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FAPEMIG PÓ~UAÇÃO
--'istóriaufmg
Infothes Informação e Tesauro
F987 Furtado, Júnia Ferreira, Org.
Sons, formas, cores e movimentos na modemidade atlântica: Europa,
Américas e Africa./ Organização de Júnia Ferreira Furtado. - São Paulo:
Annablume: Belo Horizonte: Fapemig; PPGH-UFMG, 2008. (Coleção
Olhares).
508 p.; 17 x 24 em
ISBN 978-85-7419-782-1
CDU 981
CDD 981
000
Coordenação editorial
Joaquim Antonio Pereira
Diagramação
RayLopes
Capa
Carlos Clémen a partir de Vista do Salto do rio Iguaçu,
de José Femandes Alpoirn, 1759. (Maporeca do Itarnarary)
000
CONSELHO EDITORIAL
Eduardo Pefiuela Cafiizal
.NoIVaI Baitello Junior
. Maria Odila Leite da Silva Dias
Gustavo Bemardo Krause
Maria de Lourdes Sekeff
Cecilia de Almeida Salles
Pedro Roberto Jacobi
Lucrécia D'Alessio Ferrara
Esta foi a última vez que o povo da capital pôde ver o marquês de Gelves, pois naquela
mesma noite o vice-rei seria, sem as cerimônias costumeiras, deposto pelos magistrados
da Audiência, e pelo arcebispo do México."
Ao enfocar o levante de 1624 como uma batalha épica, que opunha demônios e
anjos, os relatos das duas freiras se afastam da documentação relativa ao "tumulto de
1692"; um distúrbio muito similar ao anterior, ocorrido na noite de 8 de junho de 1692,
quando milhares de índios, castas e espanhóis mais uma vez se enfureceram, e queimaram
o palácio do vice-rei, As testemunhas e os participantes do levante de 1692 também
poderiam ter facilmente criado narrativas religiosas sobre o ocorrido, pois desde meados
de 1691 os habitantes da Cidade do México haviam vivido eventos que pareciam ter sido
planejados por uma divindade vingativa: chuvas inundaram a cidade; avalanches de lama
liquidaram alguns bairros; geadas mataram colheitas inteiras; pragas atacaram o milho
e o trigo se estragou; um eclipse do sol mergulhou a capital na escuridão, mandando
milhares de devotos em pânico às igrejas para esperar pelo fim do mundo. É portanto
surpreendente descobrir que os relatos do "tumulto de 1692" não se pareçam com os que
descrevem o levante de 1624.5 Nas próximas páginas descreverei brevemente as explicações
dadas por contemporâneos para os dois eventos; explicações estas que sugerem que
importantes transformações sociais e culturais ocorreram no México no final do século
XVII.
4. Há cinco volumes de fontes primárias que descrevem o levante, no Archivo General de Ias Indias [AGI],
Patronato real, leg.221-225. \ér também: Documentos tumulto 1624; Relación de e! tumulto de Mex[i)co
de 15 de henero de 1624, Newberry Library, Edgard E. Ayer Collection, MS 1246; Relación sumariay
punctual dei tumulto y sedición que huvo en Mexico aios 15 de enero de 1624 y de Ias cosas más notables
que le precedieron ... (n.p, 1624); CABRERA, Christoval Ruiz de. Algunos singulares y extraordinarios
sucessos dei govierno de don Diego Pimentel, marques de Gelves. La prisión y destierro de don Juan de Ia
Sema, arzobispo de Mexico, por Ia defensa de Ia immunidad de Ia Iglesia. La prission de Ia Real Audiencia,
por mandarlo bolver dei destierro a Ia ciudad. EI alboroto, y tumulto de Ias muchachos. Mexico City,
1624.; ALTAMIRANO,Diego. Propuesto el tumulto y alteración popular que huvo en Ia ciudad de Mexico,
lunes 15 de enero de 1624 en descontento y adio de Ia persona de! virrey marques de Gelves. n. p, 1630.
Existem inúmeros estudos sobre o levante, ver, por exemplo: FEIJOO, Rosa. El tumulto de 1624. Historia
Mexicana, v. 14, 1964, pp. 42-69,; BOYER, Richard, Absolutism versus Corporatism in New Spain: The
Administration ofthe Marquis of Gelves, 1621-1624. The International History Review, v. 4, 1982. pp.
475-503; ISRAEL, Jonathan I. Mexico and the "General Crisis" of the Seventeenth Century. Past and
Present, v. 63, 1974, pp. 33-57; STOWE, Noel James. The tumulto of 1624. Turmoil at Mexico City:
University of Southem Califomia, PhD Dissertation, 1970; GUTHRIE, Chester L. "Riots in Seventeenth-
Century Mexico City: A Study of Social and Economic Conditions", in Greater America: Essays in Honor
ofHerbert Eugene Bolion, Berkeley: University of Califomia Press, 1945, pp, 243-58.
5. As fontes documentais sobre este levante são também, volumosas. Ver,por exemplo, AGI.Patronato real, lego
226; "Copia de un carta escrita por un religioso grave, eonventual de Ia ciudad de México a un caballero de
Ia Puebla de los Ángeles en Ia que se cuenta el tumulto sucedido en dieha ciudad en dia 8 de junio de este afio
[1692]", in Documentos para Ia histeria de Mejico, 3: 309-339; "Tumulto aeaecido en Ia ciudad de México
el afio de 1692", in GARCÍA,Genaro & PEREYRA,Carlos (eds.). Tumultos y rebe/iones acaecidos en México.
Volume X de los Documentos inéditos o muy raros para Ia historia de México. Mexieo City: Porrúa, 1982, pp.
369-80; SIGÜENZAY GÓNGORA, Carlos de. Teatro de virtudes políticas y Alborato y mortn de Ias índios de
México. Mexico City: UNAM/Poma, 1986. Para estudos sobre este levante, veja: GUTHRIE. Riots in
Seventeenth-Century Mexico City; FElJOO, Rosa. El tumulto de 1692. Historia Mexicana, v. 14, 1964-65, pp.
656-79; R. COPE, Douglas. The Limits of Racial Domination. Plebeian Society in Colonial Mexico Ciry, 1660-
1720. Madison: University ofWiseonsin Press, 1994, capo 7.
PARTE2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 175
Além das narrativas religiosas examinadas acima, o levante de 1624 também foi
descrito como relatos de conspiração, ou como narrativas sobre a ascensão do governo
tirânico. Os partidários do vice-rei, por exemplo, compreenderam este evento como uma
conspiração das elites seculares e eclesiásticas locais, irritadas com Gelves por conta dos
seus esforços para acabar com a corrupção. Gelves havia encarcerado vários magistrados
por manipular julgamentos em favor de seus protegidos ou protetores. E procurou também
prender o principal comerciante de milho do México, Melchor Pérez de Veráez, corregedor
da Cidade do México e alcaide de Metepec, Chalco, o celeiro do vale, sob acusação de
especulação. Pérez de Veráez estocava milho, forçando os índios a vender-lhe a baixo
preço, e revendendo-o novamente a preços altos em postos de venda que ficavam fora dos
limites do pósito e da alhóndiga, que eram os mercados citadinos autorizados. Pérez de
Veráez apostou alto quando procurou asilo no Mosteiro de Santo Agostinho, a fim de
evitar sua captura. Gelves reagiu, mandando tropas para montar guarda na entrada e no
perímetro do claustro agostiniano. O arcebispo Juan Pérez de Ia Serna viu esse sítio ao
claustro como mais ameaça à sua autoridade eclesiástica, uma vez que Gelves já havia
apoiado os franciscanos na disputa pela transferência das paróquias indígenas das mãos
destes para o clero secular. Quem quer que controlasse estas paróquias controlaria também
o acesso à já escassa mão-de-obra indígena do vale. Os franciscanos tinham, até então,
mantido os índios "protegidos" de se tomarem presas de senhorios ávidos por trabalhadores.
Esse arranjo beneficiava o vice-rei, pois mantinha as paróquias indígenas nas mãos dos
freis, permitindo-o manter um firme controle sobre o trabalho de corvéia, que era regulado
através da instituição do repartimiento. A passagem das paróquias indígenas para as
mãos de padres seculares poderia ocasionar a perda da influência do vice-rei sobre os
colonos."
O arcebispo respondeu a este cerco excomungando os guardas. E, rapidamente, as
coisas fugiram do controle. O vice-rei acabou ordenando que o arcebispo fosse expulso do
México. Perez de Ia Sema respondeu à altura, excomungando o vice-rei, fechando todas as
igrejas da diocese, e ordenando ao clero que incitasse o povo a apoiar a sua causa. Segundo
os partidários do vice-rei, as ignorantes e devotas massas, sentindo que o próprio Deus
havia sido expulso do México, atenderam ao chamado do clero, pedindo a cabeça do vice-
rei, se enfurecendo e queimando o palácio.
Os partidários do arcebispo e as elites locais certamente entendiam as coisas de
forma diferente. Já vimos como as duas freiras, nos conventos de Jesus Maria e La
Concepción, enquadraram os eventos dentro de um amplo, cósmico, épico e religioso
contexto de libertação. Em sua imaginação profética, o vice-rei era o próprio Diabo, e os
amotinados, almas penitentes amparadas por anjos bons. A turba multirracial que queimou
o Palácio compartilhava com as freiras a mesma narrativa de fundo religioso, uma vez
que seu grito de guerra no motim era: 'Abaixo o luterano herético!". Contudo, o arcebispo
6. Em Mexico and the 'General Crisis' of the Seventeenth Century ; J. I. Israel mostra que a disputa pela
secularização das paróquias franciscanas foi decisivo para o controle da escassa mão-de-obra indígena,
particularmente no início do colapso demográfico ameríndio, do final do século XVI (pp. 45-9).
176 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA
e as elites locais não desenvolveram apenas narrativas sobre sua libertação do jugo dos
demoníacos inimigos. Eles construíram também uma narrativa política, que versava sobre
a ascensão e a queda do governo tirânico no México.
O marquês de Gelves foi um experiente guerreiro e administrador imperial, cuja
carreira começou sob o reinado de Felipe lI. Primeiramente, ele lutou na invasão de Portugal,
em 1580, liderando bravamente a cavalaria. Em seguida, participou da Invencível Armada,
e, finalmente, tomou parte das guerras dos Países Baixos, onde foi capturado, passando
três anos como prisioneiro de guerra. Após ter servido em Milão e na Sicília, Gelves foi
nomeado vice-rei de Aragão por seis anos (1614-1620). Com a morte de Philip III, em
1621, e a queda do duque de Lerma, como valido, a nova administração do duque de
Olivares o convocou para servir no México. Gelves panilhava, com Olivares, dos mesmos
impulsos reformistas e puritanos: ambos queriam que outros reinos ibéricos, além de
Castela, pagassem pelo crescente custo do Império. Desta maneira, Gelves chegou ao
México determinado a melhorar a coleta de impostos, e a dar um jeito nas indolentes,
corruptas e efeminadas elites locais. Como era de se esperar, Gelves, logo ao chegar,
começou a ofender a todos. Ele fez questão de não aceitar as elaboradas festividades que
marcariam sua entrada; assim, não haveria ali arcos triunfais a saudá-lo ao longo de sua
peregrinação de Vera Cruz à Capital. Gelves também desmanchou o complicado arranjo
dos assentos na Audiência e no Cabildo, de forma a humilhar as elites, subjugando-as." Ele
perseguiu as cadeias locais de clientelismo, como se elas fossem a fonte da corrupção. Em
nome da equalização da justiça no nível dos despossuídos, transferiu alguns processos de
jurisdição, e ordenou a realização de novos julgamentos. Apoiou firmemente os franciscanos
em suas contendas com o arcebispo' sobre o controle das paróquias indígenas, com o
intuito de proteger os índios de senhores predatórios. Por fim, perseguiu os especuladores,
e, com seu próprio dinheiro, comprou milhares de fanegas de milho, para abastecer o
pósito e a alhóndiga com grão subsidiado. No entanto, esse protetor dos oprimidos logo
passou a ser considerado como o maior especulador do milho, alguém que angariava
enormes fortunas através do restabelecimento dos negócios na alhóndiga. Seu estilo "mão-
pesada" alienava a todos e rompia as redes locais de clientelismo. Gelves, por exemplo,
ordenou que se parasse a drenagem do lago, considerando-a um desperdício de gastos,
apenas para ver a cidade-ilha inundar-se novamente. Nesse contexto de fervor reformista,
as elites locais não encontraram dificuldades em pintar Gelves como um tirano desconectado
das realidades locais."
7. Sobre as disputas em tomo do correto protocolo a ser observado em rituais laicos e religiosos, na Cidade
do México, como a mais importante manifestação do discurso político, ver CANEQUE, Alejandro. The
King's Living lmage. The Culture and Politics ofViceregal Power ín Colonial Mexico. New York: Routledge,
2003.
8. Tanto Boyer, em Absolutism versus Corporatism in New Spain, quanto J. Israel, em Mexico in the "General
Crisis ,. of the Seventeenth-Century, são excelentes na localização da carreira de Gelves, no México, dentro
de um contexto mais amplo, ligado aos esforços reformistas de Olivares.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 177
planejada conspiração da casta índia, o motim, na realidade, havia sido causado pela
escassez de milho, provocada por meses de mau tempo e pelos ardis especulativos dos que
detinham o monopólio desse comércio. Como em 1624, os esforços do vice-rei em suprir a
alhóndiga, através da compra do milho, foram interpretados pelos cidadãos médios como
um estratagema especulativo, ajustado aos bolsos de Galve.
Para ser honesto, existiram diferenças importantes entre os dois motins. O conde de
Galve nunca demonstrou uma total desconsideração pelos ritos locais e pelas formas de
equilíbrio de poder, que foram a marca-registrada da atuação do marquês de Gelves. O
papel desempenhado pelo arcebispo também não foi o mesmo. Ao contrário de Pérez de Ia
Serna, que deliberadamente incitou as massas a se revoltarem, em 1624, Francisco Aguiar
y Seijas (arcebispo do México em 1692) não encorajou novos motins. Muito embora
involuntariamente o tenha feito, quando por duas vezes se recusou a falar com os
manifestantes, que, injuriados, traziam-lhe os corpos feridos de duas mulheres indígenas
que haviam sido pisoteadas e espancadas na alhóndiga na véspera e na tarde do motim,
área que a mulher alguma jamais havia sido permitido pisar sob a jurisdição do misógeno
prelado." Embora as ações de Aguiar y Seijas tivessem por fim contribuído para inflamar
a multidão, ele na verdade procurou acalmá-Ia, quando esta começou a queimar a praça.
Entretanto, assim que ele e seu séqüito deixaram o arcebispado carregando uma grande
cruz, a multidão os atacou com pedras." Grupos de jesuítas e mercedários também foram
forçados a se retirar, devido à fúria da multidão, conforme o clero entrava na praça,
carregando crucifixos e imagens da virgem, cantando litanias e rezando o rosário." Os
símbolos e ritos do poder, no entanto, não foram completamente violados. No momento
em que a praça se consumia em chamas, um cônego do cabido da Catedral, Dr. Manuel de
Escalante y Mendoza, correu para lá a fim de salvar a Hóstia Consagrada. O destemido
clérigo, então, se precipitou novamente para a jurisdição do arcebispado, abraçado ao
ostensório que continha o corpo de Cristo. Nesse momento, a multidão retrocedeu, em
sinal de respeito;" ela havia sido ensinada a venerar o Corpus Christi, o Corpo de Cristo
presente na Hóstia Consagrada durante o milagre da transubstanciação. O misterioso
objeto sagrado - cultuado no ostensório guardado no tabernáculo do altar - era o equivalente
sacro do rei, cuja fonte de poder era tão misteriosa quanto a da Hóstia Consagrada, pois
raramente o corpo do rei era visto pelo populacho.'? E, assim, a multidão queimou os
edifícios em torno da praça, enquanto cantava: "Longa vida à Hóstia Consagrada! Longa
vida ao rei! Abaixo ao mau governo! Longa vida ao pulque!20"21
mexicana e o poder das elites locais, procurou subordinar a Nova Espanha aos planos
reformistas do duque de Olivares. Muito antes das revoltas de Portugal e da Catalunha, em
1640, o México fez a Coroa conhecer os limites de seu Império. Ate o fim do século, o
México e Castela continuaram a se enfrentar acerca do domínio do Império, e, todas as
vezes, as elites do México mostraram arrogantemente a porta da saída a seus vice-reís."
Essa bem-sucedida economia se assentava no cerne da crescente expansão demográfica
das castas urbanas mexicanas. Os mestiços começaram a aparecer como resultado de
migrações internas, do campo indígena para as cidades em expansão; e cresceram, também,
em conexão com o tráfico de escravos africanos. Escravos libertos, espanhóis pobres e
índios se encontravam em áreas urbanas próximas, criando laços afetivos e famílias. Estas
castas, no entanto, usavam o mercado como um meio de acumular riqueza e de desafiar
os limites da dominação racial espanhola. Finalmente, no século XVIII, as castas bem-
sucedidas acabaram por comprar seu embranquecimento; embora, nesse meio tempo,
tivessem crescido rebeldes, e exigindo da Coroa cada vez mais direitos." Individualmente,
as castas obtiveram ascensão social ao entrar nas redes de clientelismo. Como os plebeus
no Antigo Regime, as castas aspiravam obter acesso a padrinhos poderosos, já que não
desfrutavam dos distintivos direitos corporativos. Já a riqueza, essa era obtida através da
acumulação de bens, e não de dinheiro, pois, paradoxalmente, no México as moedas de
prata eram extremamente escassas." Por isso, como se era de esperar, na noite de 8 de
julho de 1692, as castas mexicanas, repentinamente, passaram a se interessar mais pela
pilhagem dos cajones dos comerciantes que na punição do vice-rei: o mercado lhes permitiria
emergir como um grupo distinto. Mas, na noite do motim, o mercado acabou por se
mostrar a desgraça dos amotinados.
É um testemunho do poder ideológico do mercado que emergiu no México a partir
do final do século XVIII,que após o motim de 1692 não foi o palácio do vice-rei o primeiro
edifício a ser reconstruído. Em uma pintura realizada por Cristobal e Villapando, em
1695, pode-se ver sobre a praça da cidade do México que metade do palácio permanecia,
até então, em ruínas. Já na praça, os cajones dos comerciantes haviam sido substituídos
por uma nova e permanente estrutura, o parian, o mercado Filipino. Foi neste palco, que
os mercadores do galeão Maníla conseguiram acumular, de forma evidente, mais poder
que o próprio vice-rei, não só de maneira simbólica, mas verdadeiramente.
27. A instabilidade política do México, no século XVII, é explorada por ISRAEL, Jonathan. Race, Class and
Politics in Colonial Mexico. London: Oxford University Press, 1975. Israel, no entanto, vê o México como
uma economia debilitada, integrante, ao lado da Europa, da "crise geral" do século XVII. Já, Richard
Boyer mostra que a crise, na verdade, beneficiou e fortaleceu a economia mexicana; ver BOYER,
Richard. Mexico in the Seventeenth Century: Transition of a Colonial Society. Hispanic American
HistoricalReview, v. 57,1977, pp. 455-78.
28. TWINAM, Ann. "Racial Passing: Informal and Official 'Whiteness' in Colonial Spanish América", in
SMOLENSKI,John & HUMPHREY,Thomas J. (eds.). New World Orders. Violence, Sanction andAuthority
in the ColonialAmericas. Philadelphia: University ofPennsylvania Press, 2005, pp. 249-72; TWINAM,
Ann, Public Lives, Private Secrets. Gender;Honor; Sexuality, and Illegitimacy in Colonial Spanish America.
Stanford: Stanford University Press, 1999.
29. COPE. The Limits ofRacialDomination ... , capo 6.
182 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA
Figura 1: Pu/querfa, Joaquín Antonio de Basarás. "Origen, costumbres, y estado presente de mexicanos
y philipinos" (1763). Hispanic Society 01 America, New York.
Figura 2: Pu/quería. Pintura de casta anônima ("de Mulata e Espanhol, nasce uma Mourisca"), ca. 1785-
90. Coleção privada.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 183
Figura 3: Loja de choco/ate, José de Páez. Pintura de casta ("de Espanhol e Mourisca, Albino"), ca.
1770-80. Coleção privada. As pu/querías não eram os únicos espaços onde a "nova esfera pública"
se desenvolvia.
Figura 4: Sorveteria. Ramón Torres. Pintura de Casta ("de Espanhol e Mourisca, um Albino), ca. 1770-
80. Coleção privada. Juntamente com as chocolate rias e cafés, as sorveterias eram espaços
propícios ao desenvolvimento de novas formas de sociabilidade. Ao contrário das pu/querías, estas
atraíam classes mais elegantes.
184 SONS, FORMAS, CORES E MOVIMENTOS NA MODERNIDADE ATLÂNTICA
Figura 5: Mesa de chocolate. Pintor anônimo. Pintura de casta ("Mulato e Espanhol fazem Mourisco").
ca. 1780. Coleção Malú e Alejandra Escandón, Cidade do México. Como as mesas de chá da América
inglesa, as "mesas de chocolate" da América espanhola encorajaram a formação de novas formas de
sociabilidade entre as castas emergentes.
Figura 6: Palácio do vice-rei, praça, barracas do mercado indígena, e cajones dos comerciantes.
Biombo mexicano pintado, meados do século XVII. Museo de America, Madrid. Este biombo não só
mostra bem a praça do palácio do vice-rei, em meados do século XVII, com o mercado, as barracas
indígenas e os cajones dos comerciantes, como também demonstra a influência japonesa sobre o
México, que chegava através do comércio de Acapulco.
PARTE 2 - FORMAS DO PODER E DA INVERSÃO DA ORDEM NAS MONARQUIAS ... 185
Figura 7: Mulatto com caixa de rapé. Juan Rodriguez Juarez. Pintura de casta ("Mulato e Mestiça
produzem um Mulato de trás pra frente"), ca. 1715. Breamore House, Hampshire, England. O mercado
criou as castas e também definiu sua identidade numa comunidade em que a ascensão social se
definia mais pelo acúmulo de mercadorias do que pelo dinheiro.
Figura 8: Cristobal de Villalpando. Vista da Praça do México (1695). Methuen Collection, Corsham
Court.