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INTRODUÇÃO
A todo momento fazemos referência a algum sistema de contagem do tempo sem nos darmos
conta das dificuldades que surgiram para sua padronização e sua adequação com os fenômenos
sazonais.
Mas qual teria sido a origem da designação dos nossos dias, como os conhecemos hoje?
Muitas perguntas surgem.
Por que o ano tem 12 meses e a semana sete dias?
Por que o ano começa em 1o de janeiro?
Por que alguns anos são bissextos e outros não?
Por que os meses e dias da semana têm esses nomes?
A relação entre o calendário e a Astronomia é direta. Cedo, o homem sentiu necessidade de
dividir o tempo para comemorar suas festas religiosas e, principalmente, para saber a época de suas
atividades agrícolas e comerciais.
Os primeiros povos tinham dois sistemas básicos para contagem de longos períodos de tempo
que eram baseados nos movimentos do Sol e da Lua. No caso do Sol, geralmente toma-se como
referência o ano trópico, cujo intervalo de tempo entre dois solstícios de verão consecutivos, hoje
sabemos, é 365,2422 dias. Já os calendários lunares são baseados no período de 12 lunações, ou seja,
354,36708 dias. Uma lunação é o intervalo entre duas luas novas consecutivas e dura 29,53059 dias.
Por algum tempo utilizou-se exclusivamente o calendário lunar. Como para ocorrerem 12
lunações são necessários 354 dias, faltavam, ainda, cerca de dez dias para o Sol ocupar a mesma
posição na eclíptica. Conseqüentemente, as estações do ano iriam ocorrer, pelo calendário lunar, a cada
ano, cerca de dez dias mais cedo. Imagine o transtorno que isso traria aos povos que dependiam
diretamente dos fenômenos sazonais (plantio, caça, pesca, etc.)!
Ainda assim, alguns povos utilizam até hoje o calendário exclusivamente lunar, como os árabes.
Já os judeus utilizam um calendário lunissolar. O mundo ocidental usa o calendário solar, embora ainda

guarde alguns resquícios do antigo calendário lunar, como os 12 meses, originários das 12 lunações.

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DESCONSTRUINDO O CALENDÁRIO
Que dia é hoje? Digamos que fosse o dia 5 de março do ano 2001. Ou talvez o dia 23 de
fevereiro do mesmo ano. Ou, quem sabe, o oitavo dia da segunda década do mês dos ventos, Ventôse,
do ano 209. E por que não dizer que é o dia 13 de Adar de 5761? Ou, ainda, 12 de Dulkaiadath de
1421? Ou 12.19.8.0.11 11 Chuen 14 Kayab? Ou, talvez, ShengXiao: si?
Mas que dia é hoje, afinal? Todas as respostas acima estão corretas, baseando-se em
calendários distintos. O dia de hoje, sob o calendário gregoriano, juliano, revolucionário francês,
israelita, muçulmano, maia ou chinês assume diferentes nomenclaturas. Mas continua sendo o mesmo
dia: hoje.
O ordenamento que impomos aos dias, com números, nomes e meses, é algo totalmente
arbitrário e visa um único objetivo: a previsibilidade de certos fenômenos. O calendário nasce no
momento em que o homem primitivo precisa prever certos acontecimentos naturais, quer seja a
migração dos animais, quer seja a época do plantio ou a cheia de um rio.
Sob esta ótica, não há um único calendário certo, o calendário. Há vários calendários úteis,
alguns mais acurados do que outros, mas todos eles refletindo, cada um ao seu modo, um ou outro ciclo
da Natureza.
O nosso calendário ocidental, que usamos cotidianamente e que nos parece o único correto —
todos os outros sendo apenas uma mera curiosidade para impressionar os amigos em ocasiões festivas
—, respeita o ciclo solar, baseando-se no tempo médio que a Terra demora para completar uma volta ao
redor de sua estrela central, o Sol. A este calendário chamamos gregoriano.
Mas o ciclo solar requer uma série de observações contínuas ao longo de anos para ser
percebido. Não basta ter ciência de que à medida que os dias passam — e esta experiência a maioria
das pessoas, mesmo nos dias de hoje, tem — o Sol nasce ou se põe em direções diferentes, oscilando ao
redor do ponto cardeal leste (ou oeste, no poente), para se construir um calendário. É preciso saber
detalhes, quando o Sol está no leste, quando está em seu afastamento máximo, etc., e esses detalhes só
podem ser computados após cuidadosas observações.
Não foi o ciclo solar o que primeiro chamou a atenção dos nossos antepassados, mesmo porque
os homens primitivos não tinham a menor idéia de que a Terra era um planeta a girar ao redor do Sol
(um conceito que torna o ciclo solar muito importante, relacionando-o à nossa órbita). Para eles, e por
muito tempo, a Terra era imóvel, o centro de todas as coisas celestes.

Marte

Venus Mercúrio Sol Mercúrio


Marte
Lua
Lua

Saturno Terra Saturno Terra


Sol
Júpiter Júpiter

Sistema geocêntrico Sistema heliocêntrico

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Os primeiros organizadores do tempo contentaram-se em contar os dias. Os primeiros
calendários nasceram, há uns 15.000 anos, como marcações toscas entalhadas em pedras, ossos ou
cascas de árvores. A cada dia correspondia um novo entalhe, que vinha fazer parte de uma sucessão de
marcas que não apresentava nenhum poder de predição; apenas contava os dias.
Este calendário só poderia fornecer informações a respeito das estações do ano, por exemplo, se
seus construtores se ocupassem da tediosa tarefa de contar-lhe os dias e agrupá-los em conjuntos
grandes de mais ou menos 365. Isso eles não fizeram, e é possível que nem possuíssem ferramentas
numéricas para realizar tal feito.
Frustrados com os calendários diários (ou primitivos), os medidores do tempo se voltaram para
a Lua. O satélite natural da Terra mostrava-se de diferentes formas ao longo de um ciclo de cerca de 29
dias, repetindo-as incessantemente. Tomando a Lua como ponteiro, surgiu o calendário lunar.
O calendário lunar inaugura uma nova unidade de medida, o mês. Tínhamos o dia, que é o
tempo que o Sol leva entre um nascente e outro, e o ano, que é o tempo que demora para as estações se
repetirem (ainda que fosse muito imprecisa a duração de um ano naquela época). O mês vem atrelado à
Lua, sendo o tempo que separa duas fases idênticas (duas Luas novas, por exemplo).
Independentemente disto, há uns 6.000 anos, os sumérios — predecessores dos babilônicos na
região que é hoje o Iraque — inauguravam um novo jeito de fazer contas: a aritmética posicional. Este
conceito nada mais é do que a aritmética que conhecemos hoje, segundo a qual, dependendo da posição
que o algarismo ocupa em um número, este algarismo pode representar unidades, dezenas, centenas e
assim por diante. Para nós, cada alteração de posição equivale a uma multiplicação por dez. A base da
aritmética suméria era o doze.
O povo sumério conseguia perceber que entre um início de inverno e outro aconteciam doze
luas cheias. Decidiram dividir o ano em doze meses, e a faixa do céu por onde passa o Sol (o Zodíaco)
em doze constelações.
Alheios ao movimento do Sol, os calendários lunares também adotaram um ano com doze
meses. Mas doze lunações resultam em 354 (ou 355) dias, enquanto o Sol demora 365 (ou 366) dias
para percorrer todas as constelações. A cada ano de um calendário lunar, as estações acontecem em
dias diferentes, percorrendo todos os meses durante um ciclo de 19 anos.
Estes calendários enalteciam seus meses através de festivais, cada Lua nova correspondendo a
uma celebração diferente. Estas celebrações, ao longo dos tempos, foram conferindo nomes a seus
respectivos meses.
O próximo passo na construção de um calendário tentou conter o início das estações em
determinados meses. Surgiu o calendário lunissolar. Neste calendário, cada nova lunação inaugura um
mês, que dura exatamente o suficiente para que a próxima fase idêntica inaugure o próximo mês. De
tempos em tempos, um mês extra é adicionado ao ano lunar para que as estações não fiquem à deriva, a
cada ano começando, possivelmente, em meses diferentes.
A solução mais simples, no entanto, é o calendário solar. A unidade básica deste calendário é o
ano solar, o tempo que o Sol leva para percorrer todas as constelações do Zodíaco. Este ano é
arbitrariamente dividido em doze meses, que não mais estão atrelados às lunações. Um ano solar típico
dura 365 dias.
Mas a Terra não dura exatamente 365 dias para dar uma volta ao redor do Sol. Talvez esta seja
a maior das dificuldades em se criar um calendário: as unidades básicas (mês e ano) não contêm
múltiplos inteiros de dias. Um ano solar que contenha sempre 365 dias pouco a pouco vai apresentar
defasagens em relação aos eventos naturais. A cada quatro anos, cerca de um dia é perdido.
Assim, adaptando uma técnica herdada dos meses extras dos calendários lunissolares, optou-se
por criar um dia extra no ano solar, a cada quatro anos. Os egípcios faziam isso e os romanos, sob a
orientação de Júlio César (que encomendou os cálculos ao astrônomo grego Sosígenes), passaram a
adotar este esquema. Surgia, assim, o calendário juliano.
No calendário juliano, um ano tem em média 365,25 dias. Ainda assim, este não é um número
correto. Em mais de 1.600 anos de uso, este calendário apresentou uma defasagem de 10 dias em
relação aos movimentos celestes. Este erro foi corrigido pela mais recente reforma do calendário: a do
papa Gregório XIII. Assim nasceu o calendário gregoriano.
Mas um calendário, já falamos mas é sempre bom relembrar, nada mais é do que um modo de
organizar o tempo. Seu propósito é única e exclusivamente o benefício da humanidade, pelo menos no

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que se refere às suas predições (é bastante útil saber, por exemplo, quando estamos na época das
chuvas, ou do frio ou da estiagem).
Astronomicamente falando, um calendário é um jeito prático de acompanharmos o movimento
de certos objetos celestes (ou, mais correto, o movimento da Terra e de outros objetos celestes). Assim,
a pergunta inicial (“que dia é hoje?”) pode ser substituída pela aparentemente mais complicada (apesar
de ser equivalente) “onde está a Terra, em seu movimento pelo espaço?”.
A Terra, girando ao redor de si, define o dia. Girando ao redor do Sol, define o ano. E o
movimento da Lua ao redor do nosso planeta nos fornece a noção de mês. O calendário como o
conhecemos, um marcador de tempo absoluto, torna-se um mero artifício prático.
A importância deste artifício pode ser apreciada uma vez que tenhamos claro que todas estas
unidades de tempo — dia, mês e ano — não são múltiplas entre si. Um ano solar tem, exatamente,
365,242199 dias. Um mês lunar, 29,530589 dias. E o ano solar compreende 12,368267 lunações. Este
problema, que é a origem de todos os obstáculos na construção de um calendário civil, é geralmente
chamado de incomensurabilidade entre o dia, o mês e o ano.
Construir um calendário, vimos, não é uma tarefa trivial. Nos dias de hoje, porém, com o
conhecimento preciso que temos sobre os movimentos da Terra e da Lua, este trabalho é bastante mais
simples do que era para os nossos antepassados. No presente, talvez, mais difícil do que construir um
calendário seja desconstruí-lo, tão acostumados que estamos com o “nosso” calendário. E, se
quisermos estudar os vários calendários, suas qualidades e seus defeitos, é justamente isso que
precisamos fazer; precisamos desconstruir o calendário.
Afinal… que dia é hoje?

CRONOLOGIA

Cronologia, do grego chronos (tempo) e logos (estudo), significa etimologicamente a ciência


que trata da medida e das divisões do tempo. Seu uso prático, mais conhecido, é o calendário.
A palavra calendário (em latim calonda-num ou kalendanium) tem origem no vocábulo
kalendie, que designava o primeiro dia de cada mês em que os pontífices romanos chamavam o povo ao
fórum para lhe comunicar os dias feriados, os dias fastos e nefastos, a duração dos meses e todos os
assuntos relativos ao tempo.
Denominavam-se também kalendas, em direito canônico, as reuniões dos clérigos, no primeiro
dia de cada mês, convocados pelos bispos para fixação dos exercícios religiosos.
Os calendários se constituem em um conjunto de regras para determinação do número exato de
dias do ano civil, procurando manter uma concordância com o número, não exato, de dias: 1) do ano
trópico, de maneira a estabelecer, tanto quanto possível, que as mesmas datas correspondam às mesmas
estações do ano; 2) do ano lunar (12 lunações).
Desta fixação derivam as dificuldades dos calendários e a diversidade dos seus tipos. Podemos,
contudo, considerá-los em três grupos principais: calendários lunares, lunissolares e solares.
Os calendários lunares respeitam inicialmente o curso da Lua. O começo do ano (e/ou cada
mês) corresponde à “Lua Nova”. O ano lunar (12 lunações) dura 354 dias e 8 horas, aproximadamente.
O calendário muçulmano é lunar.
Calendários lunissolares são os que empregam o ano médio de 365 dias e 1/4, mas regulam os
meses pelo curso da Lua, fazendo, tanto quanto possível, começar e acabar o ano com uma lunação.
Nestes calendários, para que o início do ano não fique defasado do ciclo solar, é necessário, de tempos
em tempos, se acrescentar um mês suplementar. O calendário judaico é lunissolar.
Calendários solares são aqueles que, pela intercalação de um dia de quatro em quatro anos,
empregam um ano médio de 365 dias e 1/4, fazendo assim, com mais ou menos precisão, concordar o
ano trópico com o ano civil, de maneira a recaírem em todos os anos as estações nas mesmas datas (se
formos rigorosos, com no máximo um dia de diferença).
O calendário que a maioria dos povos usa é o solar, adotado pelo imperador romano Júlio César
e reformado pelo papa Gregório XIII.

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Existem, ainda, os calendários vagos, que são todos aqueles, quer solares, quer lunares, que,
compondo o ano de qualquer número de dias, mas sempre o mesmo, comportam divisões que
percorrem sucessivamente todas as estações do ano e não podem se encontrar, no seu ponto de partida,
senão depois de longos períodos. O calendário dos egípcios, por exemplo, foi calculado desta forma.
Como tipos de calendários, resumiremos algumas noções sobre os calendários egípcio, judaico,
muçulmano, o da Revolução Francesa, o maia e o chinês. Mas, antes, falaremos dos calendários
romanos, que serviram de base ao sistema que hoje usamos.

A ORIGEM DO NOSSO CALENDÁRIO


CALENDÁRIO DE RÔMULO

Este calendário, criado por Rômulo (753-717a.C.), tinha 304 dias divididos em dez meses, cada
mês variando entre 16 e 36 dias. Posteriormente, o número de dias de cada mês teria 30 ou 31 dias,
compreendendo dez meses lunares, sendo que o ano deveria sempre se iniciar no equinócio da
primavera. Ora, como o ano trópico tem 365,2422 dias, eles deveriam ter algum sistema para corrigir o
déficit de 61 dias, mas não sabemos qual era esse processo. Mesmo que houvesse algum método
engenhoso, sabe-se que este calendário teve pouca duração, pois os meses flutuavam pelas estações do
ano.
Os nomes dos meses foram provavelmente o único legado deste calendário:

1 o Martius (31 dias) 6o Sextilis (30 dias)


2o Aprilis (30 dias) 7o September (31 dias)
3o Maius (31 dias) 8o October (31 dias)
4o Junius (30 dias) 9o November (31 dias)
5o Quintilis (31 dias) 10o December (30 dias)

CALENDÁRIO DE NUMA POMPÍLIO

Na época do imperador Numa Pompílio (717-673a.C.), sucessor de Rômulo, foram feitas


algumas modificações no calendário. Os romanos daquela época eram extremamente supersticiosos e
consideravam números pares como fatídicos. Então aboliram os meses de 30 dias, que passaram a ter 31
ou 29 dias. Além disso, aumentou-se para 12 o número de meses, sendo introduzidos Januarius (29
dias), em homenagem a Jano, deus com duas caras, e Februarius (28 dias), deus dos infernos e das
purificações. Esses meses eram, respectivamente, o décimo primeiro e o décimo segundo do ano,
permanecendo o início em Martius. Com os 355 dias desse calendário, ainda havia uma diferença de
10,25 dias para o calendário solar. Para corrigir isso, era acrescentado, periodicamente, no final do ano,
um mês denominado intercalar, chamado Mercedonius (segundo alguns deriva de merces - renda,
imposto, porque nessa época eram recolhidos os impostos).
A periodicidade obedecia a um ciclo de 24 anos chamado pompiliano, que era subdividido em
períodos de quatro anos. Os anos que tinham numeração ímpar neste ciclo e o último (o 24) tinham 12
meses de 355 dias; os restantes tinham 13 meses (com o intercalar que poderia ter 22 ou 23 dias).
Mercedonius tinha 22 dias quando se intercalava no 2o, 6o, 10o, 18o, 20o e 22o ano do ciclo pompiliano, e
23 dias quando no 4o, 8o, 12o e 16o ano do ciclo, contendo, portanto, Februarius, 28 dias nos anos
ordinários, e 50 ou 51 dias nos anos com intercalação. Isto porque o mês intercalar não vinha após
Februarius, mas no meio deste. Depois de 23 de Februarius contava-se 1, 2, 3...22 ou 23 Mercedonius,
e retornava-se para o 24o dia de Februarius.
O ano de Numa Pompílio tinha, portanto, 12 meses com 355 dias e quando havia a intercalação,
alternadamente 377 ou 378, ou seja, num período de quatro anos, tínhamos: 355, 377, 355 e 378 dias,
dando uma média de 366,24 dias.

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Os dois últimos períodos de quatro anos do ciclo de 24 anos tinham, respectivamente, 371 e 372
dias, em vez de 377 e 378, eliminando 12 dias em 24 anos, o que provocou um ano ligeiramente maior
que 365 dias.
Com isso conseguiu-se um calendário bastante razoável, embora um pouco complicado para o
povo romano.
A intercalação dos meses e o controle dos números de dias eram atributos dos pontífices. É
importante notar que estes acabaram tendo em suas mãos o poder sobre a época da investidura dos
cônsules. Assim os responsáveis pela observância das regras da intercalação adiavam ou antecipavam a
introdução do mês Mercedonius, primeiramente pela conveniência de prolongarem as magistraturas ou
para favorecimento de amigos. Desse modo acabaram perdendo o controle sobre o calendário, e em
pouco tempo o caos havia se formado.
A duração dos meses no calendário de Numa Pompílio ficou assim:

Mês Período
01 02 03 04
o
1 Martius 31 31 31 31
2o Aprilis 29 29 29 29
3o Maius 31 31 31 31
4o Junius 29 29 29 29
5o Quintilis 31 31 31 31
6o Sextilis 29 29 29 29
7o September 29 29 29 29
8o October 31 31 31 31
9o November 29 29 29 29
10o December 29 29 29 29
11o Januarius 29 29 29 29
12o Februarius 29 23 28 24
13o Mercedonius --- 22 --- 23
Resto de Februarius --- 05 --- 04
Total de dias 355 377* 355 378*

* Nos dois últimos períodos de quatro anos num ciclo de 24 anos, os anos pares tinham sua
duração reduzida para 371 e 372 dias, respectivamente.

CALENDÁRIO JULIANO

O imperador Júlio César (100-44a.C.) tomou para si a tarefa de reordenar o calendário, chamando
para isso o astrônomo Sosígenes.
Dentre as modificações introduzidas temos:

1- O ano se iniciaria em Januarius, e não mais em Martius. Para isso ele fez com que calendas
januaris (1o de janeiro) coincidisse com a primeira Lua nova depois do solstício de inverno, que
naquela época se dava em antediem VIII calendas januarii (25/12). Júlio César atendeu, assim, a
antigas crenças dos calendários solar e lunar.

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2- O ano teria 365 dias, sendo que de quatro em quatro anos haveria um dia excedente em
Februarius: o bis VI antediem calendas martii, onde antes se intercalava o Mercedonius.

O ano anterior ao uso do calendário juliano é conhecido como ano da confusão, pois foram feitas
várias modificações nesse ano para preparar o calendário para a reforma; houve 15 meses com 445 dias.
Júlio César, após ser assassinado em 44a.C., foi homenageado e, para isso, lhe foi reservado o
mês Julius, antigo Quintilis.
Os pontífices encarregados de regular o calendário e de acompanhar as observâncias das leis
erraram nas interpretações das regras do calendário e estavam tornando bissextos os anos em intervalos
de três anos, em vez de quatro em quatro. Com isso, nos 37 primeiros anos foram considerados 12 anos
bissextos: 42, 39, 36, 33, 30, 27, 24, 21, 18, 15, 12 e 9a.C., quando deveriam ser nove: 41, 37, 33, 29,
25, 21, 17, 13 e 9, produzindo uma diferença de três dias.
César Augusto (44a.C.-37d.C.) decretou que não se fizessem bissextos os três anos seguintes que
deveriam sê-los, ou seja, 5 e 1a.C., assim como 4d.C.
Graças a essas contribuições, o imperador foi homenageado com seu nome no lugar de Sextilis,
mês em que nasceu, que passou a ter 31 dias, o mesmo número de Julius, visto que sendo imperador,
como Júlio César, ambos deveriam merecer a mesma homenagem. Com o aumento no número de dias
de Augustus, o prejudicado foi o mês de Februarius, que passou a ter 28 ou 29 dias.

CALENDAS, NONAS E IDOS

Na Roma antiga os meses eram divididos em três partes, denominadas: calendas, nonas e idos.
Estas eram ainda contadas de trás para frente, e assim 2 de janeiro era antediem IV nonas januarii; 10
de março era antediem VI idus martii; e o primeiro dia do mês era simplesmente Kalendae, daí o nome
calendário.
Quando o calendário romano era exclusivamente lunar, o primeiro dia das calendas (e dos meses)
fazia-se coincidir com a Lua nova, as nonas na Lua crescente e os idos na Lua cheia. Depois
abandonou-se o sistema de contagem baseado nas fases da Lua e os dias passaram a ser
predeterminados. As calendas passaram a corresponder ao primeiro dia do mês, já as nonas e os idos
aos dias 7 e 15 nos meses de março, maio, julho e outubro, e aos dias 5 e 13 nos outros meses.

Calendário Juliano depois de


Calendário Juliano/dias
Augustus/dias
1o Januarius 31 lo Januarius 31

2o Februarius 29 ou 30 2o Februarius 28 ou 29

3o Martius 31 3o Martius 31
4o Aprilis 30 4o Aprilis 30
5o Maius 31 5o Maius 31
6o Junius 30 6o Junius 30
7o Quintilis 31 7o Julius 31
8o Sextilis 30 8o Augustus 31
9o September 30 9o September 30
10o October 31 10o October 31
11o November 30 11o November 30
12o December 31 12o December 31

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CALENDÁRIO GREGORIANO

Mesmo após a reforma juliana, havia algumas incorreções que só se tornaram apreciáveis depois
de muitos séculos.
Com a reforma juliana passou-se a considerar o ano com 365 dias, havendo a intercalação de
quatro em quatro anos de um ano com 366 dias, o que tornava na média a duração do ano com 365,25
dias. Mas como o ano trópico tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 47,5 segundos, restando, portanto,
uma diferença de 11 minutos e 12,5 segundos, a cada quatro anos aumentava-se 24 horas, quando na
verdade deveria aumentar-se 23 horas, 15 minutos e 10 segundos.
Com essa diferença temos, a cada 128,5 anos, um atraso de um dia nas datas dos equinócios e
solstícios.
Em 325d.C., quando o Concílio de Nicea se reuniu para definir a época da Páscoa, entre outros
assuntos, já se havia percebido que o equinócio da primavera, fixado por Júlio César para 25 de março,
estava ocorrendo já em 21 de março. Os bispos então refixaram o equinócio da primavera para 21 de
março nos anos comuns, e 20 de março nos anos bissextos. Mas isso apenas atualizava o equinócio, não
corrigindo ainda a duração do ano.
Foi somente em 1582 que o papa Gregório XIII (1512-1586) efetuou a reforma no calendário,
quando já havia um atraso de 10 dias da data do equinócio (estava ocorrendo em 11 de março, em vez
de 21 de março).
As modificações introduzidas com a reforma gregoriana foram as seguintes:

1- Supressão de dez dias do calendário. O dia seguinte à quinta-feira, 4 de outubro de 1582,


passou a ser sexta-feira, 15 de outubro de 1582, para que o equinócio voltasse a concordar com a
deliberação do Concílio de Nicea.

2- Ausência de anos bissextos durante três anos em cada período de 400 anos. O primeiro destes
ciclos começou em 1600, que foi bissexto, mas 1700, 1800 e 1900 não foram bissextos, já 2000 foi.
Desse modo, após três anos seculares comuns, haverá um bissexto. Assim só serão bissextos os anos
seculares divisíveis por 400. No calendário juliano, todos os anos seculares eram bissextos.

3- Contagem dos dias através da designação dos números cardinais 1, 2, 3, ... pela ordem e
seguidamente (e não mais por calendas, nonas e idos).

Há ainda uma diferença residual de 2 horas, 43 minutos e 2 segundos a cada 400 anos, o que
produz um acréscimo de um dia a cada 3.532 anos. Isso deverá tornar não bissexto o ano 4000, embora
esta questão não tenha sido tratada pela reforma gregoriana.
Algumas publicações usam a expressão velho estilo e novo estilo, referindo-se a ano juliano ou
gregoriano, respectivamente.
A reforma gregoriana não foi aceita de imediato. Vários povos se opuseram a ela, principalmente
os não católicos.
Os católicos, como Portugal e Espanha, aceitaram de imediato, em outubro de 1582; a França, em
dezembro de l582; já a Alemanha e a Áustria, em 1584, Hungria em 1587, Inglaterra em 1752, Suécia
em 1753 e a Rússia em 1923. Esta última teve que eliminar 13 dias do seu calendário.

A Era Cristã

Os romanos começavam a contagem dos anos a partir da fundação de Roma, em 753a.C. (era
romana). Este sistema foi usado também por povos conquistados pelos romanos por muito tempo,
embora existissem outros como a era Nabonassar ou a era César. No século VId.C., um monge grego
chamado Dionísio propôs que se iniciasse a partir do nascimento de Cristo. Para tanto, ele fez cálculos
para saber em que ano Cristo teria nascido, o que era uma tarefa muito difícil. Ao final, sugeriu que se
começasse a era cristã a partir do ano 754 da fundação de Roma. Passados 1.200 anos de Dionísio, os

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cronometristas descobriram que ele havia cometido um erro de quatro anos para menos, mas o sistema
não foi alterado. Cristo nasceu provavelmente no ano 4a.C. da era cristã.

A Semana

São necessários sete dias, aproximadamente, para a Lua ir de uma fase a outra, e parece que esse
foi o motivo para a semana ter sete dias. Esta divisão era, ainda na Antigüidade, quase universal. Na
Roma antiga era chamada Septmana - sete manhãs. Os babilônios talvez tenham sido os primeiros a
utilizá-la. Eles deram como nomes desses dias os mesmos dos planetas que conheciam (os cinco
planetas visíveis a olho nu que conhecemos hoje, acrescidos do Sol e da Lua). Esta prática, muito
antiga, já era usada pelos babilônios. Foi adotada pelos romanos e outros povos europeus influenciados
por estes.

Espanhol
Latim Francês* Saxão** Inglês Alemão
*
Dimanch
Solis dies Domingo Sun's day Sunday Sonntag
e
Lunae
Lúnes Lundi Moon's day Monday Montag
dies
Martis
Martes Mardi Tiw's day Tuesday Dienstag
dies
Mercurie Wonden's
Miercoles Mercredi Wednesday Mittwoch
dies day
Jovis dies Juéves Jeudi Thor's day Thursday Donnerstag
Veneris
Viernes Vendredi Friga's day Friday Freitag
dies
Saturni Saterne's
Sábado Samedi Saturday Samstag
dies day

* Em espanhol e em francês foi alterada a nomenclatura do domingo e do sábado; a justificativa é


a mesma da língua portuguesa (ver adiante).

** Na língua saxã, Tiw, Wonden, Thor e Friga representam os deuses correspondentes na


mitologia nórdica a Marte, Mercúrio, Júpiter e Vênus. Esta língua influenciou as línguas inglesa e
alemã.

Como vemos, os dias da semana estão ordenados da seguinte maneira: dia do Sol, dia da Lua, dia
de Marte, dia de Mercúrio, dia de Júpiter, dia de Vênus e dia de Saturno. Notamos que aparentemente
esta ordem não tem nenhum sentido.
No sistema aristotélico, a ordem de afastamento dos “planetas” da Terra era: Lua, Mercúrio,
Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Esta ordem foi corretamente deduzida pela velocidade destes
astros na esfera celeste.
Esta origem atribui-se ao hábito, na Antigüidade, de dedicar-se cada hora e cada dia a um planeta
que influenciaria esta hora ou este dia. Os planetas eram ordenados do mais afastado para o mais
próximo; o planeta que influenciaria a primeira hora do dia era também o planeta daquele dia.
Por exemplo: o dia em que sua primeira hora fosse atribuída ao Sol era obviamente dia do Sol, a
segunda hora, de Vênus, a terceira, de Mercúrio, a quarta, da Lua, a quinta, de Saturno, a sexta, de

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Júpiter, e a sétima, de Marte. Aí se repetia o ciclo: a oitava do Sol, e assim por diante. Para saber qual
seria a primeira hora (e as seguintes) do dia, e conseqüentemente o “planeta do dia”, usava-se a estrela
dos magos, ou heptacorda, uma figura cabalística.

A língua portuguesa não dividiu os dias segundo o nome dos planetas, porque no começo do
Cristianismo a Páscoa durava uma semana, sendo o trabalho reduzido ao mínimo possível e o tempo
destinado exclusivamente a orações. Esses dias eram os feriaes, ou seja, feriados. Para enumerar os
feriaes, começou-se pelo sábado, como os hebreus faziam. O dia seguinte ao sábado seria o feria-prima
(domingo), depois seria o segunda-feria (segunda-feira), e assim por diante. O sábado origina-se de
Shabbath, dia do descanso para os hebreus.

O imperador Flávio Constantino (280-337d.C.), após se converter ao Cristianismo, substituiu a


denominação de Dies Solis ou Feria-prima para Dominica (dia do Senhor), que por sua vez foi adotada
por povos latinos.

Latim litúrgico Português

Dies Dominica Domingo

Feria Secunda Segunda-feira

Feria Tertia Terça-feira

Feria Quarta Quarta-feira

Feria Quinta Quinta-feira

Feria Sexta Sexta-feira

Sabbatum Sábado

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OUTROS CALENDÁRIOS

CALENDÁRIO EGÍPCIO

Os egípcios tinham primitivamente um calendário lunar, a que renunciaram pelas exigências


das atividades agrícolas.
As inundações periódicas do Nilo obrigaram os egípcios a considerar o ano dividido em três
estações de quatro meses cada uma: a estação das inundações, a das semeaduras e a das colheitas.
Esta divisão lhes impunha a contagem rigorosa do tempo. Renunciando ao seu antigo
calendário lunar, apoderaram-se do dos caldeus, adotando um ano de 12 meses com 30 dias cada.
Diferindo 5 1/4 dias do ano trópico, se o princípio de uma estação tinha lugar num ano em certo
dia, no ano seguinte, tinha lugar 5 3/4 dias mais tarde. No fim de 6 anos, o atraso era de mais de um
mês (6 x 5,25 = 31,5), e no fim de 24 anos, de uma estação inteira de 4 meses (24 x 5,25 = 126).
Mais tarde, a este ano de 360 dias seguiam-se 5 dias complementares ou epagômenos, ficando
assim o ano elevado a 365 dias. Mas diferindo ainda do ano trópico 3/4 de dia para menos, ou 1 dia em
cada período de 4 anos, era ainda o ano vago, isto é, um ano em desacordo, embora em menor grau,
entre as datas e as estações. O calendário civil só viria a ter a mesma correspondência com as estações
do ano após 1460 anos (365 x 4).
Quando isto ocorria, celebrava-se com grandiosas festas, por ser este fato considerado uma
dádiva dos deuses. Disto foi emblema a Fênix, ave mitológica que elevava o vôo ao nascer, para só
voltar passados 1460 anos ao templo de Heliópolis (o Sol), a fim de morrer e renascer em seguida, das
próprias cinzas.
Ao período de 1460 anos vagos deu-se a designação de sotíaco, do nome de Sotis, que nós
conhecemos como Sirius, a brilhante estrela do Cão Maior. Quando se dava o nascer helíaco dessa
estrela, era o anúncio, para os egípcios, da cheia do Nilo.

CALENDÁRIO JUDAICO

A história do calendário judaico pode ser dividida em três períodos, a saber: o Bíblico, o
Talmúdico e o Post-Talmúdico. O primeiro fundava-se na observação do Sol e da Lua; o segundo, na
observação do cálculo; e o terceiro baseava-se somente no cálculo astronômico.
Período Bíblico — Antes da saída dos israelitas do Egito, em 1942a.C., o ano judaico era,
como o dos egípcios, de 360 dias distribuídos por 12 meses de 30 dias.
Moisés, tornando o ano lunar, reduziu-o a 354 dias distribuídos também por 12 meses, sendo 6
de 29 dias (meses cavos), e os outros 6 de 30 (meses plenos), dispostos alternadamente, sendo o
primeiro na primavera.
O começo dos meses era marcado pelo aparecimento da Lua Nova.
O Torá (lei de Moisés) e a maior parte dos livros bíblicos não indicam os nomes dos meses, que
parecem ter sido designados pelos seus números de ordem — 1. mês, 2. mês, 3. mês, etc. No entanto,
alguns meses têm, nestes livros, nomes especiais: Avivi, Ziv, Bul e Eitan.
Durante os 70 anos do cativeiro da Babilônia, que começou em 606a.C., os israelitas tomaram
para o seu calendário os nomes dos meses do calendário babilônico, os quais se têm conservado até
hoje, e são, pela sua ordem, no calendário religioso: 1. Nissan, 2. Lyar, 3. Sivan, 4. Tamuz, 5. Av, 6.
Elul, 7. Tishri, 8. Heshvan, 9. Kislev, 10. Tevet, 11. Shevat e 12. Adar.
Os anos babilônicos eram lunissolares, ou seja, o ano de 12 meses contando 354 dias era
adaptado ao ano solar de 365, intercalando-se, conforme era preciso, um décimo terceiro mês. Em 11
anos havia 7 de 12 meses, e 4 de 13.
Na Bíblia, não há memória de nenhum mês intercalar e não se sabe se esta correção foi aplicada
no calendário judaico, em tempos antigos, pela adição de um mês em cada três anos, se pela adição de
10 ou 11 dias no fim de cada ano lunar.

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Por ocasião do Segundo Templo, era o Sinédrio, e depois da Destruição (69d.C.) o patriarca
israelita, quem decretava, em sessão pública, a Neomênia ou Lua Nova.
Para se realizar essa cerimônia, era necessário que duas testemunhas de confiança declarassem
ter visto o fino crescente após a Lua Nova. A neomênia era proclamada com solenidade e anunciada
não só na Judéia, mas também na Babilônia. Transmitia-se esta notícia por meio de fogueiras repetidas
de estação para estação, o que era fácil numa terra montanhosa como a Palestina.
Quando chegava o dia duvidoso, o trigésimo dia do mês, que tanto podia ser o último do mês
como o primeiro do mês seguinte, as comunidades mais próximas esperavam os sinais e repetiam-nos,
logo que os viam, para as mais afastadas. Desta maneira, os judeus estabelecidos na região do Eufrates
tinham conhecimento no mesmo dia da Neomênia fixada, e podiam celebrar as festas na mesma data
que a metrópole.
Período Talmúdico — Sob o patriarcado de Rabi Judá I (163-193d.C.), os samaritanos
procuravam enganar os israelitas, transmitindo-lhes falsos sinais para que caíssem em erro a respeito do
dia da Lua Nova. Então Rabi Judá determinou a abolição dos sinais luminosos e enviavam-se
mensageiros nos meses das festas e no mês de Av, para anunciarem a Lua Nova.
Por este tempo, a fixação da Lua Nova por testemunhas parece ter perdido a sua importância,
sendo substituída por cálculos astronômicos.
Os anos diferiam não só pelo número de dias, mas também pelo de meses. As festas eram
fixadas, e ainda hoje o são, em certos dias dos meses, mas era preciso também que cada uma caísse na
estação do ano que lhe era própria: o primeiro dia de Páscoa (Pessah) devia se aproximar do equinócio
da primavera, já que a festa das ceifas exigia a oferenda das primícias do trigo; a dos tabernáculos, festa
do outono, devia cair depois das vindimas e da colheita da azeitona.
Ora, as estações do ano regulam-se pelo ano solar e não pelo lunar, e um ano lunar de 12 meses
com 354 ou 355 dias é, pelo menos, 11 dias mais curto que o ano solar que consta de 365 ou 366 dias.
De maneira que as festas reguladas pelo ano lunar deslocar-se-iam 11 dias, em cada ano, das suas
estações.
Este inconveniente foi evitado pela intercalação de um mês completo, como já se praticava no
calendário babilônico. E assim se obteve um ano lunissolar, calculado sobre a revolução da Lua, posta
de acordo com o ano solar.
A princípio, estas intercalações se faziam cada vez que a necessidade as impunha e as mesmas
autoridades — Sinédrio ou Patriarcado — que fixavam a Lua Nova, tinham o direito de anunciar
também o ano de 12 ou 13 meses.
Depois, o cálculo astronômico para fixar a Neomênia e o ano de 13 meses, chamado ano
embolismal para distingui-lo do ano comum de 12 meses, tornou-se predominante, sobretudo graças
aos estudos do babilônio Rabi Samuel (165-250d.C.), que é uma das mais importantes figuras da
história do calendário judaico. Samuel utilizou os seus conhecimentos para estabelecer um calendário
que permitisse aos judeus babilônicos fixar as festas sem esperar que a Palestina os informasse a cada
Lua Nova.
Mas Samuel não publicou este calendário, provavelmente em atenção ao patriarca e para não
quebrar a unidade do judaísmo, continuando a considerar-se o calendário como uma ciência secreta e
uma prerrogativa da Palestina.
Período Post-Talmúdico — Depois do Concílio de Nicea, sob o comando de Constantino
Magno (325-337) e Constâncio (337-361), as perseguições aos judeus chegaram a tal ponto que todos
os exercícios religiosos, incluindo a computação do calendário, foram proibidos. O Sinédrio foi
expressamente proibido de inserir o mês intercalar. Estes fatos levaram o patriarca dessa época, Hillel
II, a adotar, em 358, um calendário fixo baseado no cálculo astronômico, conforme os estudos de Rabi
Samuel.
A data do início da era judaica atualmente usada é a da Criação do Mundo, segundo o Gênesis,
7 de outubro do ano 3761 antes da era cristã. Nesta data se comemora o dia 1 de Tishri de cada ano
civil, como dia de Ano Novo.
Os meses do calendário judaico são as lunações médias de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3,5
segundos.
Como o mês civil só pode ser composto de dias completos, as 12 horas de cada um de dois
meses consecutivos constituem um dia que se atribui a um destes meses. Sendo assim, em princípio, a
duração dos meses se alterna entre 29 e 30 dias.

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Os meses de 29 dias chamam-se cavos, e os de 30, plenos.
Mas ainda restam de cada um destes dois meses 44 minutos e 3,5 segundos, ou seja, o total de
88 minutos e 7 segundos, isto é, 1 hora, 28 minutos e 7 segundos que, em 32 meses, perfazem um dia.
Por este motivo e outros que falaremos adiante, são exceção à regra da alternativa os dois meses
que se seguem ao primeiro do ano civil — Tishri, os quais têm duração variável de ano para ano:
quando Heshvan tem 29 dias e Kislev 30, os anos chamam-se regulares; quando Heshvan tem 29 dias e
Kislev também 29, os anos são defectivos; quando estes meses têm ambos 30 dias, os anos dizem-se
abundantes.
A duração variável destes dois meses é necessária também para regular o ciclo das festas
religiosas.
A semana judaica é de caráter exclusivamente religioso, fundada no relato bíblico do Gênesis,
segundo o qual em seis dias Deus criou o Universo e no sétimo descansou. O dia de descanso é o que
corresponde ao nosso sábado, e o que os judeus chamam sabbatum; os outros dias da semana não têm
nome próprio.
O dia civil entre os judeus se inicia com o pôr do Sol.
Calendário judaico atual (calendário de Hillel) — Calculado o ano solar em 365 dias e 1/4, e
o lunar em 12 lunações de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3,5 segundos, há entre eles a diferença de 11
dias. Em 19 anos essa diferença se eleva a 19 x 11 = 209 dias. Dando a 7 dos 19 anos de cada período
mais um mês de 30 dias, será 7 x 30 = 210 dias.
A diferença de um dia entre estes dois produtos concorre também para a variação do número de
dias dos meses Heshvan e Kislev. Os anos de 13 meses lunares chamam-se embolismais, para distingui-
los dos de 12 meses que se chamam comuns.
Os anos embolismais, que no antigo calendário eram regulados pela experiência, passam no
calendário de Hillel a ser regulados pelo ciclo lunar de Méton, de 19 anos, o qual, perfazendo 235
lunações médias, faz cair as luas novas nos mesmos dias do mês.
O mês intercalar, que se coloca entre os meses Adar e Nissan, toma o nome do Adar II ou
Veadar e tem sempre 29 dias. Neste caso, o mês Adar que nos anos comuns tem 29 dias, nos
embolismais passa a ter 30.
Os anos comuns e os embolismais sucedem-se de tal modo que, depois de um período de 19
anos, o começo do ano civil judaico cai na mesma época do ano solar.
Distribuindo os anos embolismais no período de 19 anos, fixou-se como tais os anos 3, 6, 8, 11,
14, 17 e 19, sendo os outros comuns.
Dado um ano da era mundana judaica, para saber se é comum ou embolismal, divide-se por 19.
O quociente marca o número de ciclos decorridos; se o resto é qualquer dos números acima indicados, o
ano é embolismal, se não, é comum. Se o resto for 0, toma-se como 19.
O ano civil começa no outono pelo mês Tishri que corresponde à parte dos nossos meses de
setembro ou outubro e foi usado antes da saída do Egito. Os hebreus não o abandonaram depois, mas
adotaram também o ano religioso determinado por Moisés alguns dias antes de deixarem a terra dos
faraós.
O ano religioso começava e ainda começa na primavera pelo mês de Nissan, que corresponde
aos meses de março ou abril.

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Composição anual do calendário judaico
Número de Nome dos Ano Comum Ano Embolismal
ordem
Ano Ano Meses D. R. A. D. R. A.
civil religioso
1o 7o Tishri 30 d. 30 d. 30 d. 30 d. 30 d. 30 d.
2o 8o Heshvan 29 29 30 29 29 30
3o 9o Kislev 29 30 30 29 30 30
4o 10o Tevet 29 29 29 29 29 29
5o 11o Shevat 30 30 30 30 30 30
6o 12o Adar 29 29 29 30 30 30
- - Adar II - - - 29 29 29
7o 1o Nissan 30 30 30 30 30 30
8o 2o Lyar 29 29 29 29 29 29
9o 3o Sivan 30 30 30 30 30 30
10o 4o Tamuz 29 29 29 29 29 29
11o 5o Av 30 30 30 30 30 30
12o 6o Elul 29 29 29 29 29 29
Somas 353 354 355 383 384 385

A Tabela contém a composição atual dos anos civis e religiosos do calendário judaico. Os números das
duas primeiras colunas indicam a ordem que seguem os meses no ano civil e no religioso.

Com estes dados preliminares, é possível se construir o calendário. Primeiro é preciso


determinar o número da era mundana judaica que pertence ao ano; depois, dividir esse número por 19
para achar o resto e determinar se o ano é comum ou embolismal; em seguida, determinar o dia 1 de
Tishri, que é o primeiro dia do ano civil. Esta é a parte mais difícil do problema: tem de se saber o
moled (conjunção ou novilúnio) de Tishri.
Antigamente, determinava-se a Lua Nova pelo testemunho de duas pessoas idôneas que
tivessem observado o fino crescente da Lua. Atualmente, é preciso saber o dia e a hora da conjunção, o
que só se pode obter com exatidão pelo cálculo astronômico.
Obtidos o dia, a hora e a fração da hora em que tem lugar o moled de Tishri, o dia inicial do ano
é dado pela parte diurna, ou seja, pelo dia da semana em que cai a Lua Nova. Mas esta regra é
modificada por cinco exceções, bastante complicadas e que por isso resumiremos a seguir.
Se a Lua Nova de Tishri (de depois de 4 de setembro) cai em 1, 4 ou 6 (domingo, quarta-feira
ou sexta-feira), soma-se à parte diurna uma unidade, isto é, o ano novo é transferido para o dia seguinte
(2, 5 ou 7 – segunda-feira, quinta-feira ou sábado); e ainda, quando a Lua Nova cai em qualquer dia
possível, mas depois do meio-dia, o ano novo é transferido para o dia seguinte. A adição ou a supressão
de um dia nos meses de Heschvan e Kislev vão influir na classificação do ano, quer comum, quer
embolismal, em defectivo, regular ou abundante.
O deslocamento do ano novo se deve a duas fundamentais regras rabínicas:
1- O dia do Kipur jamais pode cair numa sexta-feira ou num domingo.
2- O dia de Hoshana Raba jamais cairá num sábado.
Obs.: Devido à primeira regra, Rosh Hashaná (ano novo) nunca cairá numa quarta ou sexta-
feira e, decorrente da segunda regra, não cairá num domingo.

CALENDÁRIO MUÇULMANO

Antes de Maomé os árabes tinham um calendário lunar com a adição de um mês intercalar para
coincidir com o calendário solar.
Mas esta intervenção humana no curso da Lua pareceu ao profeta Maomé uma blasfêmia.
Sendo assim, impôs um calendário puramente lunar, que ainda vigora.
Compõe-se o ano de 12 meses de 30 e 29 dias alternadamente, compreendendo, na totalidade,
355 ou 354 dias, respectivamente. Os anos de 354 dias dizem-se comuns, e os de 355, embolismais.

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Doze lunações duram 354 dias, 8 horas, 48 minutos e 30 segundos, sendo, portanto, o ano comum mais
curto, 8 horas, 48 minutos e 30 segundos, que perfazem 11 dias num ciclo de 30 anos.
Neste ciclo lunar, os 11 dias de excesso do ano matemático sobre o ano civil são aumentados a
outros tantos anos, dando-se 30 dias ao último mês em vez de 29. São estes os anos abundantes do
ciclo. O ciclo fica, assim, constituído por 11 anos abundantes e 19 comuns. Os abundantes são os 2, 5,
7, 10, 13, 16, 18, 21, 24, 26 e 29 do ciclo.
Tendo o ano solar 365 ou 366 dias, se é comum ou bissexto, e o lunar 354 ou 355, se é comum
ou embolismal, de um ano para outro começa o ano lunar 11 ou 10 dias mais cedo que o solar. E assim,
em conseqüência da própria natureza do ano, os meses percorrem todas as estações no espaço de 33
anos, retrogradando cada ano 11 ou 10 dias. Evidentemente, este ano não pode sempre começar na
mesma estação do ano, isto é, no mesmo solstício ou mesmo equinócio.
Os meses do ano muçulmano sucedem-se pela seguinte ordem:

1 Moharran 30
dias
2 Suphar 29
3 Reby 1 30
4 Reby 2 29
5 Gioumadi 1 30
6 Gioumadi 2 29
7 Redjeb 30
8 Schaaban 29
9 Ramadhan 30
10 Schewal 29
11 Dulkaiadath 30
12 Dulkagiadath 29/30

Quando é ano comum (354 dias), Dulkagiadath tem 29 dias, e quando o ano é embolismal
(355 dias), Dulkagiadath tem 30 dias.

CALENDÁRIO DA REVOLUÇÃO FRANCESA

O calendário da Revolução Francesa é uma das muitas tentativas de reforma do calendário, e


vigorou durante alguns anos.
Os representantes do povo francês, reunidos em 21 de setembro de 1792 em Convenção
Nacional, ao abrirem a sua sessão, pronunciaram a abolição da realeza. Sendo este o último dia da
monarquia, entenderam dever ser também o último da era vulgar no seu país.
Então, não só para corrigir os erros do calendário gregoriano que usavam, mas também para
marcar a nova era em que a França entrava com a abolição da realeza e a proclamação da república, a
Convenção encarregou a sua comissão de instrução pública de reformar o calendário, substituindo-o por
outro sobre bases inteiramente novas. Desta forma, o novo calendário não deveria se subordinar à
prática de nenhum culto, e a medição do tempo tinha que obedecer, tanto quanto possível, ao sistema
decimal de pesos e medidas recentemente estabelecido em toda a França.
Desta comissão faziam parte Romme, que foi o principal autor da nova divisão do tempo,
Lagrange, Monge, Dupuis e Lalande.
Romme, representante do povo, apresentou o seu projeto à Convenção em 20 de setembro de
1793, e em 5 de outubro foi adotado o novo calendário e abolido o uso do gregoriano. Posteriormente, a
era dos franceses fixou-se iniciando o primeiro ano em 22 de setembro de 1792 que, sendo o primeiro
dia da república, se dava a coincidência de ter o Sol chegado às 9h18min30s ao equinócio verdadeiro do
outono, entrando no signo da Balança.

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Assim, a igualdade dos dias às noites era marcada no firmamento, no mesmo dia em que a
igualdade civil dos cidadãos franceses era proclamada pelos representantes do povo, com o fundamento
sagrado da sua nova forma de governo.
O começo do ano no início de uma estação ia ao encontro das aspirações de todos os que
pretendiam a reforma do calendário.
Antes da apresentação do projeto de Romme à Convenção, esta havia fixado o começo do ano 1
da era republicana em 1o de janeiro de 1793, reduzindo assim o ano 1 em três meses e alguns dias. A
mesma assembléia, porém, revogou esta resolução para adotar, de preferência, o calendário de Romme,
e decidiu que as atas já lavradas do ano 2, datadas de janeiro a 21 de setembro de 1793, fossem
consideradas como pertencendo ao ano 1 da República.
O ano começava à meia-noite com o dia civil, tempo médio de Paris, em que caía o equinócio
verdadeiro do outono. O começo do ano e, conseqüentemente, a sua duração deveriam sempre ser
fixados pelos astrônomos do Observatório Astronômico de Paris. Assim, o primeiro ano da república
francesa começou à meia-noite de 23 de setembro de 1792 e acabou à meia-noite de 21 para 22 de
setembro de 1793.
O ano tinha, em média, 365 dias e, quando os astrônomos o deliberavam, 366.
Pensou-se que, como divisões do ano, deveriam ser adotadas as fases da Lua, que se repetem 12
vezes no ano (cada fase), com intervalos iguais de 29 dias, 12 horas e 30 minutos, ou, arredondando, 30
dias. Além disso, a Lua era útil ao marinheiro, ao navegador, ao homem do campo, etc.
Estas considerações levaram os franceses a dividir o ano como o dos egípcios, em 12 meses de
30 dias, havendo, no fim, mais cinco dias epagômenos (que não pertenciam a qualquer mês) destinados
a festas cívicas. Estes cinco dias epagômenos foram consagrados: o 1. à Virtude; o 2. ao Gênio; o 3. ao
Trabalho; o 4. à Opinião e o 5,0 à Recompensa.
Para manter a coincidência deste ano civil com os movimentos celestes, o ano tinha mais um
sexto dia epagômeno, quando a posição do equinócio o comportava. Este dia, chamado Dia da
Revolução, foi colocado no fim do ano.
O poeta Fabble d’Eglantine (que mais tarde foi guilhotinado como a maior parte dos
revolucionários) foi encarregado de encontrar para os meses uma nomenclatura característica baseada
na própria natureza. Este engenhoso poeta apresentou o seu relatório em 25 de outubro de 1793, dando
aos meses nomes que tinham a vantagem de ter a mesma terminação para os que pertenciam a cada
estação do ano, sendo referidos aos acontecimentos meteorológicos ou agrícolas próprios de cada uma.
Estes nomes dos meses, posto que muito expressivos e harmoniosos, tinham o inconveniente de
não poderem ser aplicados a toda a Terra, mas apenas a algumas regiões e especialmente à França.
O ano terminava no dia correspondente a 18 ou 19 de setembro, mas deve-se ainda acrescentar
mais 5 ou 6 dias epagômenos para que o começo do ano seguinte tenha lugar de 22 a 24 de setembro.
Em vez da semana, que não mede exatamente nem a lunação, nem as estações, nem o ano, nem
o mês, e apenas, na maior parte dos países, pelos nomes dos seus dias recorda as superstições
astrológicas e pagãs da Antiguidade, os meses foram divididos, como os dos gregos, em três partes
iguais de 10 dias chamadas décadas.
Os nomes dos dias de cada década eram: primidi (o primeiro dia), duodi (o segundo dia), tridi,
quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e decadi.
Tinha esta divisão a vantagem, que não tem a semana, de, uma vez conhecido o nome do dia da
década, se saber imediatamente, sem cálculo, a que dia do mês se tinha chegado.
A eponímia dos santos e das festas do calendário religioso foi substituída por uma série de
nomes de plantas, de frutos, de metais, de animais e de instrumentos de lavoura. Os nomes dos
instrumentos, por exemplo, foram reservados para os decadi, assim como os de animais, para os
quintidi. Citemos exemplos desta extravagante nomenclatura: vindimario primide uva, pluviose quintidi
burro, etc.
O dia, que durava da meia-noite à meia-noite seguinte, foi dividido em dez partes ou horas,
cada parte em outras dez, e assim sucessivamente até à menor fração comensurável. A centésima parte
da hora chamava-se minuto decimal. Esta disposição, porém, não chegou à prática por causa das
transformações de relojoaria a que obrigava.
O calendário republicano esteve em vigor na França até 31 de dezembro de 1805, ou seja,
durante 12 anos, 2 meses e 27 dias, contados a partir de 5 de outubro de 1793, e sem contar o ano que

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decorreu depois do estabelecimento da república que foi designado, a posteriori, como o primeiro da
era nova.
Com efeito, sendo este calendário republicano incompatível com qualquer religião,
restabelecido o culto católico, era natural a abolição do calendário.

CALENDÁRIO MAIA

Vimos que 5 de março de 2001 é, no calendário maia, 12.19.8.0.11 11 Chuen 14 Kayab. Esta
data está escrita nos três calendários maias que eram usados simultaneamente, devendo ser lida em
partes. A primeira delas é 12.19.8.0.11.
Isso quer dizer que, desde o início do grande ciclo atual (no distante ano de 3114a.E.C. (antes da
era comum), provavelmente no dia 8 de setembro), passaram-se 12 Baktuns, 19 Katuns, 8 Tuns, zero
Uinal e 11 Kins. Um grande ciclo, para eles, duraria 13 Baktuns, ou 1.872.000 dias. O grande ciclo
atual terminará em 23 de dezembro de 2012.

Divisões maias de um grande ciclo

1 Kin 1 dia
1 Uinal 20 'ins 20 dias
1 Tun 18 Uinais 360 dias
1 Katun 20 Tuns 7.200 dias
1 Baktun 20 Katuns 144.000 dias

Mas esse era apenas um dos modos como os maias contavam o tempo. Além deste calendário de
dias corridos, os maias acompanhavam atentamente o movimento do Sol, e construíram um calendário
semelhante ao egípcio.
O ano maia chamava-se haab, e continha 365 dias. Estes dias estavam divididos em 18 Uinais
(com 20 dias cada) e 5 dias epagômenos, reunidos em um pequeno Uinal chamado uyaeb. A seguir,
vemos os nomes dos 18 meses maias (é bom ressaltarmos que os nomes dos meses variaram muito ao
longo da história da civilização maia, e mesmo em um determinado tempo algumas cidades adotavam
nomes diferentes. Os nomes usados aqui são os comumente aceitos pelos estudiosos):

0 Pop 10 Zak
1 Uo 11 Ceh
2 Zip 12 Mac
3 Zotz 13 Kankin
4 Tzec 14 Muan
5 Xul 15 Pax
6 Yaxkin 16 Kayab
7 Mol 17 Cumku
8 Chen - Uayeb
9 Yax

Neste calendário, o dia 5 de março de 2001 é o décimo quarto dia do mês de Kayab. Os haabs
não eram numerados.
Mas havia ainda outro calendário funcionando concomitantemente: o calendário religioso. O ano
ritual dos maias durava 260 dias e era conhecido como tzolkin. Este “ano” também era dividido em
períodos de 20 dias (13 ao todo), mas agora esses períodos têm relação com a nossa semana, e não mais
com os nossos meses. Isso porque estes “Uinais” do tzolkin não tinham nomes próprios, mas seus dias

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tinham (exatamente como a nossa semana!). A seguir vemos os nomes dos dias no calendário religioso
dos maias:

Imix,Ik,Akbal,Kan,Chiccan,Cimi,Manik,Lamat,Muluc,
Oc,Chuen,Eb,Ben,Ix,Men,Cib,Caban,Etznab,Cauac,Ahau

Mas a contagem dos dias dentro de um determinado tzolkin não se assemelha em nada com o que
conhecemos hoje. Digamos que um tzolkin específico comece com o dia 1 Imix. Poderíamos pensar que
é o dia Imix do primeiro “Uinal” (algo como um domingo da primeira semana). Mas o dia seguinte não
será 1 Ik (algo como segunda-feira da primeira semana), e sim 2 Ik! O dia seguinte será 3 Akbal e assim
sucessivamente, até chegarmos a 13 Bem, que antecede 1 Ix. Complicadíssimo! Os nomes e os números
avançam simultaneamente, mas como há vinte nomes e apenas 13 números, isso possibilita 260
combinações diferentes, o próprio tzolkin.

Assim, 5 de março de 2001 é 11 Chuen de um determinado tzolkin. Como os haabs, os


tzolkins não eram numerados.
A localização de um dia específico dentro de um haab e de um tzolkin era complementar,
do mesmo modo que poderíamos descrever o primeiro dia de um ano como sendo 1 o de janeiro
(um número e um nome de mês) ou, digamos, domingo da semana 1 (um número e um nome
de dia).
Diferentemente do exemplo dado com o nosso calendário atual (onde ambas as
localizações se referem a um mesmo “ano”), as duas localizações usadas pelos maias se
referiam a “anos” diferentes (a primeira, ao haab de 365 dias; a segunda, ao tzolkin de 260
dias). Como os “anos” não concordam, as denominações demoram a se repetir (diferente do
nosso calendário atual). Elas, de fato, se repetirão a cada 52 anos (mais exatamente, 18.980
dias, que é o mínimo múltiplo comum dos números 13, 20 e 365). Justamente por isso, os
maias não viam a necessidade de marcar seus “anos” (tanto os haabs quanto os tzolkins). Um
dia como o nosso, chamado 11 Chuen 14 Kayab, só se repetirá daqui a 52 anos! (E, para
diferenciar estas duas datas tão distantes, os maias se utilizavam do calendário de dias
corridos).

A título de curiosidade, eis como os maias representariam o dia 05/03/2001. O primeiro pictograma avisa
ao “leitor” que os seguintes representariam uma data.

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CALENDÁRIO CHINÊS

O calendário chinês é lunissolar, com meses de 29 ou 30 dias incluindo alguns ajustes


periódicos. Inicia-se no dia da segunda Lua nova depois do solstício de inverno (de fins de
janeiro a meados de fevereiro). O ano tem 12 ou 13 meses e sua duração pode ter 353, 354 ou
355 nos anos comuns (12 meses), ou 383, 384 ou 385 nos anos “bissextos” (13 meses). Este
sistema mantém os meses lunares atrelados ao ano solar.
Os meses do calendário chinês se iniciam no dia da Lua Nova (astronômica), ao
contrário dos calendários islâmico e judaico, quando o início ocorre no primeiro crescente
visível (um ou dois dias após a Lua Nova).
Este calendário é o mais antigo ainda em uso. Seu início está associado ao imperador
Huang Ti e data de 2600a.C.
Na visão oriental, o tempo não é seqüencial, mas cíclico. A denominação do ano é obtida
pela combinação de dois ciclos: o dos troncos celestes e o dos ramos terrestres.

Troncos celestes (zhongqi) Ramos terrestres (jieqi)

1. jia 1. zi (rato)
2. yi 2. chou (boi)
3. bing 3. yin (tigre)
4. ding 4. mao (coelho)
5. wu 5. chen (dragão)
6. ji 6. si (serpente)
7. geng 7. wu (cavalo)
8. xin 8. wei (carneiro)
9. ren 9. shen (macaco)
10. gui 10. you (galo)
11. xu (cão)
. 12. hai (porco)

O ciclo se completa após 60 anos. Em 24 de janeiro de 2001 se iniciou o ano 4699 Xin-
Si, o ano da serpente.

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GLOSSÁRIO

Ano - Intervalo de tempo correspondente a uma revolução completa de um planeta ao redor do Sol.

Ano bissexto - Ano de um calendário solar que possui um dia a mais do que os anos normais.

Ano civil - Intervalo de tempo que compreende um número inteiro de dias, o mais próximo do período
de revolução da Terra.

Ano embolismal - Ano embolísmico.

Ano embolísmico - Ano de um calendário lunissolar que possui um mês a mais do que os anos
normais.

Ano lunar - Período que compreende 12 revoluções lunares.

Ano sideral - Intervalo de tempo decorrido entre duas passagens sucessivas da Terra em relação às
estrelas (365,25636 dias ou 365 dias, 6 horas, 9 minutos e 9,54 segundos).

Ano solar - Ano trópico.

Ano trópico - Intervalo de tempo decorrido entre duas passagens consecutivas do Sol pelo equinócio
vernal (365,242199 dias ou 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,97 segundos).

Calenda - Primeiro dia de todos os meses do calendário romano.

Calendário - Instrumento destinado a fornecer as indicações astronômicas (dia, mês, dia da semana,
etc.), bem como as indicações astrológicas (signos zodiacais, por exemplo).

Sistema de cômputo de um intervalo relativamente longo, no qual se aplica um conjunto de regras


baseado na Astronomia, e com convenções próprias, capaz de servir de meio de referência e contagem
dos dias para as necessidades das vidas civil e religiosa, assim como para as da cronologia.

Calendário civil - Calendário em que se considera o ano formado de um número inteiro de dias e
meses, de acordo com as regras próprias de cada povo ou nação.

Calendário eclesiástico - Calendário lunissolar que tem por objetivo estabelecer as normas de cálculo
das datas nas quais as festas religiosas devem ser comemoradas.

Calendário gregoriano - Calendário resultante da reforma introduzida em 1582 pelo papa Gregório
XIII. Este calendário corrige o calendário juliano.

Calendário juliano - Calendário resultante da reforma introduzida por Júlio César no ano 45a.C.

Calendário lunar - Calendário organizado tendo em vista especificamente a revolução lunar. Como a
duração deste movimento é de 29 dias, 12 horas, 4 minutos e 2,8 segundos, o ano lunar abrangerá 354
dias, 8 horas, 48 minutos e 36 segundos. Um exemplo deste calendário, ainda em uso, é o calendário
muçulmano.

Calendário lunissolar - Calendário que leva em conta simultaneamente as revoluções da Lua em torno
da Terra, e desta em torno do Sol. Os calendários lunissolares baseiam-se no mês lunar, mas procuram
fazer concordar o ano lunar com o solar, por meio da intercalação periódica de um mês a mais. Um
exemplo é o calendário judaico.

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Calendário solar - Calendário organizado tendo em vista especificamente a revolução da Terra ao
redor do Sol. Os calendários solares seguem unicamente o curso aparente do Sol, fazendo coincidir,
com menor ou maior precisão, o ano solar com o civil, visando que as estações recaiam todos os anos
nas mesmas datas. O calendário gregoriano é um exemplo de calendário solar.

Calendário vago - Chamam-se vagos todos os calendários, quer solares, quer lunares, que não possuem
um sistema de intercalação para corrigir as datas civis dos acontecimentos astronômicos. Desse modo,
as estações percorrem sucessivamente todos os meses do ano.

Ciclo metônico - Período de 235 meses lunares, ou 19 anos e 11 dias, proposto por Méton, astrônomo
grego (433a.C.), no qual as fases da Lua se repetem na mesma ordem e no mesmo dia.

Circadiano - Intervalo de tempo da ordem de 24 horas. Tal vocábulo deriva da expressão latina circa
diem, cerca de um dia.

Cronologia - Ciência e técnica de utilização de regras baseadas na Astronomia e em convenções


próprias para estabelecer as divisões do tempo e a fixação das datas.

Data - Instante de referência de um fenômeno que se define pela relação cronológica dos fatos referidos
a uma época em que se deu um acontecimento notável tomado como ponto de partida, e ao número de
anos que esse acontecimento ocorreu.

Dia - Unidade de tempo equivalente a 86.400s.

Intervalo de tempo de uma rotação terrestre determinado a partir de um referencial geocêntrico.

Dia iluminado.

Dia calendárico - Intervalo de tempo da meia-noite à meia-noite.

Dia civil - Dia solar que começa à meia-noite.

Dia iluminado - Intervalo de tempo compreendido entre o nascer e o pôr do Sol, em um determinado
lugar da Terra.

Dia sideral - Intervalo de tempo entre duas passagens sucessivas de uma estrela qualquer, que não o
Sol, sobre um mesmo meridiano.

Dia solar - Intervalo de tempo entre duas passagens sucessivas do Sol sobre um mesmo meridiano.

Eclíptica - Plano da órbita terrestre.

Interseção da esfera celeste com o plano da órbita da Terra.

Epacta - Em geral, a diferença entre a duração de dois tempos da mesma designação. Todavia, dá-se o
nome de epacta anual ou simplesmente epacta à diferença entre o ano solar e o ano lunar, e epacta
mensal à diferença entre o mês lunar e o civil.

Epagômeno - Cada um dos dias suplementares de um calendário. Seu nome é de origem grega e quer
dizer intercalado.

Época – Instante de referência em que se deu acontecimento tão notável que foi tomado como ponto
fixo, a partir do qual se conta o tempo em que ocorrerão ou ocorreram, antes ou depois, outros
acontecimentos.

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Equador celeste - Interseção da esfera celeste com o plano que passa através do Equador da Terra.

Equinócio - Qualquer das duas interseções do círculo do equador celeste com o círculo da eclíptica.

Instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste.

Era - Série de anos civis de um povo que vai decorrendo desde uma época notável, tomada como ponto
de referência inicial, e que dá nome à era adotada.

Esfera celeste - Esfera sobre a qual se consideram os pontos representativos das diferentes direções,
sobre cuja superfície se projetam todos os objetos celestes.

Hora - Unidade de tempo igual a 3600s.

Horário de verão - Hora legal adiantada de um ou mais fusos horários, a fim de se aproveitar por mais
tempo a claridade dos dias longos de verão.

Meridiano - Plano vertical ou linha vertical do norte ao sul numa localidade geográfica particular.

Mês - Subdivisão do ano com duração próxima à de uma lunação.

Mês intercalar - Mês adicional acrescentado a um ano embolismal de um calendário lunissolar.

Mês lunar - Valor da lunação, arredondado para um número inteiro de dias.

Mês sideral - Tempo em que a Lua leva para voltar à mesma longitude celeste.

Mês solar - Intervalo de tempo necessário para que o Sol, no seu movimento aparente anual, descreva
30o de longitude.

Neomênia - Primeiro sinal visível da Lua após sua fase nova, que marcava o começo dos anos e dos
meses.

Nictêmero - Intervalo de tempo que compreende um dia e uma noite, isto é, 24 horas.

Novilúnio - Lua nova.

Período sotíaco - Período de 1460 anos vagos, no fim do qual se restabelecia a coincidência do ano
civil e o ano trópico ou solar.

Ponto vernal - Ponto da esfera celeste, situado na interseção da eclíptica com o equador celeste, no
qual o Sol, em seu movimento aparente anual, passa do hemisfério sul para o norte.

Equinócio vernal.

Semana - Período de sete dias que indica a sucessão regular dos dias de trabalho e de repouso. Tal
vocábulo provém da expressão latina septem mane, sete manhãs.

Solstício - Época em que o Sol, no seu movimento aparente na esfera celeste, atinge o seu maior
afastamento do equador celeste.

Os verbetes deste glossário foram compilados do Dicionário enciclopédico de Astronomia e


Astronáutica, de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSAFIN. M. A. SALDANHA. Calendários. Observatório Nacional, Rio de Janeiro, 1989.

DONATO. H. História do calendário. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976

DUNCAN, D. E. Calendário. Ediouro, Rio de Janeiro, 1999.

ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo–Rio de Janeiro, 1983.

KAUSE. A. Astronomia para todos. Iberia, 1944.

LEITE, B. & WINTER. Fim de milênio. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1999.

LOBO. A. M. Ciência atraente e recreativa. volume 5, Rio de Janeiro.

RICHARDS, E. G. Mapping time. Oxford University Press, Oxford, 1998.

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