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Júnia Ferreira Furtado

(org.)

Sons, Formas, Cores


e Movimentos na
Modernidade Atlântica:
,
Europa, Américas e Africa

FAPEMIG PÓ~UAÇÃO
--'istóriaufmg
Infothes Informação e Tesauro
F987 Furtado, Júnia Ferreira, Org.
Sons, formas, cores e movimentos na modemidade atlântica: Europa,
Américas e Africa./ Organização de Júnia Ferreira Furtado. - São Paulo:
Annablume: Belo Horizonte: Fapemig; PPGH-UFMG, 2008. (Coleção
Olhares).
508 p.; 17 x 24 em

Colóquio Internacional "Formas, Sons, Cores e Movimento na Modernidade


Atlântica - Europa, Américas e Africa", Belo Horizonte, 21 a 24 de
novembro de 2005.

ISBN 978-85-7419-782-1

l.História do Brasil. 2. História de Minas. 3. Minas Gerais.


4. Europa. 5. América. 6. África. 7. Globalização. I. Título. 11. Série.

CDU 981
CDD 981

Catalogação elaborada por Wanda Lucia Schmidt - CRB-8-1922

SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATlÂNTICA:


EUROPA, AMÉRICAS E ÁFRlCA

000

Coordenação editorial
Joaquim Antonio Pereira

Diagramação
RayLopes

Capa
Carlos Clémen a partir de Vista do Salto do rio Iguaçu,
de José Femandes Alpoirn, 1759. (Maporeca do Itarnarary)

000

CONSELHO EDITORIAL
Eduardo Pefiuela Cafiizal
.NoIVaI Baitello Junior
. Maria Odila Leite da Silva Dias
Gustavo Bemardo Krause
Maria de Lourdes Sekeff
Cecilia de Almeida Salles
Pedro Roberto Jacobi
Lucrécia D'Alessio Ferrara

• Ia edição: fevereiro de 2008


I

© Júnia Ferreira Furtado (Org.)


000

ANNABLUME . editora. comunicação


Rua Padre Carvalho, 275 . Pinheiros
•í 05427-100 . São Paulo. SP . Brasil
f \:
Te!. e Fax. (011) 3812-6764 - Televendas 3031-9727
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TRANSFORMAÇÕES IDEOLÓGICAS NA ATLÂNTICA
AMÉRICA ESPANHOLA: AS IMAGENS E AS NARRATIVAS
DAS REBELIÕES DE 1624 E 1692
NA CIDADE DO MÉXICO

Jorge Caiiizares- Esguerra

Ao se aproximar do altar, na manhã de 8 de setembro de 1623, no Convento de


Jesus Maria da cidade do México, Sor Ana de San Ambrosio teve uma visão: o cibório, nas
mãos do padre, se transformou em uma bola de fogo. Insegura se havia sido Deus ou o
Diabo quem provocara a visão, Ana recusou a comunhão, e buscou refúgio embaixo do
coro da capela. Ali, uma pedra caiu do teto e feriu sua cabeça. Então Ana soube que era
Deus quem estava tentando, mandando-lhe uma mensagem: isso era um sinal de que em
breve pedras choveriam sobre o palácio do vice-rei da Nova Espanha. Enquanto estava na
enfermaria cuidando de seus ferimentos, Ana entrou em um êxtase que durou horas. Nesse
estado, ela testemunhou cenas de batalhas no palácio do vice-rei, e viu demônios avançarem
sobre uma multidão que se reunia na praça.' No final de dezembro, Ana de San Francisco,
uma freira do claustro de La Concepción, também teve uma experiência de transe. Ao
contrário de Ana de San Ambrosio, que vira demônios, Ana de San Francisco viu as almas
do Purgatório, conduzidas por bons anjos, atacarem o palácio.' As visões das duas freiras
logo se tornariam realidade. Na noite de 15 de janeiro de 1624, uma multidão de cerca de
30 mil índios, castas e mulatos se reuniu na praça da Cidade do México para denunciar o
vice-rei como um "luterano herético". Depois de ser recebida a tiros pelos guardas, a
multidão se enfureceu e queimou o palácio. Escondido embaixo de uma grande capa
preta, e sem os seus costumeiros óculos, o vice-rei, assustado e sem enxergar bem, procurou
se misturar à turba para alcançar o claustro dos franciscanos, onde encontrou proteção.

1. Tradução de René Lommez.


2. "Documentos relativos al tumulto de 1624, colectados por D. Mariano Femández de Echeverría y Veitia,
caballero de Ia orden de Santiago" apud FIGUEROA, Francisco García (ed.) Mexico City: Juan R.
Navarro, 1853-57, segunda série, vols. 2-3, (3: 17-20). Daqui em diante, Documentos tumulto 1624.
3. Documentos tumulto 1624, 3:33-7.
174 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Esta foi a última vez que o povo da capital pôde ver o marquês de Gelves, pois naquela
mesma noite o vice-rei seria, sem as cerimônias costumeiras, deposto pelos magistrados
da Audiência, e pelo arcebispo do México."
Ao enfocar o levante de 1624 como uma batalha épica, que opunha demônios e
anjos, os relatos das duas freiras se afastam da documentação relativa ao "tumulto de
1692"; um distúrbio muito similar ao anterior, ocorrido na noite de 8 de junho de 1692,
quando milhares de índios, castas e espanhóis mais uma vez se enfureceram, e queimaram
o palácio do vice-rei, As testemunhas e os participantes do levante de 1692 também
poderiam ter facilmente criado narrativas religiosas sobre o ocorrido, pois desde meados
de 1691 os habitantes da Cidade do México haviam vivido eventos que pareciam ter sido
planejados por uma divindade vingativa: chuvas inundaram a cidade; avalanches de lama
liquidaram alguns bairros; geadas mataram colheitas inteiras; pragas atacaram o milho
e o trigo se estragou; um eclipse do sol mergulhou a capital na escuridão, mandando
milhares de devotos em pânico às igrejas para esperar pelo fim do mundo. É portanto
surpreendente descobrir que os relatos do "tumulto de 1692" não se pareçam com os que
descrevem o levante de 1624.5 Nas próximas páginas descreverei brevemente as explicações
dadas por contemporâneos para os dois eventos; explicações estas que sugerem que
importantes transformações sociais e culturais ocorreram no México no final do século
XVII.

4. Há cinco volumes de fontes primárias que descrevem o levante, no Archivo General de Ias Indias [AGI],
Patronato real, leg.221-225. \ér também: Documentos tumulto 1624; Relación de e! tumulto de Mex[i)co
de 15 de henero de 1624, Newberry Library, Edgard E. Ayer Collection, MS 1246; Relación sumariay
punctual dei tumulto y sedición que huvo en Mexico aios 15 de enero de 1624 y de Ias cosas más notables
que le precedieron ... (n.p, 1624); CABRERA, Christoval Ruiz de. Algunos singulares y extraordinarios
sucessos dei govierno de don Diego Pimentel, marques de Gelves. La prisión y destierro de don Juan de Ia
Sema, arzobispo de Mexico, por Ia defensa de Ia immunidad de Ia Iglesia. La prission de Ia Real Audiencia,
por mandarlo bolver dei destierro a Ia ciudad. EI alboroto, y tumulto de Ias muchachos. Mexico City,
1624.; ALTAMIRANO,Diego. Propuesto el tumulto y alteración popular que huvo en Ia ciudad de Mexico,
lunes 15 de enero de 1624 en descontento y adio de Ia persona de! virrey marques de Gelves. n. p, 1630.
Existem inúmeros estudos sobre o levante, ver, por exemplo: FEIJOO, Rosa. El tumulto de 1624. Historia
Mexicana, v. 14, 1964, pp. 42-69,; BOYER, Richard, Absolutism versus Corporatism in New Spain: The
Administration ofthe Marquis of Gelves, 1621-1624. The International History Review, v. 4, 1982. pp.
475-503; ISRAEL, Jonathan I. Mexico and the "General Crisis" of the Seventeenth Century. Past and
Present, v. 63, 1974, pp. 33-57; STOWE, Noel James. The tumulto of 1624. Turmoil at Mexico City:
University of Southem Califomia, PhD Dissertation, 1970; GUTHRIE, Chester L. "Riots in Seventeenth-
Century Mexico City: A Study of Social and Economic Conditions", in Greater America: Essays in Honor
ofHerbert Eugene Bolion, Berkeley: University of Califomia Press, 1945, pp, 243-58.
5. As fontes documentais sobre este levante são também, volumosas. Ver,por exemplo, AGI.Patronato real, lego
226; "Copia de un carta escrita por un religioso grave, eonventual de Ia ciudad de México a un caballero de
Ia Puebla de los Ángeles en Ia que se cuenta el tumulto sucedido en dieha ciudad en dia 8 de junio de este afio
[1692]", in Documentos para Ia histeria de Mejico, 3: 309-339; "Tumulto aeaecido en Ia ciudad de México
el afio de 1692", in GARCÍA,Genaro & PEREYRA,Carlos (eds.). Tumultos y rebe/iones acaecidos en México.
Volume X de los Documentos inéditos o muy raros para Ia historia de México. Mexieo City: Porrúa, 1982, pp.
369-80; SIGÜENZAY GÓNGORA, Carlos de. Teatro de virtudes políticas y Alborato y mortn de Ias índios de
México. Mexico City: UNAM/Poma, 1986. Para estudos sobre este levante, veja: GUTHRIE. Riots in
Seventeenth-Century Mexico City; FElJOO, Rosa. El tumulto de 1692. Historia Mexicana, v. 14, 1964-65, pp.
656-79; R. COPE, Douglas. The Limits of Racial Domination. Plebeian Society in Colonial Mexico Ciry, 1660-
1720. Madison: University ofWiseonsin Press, 1994, capo 7.
PARTE2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 175

Além das narrativas religiosas examinadas acima, o levante de 1624 também foi
descrito como relatos de conspiração, ou como narrativas sobre a ascensão do governo
tirânico. Os partidários do vice-rei, por exemplo, compreenderam este evento como uma
conspiração das elites seculares e eclesiásticas locais, irritadas com Gelves por conta dos
seus esforços para acabar com a corrupção. Gelves havia encarcerado vários magistrados
por manipular julgamentos em favor de seus protegidos ou protetores. E procurou também
prender o principal comerciante de milho do México, Melchor Pérez de Veráez, corregedor
da Cidade do México e alcaide de Metepec, Chalco, o celeiro do vale, sob acusação de
especulação. Pérez de Veráez estocava milho, forçando os índios a vender-lhe a baixo
preço, e revendendo-o novamente a preços altos em postos de venda que ficavam fora dos
limites do pósito e da alhóndiga, que eram os mercados citadinos autorizados. Pérez de
Veráez apostou alto quando procurou asilo no Mosteiro de Santo Agostinho, a fim de
evitar sua captura. Gelves reagiu, mandando tropas para montar guarda na entrada e no
perímetro do claustro agostiniano. O arcebispo Juan Pérez de Ia Serna viu esse sítio ao
claustro como mais ameaça à sua autoridade eclesiástica, uma vez que Gelves já havia
apoiado os franciscanos na disputa pela transferência das paróquias indígenas das mãos
destes para o clero secular. Quem quer que controlasse estas paróquias controlaria também
o acesso à já escassa mão-de-obra indígena do vale. Os franciscanos tinham, até então,
mantido os índios "protegidos" de se tomarem presas de senhorios ávidos por trabalhadores.
Esse arranjo beneficiava o vice-rei, pois mantinha as paróquias indígenas nas mãos dos
freis, permitindo-o manter um firme controle sobre o trabalho de corvéia, que era regulado
através da instituição do repartimiento. A passagem das paróquias indígenas para as
mãos de padres seculares poderia ocasionar a perda da influência do vice-rei sobre os
colonos."
O arcebispo respondeu a este cerco excomungando os guardas. E, rapidamente, as
coisas fugiram do controle. O vice-rei acabou ordenando que o arcebispo fosse expulso do
México. Perez de Ia Sema respondeu à altura, excomungando o vice-rei, fechando todas as
igrejas da diocese, e ordenando ao clero que incitasse o povo a apoiar a sua causa. Segundo
os partidários do vice-rei, as ignorantes e devotas massas, sentindo que o próprio Deus
havia sido expulso do México, atenderam ao chamado do clero, pedindo a cabeça do vice-
rei, se enfurecendo e queimando o palácio.
Os partidários do arcebispo e as elites locais certamente entendiam as coisas de
forma diferente. Já vimos como as duas freiras, nos conventos de Jesus Maria e La
Concepción, enquadraram os eventos dentro de um amplo, cósmico, épico e religioso
contexto de libertação. Em sua imaginação profética, o vice-rei era o próprio Diabo, e os
amotinados, almas penitentes amparadas por anjos bons. A turba multirracial que queimou
o Palácio compartilhava com as freiras a mesma narrativa de fundo religioso, uma vez
que seu grito de guerra no motim era: 'Abaixo o luterano herético!". Contudo, o arcebispo

6. Em Mexico and the 'General Crisis' of the Seventeenth Century ; J. I. Israel mostra que a disputa pela
secularização das paróquias franciscanas foi decisivo para o controle da escassa mão-de-obra indígena,
particularmente no início do colapso demográfico ameríndio, do final do século XVI (pp. 45-9).
176 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

e as elites locais não desenvolveram apenas narrativas sobre sua libertação do jugo dos
demoníacos inimigos. Eles construíram também uma narrativa política, que versava sobre
a ascensão e a queda do governo tirânico no México.
O marquês de Gelves foi um experiente guerreiro e administrador imperial, cuja
carreira começou sob o reinado de Felipe lI. Primeiramente, ele lutou na invasão de Portugal,
em 1580, liderando bravamente a cavalaria. Em seguida, participou da Invencível Armada,
e, finalmente, tomou parte das guerras dos Países Baixos, onde foi capturado, passando
três anos como prisioneiro de guerra. Após ter servido em Milão e na Sicília, Gelves foi
nomeado vice-rei de Aragão por seis anos (1614-1620). Com a morte de Philip III, em
1621, e a queda do duque de Lerma, como valido, a nova administração do duque de
Olivares o convocou para servir no México. Gelves panilhava, com Olivares, dos mesmos
impulsos reformistas e puritanos: ambos queriam que outros reinos ibéricos, além de
Castela, pagassem pelo crescente custo do Império. Desta maneira, Gelves chegou ao
México determinado a melhorar a coleta de impostos, e a dar um jeito nas indolentes,
corruptas e efeminadas elites locais. Como era de se esperar, Gelves, logo ao chegar,
começou a ofender a todos. Ele fez questão de não aceitar as elaboradas festividades que
marcariam sua entrada; assim, não haveria ali arcos triunfais a saudá-lo ao longo de sua
peregrinação de Vera Cruz à Capital. Gelves também desmanchou o complicado arranjo
dos assentos na Audiência e no Cabildo, de forma a humilhar as elites, subjugando-as." Ele
perseguiu as cadeias locais de clientelismo, como se elas fossem a fonte da corrupção. Em
nome da equalização da justiça no nível dos despossuídos, transferiu alguns processos de
jurisdição, e ordenou a realização de novos julgamentos. Apoiou firmemente os franciscanos
em suas contendas com o arcebispo' sobre o controle das paróquias indígenas, com o
intuito de proteger os índios de senhores predatórios. Por fim, perseguiu os especuladores,
e, com seu próprio dinheiro, comprou milhares de fanegas de milho, para abastecer o
pósito e a alhóndiga com grão subsidiado. No entanto, esse protetor dos oprimidos logo
passou a ser considerado como o maior especulador do milho, alguém que angariava
enormes fortunas através do restabelecimento dos negócios na alhóndiga. Seu estilo "mão-
pesada" alienava a todos e rompia as redes locais de clientelismo. Gelves, por exemplo,
ordenou que se parasse a drenagem do lago, considerando-a um desperdício de gastos,
apenas para ver a cidade-ilha inundar-se novamente. Nesse contexto de fervor reformista,
as elites locais não encontraram dificuldades em pintar Gelves como um tirano desconectado
das realidades locais."

7. Sobre as disputas em tomo do correto protocolo a ser observado em rituais laicos e religiosos, na Cidade
do México, como a mais importante manifestação do discurso político, ver CANEQUE, Alejandro. The
King's Living lmage. The Culture and Politics ofViceregal Power ín Colonial Mexico. New York: Routledge,
2003.
8. Tanto Boyer, em Absolutism versus Corporatism in New Spain, quanto J. Israel, em Mexico in the "General
Crisis ,. of the Seventeenth-Century, são excelentes na localização da carreira de Gelves, no México, dentro
de um contexto mais amplo, ligado aos esforços reformistas de Olivares.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 177

As narrativas religiosas, tirânicas e conspiratórias desenvolvidas pelos participantes


dos eventos de 1624 não refletiam bem os interesses dos envolvidos no motim de 1692. A
única narrativa sobre 1692 que foi detectada era a de uma de conspiração, embora de um
tipo diferente. Aopasso que em 1624 ninguém prestou muita atenção às massas multirraciais
que investiram contra o palácio, em 1692 todo mundo culpava a ralé pelo levante. Em
1624, os índios, castas e espanhóis pobres que atacaram o palácio pareciam ser, aos olhos
dos partidários do vice-rei, ignorantes e estúpidos seguidores de um clero fanático. O
grupo do arcebispo e os magistrados da Audiência, por outro lado, pintaram a multidão
como parte do corpo místico da comunidade política mexicana, chamando-os de muchachos,
uma expressão de simpatia, significando que ambos pertenciam à mesma comunidade de
fiéis.
Nos relatos de 1692, os muchachos foram transmutados em uma multidão de bêbados
desordeiros, uma massa anônima composta de zaramullos (cafetões e batedores de carteira
hispânicos), negros (creoles e africanos), e vários tipos de mestiços, como os mulatos,
chinos, mariscos, mestizos, zambaigos, e lobos? Essa era "a chusma", a ralé, "a escória de
nossa mais infame plebe"." Curiosamente, essa disforme e ameaçadora massa aparecia
nos relatos como sendo liderada pelos índios: "a mais desagradável, ingrata, descontente
e desordeira gente que Deus criou; [embora fosse também] a mais favorecida com privilégios
e direitos, sob os quais exigem iniqüidades e absurdos, e os conseguem"." Estes relatos se
esforçavam em sustentar que o que parecia um evento espontâneo era de fato uma bem-
orquestrada conspiração da casta índia.
No entanto, o motim de 1692 não foi muito diferente do de 1624. Apesar do fato de
que, no início do levante, as autoridades perseguiram de forma esmagadora e executaram
vários índios (na maioria artesãos), 12 há grandes evidências de que alguns setores da elite
da sociedade mexicana também estiveram envolvidos.Apesar de ter enfocado obsessivamente
as ações dos ameaçadores índios e mestiços, Sigüenza y Gongora também descreveu em
seu relato do motim como em 7 de abril, poucos meses antes do tumulto, um cônego da
catedral proferiu um vibrante sermão perante os magistrados da Audiência e do próprio
vice-rei, o conde de Galve, condenando-o por especular com o preço do milho." No dia do
motim, as beatas que celebravam a oitava do Corpus Christi atacaram Galve com insultos
enquanto o vice-rei assistia à missa da manhã na capela do convento de San Augustine."
Como o motim de 1624, o motim de 1692 pode também ter sido produto das conspirações
da elite. Mas, embora a maioria dos participantes acreditasse que ela fosse uma bem-

9. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alboratoymotín , p.181.


10. SIGÜENZ.A. Y GÓNGORA. Alboroto y motín , p. 189: "10 más despreciable de nuestra infame plebe" (p.
186).
11. "la gente mas ingrata, desconocida, quejumbrosa e inquieta que Dios criá, la mas favorecida con
privilegios y a cuyo abrigo se arroja a iniquidades y sinrazones y las consigne," (SIGÜfu~ZA Y GÓNGORA.
Alborato y motín. .., p. 184)
12. COPE. The Limits ofRacialDomination ... , pp. 154-60.
13. SIGÜENZA Y GÓNGORA. Alborato y motín , p. 184.
14. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alboratoymotín , p. 190.
178 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

planejada conspiração da casta índia, o motim, na realidade, havia sido causado pela
escassez de milho, provocada por meses de mau tempo e pelos ardis especulativos dos que
detinham o monopólio desse comércio. Como em 1624, os esforços do vice-rei em suprir a
alhóndiga, através da compra do milho, foram interpretados pelos cidadãos médios como
um estratagema especulativo, ajustado aos bolsos de Galve.
Para ser honesto, existiram diferenças importantes entre os dois motins. O conde de
Galve nunca demonstrou uma total desconsideração pelos ritos locais e pelas formas de
equilíbrio de poder, que foram a marca-registrada da atuação do marquês de Gelves. O
papel desempenhado pelo arcebispo também não foi o mesmo. Ao contrário de Pérez de Ia
Serna, que deliberadamente incitou as massas a se revoltarem, em 1624, Francisco Aguiar
y Seijas (arcebispo do México em 1692) não encorajou novos motins. Muito embora
involuntariamente o tenha feito, quando por duas vezes se recusou a falar com os
manifestantes, que, injuriados, traziam-lhe os corpos feridos de duas mulheres indígenas
que haviam sido pisoteadas e espancadas na alhóndiga na véspera e na tarde do motim,
área que a mulher alguma jamais havia sido permitido pisar sob a jurisdição do misógeno
prelado." Embora as ações de Aguiar y Seijas tivessem por fim contribuído para inflamar
a multidão, ele na verdade procurou acalmá-Ia, quando esta começou a queimar a praça.
Entretanto, assim que ele e seu séqüito deixaram o arcebispado carregando uma grande
cruz, a multidão os atacou com pedras." Grupos de jesuítas e mercedários também foram
forçados a se retirar, devido à fúria da multidão, conforme o clero entrava na praça,
carregando crucifixos e imagens da virgem, cantando litanias e rezando o rosário." Os
símbolos e ritos do poder, no entanto, não foram completamente violados. No momento
em que a praça se consumia em chamas, um cônego do cabido da Catedral, Dr. Manuel de
Escalante y Mendoza, correu para lá a fim de salvar a Hóstia Consagrada. O destemido
clérigo, então, se precipitou novamente para a jurisdição do arcebispado, abraçado ao
ostensório que continha o corpo de Cristo. Nesse momento, a multidão retrocedeu, em
sinal de respeito;" ela havia sido ensinada a venerar o Corpus Christi, o Corpo de Cristo
presente na Hóstia Consagrada durante o milagre da transubstanciação. O misterioso
objeto sagrado - cultuado no ostensório guardado no tabernáculo do altar - era o equivalente
sacro do rei, cuja fonte de poder era tão misteriosa quanto a da Hóstia Consagrada, pois
raramente o corpo do rei era visto pelo populacho.'? E, assim, a multidão queimou os
edifícios em torno da praça, enquanto cantava: "Longa vida à Hóstia Consagrada! Longa
vida ao rei! Abaixo ao mau governo! Longa vida ao pulque!20"21

15. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alborotoymotín , pp.18ge 193.


16. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alborotoymotín , p.198.
17. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alborotoymotín , pp. 204-5.
18. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alborotoymotín , p. 205.
19. Sobre o Rei e o ritual do Corpus Christi, veja CANEQUE.The Living Body of the King, pp. 35-55; CURCIO-
NAGY,Linda A, "Giants and Gypsies: Corpus Christi in Colonial Mexico City", inBEEZLEY,W; MARTIN,
C. E. & FRENCH, W (eds.). Rituais of Bule, Rituais of Resistance. Public Celebrations and Popular
eulture in Mexico. Wilmington, Delaware: Scholarly Resources, 1994, pp. 1-26.
20. N.T.: O pulque era uma bebida fermentada produzida na região do México a partir do suco do agave.
2l. SIGÜENZA YGÓNGORA.Alborotoymotín ... , p. 203.
PARTE2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 179

Continuamente, o pulque aparece como o principal culpado pela rebelião. Mas em


todos os relatos o perigo do pulque não reside em seu poder inebriante, mas em seu poder
de criar novos canais de sociabilidade. A maioria dos relatos apresenta as pulquerías
como o lugar onde a conspiração fora tramada." Ao contrário dos cafés da América
inglesa, as pulquerías não eram espaços de sociabilidade onde o público discutia jornais,
manuscritos, ou novos livros." No entanto, elas abrigavam uma nova e emergente esfera
pública mexicana, um espaço no qual as várias hierarquias sociais e raciais se
desmanchavam, onde homens, mulheres, índios, castas e espanhóis pobres se juntavam
para rir, chorar, brigar, xingar e ridicularizar as autoridades. Por conta do motim, as
pulquerias foram imediatamente fechadas assim que começou a rebelião, sendo reabertas
somente depois de passados alguns meses. Apesar do risco de ocorrerem novos motins, o
imposto que incidia sobre o comércio do pulque era rentável demais para que as autoridades
desistissem dele. No México do final do século XVII,o mercado dominava a cena.
Quem lê as descrições do motim de 1692 não pode deixar de se surpreender com o
papel ideológico que o comércio desempenhou na maior parte dos relatos. Apesar de
entenderem o motim predominantemente como produto de uma conspiração tramada nas
pulquerías pelos índios da paróquia de Santiago Tlatelolco, a maioria dos relatos também
enfatizava o papel nos mecanismos sob os quais o comércio de milho se regulava. Ao
contrário das narrativas de 1624, os relatos de 1692 realçaram a competência do vice-rei
como administrador do mercado, por ele ter provocado o fluxo constante do milho vindo
dos vales vizinhos (Toluca, Chalco, Puebla), e também dos distantes (Celaya, no Bajio);
coisa que fez não somente através da exigência de que os proprietários entregassem os
grãos armazenados (os quais normalmente gotejavam nos mercados de forma a forçar a
subida dos preços), mas também entendendo o "livre comércio". Em abril, alguns meses
antes da revolta, o vice-rei convocou as principais autoridades locais (os ouvidores, os
líderes de todas as ordens religiosas, os cônegos da catedral, a Câmara municipal e o
tesoureiro do erário) para discutir sobre como enfrentar a prolongada escassez de milho e
trigo. O consenso naquela noite foi o de se deixar que a oferta e a procura determinassem
os preços livremente. Quase um século antes que Anne-Robert-Jacques Turgot redigisse seu
famoso tratado fisiocrata, Lettres sur Ia liberte du commerce dês grains (1770), para livrar
os franceses das periódicas crises de fome, as autoridades mexicanas já haviam adotado
uma política de livre comércio de grãos (milho e trigo), no centro do México."
Da mesma forma com que os mecanismos de regulação do comércio permitiram aos
analistas explicarem as longas crises como um canal que conduzia à rebelião, o mercado
também os ajudou a explicar tanto a dinâmica quanto a finalidade dos motins. Sigüenza
y Góngora, por exemplo, entendeu a rebelião como uma conspiração maquinada nas
pulquerías, mas também como produto do poder crescente das vendedoras de tortilhas.

22. SIGÜENZA Y GÓNGORA. Albarata y matín ... , p. 191.


23. Sobre a esfera pública, na América inglesa, veja SHIELDS, David S. Civil Tongues. Palite Letters in British
America. Chapel Hill: University ofNorth Carolina Press, 1997.
24. SIGÜENZA YGÓNGORA. Albaratay matín ... , pp. 180-1.
180 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Essas mulheres, argumentava ele, tinham um acesso privilegiado ao milho subsidiado da


alhóndiga, apenas pelo fato de serem indígenas. Os mercados municipais tinham sido
estabelecidos para proteger os índios menos favorecidos da especulação, e as tortilleras
sabiam disso e tiravam proveito dessa política. Além do mais, a produção e o comércio de
tortilhas era um monopólio indígena; e, desde que o pão (trigo) tinha praticamente
desaparecido das padarias da cidade, quase todo mundo na cidade teve que consumir
tortilhas. Tirando proveito tanto como consumidoras quanto como fornecedoras, as tortilleras
desfrutaram enormemente desse golpe de sorte. A súbita e recente descoberta desse poder
acabou ajudando a subsidiar o consumo do pulque, e a encorajar os índios a tramar uma
conspiração para tomar o poder,"
Os comentaristas também usaram o mercado para explicar por que a rebelião terminou
tão abruptamente. Uma vez que a multidão começou a se reunir e a jogar pedras no
palácio do vice-rei, os amotinados decidiram usar os petates": das barracas que os índios
tinham na praça para incendiar as portas e janelas do palácio. As esteiras se mostraram
um combustível ideal, mas assustador, para o fogo, e assim a multidão se voltou para os
cajones dos mercaderes, robustos quiosques pertencentes aos comerciantes, que voaram
em pedaços pela praça. Os cajones eram feitos de madeira e continham toda sorte de
mercadorias, inclusive seda, prataria, ferramentas, vidros, açúcar e roupas. Eles também
eram numerosos, mais de duzentos estavam dispersos pela praça. A multidão tinha, então,
madeira suficiente para incendiar não apenas o palácio, mas também a alhóndiga, no
cabildo, e os tribunais do Erário Régio. Enquanto toda a praça ardia, o motim rapidamente
se degenerou em saque. A multidão abandonou seus esforços em destruir o palácio, e os
indivíduos se voltaram uns contra os outros, lutando pelos despojos com espadas e
machadinhas que foram encontradas nos cajones. Aqueles que conseguiam agarrar os
despojos sem serem feridos fugiam para esconder o saque, principalmente as sedas e
roupas. E o motim arrefeceu, permitindo às autoridades retomar o controle sobre a cidade.
A partir da manhã do dia seguinte, milícias percorreram a cidade prendendo aqueles que
não podiam justificar a origem de novas peças de roupa ou de artigos que escondiam.
Os tentadores artigos que estavam armazenados nos cajones dos comerciantes haviam
deslumbrado a turba de índios e mestiços. A praça era o ponto de distribuição das
mercadorias vindas do Peru, Venezuela, Espanha, África e Ásia. Durante a crise geral do
século XVII na Europa, o México desenvolveu uma economia saudável, grandiosa e
independente, crescendo mais que a própria da Espanha, ao mandar matérias-primas
como prata, cochinilha, e baunilha para a Europa e para as Filipinas, e fabricar têxteis e
cerâmica para abastecer os mercados peruanos. O tônus da economia mexicana era tamanho
que locais como a Venezuela atuavam como colônias do México, e não da Espanha,
produzindo cacau tão somente para os mercados da Nova Espanha. É dentro da história
dessa expansiva e amplamente autônoma economia que devemos situar os dois motins. O
motim de 1624 ocorreu quando o vice-rei, por compreender mal a natureza da economia

25. SIGÜENZA Y GÓNGORA. A/borato y motín ..., pp. 184-6.


26. N.T: Petates são esteiras de palmas, usadas para se deitar ou como cobertura.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 181

mexicana e o poder das elites locais, procurou subordinar a Nova Espanha aos planos
reformistas do duque de Olivares. Muito antes das revoltas de Portugal e da Catalunha, em
1640, o México fez a Coroa conhecer os limites de seu Império. Ate o fim do século, o
México e Castela continuaram a se enfrentar acerca do domínio do Império, e, todas as
vezes, as elites do México mostraram arrogantemente a porta da saída a seus vice-reís."
Essa bem-sucedida economia se assentava no cerne da crescente expansão demográfica
das castas urbanas mexicanas. Os mestiços começaram a aparecer como resultado de
migrações internas, do campo indígena para as cidades em expansão; e cresceram, também,
em conexão com o tráfico de escravos africanos. Escravos libertos, espanhóis pobres e
índios se encontravam em áreas urbanas próximas, criando laços afetivos e famílias. Estas
castas, no entanto, usavam o mercado como um meio de acumular riqueza e de desafiar
os limites da dominação racial espanhola. Finalmente, no século XVIII, as castas bem-
sucedidas acabaram por comprar seu embranquecimento; embora, nesse meio tempo,
tivessem crescido rebeldes, e exigindo da Coroa cada vez mais direitos." Individualmente,
as castas obtiveram ascensão social ao entrar nas redes de clientelismo. Como os plebeus
no Antigo Regime, as castas aspiravam obter acesso a padrinhos poderosos, já que não
desfrutavam dos distintivos direitos corporativos. Já a riqueza, essa era obtida através da
acumulação de bens, e não de dinheiro, pois, paradoxalmente, no México as moedas de
prata eram extremamente escassas." Por isso, como se era de esperar, na noite de 8 de
julho de 1692, as castas mexicanas, repentinamente, passaram a se interessar mais pela
pilhagem dos cajones dos comerciantes que na punição do vice-rei: o mercado lhes permitiria
emergir como um grupo distinto. Mas, na noite do motim, o mercado acabou por se
mostrar a desgraça dos amotinados.
É um testemunho do poder ideológico do mercado que emergiu no México a partir
do final do século XVIII,que após o motim de 1692 não foi o palácio do vice-rei o primeiro
edifício a ser reconstruído. Em uma pintura realizada por Cristobal e Villapando, em
1695, pode-se ver sobre a praça da cidade do México que metade do palácio permanecia,
até então, em ruínas. Já na praça, os cajones dos comerciantes haviam sido substituídos
por uma nova e permanente estrutura, o parian, o mercado Filipino. Foi neste palco, que
os mercadores do galeão Maníla conseguiram acumular, de forma evidente, mais poder
que o próprio vice-rei, não só de maneira simbólica, mas verdadeiramente.

27. A instabilidade política do México, no século XVII, é explorada por ISRAEL, Jonathan. Race, Class and
Politics in Colonial Mexico. London: Oxford University Press, 1975. Israel, no entanto, vê o México como
uma economia debilitada, integrante, ao lado da Europa, da "crise geral" do século XVII. Já, Richard
Boyer mostra que a crise, na verdade, beneficiou e fortaleceu a economia mexicana; ver BOYER,
Richard. Mexico in the Seventeenth Century: Transition of a Colonial Society. Hispanic American
HistoricalReview, v. 57,1977, pp. 455-78.
28. TWINAM, Ann. "Racial Passing: Informal and Official 'Whiteness' in Colonial Spanish América", in
SMOLENSKI,John & HUMPHREY,Thomas J. (eds.). New World Orders. Violence, Sanction andAuthority
in the ColonialAmericas. Philadelphia: University ofPennsylvania Press, 2005, pp. 249-72; TWINAM,
Ann, Public Lives, Private Secrets. Gender;Honor; Sexuality, and Illegitimacy in Colonial Spanish America.
Stanford: Stanford University Press, 1999.
29. COPE. The Limits ofRacialDomination ... , capo 6.
182 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Figura 1: Pu/querfa, Joaquín Antonio de Basarás. "Origen, costumbres, y estado presente de mexicanos
y philipinos" (1763). Hispanic Society 01 America, New York.

Figura 2: Pu/quería. Pintura de casta anônima ("de Mulata e Espanhol, nasce uma Mourisca"), ca. 1785-
90. Coleção privada.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 183

Figura 3: Loja de choco/ate, José de Páez. Pintura de casta ("de Espanhol e Mourisca, Albino"), ca.
1770-80. Coleção privada. As pu/querías não eram os únicos espaços onde a "nova esfera pública"
se desenvolvia.

Figura 4: Sorveteria. Ramón Torres. Pintura de Casta ("de Espanhol e Mourisca, um Albino), ca. 1770-
80. Coleção privada. Juntamente com as chocolate rias e cafés, as sorveterias eram espaços
propícios ao desenvolvimento de novas formas de sociabilidade. Ao contrário das pu/querías, estas
atraíam classes mais elegantes.
184 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA

Figura 5: Mesa de chocolate. Pintor anônimo. Pintura de casta ("Mulato e Espanhol fazem Mourisco").
ca. 1780. Coleção Malú e Alejandra Escandón, Cidade do México. Como as mesas de chá da América
inglesa, as "mesas de chocolate" da América espanhola encorajaram a formação de novas formas de
sociabilidade entre as castas emergentes.

Figura 6: Palácio do vice-rei, praça, barracas do mercado indígena, e cajones dos comerciantes.
Biombo mexicano pintado, meados do século XVII. Museo de America, Madrid. Este biombo não só
mostra bem a praça do palácio do vice-rei, em meados do século XVII, com o mercado, as barracas
indígenas e os cajones dos comerciantes, como também demonstra a influência japonesa sobre o
México, que chegava através do comércio de Acapulco.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 185

Figura 7: Mulatto com caixa de rapé. Juan Rodriguez Juarez. Pintura de casta ("Mulato e Mestiça
produzem um Mulato de trás pra frente"), ca. 1715. Breamore House, Hampshire, England. O mercado
criou as castas e também definiu sua identidade numa comunidade em que a ascensão social se
definia mais pelo acúmulo de mercadorias do que pelo dinheiro.

Figura 8: Cristobal de Villalpando. Vista da Praça do México (1695). Methuen Collection, Corsham
Court.

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