar é de 365,2422 e o ano calendário é de 365 dias;
2º - Em um ano o ano calendário fica 0,2422 dias atrasado em relação ao ano solar;
3º - Em quatro anos o ano calendário ficaria 0,9688 dias (0,2422 X 4) atrasado em relação ao ano
solar;
4º - Como 0,9688 é quase 1 acrescenta-se um dia a mais no ano calendário para que esse se aproxime
do ano solar.
5º - Contudo 0,9688 não é 1 e, a cada quatro anos, o ano calendário fica 0,0312 dias mais longo que
o ano solar
Esses 0,0312 dias equivalem às 0,1872 horas citadas anteriormente, pois: 0,1872 horas X 4 anos
= 0,7488 horas, que equivalem a 0,0312 dias (0,7488  24 = 0,0312).
6º - Usando apenas a primeira regra de que a cada quatro anos um é bissexto temos 100 anos bissextos
ao longo de 400 anos (400  4 = 100).
7º - Como a cada quatro anos o ano calendário fica 0,0312 dias mais longo que o ano solar, em 100
anos bissextos o ano calendário ficará 3,12 dias mais longo que o ano solar (0,0312 dias X 100
anos  3,12 dias).
8º - Assim, a cada 400 anos deveríamos retirar três dias do calendário, mas ao invés disso é achou-
se mais fácil não acrescentar esses dias quando o ano, que deveria ser bissexto, for divisível por
100.
Note que ainda assim ficará um pequeno acúmulo de 0,12 dias a cada 400 anos, ou seja, o ano calendário
ainda vai ficar 0,12 dias à frente do ano solar a cada 400 anos. Essa pequena diferença não foi levada em
conta porque seriam necessários mais de 3000 anos, mais precisamente 3.333,333... anos (400  0,12), para
que o ano calendário fique 1 dia mais longo que o ano solar. Essa pequena diferença ainda não foi
computada em nossa contagem de tempo (de pouco mais de 2000 anos) e não temos maneiras de determinar
como as futuras gerações irão lidar com isso. No entanto essa diferença é tão pequena que não apresenta
grandes implicações em nosso dia-a-dia.
Um resumo dos cálculos é apresentado na tabela a seguir.
Atraso () ou adiantamento
Ano solar Ano calendário
Anos Ação () do ano calendário
(em dias) (em dias)
(em dias)
1 365,2422 Nenhuma 365  0,2422
365,2422  4 
4 Adicionado um dia no ano calendário 365  4  1  1461  0,9688
1.460,9688
365,2422  400  Não adição de três dias a mais no ano
400 365  400  97  146.097  0,12
146.096,88 bissexto múltiplo de 100
365,2422  3.333,333  365  3.333,333  (97 
3.333,333 Ainda não proposta  0,96775
1.217.473,87825 8,333)  1.217.474,846
Tabela com resumo e transformações para aproximação do ano calendário ao ano solar: mostra um pequeno resumo dos
cálculos realizados e regras utilizadas para aproximar o ano calendário do ano solar. Para as células da coluna “ano calendário”
serão necessárias explicações adicionais: 1º - na linha de quatro anos o “+ 1” indica a adição de um dia a mais no ano bissexto;
2º - na linha de quatrocentos anos o “+ 97” é porque existiriam 100 anos bissextos em 400 anos, como anos múltiplos de 100
não são considerado bissextos temos que retirar 3 dias, assim 100  3 = 97; 3º - na linha de três mil anos o 8,333 é porque
3.333,333 é 8,333 vezes maior que 400 (3.333,333  400  8,3333325), ou seja foi acrescentada uma taxa de 8,333 vezes mais
dias no calendário devido aos anos bissextos).

A importância dos anos bissextos


O ano bissexto é de extrema importância para manter o calendário sincronizado com os ciclos sazonais
das estações do ano. Se não fosse adotado o ano bissexto as diferenças se acumulariam e, um determinado
dia o calendário iria marcar o início da primavera e já estaríamos no verão. Essa falta de sincronia seria
péssima para muitas áreas como por exemplo a agricultura que poderia não produzir alimento suficiente
para a população.
Só para se ter idéia dos problemas que poderaim ser causados por essa falta de sincronia, se não
adotássemos o ano bissexto as estações acabariam tão descompassadas que, em apenas 700 anos, o natal
no hemisfério sul cairia no inverno e no hemisfério norte no verão (o contrário do que ocorre hoje).
Vale lembrar que aqui foi discutido apenas o ano bissexto do Calendário Gregoriano. Outros calendários
adotam outras regras, ou até mesmo o ano bissexto (mas com diferentes cálculos e normas) para manter o
sincronismo entre calendário anual e fenômenos naturais (como as estações do ano).
Origem do nome
A origem do termo bissexto também está associada ao latim, ao Calendário Juliano e à maneira como os
romanos contavam os dias. Vamos à explicação:
1º - No antigo calendário romano os dias recebiam nomes com base no ciclo lunar e o mês possuia três
partes separados por três dias fixos. São eles: Calendas (Lua Nova), Nonas (Lua Qaurto Crescente)
e Idos (Lua Cheia).
2º - Os dias eram contados em números ordinais (que indicam um número de ordem como primeiro,
segundo, etc), mas de maneira retrógrada (como uma contagem regressiva) em relação ao próximo
dia fixo. Algo semelhante quando falamos que faltam tantos minutos para uma determinada hora,
por exemplo: “são dez para meio dia”.
3º - Assim o dia três de fevereiro, por exemplo, era chamado de “antediem III Nonas Februarii”, ou
seja, três dias antes da Nona de Fevereiro.
4º - O imperador romano Caio Júlio César escolheu o mês de fevereiro para introduzir um dia a mais no
ano bissexto e, ao fazê-lo, preferiu duplicar o dia 24 de fevereiro (chamado de “antediem sextum
Calendas Martii”, em português, o sexto dia antes das Calendas de Março) criando o “antediem bis-
sextum Calendas Martii”, ou seja, o segundo sexto dia antes das Calendas de Março. Surge, assim,
o nome bissexto.
A decisão de adicionar um dia a mais em fevereiro se deve ao fato de ser o mês mais curto do calendário
romano e também por ser o último mês do ano romano. Além de ser considerado um mês negativo. Assim,
a decisão de duplicar um dia do mês de fevereiro se deu também por motivos supersticiosos.

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