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Nossa Senhora de Guadalupe e Sã o Juan Diego

as evidê ncias histó ricas


Chá vez, EduardoJuan Diego

Índice

Celebrando a Fé
Folha de rosto
Pá gina de direitos autorais
Dedicaçã o
Indice
Agradecimentos
Abreviaçõ es
Apresentaçã o
Pró logo
Comentá rios
Introduçã o: - Juan Diego, Mensageiro da Esperança
CAPITULO UM
Durante o trauma da conquista e a morte de seus ı́dolos, os primeiros
passos da evangelizaçã o estavam sendo dados
Os frades franciscanos antes do antitestimô nio de seus compatriotas
cató licos
CAPITULO DOIS
A estrela da evangelizaçã o aparece na escuridã o
Tilma de Juan Diego: um sinal, uma mensagem, uma nova vida
CAPITULO TRES
Juan Diego, Mensageiro e Missioná rio do Amor de Nossa Senhora de
Guadalupe
Testemunhos juramentados em Informaciones Jurı́dicas de 1666
Algumas das fontes que convergem com as Informaciones Jurı́dicas de
1666
CAPITULO QUATRO
Algumas caracterı́sticas da educaçã o indı́gena que nos aproximam de Juan
Diego
CAPITULO CINCO
Uma conversã o do fundo do coraçã o
CAPITULO SEIS
Um relató rio que ilumina a verdade sobre a grande devoçã o a Nossa
Senhora de Guadalupe
CAPITULO SETE
O Povo Marcou em Sua Histó ria o Evento Guadalupano
CAPITULO OITO
O evento Guadalupan se espalha rapidamente
CAPITULO NOVE
A santidade de juan diego
CAPITULO DEZ
Um Compromisso com o Mundo Inteiro
CAPITULO ONZE
Papa Joã o Paulo II canoniza Sã o Juan Diego
Fontes histó ricas e bibliogra ia
Indice
Sobre o autor

Celebrando a Fé

Exploraçõ es na espiritualidade e teologia latinas

Editor da série: Virgilio Elizondo

Esta sé rie apresentará trabalhos seminais, perspicazes e inspiradores


com base nas experiê ncias de cristã os nas tradiçõ es latinas. Os livros
desta sé rie explorarã o tó picos como as raı́zes de uma compreensã o
mexicano-americana da presença de Deus na vida do povo, a in luê ncia
duradoura do evento Guadalupe, a espiritualidade dos imigrantes e o
papel da religiã o popular no ensino e na vida a fé .

Via Sacra: A Paixão de Cristo nas Américas


editado por Virgil P. Elizondo
Formação de fé e religião popular: lições da experiência de Tejano
por Anita De Luna
Fronteira da morte, vale da vida: uma jornada de coração e espírito de
um imigrante
por Daniel G. Groody
Espiritualidade mexicana: suas fontes e missão nos primeiros sermões de
Guadalupan
por Francisco Raymond Schulte
A Virgem de Guadalupe: re lexões teológicas de um liturgista anglo-
luterano
por Maxwell E. Johnson
O Tesouro de Guadalupe
editado por Virgilio Elizondo, Allan Figueroa Deck e Timothy Matovina
Nossa Senhora de Guadalupe e São Juan Diego: a evidência histórica
por Eduardo Chá vez
ROWMAN & LITTLEFIELD PUBLISHERS, INC.

Publicado nos Estados Unidos da Amé rica


por Rowman & Little ield Publishers, Inc.
Uma subsidiá ria integral do The Rowman & Little ield Publishing
Group, Inc.
4501 Forbes Boulevard, Suite 200, Lanham, Maryland 20706
www.rowmanlittle ield.com

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Oxford
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Copyright © 2006 por Rowman & Little ield Publishers, Inc.


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reproduzida, armazenada em um sistema de recuperaçã o ou
transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio, eletrô nico,
mecâ nico, fotocó pia, gravaçã o ou outro, sem a permissã o pré via do
editor.

Catá logo da Biblioteca Britâ nica em Publicaçã o de Informaçõ es


Disponı́veis

Dados de Catalogação na Publicação da Biblioteca do Congresso

Chá vez, Eduardo, 1956-


[Virgen de Guadalupe e San Juan Diego. Inglê s]
Nossa Senhora de Guadalupe e Sã o Juan Diego: as evidê ncias histó ricas
/ Eduardo Chá vez; traduzido do espanhol por Carmen Treviñ o e
Veronica Montañ o.
p. cm .— (Celebrando a fé )
Inclui referê ncias bibliográ icas e ı́ndice.
9781461640448
1. Juan Diego, Saint, 1474-1548. 2. Guadalupe, Nossa Senhora de. I.
Tı́tulo. II. Series.

BT660.G8C4813 2006
232,91'7097252 — dc22
2005029159

Impresso nos Estados Unidos da Amé rica


O papel usado nesta publicaçã o atende aos requisitos mı́nimos do
American National Standard for Information Sciences - Permanence of
Paper for Printed Library Materials, ANSI / NISO Z39.48-1992.
Desejo dedicar este trabalho a cada uma das pessoas que, com coraçã o
sincero e humilde, acolhem na alma a Santa Maria de Guadalupe e Sã o
Juan Diego. Ele é Seu humilde mensageiro que marcou a histó ria.
Índice

Celebrando a Fé
Pá gina de Tı́tulo Copyright
Pá gina Dedicaçã o Agradecimentos Abreviaçõ es Apresentaçã o Pró logo
Comentá rios Introduçã o: - Juan Diego, Mensageiro da
Esperança CAPITULO UM CAPITULO DOIS CAPITULO TRES CAPITULO
QUATRO CAPITULO CINCO CAPITULO SEIS CAPITULO SETE CAPITULO
OITO CAPITULO NOVE CAPITULO DEZ CAPITULO ONZE Fontes
Histó ricas e Bibliogra ia Indice Sobre o Autor
Agradecimentos

Agradeço profundamente a tantas pessoas que colaboraram para que


este trabalho fosse possı́vel: a eles o dedico, especialmente ao
Santı́ssimo Padre Bento XVI; ao cardeal Norberto Rivera Carrera; a cada
um dos bispos episcopais e vigá rios; para a Bası́lica de Guadalupe; ao
presbité rio e aos ié is da Arquidiocese do Mé xico. També m ao
Episcopado Mexicano, à Congregaçã o para a Causa dos Santos, à minha
famı́lia, à Sra. Carmen Treviñ o, que teve a paciê ncia de traduzir este
livro, e à Sra. Veró nica Montañ o, que editou esta obra.

Abreviações

AAEE Archivo de Asuntos Eclesiásticos Extraordinarios [Arquivos Especiais de


Assuntos Eclesiásticos]

AHBG Archivo Histórico de la Basílica de Guadalupe [Arquivo Histórico da Basílica de


Guadalupe]

ACCM Archivo del Cabildo y Catedral de México [Arquivos do Capítulo e da Catedral


do México]

ACM Archivo de la Ciudad de México [Arquivos da Cidade do México]

AGN Archivo General de la Nación [Arquivo Geral Nacional (México)]

AGI Archivo General de Indias [Arquivos General Spanish American (Indias)]

AGS Archivo General de Simancas [Arquivos Gerais de Simancas]

UM Archivo Histórico de la Arquidiócesis de México [Arquivo Histórico do


PRESUNTO Arcebispado do México]

AHMNA Archivo Histórico del Museo Nacional de Antropología [Arquivo Histórico do


Museu Nacional de Antropologia]

AHMV Archivo Histórico de Manuscritos de Viena [Arquivos históricos dos manuscritos


de Viena]

AHNAM Archivo Histórico Nacional, Madrid [Arquivo Histórico Nacional, Madrid]

AI Archivo Iberoamericano [Arquivos Latino-americanos]

ARAHE Archivo de la Real Academia de la Historia de España [Arquivos da Real


Academia de História da Espanha]

ARSI Archivo Romano de la Sociedad de Jesús [Arquivos Romanos da Companhia de


Jesus]

ASV Archivo Secreto Vaticano [Os Arquivos Secretos do Vaticano]

BAV Biblioteca Apostólica Vaticana [Biblioteca Apostólica do Vaticano]

BBG Biblioteca Lorenzo Boturini de la Basílica de Guadalupe [Biblioteca Lorenzo


Boturini da Basílica de Guadalupe]

BMAH Biblioteca del Museo de Antropología e Historia [Biblioteca do Museu de


Antropologia e História]

BNP Biblioteca Nacional de París [Biblioteca Nacional de Paris]

BNM Biblioteca Nacional de México [Biblioteca Nacional do México]


BNV Biblioteca Nacional de Viena [Biblioteca Nacional de Viena]

CELAM Conferencia del Episcopado Latinoamericano [Conferência Episcopal Latino-


americana]

CEM Conferencia del Episcopado Mexicano [Conferência do Episcopado Mexicano]

CJBM Colección Juan Bautista Muñoz [Coleção Juan Bautista Muñoz]

NYPL Biblioteca Pública de Nova York

Apresentação

Em 27 de agosto de 1529, meu venerado predecessor, Frei Juan de


Zumá rraga, escreveu ao rei da Espanha uma carta angustiada na qual
lhe assegurava que “se Deus nã o der um remé dio de Suas mã os, a Terra
está prestes a se perder totalmente. ” Tudo o que ele viu no Mé xico
naquele momento - abusos, assassinatos, violê ncia - o levou a essa
conclusã o devastadora. Dois anos depois, no sá bado, 9 de dezembro de
1531, recebeu a visita inusitada de um humilde ı́ndio que se atreveu a
trazer uma mensagem da Rainha dos Cé us, que pediu um templo, “uma
casinha sagrada”. Em apenas mais trê s dias, esse mesmo ı́ndio trouxe-
lhe uma prova convincente da mensagem de Maria, e Zumá rraga
concordou em erigir uma modesta ermida. Nunca imaginou a imensa
importâ ncia que ia ter eremité rio, mas agora vemos a sua importâ ncia e
nó s, seus sucessores, lhe agradecemos.
Esta mensagem pode ser veri icada, com farta informaçã o e
comprovaçã o cientı́ ica, por quem lê este livro que temos o prazer de
apresentar, e cujo autor, Eduardo Chá vez, Doutor em Histó ria da Igreja e
que nomeei Postulador perante a Santa Sé . à canonizaçã o daquele
humilde indı́gena Juan Diego, que tanta alegria trouxe ao meu
predecessor, e por meio do qual hoje vemos com abundâ ncia “Deus
providenciou o remé dio de sua mã o” para nossa pá tria e para o
mundo. Quanto devemos a ele, o instrumento humano para nos
conceder esse presente, e como somos responsá veis por compartilhá -lo
com “todas as outras vá rias imagens de homens”.
Embora todos os mexicanos conheçam o seu nome e todos nos
sintamos amados e acolhidos como ele por nossa Santı́ssima Mã e, nã o o
conhecemos muito. Meu predecessor imediato, o cardeal Ernesto
Corripio, queria começar a saldar a dı́vida que todos os mexicanos
contraı́am com ele, obtendo sua beati icaçã o. Quanto a mim, felizmente
consciente da mesma obrigaçã o e dı́vida do sucessor do Cardeal
Corripio e de Zumá rraga, pedi este livro, que, embora breve e de fá cil
leitura, custou ao seu autor e aos seus colaboradores anos e anos de
investigaçã o. . Ele baseou este livro ielmente no que sabemos com
certeza sobre aquele homem admirá vel, Juan Diego Cuauhtlatoatzin.

Mexico-Tenochtitlan, julho de 2003

+ Cardeal Norberto Rivera Carrera


Arcebispo Primaz do Mé xico

Prólogo

Santa Maria de Guadalupe e Juan Diego: história ou mito?


O “Evento Guadalupano” como chave de leitura da histó ria da
Evangelizaçã o no Novo Mundo ou no continente americano aparece
com força crescente em numerosos documentos pontifı́cios
relacionados com o mundo latino-americano e nos episcopais do
mesmo continente nos ú ltimos dois sé culos. , especialmente apó s o
Conselho Plená rio da Amé rica Latina de 18991até a magistratura de
Joã o Paulo II no Sı́nodo Especial dos Bispos Americanos. Estes
documentos invocam a Santa Maria de Guadalupe como Mã e da nossa
fé . Em seu tempo, o Papa Leã o XIII e os bispos con iaram à sua
intercessã o o futuro da Igreja latino-americana.
Muito antes disso, no sé culo XVIII, a Santa Sé reconheceu a Santı́ssima
Virgem de Guadalupe como Padroeira do Mé xico e de todos os
territó rios do entã o Impé rio Espanhol.2O patrocı́nio de Santa Maria de
Guadalupe havia entrado no coraçã o dos mexicanos. Ela os
acompanhou com força nos arriscados dias da independê ncia da
metró pole e durante todo o sé culo XIX. Em 1894, Leã o XIII concedeu
um novo ofı́cio litú rgico em homenagem a Santa Maria de
Guadalupe; chegava a compor versos latinos que eram colocados em
mosaico ao pé do altar-mor da antiga Igreja Colegial de Guadalupe (26
de fevereiro de 1895), a pedido do Bispo de Tehuantepec, D. José Mora
y del Rı́o.
Nos novos textos litú rgicos em homenagem a Santa Maria de
Guadalupe, o aspecto histó rico das apariçõ es ao indı́gena Juan Diego
foi enfatizado. Logo foi concedido que o tilma com a Imagem da
Santı́ssima Virgem de Guadalupe fosse coroado canonicamente em
1895, num gesto profundamente sentido por todos os bispos
mexicanos e por todo o povo cató lico.3Numerosos bispos do resto do
continente participaram para enfatizar o “padroado” de Santa Maria de
Guadalupe em todo o continente. Alguns anos depois, os bispos do
continente americano pediram ao Santo Padre Pio X que proclamasse a
Virgem de Guadalupe “Padroeira da Amé rica”; os bispos das Filipinas,
cuja histó ria cristã é insepará vel da do Mé xico, izeram o mesmo. O
pedido unâ nime seria renovado anos depois ao Papa Pio XI, que foi tã o
gentil nos assuntos concernentes ao Mé xico. As razõ es apresentadas
nestas diversas ocasiõ es insistem no nexo entre a Virgem de
Guadalupe e a histó ria da Evangelizaçã o da Amé rica e das Filipinas.
Esses repetidos pedidos foram bem-vindos por parte da Santa Sé . A
Virgem de Guadalupe encontrava cada dia uma resposta maior, uma
referê ncia histó rica mais precisa em todos os documentos episcopais
latino-americanos e na Magistratura Pontifı́cia. Ela foi e é uma mera
posiçã o ideoló gica ou uma referê ncia a um fato histó rico preciso e,
portanto, de valor objetivo?
Nestes ú ltimos anos tem sido uma preocupaçã o constante da
hierarquia eclesiá stica querer indicar com precisã o as raı́zes histó ricas
do caminho evangelizador percorrido neste continente, do mé todo
utilizado por Deus nesta histó ria salvı́ ica concreta, das suas
constantes e do seu signi icado. Assim, durante os anos que
antecederam as celebraçõ es do V Centená rio do inı́cio da
Evangelizaçã o na Amé rica, quiseram aprofundar o tema; a
Evangelizaçã o fundadora na Amé rica Latina foi tema, por exemplo, de
um seminá rio que o CELAM e a Comissã o Episcopal de Educaçã o e
Cultura do Mé xico celebraram entã o. Joã o Paulo II, em 9 de março de
1983, convidou os bispos latino-americanos reunidos em Porto
Prı́ncipe a se comprometerem com essa questã o. No dia 12 de outubro
de 1984, ele con irmou esta missã o abrindo a eles uma novena do V
Centená rio em Santo Domingo, no terreno onde se ergueu pela
primeira vez a Cruz de Cristo e onde o “Pai Nosso” e a “Ave Maria”
foram orados pela primeira vez em uma "nova evangelizaçã o".4 Para
isso, era necessá ria uma nova perspectiva sobre os dados histó ricos,
com um ponto de vista histó rico realista, sem ideologias.
Uma dessas perspectivas historiográ icas realistas que encontramos já
estudada na reuniã o do CELAM sobre “Religiosidade Popular” (em
Bogotá em 1976) e manifestada no documento do Episcopado Latino-
Americano em Puebla em 1978, que propunha uma evangelizaçã o
renovada apelando para o “ Memó ria cristã do nosso povo ”, porque“
com de iciê ncias, e apesar do pecado sempre presente, a fé da Igreja
selou a alma da Amé rica Latina, marcou a sua identidade histó rica
essencial, constituiu uma matriz cultural no continente, da qual novos
povos nasceram. E o Evangelho, encarnado em nosso povo, que o
congrega em uma originalidade histó rico-cultural que chamamos de
Amé rica Latina. Essa identidade é simbolizada de forma muito
luminosa no semblante mestiço de Maria de Guadalupe, que se ergueu
no inı́cio da Evangelizaçã o ”.5
No entanto, alguns escritores, in luenciados por diversas ideologias,
desde o sé culo XIX até os dias atuais, quiseram eliminar o Evento
Guadalupano de diversas maneiras: tentando transformá -lo em uma
espé cie de má scara cultural de um sincretismo religioso, uma
continuaçã o do antigo ritos sob novas formas e aparê ncias, reduzindo-o
a um simples sı́mbolo cultural, imaginando-o como parte de um
instrumento catequístico de “teatro” fabricado pelos frades
evangelizadores, ou transformando-o em um sı́mbolo religioso cató lico
criado por um criollismo para sustentar seu legı́timo patriotismo.
As vezes, sem tentar, as opiniõ es dos autores que sustentam de vá rias
maneiras essas diversas atitudes tê m cooperado para difundir
explı́cita, ou implicitamente, a imagem dos trê s pecados originais que
pesariam, segundo eles, na histó ria da Evangelizaçã o Cató lica do Latim.
Amé rica: a conquista, o catolicismo latino-americano e a travessia de
raças, vista como uma mistura degenerativa de componentes raciais
que se opõ em à pureza racial que ocorreria em outros lugares do
continente, e que nos paı́ses cató licos foi brutalmente destruı́da 6Por
essa razã o, alguns protestantes consideraram o catolicismo latino-
americano como uma forma sincré tica confusa de religiosidade
tradicional pré -cristã e um catolicismo mal assimilado. Eles até tentam
explicar aqui as raı́zes dos problemas polı́ticos e econô micos latino-
americanos.
Por causa de tais posiçõ es, o Evento Guadalupan nã o é compreendido
nem aceito em seu real signi icado. Os proponentes dessas posiçõ es
excluem de sua aná lise algumas das condiçõ es que devem ser
respeitadas como atualidade em todo estudo de fato histó rico e em sua
respectiva aná lise: o realismo (o mé todo deve ser imposto pelo objeto
de nosso estudo e nã o por uma ideologia anterior ), racionalidade e
moralidade. Apresentar o Evento Guadalupano como um fato poé tico,
idı́lico ou dramaticamente ideoló gico imediatamente, sem recorrer a
sé rio aos dados histó ricos ou documentar o que aconteceu dessa
forma, o signi icado do milagre de Guadalupe seria, portanto,
totalmente irreal. O historiador nã o deve dizer algo que seja falso, mas
deve lembrar que quer esconder algo que é verdadeiro, como dizia
Cı́cero: E preciso abordar os fatos com a humildade da verdade, sem
falso triunfo ou modé stia, apenas olhando para a verdade.7

O Milagre da Virgem Guadalupe e Juan Diego


Qual foi e continua sendo o milagre de Guadalupe? Apó s a primeira
etapa imediata de rejeiçã o das culturas indı́genas e de imposiçã o do
Cristianismo, explicá vel se considerarmos a formaçã o e o
temperamento cultural dos missioná rios, obteve-se uma inculturaçã o
da fé , superando os muros da divisã o e do ó dio racial por meio de
casamentos mistos intensos que deram origem ao povo mexicano em
sentido literal e ao latino-americano em sentido igurado. O sı́mbolo
mais perfeito deste encontro é precisamente o de Guadalupe,
protagonizado por Juan Diego, que bispos latino-americanos, reunidos
em Puebla em 1979,8expressamente reconhecida como certidã o de
nascimento ou como o selo desta aliança. Sem o milagre do Evangelho,
expresso em vigor em Guadalupe, esta aliança teria sido
impossı́vel; até mesmo a autocrı́tica que hoje se faz do mesmo
processo evangelizador iniciado pelos missioná rios apó s a famosa
homilia do frei dominicano Antonio de Montesinos no quarto domingo
do Advento de 1511 em Santo Domingo (“La Españ ola”), jamais teria
ocorreu. O evento Guadalupan, com toda a sua complexidade histó rica,
ajuda a compreender o dom deste processo evangelizador. Nã o é fá cil
para um historiador distinguir o escopo da natureza e o escopo da
Graça. Normalmente, os historiadores tendem a separar histó ria e
teologia distintamente como duas estradas paralelas em dois nı́veis
que nã o se tocam ou interferem um no outro. O verdadeiro perigo em
uma leitura parcial da histó ria moldada pelos cristã os é nã o distinguir
entre natureza e graça. Como já santo Agostinho advertia contra
Pelá gio, “Comum a todos é a natureza; nã o é assim a graça. . . . Aquele
que recebe a natureza nã o deve ser refutado como graça. ” Essa nã o
distinçã o permite outra “nã o distinçã o”, entre os fatos do mundo e a
histó ria particular gerada por um evento particular; a consequê ncia é a
sacralizaçã o da histó ria humana. Nã o muito tempo atrá s, alguns
cató licos chegaram a identi icar a histó ria de Grace com a luta de
classes em uma in luê ncia de matriz marxista.
Estas identi icaçõ es destroem nã o só a fé que nasce precisamente como
encontro, como acontecimento particular humanamente impossı́vel ou,
pelo menos, incompreensı́vel a princı́pio e, no entanto, verdadeiro. Eles
també m destroem a liberdade de Deus de moldar a histó ria de acordo
com Suas pró prias modalidades, como usar um indivı́duo para
comunicar uma Graça e construir a histó ria universal da salvaçã o (o
mé todo comum que vemos usado por Deus em toda a Bı́blia e que tem
seu culminaçã o na Encarnaçã o do Verbo no seio de Maria de
Nazaré ). També m destró i a verdadeira liberdade do homem para
acolher ou aderir totalmente à Graça que Deus lhe oferece. Se nã o fosse
assim, o verdadeiro drama da pessoa nã o existiria; só ocorreria uma
espé cie de marcha histó rica impará vel, determinada e fatı́dica, sem
nenhuma responsabilidade por parte do homem. A conseqü ê ncia seria
tirar do Misté rio da Encarnaçã o do Filho de Deus, Jesus Cristo, em um
momento da histó ria, em um lugar concreto na Palestina, no ventre da
mulher, Maria de Nazaré , em sua concretizaçã o histó rica. ; A Santı́ssima
Virgem Maria seria reduzida ao puro sı́mbolo da “Virgem Mã e”,
inexistente na histó ria. Tudo o que nã o entra nesta dimensã o se reduz a
um sı́mbolo puro, sem contexto de acontecimento real, a uma histó ria
abstrata ou a uma invençã o confortá vel para sustentar teses
preconcebidas. Na mesma ordem, milagres, talentos, profecias, “charis-
mas” (dons dados pelo Espı́rito Santo à Igreja) e todas as outras
possibilidades de intervençã o divina na histó ria sã o negadas a priori.
Ao contrá rio, o cristianismo é sempre uma ocorrê ncia histó rica em suas
diversas manifestaçõ es. E sempre um evento particular; precisamente
por causa de sua particularidade, ele supera todas as concepçõ es
deterministas e fatalistas da histó ria - ele cria a liberdade. O
cristianismo assim entendido promove uma consciê ncia do que se
entende por graça. O poder de Deus é revelado por fatos e
acontecimentos que constituem uma nova realidade no mundo, uma
realidade viva, em movimento e, portanto, um acontecimento
excepcional e imprevisı́vel na histó ria do homem. Sob esta perspectiva,
é necessá rio ler muitas pá ginas da histó ria da Igreja; particularmente
na Amé rica, lemos assim os registros do evento Guadalupan.

O Signi icado do Evento Guadalupano


Os registros histó ricos nos falam de uma situaçã o dramá tica no inı́cio
da histó ria da Evangelizaçã o na Amé rica: a desesperança e a trá gica
frustraçã o dos indı́genas e a di iculdade de transmitir o Anú ncio
Evangé lico por parte dos missioná rios espanhó is. Entã o acontece algo
inesperado: uma daquelas intervençõ es do Senhor no tempo, uma
Graça inesperada, da qual é rica a histó ria da Igreja.
Segundo fontes indı́genas, mistas e “espanholas”, nos primeiros dias de
dezembro de 1531, no morro do Tepeyac (ou Tepeyacac), morro
consagrado ao culto da deusa asteca Tonantzin e local cultural segundo
as concepçõ es religiosas do antigo povo mexicano, pró ximo ao grande
lago mexicano, a Mã e de Deus aparece a um indı́gena, um neó ito
cristã o de cerca de 50 anos, Juan Diego Cuauhtlatoatzin (“Cuauhtlatoa”
em lı́ngua ná huatl signi ica “a á guia que fala”), que estava indo para a
cidade ou a missã o franciscana. Juan Diego pode ter sido um dos
primeiros indı́genas batizados pelos primeiros missioná rios
franciscanos do Mé xico. O visioná rio foi o mensageiro de Santa Maria
para Zumá rraga, o bispo eleito do Mé xico, que pediu uma prova da
autenticidade da mensagem. A prova que a Virgem lhe deu é bem
conhecida: as rosas colhidas por Juan Diego naquela colina, na
sua tilma , onde a imagem mista crioula de Nossa Senhora seria pintada
por Ela mesma. Essa imagem tem sido desde entã o um catecismo
missioná rio atravé s dos elementos culturais do vale de
Aná huac. Na tilma transformada de Juan Diego, o Indı́gena pô de ler o
signi icado daquele Evento. Foi como o nascimento de uma nova era e o
inı́cio de uma nova tradiçã o cultural cristã , totalmente inculturada no
povo mexicano, e mais ainda no povo latino-americano.
Surge uma pergunta e ela prevalece de imediato: Será que nos
encontramos perante um acontecimento histó rico, independentemente
dos elementos poé ticos e culturais que o rodeiam, ou apenas um
sı́mbolo cultural criado para ins de Evangelizaçã o e, posteriormente,
patrió ticos? A resposta a esta pergunta també m tem sido o objetivo da
investigaçã o histó rica realizada por ocasiã o do processo de
canonizaçã o de Juan Diego e cuja documentaçã o se encontra no livro O
Encontro da Virgem de Guadalupe e Juan Diego.
O evento Guadalupan foi a resposta de Deus a uma situaçã o
humanamente impossı́vel: a relaçã o entre o mundo dos indı́genas e o
dos espanhó is recé m-chegados. O ı́ndio cristã o Juan Diego foi o elo
entre o antigo mundo mexicano nã o cristã o e a proposta missioná ria
cristã que chegou atravé s da mediaçã o hispâ nica. O resultado foi o
esclarecimento de um novo povo cristianizado. Juan Diego nã o era um
espanhol chegando com Corté s, nem um missioná rio franciscano
espanhol; ele era um nativo pertencente à quele velho mundo rico em
cultura. Um grupo escultó rico que hoje pode ser avistado no morro do
Tepeyac, onde encontramos na contemplaçã o diante de Santa Maria de
Guadalupe o indı́gena Juan Diego, o bispo Juan de Zumá rraga, e outros
homens, mulheres e crianças, quase em uma espé cie de procissã o.
contemplar Maria Santı́ssima expressa com forte plasticidade este fato
e esta mensagem. Esta é a particularidade da mediaçã o eclesial de Juan
Diego, o “enviado embaixador de Santa Maria de Guadalupe”, como
o chama o Nican Mopohua . Juan Diego foi, portanto, o missioná rio
deste encontro em que Cristo se encarnaria em uma humanidade
cultural concreta por meio da mediaçã o de Santa Maria. Um dos 12
apó stolos franciscanos do Mé xico, Frei Toribio Paredes de Benavente,
Motolinia (Motolinia signi ica “o pobre homem”), em uma de suas
cartas ao rei da Espanha viu o encontro como humanamente
impossı́vel, se nã o fosse pelo trabalho da Graça de Deus. Por isso os
neó itos indı́genas invocaram os frades junto com a Virgem Maria para
tal milagre. O milagre aconteceria como uma Graça totalmente
inimaginá vel e inesperada e seria uma realidade libertadora.
Esses dois mundos, até entã o estranhos um ao outro e inimigos, com
todas as premissas para o ó dio ou a aceitaçã o fatalista da derrota por
parte de um, pelo desprezo ou exploraçã o por parte de outrem, por
ambiçõ es e rivalidades e guerras civis entre todos, passaram a
reconhecer em Santa Maria de Guadalupe a Mã e de todos. Solicitou
atravé s de Juan Diego que fosse construı́da naquele lugar uma casa, um
lar para todos. Assim, a fé cristã se enraizou totalmente no mundo
cultural mexicano. E o nascimento do povo cató lico mexicano e latino-
americano. O esquecimento dessa histó ria pode sempre produzir novas
rupturas e velhos antagonismos. Somente o evento cristã o pode
iluminar constantemente um povo. Guadalupe e Juan Diego nos
lembram deste evento.

As consequências de tal encontro


As consequê ncias de tal encontro na histó ria do Cristianismo sã o
numerosas e importantes. Em primeiro lugar, do ponto de vista
estatı́stico, os cató licos de lı́ngua espanhola e portuguesa constituem a
maioria estatı́stica dos membros da Igreja Cató lica. O fato da
metodologia missioná ria na histó ria do Cristianismo é que os
missioná rios cristã os pertenciam ao lado dos invasores e deviam
defender os direitos humanos dos invadidos. Alé m disso, sendo
coerentes com o Evangelho, franco e forte em sua mensagem, os
missioná rios cató licos nã o escolheram um desses dois mundos em vez
do outro. Eles apresentaram o evento cristã o como um fato signi icativo
para ambos. Nisso, Deus organizou misteriosamente o acontecimento
Guadalupano como con irmaçã o da metodologia essencial do anú ncio
cristã o e do impulso efetivo do mesmo nos primeiros momentos
dramá ticos. Isso nos mostra como o cristianismo é um fenô meno capaz
de dialogar com o homem desde o primeiro momento em que entra em
contato com uma situaçã o humana, por mais dramá tica que seja.
Há um mural pintado no inı́cio do sé culo XVII no antigo convento
franciscano de Ozumba que representa o inı́cio da histó ria cristã do
Mé xico: a chegada dos “12 apó stolos”, missioná rios franciscanos a
Tenochtitlá n, em junho de 1524, os trê s adolescentes Indı́genas pró -
tomartyrs do continente americano, as Apariçõ es de Santa Maria de
Guadalupe, e o Indı́gena Juan Diego com a auré ola sagrada. Pondo de
lado a discussã o sobre a data de composiçã o desta pintura, a pintura
mostra claramente a unidade e a continuidade desta histó ria cristã
inicial do Mé xico.
A Imagem de Santa Maria ante a qual se ajoelharam o Indı́gena Juan
Diego e o Arcebispo Frei Juan de Zumá rraga, é o elo que haveria de unir
os dois mundos ali representados. Este é o aspecto que o Papa Joã o
Paulo II destacou em sua segunda visita ao Mé xico, no mê s de maio de
1990, ao propor Juan Diego como o autê ntico apó stolo de seu povo e
mensageiro de Santa Maria de Guadalupe. Este é o sentido de sua
canonizaçã o.
O milagre realizado em Guadalupe criou na Amé rica Latina, e no Mé xico
em particular, tal consciê ncia dos princı́pios cristã os que se tornou
conhecida por ter numerosos incidentes, freqü entemente dramá ticos,
em sua histó ria. Apesar de tudo, vemos como a Virgem Santa Maria de
Guadalupe manté m um povo vivo e lhe dá a real dimensã o do seu
destino. O pensador liberal mexicano Ignacio Manuel Altamirano
reconheceu isso à sua maneira:
Se existe uma verdade verdadeiramente antiga, nacional e
universalmente aceita no Mé xico, é aquela que se refere à Apariçã o da
Virgem de Guadalupe ... Nã o há ningué m, nem entre os ı́ndios mais
selvagens, nem entre os mestiços mais ignorantes. que nã o sabe sobre
a Apariçã o da Virgem de Guadalupe. ... Nã o só todas as raças que vivem
em solo mexicano coincidem com Ela, mas o que é mais surpreendente
ainda é que todos os partidos polı́ticos que cobriram de sangue o paı́s
durante meio sé culo també m o fazem. . . . Ultimamente, nos piores
casos, a devoçã o à Virgem Mexicana é o ú nico laço que os une ... a
profunda divisã o social ... també m desaparece, só diante dos altares da
Virgem de Guadalupe. Lá estã o todos pares, mestiços e indı́genas,
conservadores e liberais, aristocratas e plebeus, pobres e ricos. . . . Os
autores (da tradiçã o guadalupana) foram o bispo espanhol Zumá rraga
e o indı́gena Juan Diego que se combinaram no banquete social, por
ocasiã o da apariçã o, e que aparecem no imaginá rio popular, ajoelhados
diante da Virgem no mesmo degrau. . . . Em todo mexicano há sempre
uma dose mais ou menos grande de Juan Diego.9
O espanhol Zumá rraga e o indı́gena Juan Diego ajoelhado diante da
Virgem no mesmo degrau, e a parte de Juan Diego em cada mexicano e
em cada latino-americano, sintetizam as dimensõ es do evento
Guadalupano e as consequê ncias desse encontro, que é que o cristã o O
evento ainda continua a crescer contra todas as tentativas de conduzi-lo
a reduçõ es, rupturas ou oposiçõ es ideoló gicas.
O trabalho do Dr. Eduardo Chá vez, com base nos registros histó ricos
amplamente estudados e apresentados em outras publicaçõ es
anteriores entre os quais El encuentro de la Virgen de Guadalupe y Juan
Diego [O Encontro da Virgem de Guadalupe e Juan Diego] destaca-se (já
em sua quarta ediçã o), oferece uma sı́ntese maravilhosa do mensageiro
de Santa Maria, fá cil e agradá vel na sua leitura, sem novas pinceladas e
com as informaçõ es fornecidas por uma rigorosa documentaçã o
histó rica, frequentemente mencionada nas vá rias notas essenciais do
livro. O livro é por isso, e sem falsos pretextos, um nobre instrumento
para abordar o Fato Guadalupano e seu signi icado atravé s da igura de
seu mensageiro (“profeta”, no sentido desta palavra bı́blica que signi ica
“falar em nome de outro um ”) e apó stolo (que em seu sentido
evangé lico é “ o escolhido para ser enviado ”), o indı́gena Juan Diego
Cuauhtlatoatzin.

R. P Dr. Fidel Gonzá lez, MCCJ

Comentários

Pouco se pode dizer depois das excelentes apresentaçõ es de Norberto


Cardeal Rivera, Arcebispo do Mé xico, ativo na causa da canonizaçã o de
Juan Diego Cuauhtlatoatzin, e de RP Dr. Fidel Gonzá lez, MCCJ.,
Presidente da Comissã o Histó rica, nomeada pela Congregaçã o para o
Causa dos Santos, a im de revisar tudo a respeito deste caso. O Cardeal
Rivera destaca a veracidade histó rica dos estudos, enquanto o Dr.
Gonzá lez, em seu pró logo, delineia a essê ncia das circunstâ ncias, agora
e naquele tempo, em que a vida de Juan Diego e sua canonizaçã o devem
se situar.
Todos nó s sabemos da discussã o se esta é uma pessoa real: um homem
de carne e osso que viveu em nosso mundo, enfrentou problemas e
situaçõ es como os nossos ou piores, e os resolveu com virtude
exemplar, ou pelo contrá rio, ele é um icçã o, personagem de uma bela
histó ria, sı́mbolo cristã o ou patrió tico, protagonista de um belo mito,
fundador do cristianismo americano, ou mais tarde, da consciê ncia
patrió tica mexicana?
A pergunta do padre Fidel Gonzá lez toca diretamente a partir da
questã o: “Será que nos encontramos diante de um acontecimento
histó rico, independentemente dos elementos poé ticos e culturais que o
rodeiam, ou apenas um sı́mbolo cultural criado para ins de
evangelizaçã o e, posteriormente, patrió ticos?” ao que ele mesmo
responde: “O acontecimento Guadalupano foi a resposta de Deus a uma
situaçã o humanamente impossı́vel: a relaçã o entre o mundo dos
indı́genas e o dos espanhó is recé m-chegados. O ı́ndio cristã o Juan Diego
foi o elo entre o antigo mundo mexicano nã o cristã o e a proposta
missioná ria cristã que chegou atravé s da mediaçã o hispâ nica. O
resultado foi a iluminaçã o de um novo povo cristianizado ”.
Esses novos povos nã o sã o apenas “novos” em seu cristianismo, sã o
novos em sua pró pria essê ncia antropoló gica porque se tornaram o
Mé xico dos “mestiços”, ilhos nascidos de pais indı́genas e espanhó is,
profundamente humanos, nã o só feridos pelo pecado e suas
consequê ncias , mas també m enriquecido pela graça divina de viver o
seu amor atravé s da ternura maternal de Nossa Santı́ssima Maria de
Guadalupe, amor ao qual Ela corresponde com um fervor incontido,
transmitido a nó s depois daquele protagonista fundador, Juan Diego
Cuauhtlatoatzin, sobre quem todos falam, e com quem todos nos
identi icamos de alguma forma, mas, paradoxalmente, que poucos de
nó s conhecemos.
Este livro da Pbr. O Dr. Eduardo Chá vez, que como Postulador da Causa
obteve a canonizaçã o de Juan Diego, centra-se na sua igura concreta,
contribuindo com evidê ncias cientı́ icas, como assinala o Cardeal
Rivera, “o que sabemos com certeza sobre este homem admirá vel”,
como um pessoa histó rica concreta, bem como na sua santidade cristã ,
manifestada nas suas virtudes e na sua vida. No entanto, é
absolutamente pertinente notar que ningué m compreenderia essas
virtudes e a vida se nã o as enquadrá ssemos nas circunstâ ncias
dramá ticas e mais particulares de seu mundo, ou melhor dizendo, de
ambos os mundos, porque ele nasceu, cresceu, viveu, amadureceu e
quase atingiu a velhice em sua cultura ancestral indı́gena americana, e
entã o deve ter passado por um ajuste muito dramá tico e doloroso para
nascer de novo, crescer, viver e atingir a maturidade de sua exemplar
santidade cristã .
Assim, resta recomendar aos leitores deste trabalho, para uma melhor
avaliaçã o deste personagem ú nico aqui apresentado, que recorram
també m à s fontes, tanto indı́genas como espanholas, ou talvez outro
livro, també m do Dr. Eduardo Chá vez em colaboraçã o com o Dr. Fidel
Gonzá lez e eu: El Encuentro de la Virgen de Guadalupe y Juan Diego, que
é o resumo que a Congregaçã o para a Causa dos Santos apresenta,
aplicando metodologia cientı́ ica de convergê ncia dessas fontes
documentais, as provas recolhidos, analisados e aprovados. Este livro
ainda nã o foi traduzido; esperamos que isso aconteça em breve.
Portanto, Juan Diego nã o é um mito nem uma lenda, mas um
personagem histó rico por quem conhecemos a mensagem de Nossa
Senhora de Guadalupe. E um dos principais protagonistas do evento
modelo para “uma Evangelização perfeitamente inculturada”.10

Villa de Guadalupe, 29 de junho de 2005.


Mons. José Luis Guerrero
Diretor do Instituto Superior de Estudios Guadalupanos

Introdução:
Juan Diego, Mensageiro da Esperança
Para aproximar-se de um homem humilde, como foi Juan Diego, um dos
principais protagonistas do Evento Guadalupano, foi necessá rio
aprofundar as vá rias investigaçõ es que se realizaram ao longo dos
sé culos: procurar em bibliotecas e arquivos em vá rios partes do
mundo; analisar comentá rios e estudos que vê m aprofundando em
diversos aspectos este evento; investigar desde a tradiçã o oral contı́nua
e ininterrupta que se manteve na memó ria do povo até fontes
documentais histó ricas de grande importâ ncia, como mapas, có dices,
testamentos, cançõ es, narraçõ es antigas como o Nican Mopohua e
o Nican Motecpana, Información de 1556, Informaciones Jurídicas de
1666 , importantes manuscritos dos primeiros frades missioná rios e
tantos outros documentos que trazem notı́cias e informaçõ es muito
valiosas sobre este grande acontecimento. Em seguida, processamos
tudo isso com um mé todo cientı́ ico histó rico que propõ e a
convergê ncia das fontes documentais histó ricas.
Se nã o é possı́vel fechar um fenô meno sobrenatural, como a Apariçã o
da Virgem Maria, na histó ria temporal, é possı́vel demonstrar
evidê ncias das manifestaçõ es de tal evento, e també m é possı́vel
conhecer as pessoas que viveram aquele momento. , suas vidas,
ocupaçõ es, costumes, educaçã o, comportamento, sociedade e assim por
diante. Tudo isso deixa um rastro claro e marca a histó ria. Se nã o é
possı́vel medir o grau de fé ou o grau de conversã o do coraçã o e da
alma de um ser humano, é possı́vel conhecer e con irmar algumas de
suas expressõ es ao longo da histó ria.
Em dezembro de 1531, o que é chamado de Evento Guadalupan
aconteceu. Em outras palavras, Nossa Senhora de Guadalupe apareceu
a Juan Diego Cuauhtlatoatzin (que signi ica “á guia que fala”),11Indı́gena
humilde, da etnia Indı́gena Chichimecas. Ele nasceu por volta de 1474,
em Cuauhtitlá n, que na é poca pertencia ao reino de Texcoco, e foi
batizado pelos primeiros franciscanos por volta de 152412Em 1531 ele
era um homem maduro, com cerca de 57 anos. Ele edi icou outras
pessoas com seu testemunho e sua palavra; na verdade, eles iriam até
ele, como veremos mais tarde, para que intercedesse pelas
necessidades, petiçõ es e oraçõ es do seu povo, porque “tudo o que ele
pediu foi concedido pela Senhora do Cé u”.13 Juan Diego nunca
negligenciou a oportunidade de narrar a maneira como ocorreu o
maravilhoso encontro com a Santa Maria de Guadalupe e o privilé gio
que fora Sua mensagem.
Ele foi um autê ntico missioná rio. Pelo extraordiná rio encontro que
viveu, Juan Diego recebe diversos nomes que marcam sua missã o e sua
condiçã o: o ı́ndio humilde e obediente, o ı́ndio bom, o bom cristã o, o
homem santo, o peregrino, o humilde embaixador da Virgem ,
Visioná rio de Nossa Senhora, Mensageira de Santa Maria de
Guadalupe. Por isso as pessoas simples o reconheceram e o veneraram
como um verdadeiro santo, e o usaram como exemplo para seus
ilhos. Isto coincide com o documento Nican Motecpana , onde nos fala
sobre a vida exemplar de Juan Diego: “Se a servíssemos e nos
afastássemos de todas as coisas perturbadoras deste mundo, para que
també m nó s pudé ssemos obter a alegria eterna do cé u ! ”14 Juan Diego
morreu em 1548,15pouco depois da morte de outro importante
protagonista do Evento, o Arcebispo do Mé xico, Frei Juan de
Zumá rraga. Como destacou Fernando de Alva Ixtlilxó chitl: “Depois de
servir à Senhora do Cé u durante 16 anos, morreu em 1548, altura em
que faleceu o Bispo. . . . Ele també m foi enterrado no templo. Ele tinha
74 anos. ”16
Todos os sucessores de Frei Juan de Zumá rraga promoveram
ininterruptamente o Evento Guadalupan. Da mesma forma, o
Episcopado do Mé xico tem sido um dos maiores apoiadores,
motivando a investigaçã o cientı́ ica, bem como a evangelizaçã o e a
devoçã o popular em uma pastoral integral. O Episcopado do Mé xico
declarou em 12 de outubro de 2001: “A verdade das Apariçõ es da
Santı́ssima Virgem Maria a Juan Diego na colina de Tepeyac foi, desde o
inı́cio da Evangelizaçã o até o presente, uma tradiçã o constante e
profunda. convicçã o arraigada entre nó s cató licos mexicanos, nã o
infundada mas baseada em documentos da é poca e em rigorosas
investigaçõ es o iciais veri icadas no sé culo seguinte, por pessoas que
conviveram com aqueles que foram testemunhas e protagonistas da
construçã o do primeiro Hermitage. ”17 Mais adiante, é mencionado que
“Consideramos també m nosso dever manifestar que a histó ria das
apariçõ es deve acompanhar o reconhecimento do orador visioná rio
privilegiado da Virgem Maria”.18
Os papas, compreendendo a grande importâ ncia do Evento
Guadalupano, concederam graças, privilé gios e indulgê ncias ao
Santuá rio Guadalupano do Tepeyac. Um dos exemplos documentais
mais antigos é o de 1573, onde o Papa Gregó rio XIII19 concedeu graças
e indulgê ncias plená rias aos ié is que visitavam a Igreja da Bem-
aventurada Virgem Maria de Guadalupe para aı́ recitar piedosas
oraçõ es.20 Isso aconteceu apenas 25 anos apó s a morte de Juan Diego e,
em 1576, o papa revalidou e prolongou essas graças. 21 O entã o
arcebispo do Mé xico, Pedro Moya de Contreras, agradeceu
explicitamente.22 Outro exemplo da devoçã o dos pontı́ ices a Nossa
Senhora de Guadalupe do Tepeyac foi quando o Papa Bento XIV
concedeu, em 1754, missa e ofı́cio pró prios para celebrar a Santa Maria
de Guadalupe em 12 de dezembro, estendendo esse privilé gio ao resto
dos territó rios espanhó is em 2 de julho de 1757. Isso foi apó s extensos
estudos, inspeçõ es e investigaçõ es cientı́ icas.
Até agora, os pontı́ ices reconheceram que o acontecimento de
Guadalupan deixou uma marca evidente de um fato ocorrido na
histó ria e que está manifestando frutos de evangelizaçã o. O Papa Pio
XII, por exemplo, ofereceu uma Alocuçã o para o qü inquagé simo
aniversá rio da Pontifı́cia Coroaçã o da Imagem de Nossa Senhora de
Guadalupe do Mé xico, que foi transmitida por rá dio em 12 de outubro
de 1945. O Santo Padre disse: “E assim aconteceu , como a Hora do
Senhor soou para as numerosas regiõ es de Anahuac. O mundo acabava
de se abrir quando, perto do lago de Texcoco, o milagre loresceu. Sobre
o ' tilma' do mais pobre Juan Diego, como diz a tradiçã o, os pincé is que
nã o eram daqui deixavam pintada a imagem mais doce e que a obra
corrosiva dos sé culos respeitaria maravilhosamente ”.23
Alé m disso, em 12 de outubro de 1961, na celebraçã o do
qü inquagé simo aniversá rio do Padroado da Virgem de Guadalupe sobre
toda a Amé rica Latina, o Papa Joã o XXIII declarou:
A sempre Virgem Santa Maria, Mã e do Deus verdadeiro, por quem se
vive, derrama sua ternura e delicadeza maternal no morro de Tepeyac,
con iando ao indı́gena Juan Diego Sua mensagem com algumas rosas
que caı́ram de seu “ tilma ”, enquanto sobre ele Seu retrato mais doce,
que nenhuma mã o humana pintou, permanece. Assim, Nossa Senhora
quis continuar a demonstrar a sua vocaçã o de Mã e: Ela, com o
Seu rosto mestiço , entre o Indı́gena Juan Diego e o Bispo Zumá rraga,
como se simbolizasse um beijo de duas raças. . . . Primeira Mã e e
Padroeira do Mé xico, depois da Amé rica e das Filipinas;24 e assim o
sentido histó rico de sua mensagem foi adquirindo sua plenitude,
enquanto ela abria seus braços para todos os horizontes em um desejo
universal de amor.25
O Papa Paulo VI, em 12 de outubro de 1970, septuagé simo quinto
aniversá rio da Pontifı́cia Coroaçã o da Imagem, exclamou: “A devoçã o à
Santı́ssima Virgem de Guadalupe, tã o profundamente enraizada no
coraçã o de cada mexicano e tã o intimamente unida à A sua naçã o
histó rica, depois de quatro sé culos, continua preservando entre vó s a
sua vitalidade e o seu valor, e deve ser uma exigê ncia constante e
particular de uma autê ntica renovaçã o cristã para todos ”.26
O Papa Joã o Paulo II sempre declarou a grande importâ ncia do Evento
Guadalupano como o fato histó rico que deu frutos de salvaçã o. Desde a
sua primeira visita pastoral ao Mé xico, em 1979, foi direto e preciso ao
falar de Santa Maria de Guadalupe como aquela que iluminou o
caminho da evangelizaçã o. Disse nessa ocasiã o: “Nossa Senhora de
Guadalupe, venerada no Mé xico e em todos os paı́ses como a Mã e da
Igreja na Amé rica Latina, é para mim alegria e fonte de
esperança. Estrela da Evangelizaçã o, deixe-a ser seu guia. ”27Alé m
disso, para o Santo Padre, Juan Diego cumpriu uma missã o muito
importante no inı́cio deste evento. O Santo Padre disse: “Já que o
indı́gena Juan Diego falava da doce Senhora de Tepeyac, Tu, Mã e de
Guadalupe, entra, em sentido verdadeiro, na vida cristã do povo
mexicano”.28
Há muito tempo os bispos do Mé xico e da Amé rica Latina pediam a
canonizaçã o de Juan Diego, mas só depois que o arcebispo do Mé xico,
Ernesto Corripio Ahumada, deu inı́cio aos trâ mites, o processo foi
iniciado. Em 7 de janeiro de 1984, na Bası́lica Nacional de Guadalupe,
presidiu a cerimô nia de inı́cio do Processo Canô nico para o Servo de
Deus Juan Diego, o humilde mensageiro indı́gena da Virgem de
Guadalupe. Ele concluiu seus procedimentos em 23 de março de 1986.
Pouco tempo depois, toda a documentaçã o foi entregue à Congregaçã o
para as Causas dos Santos, que aprovou o trabalho.29Alé m disso, o
Arcebispo Corripio reuniu 21 especialistas em histó ria, investigadores
e especialistas no Evento Guadalupano, eu entre eles, com o abade da
é poca - Mons. Guillermo Schulenburg - discutir todos os aspectos a
favor e contra a Causa de Juan Diego. O evento aconteceu no dia 9 de
outubro de 1989, na sala de conferê ncias da Arquidiocese do
Mé xico. Era importante conhecer todos os diferentes pontos de vista
para analisar nã o só a personalidade de Juan Diego, mas també m a
oportunidade de dar continuidade à Causa. Qualquer opiniã o poderia
ser expressa com total liberdade, a favor ou contra, e a conclusã o era:
“Nenhuma opiniã o foi emitida contra a existê ncia fı́sica do Servo de
Deus. Sua reputaçã o, virtudes e veneraçã o foram profundamente
discernidas e con irmadas como positivas ”.30
A Positio , aprovada em 1990, foi elaborada de acordo com as normas e
diretrizes da Congregaçã o para as Causas dos Santos,31depois de ter
percorrido um longo caminho de exames e tribunais, especialmente de
historiadores, teó logos, bispos e cardeais que con irmaram que Juan
Diego era venerado desde “tempos imemoriais”. Isso se manifestou por
todos os tipos de objetos, como imagens e desenhos de Juan Diego, nos
quais ele é representado com um halo em cá lices, pú lpitos, altares,
pinturas de testemunhos milagrosos e oferendas. Vá rios sã o os
documentos que a irmam que Juan Diego foi um bom e santo ı́ndio
cristã o, como veremos adiante. Em 1746, Cayetano de Cabrera y
Quintero, em seu livro Escudo de Armas, assim o expressava: “Até o
mesmo indı́gena que visitava o Santuá rio con iava nas oraçõ es de seu
conterrâ neo, vivo e depois morto e sepultado. Eles o viam como um
intercessor diante de Maria Santı́ssima para obter suas petiçõ es ”. 32
Em 9 de abril de 1990, no Decreto de Beati icaçã o, o Santo Padre Joã o
Paulo II reconheceu a vida de santidade e veneraçã o atribuı́da a Juan
Diego desde tempos imemoriais. Durante sua segunda visita apostó lica
ao Mé xico, em 6 de maio, o Santo Padre presidiu na Bası́lica de
Guadalupe a solene celebraçã o em homenagem ao beato Juan Diego,
inaugurando a forma de veneraçã o litú rgica que deve ser prestada aos
humildes e obedientes indı́genas, mensageiro da Virgem de Guadalupe.
O Santo Padre a irmou que
Juan Diego é um exemplo para todos os ié is porque nos mostra que
todos os seguidores de Cristo, qualquer que seja sua condiçã o ou
estado, sã o chamados pelo Senhor à perfeiçã o da santidade pela qual o
Pai é perfeito, cada um a seu modo.33Juan Diego, obedecendo
cuidadosamente ao impulso da Graça, seguiu ielmente a sua vocaçã o e
se submeteu totalmente à vontade de Deus, segundo a forma como se
sentia chamado pelo Senhor. Isso se destacou pelo seu terno amor à
Santı́ssima Virgem Maria, a quem sempre manteve presente e venerou
como Mã e, e se submeteu aos cuidados da sua casa com atitude
humilde e ilial. Nã o é de estranhar que muitos ié is o vissem como um
santo em vida e lhe pedissem que os ajudasse com suas oraçõ es. Esta
fama de santidade continuou apó s a sua morte, por isso existem
muitos testemunhos da sua veneraçã o, que demonstram
su icientemente que os cristã os se referiam a ele como um santo, e
como tal conhecido, foram dados os sinais de veneraçã o que
normalmente sã o reservados aos Beatos e os Santos. Isso també m é
evidente nos monumentos, nos quais a igura de Juan Diego pode ser
vista adornada com uma auré ola e outros sinais de santidade. E
verdade que tais sinais de veneraçã o se manifestaram sobretudo logo
apó s a morte de Juan Diego, mas ningué m pode negar que ainda
perduram até hoje. Entã o, com certeza, há um testemunho congruente
de uma veneraçã o peculiar dada sem interrupçã o a Juan Diego. Tendo
muitos bispos e cristã os laicos, principalmente mexicanos, o
solicitaram, a Congregaçã o para as Causas dos Santos procurou
recolher os documentos que ilustram a vida, virtudes e fama da
santidade de Juan Diego e mostraram a veneraçã o que lhe foi
concedida, que acertadamente investigou, concluiu com a Positio sobre
a santidade de Juan Diego, de suas virtudes e veneraçã o que foi dada a
ele desde tempos imemoriais.34
O trabalho da Congregaçã o para as Causas dos Santos é altamente
pro issional. Lá trabalham os maiores especialistas no assunto, fazendo
todos os procedimentos de forma meticulosa e detalhada, nã o deixando
nenhuma dú vida obscura, nenhuma pergunta sem resposta, mesmo que
isso signi ique ir alé m do procedimento normal como está
escrito. Como em todos os casos que foram apresentados ao longo da
histó ria, a Congregaçã o nã o negligenciou nenhuma das dú vidas ou
objeçõ es que se apresentaram na Causa de Canonizaçã o de Juan
Diego. Assim, foi arranjado que, junto com a Arquidiocese do Mé xico,
fosse formada uma comissã o histó rica, que conduziria uma
investigaçã o de acordo com o mé todo cientı́ ico histó rico e sob as
normas da Congregaçã o. Esta comissã o foi liderada pelo P. Dr. Fidel
Gonzá lez, doutor em histó ria da Igreja, consultor da Congregaçã o para
as Causas dos Santos, professor da Pontifı́cia Universidade Gregoriana e
da Pontifı́cia Universidade Urbaniana, especialista em histó ria da Igreja
latino-americana ; eu, P. Dr. Eduardo Chá vez, doutor em histó ria da
Igreja, diretor acadê mico de estudos do Pontifı́cio Colé gio Mexicano,
membro da Sociedade Mexicana de Histó ria Eclesiá stica, membro
fundador do Instituto Superior de Estudos Guadalupanos e pesquisador
especializado do Arquidiocese do Mé xico; e Mons. José Luis Guerrero,
cô nego da Bası́lica de Guadalupe, advogado em direito civil e canô nico,
investigador e professor, homem de vasta formaçã o e grande
especialista no Evento Guadalupano, e diretor do Instituto Superior de
Estudos Guadalupanos.
Esta comissã o histó rica recolheu tudo o que foi feito ao longo dos
sé culos, investigou novamente em arquivos e bibliotecas de vá rias
partes do mundo, analisou nã o só dú vidas e objeçõ es que alguns
colocaram a seus pró prios interesses, mas també m estudou e analisou a
tradiçã o oral contı́nua e ininterrupta. que ainda hoje se conserva na
memó ria do povo, a fontes documentais como mapas, có dices, anais,
testemunhos, cançõ es, narraçõ es antigas, os chamados Nican
Mopohua e Nican Motecpana, a Información de 1556, as Informaciones
Jurídicas de 1666 , os escritos importantes dos primeiros frades
missioná rios e muitos mais documentos. Assim como foram levadas em
consideraçã o dú vidas e objeçõ es, també m o foram as novas
contribuiçõ es e a irmaçõ es a favor desse fato histó rico, vindas dos mais
diversos pesquisadores, cientistas e especialistas do Evento
Guadalupano. O trabalho foi um esforço de vá rios anos, analisando,
estudando e investigando sob o mé todo cientı́ ico histó rico, e colocando
cada fonte histó rica em seu devido valor e natureza em sua
convergê ncia. Sob as normas precisas da Congregaçã o para as Causas
dos Santos, os resultados da investigaçã o cientı́ ica foram aprovados em
28 de outubro de 1998, a irmando e con irmando a verdade sobre o
acontecimento de Guadalupan e sobre a missã o do humilde Indı́gena,
modelo Juan Diego de santidade, que depois de 1531 difundiu a
mensagem de Nossa Senhora de Guadalupe com a sua palavra e com o
testemunho exemplar da sua vida.
Mais um passo foi dado, pedindo à Congregaçã o que fossem publicados
os resultados essenciais e mais importantes da investigaçã o da
comissã o histó rica. Graças a isso o livro, com o tı́tulo El Encuentro de la
Virgen de Guadalupe e Juan Diego, 35 foi publicado em 1999.
A Congregaçã o con iou a alguns doutores e professores de histó ria da
Igreja das mais prestigiosas universidades pontı́ icas, especialistas do
Mé xico e da Amé rica Latina, uma aná lise lenta e meticulosa deste
livro. Sua aceitaçã o foi unanimemente positiva e laudató ria, tanto na
essê ncia da histó ria do Evento Guadalupan, especialmente sobre Juan
Diego, como també m sobre a metodologia cientı́ ica utilizada na
investigaçã o.
P. Alberto Gutié rrez, SJ, Doutor em Histó ria da Igreja, por exemplo,
declarou:
Este é um esforço colossal para reunir toda a documentaçã o escrita e
oral [tradiçõ es] sobre o fato da apariçã o da Santı́ssima Virgem e do vi-
sioná rio, Juan Diego Cuauhtlatoatzin. Alé m da exemplar consulta do
arquivo, e pelo que se pode dizer, uma vasta e exaustiva bibliogra ia
sobre o tema Guadalupe [a favor e contra as apariçõ es e a existê ncia de
Juan Diego]. Os documentos de origem indı́gena, espanhola e mista sã o
apresentados ordenadamente e sem prejuı́zo de seleçã o ou
interpretaçã o premeditada. Acredito que deva ser a irmado que essas
fontes conduzem a uma certeza histó rica inegá vel sobre o fato das
apariçõ es da Virgem Maria a uma pessoa real, que foi o indı́gena Juan
Diego, nã o só por sua variedade e convergê ncia, mas també m por causa
de a forma transparente como sã o apresentados e contextualizados.36
Outro grande especialista, professor e doutor em histó ria da Igreja, é P.
Eutimio Sastre Santos, que apó s uma longa elaboraçã o de todos os
elementos que compõ em o seu julgamento da investigaçã o realizada,
concluiu: “A questã o, se com tal documentaçã o se pode ter uma
con irmaçã o signi icativa da histó ria de Juan Diego, respondo:
A irmativa ”.37
P. Willi Henkel, um dos historiadores mais conhecidos no meio
internacional, també m deu suas conclusõ es apó s a publicaçã o da
investigaçã o cientı́ ica, como mencionamos, no livro El Encuentro de la
Virgen de Guadalupe e Juan Diego. Ele a irmou fortemente que
Sejam as fontes indı́genas ou espanholas, elas nos mostram que desde
o inı́cio da segunda metade do sé culo XVI existiam elementos
histó ricos vá lidos sobre as apariçõ es e a pessoa de Juan Diego. O
livro El Encuentro apresentou fontes su icientes. As tradiçõ es orais e
escritas continuaram existindo desde 1531. As apariçõ es de Nossa
Senhora de Guadalupe eram bem conhecidas no sé culo XVI. A
veneraçã o cresceu com o passar do tempo e chegou a Roma, onde o
Papa Gregó rio XIII concedeu indulgê ncias em 1573. No decorrer dos
sé culos seguintes, a veneraçã o continuou sempre a crescer. Juan Diego
está inseparavelmente unido à veneraçã o de Nossa Senhora de
Guadalupe. Esse conhecimento é baseado em uma histó ria
só lida. Vá rios papas, como Gregó rio XIII, Bento XIV, Leã o XIII e Joã o
Paulo II, reconheceram e con irmaram a veneraçã o de Nossa Senhora
de Guadalupe. Eles con iaram a proteçã o do povo latino-americano a
Nossa Senhora de Guadalupe.38
Vá rios dos documentos histó ricos falam-nos da importâ ncia do
Santuá rio de Guadalupe, a veneraçã o da Imagem que está impressa ou
estampada no tilma de Juan Diego. Sã o també m uma parte importante
da convergê ncia das fontes histó ricas que nos falam da existê ncia de
Juan Diego, bem como de sua fama de santidade, e devem ser levadas
em consideraçã o. Percebe-se a importâ ncia desta devoçã o centená ria.
Certamente os pontı́ ices con irmaram ao longo dos sé culos a
importâ ncia do Evento Guadalupano, que marcou a histó ria.
Em 1999, o Papa Joã o Paulo II rea irmou com grande vigor a
importâ ncia da mensagem de Guadalupe veiculada por Juan Diego e
con irmou a perfeita Evangelizaçã o que nos foi dada por Nossa Mã e,
Maria de Guadalupe. O Papa declarou: “E a Amé rica, que historicamente
foi e é um caldeirã o de gente, reconheceu no semblante mestiço da
Virgem de Tepeyac,. . . em Santa Maria de Guadalupe,. . . um grande
exemplo de Evangelizaçã o, perfeitamente inculturado. . . . Por isso, nã o
só no centro e no sul, mas també m no norte do continente, a Virgem de
Guadalupe é venerada como Rainha de toda a Amé rica ”.39O Papa
con irmou a força e a ternura da mensagem de Deus por meio da
Estrela da Evangelizaçã o, Santa Maria de Guadalupe, e do Seu iel,
humilde e verdadeiro mensageiro, Juan Diego, em quem Ela depositou
toda a sua con iança: um momento histó rico para o Evangelizaçã o do
povo. O Santo Padre rea irmou que “A apariçã o de Maria ao indı́gena
Juan Diego, no morro do Tepeyac, em 1531, teve uma repercussã o
decisiva na evangelizaçã o. Essa in luê ncia ultrapassa os limites da
naçã o mexicana, atingindo todo o continente. . . . Santı́ssima Maria é
invocada como 'Padroeira de toda a Amé rica e Estrela da primeira e
nova Evangelizaçã o ”.40
Para melhor compreender este grande acontecimento Guadalupano e a
missã o de Juan Diego, é importante ter presente o contexto em que se
deu, que foi em certo sentido trá gico mas ao mesmo tempo cheio de
esperança. Ou seja, em meio à tremenda depressã o indı́gena, no
dramá tico momento da conquista e na inquietante consciê ncia dos
espanhó is da é poca, surgiu uma nova naçã o. Foi precisamente nesse
momento que se desenvolveu a devoçã o à Virgem de Guadalupe e ao
seu papel na histó ria da humanidade e, como o viu o Papa Joã o Paulo II,
fez deste evento um modelo de “Evangelizaçã o perfeitamente
inculturada”. Sua mensagem é cheia de esperança e Juan Diego foi seu
portador.
Mas entremos, ainda que por meio de alguns esboços, no
reconhecimento dos passos iniciais que a Evangelizaçã o realizou com
os primeiros frades missioná rios, um pouco depois dos momentos
dramá ticos e chocantes que a conquista signi icou.

CAPÍTULO UM

Durante o trauma da conquista e a morte de seus ídolos, os


primeiros passos da evangelização estavam sendo dados
Sem dú vida, no primeiro esforço de evangelizar o Mé xico, o trabalho
dos missioná rios foi extraordiná rio.41Poré m, o trauma da Conquista
durou, inevitavelmente, muito tempo entre os indı́genas. O especialista
na cultura Ná huatl, Miguel Leó n-Portilla, conta-nos que “Aqueles que se
consideravam invencı́veis, os povos do sol, os mais poderosos da
Amé rica Central, tiveram que aceitar a derrota. Seus deuses estavam
mortos, perdidos estavam seu governo e autoridade, fama e gló ria; a
experiê ncia da Conquista signi icou mais do que uma tragé dia, foi
cravada em suas almas e sua memó ria tornou-se um trauma ”.42Os ecos
do triste e sombrio Canto Mexicano soavam na desolada Aná huac:
O grito se espalha, as lá grimas caem lá em Tlatelolco.
O mexicano saiu pela á gua;
Parecem mulheres, o vô o é geral.
Onde nó s podemos ir? Oh, amigos! Entã o, era verdade?
Agora eles abandonam a cidade do Mé xico.
A fumaça está subindo, a né voa está se espalhando. . .
Chorem meus amigos,
entendam que com esses fatos
perdemos a naçã o mexicana.
A á gua está azeda, a comida está azeda!
Isso é o que o Doador da Vida fez em Tlatelolco.
Assim, com grande dor e profunda depressã o, a naçã o indı́gena gritou
ao vento logo apó s a Conquista. Miguel Leó n-Portilla a irma que “A
maneira como a antiga naçã o do Mé xico se perdeu é lembrada com
dramatismo”.43
E com angú stia, alguns padres indı́genas gemeram:
O que devemos fazer entã o,
nó s que somos homens pequenos e mortais;
se morrermos, vamos morrer;
se perecemos, pereçamos;
a verdade é que os deuses també m morreram.44
Aqui se resume o grande trabalho e o grande desa io que os
missioná rios tiveram que enfrentar, pois deveriam fazer algo para que
os ı́ndios sobrevivessem e, ao mesmo tempo, tirassem os ı́dolos
indı́genas, que, na perspectiva dos missioná rios , foram a fonte de sua
perdiçã o.
Frei Geró nimo de Mendieta nos fala sobre a preocupaçã o dos frades,
desde o inı́cio da Evangelizaçã o, em afastar os ı́dolos dos indı́genas. Os
missioná rios tentaram milhares de maneiras de se fazerem entender,
mas “nem os indı́genas entenderam o que lhes era dito em latim, nem
suas idolatrias pararam, nem os frades puderam repreendê -los por
isso, nem usar mé todos convenientes para se livrar de os ı́dolos porque
eles nã o sabiam sua lı́ngua. E isso manteve os missioná rios muito
infelizes e preocupados. ”45Mendieta escreveu que os missioná rios
estavam convencidos de que, se a idolatria continuasse, seu trabalho
seria em vã o. Eles reclamaram que enquanto os indı́genas eram
enviados para construir casas para os espanhó is, a idolatria continuava
sem soluçã o. Os frades avisaram que “Por isso, os negó cios correram
normalmente, a idolatria permaneceu; e, acima de tudo, vimos que,
enquanto os templos dos ı́dolos permaneciam, era uma perda de
tempo e eles trabalharam em vã o ”.46
Os 12 franciscanos nã o estavam no Novo Mundo há um ano quando
decidiram, com grande ousadia, motivados por seu fervor religioso, que
eles pró prios destruiriam os templos e os ı́dolos, mesmo que isso
custasse suas pró prias vidas. E assim izeram, com muita determinaçã o,
aproveitando a escuridã o da noite e sendo ajudados pelas crianças e
pelos jovens que catequizavam nas aulas. Em 1o de janeiro de 1525,
eles começaram sua destruiçã o religiosa em Texcoco e, mais tarde,
continuaram no Mé xico, Tlaxcala e Huejozingo. Motolinia nos oferece
detalhes dessa primeira “batalha” contra os ı́dolos:
A idolatria continuou grande como sempre, até o primeiro dia de 1525,
que foi em um domingo. O maior nú mero e maior teocallis, templos de
demô nios, icavam em Texcoco e era també m o mais cheio de
ı́dolos. Houve muitos papas e ministros. Naquela noite, das 10 até o
amanhecer, trê s Frades assustaram e expulsaram todos os que estavam
nas casas e corredores dos demô nios. Naquele dia, apó s a missa, foi
feita uma palestra, lamentando muito os assassinatos, e ordenando-
lhes, em nome de Deus e do Rei, que nã o o izessem novamente, caso
contrá rio seriam punidos conforme Deus ordenou que fossem
punidos. Esta foi a primeira batalha contra o diabo, e depois no Mé xico
e seus arredores, e em Coauthiclan [Cuauhtitlá n].47
Com isso podemos ver que destruir, desde a fundaçã o, as garras da
ignorâ ncia e do demô nio, que a idolatria indı́gena representava para
eles, era o desa io, nã o só para os religiosos, mas també m para todos os
bons cató licos espanhó is do sé culo XVI. porque se os indı́genas
continuassem a adorar falsos deuses, seus esforços para evangelizar
seriam em vã o.
Nesse contexto, pode-se entender melhor por que os primeiros
missioná rios calaram-se sobre o acontecimento de Guadalupan, já que
estavam diante do fenô meno da Apariçã o de uma Virgem Mã e no exato
lugar onde era venerada a mã e dos deuses: Coatlicue Tonantzin, um
velho asteca divindade, que tinha seu templo em Tepeyac. No entanto,
um desses primeiros missioná rios, Frei Bernardino de Sahagú n, nã o
podia se calar sobre o que para ele era de initivamente uma “invençã o
satâ nica, para atenuar a idolatria”.48
Desde a nossa compreensã o atual do que realmente é a Virgem de
Guadalupe, tanto o silê ncio daqueles primeiros missioná rios como o
ataque direto de alguns deles, como o franciscano Frei Bernardino de
Sahagú n, cujo fragmento mais importante já mencionamos, ou Frei
Francisco de Bustamante, que analisaremos mais tarde, pareceria
aparentemente negativo para nossa devoçã o. No entanto, nã o é assim,
na verdade ajuda-nos a compreender e provar que a Imagem de
Guadalupe nã o foi trazida pelos espanhó is, nem foi uma devoçã o
imposta pelos devotos do Guadalupana da Extremadura, Espanha, aos
indı́genas, mas que realmente surge em Tepeyac.

Os frades franciscanos antes do antitestimônio de seus


compatriotas católicos
Enquanto os missioná rios franciscanos, por causa de seu fervor
religioso, destruı́am templos e ı́dolos indı́genas, sempre justi icando
sua atitude paternal, dizendo que era para o bem e a salvaçã o dos
indı́genas, alguns de seus conterrâ neos espanhó is, ao contrá rio, os
escravizaram, usando o argumento implacá vel de que os indı́genas nã o
eram seres humanos, portanto nã o tinham o direito de possuir nada e
de que deveriam se submeter. Para esses espanhó is, que se
autodenominavam cristã os, os indı́genas eram apenas objetos de uso
para obter fortunas fá ceis. Essa escravidã o teve um grande impacto. Os
missioná rios estavam cientes das atitudes negativas e desastrosas e do
antitestimô nio de seus conterrâ neos.
Depois de muitos incidentes, em 27 de agosto de 1529, o pró prio Frei
Juan de Zumá rraga escreveu ao rei e imperador Carlos V com grande
angú stia sobre como estava a situaçã o na Nova Espanha, tendo
testemunhado ultrajes e injustiças que estavam sendo cometidos por
alguns espanhó is. (Isso foi apenas um ano e quatro meses antes da
apariçã o.) Mas vejamos algumas dessas notı́cias que o bispo Zumá rraga
transmitiu:
Os nativos estã o muito tristes e magoados, nã o só porque suas
propriedades foram tiradas deles, mas també m porque sua cidade foi
destruı́da para que eles procurem outro lugar para morar. Alé m disso,
eles [os espanhó is] tiram a á gua do engenho, cabia [aos indı́genas]
irrigar suas fazendas e canteiros. Os pobres indı́genas daquela cidade -
sem á gua nã o há como eles sobreviverem. O advogado Delgadillo fez a
mesma coisa - na cidade de Tacuba ele construiu um pomar murado
com muitas á rvores e lores, que pertencia a outro homem, contra a
vontade dele. Lá ele está construindo uma casa de repouso muito
confortá vel. Na mesma cidade de Tacuba, o advogado Matienzo ocupou
um lugar també m contra a vontade do dono, onde agora faz engenhos,
incrı́veis. Eu aponto isso, sem muitas outras coisas: fazendas, lugares
onde tem seu gado nas melhores terras, cai sobre quem for, seja como
for. Concluo, portanto, dizendo que estã o bem apetrechados com
terras, abundantes indı́genas que os servem, escravos nas minas que
lhes levam ouro e grandes posses de ovelhas, vacas e cavalos.49
Alé m do mais, a corrupçã o era terrivelmente comum, mesmo em altos
cargos. Zumá rraga acrescentou que “cargos governamentais tê m sido
atribuı́dos a amigos, parentes e funcioná rios que nã o possuem a
formaçã o acadê mica ou a experiê ncia exigida. A maioria deles nã o
possui a formaçã o moral necessá ria para a superioridade dessa
posiçã o. Isso foi feito para preencher suas mã os, dando-lhes a
oportunidade de roubar e enriquecer rapidamente, e eles aproveitaram
seus empregos para obter fazendas secretas e outras coisas que
encontraram. ”50
Zumá rraga nã o só foi incapaz de fazer qualquer coisa em relaçã o aos
assaltos e crimes dos espanhó is, mas també m foi ameaçado por eles. O
arcebispo continuou com sua descriçã o dos acontecimentos:
E porque penso que nada deve ser escondido de Vossa Majestade, digo-
lhe que os Senhores de Tlaltelolco vieram a mim, chorando tanto, que
senti pena deles. Eles reclamaram que o presidente e os juı́zes haviam
pedido suas ilhas, irmã s e parentes que eram bonitos e outro homem
me disse que Pilar havia pedido a ele oito meninas que eram bem
dispostas para o presidente. Disse a um padre guardiã o, que era meu
inté rprete, para dizer-lhes que nã o entregassem as meninas ao
pecado. Como consequê ncia, supostamente, eles queriam enforcar um
desses homens. Alé m disso, contei ao Padre Guardiã o do Mosteiro de
Sã o Franciscano e ele caridosamente disse ao Presidente, que me
enviou uma amá vel ameaça perguntando se eu achava sá bio perguntar
sobre sua vida e outras coisas. E porque vi sua desilusã o com as
advertê ncias que muitas vezes iz em segredo sobre os maus-tratos aos
ı́ndios, os furtos, o mau governo e o uso indevido dos recursos naturais,
eles tomariam a posiçã o que Vossa Majestade me concedeu. Tendo me
colocado diante de Deus e de Vossa Majestade em meus sermõ es, à s
vezes falava sobre todas essas coisas em geral, alertando-os de que
contaria a Vossa Majestade sobre isso, já que você me ordenou que o
izesse, e eu tinha que dizer a verdade , e me dei bem com Vossa Alteza,
cuja intençã o era como eu já havia falado. O presidente disse que com
muitos cristã os à sua mesa, ele disse que se ele estivesse presente, ele
me jogaria para fora do pú lpito, e eles disseram que porque eu
geralmente os repreendia, eles pararam de ir aos meus sermõ es. Aos
domingos, costumam ir a banquetes com muita gente e vã o de casa em
casa, chamando mulheres e obrigando-as a sair de casa, e aı́ acontecem
muitas coisas desonestas e ilı́citas.51
Aqui você pode ver claramente porque Frei Juan de Zumá rraga, mesmo
sendo bispo da Cidade do Mé xico, se sentia impotente diante de todos
esses desastres e abusos cometidos por alguns dos espanhó is,
especialmente por aqueles que estavam no comando do governo da
capital. . Roubos, crimes e corrupçã o eram suas leis, assim como
maltratar os indı́genas para satisfazer todos os tipos de interesses.
O bispo do Mé xico, ciente de que nã o havia soluçã o humana, rogou a
Deus que interviesse, dizendo: “Da mesma forma, penso que é bom
informar Vossa Majestade o que está acontecendo agora, porque é algo
que é tã o importante, que se Deus nã o providenciar um remé dio de
Suas mã os, esta terra está para ser totalmente perdida. ”52
Zumá rraga nã o foi o ú nico que pensou assim ou viu coisas
assim. Todos os primeiros missioná rios coincidiram neste tema, assim
como o frade franciscano Geró nimo de Mendieta, que també m nos
oferece sua versã o dos fatos, e comenta em sua obra Historia
Eclesiástica Indiana, no livro 1, capı́tulo 9, que intitulou De. la ocasión
que los indios de Cumaná y Maracapana tu-vieron para aborrecer los
cristianos, y destruir los monasterios que tenían, matando los religiosos
eles tinham, matando os religiosos]. Mendieta disse: “Infelizmente
muitos indı́genas se voltaram contra os frades, porque os espanhó is
tentaram abusar deles. Entre os mais crué is estava Alonso de Ojeda,
que se instalou perto do convento e que os Frades acolhem como fazem
a todos, oferecendo hospitalidade. Ele ligou para o Maraguai,
o cacique da cidade, e pediu informaçõ es aos ı́ndios para quem
apontou. Ojeda perguntou se havia canibais, o que ofendeu os
indı́genas, mas ele disse que nã o. Ojeda pegou um barco e chegou ao
povoado de Maracapana, e tendo sido recebido pelos ı́ndios como se
fosse um anjo, disse a eles que queria comprar coisas. Com engano,
levou um carregamento de milho com vá rios ı́ndios que esperavam seu
pagamento, mas a ú nica coisa que fez foi amarrá -los e tomá -los como
escravos. Alguns que resistiram foram esfaqueados. 53
Mendieta continuou descrevendo no capı́tulo 11, que intitulou De la
consid-eración que se debe tener cerca de este desastrado acaecimiento y
de otros seme-jantes, si han acontecido o acontecieren en Indias [ Da
consideração que se deve ter sobre este desastroso acontecimento , e
outros semelhantes, se ocorreram ou ocorreram nas Índias ]. O frade
disse: “Bem, eu sei que nem todos podem aceitar ou se agradar com
este assunto, e por isso, em parte, se fosse possı́vel, eu gostaria de nã o
tocar nele; mas nã o posso evitar tropeçar nisso a cada passo que dou,
por ser um negó cio tã o comum nas Indias, e que tem impedido
totalmente a conservaçã o e a salvaçã o de inú meras pessoas que em
pouco tempo foram consumidas ”.54Mendieta continuou explicando
com irmeza que os indı́genas eram “o povo mais manso, pacı́ ico e
modesto que Deus criou. No inı́cio, quando os espanhó is chegaram em
suas terras, nunca deixaram de recebê -los com o maior amor e
benevolê ncia, até que os espanhó is os escravizaram e os ı́ndios
aprenderam ”.55
O franciscano continuou descrevendo no livro 3, capı́tulo 50 de sua
obra, que intitulou De las grandes persecuciones que los primeros
religiosos padecieron por parte de sus hermanos españoles [ Das grandes
perseguições que sofreram os primeiros religiosos em nome de seus
irmãos espanhóis ] . Ele disse,
Como os espanhó is daquela é poca se viam como senhores de uma
terra tã o extensa, povoada por incontá veis povos, e todos eles
subjugados e obedientes ao que quer que os espanhó is quisessem
ordenar, os espanhó is viviam abusivamente, cada um como desejava e
imaginava, exercitando-se todos os tipos de vı́cios. Tratavam os ı́ndios
com tal aspereza e crueldade que papel e tempo nã o bastariam para
contar todas as humilhaçõ es que lhes izeram em particular. Nã o
podendo acompanhar os espanhó is, vendiam as terras que possuı́am a
mercadores usurá rios [que havia entre eles]. Eles venderam os ilhos
dos pobres, que se tornaram escravos. . . . Os Frades, vendo como era
incô modo para os ı́ndios passar por essas humilhaçõ es e depois amar
nossa fé e religiã o cristã , pregavam contra os vı́cios e pecados
cometidos em pú blico, e os repreendiam pú blica e pessoalmente
cabalmente. Liberdade cristã . Quando os governantes [que també m
participaram desses crimes e de outros piores, como escravizar as
pessoas como desejassem] viram isso, se voltaram contra os Frades
como se fossem terrı́veis inimigos, levando nã o só as esmolas que
antes davam, mas alé m disso, tentando desonrá -los e falar mal deles ao
povo, a ligindo-os també m de todas as maneiras possı́veis. Temendo
que os Frades avisassem o Rei sobre suas tiranias, eles encarregaram
guardas de interromper todas as estradas e trilhas para que a notı́cia
nã o pudesse passar. Dessa forma, eles impediram que algué m
recebesse cartas de religiosos sem antes ler para si mesmo as
cartas. Visitavam os navios e conferiam tudo, procurando cartas dos
Frades. Nã o contentes com isso, caso houvesse alguma dú vida, à s
custas dos inocentes, para que nã o fossem culpados se uma de suas
cartas chegasse ao Rei, ingiriam ser as testemunhas e escreveriam
relató rios desonrando os santos O Bispo e os Frades com coisas feias
alé m de sua imaginaçã o.56
Os primeiros missioná rios izeram um trabalho verdadeiramente
admirá vel na defesa dos indı́genas, denunciando as injustiças, tentando
evangelizar os indı́genas com os princı́pios cató licos do sé culo
XVI. Muitos dos indı́genas foram convertidos, graças aos frades; seu
testemunho e seu grande esforço estavam dando frutos. Seu catecismo
e seus ensinamentos foram se formando aos poucos. Lembre-se de que
Juan Diego foi convertido à fé cató lica graças a eles. Sem dú vida, os
primeiros missioná rios constituı́ram uma das condiçõ es bá sicas para a
evangelizaçã o dos habitantes das novas terras recentemente
descobertas. Mas o trabalho foi imenso e em muitos aspectos fora de
seu controle, nã o só no que diz respeito à Evangelizaçã o dos Indı́genas,
mas també m, como mencionamos, à conversã o de seus pró prios
conterrâ neos. Foi um trabalho titâ nico e, ao mesmo tempo,
compreensivelmente limitado. Por essas razõ es, o que disse o Bispo do
Mé xico, Frei Juan de Zumá rraga, é muito verdadeiro: “se Deus nã o der
um remé dio de suas mã os, esta terra está para se perder”. A escuridã o
mais completa regou o Aná huac.
O conhecimento dos pontos essenciais deste forte impacto para todos, a
mistura de ideias religiosas, que sã o o eixo central da Conquista, as
caracterı́sticas marcantes de cada cultura, bem como a avançada
tecnologia militar dos espanhó is e as disputas no interior do paı́s.
Todos os grupos indı́genas nos ajudam a entender mais sobre e
centralizar o Evento Guadalupan. Ou seja, a situaçã o decorrente da
Conquista e a discó rdia existente entre os espanhó is tornavam
impossı́vel encontrar uma soluçã o. O domı́nio de um mundo sobre o
outro poderia ter resultado entre os espanhó is, que se sentiam
questionados por sua consciê ncia, e os indı́genas, que manifestaram em
sua dor um profundo fatalismo. Somente uma intervençã o de outra
magnitude poderia criar um novo povo, uma nova raça.

CAPÍTULO DOIS
A estrela da evangelização aparece na escuridão
Dez anos depois da Conquista, a evangelizaçã o destas terras começou
lentamente quando no sá bado, 9 de dezembro de 1531, bem cedo pela
manhã , Juan Diego caminhava para a missa de sá bado pela Virgem
Maria e o catecismo em Tlaltelolco, com a presença de franciscanos do
primeiro convento construı́do entã o na Cidade do Mé xico. Ele havia se
convertido e sido batizado apenas alguns anos antes. Ele nasceu em
Cuauhtitlá n, casou-se com uma indı́gena chamada Marı́a Lucı́a e na
é poca morava na cidade de Tulpetlac com seu tio Juan Bernardino.
Quando o humilde Juan Diego chegou ao sopé da colina chamada
Tepeyac, de repente ouviu belos cantos, harmoniosos e doces, vindos do
alto da colina. Eles pareciam ser um coro de vá rios pá ssaros
respondendo de um lado para outro em um concerto de extraordiná ria
beleza. Ele viu uma nuvem branca e brilhante e um arco-ı́ris
maravilhoso de muitas cores.
O ı́ndio icou hipnotizado, de espanto, e disse para si mesmo: '“Por
acaso sou digno do que vejo? Talvez eu esteja apenas sonhando. Talvez
eu apenas veja isso como se estivesse entre sonhos. Onde estou? Onde
eu me vejo? Talvez eu esteja lá onde nossos antigos ancestrais, nossos
avó s disseram: na terra das lores, na terra do milho, da nossa carne, do
nosso sustento, talvez na terra do cé u? ' Ele estava olhando para lá , no
topo da colina, no lado onde o sol nasce, de onde o precioso canto
celestial está vindo. ”57
Ainda nesse ê xtase, de repente o canto parou e ele ouviu como uma
mulher, doce e delicada, o chamava pelo nome, justamente do alto do
morro. Ela o chamava de: “Juanito, Juan Dieguito”. Sem hesitar, o
indı́gena decidiu ir para onde estava sendo chamado; alegre e feliz ele
começou a subir a colina, e quando chegou ao topo se viu diante de
uma bela Donzela de pé , esperando por ele, e Ela o chamou para se
aproximar. E quando ele se colocou na frente dela, percebeu com
grande espanto, a beleza de seu semblante, sua beleza perfeita: “Seu
vestido brilhava como o sol, como se vibrasse, e a pedra onde Ela
estava, como se lançando raios. Seu esplendor era como pedras
preciosas, como uma joia, tudo o que há de mais belo, Ela era. O chã o
ofuscou com o resplendor do arco-ı́ris no nevoeiro. As mesquitas e os
cactos e todas as outras plantas que normalmente crescem lá pareciam
esmeraldas, a folhagem como turquesas, e seus caules e espinhos
brilhavam como ouro. ”58 Tudo manifestou a presença do cé u.
Juan Diego prostrou-se diante dela e ouviu a voz da doce e graciosa
Senhora do cé u, como na lı́ngua mexicana, Ela disse: “Escuta, meu ilho,
o mais novo, Juanito, para onde vais?” E ele respondeu: “Minha
Senhora, Rainha, Minha Menininha, eu vou lá , à tua casinha no Mé xico,
Tlaltelolco, para seguir as coisas de Deus que nos sã o dadas, que nos
ensinam, por aqueles que sã o a imagem de Nosso Senhor, nossos
sacerdotes. ”59 Desta forma, dialogando com Juan Diego, a preciosa
Donzela disse-lhe quem era e o que queria:
Saiba, esteja certo, meu ilho, o mais pequeno, que eu sou a perfeita
sempre Virgem, Santa Maria, Mã e do verdadeiro Deus para quem se
vive, Criador dos homens, Dono do mais pró ximo e do imediato, Dono
do Cé u e Terra. Quero muito, desejo muito que seja erguida aqui a
minha casinha sagrada, onde O mostrarei, O exaltarei quando O
manifestar, O darei a todas as pessoas no meu amor pessoal, na minha
compassiva vista, em minha ajuda, em minha salvaçã o; porque eu sou
verdadeiramente a tua Mã e compassiva, tua e aqueles homens nesta
terra que sã o um, e o resto das vá rias naçõ es dos homens, meus
amantes que clamam por mim, que me procuram, que con iam em
mim, porque lá eu vai ouvir seu clamor, sua tristeza, para remediar,
para curar todos os diferentes sofrimentos, suas misé rias, suas
dores. E para cumprir o que pretende o meu olhar compassivo e
misericordioso, vá ao palá cio do Bispo do Mé xico, e lhe dirá como o
enviei, lhe dirá que desejo que ele providencie uma casa aqui para mim,
para construir meu templo na planı́cie. Você vai contar a ele tudo, tudo
o que você viu e admirou, e o que você ouviu60
E a Senhora do Cé u fez-lhe uma promessa especial: “Fica tranquilo que
serei muito grato e que pagarei por isso, por isso te enriquecerei, te
glori icarei,61e muito disso você vai merecer. Vou retribuir o seu
cansaço, o seu serviço de ir pedir o assunto que eu te envio. ”62
Assim, de maneira tã o sublime, a Dama do Cé u enviou Juan Diego como
Seu mensageiro antes do chefe da Igreja no Mé xico, o Bispo Frei Juan de
Zumá rraga. O humilde e obediente Juan Diego se prostrou diante dela
no chã o e logo começou a caminhar, direto para a cidade do Mé xico,
para cumprir o desejo da Senhora do Paraı́so.
Chegou à casa do bispo, o frade franciscano Juan de Zumá rraga, e pediu
aos servos e à famı́lia que dissessem ao bispo que trazia uma
mensagem para ele, mas eles, vendo-o tã o humilde e tã o pobre,
simplesmente o ignoraram e o fez esperar. Com in inita paciê ncia, Juan
Diego estava determinado a cumprir sua missã o, entã o
esperou. Quando avisaram o bispo, ele pediu que o ı́ndio fosse trazido à
sua presença. Juan Diego entrou e se ajoelhou diante
dele; imediatamente ele disse a ele tudo o que ele admirou, contemplou
e ouviu; deu-lhe a mensagem da Senhora do Cé u, a Mã e de Deus,
palavra por palavra o que Ela o tinha enviado e qual era a Sua
vontade. Cé tico em relaçã o a suas palavras, o bispo ouviu Juan Diego,
julgando que fazia parte do imaginá rio do indı́gena, principalmente por
ter se convertido recentemente, mas embora lhe izesse muitas
perguntas sobre o que havia contado, viu que o indı́gena tinha sendo
consistente e claro em sua mensagem, o bispo nã o lhe deu muita
importâ ncia, de qualquer maneira. Ele dispensou Juan Diego com
respeito e cordialidade, mas nã o acreditou no que disse. Mesmo assim,
o bispo levou algum tempo para pensar sobre a mensagem. O indı́gena
saiu da casa do bispo muito triste e angustiado, porque percebeu que
suas palavras nã o eram acreditadas e ele havia sido descon iado, e
també m porque nã o cumpriu a vontade de Maria Santı́ssima.
Virgilio Elizondo nos dá uma re lexã o:
Frei Juan de Zumá rraga foi, junto com muitos dos outros missioná rios,
um dos maiores evangelizadores e defensores dos ı́ndios. No entanto,
ele foi igualmente um dos mais ferozes em destruir qualquer coisa que
sugerisse paganismo. Em uma de suas cartas famosas (12 de junho de
1531), ele escreveu que havia destruı́do mais de 500 templos e 20.000
ı́dolos. Ele estava convencido de que primeiro precisava destruir antes
de poder construir a nova igreja. Ele estava tã o ocupado destruindo
templos das divindades indianas, e entã o, aparentemente do nada, este
ı́ndio, este macehual, queria um templo construı́do em Tepeyac, o local
da antiga deusa indiana Tonantzin. Que ridı́culo! Estou surpreso por ele
nã o ter condenado Juan Diego por tal absurdo aparente.63
Juan Diego voltou ao morro, ao mesmo lugar onde a Mã e de Deus lhe
havia aparecido:
e assim que a viu, prostrou-se diante dela, atirou-se ao chã o, disse:
“Pequena padroeira, senhora, rainha, minha ilha, a mais nova, minha
garotinha, já fui para onde tu me enviou para cumprir sua palavra
amá vel. Poré m, mal entrei no lugar do Sacerdote Governante, eu o vi,
apresentei sua palavra diante dele, como você me ordenou. Ele me
recebeu gentilmente e ouviu perfeitamente, mas, a julgar por sua
resposta, ele pode nã o entender, ele nã o considera isso como
verdade. Ele me disse: 'Você virá de novo, vou ouvi-lo com paciê ncia,
desde o inı́cio verei por que você veio, seu desejo, seu desejo'.64
Juan Diego compreendeu que o bispo pensava que ele mentia ou
fantasiava, e com toda humildade disse à Senhora do Cé u:
Rogo-lhe muitı́ssimo, minha senhora, rainha, minha menininha, que
mande uma das nobres pessoas, que é conhecida, respeitada, honrada,
que aceite a sua palavra amá vel para que acredite. Porque sou
verdadeiramente um homem do campo, sou um mecapal, sou
um parihuela, sou um rabo, uma asa; Eu mesmo preciso ser conduzido,
carregado, nã o cabe a mim entrar nem parar ali onde me
mandaste.65 Minha Virgem, minha ilha mais nova, Senhora, Criança,
por favor, desculpe-me, vou a ligir seu semblante, seu coraçã o com
tristeza, vou cair sobre sua raiva, seu descontentamento, Senhora,
minha Senhora.66
A Rainha do Cé u ouviu com ternura e gentileza, mas respondeu com
irmeza aos Indı́genas:
Escute, o menor dos meus ilhos, esteja certo de que nã o sã o poucos os
meus servidores, os meus mensageiros a quem posso con iar a minha
palavra para que cumpram a minha vontade. Mas é necessá rio que
você , pessoalmente, vá , implore, que por sua intercessã o meu desejo,
minha vontade, seja realizado. E peço-lhe muito, meu ilho, o caçula, e
ordeno-lhe com rigor que amanhã volte a ver o Bispo. Faça-o conhecer
para mim, faça-o ouvir o meu desejo, a minha vontade, de construir, de
fazer o meu templo que lhe peço. E repita-lhe como eu, pessoalmente, a
Sempre Virgem Santa Maria, eu, que sou a Mã e de Deus, vos envio.67
Juan Diego, ainda triste com o ocorrido, despediu-se da Senhora do Cé u,
garantindo-lhe que no dia seguinte faria a Sua vontade, embora
duvidasse que sua palavra fosse acreditada. Ainda assim, ele garantiu a
Ela que obedeceria e esperaria. Ele se despediu de Maria Santı́ssima e
foi para casa descansar.
No dia seguinte, domingo, 10 de dezembro, preparou-se muito cedo e
foi direto para Tlaltelolco, e depois de ouvir a missa e assistir ao
catecismo, dirigiu-se à casa do bispo, onde, novamente, os empregados
domé sticos do bispo o izeram esperar muito tempo. Ao entrar, Juan
Diego ajoelhou-se perante o bispo e com lá grimas voltou a dizer-lhe a
vontade da Senhora do Cé u, assegurando-lhe que era a Mã e de Deus, a
Sempre Virgem Maria, quem lhe pedia uma casinha sagrada para ser
construı́do para Ela naquele lugar no Tepeyac. O bispo o ouviu com
grande interesse, mas para veri icar a veracidade da mensagem de Juan
Diego, fez-lhe vá rias perguntas sobre o que ele havia a irmado, sobre
como era a Senhora do Cé u, sobre tudo o que tinha visto e ouvido. O
bispo começou a perceber que aquilo a que Juan Diego se referia nã o
era possı́vel, que tinha sido um sonho ou uma fantasia, mas pediu um
sinal para veri icar a verdade nas palavras do indı́gena. Sem se
aborrecer, Juan Diego aceitou ir até Maria Santı́ssima com o pedido do
bispo. Quando Juan Diego começou a ir embora, o bispo enviou duas
pessoas de con iança para segui-lo, sem perdê -lo de vista, para ver
aonde ia e com quem conversava. Juan Diego chegou a uma ponte de
madeira por onde passava um rio, onde os criados o perderam de
vista; embora o procurassem desesperadamente, nã o conseguiram
encontrá -lo. Os servos icaram muito chateados com o que aconteceu e
quando voltaram disseram ao bispo que Juan Diego era um enganador,
um mentiroso e um feiticeiro. Eles o avisaram para nã o acreditar em
Juan Diego, que ele estava apenas enganando o bispo e que se ele
voltasse merecia ser punido.
Nesse ı́nterim, Juan Diego havia chegado ao Tepeyac e encontrado
Maria Santı́ssima esperando por ele. Juan Diego ajoelhou-se diante dela
e contou-Lhe tudo o que tinha acontecido na casa do bispo, como o
bispo tinha feito todas aquelas perguntas em detalhes sobre o que tinha
visto e ouvido, e pediu-lhe um sinal para poder acreditar no seu
mensagem.
Com amá veis palavras cheias de amor, Maria Santı́ssima agradeceu a
Juan Diego a diligê ncia e o interesse que tinha demonstrado para
cumprir a Sua vontade, e ordenou-lhe que voltasse ao mesmo lugar no
dia seguinte e ali Ela lhe daria o sinal de que o bispo pediu.
No dia seguinte, 11 de dezembro, Juan Diego nã o pô de voltar ao lugar
onde viu a Senhora do Cé u para levar o sinal ao bispo, porque seu tio,
chamado Juan Bernardino, a quem amava como um pai, estava
gravemente doente. do que os indı́genas chamavam de Cocoliztli. Ele
procurou um mé dico para curá -lo, mas nã o encontrou ningué m. Na
madrugada da terça-feira, 12 de dezembro, seu tio implorou-lhe que
fosse ao convento de Santiago Tlaltelolco para pedir a um dos religiosos
que o confessasse e o preparasse, porque sabia que nã o teria muito
tempo de vida. Juan Diego correu a Tlaltelolco para fazer a vontade do
moribundo e, chegando perto do lugar onde a Senhora do Cé u havia
aparecido, ingenuamente pensou que seria melhor desviar e tomar
outro caminho, contornando a colina de Tepeyac em o lado leste; assim,
nã o sendo retido por Ela, ele poderia chegar ao convento de Tlaltelolco
o mais rá pido possı́vel, pensando que mais tarde poderia retornar
diante da Senhora do Cé u e manter o seu compromisso de levar o sinal
ao bispo.
Mas Maria Santı́ssima desceu a colina e passou por um lugar onde
corria uma fonte de á gua salgada, encontrando Juan Diego ao passar e
Ela perguntou-lhe: “O que está acontecendo, o menor dos meus
ilhos? Onde você está indo? Onde você está indo?"68 O indı́gena icou
surpreso, confuso, temeroso e constrangido, e respondeu preocupado e
prostrado de joelhos,
Minha jovem, minha ilha, a menor, minha garotinha, espero que você
esteja feliz. Como você começou seu dia? Você sente bem o seu amado
corpinho, minha senhora, minha garotinha? Com dor angustiarei o seu
semblante, o seu coraçã o: digo-lhe, minha donzela, que um dos seus
servos, meu tio, está gravemente doente. Uma doença terrı́vel o
dominou, com certeza ele morrerá em breve por causa disso. E agora
irei rapidamente à sua casa no Mé xico, para pedir a um dos amados de
Nosso Senhor, um dos nossos sacerdotes, que vá confessá -lo e prepará -
lo para a sua morte. Portanto, se eu terminar isso com sucesso, mais
tarde voltarei aqui para levar a sua palavra, Minha Pequena Jovem. Peço
que me perdoe, tenha um pouco de paciê ncia comigo, porque eu nã o te
engano, minha ilha, a mais nova, minha garotinha, amanhã com
certeza irei logo.69
Maria Santı́ssima ouviu o apelo do indı́gena com expressã o serena. Ela
entendeu perfeitamente o momento de grande angú stia, tristeza e
preocupaçã o que Juan Diego estava passando, já que seu tio, uma
pessoa tã o amada, estava morrendo. E foi justamente nesse momento
que a Mã e de Deus lhe disse algumas das palavras mais belas, que
penetraram no mais profundo do seu ser: “Escuta, põ e isto no teu
coraçã o, meu ilho, o mais novo, o que te assustava , o que te a ligiu, nã o
é nada; seu rosto, seu coraçã o, nã o deve ser perturbado, nã o tema
aquela doença nem qualquer outra doença, nem qualquer coisa
penetrante, a litiva. Eu sou, quem sou sua mã e, nã o aqui? Você nã o está
sob minha sombra e meu abrigo? Nã o sou eu a fonte da sua
alegria? Você nã o está no oco do meu manto, onde meus braços se
cruzam? Você precisa de mais alguma coisa? ”70E a Dama do Cé u lhe
disse: “Que nenhuma outra coisa te a lija, te perturbe, a doença do teu
tio nã o te deve perturbar, porque ele nã o morrerá dela
agora. Certi ique-se de que ele já está bem. ”71
Com efeito, naquele preciso momento, Maria Santı́ssima estava com o
tio Juan Bernardino devolvendo-lhe a saú de; Juan Diego descobriria
isso mais tarde. Juan Diego con iava totalmente no que lhe assegurava
Maria Santı́ssima, a Rainha dos Cé us. Assim, consolado e decidido,
implorou imediatamente a Ela que o enviasse ao bispo para lhe levar o
sinal da prova, para que acreditasse na mensagem.
A Santı́ssima Virgem ordenou-lhe que subisse ao topo da colina, onde
se tinham encontrado antes, e disse-lhe: “Verá s que há vá rias lores:
corta-as, junta-as e põ e-nas todas, depois desce , traga-os aqui à minha
presença. ”72Juan Diego imediatamente subiu a colina, embora
soubesse que naquele lugar nã o havia lores por ser uma á rea á rida,
cheia de grandes rochas, e que só havia cardos, cactos, algaroba e
espinhos; alé m do mais, estava tã o frio que havia gelo. Mas quando
chegou ao topo icou maravilhado com o que tinha pela frente: um
lindo jardim de lores diversas, frescas e cheias de orvalho, do mais
suave perfume. Colocando seu tilma, ou ayate, da maneira usada pelos
ı́ndios, ele começou a cortar todas as lores que conseguia colher em
seu ayate. Imediatamente ele desceu a colina, levando a bela carga
diante da Senhora do Paraı́so.
Santı́ssima Maria pegou as lores em suas mã os e, em seguida, colocou-
as novamente na cavidade do tilma de Juan Diego e disse:
Meu ilhinho, o mais novo, estas lores diversas sã o a prova, o sinal que
levará s ao Bispo. Em meu nome, você dirá a ele para ver neles o meu
desejo, para que ele cumpra o meu desejo, a minha vontade. E você , ...
você que é meu mensageiro, ... em você minha con iança está
depositada e eu te ordeno muito fortemente que só sozinho, na
presença do Bispo, você vai estender seu ayate, e mostrar a ele o que
você carrega e você vai contar a ele tudo exatamente, você vai dizer a
ele que eu te mandei subir até o topo da pequena colina para cortar as
lores, e cada coisa que você viu e admirou para convencer o Bispo,
para que entã o ele o faça faça a sua parte para construir o meu templo
que lhe pedi.73
Depois de dizer isso, a Virgem Maria despediu-se de Juan Diego. Seu
coraçã o estava tranquilo, ele estava muito feliz e contente com o sinal,
pois percebeu que seria um sucesso e que sua missã o teria um bom
resultado. E carregando as rosas com muito cuidado, nã o as deixando
cair, olhava para elas de vez em quando, apreciando sua fragrâ ncia e
beleza.
Juan Diego chegou à casa do bispo e implorou ao porteiro e aos outros
criados que dissessem ao bispo que gostaria de vê -lo, mas nenhum
deles queria deixar Juan Diego entrar. Fingiram nã o entender, talvez
porque ainda estava escuro, ou porque o reconheceram ou porque
pensaram que ele apenas os incomodava e importunava. Juan Diego
esperou muito tempo, e quando os servos viram que o Indı́gena ainda
estava lá , sem fazer nada, apenas esperando ser chamado, e percebendo
també m que ele carregava algo em seu tilma, eles se aproximaram para
ver o que ele estava carregando. Juan Diego nã o pô de impedir que
vissem o que carregava porque podiam empurrá -lo e até estragar as
lores, entã o abriu um pouco o tilma e viram que eram lores preciosas
que exalavam um perfume maravilhoso. Tentaram agarrar alguns,
tentaram trê s vezes mas nã o conseguiram porque quando tentaram já
nã o viam as lores mas viam-nas como se estivessem pintadas, ou
bordadas, ou cosidas no tilma.
Imediatamente foram contar ao bispo o que haviam visto e como os
pequenos ı́ndios que haviam vindo em outras ocasiõ es queriam vê -lo e
esperavam muito tempo pela permissã o. Assim que o bispo ouviu isso,
percebeu que era Juan Diego trazendo a prova para convencê -lo, a im
de iniciar o que os ı́ndios pediam. Imediatamente deu ordem para
deixá -lo ir vê -lo. E Juan Diego, tendo entrado, prostrou-se em sua
presença, como izera outras vezes. Novamente ele relatou o que tinha
visto e admirado e a mensagem dela.
Foi nesse momento que Juan Diego deu o sinal de Maria Santı́ssima,
estendendo o seu tilma, as lores preciosas caindo no chã o, e viram
nela, admiravelmente impressionada, a Imagem de Maria Santı́ssima,
como se vê hoje e se guarda. em sua casa sagrada. O Bispo Zumá rraga,
junto com a sua famı́lia e os criados que o rodeavam, sentiram uma
grande emoçã o, nã o puderam acreditar no que os seus olhos
contemplavam, uma belı́ssima Imagem da Virgem, da Mã e de Deus, da
Senhora do Cé u. Eles a veneraram como algo celestial. O bispo “com
lá grimas, com tristeza, implorou-Lhe, pedindo-Lhe perdã o por nã o ter
feito Sua vontade, Sua palavra venerada”.74
Quando o bispo se levantou, ele desamarrou o tilma do pescoço de Juan
Diego, no qual a Rainha Celestial apareceu. Depois disso, ele colocou
em seu orató rio. Juan Diego passou o dia na casa do bispo, e no dia
seguinte o bispo lhe disse: “vamos para que nos mostre onde é a
vontade da Rainha dos Cé us mandar construir o Seu templo”.75
Juan Diego mostrou-lhe os lugares onde tinha visto e falado quatro
vezes com a Mã e de Deus. Em seguida, pediu permissã o para ver seu
tio Juan Bernardino, que havia deixado gravemente doente. O bispo
pediu a alguns parentes que fossem com Juan Diego e ordenou que
levassem o doente à sua presença se o encontrassem sã o. Quando
chegaram ao povoado de Tulpetlac viram que o tio, Juan Bernardino,
estava bem, nada o machucava. Ele, por outro lado, icou surpreso com
a forma como seu sobrinho foi acompanhado e homenageado pelos
espanhó is enviados pelo bispo. Juan Diego contou ao seu tio como
tinha ocorrido o seu encontro com a Dama do Cé u, como Ela o tinha
enviado para ver o bispo com o sinal prometido para mandar construir
um templo em Tepeyac e, por ú ltimo, como Ela lhe assegurou que ele
estava bem. Imediatamente Juan Bernardino con irmou que naquele
preciso momento a Virgem lhe apareceu, exatamente como seu
sobrinho a descreveu, e que Ela també m lhe pediu que fosse ao Mé xico
para ver o bispo, para lhe dar o testemunho do que tinha visto e para
contar a ele a maneira maravilhosa como Ela o curou, “e que assim
como ele a chamou, Ela seria chamada: a perfeita Virgem Santa Maria
de Guadalupe, Sua Imagem Amada”.76
Para cumprir essa vontade, Juan Bernardino foi levado perante o bispo
para relatar seu testemunho e, junto com seu sobrinho, Juan Diego, foi
alojado na casa do bispo por alguns dias. Desta forma, o bispo sabia
exatamente o que havia acontecido, como Juan Bernardino havia
recuperado a saú de e como era a Dama do Cé u.
Era surpreendente como a palavra do milagre se espalhava e como o
povo mexicano visitava a casa do bispo para venerar a
Imagem. Quando o bispo percebeu o grande nú mero de pessoas que
foram ver de perto o ocorrido, decidiu levar a Santa Imagem para a
igreja matriz e colocá -la no altar, onde todos icaram maravilhados em
vê -la. Aqui Ela icou enquanto uma capela era construı́da no lugar
designado por Juan Diego. Todos contemplaram a Santa Imagem com
espanto. “Absolutamente toda a cidade, sem exceçã o, icou emocionada
quando vieram ver, admirar Sua preciosa Imagem. Eles viriam a
reconhecer Seu cará ter divino. Eles viriam apresentar suas oraçõ es a
Ela. Muitos admiraram a maneira milagrosa como Ela apareceu, porque
absolutamente nenhuma mã o humana na terra pintou Sua imagem
amada. ”77

Tilma de Juan Diego : um sinal, uma mensagem, uma nova


vida
A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe na tilma de Juan Diego foi o
sinal que a Virgem deu ao bispo do Mé xico, uma autê ntica mensagem
de vida nova para seus consignatá rios.
A Dama do Cé u queria estampar Sua igura em
um ayate ou tilma simples ,78feito de um material vegetal, conhecido
como agave, já certi icado vá rias vezes. Algumas das investigaçõ es
mais recentes foram feitas pelo Dr. Isaac Ochoterena,79e Alejandro
Javier Molina assim o expressou: “O tilma é constituı́do por um tipo de
maguey chamado Agave Popotule, que pertence à famı́lia
dos Amarilidaces,”80 mas nã o é impossı́vel que també m tivesse algumas
outras ibras misturadas.81A tilma é usada pelos ı́ndios para se cobrir,
alé m de ser um instrumento de trabalho e de transporte; da mesma
forma, na cerimô nia de casamento indı́gena, os homens atavam
seus tilma ao huipil das mulheres. O tilma é , portanto, o sı́mbolo de
proteçã o, trabalho e amor. O tilma de Juan Diego mede 1,72 metros por
1,07 metros. Com o tempo, alguns pequenos pedaços foram cortados
da tilma como relı́quias, como era o costume na é poca. Os indı́genas
usavam tilmas desse tamanho, principalmente no inverno, pois
serviam para cobrir todo o corpo, protegendo-o do frio.
Frei Bernardino de Sahagú n nos fala sobre sua natureza e construçã o:
Quem vende inos mantos maguey costuma saber o seguinte: é preciso
saber torrar as folhas do maguey e raspá -las muito bem, espalhar sobre
elas a massa de milho e lavar as folhas, limpar e sacudir na á gua. Os
mantos que vende sã o brancos, preparados com massa, polidos, bem-
feitos e com pernas largas, estreitas, longas, grossas, rı́gidas ou
robustas; em suma, todos os mantos maguey sã o elaborados assim. Ele
vende umas muito inas, que parecem cocar, tecidas com ibras
de nequen , e outras de ios retorcidos. Alguns sã o, ao contrá rio, tecidos
grossos e fechados, e bem feitos, e outros grossos sã o ios de pita ou
maguey.82
A preservaçã o desta imagem no tilma de Juan Diego sempre foi um
desa io para a mente humana. Vá rios sã o os testemunhos que apontam
para a surpreendente preservaçã o da Imagem, nã o só porque está
impressa num tecido tã o delicado, feito de ibra vegetal, mas també m
porque sempre foi guardada em local hú mido e salitre.
Alé m disso, a imagem traz consigo uma mensagem. Para quem já
estudou os có dices, a Imagem do tilma de Juan Diego é um elaborado
documento voltado para a mentalidade indı́gena, pois possui uma
mensagem integrada pelo uso de imagens. Tudo isso é um có dice
compreensı́vel para os mexicanos que se mudaram em uma cultura que
se expressava principalmente pela imagem. Mesmo para os povos
estranhos à cultura indı́gena, como os espanhó is, a Imagem nã o icou
longe de sua percepçã o como manifestaçã o de Maria, a Mã e de Deus,
conforme descrito no capı́tulo 12 do Apocalipse, ainda que um tanto
estranho. , um tanto indı́gena. Para os indı́genas era uma mensagem
“falada”, compreensı́vel e identi icá vel.
Por exemplo, enquanto para os espanhó is a igura da Virgem de
Guadalupe é rodeada de nuvens, o que deixa clara a sua origem divina,
para os indı́genas, alé m de deixar isso claro, també m revela algumas
caracterı́sticas especiais.
Para entender e examinar isso, é preciso ver com os olhos dos
indı́genas. Um conceito que pode nos ajudar a entender o signi icado
está na forma como os indı́genas saudaram aqueles que pensavam vir
de Deus, com a expressã o “entre a né voa e entre as nuvens”.83Outro
exemplo disso foi em 1519, quando Moctezuma cumprimentou Herná n
Corté s, que ele pensava ser Quetzalcó atl vindo para tomar posse de seu
trono. Disse: “Senhor nosso, nã o durmo nem sonho, vejo com os meus
olhos o teu rosto e o teu corpo. Houve dias em que eu esperava isso,
dias em que meu coraçã o olhou para aqueles lugares por onde você
veio, você veio por entre a né voa e por entre as nuvens, um lugar
desconhecido para todos. Isso é o que os reis anteriores nos disseram,
que você voltaria a reinar nestes reinos e que deveria se sentar em seu
trono e em sua cadeira. Agora vejo que o que eles disseram é verdade.
”84Outro exemplo que temos data de 1524, quando os
nobres caciques saudaram assim os primeiros franciscanos: “Sabemos
que viestes entre o nevoeiro e as nuvens do cé u. A tua vinda e a tua
presença, a tua maneira de falar que ouvimos e vimos é nova e
maravilhosa para nó s. Tudo nos parece algo do Cé u, como se em nossa
presença você tivesse aberto um baú de tesouros divinos do Senhor do
Cé u. ”85E mais um exemplo, també m de 1524, quando os padres
indı́genas conversavam com os missioná rios franciscanos, diziam:
“Nó s, tã o rudes e grosseiros, nã o somos dignos de ver os rostos de
pessoas tã o valiosas como você s que nos trouxeram Deus, nosso
Senhor, para reinar sobre nó s. Nã o sabemos de onde você vem e como é
o lugar de onde você vem e onde vivem nossos senhores e deuses,
porque você veio pelo mar, entre as nuvens e a neblina (caminho que
nunca conhecemos), enviado por Deus entre nó s, Seus olhos, ouvidos e
boca. Aquele que é invisı́vel e espiritual, em você se torna visı́vel.
”86Sem dú vida, a maneira de falar de Moctezuma, e desses caciques e
padres indı́genas, també m nos lembra a maneira de falar de Juan Diego.
Isso nos permite entender um pouco melhor como os ı́ndios puderam
observar que a Imagem, que está entre as nuvens, era algo do Cé u,87 um
lugar desconhecido para todos, que trazia um baú de tesouros
espirituais para todos, que era a presença, olhos, ouvidos e boca do
Deus invisı́vel, tornados visı́veis Nela, e assim por diante.
Da mesma forma, outras caracterı́sticas da Imagem que foram
perfeitamente compreendidas pela mente indı́gena foram os sı́mbolos
solares que possui, simbolizados pela lor de quatro pé talas desenhada
apenas uma vez na tú nica, na altura do ventre da Virgem Maria, o raios
solares atrá s dela, a combinaçã o de cores, a lua e as estrelas. Tudo isso
fez com que o Indı́gena percebesse que Ela era uma Virgem Donzela,
Rainha do Cosmos, grá vida, e que daria à luz o sol. As vá rias lores
arabescas de ouro que aparecem na tú nica (que é feita de lores da
colina) mostram em escrita glifo que ela apareceu no Tepeyac, que de
fato, tudo aconteceu no Tepeyac no Mé xico.
Para reforçar isso, pode-se observar que a Virgem está no centro da
igura da lua. A etimologia do Mé xico é : Mex (tli) = lua, Xic (tli) = centro
e Co = em, ou "no centro da lua". Assim, ela aparece pela primeira vez
no Mé xico.
Alé m disso, a expressã o de Seu semblante era de especial importâ ncia
no mundo Náhuatl ( ixtli , que signi ica “semblante”, era sinô nimo de
uma pessoa). Sua expressã o, terna e amorosa, de mã e contemplando
seu ilho, indica amor, carinho, proteçã o e um intenso interesse pelo
gê nero humano. Em Ná huatl a expressã o de olhar para os lados nã o
tinha conotaçã o pejorativa, como pode ter entre nó s; pelo contrá rio,
era equivalente a “pensar em quem é olhado, nã o esquecer quem é
olhado”.88Alé m disso, o rosto é moreno, mestiço. Fazendo parte da
Imagem, aos pé s da Virgem encontra-se um anjo, que se chama “o Anjo
da Virgem de Guadalupe”, mensageiro da verdade. Este ser alado se
junta ao Cé u e à Terra (manto e tú nica). Desta forma, ele segura e
mostra toda a Imagem.
Novamente, se pudé ssemos nos situar como observadores pré -
hispâ nicos da cultura Ná huatl, um re lexo sinté tico seria uma Dama
entre as nuvens que torna o invisı́vel visı́vel e presente, nos dá o baú
dos tesouros espirituais, e que aparece no Tepeyac, em Mé xico, entre
lores que proclamam a verdade. Ela é toda harmonia e unidade, pois se
veste com as estrelas, pisa na lua e se transforma em Sol, pois carrega
em seu ventre o Sol Criança, o Sol Novo, dando-nos a Sua presença. Nos
vemos no semblante de Guadalupe, nos identi icamos com Ela e, ao
mesmo tempo, vemos a proposiçã o explı́cita em uma mensagem de
comunhã o.89 O anjo abaixo dos pé s da Virgem é a raiz desta Verdade e o
mensageiro com asas de á guia.
Os indı́genas nã o tinham anjos em sua mitologia, mas tinham deuses
que eram apenas aspectos do ú nico e verdadeiro Deus. Pelas
caracterı́sticas que se podem ver neste anjo, eles puderam identi icá -lo
com sua antiga religiã o, Quelzalcó atl, Tezcatlipoca, Huitzilopochtli ou
Tlá loc, que serviu de raiz e suporte para o Novo Reino que a Mã e do
Verdadeiro Deus, para quem vive, veio estabelecer-se no Mé xico,
permitindo assim o que para eles era essencial: nã o um im, mas uma
plenitude. Com isso, eles se converteram instantaneamente, como
veremos mais tarde, e o Mé xico se tornou uma naçã o. Esta é uma das
reconciliaçõ es mais importantes; o anjo é a raiz, o suporte, o
fundamento desta verdade, seu venerado Huehuetlamanitiliztli, que
signi ica "a Tradiçã o do Anciã o". Esta é a grande mensagem: o mundo
deles nã o acabou, está transformado.
Mas há algo mais, algo extremamente importante, relativo ao fato de
que a Imagem foi impressa
naquele tilma, justamente naquele pertencente a um indı́gena chamado
Juan Diego. Como dissemos, para a cultura indı́gena, como para muitas
outras culturas, foram muito importantes sı́mbolos e imagens que
sustentavam verdades profundas. Assim foi com o tilma dentro da
sociedade indı́gena como indicativo do nı́vel e condiçã o social de uma
pessoa, como já dissemos; foi tã o importante que esteve presente na
cerimô nia de casamento indı́gena. Durante ela, foi feito um nó com
o tilma do homem e o huipil da mulher , simbolizando assim que suas
vidas permaneceram unidas.90Da mesma forma, as lores
simbolizavam a profunda simplicidade da verdade, de algo inatingı́vel,
como era a má xima Verdade de Deus; quando se corta uma lor e a
segura na mã o, a lor começa a desaparecer naquele momento, de
modo que o homem, com suas limitaçõ es, nã o consegue retê -la ou
mantê -la integralmente. Ele poderia contemplar sua beleza, poderia se
embriagar com seu aroma, mas nã o poderia possuı́-lo completamente,
somente Deus poderia: Ele era e é a Verdade eterna, completa e
total. Com estes breves detalhes podemos nos aproximar daquela
realidade simbó lica indı́gena onde se está diante de uma Imagem que
icou impressionada pelo contato de vá rias lores, lorescendo
milagrosamente sobre o á rido e congelado Tepeyac, e sobre um tilma ,
que é o pró prio Juan Diego. Trata-se de uma imagem que proclama a
mesma Verdade impressa no coraçã o de um indı́gena que se permitiu
unir à Verdade de Deus. Alé m disso, ele é um indı́gena que tem a
con iança de Deus. Ele foi resgatado na unidade de seu pró prio ser e em
sua dignidade. Ou seja, para Deus, Juan Diego, o Indı́gena, merece todo
o cré dito, para ser o mensageiro. A Virgem de Guadalupe retoma as
sementes da cultura e religiosidade indı́gena, e a renovaçã o e
conversã o da cultura e religiosidade espanholas para que tenham
realizaçã o. Juan Diego é o embaixador desta grande verdade, portanto a
Virgem de Guadalupe é o sinal da unidade e da plenitude.
Analisando a Imagem do ponto de vista artı́stico, nã o há dú vida de que
estamos diante de uma obra-prima de notá vel equilı́brio e harmonia,
como nota o grande investigador Dr. Homero Herná ndez Illescas em
seu estudo sobre a “proporçã o á urea” da admirá vel Imagem de Nossa
Senhora de Guadalupe. Independentemente de sua origem
sobrenatural, esta imagem foi estudada por muitos sé culos. Vá rios
estudos diretos tê m coincidido com a té cnica extraordiná ria e
inusitada usada nesta Imagem surpreendente, bem como com a sua
incrı́vel autopreservaçã o em um lugar tã o ú mido e salitre onde tudo se
estraga e se estraga. Alé m disso, deve-se levar em consideraçã o que por
116 anos a Imagem icou exposta sem nenhum tipo de proteçã o. Nã o
foi até 1647 que uma caixa de vidro foi usada. P. Miguel Sá nchez
declarou que “Antes de 1647, esta Santı́ssima Senhora estava sem uma
caixa de vidro para protegê -la do ar e da poeira que sua igreja e
l'Hermitage normalmente tinham; alé m do fato de ser continuamente
visitado por um grande nú mero de pessoas. ”91
Um dos primeiros estudos praticados sobre a Imagem de Nossa
Senhora de Guadalupe ocorreu em março de 1666. O tribunal superior
e o conselho formularam a petiçã o perante o Vice-rei Marquê s de
Mancera para que a Imagem fosse estudada. Os especialistas mais
destacados da Nova Espanha foram convidados a praticar esta tarefa
solene e importante. Até 13 de março, sete pintores estavam reunidos
e, até 28 de março, trê s mé dicos quı́micos do rei que tiveram a
oportunidade de analisar a Imagem diretamente.92Esses eminentes
especialistas estudaram o tilma de Juan Diego e todos se
surpreenderam, nã o só com a té cnica da Imagem, mas també m com
sua autopreservaçã o.
E importante conhecer, pelo menos em uma sı́ntese, os resultados
dessas investigaçõ es. Como dizı́amos, o estudo dos pintores no dia 13
de março foi um acontecimento muito solene, que começou entre as 10
e as 11 daquela manhã e contou com a presença das mais altas
autoridades da Nova Espanha, como o vice-rei e o conselho,
juntamente com os sete especialistas na arte da pintura. Conforme
consta do Certi icado de Fiscalizaçã o, que faz parte das Informaciones
Jurídicas de 1666, “Os maiores e melhores artistas reconhecidos e
encontrados nesta cidade e reino, [sã o solicitados] a fazerem com
clareza, verdade e exatidã o o que é pediu um assunto tã o grande e
piedoso ",93 e izeram um estudo profundo e direto da Imagem de
Nossa Senhora de Guadalupe.
Decidiu-se antes de mais nada celebrar uma missa solene para pedir a
ajuda especial da Virgem. Em seguida, foi retirada a Imagem de Nossa
Senhora de Guadalupe
para que os especialistas em arte convocados para esse im o vissem e
estudassem. Foram eles o advogado Juan Salguero, sacerdote
sacerdote, 58 anos e professor de arte há mais de 30 anos; Bacharel
Thomas Conrado, 28, professor de arte há mais de oito anos; Sebastiá n
Ló pez de Avalos, 50, pintor há mais de 30 anos; Nicolá s de Fuenlabrada,
mais de 50 anos, professor de arte e pintor há mais de 20 anos; Nicolá s
de Angulo, 30, professor de arte e pintor há mais de 20 anos; Juan
Sá nchez, 30, professor de arte e pintor há mais de 15 anos; Alonso de
Zá rate, mais de 30 anos, professor de arte e pintor há mais de 14
anos.94
Esses homens inspecionaram a imagem no tilma de Juan Diego , frente e
verso, perante o Tabeliã o Pú blico e Apostó lico Luis de Perea.
Todos os especialistas declararam unanimemente que
E humanamente impossı́vel que qualquer artista possa pintar e
trabalhar algo tã o belo, limpo e bem formado sobre um tecido tã o
á spero como o tilma ou ayate sobre o qual a divina e soberana Imagem
da Santı́ssima Virgem, Nossa Senhora dos Guadalupe, é . Estes
depoentes viram e reconheceram a Sua Imagem como sendo
trabalhada com tamanha habilidade e beleza de semblante e mã os que
estes depoentes e todos os que a veem a admiram e maravilham. Alé m
disso, com a inclinaçã o e as partes de Seu Santı́ssimo Corpo tã o bem
proporcionadas, e os traços bonitos e a arte em Suas roupas, nã o pode
haver um pintor, por mais habilidoso que seja ou tã o bom quanto
houve neste Novo Espanha, que conseguiria imitar perfeitamente a cor,
nem determinar se tal pintura é a tê mpera ou a ó leo, porque parece ser
as duas coisas, mas nã o é o que parece, porque só Nosso Deus conhece
o segredo desta pintura, dos seus durabilidade e preservaçã o, da
permanê ncia de suas belas cores e do ouro de suas estrelas, dos
ornamentos e bainha do vestido, Sua tez, que parece ter acabado de
pintar, e a mais bela encarnaçã o de Seu semblante e mã os, alé m disso
ao resto dos detalhes que os depoentes tantas vezes viram; no
momento presente tem sido vista na presença destes depoentes, com o
apoio do Senhor Vice-rei Marquê s da Nova Espanha e do ilustre
Conselho e Decano desta Santa Igreja, e destes pintores experientes,
que estã o a realizar toda a diligê ncia que, segundo à sua arte, tê m a
obrigaçã o de cumprir [a obra] que lhes foi con iada e encomendada
pelo Senhor Concı́lio e o Decano, Eclesiá stico desta Santa Igreja, tocou
com as pró prias mã os esta Santı́ssima Pintura. Eles nã o puderam
descobrir sobre Ela senã o ser Misterioso e Milagroso, e somente Ele,
Nosso Deus, Nosso Senhor, poderia ter feito algo tã o belo e tã o perfeito
como encontramos nesta Santa Imagem. Eles acharam impossı́vel
preparar e pintar em tal tecido tilma ou ayate , eles nã o tê m dú vidas, e
nenhum problema em declarar que o que está no tilma de Juan Diego , a
Santa Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, deve ser atribuı́do e
entendido como a obra sobrenatural e secreta reservada à Divina
Majestade, assim como a autopreservaçã o das cores, as vestes
constituı́das por uma tú nica e manto que a fazem sobressair sobre um
fundo de nuvens brancas. Observamos també m que todas as cores da
Santa Imagem sã o indistintas na frente e no verso do tilma, o que
indica que, de fato, nã o houve preparaçã o, como em uma tela normal; é
apenas a cor que dá corpo ao tilma , e a cor é incorporada aos ios
grossos do tecido. O que os depoentes declararam, consideram ser
verdade devido à sua experiê ncia na arte da pintura; alé m disso, Juan
Salguera jurou em Verbo Sacerdotis, com a mã o sobre o coraçã o, e os
outros pintores juraram a Deus e à Cruz, conforme estipula o Direito
Canô nico.95
Por conta pró pria, os trê s mé dicos quı́micos, Dr. Lucas de Cá rdenas
Soto, Dr. Jeró nimo Ortiz e Dr. Juan Melgarejo, realizaram um estudo
detalhado com base em vá rias fontes bibliográ icas; alé m disso, eles
inspecionaram a Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe
estampada diretamente no tilma de Juan Diego e analisaram a á rea ao
redor de l'Hermitage. A declaraçã o foi redigida em 28 de março de
1666. Da mesma forma, chegaram à mesma surpreendente conclusã o
quanto à autopreservaçã o da Imagem: por causa da umidade e da
salinidade, a tilma já teria sido destruı́da há muito tempo. “O
Hermitage está construı́do em um terreno que margeia o lado norte de
um lago, recebendo assim de perto o ar ú mido constante em seu lado
sul. Durante a estaçã o das chuvas as á guas chegam até l'Hermitage,
fazendo com que o solo ique muito molhado [esta parte corresponde à
entrada principal de l'Hermitage]. Dá para ver a umidade na sacristia e
na l'Hermitage, o que prova que o terreno onde está construı́da é
ú mido. “96També m é surpreendente que o acú mulo de sal causado pela
umidade nã o tenha destruı́do a Imagem. Os especialistas continuaram:
Nã o há explicaçã o para a preservaçã o da Imagem dos danos que
poderiam resultar do ar (o que de fato nã o ocorre), ou dos depó sitos de
sal que se acumulam e sobem no ar, mas nã o afetam a Imagem. Em vez
disso, surpreende e espanta a mente humana ao ver a grande diferença
de seu efeito sobre as outras coisas, em comparaçã o com esta Divina
Senhora, quando devido à experiê ncia, se sabe que seu efeito e
natureza corrosiva é tal que as ornamentaçõ es de pedra onde o sal
acumula se decompõ e e se transforma em pó . Isso pode impressionar a
maior inteligê ncia. Pois bem, há mais de 100 anos esta Imagem resiste
a este “cancro da pedra” [que as destró i e transforma em pó ] cuja
audá cia nã o se aproximou desta criaçã o divina que tem menos
resistê ncia e dureza do que a prata que adorna esta Capela. Embora a
prata se torne negra pelo contato com o ar, sem dú vida, se nã o fosse
pelos cuidados muito freqü entes que recebe, també m seria dani icada,
por ser menos resistente que a pedra. Isso é comprovado por
investigaçõ es.97
Os mé dicos-quı́micos terminaram seu relató rio, declarando que o
fenô meno que viram diretamente no tilma nã o pode ser explicado de
maneira humana. Eles disseram,
Sendo uma, a substâ ncia e suas segundas qualidades [julgadas pelo
toque] sã o qualidades diferentes, [julgadas por] ter tocado o lado
posterior, que é á spero e duro, e a consistê ncia do lado frontal [que está
igualmente nã o corrompido] é tã o macia e gentil [como seda]; quem
puder explicar tudo isso, faça-o, já que nossa limitada inteligê ncia nã o
pode, no que diz respeito ao tipo de ar [ú mido e salitre], ou qualquer
acidente que tenha sofrido, e muito menos, pelo lugar e pelo
solo. Nã o há explicaçã o para a preservaçã o desta Imagem até hoje, sua
incorruptibilidade e autopreservaçã o; tendo analisado tudo, nã o posso
a irmar o contrá rio [que a Imagem foi feita por mã os humanas].98
Oitenta e cinco anos depois, em 30 de abril de 1751, foi realizada uma
segunda inspeçã o desse tipo. Outro grupo de eminentes artistas e
mé dicos pô de estudar a Imagem a fundo, sem a caixa de vidro que a
cobre. Entre eles destacou-se o grande pintor Miguel Cabrera, ao lado
de José de Ibarra, Patricio Morlete Ruiz e Manuel Osorio, que na é poca
iguraram como os pintores de maior cré dito. Em 15 de abril de 1752,
Cabrera, com a ajuda de José de Alcibar e José Ventura Arnaez, fez trê s
exemplares do Guadalupana. Arnaez escreveu que a primeira có pia foi
para o Arcebispo do Mé xico, Manuel Rubio y Salinas,99 a segunda foi
para o padre Juan Francisco Ló pez, um padre jesuı́ta que estava para
partir como procurador em Roma, onde o apresentou ao Papa Bento
XIV, e a terceira có pia estava “à sua disposiçã o”, disse Arnaez a Cabrera,
“para guardar em sua casa para fazer outras có pias daquele que veio do
original. ”100
Cabrera publicou sua reportagem apó s apresentá -la aos demais
artistas para aprovaçã o, com o tı́tulo Maravilla Americana. Os seus
capı́tulos dã o-nos uma ideia do seu conteú do: 1. Maravilhosa duraçã o
da Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe; 2. Sobre o tecido que
impressiona Nossa Senhora de Guadalupe; 3. Sobre a falta de preparo
para esta pintura; 4. Sobre o maravilhoso desenho de Nossa Senhora de
Guadalupe; 5. Sobre os quatro tipos de tintas que se combinam
maravilhosamente na Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe; 6.
Sobre o precioso ouro e o primoroso douramento na milagrosa
Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe; 7. As objeçõ es que se
opuseram à nossa mais bela pintura; 8. Desenho da imagem milagrosa
de Nossa Senhora de Guadalupe.101
Alé m disso, també m no sé culo XVIII, em 25 de janeiro de 1787, outro
grupo de pintores fez outro exame e, alé m disso, foi realizada uma
experiê ncia proposta pelo Dr. José Ignacio Bartolache. Quando
perguntado: “Levando em consideraçã o as regras de seu corpo
docente, e sem qualquer paixã o ou desejo pessoal, você considera esta
Imagem Sagrada como tendo sido pintada milagrosamente?” eles
responderam: “Sim, tanto quanto o que é considerado substancial e
primitivo, em nossa Santa Imagem, mas nã o tanto quanto em certos
retoques e detalhes, que sem dú vida, parecem ter sido feitos mais
tarde por mã os impudentes. ”102
A imagem é uma sı́ntese de té cnicas mexicanas e europeias
incompatı́veis. 103As cores, os per is tridimensionais, acentuados, o
“arabesco” deslizando sobre a tú nica sem seguir as dobras da tú nica, e
a riqueza de seus sı́mbolos sã o claramente indı́genas; a habilidade nas
luzes, sombras, volume e perspectiva sã o tı́picas das pinturas
europeias. Nã o encontramos na primeira metade do sé culo XVI, nem
em nenhum sé culo do perı́odo colonial, outro exemplo desse tipo no
Mé xico. Aqueles que tentaram copiá -lo ou rastreá -lo, o izeram muito
mal.
Como dissemos anteriormente, nã o só foi feita uma vistoria ao tilma de
Juan Diego por pessoas credenciadas, mas també m se decidiu que uma
sé rie de experimentos fossem feitos a im de veri icar a
autopreservaçã o de uma maté ria vegetal como a de Juan
Diego. tilma pode ter. Bartolache mandou fazer duas có pias da Imagem
de forma a colocá -las no mesmo local onde se encontrava a Imagem
original. Imediatamente Bartolache disse de uma dessas có pias que
“ icou muito bonito, arranjado exatamente em todos os sentidos,
embora ainda esteja muito longe do original, nã o no desenho, mas na
forma como é pintado, que é verdadeiramente impossı́vel de imitar,
mesmo que toda a diligê ncia humana fosse aplicada. ”104 No entanto,
essas có pias nã o duraram muito porque a umidade e os depó sitos de
sal em pouco tempo as destruı́ram.
Certamente, algo que surpreende a todos é a preservaçã o da
Imagem. Na verdade, é inexplicá vel como um tecido feito de agave, que
normalmente nã o duraria mais de 20 anos, conseguiu sobreviver quase
500 anos. Sabemos que durante mais de 100 anos esteve sem caixa de
vidro ou qualquer outro tipo de proteçã o: “A Imagem icou ao ar livre
por 116 anos, em condiçõ es muito desfavorá veis de umidade e
temperatura, exposta ao acú mulo de salitre, e feita com um material de
ibra vegetal que deveria ter se desintegrado em menos de 20 anos. ”105
Surpreende-nos ainda mais quando conhecemos uma sé rie de
acontecimentos que poderiam tê -lo destruı́do há muito tempo: alé m
das conhecidas condiçõ es salinas e ú midas que dani icam a delicada
ibra vegetal onde está impressa a Imagem da Virgem de Gualalupe e a
evidente desgaste da humilde devoçã o do povo, que o tocava,
acariciava, nele colocava seus rosá rios e medalhõ es, e diante dele
queimava velas e incenso, outros fatos muito signi icativos devem ser
mencionados.
A primeira delas foi em 1785, quando um á cido denominado
“aguafuerte” (á cido nı́trico) foi acidentalmente derramado sobre o
lado esquerdo da Imagem; o traço deste acidente ainda permanece. Em
1820, um relató rio autenticado foi elaborado.106 Manuel Ignacio
Andrade declarou em seu depoimento que isso ocorreu
no momento em que uma das pessoas limpando a prata estava
limpando a parte superior da moldura. Sei disso por causa de pessoas
de con iança que o viram e veri icaram que a quantidade de á cido
derramado foi su iciente para destruir toda a superfı́cie em que
caiu. També m creio que tentaram esconder este acidente do Abade, DD
José Colorado, cujo cará ter radical o teria motivado a dar a essa pessoa
um castigo muito severo. Em ocasiõ es eu mesmo notei quando me
aproximo da Imagem e a caixa está aberta, que o local onde o á cido
caiu deixou um traço um tanto opaco, mas o tecido está intacto. Eu
també m sabia que o responsá vel pelo infortú nio estava tã o
transtornado que se acreditava que adoeceria gravemente ... porque
todos sabem que o á cido é tã o forte que dani ica até o ferro se tiver o
menor contato com ele. Tudo o que posso dizer sobre este assunto,
assegurando-vos que sempre acreditei que este acontecimento é um
milagre da Santı́ssima Virgem, que deseja a preservaçã o deste tesouro
tã o querido.107
O segundo acontecimento foi o atentado a bomba sofrido pela Imagem
em 14 de novembro de 1921, “quando explodiu uma bomba na Bası́lica
de Guadalupe. Luciano Pé rez Carpio, funcioná rio da Secretaria Privada
da Presidê ncia da Repú blica, protegido por soldados disfarçados de
civis, colocou a bomba aos pé s da Imagem da Virgem de Guadalupe. A
explosã o foi de tal magnitude que se ouviu num raio de um quilô metro:
a Imagem nã o sofreu absolutamente nenhuma consequê ncia; nã o o
mesmo para os candelabros e o cruci ixo de bronze que estavam no
altar e foram dobrados ao meio com o impacto. ”108 Hoje, esses
candelabros e cruci ixos estã o expostos ao pú blico na mesma á rea da
Bası́lica.
Apesar de todos os elementos e tentativas que poderiam ter destruı́do a
Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, a tilma de Juan
Diego continua ali, oferecendo-nos sua mensagem hoje.
Muitos outros estudos foram realizados no tilma de Juan
Diego , utilizando as té cnicas mais modernas. Outros projetos ainda em
andamento sã o, no entanto, interessantes vias de investigaçã o, como o
das estrelas no manto da Virgem que, segundo os estudos do Dr. Juan
Homero Herná ndez Illescas,109coincidem surpreendentemente com as
constelaçõ es no cé u daquele ano de 1531. Este mesmo cientista
mexicano, como já mencionamos, fez investigaçõ es profundas sobre a
“proporçã o á urea” que se pode ver na imagem. Da mesma forma, há o
estudo sobre os olhos da Virgem, que oftalmologistas, fotó grafos e
outras pessoas, como o Dr. José Aste Tonsmann,110 continuaram
atuando.
CAPÍTULO TRÊS

Juan Diego, Mensageiro e Missionário do Amor de Nossa


Senhora de Guadalupe
Pouco depois de ter vivido o importante momento das Apariçõ es de
Nossa Senhora de Guadalupe, Juan Diego entregou-se totalmente ao
serviço de Deus e de Sua Mã e, transmitindo o que tinha visto e ouvido,
e rezando com grande devoçã o, embora isso o a ligisse. muito que sua
casa e sua cidade icavam longe de l'Hermitage. Queria estar perto do
Santuá rio para cuidar dele todos os dias, principalmente varrendo,
porque era uma grande honra para os ı́ndios; como recordou Frei
Geró nimo de Mendieta: “Tê m grande reverê ncia a todos os templos e a
tudo o que é consagrado a Deus; até os principais é lderes se orgulham
de varrer os templos, mantendo o costume de seus ancestrais quando
eram pagã os, de que ao varrer os templos eles demonstravam sua
devoçã o (até mesmo as pessoas importantes). ”111
Juan Diego foi ao bispo para pedir sua permissã o para icar em
qualquer lugar perto das paredes de l'Hermitage, a im de servir ao
Senhor do Cé u o tempo todo possı́vel. O bispo, que gostava muito de
Juan Diego, aceitou sua petiçã o e permitiu que uma casinha fosse
construı́da perto de l'Hermitage. Vendo que seu sobrinho servia muito
bem a Nosso Senhor e Sua Preciosa Mã e, seu tio, Juan Bernardino, quis
estar com ele, “mas Juan Diego nã o aceitou. Ele disse ao tio que era
conveniente que o tio icasse em sua casa para manter as casas e as
terras que seus pais e avó s lhes haviam deixado.112
Analisando algumas fontes histó ricas importantes, como o Nican
Motecpana, sabe-se que Juan Diego e seu tio, Juan Bernardino,
realmente possuı́am propriedades, casas e terras, nã o de tempos
recentes, mas herdadas de seus “pais e avó s” em tempos Tempos
hispâ nicos. Isso signi ica que nã o faziam parte de um calpulli, no qual o
terreno nã o era propriedade pessoal, mas comunal, e justamente por
isso Juan Diego e seu tio tinham a responsabilidade de mantê -lo, junto
com o bem-estar de vá rias famı́lias, trabalhadores e empregados. Os
mesmos documentos con irmam que Juan Diego deixou tudo para
servir em l'Hermitage, o que, no contexto indı́gena, era uma gló ria,
frequentado pelos mais velhos, mesmo que fossem pessoas muito
importantes ou tivessem exercido cargos de alta responsabilidade em.
a cidade. Juan Diego faz da sua vida o que foi uma honra para os seus
antepassados.113
Juan Diego foi uma pessoa humilde, cuja força religiosa o rodeou por
toda a vida, que deixou suas casas e terras para viver em uma cabana
pobre ao lado de l'Hermitage, para se dedicar integralmente ao serviço
de l'Hermitage de seu querido ilho do cé u. , a Virgem Maria de
Guadalupe, que pediu aquele templo para oferecer a sua consolaçã o e o
seu amor materno a todos os homens. Ele teve “tempo para orar, de
maneira que Deus saiba fazer aqueles que O amam entender, de acordo
com a capacidade de cada um, quando exercer atos de virtude e
sacrifı́cio”.114També m é a irmado no Nican Motecpana que
todos os dias ele cuidaria dos assuntos espirituais e varreria o
templo. Ele se prostraria diante da Senhora do Cé u e a invocaria com
fervor; freqü entemente se confessava, comungava, jejuava, punia-se,
castigava-se, usava o cinto de penitê ncia e se escondia nas sombras
para se entregar sozinho em oraçã o e invocar a Senhora do cé u. Ele era
viú vo: dois anos antes de a Imaculada aparecer para ele, sua esposa
morreu; seu nome era Marı́a Lucı́a, e as duas viviam castamente.115
Resolveram fazê -lo depois de ouvir a homilia de Frei Toribio Motolinia
dizendo que a castidade e a virgindade agradavam a Deus e a Sua
Santı́ssima Mã e. P. Luis Becerra Tanco deu testemunho deste fato: “O
indı́gena Juan Diego e sua esposa, Marı́a Lucı́a, praticavam a castidade
desde que receberam o Santo Batismo depois de ouvir um dos
primeiros ministros evangé licos sobre pureza e castidade e como Deus
ama as virgens. Essa reputaçã o era conhecida por todos os que
conheciam o casal ”.116Apesar dessa decisã o, Juan Diego teve
descendentes, talvez antes do batismo, talvez de outro membro da
famı́lia, pois sabemos que isso é um fato por meio de fontes
histó ricas. Um dos principais documentos que aludem a este fato se
conserva no Arquivo do Convento de Corpus Christi da Cidade do
Mé xico, que declara: “Sor Gertrudis del Señ or San José , ilha de caciques
[nobres indı́genas], Dn. Diego de Torres Vá zquez e Da. Marı́a de la
Ascenció n da regiã o de Xochiatlan ... e descendente do beato Juan
Diego. ”117
As pessoas foram edi icadas pelo testemunho e pela palavra de Juan
Diego; na verdade, eles iriam pedir-lhe para interceder junto a Nossa
Senhora por eles pelas necessidades, petiçõ es e oraçõ es de seu povo,
porque “tudo o que ele implorasse à Senhora do Cé u, Ela o
concederia”.118Nunca perdeu a oportunidade de narrar o modo como
se deu o maravilhoso encontro que teve com a Virgem e o privilé gio de
ter sido o mensageiro da Virgem de Guadalupe. Ele foi um verdadeiro
missioná rio. O povo simples o reconhecia como um verdadeiro santo e
o venerava. Alé m disso, os indı́genas o usaram como modelo para seus
ilhos o seguirem e expressaram livremente que ele era realmente um
“Homem Santo”.119Alé m disso, no Nican Motecpana encontra-se o
desejo de que “Esperançosamente, nó s a servirı́amos
e nos afastaríamos de todas as coisas pesadas deste mundo para que
també m pudé ssemos obter as alegrias eternas do Cé u!”120Como
sabemos, Juan Diego morreu em 1548, poucos anos depois de seu tio,
Juan Bernardino, falecido em 15 de maio de 1544. Ambos foram
sepultados em seu amado Santuá rio. O Nican Motecpana nos diz que
“Depois de servir a Senhora do Cé u lá por 16 anos, Juan Diego morreu
em 1548, no momento em que o Bispo morreu. A Senhora do Cé u o
consolou. Ele a viu e Ela disse a ele que era hora de ir buscar e desfrutar
do Cé u, tudo o que Ela havia prometido. Ele també m foi enterrado no
Santuá rio. Ele tinha 74 anos. ”121

Testemunhos juramentados em Informaciones Jurídicas de


1666
Sem dú vida, um dos documentos fundamentais para estabelecer a
personalidade de Juan Diego, por dar referê ncias concretas à sua vida, à
sua famı́lia e à sua missã o, é conhecido como Informaciones Jurídicas de
1666, um importante processo canô nico, aprovado posteriormente
pela Santa Sé e constituiu-se como Processo Apostó lico quando foi
concedida a aprovaçã o para celebrar a Festa da Virgem de Guadalupe
em 12 de dezembro com Ofı́cio pró prio e
Oraçã o.122Essas Informaciones, embora sejam de 1666, nã o podem ser
consideradas de fonte tardia, pois reú nem depoimentos de antigos
ı́ndios (alguns deles com mais de 100 anos), que lembravam do que
seus familiares e amigos pró ximos lhes contavam, antigos
depoimentos de. De grande importâ ncia, e as Informaciones é um dos
documentos que nã o pode ser deixado de lado, nem ningué m pode
tentar invalidá -la, porque possui valor o icial. Miguel Leó n-Portilla
a irmou que as Informaciones Jurídicas de 1666 “lançaram uma certa luz
sobre a pessoa de Juan Diego. As muitas contribuiçõ es particulares
sobre ele, pactuadas entre si, sã o dignas de consideraçã o. ”123
A primeira parte das Informaciones Jurídicas ocorreu de 3 de janeiro a
14 de abril de 1666. A investigaçã o foi realizada com sete testemunhas
indı́genas e um mestiço, vizinhos de Cuauhtitlá n, cidade que conhecia
bem Juan Diego. Suas idades variaram de 80 a 115 anos. A segunda
parte foi desenvolvida de 18 de fevereiro a 11 de março do mesmo ano,
na Cidade do Mé xico. Na ocasiã o, foram recolhidas informaçõ es o iciais
e solenes de 12 pessoas in luentes, 10 clé rigos e dois leigos, com idades
compreendidas entre os 55 e os 85 anos. També m, um testemunho
escrito, denominado “Papel”, do solteirã o Luı́s Becerra Tanco, foi levado
em consideraçã o. Tudo isso se completou com o relato dos sete
professores de arte e dos trê s mé dicos quı́micos que inspecionaram os
arredores de l'Hermitage e a autopreservaçã o do tilma de Juan
Diego em que se encontra a Imagem de Guadalupe, e que já analisamos
no anterior capı́tulo. Ao todo um total de 21 testemunhas e
especialistas foram consultados para as famosas Informaciones
Jurídicas de 1666.
Todas as testemunhas e especialistas que participaram
desta Informaciones convergem para o que é essencial na narraçã o do
Acontecimento Guadalupano, embora cada um tenha uma ló gica
pró pria e diversa, o que mostra a autenticidade de seus
depoimentos. Alé m disso, coincidem em apontar o essencial do
encontro da Virgem de Guadalupe com o humilde ı́ndio de Cuauhtitlá n,
Juan Diego, bem como informaçõ es sobre sua famı́lia, especialmente
sobre sua esposa, Marı́a Lucı́a, falecida dois anos antes do apariçõ es, a
recuperaçã o milagrosa de seu tio Juan Bernardino, e a atitude dos
servos de Frei Juan de Zumá rraga e das pessoas ao seu redor. També m
falam da extraordiná ria Imagem estampada na tilma e sua misteriosa
autopreservaçã o em um lugar muito ú mido e salgado, a construçã o de
l'Hermitage como a Virgem havia pedido e a vida virtuosa de Juan
Diego. Referem-se a ele como modelo e exemplo de santidade e falam
da sua missã o de intercessã o pelo seu povo, bem como dos mú ltiplos
milagres e da sua grande devoçã o que se estendeu prodigiosamente.
A primeira parte das Informaciones foi con iada ao padre Antonio de
Gama, de 27 anos e considerado um “virtuoso sacerdote das letras e da
experiê ncia, que respondeu bem e ielmente a tudo o que lhe foi
con iado”.124 Gama nasceu em Cuauhtitlá n125 e conhecia as pessoas
que melhor poderiam contribuir para o conhecimento do Evento
Guadalupan.
A atitude e o espı́rito de autenticidade e verdade aplicados neste
processo sã o evidentes em todo o documento. Um exemplo disso está
no juramento dos inté rpretes que traduziram do ná huatl para o
espanhol tudo o que os indı́genas declararam. Na parte essencial deste
documento, lemos que “Eles juraram a Deus e à Cruz, conforme exigido
pela Lei, e todos juntos disseram sob juramento que aceitaram o
juramento e que interpretariam a verdade sobre tudo o que foi pedido
e dito pelos Indı́genas, sem acrescentar nem tirar nada, mas como eles
disseram e divulgaram, e que assim fazendo, que Deus os ajude; se nã o,
que Deus poderia puni-los. ”126
Todos os anciã os de Cuauhtitlá n con irmaram a reputaçã o de Juan
Diego como uma pessoa que viveu uma vida exemplar. Analisando
alguns dos depoimentos dessas testemunhas, podemos perceber a alta
consideraçã o que tinham por Juan Diego. Por exemplo, uma dessas
testemunhas, Marcos Pacheco, um mestiço de mais de 80 anos,
declarou que desde criança seus parentes falavam com ele e com seus
irmã os sobre Juan Diego, especialmente sua tia, Marı́a Pacheco, que
conhecia Juan Diego pessoalmente, e ela lhes disse “que quando a
Santı́ssima Virgem apareceu ao indı́gena Juan Diego, ele já era viú vo de
Maria Lú cia e tinha mais de 55 ou 56 anos”.127 Foi sua tia quem contou
os detalhes da Apariçã o, porque ela sabia “com certeza, já que tinha
ouvido diretamente de Juan Diego”.128Por meio de seu depoimento
Marcos Pacheco sintetizou a personalidade de Juan Diego e sua fama de
santidade da seguinte maneira: “Era um indı́gena que vivia
honestamente e afastado do mundo, era um cristã o muito bom,
temeroso do Senhor e de sua consciê ncia. , muito apropriado. Tanto
que em muitas ocasiõ es sua tia lhe dizia: 'Que Deus faça você como
Juan Diego e seu tio', porque ela os considerava indı́genas muito bons e
cristã os muito bons ”.129 Sua fama de santidade era tal que "os antigos
pintores chegaram a pintá -lo nos conventos diante da Virgem".130
Outra testemunha indı́gena em Informaciones foi Gabriel Xuá rez, com
mais de 110 anos. Seu documento a irma que “Quando ocorreu o
milagre prodigioso da Apariçã o de Nossa Senhora de Guadalupe, seu
pai, Mateo Xuá rez, lhe contou. Disse també m que Ela havia aparecido a
um indı́gena chamado Juan Diego, nascido na mesma cidade e bairro,
em Tlayacac, e que seu pai o conhecia muito bem. Ele se lembrou de
seu pai lhe contando també m quando ele era adulto. ”131Sintetizando
seu testemunho, ele declarou como Juan Diego foi um verdadeiro
intercessor por seu povo. Ele disse: “A Santa Virgem disse a Juan Diego
o lugar onde o Hermitage deveria ser construı́do e que era onde Ela
havia aparecido. Esta testemunha viu e viu sendo construı́da. Como
muitos homens e mulheres que vã o vê -lo e visitá -lo, esta testemunha
tem ido muitas vezes pedir-Lhe remé dio, e també m Juan Diego, para
que interceda por ele ”.132Posteriormente, em seu depoimento, ele
expô s mais detalhes sobre a personalidade de Juan Diego e a grande
con iança que o povo depositava nele para interceder por suas
necessidades. Gabriel Xuá rez declarou que
Juan Diego, sendo natural de Cuauhtitlá n, do bairro de Tlayacac, era um
bom ı́ndio cristã o, temeroso de Deus e de sua consciê ncia, e as pessoas
sempre viam que ele vivia com tranquilidade e honestidade, sem criar
problemas ou escâ ndalos, mas sempre era visto tomando cuidar dos
ministé rios a serviço de Deus Nosso Senhor, assistir pontualmente ao
Catecismo e à Missa, e fazê -lo regularmente e esta testemunha viu que
todos os ı́ndios daquela é poca o chamavam de Santo, e també m
Peregrino porque estava sempre só e só ia ao Catecismo em
Tlaltelolco. Depois da apariçã o da Virgem de Guadalupe a Juan Diego, e
de deixar sua cidade, casas e terras para seu tio porque sua esposa
havia morrido, ele foi morar em uma casa feita para ele pró ximo a
l'Hermitage. Lá os ı́ndios de Cuauhtitlá n costumavam ir vê -lo e pedir
sua intercessã o diante da Santı́ssima Virgem para dar-lhes uma boa
colheita, porque naquela é poca todos o consideravam um Homem
Santo.133
Outra testemunha foi André s Juan, um indı́gena de 112 a 115 anos, que
ocupou cargos importantes no governo indı́gena de
Cuauhtitlá n. Depois de ter narrado todas as Apariçõ es da Virgem de
Guadalupe ao Indı́gena Juan Diego, ele declarou que quando Juan Diego
resolveu cumprir a vontade da Virgem de construir a capela que Ela
havia pedido, “como era o costume dos Indı́genas de aquela cidade e os
nativos dela iriam todos, por semana, trabalhar na sua construçã o, e as
ı́ndias, para varrê -la e perfumar. Esta testemunha lembra-se
distintamente. ”134 A respeito da personalidade de Juan Diego, ele disse
que era “um homem muito quieto e pacı́ ico, um bom cristã o, temeroso
de Deus e de sua consciê ncia, nã o havia nenhum problema ou
escâ ndalo com ele, ele frequentava o Catecismo e a Missa regularmente
na igreja em Tlaltelolco, sem deixar de cumprir suas obrigaçõ es ”.135Ele
també m declarou que Juan Diego sempre foi procurado para suas
intercessõ es. Ele disse: “Depois da apariçã o, ele foi considerado um
Homem Santo e, como tal, eles o respeitaram e iriam visitá -lo em
l'Hermitage, onde ele tinha sua casinha ao lado da dela. Foram ali para
que intercedesse junto à Santı́ssima Virgem para que tivessem bons
tempos, e esta testemunha conhecia aquela casinha, onde Juan Diego
ajudava ”.136
Depoimento de uma indı́gena Juana de la Concepció n, 85 anos, e
segundo o documento,
Conforme registrado anteriormente por seu pai, um cacique daquela
cidade, ele foi o primeiro a saber o que acontecia ali, bem como na
Cidade do Mé xico e seus arredores. Ele era um ı́ndio tã o curioso que
anotava tudo, e colocava no que eles chamam de escritos [có dices],
junto com muitas outras coisas. E tinha, se nã o me engano, escrito
sobre a Apariçã o da Santı́ssima Virgem de Guadalupe, por ter
aparecido ao indı́gena Juan Diego, nascido em Tlayacac, em
Cuauhtitlá n, e a quem seu pai conhecia muito bem, e Marı́a Lucia , sua
esposa, e Juan Bernardino, seu tio. Ele tinha tudo escrito, mas em duas
ocasiõ es ladrõ es roubaram tudo o que ele tinha em termos de dinheiro
e outras coisas, entre as quais estavam os papé is que guardava, mais
[tı́tulos de] sua fazenda, terras, casas, bairros e objetos que pertencia
ao povoado, assim como aqueles [registros] relativos à Apariçã o da
Soberana Rainha dos Cé us e Mã e de Deus de Guadalupe, como uma
pessoa que també m a conhecia e conhecia Juan Diego, sua esposa e seu
tio.137
E mais uma vez, ela con irma a opiniã o de que todos no povoado de
Juan Diego o conheceram como um homem santo porque ele tinha
visto a Virgem: “todos os ı́ndios e ı́ndios desta cidade iriam vê -lo em
l'Hermitage, a seu respeito sempre como um homem santo, e esta
testemunha nã o apenas ouviu seus pais dizerem isso, mas també m
muitas outras pessoas. ”138
Outra testemunha com a qual contamos foi o governador do Indı́gena
de Cuauhtitlá n, o Indı́gena Pablo Xuá rez, 78 anos, que disse, por meio
de inté rpretes sob juramento, que “quando esta testemunha já era
casada e com ilhos, sua avó por parte de mã e, Justina Cananea,
contaria como conheceu muito bem o indı́gena Juan Diego, Maria
Lú cia, sua esposa, e Juan Bernardino, seu tio. Eram todos vizinhos,
nascidos em Tlayacac, e os conheciam e conversavam com eles, pois
esta avó havia morrido há mais de 40 anos, na é poca tinha mais de 110
anos. Ela contaria a esta testemunha e a Isabel Cananea, sua mã e, tudo
isso e como a Santı́ssima Virgem de Guadalupe apareceu a Juan Diego
”.139
Pablo Xuá rez també m oferece importantes informaçõ es sobre a
personalidade e a vida de Juan Diego, o que con irma sua reputaçã o de
homem verdadeiramente digno, zeloso e devoto, cheio da presença de
Deus. Disse que “sua avó conhecia muito bem o indı́gena Juan Diego e
falava com ele, e que os ı́ndios daquela cidade o consideravam um bom
cristã o. Quando a Santı́ssima Virgem lhe apareceu, era um homem
maduro de 56 ou 58 anos, nã o tinha nenhum tipo de vı́cio, viveu
sempre com honestidade e reclusã o, sem escâ ndalos no seu modo de
vida, bom cristã o, temeroso de Deus e dos seus. consciê ncia, gostava
muito de ir ao catecismo e à missa com frequê ncia e nunca faltou a esta
obrigaçã o de forma alguma, desde que o conheceu, “140e que ”sua avó
lhe disse que uma casinha foi imediatamente construı́da para ele ao
lado de l'Hermitage. A avó da testemunha viu começar a fundaçã o do
Santo Hermitage e lá trabalhou, assim como todos os outros ı́ndios de
Cuauhtitlá n, onde Juan Diego nasceu. Todos eles o conheciam e falavam
com ele. “141E da mesma forma, pediriam a Juan Diego que
intercedesse pelo povo. Declarou que “depois que Juan Diego se mudou
daquela cidade para o lugar onde hoje se encontra o Santo Eremité rio, a
avó da testemunha iria vê -lo com os demais ı́ndios e pedir-lhe que
intercedesse junto à Santı́ssima Virgem, pois ele foi tã o amada por Ela,
para favorecê -los e dar-lhes boas temporadas. “142Juan Diego era tã o
virtuoso e santo que realmente era um bom exemplo a ser seguido pelo
povo. A testemunha declarou que Juan Diego era “a favor de todo
mundo viver bem porque, como dizia sua avó , ele era um homem santo,
e que agradaria a Deus se seus ilhos e netos fossem como ele, porque
ele era tã o virtuoso que falava à Virgem, razã o pela qual ela sempre o
teve sob esta opiniã o e també m toda esta cidade. ”143
Martin de San Luis, um indı́gena de 80 anos, declarou que
dos 10 aos 12 anos, em muitas ocasiõ es Diego de Torres Bulló n, ı́ndio
de mais de 80 ou 90 anos, muito velho, nascido em Cuauhtitlá n e
sacristã o da Igreja por muitos anos, muito inteligente, sabia muitas
coisas e sabia ler e escrever, disse a Martı́n que conhecia muito bem o
indı́gena Juan Diego e conversou com ele, pois també m era natural de
Cuauhtitlá n, em Tlayacac, e que da mesma forma conhecia Marı́a Lucı́a,
sua esposa, e Juan Bernardino, seu tio.144
A testemunha disse que este ı́ndio narrou o acontecimento com
precisã o, que
ouviu Diego de Torres Bulló n contar como conheceu e conheceu o
indı́gena Juan Diego, pois, como já mencionou, ele nasceu em
Cuauhtitlá n, no bairro de Tlayacac, e que quando a Rainha dos Cé us e
Mã e dos Deus, de Guadalupe, apareceu-lhe, era um homem maduro de
56 ou 58 anos, temeroso de Deus e da sua consciê ncia, tinha há bitos
santos, nunca se queixou dele, gostava muito de ir à Igreja e ao
Catecismo e à Missa , foi um bom exemplo para todos que o
conheceram e conversaram com ele.145
O pró prio Juan Diego lhe contara como levara seu tilma ao bispo, como
a Virgem ordenara, e o que aconteceu depois disso. Ele declarou que
Juan Diego foi obediente e levou-o à casa do Bispo e foi vê -lo com muita
di iculdade. Entrou, anunciando-se aos porteiros, deu sua mensagem e
estendeu seu ayate que estava amarrado aos ombros; as rosas e lores
caı́ram, deixando no ayate a Soberana Rainha do Cé u e a Mã e de Deus,
de Guadalupe, estampada. O bispo, vendo um prodı́gio tã o portentoso,
começou a chorar, como todos os presentes. Diego de Torres de Bulló n
disse tudo isso a esta testemunha, com precisã o e clareza, depois de ter
feito o pró prio Juan Diego relatar a ele porque falava sobre isso.146
Com toda a pontualidade, Diego de Torres Bulló n continuou declarando
que o bispo decidiu imediatamente construir o templo que a Virgem
havia pedido,
Que foi entã o feito. Diego de Torres Bulló n estava na procissã o que se
realizou, desde a Cidade do Mé xico até onde hoje se encontra aquela
Imagem Sagrada. E que ele viu como o arcebispo [Zumá rraga]
participava da procissã o, andando descalço. O melhor da Cidade do
Mé xico, das cidades vizinhas e, em particular, da cidade de Juan Diego
se reuniram ali. Foi anunciado no mercado e na praça de
Cuauhtitlá n. Todos iam com trompetes e tambores, Diego de Torres
Bulló n com instrumentos, e as danças da é poca. Durante semanas, os
nativos foram construir o Hermitage, que era pequeno e feito de
adobe. Diego de Torres Bulló n també m foi trabalhar na construçã o,
varrê -la e perfumá -la, junto com as mulheres indı́genas, com grande
devoçã o pelo prodigioso milagre e por ter acontecido a um indı́gena
tã o conhecido, nascido e criado em aquela cidade. Diego de Torres
Bulló n disse à testemunha que iria freqü entemente ver Juan Diego
depois que ele foi morar em uma casinha, feita para ele ao lado de
l'Hermitage. Diego de Torres Bulló n disse isso a esta testemunha, mas
muitas outras coisas de que nã o se lembra depois de tanto tempo,
todas sobre a Santı́ssima Apariçã o.147
O Hermitage foi construı́do precisamente no local indicado por Juan
Diego, e foi Juan Diego pessoalmente quem o deu a conhecer. A
testemunha declarou que estavam “fazendo uma igreja e um Hermitage
no lugar que Juan Diego indicou e onde disse que a Virgem Santa
apareceu a ele e lhe deu aquelas mensagens. Isso é o que Diego de
Torres Bulló n disse que Juan Diego lhe disse. ”148Logo este lugar foi
considerado sagrado; muitas pessoas foram em peregrinaçõ es e
participaram de novenas.149Esta testemunha declarou ter visto
“muitas vezes esta Santa Imagem onde Ela está colocada, tendo ido
muitas vezes à s novenas, como muitas pessoas fazem e fazem todos os
dias, para vê -la e visitá -la, em grandes grupos. Lá ele viu inú meros
milagres que a Divina Majestade tem feito, em nome e por intercessã o
da Santa Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. ”150 Disse que Juan
Diego sempre foi considerado um homem santı́ssimo, “e que veria Juan
Diego fazendo grandes penitê ncias e que naquela é poca o chamavam
de Homem Santı́ssimo”.151
Juan Xuá rez, outra testemunha indı́gena, de mais de 100 anos, declarou
que tinha ouvido seu pai, també m chamado Juan Xuá rez, e sua mã e,
Marı́a Jeró nima, dizer que conheciam Juan Diego e sua famı́lia muito
bem, que ele era um homem maduro na é poca da Apariçã o, era viú vo de
Maria Lú cia, e que tinha um tio, Juan Bernardino. Depois de narrar o
essencial das apariçõ es da Virgem de Guadalupe a Juan Diego, como
izeram todos os indı́genas, ele disse ao inal de seu relato:
Juan Diego disse ao pai desta testemunha que o arcebispo [Zumá rraga]
e todos os presentes se cobriram de lá grimas depois de terem visto um
milagre tã o prodigioso; e depois começaram a fazer-se a casa e o
Hermitage no lugar onde todos agora vã o em procissõ es, que se
organizam na Cidade do Mé xico, em todas as localidades que a rodeiam
e muito particularmente em Cuauhtitlá n, porque o prodigioso milagre
tinha sido anunciado na feira pú blica. . Todo mundo vai com muitos
instrumentos e tem dança. O pai dessa testemunha esteve presente em
tudo isso porque Juan Diego era muito conhecido e nasceu naquela
cidade onde tinha sua casa, terras e todos os seus parentes. Naquela
é poca, ele era viú vo de Marı́a Lucia, pois ela havia morrido dois anos
antes. Depois de tudo o que foi mencionado antes, Juan Diego voltou
para sua casa, sem saber se seu tio, Juan Bernardino, havia morrido,
mas Juan Diego o encontrou bem. Entã o ele perguntou como ele estava
bem, e seu tio respondeu que uma senhora apareceu para ele pouco
tempo depois da partida de Juan Diego; quando ele estava melhor, ela
falava com ele e dizia para ele se levantar. Juan Diego disse-lhe que, pela
descriçã o, era a mesma Senhora que vira trê s vezes e que lhe dissera
que o tio estava bem. Tudo isso o pai da testemunha lhe disse muitas
vezes. Quando a testemunha tinha entre 15 e 18 anos, ouviu a histó ria
muitas vezes de muitas pessoas da cidade e de todos os parentes de
Juan Diego. Essa histó ria era tã o conhecida que todos os anos se
celebrava a Festa da Rainha Soberana dos Anjos e Mã e de Deus de
Guadalupe. No dia seguinte, todo o povoado [de Cuauhtitlá n], o
Governador, Prefeitos e Chefes iriam celebrar a Festa da Virgem e Juan
Diego, nascido naquele povoado para que Ela intercedesse junto à
Divina Majestade por bons tempos. Isso eles tê m praticado desde a
Apariçã o; essa testemunha iria todos os anos, junto com todos. Mesmo
agora, é costume ir com suas velas, já que todos os governadores
tiveram um cuidado especial [em manter essa prá tica]. Da mesma
forma, homens e mulheres iriam passar semanas na construçã o do
primeiro Hermitage. Esta testemunha lembra-se muito bem de tudo
isso, tendo ido à construçã o, embora fosse apenas um menino de 12 a
15 anos, porque teve, e tem, uma grande devoçã o de ir a l'Hermitage.
Alé m disso, esta testemunha declarou que “Outra capela foi construı́da
na casa de Juan Diego [em Cuauhtitlá n] pelos nativos dessa cidade. Esta
testemunha, nascida lá , teve, e tem, ó timas informaçõ es sobre o que foi
dito, por ter ouvido de seu pai e de sua mã e ”.152
Catalina Mó nica, uma ı́ndia de 100 anos, foi outra testemunha valiosa
que disse se lembrar “muito bem de ter ouvido seus pais e sua tia
Martina Salomé dizer que a Rainha do Cé u, Mã e de Deus, de Guadalupe,
havia aparecido trê s vezes para um indı́gena, um vizinho nascido em
Tlayacac, cujo nome era Juan Diego. ”153Todo o relato sobre a Apariçã o
da Virgem a Juan Diego foi contado à tia por Juan Diego pessoalmente,
visto que ela era muito conhecida dele e de sua famı́lia. A testemunha
disse: “Com toda a clareza Martina Salomé relataria a esta testemunha
porque ela era uma indı́gena muito inteligente e muito importante, e
ela conheceu e conversou com Juan Diego e sua esposa, Maria Lú cia, e
Juan Bernardino, seu tio, e todos os seus parentes. ”154 Ela també m
testemunhou nã o só sobre o encontro portentoso entre a Virgem de
Guadalupe e Juan Diego, e a colaboraçã o dos ı́ndios na construçã o da
Ermida, como era a vontade da Dama do Cé u, mas també m con irmou
que pediriam a Juan Diego interceder por eles perante a Virgem:
Eles iriam a l'Hermitage um dia depois da celebraçã o da Festa da
Santı́ssima Virgem, com muitas velas e rosas, para festejar porque Juan
Diego era desta cidade; iriam todos juntos pedir-lhe que intercedesse
junto à Rainha do Cé u e Mã e de Deus. Da mesma forma, todos os
indı́genas [de Cuauhtitlá n] iriam passar semanas à construçã o de
l'Hermitage, incluindo os pais e a tia da testemunha, para varrer e
perfumar o l'Hermitage. Com a testemunha já com 15 anos de idade,
muitas vezes a levavam para ver a Rainha do Cé u, estando na mesma
forma e jeito que é hoje, sem mudar nada.155
E Juan Diego era muito amado, disse ela: “o indı́gena era muito
venerado porque foi tã o abençoado por ter falado com a Santı́ssima
Virgem de Guadalupe”.156
Juan Diego era realmente “um ı́ndio bom e cristã o” para seu povo, ou
um “homem santo”. Esses tı́tulos seriam su icientes para entender a
magnitude de sua fama porque os ı́ndios eram muito rı́gidos quanto a
quem entre eles atribuı́am um nome como “ı́ndio bom”, e ainda mais
rı́gidos se declarassem que algué m era tã o bom que podiam considerá -
lo. um “santo”, a ponto de orar para que Deus torne seus pró prios ilhos
ou parentes tã o bons e santos quanto Juan Diego. E nã o só isso, mas
Juan Diego era tã o amado e venerado como um verdadeiro santo que o
povo o tinha como intercessor diante da Senhora do Cé u para ouvir as
suas oraçõ es e as suas necessidades. Como disse o ı́ndio André s Juan:
“Eles iriam vê -lo em l'Hermitage onde ele tinha uma casinha ao lado
dela, para que intercedesse junto à Santı́ssima Virgem para que
tivessem bons tempos”.157 Ou como declarou a indı́gena Catalina
Mó nica: “Todos foram pedir a Juan Diego que intercedesse junto à
Rainha do Cé u e Mã e de Deus”.158
Essas Informaciones Jurídicas de 1666 tiveram uma segunda parte, que
aconteceu na Cidade do Mé xico de 18 de fevereiro a 11 de março,
quando outras pessoas testemunharam, 10 padres e dois leigos, que
pertenciam à s mais altas hierarquias eclesiá sticas e sociais. Os padres
eram altos diretores ou ocupavam cargos muito importantes nas
respectivas comunidades; cada um deles deu o seu testemunho sob
juramento solene de dizer a verdade, em Verbo Sacerdoti, enquanto os
dois leigos també m ocuparam cargos de grande responsabilidade e
juraram por Deus Nosso Senhor e pelo Sinal da Cruz.
Os 10 padres que juraram dizer a verdade em seu depoimento foram:
Padre Miguel Sá nchez, 60, residente na arquidiocese do Mé xico; O
padre frei Pedro de Oyanguren, 80, pregador geral da Ordem dos
Pregadores; Pe. Frei Bartholomé de Tapia, 55, da Ordem Franciscana,
que fora Provincial da mesma; Pe. Frei Antonio de Mendoza, 66,
De inidor provincial da Ordem de Santo Agostinho; Padre Frei Juan de
Herrera, 71, religioso mercedá rio e professor de Teologia na
Universidade Real do Mé xico; Padre Frei Pedro de San Simon, 65,
religioso Carmelita Descalço, De inidor de sua Ordem e Prior trê s vezes
na Casa do Mé xico com o nome de San Sebastiá n; Pe. Diego de Monroy,
65, religioso jesuı́ta, Prelado da Casa Profesa do Mé xico; Padre Frei Juan
de San Joseph, 76, religioso Sã o Franciscano, Provincial e Prelado de
todas as casas da Ordem, bem como examinador do Santo Ofı́cio da
Inquisiçã o da Nova Espanha; O padre Frei Pedro de San Nicolá s, 71, da
Ordem da Hospitalidade de Sã o Joã o de Deus, Prelado de algumas
comunidades daquela Ordem; e o padre Frei Nicolá s Zerdá n, 61,
Provincial da Ordem de Santo Hipó lito do Mé xico.
Os dois leigos que prestaram depoimento nessas investigaçõ es foram:
Miguel de Cuebas y Dá valos, 81, que tinha a responsabilidade de ser
Prefeito Ordiná rio do Mé xico e Prefeito Principal da Nova Espanha; e
Diego Cano Moctezuma, 61, cavaleiro da Ordem de Santiago e també m
Prefeito Ordiná rio do Mé xico e descendente do Imperador Moctezuma.
Alé m dessas 12 testemunhas, havia uma pessoa adicional, o padre Luis
Becerra Tanco, 81, que participou. Ele deu um testemunho escrito que
foi con irmado pelo Tabeliã o Apostó lico e Pú blico que estava de plantã o
naquele momento. Complementa o depoimento prestado por todas as
outras testemunhas de tal forma que este “Papel” foi totalmente
aceite. O pró prio Luis Becerra Tanco o lapidaria, dando maior exatidã o
à s suas a irmaçõ es, pois mais tarde encontrou suas antigas anotaçõ es
que o ajudaram a elaborar um documento mais perfeito, e que seria
entregue para publicaçã o posterior. Chamava-se Felicidad de
México, que, infelizmente, nã o viveu para ver publicada.
Todos eles concordam com o contexto essencial do Evento
Guadalupan. Ainda que Miguel Sá nchez, a primeira testemunha, tenha
sido o primeiro a publicar as Apariçõ es de Nossa Senhora de
Guadalupe em um livro que intitulou Imagen de la Virgen Santísima de
Guadalupe que es la que está en dicha Ermita de su Milagrosa Aparición,
que está extramuros de la Ciudad , isso nã o signi ica que foi a ú nica
fonte pela qual este evento foi conhecido. Como declararam as outras
testemunhas, sabiam disso por todas as pessoas que sabiam o que
tinha acontecido, como Pedro de Oyanguren testemunhou: “que desde
que esta testemunha se lembra, tendo nascido e crescido nesta Cidade,
tinha muitas informaçõ es contada a ele por diferentes pessoas idosas e
pessoas de todas as idades, posiçõ es e nı́veis, sem nenhum contato
entre si. ”159 Ou, como testemunhou Frei Antonio de Mendoza, “desde
que se lembra, de ter nascido na Cidade do Mé xico e de ter ouvido isso
de seus pais e avó s, muito idosos, como era seu avô , Dom Antonio
Maldonado, Presidente do Real Chancelaria desta cidade, e seu pai, Don
Alonso de Mendoza, Capitã o da Guarda do Conde Coruñ a, Vice-Rei
desta Nova Espanha. ”160 Ou, como Pedro de San Nicolá s declarou,
“desde que ele se lembra, pessoas idosas e pessoas de autoridade lhe
disseram”.161 Ou como a irmou Diego Cano Moctezuma, descendente
do Imperador Moctezuma, “tendo ouvido os seus pais e antepassados,
e tendo-se investigado entre os velhos e as autoridades que
mantinham uma tradiçã o a Apariçã o da Santı́ssima Senhora”.162
No que diz respeito ao indı́gena Juan Diego, todas as testemunhas
coincidiram em exaltar a vida exemplar e virtuosa da vidente da
Virgem de Guadalupe. Os exemplos começam com o Padre Miguel
Sá nchez que declarou: “O indı́gena Juan Diego, a quem esta Soberana
Senhora apareceu, era um homem muito cristã o, justo e com muito
medo de Deus, e como tal, uma vez que a Santa Imagem foi colocada
neste Hermitage, ele serviu esta Santı́ssima Senhora nele, sem faltar
atendimento, até que ele morreu, deixando uma reputaçã o de ter
vivido justa e virtuosamente, sem qualquer culpa atribuı́da. ”163
O padre Frei Pedro de Oyanguren testemunhou que o indı́gena Juan
Diego era um
homem extremamente bom, muito cató lico, temeroso de Deus e da sua
consciê ncia, e praticava frequentemente os Santos Sacramentos da
Penitê ncia e da Eucaristia, tratava as coisas com maturidade, mesmo
com alguma discriçã o nas suas conversas, tinha visto uma grande
capacidade em Juan Diego, como todos puderam ver, porque, tendo
suas pró prias casas para morar e terras para plantar, em Cuauhtitlá n
onde nasceu, havia deixado tudo, vindo morar na Ermida de Nossa
Senhora de Guadalupe, onde viveu a sua vida até à morte, ocupando-se
com esses exercı́cios, varrendo-a e regando-a com especial cuidado, e
edi icando os cristã os que o viam, que faziam novenas, visitas e
peregrinaçõ es, sem nunca ver nem ouvir nada ( nem saber de nada dito
ou ouvido) que desmentisse a honestidade, a virtuosidade e o
comportamento justo do indı́gena Juan Diego, já maduro em idade.164
Padre Frei Antonio de Mendoza declarou que “O ı́ndio Juan Diego, a
quem apareceu a Santı́ssima Virgem, era um homem de idade madura
que sempre viveu com honestidade e retraı́do, um bom cristã o,
temeroso de Deus Nosso Senhor e de sua consciê ncia, sem refutando
seus bons há bitos e maneiras de qualquer forma que pudesse ser
percebida, e causando com seu justo comportamento um grande
exemplo a todos que o encontravam e conversavam com ele. Sob esta
boa vida e há bitos ele tinha morrido, servindo esta Senhora Santı́ssima
em Seu santuá rio e Igreja desde o dia em que Ela foi colocada nele. ”165
Padre Diego de Monroy declarou a respeito de Juan Diego que “Pelo que
tem ouvido de muitos cristã os idosos e outros, já que é uma tradiçã o
permanente que o indı́gena Juan Diego, a quem a Santı́ssima Senhora
falou e deu as mensagens mencionadas Sua Majestade, foi um homem
maduro, que sempre viveu honestamente e retraı́do como um bom
cristã o, temeroso de Deus Nosso Senhor e de sua consciê ncia, sem
culpa em seus bons há bitos e maneiras de qualquer forma que pudesse
ser vista, causando com seu caminho de vida e de justiça um grande
exemplo a todos que o conheceram e conversaram com ele. Ele sempre
esteve naquela Igreja e Santuá rio, servindo aquela Senhora até morrer.
”166
Miguel de Cuebas, um leigo, acrescentou que “Dando com os seus
modos justos um grande exemplo a todos os que o conheceram e
falaram com ele, a sua vida terminou virtuosamente e santı́ssima,
servindo aquela Senhora, até à sua morte”.167
Muitas das informaçõ es que nos sã o dadas em Informaciones Jurídicas
de 1666 convergem nã o só com a publicaçã o que o Padre Miguel
Sá nchez fez em 1648, que aliá s mencionou em seu depoimento que
escreveu com zelo, procurando as notı́cias mais seguras desta tradiçã o.
e Apariçã o, e ele começou um livro, que ele realmente fez e
intitulou Imagen de la Santísima Virgen de Guadalupe. que es la que está
en dicha Hermita de su milagrosa Aparición que está extramuros de la
ciudad [Imagem da Santíssima Virgem de Guadalupe que se encontra em
tal Ermida de sua aparição milagrosa que está fora das paredes
da cidade], que é a ú nica dado ao editor, mas també m com vá rias outras
publicaçõ es; assim, foi uma histó ria verdadeira, conhecida por muitos
por meio de diferentes fontes, bem como pela tradiçã o oral.
Algumas das fontes que convergem com as Informaciones
Jurídicas de 1666
Algumas das fontes antigas que convergem com as informaçõ es
prestadas pelas testemunhas nestas Informaciones Jurídicas de
1666 foram, por exemplo, Nican Mopohua de Antonio Valeriano, escrita
entre 1545 e 1548, narraçã o que consideramos essencial. Da mesma
forma, converge com uma narraçã o escrita antes de Nican
Mopohua que foi chamada Relación Primitiva, també m conhecida
como Ininhueytlamahuizoltzin e incluı́da no Sermonario de 1600 pelo
Padre Juan de Tovar, SJ, escrita aproximadamente entre 1541 e 1548 e
na qual Juan Diego é descrito de uma forma peculiar, ao exaltar a sua
grande humildade, como “um pobre homem do povo, um macehual, de
verdadeiramente grande piedade. Este camponê s, mecapal, andava
pelo topo do Tepeyac (para ver se por acaso encontrava uma pequena
raiz para desenterrar) tentando ganhar a vida ”.168O evento é narrado
de forma sinté tica, essencialmente, enfatizando alguns momentos
importantes, como quando a Virgem pediu a Juan Diego que fosse
cortar as lores: “'Nã o ique triste', disse a Virgem, 'meu menino. Vá
colher, vá cortar algumas lores lá onde elas lorescem. ' Essas lores só
loresceram ali por milagre porque naquela regiã o o solo está muito
seco. As lores nã o desabrochariam em nenhuma parte. Quando nosso
homenzinho os cortou, ele os colocou na cavidade de seu tilma. "169E
mais adiante disse: “E quando ele estendeu seu tilma para mostrar as
lores ao Arcebispo, ele també m viu, ali no tilma de nosso
homenzinho , impressionado ali, A Menininha Rainha; Ela estava em
um retrato-sinal, de uma maneira prodigiosa. ”170Sobre esta
chamada Relación Primitiva, os historiadores Ernesto de la Torre e
Ramiro Navarro de Anda disseram: “Foi estudada pelo Padre Angel
Marı́a Garibay, que, devido ao seu estilo, estimou ter sido escrita antes
de Nican Mopohua, por Antonio Valeriano . Os dois relatos coincidem
no essencial, mas este é mais breve, claro e parece ter sido escrito, nã o
por ı́ndios, mas por uma pessoa de origem espanhola, embora um
excelente conhecedor de ná huatl ... Publicamos aqui este texto,
considerando-o o mais antigo entre as narrativas histó ricas, pelo seu
valor indubitá vel. ”171
O testemunho do pirata Miles Philips172també m converge. E o ú nico
caso conhecido até agora sobre a devoçã o guadalupana no sé culo XVI
resultante de uma origem europeia nã o hispâ nica. Mas vamos ver sua
histó ria. Em 8 de outubro de 1568, o pirata John Hawkins teve um
encontro surpreendente com a frota do novo vice-rei, Enrı́quez de
Almanza, que chegava para governar a Nova Espanha, e que o obrigou a
deixar alguns membros de sua tripulaçã o na costa do Panuco [Rio,
Mé xico]. Miles Philips foi um daqueles ingleses que icaram em terra, o
que facilitou aos espanhó is capturá -lo e enviá -lo para a Cidade do
Mé xico. Philips tinha o costume de anotar tudo o que acontecia com
ele. Graças a isso temos sua narraçã o fresca e espontâ nea do que mais
lhe chamou a atençã o. O que ele viu ao chegar ao Tepeyac é revelador e
ele traz informaçõ es que nos ajudam a entender como as pessoas
viviam naquela é poca. Obviamente, os participantes das Informaciones
Jurídicas de 1666 nã o sabiam de tudo isso; no entanto, o que ele expõ e
converge em muitos aspectos com seus depoimentos. Philips disse,
No dia seguinte, pela manhã , caminhamos para o Mé xico até
chegarmos a duas lé guas da cidade, para um local onde os espanhó is
construı́ram uma magnı́ ica igreja dedicada à Virgem. Lá eles tê m uma
imagem dela em prata coberta de ouro, do tamanho de uma mulher
alta,173e na frente dela, e do resto da igreja, há tantas lâ mpadas de prata
quantos dias em um ano, todas elas acesas em festividades
solenes. Sempre que passam por aquela igreja os espanhó is, mesmo
que seja a cavalo, eles descem, vã o para a igreja, ajoelham-se diante da
Imagem e rezam a Nossa Senhora para que os proteja de todo o
mal. Entã o, estejam eles caminhando ou a cavalo, eles nã o passam sem
entrar na igreja para orar, como mencionei, porque pensam que se nã o
o izessem nada sairia bem. Esta imagem é chamada em espanhol
de Nuestra Señora de Guadalupe. Aqui eles tomam dois banhos frios; a
á gua aqui é um pouco salgada ao paladar, mas muito boa para quem
tem feridas ou feridas, pois se diz que muitas estã o curadas. Todos os
anos, no dia da festa de Nossa Senhora, o povo costuma vir a oferecer e
rezar na igreja diante da Imagem, e dizem que Nossa Senhora de
Guadalupe faz muitos milagres.174
Outra fonte interessante que converge é oferecida por Juan Suá rez de
Peralta, crioulo da Nova Espanha, que foi magistrado e prefeito de
Cuauhtitlá n. Mudou-se para a Espanha em 1579 e morreu depois de
1589 em Trujillo, Extremadura. Peralta mencionou as apariçõ es de
maneira breve mas substancial em seu livro Tratado del Descubrimiento
de las Indias , escrito em 1589, que só foi publicado em 1878, em Madri,
com o tı́tulo Noticias Históricas de la Nueva España, e posteriormente,
Federico Gó mez de Orozco o publicou no Mé xico em 1949. Como
podemos ver, o livro icou iné dito por muito tempo, já que o
manuscrito foi concluı́do em Sevilha em 1589. Apó s apresentar um
relato da chegada do vice-rei Martı́n Enrı́quez de Almanza, passando
por o Tepeyac, em 5 de novembro de 1568,175Juan Suá rez de Peralta
nos informa que “Em cada cidade que chegamos izeram muitas
recepçõ es, como é costume para todos os vice-reis que aqui
vê m. Assim, ele chegou a Nossa Senhora de Huadalupe [Guadalupe],
que é uma imagem muito venerada e que fez muitos milagres (Ela
apareceu entre algumas falé sias e todo mundo vai a esta devoçã o). Esta
é a duas ligas da Cidade do Mé xico. De lá ele entrou na Cidade do
Mé xico e naquele dia uma grande festa foi dada para ele, com criados
vestidos de seda; uma escaramuça de muitos a cavalo, muito caro. ”176
Outra fonte que també m dá detalhes interessantes e que está de acordo
com os depoimentos de Informaciones Jurídicas de 1666, mas cujas
testemunhas també m nada sabiam, foi a oferecida pela freira Clara Ana
de Cristo, que acompanhava Madre Jeró nima de la Asunció n como sua
secretá ria. Essas freiras viajariam para as Filipinas para estabelecer um
novo mosteiro. Foram obrigados a passar pelo Mé xico, onde
permaneceram de setembro de 1620 a 1º de abril de 1621. Ana de
Cristo faria anotaçõ es sobre os momentos mais importantes de sua
viagem e, graças a isso, nos é oferecida també m uma narraçã o sobre o
momento em que passaram pelo Tepeyac e ouviram as pessoas
narrarem o ocorrido. Ana de Cristo captou o essencial quando falaram
de Juan Diego, obviamente quando mencionaram: “Ela apareceu a um
indı́gena”; a freira Clare nos informa em seu relató rio que
A ú ltima viagem à Nova Espanha foi a uma ermida que eles chamam de
“de Nossa Senhora de Guadalupe”. Estivemos lá uma noite, é um
paraı́so e a imagem de uma grande devoçã o. Eles a viram quando o
Mé xico foi derrotado, quando Ela estava jogando terra nos olhos do
inimigo; Ela apareceu a um ı́ndio naquele lugar onde Ela está , que ica
entre umas pedras, e ela disse para ele fazer uma casa e onde ela estava
Ela despejou um pouco de á gua limpa que a gente passou e viu e está
fervendo como se fosse estavam sobre um grande incê ndio; deram-nos
um copo para beber e é salgado. Algumas mulheres piedosas que
cuidavam da ermida nos contaram que a pró pria Virgem pediu ao ı́ndio
seu manto e mediu-o da cabeça aos pé s.177
Como podemos ver, a freira Ana de Cristo captou o essencial da
narraçã o sobre as Apariçõ es da Virgem de Guadalupe e, com grande
ingenuidade, transmite uma versã o um tanto distante da tradicional,
do Nican Mopohua. No entanto, ela é explı́cita em sua atençã o ao
apontar que as informaçõ es sobre as Apariçõ es, sobre Juan Diego e da
Imagem na tilma, e assim por diante, eram de conhecimento comum,
comprovando aquela realidade que as Informaciones Jurídicas de
1666 defendem.
Há també m convergê ncia em outra fonte importante que é a de Luis
Lasso de la Vega, Huei Tlamahuizoltica ou O Grande Acontecimento, que
em 1649 ele havia publicado a respeito do assunto e, como se sabe, faz
parte do Nican Mopohua e o Nican Motecpana, de cujo contexto já
mencionamos e que apontam os trechos mais importantes que
descrevem a personalidade de Juan Diego e suas virtudes, assim como
sua famı́lia. O que o Padre Baltasar Gonzá lez destacou é importante. Em
9 de janeiro de 1649, concedeu a licença para que esta publicaçã o
pudesse ser escrita e observou que havia anais e tradiçã o sobre este
evento. Ele disse: “Acho que isso está em sintonia com o que se sabe
pela tradiçã o e nos anais sobre os fatos, porque será muito ú til para
animar a devoçã o daqueles que sã o mornos, e irá gerá -la naqueles que
vivem em ignorâ ncia da origem misteriosa deste retrato celestial da
Rainha do Cé u, e porque nã o há nada que se oponha à verdade e aos
misté rios de nossa sagrada fé . ”178
Alé m disso, a informaçã o substancial converge com a publicaçã o que
foi escrita em 1668 por Carlos de Sigü enza y Gó ngora,
intitulada Primavera Indiana. Poema Sacro-histórico. Idea de María
Santísima de Guadalupe de Mexico, copiada de lores,179 no qual ele
descreve o Grande Evento Guadalupano em um estilo poé tico e
barroco.
As Informaciones convergem també m com algumas obras de arte, como
a Virgem de Guadalupe do grande pintor Baltasar de
Echave,180 assinado e datado em 1606.181Certamente há muitas
imagens de Nossa Senhora de Guadalupe, có pias do original, pintadas
antes de Echave. Mas a importâ ncia desta obra é que esta é a mais
antiga có pia assinada e datada que se conhece, e alé m disso tem a
particularidade de també m serem pintados os detalhes da tilma , o que
obviamente nos lembra o pró prio Juan Diego. Sobre esta pintura, Elisa
Vargas Lugo comenta: “A pintura de Baltasar de Echave Orio, ao
contrá rio da maioria das reproduçõ es guadalupanas encontradas em
todo o paı́s, oferece uma reproduçã o da Virgem pintada sobre um
grande tilma, cujas dobras recaem abundantemente sobre cada uma
delas. lado da composiçã o, mostrando claramente a intençã o do artista
de que a qualidade particular do tecido no qual a Imagem original é
criada nã o seja perdida. ”182Como se vê , a intençã o do artista de recriar
nã o só a Virgem, mas també m a tilma de Juan Diego , onde o prodı́gio se
manifestou, é importante també m para Elisa Vargas. Da mesma forma,
o especialista e crı́tico de arte Jaime Genaro Cuadriello, em
sua Maravilla Americana. Variantes de la Iconogra ía Guadalupana,
siglos XVII-XIX, expressa-o enfaticamente:
Recentemente, para espanto de todos, o Sr. Manuel Ortiz Vaquero
revelou uma [Imagem] que considera “a melhor reproduçã o, mais
antiga e sem dú vida da maior habilidade”, e é , com efeito. E assinado e
datado por Baltasar Echave Orio (o antigo) em 1606. E
indiscutivelmente, como todas as suas pinturas, de grande qualidade
artı́stica e rico interesse documental: sobre a iguraçã o de um manto
colocado nos â ngulos superiores e cai, formando suaves pregas, a
Virgem aparece em proporçõ es perfeitas e tal como o era em 1895,
quando desapareceu a sua coroa. Preso ao seu suporte [signi icando
reproduçã o do tilma], obté m uma verdadeira naturalidade de pintura e,
claro, manifesta que pertence a uma estampagem milagrosa, da mesma
forma que aquelas reproduçõ es do original “vé u de Verô nica” ou do
“Semblante Divino.” Certamente familiarizado com este conceito
artı́stico, Echave deve ter realizado esta có pia a pedido de algum alto
dignitá rio da igreja [talvez o arcebispo Frei Garcı́a Guerra?], Que era
conhecido por proteger o eremité rio. Quatro dé cadas antes da
existê ncia das primeiras prensas histó ricas, esta pintura prova sem
dú vida, pelo seu pró prio mé todo de representaçã o, que os detalhes da
Apariçã o eram do conhecimento geral.183
Estes e tantos outros documentos oriundos de diversas fontes
histó ricas convergem com as informaçõ es essenciais e substanciais do
Evento Guadalupano, especialmente no depoimento e iscalizaçã o das
testemunhas participantes nas Informaciones Jurídicas de 1666.

CAPÍTULO QUATRO

Algumas características da educação indígena que nos


aproximam de Juan Diego
E certo que Juan Diego foi um homem virtuoso, que procurou dirigir
sua vida pelo caminho da retidã o, da honestidade, da virtude, e fazer
lorescer tudo o que agradava a Deus, que foi eleito pela pró pria Mã e de
Deus para ser dela. mensageiro. Ele passou a ser considerado um
modelo de santidade, fato que era mais do que evidente para o povo,
como Justina Cananea expressou: “Que ele era um homem santo e que
deveria orar a Deus para que seus ilhos e netos fossem como ele, visto
que ele era tã o virtuoso que falava com a Virgem, razã o pela qual ela e
todo o povo o sustentavam nesta opiniã o ”.184 E verdade també m que a
educaçã o que recebeu na infâ ncia, bem como a religiosidade que viveu,
contribuı́ram, em certos aspectos, para fazer deste homem algué m que
poderia ser o terreno fé rtil onde caiu a semente da Palavra do Senhor e
deu frutos, e nã o nos esqueçamos que Juan Diego se converteu e foi
batizado antes do aparecimento das apariçõ es.
Por isso, é importante ver alguns esboços da educaçã o que um indı́gena
como ele receberia, no ambiente pré -hispâ nico, para que assim
possamos compreender um pouco melhor tudo o que rodeou uma
pessoa como Juan Diego, que caminhou no caminho da santidade.
Antes mesmo da chegada dos primeiros missioná rios, os indı́genas
viviam muito pró ximos das “exigê ncias evangé licas”. Um dos homens
que conheceu mais profundamente a cultura indı́gena foi Frei
Bernardino de Sahagú n, que nos ajuda justamente a entrar naquele
mundo da educaçã o indı́gena. No livro seis de sua importante obra,
podemos ver como ele teve a oportunidade de valorizar nã o apenas a
educaçã o deles, mas també m os bons modos e os valores dentro da
sociedade indı́gena. Precisamente por ter exaltado estes valores, foi
severamente criticado pelos seus “adversá rios”, aqueles espanhó is que
pensavam que uma cultura pagã nã o tinha nada de bom a
oferecer. Chegou a ser acusado de inventar virtudes e mé ritos que os
ı́ndios, sendo ı́ndios e pagã os, jamais poderiam ter. Alé m do mais, por
sugerir que estavam melhor em seu paganismo do que na situaçã o em
que os cristã os os haviam colocado, o franciscano disse: “porque,
agora, eles perderam tudo, como qualquer um poderia ver se
compararmos o que este livro conté m. com a vida que eles tê m agora.
”185Para isso, ele argumentaria polemicamente: “Neste livro, pode-se
ver claramente que alguns oponentes a irmaram que tudo o que está
escrito nesses livros, antes e depois deste, é iccional e mentira. Falam
como pessoas apaixonadas, mentirosas, porque o que está escrito
neste livro, o raciocı́nio dos homens humanos nã o pode aceitar,
ingindo que nã o é , como um homem vivo pode ingir que nã o está na
lı́ngua em que está escrito. E todos os ı́ndios educados, se perguntados,
diriam que essa forma de falar é de seus ancestrais, e das tradiçõ es que
eles costumavam ter ”.186
O espanto de Sahagú n ica claro nos pró prios quali icadores que ele usa
para transmitir caracterı́sticas da cultura indı́gena, por exemplo,
“lindas metá foras e modos de falar”, “frases muito delicadas”, “muitas
delı́cias em frases e na linguagem”, “muito linguagem re inada e
metá foras muito delicadas ”,“ tem linguagem maravilhosa e metá foras
muito delicadas e conselhos admirá veis ”,“ usa nela muitas retó ricas
coloridas ”,“ repreendendo o vı́cio com raiva ”,“ maneiras maravilhosas
de falar e metá foras delicadas e os termos mais adequados , ”“ Muitas
coisas apetitosas para ler e aprender e uma linguagem feminina muito
boa e metá foras muito delicadas ”,“ coisas muito saborosas para ler, ”“
uma linguagem muito terna e amorosa, cheia de mil encantos. ” Mas é
no capı́tulo 19 que seu comentá rio se torna ainda mais agressivo para
com seus colegas frades, porque ele nã o teme assegurar-lhes que
“aprenderiam mais com essas duas palestras proferidas no pú lpito
para meninos e meninas, por causa da lı́ngua e da estilo em que eles
sã o [mutatis mutandis] do que em muitos outros sermõ es. ”187 E entã o
interessante e esclarecedor conhecer essas “coisas muito gostosas de
ler” para ter uma ideia mais pró xima da educaçã o do indı́gena e,
portanto, de Juan Diego.
Pode-se dizer que sua educaçã o começou antes de eles nascerem, pois
o avô ou um dos membros mais antigos da famı́lia teria a incumbê ncia
de dirigir palestras solenes para a futura mã e quando tivesse certeza
de que ela estava grá vida, palestra que valorizava a fertilidade como um
presente que veio diretamente de Deus, e nã o pelo mé rito dos pais,
mas pela benevolê ncia do pró prio Deus: “Minha querida e preciosa
neta ... é claro que você está grá vida e que Nosso Senhor quer dar-lhe
uma descendê ncia .. .vejam que nã o atribuam esta misericó rdia ao seu
merecimento ... felizmente a geraçã o dos seus bisavó s e tataravó s já
quer lorescer, e dos seus pais que os trouxeram para cá , e Nosso
Senhor quer o maguey que plantaram para conceber e produzir uma
prole ... cuide muito bem da criatura de Deus que está dentro de você
”.188 O avô dá conselhos e garante a saú de da criança:
cuida para que nã o ponhas nos braços coisas pesadas, nem apanhe-as
para nã o magoares a tua criatura ... Aconselho-te de outra coisa, e isto
quero que o nosso ilho, teu marido que está aqui, ouça e tome.
observe, e é o seguinte: porque somos velhos e sabemos o que convé m,
ambos vejam que nã o incomodam um ao outro para nã o machucar a
sua criatura; cuida para nã o usar demasiadamente o ato carnal porque
poderia ferir a criatura com que Nosso Senhor te adornou ... O minha
Filha, pombinha! Estas palavras eu disse para fortalecer e encorajar
você s, e sã o palavras dos mais velhos, seus ancestrais e das mulheres
que estã o aqui presentes, com as quais eles ensinam tudo o que é
necessá rio para você s saberem e verem que eles te amo muito. ... Seja,
Filha, muito afortunada e pró spera, e viva com boa saú de e
contentamento, e viva com santidade e saú de para o ilho que você tem
em seu ventre.189
Ao longo de todo o processo de gravidez e parto em si, essas belas
palestras, oraçõ es e conselhos foram dados, e "assim que a criança
nascesse, a parteira gritava como fazem aqueles que estã o lutando na
batalha, e isso signi icava que a paciente ganhou como homem e
capturou uma criança, ”190e a criança foi recebida com a advertê ncia de
que havia nascido em um mundo que nã o era realmente seu e que seu
verdadeiro nascimento dependeria de ter a sorte de merecer uma
morte lorida, que signi ica morrer na guerra ou no sacrifı́cio: “Meu
criança muito amada, muito terna ... esta casa onde nasceste é só um
ninho, um abrigo ... a tua terra é outra, está prometido noutro lado, que
é o campo onde se fazem as guerras, onde se travam as lutas : você é
enviado para isso. Seu papel e trabalho é a guerra, seu papel é dar ao sol
o sangue de seu inimigo para beber e dar à terra ... os corpos de seus
inimigos para comer. Sua pró pria terra, sua herança e seu pai sã o a casa
do Sol ... Com sorte, você merecerá e será digno de morrer neste lugar e
receber nele uma morte lorida.191
A guerra e a morte deram o tom para todas as palestras e cerimô nias
que acompanhariam o indı́gena por toda a sua vida. Podemos ter
consciê ncia do grande amor que havia na educaçã o indı́gena, mas é
preciso ressaltar que ao mesmo tempo era muito rigorosa e
contemplava enormes castigos para quem se afastava, castigos que
incluı́am toda uma sé rie de tratamentos que beirava a crueldade, como
chicotear as crianças com urtigas, cravar nelas espinhos maguey ou
fazê -las respirar fumaça com pimenta.
Em seu esquema familiar polı́gamo, a igura materna era
extremamente importante e crucial; o pai era uma igura mais ausente,
que, sem deixar seu predomı́nio social, era substituı́do ocasionalmente
por um irmã o mais velho, tio ou outro parente pró ximo, a quem a
famı́lia era con iada enquanto o pai partia para a guerra. “Era costume
deixar esse tio como zelador ou tutor de seus ilhos, de sua
propriedade, de sua esposa e de toda a casa. O tio leal cuidaria da casa
de seu irmã o e de sua esposa como se fosse sua. ”192 Mesmo assim,
como já dissemos, o pai sempre foi predominante na famı́lia e seu
retorno das missõ es no exterior foi um grande acontecimento,
celebrado de maneira solene: “Quando o pai quisesse ver os ilhos, eles
seriam levados em procissã o. , guiados por uma ilustre parteira, e
agora, se todos fossem ou se apenas um em particular quisesse ver o
pai, sempre pediam licença e sabiam desde o inı́cio que estavam em
paz com isso ... deviam icar calados e retraı́dos, principalmente as
meninas, como se fossem pessoas muito maduras e inteligentes ”.193
O pai permaneceria sé rio e obstinado com seus ilhos e, nos poucos
momentos que ele tinha para se relacionar com eles, ele iria dar-lhes
sermõ es severos. A sinopse que Sahagú n fez de uma das palestras nos
ajuda a compreender a integridade com que os indı́genas enfrentaram
o caos inicial de seu contato com os espanhó is, bem como a
autocomposiçã o que mantiveram nesses momentos, em disposiçã o e
humildade incondicional:
Filhos meus, escutem o que quero dizer-lhes, porque sou seu pai, e
cuido bem e governo esta casa .... Saibam que estou triste e a lita
porque acho que um de você s deve ser inú til e inú til .... Escute, entã o,
agora, quero dizer como você saberá como ser valorizado neste mundo,
como você deve chegar a Deus para se tornar digno, e por isso eu digo a
você que aqueles que choram e entristecem-se ... aqueles que se
oferecem de todo o coraçã o para icar acordados à noite e ao
amanhecer para varrer ... e endireitar os lugares onde Deus deve ser
servido ... Algué m entra na presença de Deus e se torna Seu amigo ....
Nã o tenho dignidade pró pria, nem para o meu merecimento ou para o
meu querer - só Deus pode dar o que Ele deseja, a quem Ele deseja, e
Ele nã o precisa de conselho de ningué m, apenas de Sua vontade ... Eu
quero te dizer o que você tem que fazer, ouvir e tomar conhecimento:
cuidado para nã o perder tempo ... tente aprender algum ofı́cio honesto,
como trabalhar com penas ou outro ofı́cio mecâ nico, porque esses As
coisas podem ser realizadas para ganhar a vida em tempos de
necessidade, especialmente cuidado com os aspectos agrı́colas .... Seus
ancestrais tentaram saber e fazer todas essas coisas porque, embora
fossem de origem nobre, sempre tiveram o cuidado de mantê -los suas
terras e heranças semeadas e cultivadas, e eles disseram para nos dizer
que era o que seus ancestrais faziam ... Nunca vi em lugar nenhum que
algué m ganhasse a vida apenas com sua nobreza ... Nã o há homem em
terra que nã o precisa comer e beber ... Vejam, ilhos, tomem cuidado
para semear os campos de milho e plantar magueys e peras espinhosas
[cactos] e frutas ... Eu teria que dizer muitas coisas, mas gostaria nunca
termine ... Em primeiro lugar, certi ique-se de fazer-se amigos de Deus
... nã o se orgulhe, nem perca a esperança, nem deixe o medo entrar em
seu coraçã o, mas seja humilde em seu coraçã o e con ie em Deus ... a
segunda coisa que você tem que ter certeza é estar em paz com todos,
sem ningué m para ganhar vergonha ou ser desrespeitoso, respeitar a
todos, ter reverê ncia para todos, nã o ouse ningué m, nunca enfrente
ningué m sob nenhuma condiçã o, nã o deixe ningué m saber tudo o que
você sabe, humilhe-se diante dos outros mesmo que eles digam o que
quiserem; ique quieto e mesmo que te batam, nã o responda ... porque
Deus te vê muito bem e Ele vai responder por você e vingar você ; seja
humilde com todos e com isso, Deus o fará digno e o honrará . A terceira
coisa é que você nunca deve perder o tempo que Deus lhe deu nesta
terra ... mantenha-se ocupado com coisas que valem a pena todos os
dias e todas as noites, nã o roube seu tempo nem o perca. Basta-se com
isso, e com isso cumpri meu dever.194
E inevitá vel contemplar e comparar muitos dos conceitos indı́genas
com os cristã os e encontrar a a inidade surpreendente que existe
dentro deles. Vejamos outro exemplo daquelas palestras que um pai
deu a seus ilhos, uma vez que nos aproximam ainda mais daquele
mundo cheio de caracterı́sticas humanas e “pré -cristã s” que
encharcaram cada alma, espı́rito e mente indı́gena:
“Venham, meus ilhos, ouçam-me, você s sã o meus ilhos; sua mã e e seu
pai sou eu, que por alguns dias, por pouco tempo, estou cometendo
erros e tolices na cidade, governando seus vizinhos com ridı́cula
iné pcia, destruindo 'tapete e cadeira',195o lugar da gló ria do Tloque
Nahuaque .196
“Você está aqui, o mais velho, o primogê nito; você o segundo, você que
é o pró ximo, e você , inalmente, o mais novo. Eu choro, me preocupo,
ico triste quando penso qual de você s será 'minha mã o morta, minha
boca seca'197 quem vai prosperar, de quem Nosso Senhor terá
misericó rdia.
“Talvez um de você s seja digno do tapete e da cadeira, do cuidado das
pessoas, talvez nã o. Talvez eu seja o ú ltimo, e isso é tudo, entã o
acaba; talvez Nosso Senhor, Tloque Nahuaque, tenha decidido que assim
fosse.
“Será que cairá , icará arruinada a construçã o com cerca de cana que iz,
onde aguardo a palavra de Nosso Senhor, e que terminou em
di iculdades e misé ria? Será que vai virar pó , um monte de
esterco? Minha fama e meu nome acabarã o aqui? Nada permanecerá da
minha tradiçã o? Nada viverá da minha memó ria no mundo? Vou morrer
totalmente?
“Ouça como se vive na terra, como se obté m a misericó rdia de Tloque
Nahuaque. Existem apenas lá grimas, dor, suspiros e preocupaçã o. O
devoto se dedica a varrer, limpar, recolher; ele aceita, é imposto a ele
como uma obrigaçã o, ele se manté m à altura para agradar Nosso
Senhor, ele se levanta para cumprir seus deveres, para cuidar do
incensó rio, das oferendas de copal [ incenso].
“Assim se entra na presença do Tloque Nahuaque, a esteira da á guia, a
esteira do tigre198; em suas mã os Ele coloca o copo da á guia, o tubo da
á guia.199Assim, Ele se converte em mã e, em pai do Sol, nutre com
comida e bebida, o Cé u e a regiã o dos mortos. As á guias e os tigres O
vê em com veneraçã o, O vê em como mã e, como pai, Tloque
Nahuaque disse, Ele ordenou; Ele nã o criou a si mesmo, Ele nã o foi feito
por si mesmo.
“Entã o ele concede-lhe a esteira e a cadeira, responsabilidade do
governo, como algo que ele merece e como um presente ... Talvez Ele o
faça senhor dos homens, senhor das armas, talvez Ele o faça digno de
alguma pequena esteira , de algum banquinho para pô r ordem, faz dele
mã e, pai do povo, obediente e respeitado, ou talvez, só pela sua
bondade o torna digno do reino, do poder que agora tenho, como num
sonho , sem merecê -lo. Talvez Nosso Senhor apenas me confundiu. Eu
sozinho me criei, eu me criei sozinho? Eu disse, 'seja eu isso'? Foi a
palavra de Nosso Senhor, foi a Sua misericó rdia, a Sua bondade. A
propriedade e a possessã o vê m de Nosso Senhor, vê m dEle, porque
ningué m diz: 'seja eu este'; ningué m se encarrega do governo por si
mesmo, é Nosso Senhor quem faz as coisas por nó s, ele os põ e em
ordem e os dispõ e de acordo com a sua vontade.
“Ouçam ainda, eu choro, sofro, ico triste, me preocupo à noite, por
onde passa meu coraçã o, se desce, se sobe, porque nã o vejo nenhum de
você s como bom, ningué m me tem em paz. Você , o mais velho, em vã o
você é o mais velho, em vã o você é o primogê nito. Por que você é o
primeiro? Nã o há nada em você alé m de infantilidade e imaturidade. E
você , o pró ximo, e você o mais novo, só porque é o segundo ou o mais
novo, você tem que perder ou tem que se desesperar? Nosso Senhor o
enviou em segundo lugar; e você no ú ltimo, você tem que se perder por
causa disso?
“Por favor, me escute. O que você vai fazer na terra? Você nã o nasceu
nobre em vã o, você descende de nossos senhores, que já foram para
icar do outro lado, os senhores reis, você nã o nasceu em, nã o veio ao
mundo em, um pomar, no bosque . O que você deve fazer entã o? Você
vai cuidar da cana e dos cestos?200 Você vai cuidar do sulco e da
irrigaçã o?201Você vai se dedicar à s plantaçõ es e à madeira? Ouvir. Este
é o seu trabalho: cuidar do tambor e do chocalho,202despertar a cidade
e levar alegria ao Tloque Nahuaque. Com isso, você buscará Sua palavra,
você se lançará Nele novamente e novamente. E assim que se ora, como
se busca, a palavra de Nosso Senhor.
“Cuidem das artes, do trabalho com penas e do aprendizado, que nos
tempos difı́ceis, quando há misé ria nas cortes, é muro e proteçã o, se
pode comer e beber.
“Acima de tudo, você deve cuidar do sulco e da irrigaçã o, plantar e
semear o campo. Nã o pertence a você ? Nã o é você quem tem que fazer
crescer, quem tem que regar o milho? Aqueles que foram antes
deixaram para você , aqueles de quem você descendeu, os senhores, os
reis, eles cuidaram disso, falavam do sulco e da irrigaçã o, semeavam,
plantavam. Diziam, de acordo com uma tradiçã o que nos deixaram, que
nos obrigavam a manter: 'Se virdes apenas a nobreza, se nã o puseres
em ordem o que tem a ver com sulco e irrigaçã o, que vais dar as
pessoas para comer? O que você vai comer,? O que você vai
beber? Onde eu vi que algué m come nobreza no café da manhã ou no
jantar? '203
“Ouça: o sustento merece todo o nosso cuidado. Algué m disse, algué m
chamou isso de nossos ossos e nossa carne; é a nossa vida, nos faz
caminhar, nos mover, nos alegrar, viver, nos faz reviver. Há muita
verdade em que é quem nos governa, quem reina, quem vence. Onde
você viu algué m reinar, governar, de estô mago vazio, que nã o
come? Onde eu vi um conquistador sem abundâ ncia de comida? A
Terra existe por causa do sustento, o mundo que todos nó s
preenchemos vive por causa disso; estamos todos esperando por
sustento.204
“No campo tu plantará s o maguey, os cactinhos, a arvorezinha, vã o dar
descanso aos mais pequenos, diziam os mais velhos. E você , meu jovem,
nã o gostaria de uma fruta? E como vai haver se você nã o plantar sua
terra?
“Minha palestra vai terminar com isso, você deve colocá -lo no seu
coraçã o, mantê -lo e colocá -lo na casa do seu coraçã o, pintá -lo no seu
coraçã o. Nã o é muito, a palestra nã o é longa, nã o vai durar muito, até
entã o quero dar a minha opiniã o. Entã o aı́ está , entã o, há duas coisas
que devem ser guardadas, que devem ser colocadas no coraçã o, aquelas
que foram deixadas para nó s, nos foram dadas, elas nos obrigaram a
guardar, aquelas que nos abandonaram quando partiram.
“O primeiro é entrar na presença de Nosso Senhor Tloque Nahuaque, o
Senhor que é Noite e Vento: dê -Lhe todo o seu coraçã o e todo o seu
corpo, nã o se afaste. Nã o fales contigo, nem te digas nada, nã o
blasfemas da tua exasperaçã o, Nosso Senhor o prudente, o provedor, vê
e ouve até dentro da á rvore, a pedra. Ele vai dispor de algo para você .
“A segunda é que você viva em paz entre as pessoas, dê respeito e
reverê ncia a todos; nã o os ofenda de forma alguma, nã o se volte contra
eles de forma alguma, nã o deixe de estar em paz, deixe que digam o que
querem e mesmo que acabe como quiser, nã o busque a vingança. Nã o te
levantes como uma serpente e dispares com raiva contra o povo, antes,
recebe-o com amor, porque Nosso Senhor te vê e vai icar com raiva e
vingar-te de ti. Viva, entã o, de maneira simples, como você foi
orientado, você foi preparado.
“O terceiro é evitar a ciê ncia vã , nã o presuma sobre a vã ciê ncia vã no
mundo; nã o desperdice noite nem dia, o que mais nos importa sã o os
nossos ossos e a nossa carne, o que nos fortalece, o sustento. Pede a
vida a Nosso Senhor, pede-Lhe també m aquilo que penduramos no
pescoço e na cintura.205 Pense nisso dia e noite, em vez de prestar
atençã o à s vaidades.
“Isso é tudo, com isso eu cumpro meus deveres com você . Talvez você o
jogue fora em algum lugar, talvez nã o dê atençã o a ele; em qualquer
caso, agora você sabe disso, e eu cumpri meu dever ”.206
A grande maioria das crianças indı́genas foi educada nas Calmecac , ou
nos Tepochcalli, escolas extremamente severas, cujo objetivo principal
era que seus ex-alunos se tornassem tã o virtuosos e generosos quanto
possı́vel, onde eram orientados na forma de fazer penitê ncia, servindo
aos deuses, vivendo em limpeza, em humildade, bem como em
castidade:207“Onde a nobreza é delimitada e modelada, brotos e lores,
onde como colares e penas inas Nosso Senhor Tloque Nahuaque
os dispõ e e os ordena, onde Ipalnemohuani tem misericó rdia deles e os
escolhe ... Nosso Senhor Tloque Nahuaque os escolhe, eles sã o na
esteira das á guias, na esteira dos tigres, em Sua mã o está o copo e o
tubo da á guia ”.208
Os pais e parentes, bem como os responsá veis por essas escolas, deram
ao aluno uma linha de estudo clara:
Isso é o que você vai fazer: você vai varrer, pegar, consertar, icar
acordado, passar a noite acordado. Quando chegar a hora de correr,
você correrá , se apressará , nã o será preguiçoso nem ocioso. Tudo que
você precisa é ouvir uma vez, depois de ouvir uma vez, você se
levantará rapidamente, em um salto, nã o será chamado duas vezes; e
mesmo se você nã o for chamado, levante-se, corra, pegue o que você
tem para trazer, faça o que é exigido de você .209
Ouça, meu ilho, para onde você vai, nã o será honrado, obedecido,
respeitado; em vez disso, você vai se humilhar, obedecer e viver na
pobreza. Quando você amadurecer, se você suar e seu corpo icar
inquieto, reponha-se e submeta-se; nã o se lembre, nã o deseje sujeira
ou lixo. Você será miserá vel se quiser aceitar o que é mau, a sujeira e o
lixo por dentro, se abandonar o seu mé rito, o seu destino. Tente o
má ximo que puder para deixar de lado o desconforto sexual. O que
você tem a fazer é cortar espinhos e ramos de abeto e oferecê -los e
entrar na á gua.210Nã o coma até estar farto, conheça e ame a
abstinê ncia: aquele que passa fome, aquele que parece um esqueleto,
sua carne e seus ossos nã o esquentam muito; apenas de vez em
quando, como uma febre, ele sentirá ansiedade. Nã o use muita roupa,
que seu corpo nã o trema de frio. A verdade é que foste merecer, foste
pedir alguma coisa a Tloque Nahuaque , foste lançar-te ao seu seio, ao
ı́ntimo do nosso Senhor. Na hora do jejum, quando icar com os lá bios
secos, nã o os machuque, tudo é para que haja vida. Nã o considere isso
doloroso, faça-se parte disso.
Você deve cuidar do preto e do vermelho, do livro e da escritura,211vai
para a prudê ncia dos prudentes, dos sá bios. Meu ilho, meu garotinho,
você nã o é mais como um passarinho, você pode ver e ouvir por si
mesmo. Eis uma palavra breve, dever dos anciã os: leve-o aonde for, nã o
o jogue fora, você vai icar desgraçado se rir dele. Eles vã o falar mais
para você , eles vã o te oferecer mais lá , bem, você está indo para a casa
de instruçã o; [esta palavra] nã o estará com você lá , você nã o
encontrará a palavra do anciã o lá ; e se você ouvir algo que parece
errado, nã o ria. Vá entã o, meu ilho amado, meu pequenino, vá , entre
para varrer e oferecer incenso.212
Professores e professores nas escolas assumiram a responsabilidade,
pensando que se tratava de uma missã o divina. Os professores
disseram que os pais da criança estavam oferecendo seu ilho a Deus,
e nó s, em Seu nome, o recebemos, Ele sabe o que deve fazer com
ele. Nó s servos caducos indignados [limitados], com duvidosa
esperança, aguardamos o desfecho e o que Lhe agrada fazer com seu
ilho, de acordo com o que Ele já planejou em Sua misericó rdia, de
acordo com Sua disposiçã o e determinaçã o, desde antes do inı́cio do
mundo. E verdade que ignoramos os talentos que foram dados a ele e
as propriedades e condiçõ es que foram dadas a ele. ... Desejamos e
oramos para que as riquezas de Nosso Senhor sejam dadas a
ele; Esperamos que os talentos e misericó rdias com que Nosso Senhor
o adornou e embelezou sejam manifestados e trazidos à luz nesta
escola.213
Essas sã o algumas das caracterı́sticas do planejamento ilosó ico e
religioso da educaçã o, que nã o só evoluiu em torno do propó sito de
transmitir um acú mulo de conhecimentos, mas també m consistiu em
uma verdadeira formaçã o integral das crianças e jovens, que nã o
estavam isentos de capacidade e inteligê ncia para compreender,
memorizar e analisar sua mensagem. Como os primeiros missioná rios
tiveram a oportunidade de provar, Frei Toribio Motolinia disse: “Quem
ensina as ciê ncias ao homem é o mesmo que proporcionou e deu a
esses indı́genas grande inteligê ncia e capacidade de aprender todas as
ciê ncias, artes e ofı́cios que lhes foram ensinados”.214 Alé m disso, Frei
Geró nimo de Mendieta destacou que “Eles tinham uma memó ria tal
que depois de ouvir um sermã o ou a histó ria de um santo uma ou duas
vezes, o memorizaram e o contaram com encanto, audá cia e
e icá cia”.215 Da mesma forma, os jesuı́tas manifestaram admiraçã o por
essas virtudes nos indı́genas em relato ou narraçã o no inal do sé culo
XVI ou inı́cio do sé culo XVII, dizendo: “e o que mais valem sã o sua
grande inteligê ncia e atitudes alegres, para que tudo isso leve à
esperança de uma grande colheita para Deus ”.216 Em fó lios mais
adiante neste mesmo relató rio, apó s narrar alguns exemplos concretos
da idelidade e nobreza indı́gena, ele destacou: “Assim sã o todos os
demais, saudá veis, leais e sinceros”.217
A mente dos indı́genas foi bem treinada, como escreveu o jesuı́ta P. Juan
de Tovar em uma carta a P. Joseph de Acosta, SJ:
Para memorizar todas as palavras e o esquema dos discursos de
oradores e poetas, as inú meras cançõ es que possuı́am, que eram
compostas pelos mesmos oradores e que todos conheciam sem mudar
uma palavra (embora fossem desenhadas), havia um exercı́cio de
memorizaçã o todos os dias nas escolas para os melhores alunos, que
viriam a ser seus sucessores, e com repetiçã o contı́nua os
memorizavam sem mudar uma palavra. Eles usaram a retó rica mais
famosa da é poca como um mé todo para treinar os meninos que seriam
oradores. Dessa forma, muitos discursos foram preservados, sem
perder uma palavra, de pessoa em pessoa, até que vieram os espanhó is,
que em nossa escrita escreveram muitos de seus discursos e cançõ es,
que eu vi e que foram preservadas.218
Como podemos compreender, em muitas das caracterı́sticas
apresentadas pela educaçã o indı́gena, as atitudes e os conceitos se
harmonizaram claramente com a vida de Juan Diego. Sã o vá rios os
aspectos onde se manifestam a luz das virtudes com que Deus adornou
a iel mensageira da Santa Maria de Guadalupe. Nã o há dú vida de que
Juan Diego foi uma pessoa humilde e obediente, de formaçã o profunda,
com uma força religiosa que evoluiu ao longo de toda esta vida e que se
manifestou na forma como agiu, especialmente no encontro com a
Virgem de Guadalupe. Ele era um homem virtuoso “que executou
grande penitê ncia e na é poca era chamado de 'Homem Santı́ssimo”.'219

CAPÍTULO CINCO
Uma conversão do fundo do coração
A luz da Estrela da Evangelizaçã o revelou-se um momento de
intervençã o de Deus na histó ria da humanidade. Ainda que o homem,
independentemente da intervençã o divina, continue tendo limitaçõ es,
in idelidades e traiçõ es, nã o há dú vida de que imediatamente apó s a
data das Apariçõ es notou-se uma mudança impressionante tanto no
que diz respeito à s conversõ es dos ı́ndios, como nas. atitude dos
pró prios espanhó is: uma mudança na alma da populaçã o mexicana.
Frei Juan de Zumá rraga, bispo do Mé xico, foi o primeiro a manifestar
uma mudança radical de espı́rito. Como vimos anteriormente, em 1529,
Zumá rraga mostrava grande angú stia, impotê ncia e preocupaçõ es, nã o
só porque os ı́ndios estavam voltando aos seus rituais idó latras, mas
també m pelos desastres cometidos por seus pró prios irmã os
espanhó is, que pouco se importavam em ir. contra os Frades e os
princı́pios mais bá sicos de sua missã o. Depois de 1531, Zumá rraga
mostrou um espı́rito totalmente diferente. Ele escreveu uma nota para
Herná n Corté s, dizendo:
Agora entendo na minha procissã o e na minha escrita à Veracruz, a
alegria de todos nã o se pode descrever. Nã o se pode escrever com
Salamanca. Enviei o Custodiante a Cuernavaca como mensageiro. Já
existe um ı́ndio que vai ao Frei Toribio, e que tudo seja para louvor de
Deus, Laudente nomen domini, com louvores indı́genas. Vé spera da festa
das festas.
Majestade, diga à Marquesa que quero chamar a Igreja Matriz de
'Concepçã o da Mã e de Deus', porque naquele dia Deus e a Sua Mã e
quiseram realizar esta misericó rdia por esta terra que conquistou. Nã o
mais por enquanto.
De YL Chaplain [Zumá rraga]
Assinado como “Os jubilosos eleitos”220
Mariano Cuevas, que publicou este documento, comenta: “O Bispo,
deixando seu habitual cará ter grave, sua seriedade e serenidade,. . . deu
a Corté s tal aviso, ou melhor, um aviso que foi dado ou conhecido, para
o qual 'Nã o se pode descrever a alegria de todos e de todos os laudentes
nomen domini'. Ele supô s que haveria uma grande alegria do povo, que
deveria ser celebrada com festividades religiosas e expressava
claramente um favor concedido pela Santı́ssima Virgem, por volta do
Dia da Imaculada Conceiçã o, um favor extraordinariamente grande,
prestado a todos os terras conquistadas por Herná n Corté s e
intimamente relacionadas com a Imaculada Conceiçã o ”.221 Cuevas,
depois de fazer um exame minucioso para esclarecer a data, concluiu
que este documento correspondia ao inal de dezembro de 1531.
Certamente, o bispo eleito, Frei Juan de Zumá rraga, manifestou uma
grande diferença de espı́rito entre a carta de 1529, enviado ao rei, que
poderia ter assinado "os eleitos oprimidos", e este de 1531 para Corté s,
onde exclama que é "o eleito jubiloso".
Mas esta carta nã o é a ú nica manifestaçã o da importante mudança
ocorrida no inal de 1531; há outro sinal concreto, claro e objetivo, de
que essa alegria penetrou por completo: as conversõ es dos indı́genas,
que depois daquele momento contaram aos milhares. E isso é
comprovado por registros histó ricos. Por exemplo, assim como Frei
Toribio Motolinia nos apontou que a grande obra dos franciscanos teve
como resultado uma certa quantidade de batismos de indı́genas, ele
nã o podia negar que durante os primeiros anos os indı́genas
permaneceram relutantes em se converter ao catolicismo. O
missioná rio declarou que “Os mexicanos permaneceram muito frios
durante cinco anos”.222 Alé m disso, estava ciente da insigni icâ ncia de
seus recursos para esta enorme tarefa, de seus terrı́veis problemas e da
incerteza de que sua conversã o fosse sincera.223 O medo de que a
piedade dos indı́genas fosse disfarçada de idolatria perdurou por
muito tempo entre todos os missioná rios e chegou a ser uma obsessã o
para alguns deles, como para Frei Diego de Durá n.224
Poré m, depois daqueles primeiros anos, Motolı́nia escreveu sobre a
grande quantidade de indı́genas que pediam o batismo, e que naquele
momento, inexplicavelmente, contavam aos milhares. Ele con irmou
que “Frei Juan de Per iñ á n e Frei Francisco de Valencia, batizaram mais
de 100.000 cada um dos 60 que estã o neste ano de 1536”.225 Motolı́nia
continuou contando aos milhares os batizados e chegou à conclusã o de
que o total em 1536 “seriam cerca de 5 milhõ es de batizados até
hoje”.226Por sua vez, Frei Juan de Torquemada nos informa em seu
manuscrito Monarquía Indiana que “Muitos milhares foram batizados
em um dia”.227
Até os frades icaram surpresos com essa conversã o massiva. Mendieta
destacou que “No inı́cio, iam 200 de cada vez, depois 300 de cada vez,
sempre crescendo e se multiplicando, até chegar aos milhares; alguns
de dois dias de jornada, outros de trê s, outros de quatro e alguns mais
distantes. Isso causou grande admiraçã o a quem o viu. Adultos e
jovens, homens e mulheres, saudá veis e doentes. Os idosos batizados
trouxeram seus ilhos para serem batizados, e os jovens batizados
trouxeram seus pais; o marido trouxe sua esposa, e a esposa, seu
marido. ”228Os indı́genas icavam nos mosteiros para aprender o
catecismo; eles repetiam muitas vezes para memorizar as oraçõ es em
latim. “Na é poca do batismo, muitos receberam o sacramento com
lá grimas nos olhos. Quem se atreveria a dizer que vieram sem fé :
vieram de tã o longe, com tantos problemas, ningué m os obrigou, na
procura do sacramento do baptismo? ”229
Alguns indı́genas, como disse Mendieta, izeram um grande esforço
para chegar ao mosteiro onde lhes seria administrado o sacramento do
batismo. Por exemplo, para chegar ao mosteiro de Guacachula, os
indı́genas tiveram que atravessar montanhas e des iladeiros, quase sem
comida. Esse luxo de indı́genas nã o foi um fenô meno passageiro; eles
continuaram chegando de terras distantes e com todas aquelas
di iculdades, por meses. Mendieta acrescentou que
Um religioso servo de Deus, que estava ali como hó spede, disse que em
cinco dias que ali estava batizando, ele e outro sacerdote contaram
mais de 14.200. Mesmo com muito trabalho (porque colocou ó leo e
crisma em cada um), ele disse que sentia no coraçã o algo mais alegre
ao batizá -los do que aos outros. A devoçã o e o fervor deles colocavam
no ministro â nimo e força para que pudesse consolar a todos, para que
ningué m saı́sse sem consolo. Ver o desejo fervoroso que esses novos
convertidos trouxeram ao batismo foi realmente algo para se notar e se
maravilhar; nã o se lê sobre coisas maiores na Igreja primitiva. Nã o se
sabe o que mais nos maravilhar, vendo essas novas pessoas chegando
ou vendo como Deus os trouxe. Embora seja melhor dizer para ver
como Deus os trouxe e como Sua Santa Igreja os recebeu. Depois de
serem batizados, foi notá vel vê -los tã o consolados, alegres e felizes,
com seus ilhos pequenos nas costas, que pareciam nã o conseguir
conter em si toda a alegria.230
Quando esta conversã o adquiriu dimensõ es maciças, eles se
questionaram sobre a melhor forma de administrar o batismo e
buscaram um guia seguro, escrevendo ao Papa para saber as soluçõ es
que poderiam ser dadas a esta situaçã o. Enquanto a resposta chegava
de Roma, os frades tiveram que suspender os batismos em grandes
missas. Isso causou uma situaçã o que partiu o coraçã o dos frades, pois
as pessoas estavam ansiosas para receber o sacramento, com atitudes
que comoveram e surpreenderam os missioná rios. Por exemplo, o
pró prio Mendieta nos fala sobre esses ı́ndios, que nã o se importavam
com distâ ncias, clima, fome e assim por diante, apenas para se
batizarem; e, claro, eles nã o se importaram em esperar. No convento de
Guacachula, assim como no de Tlaxcala, foram contabilizados 2.000
indı́genas que esperavam pacientemente nos pá tios e imploravam a
qualquer missioná rio que encontrassem para batizá -los. Os
missioná rios testemunharam como, expulsos sem serem batizados, os
ı́ndios voltaram para casa, “chorando e reclamando, com muitos
arrependimentos, que partiu o coraçã o, mesmo sendo de pedra”.231
Nã o há dú vida de que foi uma surpresa essa conversã o massiva dos
indı́genas, “algo para se notar e se maravilhar”, e o mesmo se pode dizer
dos indı́genas que tentaram se confessar. Mendieta disse
Aconteceu que nas estradas, morros e sertõ es, 1.000.2.000 ı́ndios,
homens e mulheres, seguiriam os religiosos, apenas para se confessar,
deixando suas casas e terras sozinhas; muitas delas eram mulheres
grá vidas, algumas dando à luz no caminho, e quase todas com os ilhos
nas costas. Outros idosos que mal conseguiam icar de pé , com suas
bengalas e até cegos, eram levados 15 ou 20 lé guas de cada vez, à
procura de um confessor. Entre os saudá veis, muitos vinham de 30
lé guas, e outros iam de um mosteiro a outro, mais de 80 lé guas, em
busca de quem as confessasse. Porque havia muito o que fazer em
todos os lugares, eles nã o foram aceitos. Muitos levavam suas esposas
e ilhos e sua comida como se estivessem se mudando para outro
lugar. Eles podem icar um ou dois meses esperando por um confessor,
ou algum lugar para confessar.232
Um dos sacramentos mais difı́ceis de serem aceitos pelos indı́genas era
o do matrimô nio, porque deixar as esposas e ter apenas uma nã o era
fá cil, um esquema familiar que até em algumas partes do Mé xico ainda
é a norma hoje. Os indı́genas, povos que se submeteram a guerras e
sacrifı́cios humanos como parte da harmonia có smica, nã o podiam
conceber nã o ter muitos ilhos, parte fundamental dessa harmonia
sagrada. Por isso, mesmo que a conversã o em massa ocorrida apó s o
evento de Guadalupan fosse surpreendente, os missioná rios sabiam
que os indı́genas rejeitavam o sacramento do matrimô nio com apenas
uma mulher, entã o é ainda mais admirá vel que logo apó s o evento de
Guadalupan eles o fariam com fervor peça o matrimô nio cristã o.
Frei Toribio Motolinia nos fala desse processo de mudança. Depois de
muito esforço e cansaço, o primeiro casamento cristã o aconteceu em
14 de outubro de 1526, quando se casaram oito casais, entre os quais
estava dom Hernando, irmã o do senhor de Texcoco; Motolinia cita este
primeiro matrimô nio na terra de Aná huac, apontando esta data como
referê ncia pelo fato de os matrimô nios serem muito escassos, e nos
conta o motivo disso: “Os homens tê m muitas mulheres, eles nã o
querem deixar deles, nem mesmo os missioná rios podem fazê -los
partir; nenhuma persuasã o, nenhum sermã o, nem qualquer coisa que
eles izeram foi o su iciente para eles deixarem todos, exceto um, para
se casar pela Igreja. Responderiam que os espanhó is també m tinham
muitas mulheres; e se lhes fosse dito que eles os tinham ao seu serviço,
eles diriam que també m os tinham para o mesmo. Assim, embora os
ı́ndios tivessem muitas esposas com quem se casavam segundo seus
costumes, eles també m as tinham para lucrar, porque faziam todos
tecer e fazer tecidos e outros negó cios ”.233Motolı́nia prova e foi
testemunha de que depois de 1531 as coisas mudaram radicalmente, e
ele continuou: “Agradou a Nosso Senhor que por Sua vontade alguns
tenham deixado aquela multidã o de mulheres que tinham e se
contentam com apenas uma, casando-se com ela, como a Igreja
demandas. Os jovens que se casam pela primeira vez sã o tantos agora
que as igrejas cresceram, porque em alguns dias 100 casais se casam,
alguns dias 200, 300 e outros 500 ”.234
Mendieta, por sua vez, disse: “Havia muito o que se admirar na fé dos
ı́ndios. Muitos abandonaram a esposa legı́tima porque nã o a amavam e
envolveram-se com as concubinas de quem gostavam, tendo com elas
trê s ou quatro ilhos; mas entã o, para fazer o que era ordenado, eles
deixariam aqueles por quem sentiam uma grande paixã o, e iriam
procurar o primeiro, a 15 ou 20 lé guas de distâ ncia, para que seu
batismo nã o fosse negado ”.235
Os missioná rios se confundiam com essa mudança radical, de tantas
conversõ es, e procuravam raciocinar esse fenô meno, dizendo que, em
parte, tinha sido fruto de sua pregaçã o e testemunho. Como já
dissemos, nã o há dú vida de que isso certamente in luenciou as
primeiras conversõ es. No entanto, a conversã o massiva deixou os
missioná rios será icos admirados e surpresos; como disse Mendieta,
“foi algo para se notar e maravilhar” e “muito admirá vel”, e ele
con irmou que isso ultrapassou a intervençã o missioná ria: “Quem
ousaria dizer que vieram sem fé , porque vieram com tanto sacrifı́cio e
por si pró prios? ”
O Nican Motecpana també m veri ica e con irma essa mudança dentro
do coraçã o indı́gena, que se manifestou na aceitaçã o da fé . A seu modo
e estilo, atravé s desta importante fonte, somos informados de que os
indı́genas, “submersos nas trevas profundas, ainda amavam e serviam
falsos deuses, estatuetas de barro e imagens do nosso inimigo o diabo,
apesar de terem ouvido falar da fé . Mas quando ouviram que apareceu
a Santa Mã e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e visto que viram e
admiraram a Sua imagem mais perfeita, que nã o tem arte
humana; seus olhos foram abertos como se de repente o dia tivesse
amanhecido para eles. "236 A conversã o foi tal que muitos deles
jogaram fora seus ı́dolos, “e entã o (de acordo com o que o mais velho
deixou pintou) alguns nobres, assim como seus servos plebeus,
voluntariamente jogaram suas imagens do diabo para fora de suas
casas e as espalharam, e eles começaram a acreditar e a venerar Nosso
Senhor Jesus Cristo e Sua preciosa Mã e. ”237
Um dos aspectos-chave dessa conversã o é que Maria veio para nos
trazer Seu Filho, Jesus Cristo; o que quer dizer que a Imagem de Nossa
Senhora de Guadalupe é cristocê ntrica, porque Ela coloca Seu Filho no
lugar que lhe corresponde, no centro da Imagem, na lor de quatro
pé talas, que para os indı́genas representava movimento, vida, o ú nico
Deus verdadeiro que é vida e dá vida: Ometeotl. A Virgem grá vida
espera Jesus Cristo, carrega-O no seio, como um tesouro que nos é
oferecido. Isso també m é con irmado no Nican Motecpana: “No que foi
realizado, Ela nã o só veio se mostrar como a Rainha do Cé u, nossa
preciosa Mã e de Guadalupe, para ajudar os indı́genas em suas misé rias
mundanas, mas na verdade, porque Ela queria dar-lhes a Sua luz e a Sua
ajuda, para que inalmente conhecessem o Deus Verdadeiro e Unico e,
atravé s Dele, vissem e conhecessem a vida no Cé u ”.238Do mesmo
modo, Ela nã o desgosta da obra dos missioná rios, mas a acrescenta à
obra evangelizadora, como se expressa no Nican Motecpana: “Para o
fazer, Ela pró pria veio introduzir e fortalecer a fé , que os reverentes
ilhos de Sã o Francisco começou a compartilhar. ”239
E verdade que esta mudança, que teve origem no fundo do coraçã o, é
surpreendente, e esta nova atitude, que revela uma luz de esperança,
que permite a evangelizaçã o fazer-se num povo, como a terra bem
preparada, para receba a mensagem de Salvaçã o. Com efeito, iniciou-se
uma devoçã o que ningué m pode conter e, mais ainda, aprofundou-se e
difundiu-se nos diversos perı́odos histó ricos ocorridos no Mé xico. Esta
é uma histó ria fascinante que transcende fronteiras, culturas, etnias e
tempo; e na qual o humilde indı́gena Juan Diego teve uma importante
participaçã o, sendo o embaixador desta mensagem, uma mensagem
que chega precisamente ao coraçã o de todos os homens para libertá -lo,
uma mensagem inculturada de Maria de Guadalupe, Estrela da
Evangelizaçã o.
CAPÍTULO SEIS

Um relatório que ilumina a verdade sobre a grande


devoção a Nossa Senhora de Guadalupe
A fama dos milagres realizados por Nossa Senhora de Guadalupe fez
com que a sua devoçã o se espalhasse rapidamente, desde o inı́cio; e,
como já apontamos, era claro que uma mentalidade baseada na teologia
medieval dos franciscanos resistia em con iar na devoçã o vinda do
Tepeyac, temendo a idolatria. Alguns franciscanos mantiveram um
silê ncio prudente sobre essa devoçã o e alguns falaram contra ela, como
Frei Bernardino de Sahagú n, que nã o conseguiu esconder sua raiva e a
chamou de “invençã o satâ nica”, temendo que os indı́genas voltassem
aos seus antigos ı́dolos. Mas també m é verdade que havia outros
motivos que nã o estavam dentro desta proteçã o paterna, e eles se
originaram do incô modo que o Provincial dos Franciscanos, Frei
Francisco de Bustamante, experimentou quando o Arcebispo
dominicano, Alonso de Montú far, começou a instalar um mais igreja
diocesana, o que signi icava tomar territó rios pastorais aos
franciscanos e entregá -los ao clero secular ou aos frades de outras
ordens religiosas, como os dominicanos; como Montú far admirava a
devoçã o a Nossa Senhora de Guadalupe, viu-se irmemente rejeitado
por Bustamante.
Esse silê ncio e rejeiçã o, direto dos primeiros missioná rios, era
aparentemente um tanto contrá rio à devoçã o, mas na verdade, ajuda a
con irmar que o Guadalupana do Mé xico nã o foi uma devoçã o trazida
pelos espanhó is para subjugar os indı́genas porque entã o teria
parecido contraditó rio à devoçã o, até mesmo um ataque direto contra
ela. Nossa Senhora de Guadalupe do Mé xico é uma devoçã o originá ria
do Tepeyac, e tem apenas o mesmo nome que a Virgem de Guadalupe
na Extremadura, Espanha. De fato, o frade franciscano Alonso de
Santiago queria que Santa Maria de Guadalupe em Tepeyac “nã o fosse
chamada de Nossa Senhora de Guadalupe, mas de Tepeaca ou
Tepeaquilla”.240
Mas vamos ver como os eventos se desenvolveram. Apó s a morte do
Arcebispo Frei Juan de Zumá rraga, em 1548, a arquidiocese
permaneceu por muito tempo vazia; e se o arcebispado foi oferecido
aos franciscanos, eles nã o o aceitaram, basicamente porque queriam
dedicar-se totalmente à sua missã o. Em 1551 foi eleito o dominicano
Alonso de Montú far, que chegou ao Mé xico em 23 de junho de 1554, e
tomou posse de sua sé em 7 de julho de 1554; ele era um religioso da
Ordem dos Pregadores, um homem sincero, honesto e um grande
religioso que havia trabalhado no Santo Ofı́cio na Espanha; “inimigo
dos abusos e das desordens, tinha inteligê ncia para conhecer a causa
que os originava e també m nã o lhe faltava energia para se
opor”.241 Montú far percebeu que era necessá ria uma reforma em
diversos nı́veis: a administraçã o da Igreja, a missã o que se desenvolvia,
a partir do ensino do catecismo, e a administraçã o dos sacramentos,
porque a arquidiocese icou muito tempo sem pastor.
Cinco meses depois de chegar ao Mé xico, em 30 de novembro de 1554,
o arcebispo Montú far escreveu ao Conselho das Indias sobre os
percalços de sua chegada ao Mé xico, mostrando como havia encontrado
sua arquidiocese. Diferentes formas de pensar já estavam sendo
delineadas sobre a missã o que deveria ser desenvolvida no Novo
Mundo e uma Igreja local que deveria ser estabelecida. O confronto
direto foi com os franciscanos.
A raiva tornou a vida pastoral mais problemá tica. O historiador Joaquı́n
Garcı́a Icazbalceta diz-nos que “pediram ao Arcebispo um relató rio
sobre toda a sua diocese, mas como a maior parte da administraçã o
ainda estava nas mã os dos Frades [franciscanos], o Arcebispo pediu-
lhes que lhe entregassem o informaçõ es pertinentes de que eram
responsá veis. Os frades recusaram-se a lhe dar, dizendo que o rei havia
pedido essa informaçã o e que se correspondiam diretamente com o
rei. Por esta razã o, ele só foi capaz de relatar o que se referia ao seu
clero ”.242
As tensõ es eram ó bvias; “A medida que o clero secular se organizava,
rivalizava com as ordens. També m houve con litos entre eles e com a
populaçã o civil. Isso resultou na continuaçã o de relató rios apaixonados
sobre a vida da Igreja ”.243
Na verdade, surgiram problemas nã o só entre o arcebispo e os
franciscanos, mas també m entre eles e os dominicanos. As discussõ es
chegaram a tal ponto que a pró pria Santa Sé teve que intervir para
restabelecer a paz. “Naquela é poca, eram muitos os problemas que
mantinham as duas ordens religiosas separadas no Mé xico, a começar
pela questã o relacionada à oportunidade e à legalidade dos batismos
dados aos indı́genas, a um ritmo alucinado, certamente, pelos será icos
missioná rios, sem grande cerimô nia, e com os elementos litú rgicos
mais simples. As disputas tornaram-se tã o sé rias que foi necessá rio
submetê -las à autoridade pontifı́cia ”.244
Em 20 de novembro de 1555, o Provincial Frei Francisco de
Bustamante, junto com outros franciscanos, entre os quais Frei Toribio
de Motolinia e Frei Juan de Gaona, se destacaram e escreveram uma
longa carta ao rei, reclamando do Arcebispo Montú far e dos bispos que
naquele momento estavam celebrando o Primeiro Conselho Provincial
do Mé xico.245O gatilho tinha sido, especi icamente, o dı́zimo e os
lugares pastorais que lhes foram tirados. E preciso mencionar que os
bispos se uniram na petiçã o ré gia de 23 de junho de 1543, onde se
determinou que um dı́zimo fosse cobrado dos indı́genas para a
manutençã o da Igreja local. Na verdade, o dı́zimo era mais uma das
prestaçõ es de uma Igreja diocesana.
Na carta que os franciscanos escreveram ao rei, alé m da divergê ncia
sobre a cobrança do dı́zimo, sua indignaçã o era evidente porque alguns
de seus territó rios pastorais lhes haviam sido retirados para a
instalaçã o da Igreja diocesana. Os ataques contra o arcebispo Montú far
foram claros e diretos. Bustamante disse “[o Arcebispo Alonso de
Montú far] nos tirou alguns lugares que havı́amos tomado com a
permissã o de seu Vice-rei e do Arcebispo anterior; e també m deu
nossos mosteiros aos mosteiros do clero onde, por capı́tulo, religiosos
e tutores foram nomeados. . . assim, ele [o arcebispo] nã o quer ajuda e
diz uma coisa, mas faz outra. Ele tomou as cidades onde nó s
catequizamos por 20 ou 30 anos e as considera como nossos ilhos e as
deu a clé rigos e religiosos de outras ordens. Nó s nos oferecemos para
cuidar deles e colocar os Frades ali, mas ele nã o acha apropriado e
responde que é justo que os clé rigos estejam onde possam sustentar
”.246Frei Bustamante chegou a preferir obedecer ao vice-rei e nã o ao
pá roco da arquidiocese. O franciscano acrescentou que “seria
necessá rio que Vossa Alteza tratasse com o Papa para que nã o sejamos
obrigados a pedir o consentimento dos Bispos de ambas as
assembleias, como fazemos fora delas, e que nã o serı́amos obrigados a
pedir para aprovaçã o nas localidades que vamos tomar, mas que a
licença do teu Vice-rei seja su iciente, porque, uma vez avisados de
uma boa localizaçã o, tentam aı́ colocar um clero. . . onde os ı́ndios
recebem grandes prejuı́zos ”.247 De certa forma, as palavras á speras de
Bustamante nos ajudam a entender um pouco melhor o sentimento de
vexame que os franciscanos experimentaram, vendo o arcebispo como
um verdadeiro inimigo e tomando uma atitude contrá ria a qualquer
iniciativa do prelado.
O Arcebispo Montú far envidou vá rios esforços para instalar esta Igreja
diocesana, uma Igreja local, de acordo com as exigê ncias do momento
em toda a sua provı́ncia pastoral. O prelado també m ixou os olhos na
Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e quis continuar a fortalecer a
sua veneraçã o, porque pô de ver os milagres realizados, sobretudo a
conversã o massiva. Para Bustamante, qualquer pretexto bastava para
manifestar sua oposiçã o ao prelado, e uma dessas circunstâ ncias foi
quando o arcebispo pregou na Catedral Metropolitana no domingo, 6 de
setembro de 1556, apoiando e motivando a veneraçã o de Nossa
Senhora de Guadalupe.
Montú far, na sua homilia, pronunciou-se a favor da continuaçã o da
devoçã o à Virgem de Guadalupe, utilizando a citaçã o bı́blica “Beati oculi
qui vident que vos videtis ” (“ Beati os olhos que vê em o que vedes”) (Lc
10,23; Mt 13,16) e um ouvinte, Frei Alonso de Santiago, declarou mais
tarde: “Entã o vi que ele se referia a Nossa Senhora de
Guadalupe”. 248 Em seu sermã o, o arcebispo “tentou persuadir todas as
pessoas da devoçã o a Nossa Senhora, dizendo como Seu precioso Filho
concedeu a devoçã o à Imagem de Sua preciosa Mã e em muitos
lugares”.249Na verdade, ”Ele concedeu uma grande devoçã o a todas as
pessoas e, portanto, a toda a maior parte desta cidade. . . segue e
continua esta devoçã o. “250
No dia 8 de setembro, apenas dois dias apó s a pregaçã o do arcebispo,
na festa da Natividade de Maria, na capela do Convento de Sã o
Francisco, Frei Francisco de Bustamante pregou um sermã o perante o
vice-rei Luı́s de Velasco e a Audiencia de Mé xico. , e se ele basicamente
nã o deu nenhuma importâ ncia à Virgem de Guadalupe, no inal nã o
pô de deixar de terminar seu sermã o mariano atacando o Arcebispo
Montú far, “com um semblante muito á rido, mostrando sua grande raiva
contra o que neste caso [o Arcebispo ] tinha pregado e apoiado.
”251 Alé m disso, nã o se limitou a tornar pú blica a sua discordâ ncia, mas
acusou diretamente Montú far de nada menos do que fomentar a
idolatria em seu apoio à devoçã o à Virgem de Guadalupe Imagem que,
segundo ele, havia sido pintada por um indı́gena, “O ı́ndio Marcos”,
apontando que era falso que Ela izesse milagres, ou pelo menos nã o foi
provado, promovendo assim a idolatria252 e també m o acusando,
indiretamente, de peculato, insinuando que ele se desfez da esmola
indevidamente,253 “E que seria uma boa ideia açoitar o primeiro que
alegou que Ela fez milagres 100 vezes, e que quem disse isso a partir de
entã o, seja chicoteado 200 vezes.”254Tal acusaçã o, por quem a dizia e a
quem se dirigia, causou terrı́vel impressã o nos ié is, pois repreendia
uma devoçã o já universalmente popular, alé m de manifestar a todos
uma disputa interna dentro da hierarquia, e se isso nã o bastasse,
temos que levar em conta que, na é poca, a idolatria nã o era punida com
100 ou 200 chicotadas, mas com a morte. Assim, o provincial
franciscano, a mais alta autoridade moral da Igreja no Mé xico,
recomendava publicamente que o arcebispo dominicano, a mais alta
autoridade hierá rquica, fosse condenado à morte.
Mas continuemos com os acontecimentos. No dia seguinte, o Arcebispo
do Mé xico, Alonso de Montú far, deu inı́cio a um processo, que
permaneceu em fase meramente introdutó ria.255 Ele chamou
testemunhas e as fez declarar sob juramento256tudo o que viram e
ouviram em referê ncia à pregaçã o de Frei Francisco de
Bustamante. Este processo foi denominado Información de 1556.
As acusaçõ es do provincial franciscano foram extremamente delicadas
e graves, sobretudo porque Montú far presidiu o Primeiro Conselho
provincial mexicano em 1555, onde se determinou que fossem punidos
severos castigos contra quem sustentava uma devoçã o falsa ou
incerta. O arcebispo conhecia perfeitamente a legislaçã o, já que fora
examinador no Santo Ofı́cio na Espanha antes de se tornar arcebispo
do Mé xico. Por isso nã o podia aceitar apenas os ataques infundados do
franciscano, tendo sido ele quem tinha promovido a eliminaçã o de
todas as falsas devoçõ es com penas tã o grandes como a de
excomunhã o. Tudo isso é testemunhado por Juan de Salazar, que ouviu
pessoalmente o arcebispo dizer que “foi declarado no Concı́lio que a
pregaçã o de um milagre falso ou incerto era proibida e a puniçã o para
isso era a excomunhã o”.257
Com efeito, um pouco antes daquele violento ataque do franciscano
Bustamante, o arcebispo Montú far, em 29 de junho de 1555, che iava o
Primeiro Concı́lio Mexicano, encerrado em 17 de novembro do mesmo
ano. Nesse encontro, entre outras coisas, foram traçados os
alinhamentos iniciais para a consolidaçã o de uma Igreja diocesana,
alguns projetos que desagradariam aos franciscanos. Da mesma forma,
normas muito claras foram dadas para banir a idolatria indı́gena. E
interessante veri icar isso no capı́tulo 72 dos autos do conselho, onde
se lê : “Os ı́ndios nã o devem cantar rituais ou cantigas antigas sem antes
serem examinados por religiosos, ou por pessoas que entendam muito
bem a lı́ngua, e o Evangelho. os ministros devem tentar impedi-los de
cantar coisas profanas nessas cançõ es. ” Com isso, muitos dos costumes
indı́genas foram banidos, principalmente suas cançõ es, que
apresentavam ortodoxia duvidosa ou clara idolatria. No entanto, as
cançõ es compostas à Virgem de Guadalupe, exaltando a sua devoçã o,
nã o foram prejudicadas.
Alé m disso, no capı́tulo 34 dos procedimentos do conselho, a irma-se
que as imagens nã o deveriam ser pintadas sem que o pintor e as
pinturas em questã o fossem examinados. Os sacerdotes do conselho
declararam que
O Concı́lio deseja separar tudo o que vai contra a devoçã o autê ntica da
Igreja de Deus, e outros problemas, como pintar absurdos e imagens
indecentes, que causam mal-entendidos aos simples; e porque é mais
conveniente tomar as providê ncias necessá rias neste local do que em
outros, porque os ı́ndios, sem saber pintar corretamente ou entender o
que estã o pintando, pintam imagens, saibam ou nã o, o que resulta em
subestimar nossa Santa Fé . ; portanto, o Santo Conselho estabelece e
ordena que nenhum espanhol ou indı́gena pinte imagens ou retá bulos
em qualquer Igreja de nossa Arquidiocese, nem Provı́ncia, nem venda
imagens, sem primeiro ser examinado e uma licença emitida por nó s,
ou por nossos Vigá rios Gerais, entã o que ele possa pintar, e que seja o
que convé m à devoçã o dos ié is. As imagens que assim pinta devem ser
primeiro examinadas e avaliadas pelos nossos juı́zes quanto ao seu
preço e valor, sob pena de perder a pintura e a imagem que fez se o
pintor izer o contrá rio. E enviaremos nossos inspetores para ver e
examinar minuciosamente as histó rias e imagens que estã o sendo
pintadas nas igrejas e lugares sagrados que eles visitam; e aqueles que
eles acham duvidosos, errados ou indecentes, devem ser removidos
desses lugares.258
Neste contexto do concelho, onde se apresentam aos pintores, tanto
espanhó is como indı́genas, normas muito claras no que diz respeito à s
pinturas e també m à s histó rias das imagens, pode-se ter a impressã o
de que se a Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe tivesse sido
pintado por um indı́gena ou mesmo espanhol antes de 8 de setembro
de 1556, data em que Frei Francisco de Bustamante pregou o sermã o
em resposta ao proferido pelo arcebispo Alonso de Montú far apenas
dois dias antes, teria sido destruı́do e obviamente a veneraçã o a Nossa
Senhora de Guadalupe em Tepeyac nunca teria sido apoiada e
promovida pelo Arcebispo do Mé xico, Montú far. Alé m disso, dentro
desse preceito, se fosse uma pintura feita por um espanhol ou um
indı́gena, vá rias questõ es poderiam ter sido respondidas; a identidade
do artista e muitos mais detalhes seriam conhecidos. Mas Bustamante
apenas acrescentou que foi um certo ı́ndio de nome Marcos quem o
pintou, no momento de có lera de seu sermã o; ele nã o apresentou
qualquer prova ou mostrou nada ou ningué m mais a esse respeito. A
identidade de quem mandou pintar tal imagem també m teria sido
conhecida, sua histó ria poderia ser conhecida e, como dissemos, se a
pintura nã o tivesse sido autorizada, é ó bvio que teria sido retirada de
veneraçã o, mesmo ainda mais tendo os franciscanos in luentes
abertamente contra isso. A verdade é que a veneraçã o à Virgem de
Guadalupe do Mé xico continuou sem que ningué m pudesse detê -la,
independentemente da oposiçã o dos franciscanos. Por exemplo, a
testemunha Alonso Sá nchez de Cisneros declarou ter estado na casa do
religioso franciscano, que se dizia contra a Imagem de Guadalupe, “e
que sentia que todos tinham a mesma opiniã o do Provincial. ”259
Pois bem, para o historiador Edmundo O'Gorman, a Imagem de
Guadalupe é uma pintura encomendada pelo Arcebispo Montú far, que
se presumia o responsá vel por iniciar aquela devoçã o; porque o
conselho nã o disse uma ú nica palavra sobre a devoçã o de Guadalupe,
O'Gorman conclui que “Parece vá lido supor que em 6 de novembro de
1555, dia em que os resultados do conselho foram anunciados, a
Imagem da Virgem ainda nã o havia aparecido no horizonte histó rico
do Mé xico. ”260 Mas é preciso lembrar que o concı́lio nã o só viu as
coisas que aconteceram no passado, e nã o precisou necessariamente
nomeá -las para que existissem, mas foi uma norma que foi posta em
prá tica no presente e no futuro.
Por exemplo, o concı́lio nã o disse uma ú nica palavra sobre o Santuá rio
de Nossa Senhora dos Remé dios e, no entanto, a devoçã o continuou
porque estava de acordo com as normas ditadas pelo concı́lio; ningué m
pensou em dizer que essa devoçã o nunca existiu simplesmente porque
o conselho nunca a mencionou.
Por outro lado, é difı́cil acreditar que a Imagem tenha sido inventada
para colocá -la justamente em um lugar tã o inapropriado se essa
escolha tivesse sido deixada a crité rio do homem, considerando as
demandas dos espanhó is do sé culo XVI, que deram tanta importâ ncia à
pureza de raça, sob a pressã o da Inquisiçã o. No entanto, o Santuá rio foi
fundado neste local, no morro do Tepeyac, o que nã o me pareceu
adequado, como apontam outras fontes que serã o analisadas
posteriormente. Alé m disso, como já vimos, os depoimentos das
testemunhas participantes do Información, redigido a partir de 8 de
setembro de 1556, apresentam-nos uma devoçã o profundamente
arraigada em todas as classes sociais, tanto entre os espanhó is como
entre os indı́genas; O testemunho de Juan de Salazar nos diz que
Há uma grande devoçã o que o povo desta cidade tem dado a esta
bendita Imagem, inclusive os indı́genas; senhoras importantes e bem
vestidas andam descalças, caminhando com as bengalas nas mã os,
para visitar e rezar a Nossa Senhora, e delas os indı́genas receberam
um grande exemplo e també m o seguem. . . muitas senhoras e jovens,
de grande posiçã o e també m de grande idade, foram descalças, com as
bengalas nas mã os, até l'Hermitage de Nossa Senhora, e assim esta
testemunha viu, porque já foi muitas vezes a l'Hermitage, o que
surpreende muito esta testemunha, por ter visto muitas mulheres e
jovens, em grande nú mero, caminhando com as bengalas nas mã os,
para visitar esta Imagem.261
Esta mesma testemunha acrescenta todas as diferentes ofertas e
celebraçõ es que tiveram no Santuá rio, “onde quem vai continuamente
encontra missas, como disseram os ié is e devotos, e alguns feriados
solenes”.262Chegou ao ponto de que “Ningué m falava de outra coisa,
apenas 'Para onde devemos ir?' 'Vamos a Nossa Senhora de Guadalupe.
”'263
Alé m disso, uma grande quantidade de esmolas tinha sido recolhida,
mas Bustamante també m encontrou ali mais um motivo para atacar o
arcebispo, porque, de acordo com o juramento de Salazar, Bustamante
havia dito “Seria melhor usá -los em favor dos hospitais desta cidade ,
especialmente no dos bubõ es, já que a maior parte das doaçõ es do
hospital foram tiradas dele, e que ele nã o sabia com que se gastavam
nem se usavam aquelas esmolas que se davam naquela Ermida de
Guadalupe, e que para remediar tudo isso, e para que nã o continuasse,
a soluçã o cabia ao vice-rei e a todo o conselho. ”264Isso signi ica que as
esmolas foram tã o generosas a ponto de desejar que o vice-rei e o
conselho assumissem o caso. Tudo isso mostra as fortes raı́zes que
tinha a devoçã o, que nã o só os ı́ndios faziam peregrinaçõ es ali, mas
també m os espanhó is e todas as classes sociais, e ali aconteciam
grandes festas e oferendas. Era uma devoçã o extensa, tã o forte que
muitos iam descalços rezando a l'Hermitage, devoçã o amada que
estava em seus coraçõ es, e o grande escâ ndalo, provocado pelas
palavras de Frei Francisco de Bustamante, foi visı́vel em toda a
cidade.265e ele perdeu o prestı́gio que havia obtido. E difı́cil concordar
com Edmundo O'Gorman quando conclui que a devoçã o à Imagem de
Guadalupe aconteceu em dez meses. O'Gorman disse: “Em conclusã o,
digamos que propusemos um lapso entre o inı́cio de novembro de
1555 e 6 de setembro de 1556, perı́odo durante o qual a Imagem de
Nossa Senhora de Guadalupe deve ter sido colocada na antiga Ermida
franciscana de Tepeyac. ”266
Mas continuemos analisando Información de 1556. As testemunhas
responderam a cada uma das perguntas, e suas respostas mostraram
claramente o que o provincial expressou e o escâ ndalo que provocou. O
historiador anti-aparicionista Edmundo O'Gorman a irmou em seu
livro Destierro de Sombras que “E muito ó bvio que quase todas as
testemunhas declararam que, de fato, o Padre Bustamante atribuiu a
Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, encontrada em l'Hermitage, a
um pintor indı́gena; mas nenhum deles pareceu surpreso ou fez
objeçõ es, nem mesmo um comentá rio ao pregador foi ouvido; caso
contrá rio, as testemunhas de Información, ou pelo menos uma delas, o
teriam incluı́do em sua disposiçã o. E ó bvio que o assunto era
conhecido, ou em qualquer caso, para aqueles que era algo novo para
eles, era aceitá vel e de forma alguma extravagante ou atrevido ”.267
Mas investigando e analisando diretamente em fontes histó ricas,
con irmamos que isso nã o é verdade. As testemunhas a irmaram
claramente que tinha sido um verdadeiro escâ ndalo: no depoimento de
Juan de Mesa, pode-se ler que “Esta testemunha disse que ouviu
algué m dizer apó s o té rmino do sermã o que havia um escâ ndalo e
grupos de pessoas conversando”.268 No depoimento de Juan de Salazar,
con irma que “alguns vizinhos desta cidade que estavam ao seu lado,
ouvindo o sermã o, icaram escandalizados e constrangidos com o que
disse o Provincial”.269 A testemunha Marcial de Contreras declarou: “Na
cidade há um grande escâ ndalo, pelo que ouviu sobre as pregaçõ es
deste Provincial”.270O testemunho do Bacharel de Puebla foi que “E
verdade que aqui na Igreja, e depois na cidade, houve um grande
escâ ndalo pelas coisas que o Provincial pregava. E, assim, muitas
pessoas, escandalizadas com o que tinham ouvido, vieram perguntar a
esta testemunha o que ela achou, e ela nã o disse bem e que tinha sido
escandaloso ”.271 O Bacharel Francisco de Salazar testemunhou que
“viu que muita gente se escandalizava com as palavras deste
Provincial”.272 A testemunha Gonzalo de Alarcó n jurou que “As pessoas
mais importantes que assistiram à quele sermã o icaram
transtornadas”.273A testemunha Juan de Masseguer declarou: “Houve
um grande escâ ndalo no auditó rio, e houve um escâ ndalo na cidade e
ele ouviu muitas pessoas abastadas dizerem que ele parecia
apaixonado e que estavam escandalizadas. E esta testemunha diz que
Bustamante perdeu muito da credibilidade que tinha nesta cidade por
causa do que Bustamante disse contra a Imagem. A devoçã o nã o parou,
mas melhor ainda, cresceu mais, e cada vez que essa testemunha vai lá ,
ela vê mais gente do que antes ”.274
As testemunhas nã o só con irmaram que houve um grande escâ ndalo
por causa da fala de Frei Francisco de Bustamante, mas també m
con irmaram a grande devoçã o a Nossa Senhora de Guadalupe; por
exemplo, o Solteirã o Francisco de Salazar jurou “nã o só as pessoas que
sem problemas de saú de e sem doenças do corpo podem andar, mas
també m homens e mulheres muito velhos e enfermos, com esta
devoçã o, vã o a l'Hermitage”.275 Em seu depoimento, Juan de Masseguer
nos diz: “Todas as pessoas em geral tê m uma grande devoçã o a esta
Imagem de Nossa Senhora, pessoas de todos os tipos, nobres, cidadã os
e indı́genas”.276
Pelo que atestam, percebe-se que a devoçã o contava com o apoio do
episcopado, mas tinha grandes raı́zes populares de antes. Francisco de
Salazar declarou: “Muitos tê m uma grande devoçã o, indo a cavalo e
outros caminhando ... mulheres e homens, velhos e enfermos ...
crianças pequenas que compreendem, vê em que os seus pais e os mais
velhos praticam esta devoçã o, e gostam para ir lá ."277 Alvar Gó mez
testemunhou que
E verdade que ele já foi lá uma vez e se deparou com muitas senhoras
importantes caminhando, e outras pessoas, homens e mulheres, de
todas as classes, indo e vindo; ali ele viu que davam esmolas generosas
e que parecia que era com grande devoçã o; nã o viu nada que pudesse
parecer errado, mas que o levou a uma devoçã o a Nossa Senhora, e que
este testemunho, ao ver os outros com tanta devoçã o, o incitou a uma
devoçã o maior. Pareceu-lhe que isto era algo que devia ser apoiado e
promovido, até porque nesta terra nã o há outra devoçã o conhecida
onde o povo tenha tido tanta devoçã o e que com esta santa devoçã o
muitos nã o se incomodam em ir aos pomares, como era o costume
nesta terra, agora eles vã o lá onde nã o há arranjos de pomares nem
quaisquer outros benefı́cios; em vez disso, eles vã o antes de Nossa
Senhora, em contemplaçã o e em devoçã o.278
Com este testemunho percebe-se claramente nã o só a grande devoçã o
a Maria Santı́ssima de Guadalupe, mas també m a enorme conversã o de
tantos que manifestaram uma mudança de vida e, ao mesmo tempo,
atravé s destes testemunhos provamos que o a devoçã o a Santa Maria
de Guadalupe nã o foi implantada pelos franciscanos, graças aos seus
testemunhos que comprovam a oposiçã o inicial dos franciscanos à
devoçã o e o fato de que a atacaram abertamente. Algumas testemunhas
desse processo iniciado pelo arcebispo do Mé xico falaram sobre uma
conversa entre os frades franciscanos Antonio de Huete e Alonso de
Santiago, bem como com outros membros da mesma ordem. Ambos os
frades pareciam hostis. Frei Alonso de Santiago chegou a dizer que a
devoçã o a Nossa Senhora de Guadalupe era perigosa porque os
indı́genas acreditavam que a Imagem de Tepeyac era de fato a pró pria
Virgem e eles a adorariam como um ı́dolo. També m neste depoimento
se percebe uma tal rejeiçã o dos primeiros missioná rios, que ica claro
que nã o foram os franciscanos que tentaram impor a Virgem de
Guadalupe como uma extensã o da de Extremadura, na Espanha, ou
dominar os indı́genas com esta devoçã o; Frei Alonso de Santiago,
incomodado com a promoçã o que o arcebispo Montú far fez à Virgem
de Guadalupe de Tepeyac, disse: “Visto que o ilustre Arcebispo queria
que o povo fosse a l'Hermitage como devoçã o, deveria ordenar que Ela
nã o fosse nomeada Senhora de Guadalupe, mas de Tepeaca ou
Tepeaquilla, porque se na Espanha Nossa Senhora de Guadalupe tinha
esse nome é porque essa mesma cidade se chamava Guadalupe ”.279
Finalmente, houve uma testemunha, Juan de Masseguer, que disse que
um frade do convento de Tlaltelolco, chamado Luis,280 disse a ele,
francamente, "esta é uma devoçã o em que estamos todos
errados."281Mas, assim como Masseguer nos transmite a opiniã o de
Frei Luı́s, ele també m con irma a grande devoçã o que o povo tinha à
Virgem de Tepeyac. Masseguer disse: “Todas as pessoas tê m uma
devoçã o verdadeira a esta Imagem de Nossa Senhora e muitas pessoas
vã o visitá -la muito frequentemente com devoçã o profunda, todos os
tipos de pessoas, espanhó is, crioulos e indı́genas, embora alguns
indı́genas tenham esfriado nelas. devoçã o porque os Frades a
ordenaram ”.282O con lito geral entre os franciscanos e o arcebispo
tornou-se claro; chamaram-no publicamente de ganancioso e inepto e
a irmaram que deviam destituı́-lo e fazê -lo regressar à Espanha, “e se o
arcebispo diz o que diz, é por um interesse pró prio; ele tem mais de
sessenta anos e já está delirando ... faremos o arcebispo voltar pelo mar
”.283
Como vimos, essa intervençã o do franciscano Bustamante causou um
enorme escâ ndalo e desacreditou seu autor. Era verdade que a devoçã o
à Virgem de Guadalupe tinha grande força, que Ela gozava da estima da
maioria dos espanhó is e da veneraçã o dos indı́genas, que generosas
esmolas foram dadas e que a fama da Imagem se espalhou, graças aos
prodigiosos milagres que Ela realizou. Mas també m era claro que os
franciscanos se opunham totalmente a essa devoçã o nascida em
Tepeyac. No inal, o resultado foi autodestrutivo para os franciscanos,
porque a devoçã o aumentou e Bustamante icou muito desacreditado,
como con irma o depoimento de Francisco de Salazar: “Quanto ao
escâ ndalo que havia sobre a contradiçã o que ele fez, agora nã o fala-se
de qualquer outra coisa senã o dizer que mesmo que doa Bustamante,
devemos ir servir Nossa Senhora onde quer que esteja a Sua Imagem, e
ele pode contradizer a devoçã o o quanto quiser. Entende-se que ele
lamenta que os espanhó is tenham ido para lá . A partir de agora, se
antes ı́amos uma vez, agora iremos quatro vezes. ”284
Nã o sabemos como terminou a luta entre Bustamante e Montú far, na
qual o rei teve que intervir, mas sabemos que as declaraçõ es foram
interrompidas “ex abrupto” e que o processo foi encerrado em 24 de
setembro com atestado de Montú far de que disse: “Suspenda e a festa
nã o terá veredicto”.285 Sabemos també m que este assunto nunca mais
foi discutido, que Montú far nã o foi açoitado, que Bustamante foi
destituı́do de provinciano e enviado, aparentemente punido, a
Cuernavaca, onde vivia “enclausurado”, castigo que suportou “com
grande humildade e egoı́smo -desprezo,"286 humildade que deve ter
sido sincera porque em 1560 foi reeleito provincial e em 1561 foi
enviado à Espanha com os provinciais dominicanos e agostinianos,
Frei Pedro de la Peñ a e Frei Agustı́n de la Coruñ a, respectivamente,
embora possa ter sido um movimento diplomá tico em a im de o banir,
porque os outros dois foram promovidos ao episcopado, enquanto que
ele permaneceu num convento em Madrid até à sua morte em 1562.
Como vimos, esta Informação de 1556 é tã o importante que, se nã o
tivé ssemos a documentaçã o sobre a polê mica Bustamante-Montú far,
nã o saberı́amos do assunto, porque os escritores franciscanos nã o a
mencionam.
Por outro lado, é verdade que esta é poca foi caracterizada por forte
tensã o, e as mesmas circunstâ ncias izeram com que os escritores
religiosos se mantivessem compreensivelmente calados. Os
franciscanos continuaram acreditando, de boa fé , que a Imagem e a
devoçã o eram “uma invençã o satâ nica” e nã o iam mudar de opiniã o
porque um vice-rei ordenou, e muito menos porque o seu provincial
acabou icando com uma aparê ncia pé ssima. Nem era falso que
considerassem Montú far prejudicial e inepto, també m de boa fé ; no
entanto, eles nã o puderam deixar de notar os resultados
autodestrutivos de tudo o que havia acontecido porque a devoçã o "que
todos na terra seguiriam"287 e que tanto os alarmava por causa de suas
raı́zes profundas entre os ı́ndios, nada mais fez senã o aumentar, com
romarias que consideraram suspeitas pelo seu nú mero e pelas grandes
distâ ncias que muitos percorreram.288
Em conclusã o, a polê mica Bustamante-Montú far mostrou claramente
os motivos do silê ncio dos franciscanos, oriundos de sua postura
teoló gica e derivados de conceitos pastorais, mesclados com a
polê mica mendigos-bispos e temperados com outros elementos das
polê micas jurisdicionais da é poca. A posiçã o de Montú far sobre
Guadalupe mostrou o total apoio dos bispos ao Evento Guadalupano a
partir de entã o, tã o importante para a vida eclesial da Nova
Espanha. Pode-se dizer també m que, independentemente do pouco ou
nenhum apoio do clero, 25 anos apó s as Apariçõ es, a devoçã o já estava
tã o arraigada a ponto de fazer com que todos os vice-reinos
participassem dela, dividindo-se em favor ou contra. Alé m disso,
algué m tã o descon iado como Montú far (que viu heresias por toda
parte, que tinha sido um examinador no Santo Ofı́cio, e que havia
declarado a puniçã o de excomunhã o contra aqueles que promoviam
falsas devoçõ es com contos falsos) favoreceu e defendeu a devoçã o, e
considerou os profunda devoçã o, nã o só dos indı́genas, mas també m
dos espanhó is, como um verdadeiro milagre. Vê -se claramente como os
indı́genas eram incondicionalmente devotados a ela, por mais que os
franciscanos lutassem explicitamente contra ela, temendo que
voltassem à idolatria. Nã o há dú vida de que a devoçã o a Nossa Senhora
de Guadalupe de Tepeyac també m gozava do favor dos leigos
espanhó is, favores que aumentaram como reaçã o aos abusos de
Bustamante. Como con irmam essas testemunhas, havia uma multidã o
que fazia peregrinaçõ es, fazia sacrifı́cios e até fazia penitê ncia. Com
todas essas e outras provas documentadas histó ricas, pode-se concluir
que carece de fundamento histó rico a hipó tese de que se tratou de uma
fraude, conscientemente montada pelos mesmos franciscanos para
controlar melhor os indı́genas, ou de que foi invençã o do arcebispo
Montú far.289
O Arcebispo Montú far deu continuidade aos seus projetos pastorais,
nã o só dando à arquidiocese um clero instalado e está vel, mas també m
apoiando e promovendo a veneraçã o da Virgem de Guadalupe, pela
qual ampliou l'Hermitage,290 ciente da necessidade de fazê -lo devido
ao grande luxo de peregrinos devotos.

CAPÍTULO SETE

O Povo Marcou em Sua História o Evento Guadalupano


Alé m dos interessantes testemunhos dados pelos antigos ı́ndios de
Cuauhtitlá n, terra natal de Juan Diego, a surpreendente conversã o dos
ı́ndios e a Información de 1556 que nos oferece uma referê ncia clara à
devoçã o profundamente arraigada a Guadalupe tanto nos indı́genas
quanto nos espanhó is , existem vá rios outros documentos histó ricos
onde as gentes marcaram o Evento Guadalupano e os seus
protagonistas como um dos momentos histó ricos mais
importantes. Neles se dá a conhecer a evidente e constante fama de
Juan Diego, de virtuoso e santo ı́ndio, fama que perdura até agora.
Vejamos como, desde 1531, o Santuá rio de Tepeyac teve grande
importâ ncia, nã o só para os indı́genas, mas també m para os espanhó is,
e um pouco mais tarde para os crioulos e mestiços. Como sabemos, o
primeiro templo construı́do como residê ncia da Virgem de Guadalupe
foi a Ermida construı́da na é poca de Frei Juan de Zumá rraga, que era
muito humilde, “de adobe, nã o acabada nem adornada”,291 que os
ı́ndios de Cuauhtitlá n continuaram consertando e aprimorando:
“Muitos ı́ndios e ı́ndios desta cidade iam trabalhar nesta Ermida, para
perfumá -la e varrê -la, os indı́genas desta cidade eram mais devotados
que os indı́genas de outras cidades, sendo que Juan Diego era dele e
que Ela havia aparecido para ele. ”292
Até a chegada do segundo arcebispo do Mé xico, Alonso de Montú far, o
Santuá rio nã o passava de uma “ermitilla” (pequena Ermida), como o
vice-rei Enrı́quez de Almanza o classi icou em sua carta de 23 de
setembro de 1575, dirigida a Rei Filipe II: “Havia uma ermitilla em que
costumava ser a Imagem que agora está na Igreja.”293Inicialmente,
Montú far melhorou a ermitilla, mas depois construiu outra no mesmo
local, inteiramente nova, que consagrou em 1566, e que o vice-rei
Enrı́quez de Almanza chamou de “Igreja”, mas independentemente da
enorme veneraçã o que tinha e dos generosos as esmolas que
arrecadava eram ainda modestas, mesmo pobres, pelo menos para o
opulento monge Hieronymus, Diego de Santa Marı́a, que chegara ao
Mé xico depois de ter sido enviado pelo rico convento da Extremadura
para investigar a situaçã o do Santuá rio de Tepeyac que aparentemente
tinha um nome usurpado. Este frade disse em 1574: “Nã o é adornado e
o edifı́cio é muito pobre”.294Mas, como o registram os documentos
histó ricos, se é verdade que o Santuá rio de Tepeyac era simples e
humilde, ainda assim foi rico em devoçã o, esplendoroso em
conversõ es, embelezado por muitas esmolas e doaçõ es. Era um lugar
onde pessoas de todas as condiçõ es e nı́veis eram atraı́das de forma
surpreendente, como nos nossos dias.
Esta devoçã o inusitada, como já foi referido, se destaca nos documentos
denominados “Anais”, que sã o escritos que contê m, de forma
comunitá ria, as notı́cias sobre os fatos fundamentais de cada ano e, em
alguns deles, as pessoas apontaram o evento Guadalupan. Ainda que
alguns deles apresentem erros e discrepâ ncias, por serem escritos com
uma mentalidade indı́gena, que procuraram traçar e corroborar com
um calendá rio espanhol, é isso que os torna autê nticos em seus
conteú dos.
Vá rios anais foram elaborados em Puebla. Eram os registros do povo,
que apontavam para o Evento Guadalupano, como, por exemplo, Los
Anales de Puebla y Tlaxcala , també m conhecido como Anónimo B. Este
é um documento cujo texto é importante para nó s porque diz: “1510
anos de a adaga de pedra. Mais uma vez o Presidente ... veio aqui neste
ano para governar o Mé xico e també m Nossa Preciosa Mã ezinha de
Guadalupe se dignou a aparecer, lá no Mé xico, Ela se dignou a aparecer
ao pequeno Indı́gena Juan Diego ”.295
Outro desses documentos elaborados em Puebla é o Códice Gómez de
Orozco ou o Anales de Cuetlaxcoapan ou Anónimo C, que diz, “1510 Ano
do Punhal de Pedra. Foi quando o presidente voltou a governar o
Mé xico; també m neste ano Nossa Amada Maria de Hualolope se dignou
a aparecer, lá no Mé xico, Ela se dignou a aparecer a um pequeno
indı́gena chamado Juan Diego. ”296
Outro exemplo que també m veio de Puebla é o chamado Anales de
Tlaltelolco y México, que diz: “1530. Neste ano, o presidente [da
segunda audiê ncia] veio recentemente para governar o Mé xico. Neste
mesmo ano veio recentemente o sacerdote bispo governante, seu
reverendo nome é Frei Juan de Zumá rraga, um sacerdote de Sã o
Francisco. Nossa Preciosa Mã ezinha de Guadalupe se dignou a
aparecer. ”297Como se pode ver nestes ú ltimos exemplos, fatos
verdadeiros sã o mencionados com datas confusas: nenhum desses
eventos ocorreu nos anos espanhó is de 1510 ou 1530. O presidente
Ramirez de Fuenleal chegou ao Mé xico em 23 de setembro de 1531.
Zumá rraga chegou, sem ter sido consagrado como bispo, em 9 de
dezembro de 1528 e voltou em outubro de 1534, já consagrado. Alé m
disso, o ú ltimo exemplo falava també m da fundaçã o de Puebla, també m
em 1531. Poré m, sã o os fatos que sã o objetivos.
Outro exemplo de Puebla é o Anales de Puebla y Tlaxcala ou Anales de
los Sabios Tlaxcaltecas ou Anales de la Catedral, que é totalmente
con iá vel em seu gê nero, embora sua cronologia seja apenas dentro da
era cristã . Este có dice se estende até 1739. O texto importante é “O ano
de 1531. Os cristã os izeram Cuelaxcoapan, Cidade dos Anjos [Puebla],
até [fez o nı́vel do solo]. Nesse mesmo ano Nossa Senhora de
Guadalupe do Mé xico dignou-se a aparecer a Juan Diego .... Ano de
1548. Juan Diego, a quem apareceu a preciosa Senhora de Guadalupe do
Mé xico, morreu com dignidade ”.298
Tendo em conta que o original se perdeu e só conhecemos uma có pia, é
oportuno acrescentar as seguintes informaçõ es que Xavier Noguez
indicou:
O texto que Galicia Chimalpopoca copiou vem com desenhos simples
do sol, da lua, uma estrela, dois ossos cruzados e dois indı́genas
olhando para o cé u na primeira parte. Alé m disso, havia uma pequena
explicaçã o que dizia: “Ixtlamatque tlaxcalteca” (o sá bio
Tlaxcaltecas). Alé m disso, no inı́cio do texto, antes de 1519, uma breve
descriçã o da Imagem de Guadalupe é incluı́da. A altura, o nú mero de
estrelas no manto e o esplendor em torno do corpo dela foram
mencionados ali: “Motecuzoma sendo imperador, chegou Dom
Fernando Corté s. Pouco depois de ter reinado no Mé xico, Cuitlahuac
morreu. A fé cristã foi recebida durante a é poca ou reinado do rei
Cuauhtemotzin. A altura de Nossa Venerada Mã e de Guadalupe do
Mé xico mede seis quartos e meio. Está enfeitada com 46 estrelas e
rodeada de 50 raios '... Devido à perda do manuscrito original nã o
podemos saber se os desenhos mencionados anteriormente
complementaram alguma das informaçõ es contidas nos Anais, ou se
Galicia Chimalpopoca os mencionou no inı́cio , arbitrariamente. A
inclusã o da breve descriçã o da Imagem de Guadalupe é
particularmente estranha em uma seçã o que trata dos anos anteriores
à conquista espanhola. Talvez no original as informaçõ es estivessem
conectadas de alguma forma à s informaçõ es de 1531 ou algum ano
posterior.299
Outro documento importante deste tipo é o Analejo de
Bartolache ou Manuscrito de la Universidad, no qual se dá a data, como
no documento anterior, nã o só da Apariçã o da Virgem de Guadalupe,
mas també m da morte de Juan Diego. O texto diz: “Ano Cana 1531. Os
castelhanos estabeleceram (fundaram) Cuetlaxocoapan, Cidade dos
Anjos, e a preciosa Senhora de Guadalupe do Mé xico dignou-se a
aparecer a Juan Diego onde a chamam [a cidade] Tepeyac .... Ano
Tecpatl , 1548. Juan Diego, a quem se dignou comparecer a amada
Senhora de Guadalupe do Mé xico, morreu com dignidade. Ele acenou
na colina branca. ”300
Por meio dos chamados Cantares, os indı́genas també m mantinham um
registro de acontecimentos importantes, aqueles que marcaram sua
histó ria. Este mesmo mé todo foi usado para manter viva a experiê ncia
do Evento Guadalupan. P. Luis Becerra Tanco a irmou que desde antes
de 1629 ouvia estes Cantares:
No que diz respeito ao segundo mé todo que os nativos tinham de
modo que nã o iria esquecer os eventos memorá veis, e que era pelo uso
de sua Cantares estado, I e certi icar de ter ouvido alguns antigos
Indı́gena nas mitotes e saraos , que os nativos usados para antes do
dilú vio nesta cidade, quando a festa de Nossa Senhora de Guadalupe
era celebrada no seu santo templo. Este mitote ocorreu na praça no
lado oeste, fora do templo; dançando em cı́rculo, e no centro do cı́rculo
estavam dois velhos, de pé e cantando a cançã o que se referia à s
apariçõ es milagrosas desta bendita Imagem, que estavam
representadas no manto que servia de capa a Juan Diego.301
Alé m disso, esses Cantares que narravam a histó ria de Guadalupe foram
aprovados implicitamente pelos trê s primeiros conselhos mexicanos,
nos anos 1555, 1565 e 1585. No primeiro, como vimos no ano 1555, o
capı́tulo 72 a irmava: “Os indı́genas sã o nã o cantar Cantares de seus
rituais e de sua velha histó ria sem que esses Cantares sejam primeiro
examinados por religiosos, ou pessoas que entendam muito bem a
lı́ngua, e que os ministros do Evangelho cuidem para que nã o cantem
coisas profanas nesses Cantares ”. No segundo, do ano de 1565, os
padres do concı́lio ordenaram que “Os iscais que visitam igrejas e
lugares piedosos devem ver e examinar as histó rias e imagens pintadas
ali muito bem, e as que considerem apó crifas, má s ou indecentemente
pintadas eles devem ter sido removidos desses lugares, etc. ” Eles
també m apontam que “Os indı́genas nã o devem cantar Cantares sem
que a histó ria seja revisada e sua ortodoxia veri icada”. Finalmente, no
terceiro conselho, no ano de 1585, baniram completamente os câ nticos
indı́genas de sua histó ria pagã e só permitiram aqueles aprovados pelos
paroquianos e vigá rios; da mesma forma, as imagens que continham
histó rias falsas tiveram que ser removidas.
Alé m disso, no Primeiro Conselho Provincial do Mé xico em 1555, a
respeito do pró prio templo, o capı́tulo 35 diz que
ningué m poderia construir uma igreja, mosteiro ou Hermitage sem uma
licença, nem pode haver eremitas na terra. Mesmo que seja proibido
pela disposiçã o da Lei, que qualquer pessoa construa uma igreja,
mosteiro ou l'Hermitage sem a licença e autoridade do Prelado
Ordiná rio, alguns ousam fazê -lo sem licença e autoridade e porque nã o
é adequado para o serviço de Deus , nem para a decê ncia, reverê ncia ou
enfeite que as igrejas devem ter, nem para o bem da Repú blica
Indı́gena; no SAC [Vossa Majestade], proibimos e proibimos, sob pena
de excomunhã o, que qualquer pessoa de nossa Arquidiocese e
Provı́ncia construa uma igreja, mosteiro ou capela sem esta licença e
autoridade, e ordenamos, sob esta pena, que nenhum clero ou
religiosos celebram missa neles. [Pedimos que] nossos inspetores
mandem demolir as igrejas assim construı́das sem licença, mas as de
bom edifı́cio e decê ncia, també m construı́das em tã o bom lugar, nã o
devem ser demolidas porque na construçã o desses mosteiros e igrejas
uma deve ter respeito pelo bem e pelos bons há bitos espirituais dos
nativos, mas nã o pela felicidade e consolo dos clé rigos e seus habitantes
religiosos. Ordeno que os mosteiros e igrejas sejam construı́dos
primeiro com licença da Diocese, para bom uso e bom ensino dos ı́ndios
nativos, que poderiam participar do catecismo e dos sacramentos, mas
para um novo lugar, ou para a felicidade dos religiosos ou ministros , de
acordo com o que Vossa Majestade ordenou nos seus Documentos
Reais, e ao fazê -lo, nã o pretendemos eliminar nenhum dos privilé gios
atribuı́dos aos religiosos.
Alé m disso, porque as muitas igrejas que sã o construı́das em nosso
Arcebispado e Provı́ncia causam grande desordem, e muitas delas nã o
sã o su icientemente decentes ou situadas em lugares convenientes, e é
muito difı́cil para as pessoas sustentá -las, declaramos e ordenamos que
com diligê ncia e aprovaçã o do Bispo, você determinará quais sã o
necessá rias, guardando apenas aquelas e nenhuma outra; o resto deve
ser demolido. Os que permanecerem devem ter a decê ncia e
ornamentaçã o necessá rias, neles nã o deve haver ı́ndio sob o pretexto
de cantores, nem guardas mais do que o necessá rio, e devem ser
poucos, de boa reputaçã o, bem educados no que diz respeito aos
assuntos de nossa Santa Fé . , tenham bons há bitos, sejam casados e nã o
solteiros, e sejam professores da doutrina cristã para aqueles que nã o a
conhecem. As igrejas que devem ser demolidas devem ser feitas por
ordem do Bispo dessas dioceses.
Da mesma forma, para evitar muitas di iculdades e novos modismos
introduzidos por indı́genas ou espanhó is, para que esta nova igreja nã o
cause mal-entendidos, a irmamos e ordenamos que nesta terra, a
partir de agora, nã o haja mais eremitas, nem pessoas com uma há bito
diferente, vivendo na solidã o fora de seu mosteiro religioso
aprovado.302
Percebe-se claramente que a devoçã o à Virgem de Guadalupe era uma
exceçã o à regra e que o desejo de Juan Diego de construir uma pequena
cabana ao lado de l'Hermitage e ali morar, transmitindo a todos a
mensagem de sua menininha do cé u, continuou com a plena aprovaçã o
da hierarquia eclesiá stica.
Como foi assinalado, em redor desta Ermida, que do ponto de vista
orográ ico se situava num lugar totalmente impró prio, mas era
precisamente aı́ que a Virgem de Guadalupe queria o seu templo, uma
forte forma de vida espiritual desenvolvida com força e crescimento,
como vimos, com conversõ es surpreendentes, peregrinaçõ es
constantes, oraçõ es, juramentos, doaçõ es e a elaboraçã o de có dices e
anais que A registraram na histó ria. Alé m disso, por parte dos
espanhó is també m houve grandes manifestaçõ es de devoçã o. Mais
tarde, nasceram os crioulos e os mestiços amando-A, com o apoio
indiscutı́vel de todos os bispos do Mé xico. Da mesma forma, em torno
das bolsas de estudo de Hermitage, dormitó rios jesuı́tas e, mais tarde,
lares para freiras, orfanatos e lugares piedosos foram
fundados.303 Guadalupe també m seria um lugar signi icativo e
importante pelo qual os novos vice-reis entrariam na capital da Nova
Espanha.
Um aspecto muito importante no que diz respeito ao seu
desenvolvimento é que o Santuá rio sempre se manteve administrativa
e pastoralmente unido à Igreja diocesana do Mé xico. Ainda que em 1º
de maio de 1543 o rei tenha permitido a construçã o de uma casa para
os franciscanos em Tlaltelolco, ele concordou que a igreja continuasse
sendo vinculada ao bispo, e como Tepeyac icava no territó rio da igreja
de Tlaltelolco, portanto, a Capela sempre permaneceu sob a
administraçã o da diocese. O rei disse: “A Igreja de Santiago nesta
cidade continuará sujeita ao Prelado, como está agora, sem que
nenhum direito seja obtido para os religiosos daquela Igreja por causa
daquele edifı́cio”.304
Desde o primeiro amanhecer, este evento foi continuamente
transmitido por vá rios canais ou fontes; por exemplo, é o que Becerra
Tanco testemunhou em 1666, quando disse:
Gaspar de Prabes, sacerdote diocesano que pertencia ao povoado de
San Mateo Texcaliacac, e posteriormente ao de Tenango de Taxco,
muito conhecido na Cidade do Mé xico por sua prudê ncia e
circunspecçã o e honrosas obrigaçõ es, neto de um dos primeiros
conquistadores deste reino, autoridade em Lı́ngua Mexicana [Ná huatl],
a irmou ter ouvido a narraçã o da Virgem de Guadalupe de Dom Juan
[Antonio] Valeriano, um ı́ndio muito destacado da linhagem real dos
monarcas deste reino, que foi um dos destacados nativos criados em
Santa Cruz de Santiago, um convento em Tlaltelolco, e que se
graduaram luentemente em latim. Valeriano entendeu e falava bem a
nossa lı́ngua castelhana e foi um grande retó rico na sua pró pria
lı́ngua. Por seu grande talento, ele foi mantido em seu cargo de
governador dos nativos da Cidade do Mé xico pelo governo secular
desta Nova Espanha por 40 anos, durante os quais ele sempre
respondeu honestamente. O padre Frei Juan de Torquemada dá
testemunho disso em seu livro Monarquía Indiana 2, a respeito de seu
professor de lı́ngua mexicana [Valeriano]. Eu [Becerra] entã o digo, ouvi
o que já referi a Gaspar de Prabes, presbı́tero, com quem mantive uma
comunicaçã o ı́ntima desde a infâ ncia porque era meu tio por parte de
mã e, ele morreu em 1628 aos 80 anos. veja, [Prabes] nasceu antes do
ano 1550, 20 anos apó s a Apariçã o e 30 apó s a conquista da Cidade do
Mé xico, e dois anos apó s a morte de Dom Frei Juan de Zumá rraga e do
Indı́gena Juan Diego, ambos falecidos em 1548. Portanto, deve ter
ouvido o que a irmava daqueles que os conheciam e també m dos
primeiros religiosos que ensinavam aos indı́genas a fé em Cristo Nosso
Senhor, e de outras pessoas de con iança de sua famı́lia que haviam
sido testemunhas oculares do milagre.305
O depoimento anterior converge com os documentos que já
mencionamos, apontando a data da morte do arcebispo do Mé xico, Frei
Juan de Zumá rraga, falecido em 3 de junho de 1548, aos 72 anos, e que
coincide com a de Juan. A morte de Diego no mesmo ano, como
indicam as fontes histó ricas.306 Enquanto isso, em Cuauhtitlá n, cidade
natal de Juan Diego, assim como em Tulpetlac, lugar onde ele morava
na é poca das Apariçõ es, as pessoas começaram a construir Ermidas ao
lado dos edifı́cios que sabiam pertencer a Juan Diego,307e uma devoçã o
especial começou por esse indı́gena que tinha fama de santo. As
oferendas, os implementos e até os tú mulos dentro dessas
l'Hermitages foram colocados de forma que icassem o mais pró ximo
possı́vel das paredes adjacentes à s casas de Juan
Diego. Posteriormente, foram erguidas igrejas sobre as ruı́nas do que
haviam sido as casas de Juan Diego, bem como sobre as ruı́nas
daquelas primeiras l'Hermitages, lugares de culto que expressavam a
tradiçã o ininterrupta que o povo tanto estimava.308
Por volta de meados do sé culo XVI foi quando o indı́gena Antonio
Valeriano,309o maior estudioso do Colé gio de Santa Cruz de Tlaltelolco,
escreveu seu famoso Nican Mopohua310ou Huey Tlamahuizoltica , “O
Grande Acontecimento”, no qual sã o narradas as apariçõ es de Nossa
Senhora de Guadalupe a Juan Diego. Valeriano o escreveu no melhor
estilo Ná huatl e no mais re inado. Muito provavelmente Valeriano
reuniu o que deve ter ouvido seu protagonista, Juan Diego, narrar
vá rias vezes durante sua juventude, deixando-nos nã o apenas aquele
relato, mas també m um relato do estilo de vida do mundo indı́gena. E
claro que muitos escritores baseiam suas obras nesta escrita, que é um
tesouro da literatura ná huatl e um exemplo perfeito do estilo da
é poca. Pela capacidade de memorizaçã o indı́gena, é certo que Juan
Diego recordou perfeitamente todas as palavras que transmitiu a
milhares de ouvintes durante os anos que viveu apó s as apariçõ es e
cuidou de l'Hermitage; entre esses ouvintes estava, sem dú vida,
Valeriano. O cuidado com a precisã o cronoló gica e topoló gica é tı́pico
de uma verdadeira narraçã o histó rica dentro do estilo
indı́gena; podemos a irmar isso pela semelhança de muitas outras
fontes histó ricas e documentais, como a Relación
Primitiva, o Testamento de Juana Martín , o Códice 1548, có dices
e anais indı́genas , mençã o de Juan Suá rez de Peralta no Nican
Motecpana, a Virgem de Guadalupe e a tilma pintada de Baltasar de
Echave, o mural de Ozumba, o diá rio da freira Clara Ana de Cristo, a
imagem impressa por Diego Garrido, as Informaciones Jurídicas de
1666, a tradiçã o totonaca de Sã o Miguel Zozocolco, Veracruz e outros.
Uma manifestaçã o particular da devoçã o popular das pessoas comuns
é deixar doaçõ es, esmolas e legados em documentos o iciais como em
testamentos, que sã o notarizados. Nos arquivos mexicanos,
especialmente no Arquivo da Bası́lica de Guadalupe, se preserva
abundante documentaçã o, desde o sé culo XVI, dessas doaçõ es,
testamentos e outros atos que revelam uma crescente devoçã o à
Virgem de Guadalupe que apareceu ao indı́gena Juan. Diego em
Tepeyac.311
Por exemplo, existe o Testamento de la Hija de Juan García Martín,
já mencionado, també m conhecido como Testamento de Juana
Martín ou Testamento de Gregorio Morales , que foi escrito no sá bado,
11 de março de 1559, tendo como autor o senhor Morales. Nã o sendo
conhecido o nome da mulher deste documento, recebeu vá rios nomes,
tirando alguns nomes do texto, pelo que parece que este testamento é
de Juana Martin, ou Gregoria Marı́a, ou Gregoria Morales. Lendo o texto,
o nome mais apropriado312é o do Testamento de la Hija de Juan García
Martín. Uma parte essencial do texto diz:
Todos devem saber e compreender o que este documento conté m e
será guardado com cuidado para que ningué m tome meu espó lio contra
minha vontade, e saberã o como tenho vivido nesta cidade de
Cuauhtitlá n e seu bairro de San José Millá n, onde o jovem Juan Diego foi
criado, depois foi se casar em Santa Cruz el Alto [Tlacpac], perto de San
Pedro, com a jovem Dona Malintzin, que logo morreu, deixando Juan
Diego sozinho. Poucos dias depois, por meio desse jovem, algo
prodigioso aconteceu lá em Tepeyacac. Para ele, a Bela Senhora, Nossa
Santa Maria [ initech campaomo nexiti in tlazocihuapili Santa María ] se
revelou ou apareceu. A imagem dela que vimos lá em Guadalupe, que
pertence a nó s, os desta cidade de Cuauhtitlá n. Agora, com toda a
minha alma, com todo o meu coraçã o e com toda a minha vontade deixo
para a mesma Senhora todo o arvoredo do Pirú que vai até à á rvore
junto ao conjunto de casas. Deixo tudo e entrego à Virgem de
Tepeyacac. Advirto també m que a casa ou cabana em que me encontro
[ Ca xacal izca ] deixo a todos os meus ilhos, e netos se os vierem a ter,
para que tenham alguma coisa resolvida e sirvam à bela
Senhora; e ordeno que nã o discutam nem briguem pelo pedaço desta
terra [ amo quimo quimilizque ini tlatzin ] Entrego -o a eles para que se
dediquem com alegria ao seu serviço. Assim, faça-o, guarde-o e faça
com que as autoridades de Cuauhtitlá n e de todas as pessoas do bairro
o respeitem. Agora, seja quem for, senhor ou senhor, nativo de
Cuauhtitlá n ou nã o, deve assumir imediatamente esta doaçã o para que
a defenda como algo que pertence à bela Senhora, assim como Ela o
defenderá depois de sua morte.
Pela documentaçã o histó rica sabemos que nã o só a Ermida foi
ampliada, mas també m o seu entorno foi consertado para que
houvesse mais espaço para o grande nú mero de peregrinos que foram
atraı́dos pelo evento de Guadalupan.313 e as notı́cias dos milagres.
Como havı́amos assinalado, Juan Suá rez de Peralta també m nos oferece
informaçõ es importantes, nã o só sobre a chegada do vice-rei Martı́n
Enrı́quez de Almanza, mas també m sobre a grande devoçã o, de que
“todo o povo iria”. També m falou das notı́cias dos milagres que Nossa
Senhora de Guadalupe tinha realizado e do conhecimento da narraçã o
das apariçõ es: “Ela apareceu entre alguns penhascos”. O vice-rei
passou pelo Santuá rio de Guadalupe em 5 de novembro de 1568.314“A
todas as cidades a que chegou - narrou Suá rez de Peralta - deram
muitas recepçõ es, como é costume de todos os vice-reis que aqui
vê m. Assim ele chegou a Nossa Senhora de Guadalupe, que é uma
imagem mais venerada sobre duas lé guas do Mé xico que tinha feito
muitos milagres (Ela apareceu entre alguns penhascos e todo o povo
vai a esta devoçã o). De lá ele entrou na Cidade do Mé xico, e naquele dia
uma grande festa foi dada para ele, com criados vestidos de seda, uma
escaramuça de muitos a cavalo, muito custosa ”.315
Vá rios artistas de todos os tipos expressaram sua devoçã o por meio de
sua arte, e é nessas manifestaçõ es artı́sticas que expuseram a histó ria
do evento de Guadalupan. Assim surgiram inú meras obras de arte da
Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, e em algumas delas esteve
representado o momento em que a Virgem se encontrou com Juan
Diego. E um fato que alguns artistas pintaram, desenharam ou
renderizaram em escultura a imagem de Juan Diego com um
halo,316 manifestando obviamente a santidade deste humilde ı́ndio por
isso, pois sua fama entre o povo era constante.
Se a Igreja tivesse visto que havia algum detalhe incorreto na Imagem
de Nossa Senhora de Guadalupe, ou que era incompatı́vel com sua
ortodoxia rı́gida, a Imagem teria sido destruı́da, devido ao constante
temor dos primeiros missioná rios de que os ı́ndios voltassem. a sua
idolatria, conforme expressa em 1585 pelo Terceiro Conselho
Provincial do Mé xico, em seu Livro Primero , Título I [ Livro 1, Título 1 ],
que diz: “Para que os ı́ndios perseverem na fé cató lica que receberam
por meio de um Para benefı́cio ú nico de Deus, nã o deve haver nenhum
vestı́gio de sua antiga impiedade impressa neles, da qual os indı́genas
poderiam tirar proveito e, assim, enganados pelas manias do diabo,
voltar novamente como cã es ao vô mito da idolatria. ”317
Os espanhó is organizaram continuamente expediçõ es ao norte do Novo
territó rio espanhol, a im de colonizar cidades; em algumas regiõ es,
como o que é hoje o estado da Geó rgia, nos Estados Unidos da Amé rica,
objetos religiosos da ú ltima parte do sé culo XVI e do inı́cio do sé culo
XVII foram encontrados entre os restos de antigas aldeias. Um desses
objetos tem nos chamado fortemente a atençã o, pois é um medalhã o,
seguramente feito no Mé xico, onde a Virgem de Guadalupe está
representada de um lado, e do outro lado Juan Diego, ajoelhado em
veneraçã o, mas tem um caracterı́stica muito particular, que é uma
auré ola sobre a cabeça, como sinal de santidade.
Por outro lado, sabe-se que em l'Hermitage as pessoas continuavam
dando doaçõ es constantemente, e que eram tantas as esmolas que
algué m tentou roubá -las, como relatou Fernando de Alvarez,
responsá vel por l'Hermitage.318As peregrinaçõ es també m aconteciam
constantemente, como a organizada pelos padres jesuı́tas em 1599,
pedindo chuva. Sobre isso, frei Francisco Javier Alegre fez um
comentá rio interessante: “Nunca houve aquele cheiro suave de piedade
como naquela [peregrinaçã o] que izeram neste mesmo ano ao famoso
Santuá rio de Nossa Senhora de Guadalupe”.319Certas cidades tinham o
propó sito de manter o Evento Guadalupan sempre vivo, entã o eles
decidiram pintar as paredes de suas igrejas, seus á trios ou suas
entradas; exemplo disso é a paró quia de San Francisco, em Ozumba,
Chimalhuacan, no estado do Mé xico, onde os eventos mais importantes
da Primeira Evangelizaçã o foram pintados na parte frontal do á trio,
aproximadamente em 1613. Entre os eventos mais importantes sã o a
chegada dos primeiros missioná rios franciscanos, o martı́rio das
crianças em Tlaxcala e as apariçõ es de Nossa Senhora de
Guadalupe. Na parte do afresco que representa Frei Juan de Zumá rraga
de joelhos, venerando a Imagem Sagrada no tilma de Juan Diego , é
justamente a imagem de Juan Diego que está muito deteriorada,
embora sua imagem ainda possa ser apreciada. No â ngulo reto do
afresco, todo o evento é complementado com a representaçã o das
cenas das Apariçõ es da Virgem de Guadalupe em Tepeyac.
Em muito pouco tempo, a devoçã o à Virgem de Guadalupe de Tepeyac
estava alcançando dimensõ es impensá veis, como nos arredores da
Cidade do Mé xico, Estado do Mé xico, Colima e Campeche; Guatemala; o
estado da Geó rgia; e a Ilha Parris nos Estados Unidos da Amé rica do
Norte, entre outros. O luxo de todos os tipos de pessoas em
peregrinaçõ es ao Santuá rio era tã o grande que o cô nego metropolitano
pensou seriamente na construçã o de um Santuá rio maior e decidiu que
a primeira pedra seria lançada em 10 de setembro de 1600.320
També m foi estimado que os arredores de Guadalupe necessitavam de
reparos e ampliaçõ es com urgê ncia, portanto, em 2 de março de 1600,
a ponte foi reparada.321Em 1604, Frei Juan de Torquemada oferece
informaçõ es muito interessantes sobre as reparaçõ es ocorridas na
Calzada de Guadalupe (Estrada de Guadalupe), da qual foi encarregado:
“Iniciou-se esta que se chama Guadalupe. . . da qual eu estaria
encarregado .... A construçã o desta 'Calzada de Nuestra Señ ora' durou
mais de cinco meses, onde diariamente havia 1.500 a 2.000 homens
que trabalharam arduamente, e é incrı́vel ver o que eles izeram em
poucos meses. ”322 Os melhores administradores e capatazes foram
chamados para l'Hermitage, como Diego Ló pez de Montoya e Alonso
Ló pez de Cá rdenas.323
Certamente, a construçã o de um novo Santuá rio implicou um grande
custo, e em 1602, nada menos que o Rei da Espanha, Filipe III, doou a
quantia de 20.000 ducados para esta Igreja de Guadalupe do
Mé xico. Alé m disso, foram organizadas grandes campanhas para
arrecadar dinheiro su iciente, algumas muito inspiradas e criativas,
para poder enfrentar o projeto; uma delas era fazer uma gravura
artı́stica na qual estava representada a Virgem de Guadalupe, que seria
vendida para arrecadar fundos. Esta gravura foi feita por Samuel
Stradanus, cuja obra-prima é um testemunho de devoçã o. A gravura
conté m a narraçã o dos milagres que favoreceram os espanhó is,
milagres que coincidem com os narrados por P. Miguel Sá nchez em seu
livro Imagen de la Virgen María, escrito em 1648, e que sã o os mesmos
narrados em Nican Motecpana , escrito por volta de 1590, omitindo
apenas os aspectos indı́genas que especi icam a vida de Juan Diego. A
gravura é mais um testemunho entre os muitos em relaçã o à devoçã o à
Imagem de Guadalupe, aparecendo nos tilmas de Juan Diego , que ainda
estã o preservados.
Finalmente, em 1609, foi colocada a primeira pedra para a nova Igreja
do Santuá rio de Guadalupe, e duas placas comemorativas de chumbo
foram colocadas em uma caixa de madeira. Em um dizia em latim:
“Beatisimae Virginae Mariae, Reginae Caelorum et Mexicanae
Provinciae singularissimae Patronae sacellum, interviente
elemosynarum copiosissima ... tione ... Anno Domini 1609.”324E
interessante que essas placas foram deterioradas pela umidade e
depó sitos de salitre daquele local, e o ayate de Juan
Diego onde está impressa a Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe
está preservado até os dias de hoje. Estas placas mostram-nos que
Maria de Guadalupe foi reconhecida como Padroeira e que pela grande
devoçã o a Ela as esmolas foram muito generosas, vindas de todos os
tipos de pessoas, tanto do rei como das pessoas humildes e pobres.
Nessa mesma é poca, como també m já assinalamos, 1619 foi quando
Ana de Cristo, uma freira Clara, acompanhou a Madre Superiora
Jeró nima de la Asunció n como sua secretá ria. Ela estava a caminho das
Filipinas como abadessa e fundadora do novo mosteiro de sua ordem
nessas ilhas. As freiras chegaram ao Mé xico, ú nica rota na é poca para
chegar à s ilhas Filipinas, no inal de setembro de 1620, e
permaneceram até 1º de abril de 1621. Em viagem à Cidade do Mé xico
as freiras passaram pelo Santuá rio de Guadalupe . Ana de Cristo narrou
os acontecimentos mais importantes daquela viagem em certo tipo de
diá rio. Nessa narraçã o, ela disse: “O ú ltimo dia de viagem na Nova
Espanha foi a uma l'Hermitage que eles chamam de Nossa Senhora de
Guadalupe. Nó s está vamos lá uma noite. E um paraı́so e há uma grande
devoçã o à Imagem. Ela foi vista jogando terra nos olhos do inimigo
quando o Mé xico foi espancado, Ela apareceu para um indı́gena no
lugar onde Ela está , que ica entre algumas pedras, e Ela disse a ele para
fazer uma casa no local onde Ela estava, em daquele lugar corre um
pouco de á gua clara por ali e vimos, e fervia como se fosse uma grande
chama, deram-nos um copinho dela e era salgado, mas algumas
mulheres piedosas que cuidam dos Hermitage nos contou que a
pró pria Virgem pediu ao ı́ndio seu manto e Ela o mediu da cabeça aos
pé s ”.325O depoimento é puramente incidental, e justamente por isso é
mais valioso, porque narra os acontecimentos da viagem e passar por
Guadalupe é apenas mais um deles. Percebe-se que no pouco tempo
que estiveram ali, só ouviram a versã o em espanhol dos
acontecimentos. També m é perceptı́vel que ela icou mais
impressionada com o sal da á gua do que com a devoçã o em si, e ela faz
uma mençã o muito curiosa à marca: “A pró pria Virgem pediu ao
Indı́gena seu manto e o mediu da cabeça aos pé s”. E ó bvio que ela se
refere a Juan Diego, que na substâ ncia e no essencial da histó ria, a
narraçã o das apariçõ es no penhasco, sua mensagem de querer um
templo naquele lugar, e a apariçã o milagrosa na tilma de Juan
Diego , estã o presentes .
Alguns dos autores histó ricos mais destacados foram Carlos de
Sigü enza y Gó ngora, que nos informa sobre o nome indı́gena de Juan
Diego, que é Cuauhtlatoatzin; Mateo de la Cruz, cuja obra escrita em
1660 foi julgada por P. Francisco de Florencia como “a narraçã o mais
bem editada que saiu”; P. Baltazar Gonzá lez, censor que autorizou a
traduçã o do Nican Mopohua, de Luis Lasso de la Vega, em nome da
Provı́ncia Jesuı́ta; P. Francisco de Florencia com suas obras, Estrella del
Norte e Zodiaco Guadalupano, onde tenta mostrar a histó ria do
Evento. O orador Luis Becerra Tanco reuniu todos esses escritos em
uma coleçã o que foi fonte de literatura posterior sobre Guadalupe.
E claro que nã o faltaram poetas para manifestar seu amor à Virgem de
Guadalupe e sua veneraçã o por Juan Diego; um exemplo disso é o
poema do capitã o Luis Angel de Betancourt. Ele veio para o Mé xico em
1608 e antes de 1621 escreveu este poema em oitavas
hendecasilá bicas em homenagem à Virgem dos Remé dios,326que
conté m um verso com uma referê ncia mais clara à Virgem de
Guadalupe, “pintada pelo pró prio Deus”, “Grande Apeles”, “Verdadero
Praxiteles”, e em que Juan Diego é representado como o mediador e
mensageiro de Guadalupe. A importâ ncia desta alusã o deriva do fato de
constituir um testemunho anterior ao livro de P. Miguel Sá nchez, que
foi escrito sobre as Apariçõ es em 1648, razã o pela qual ele nã o poderia
ter in luenciado Betancourt, nem Betancourt també m poderia ter
in luenciado Sá nchez porque seu poema permaneceu iné dito.
O poeta canta que um pá ssaro diz a Juan Diego:
Veja o sangue dos sacrifı́cios;
que neste idolismo está quente;
virá para puri icar o cristianismo
de seus vı́cios de meu oriente rosa;

e para que tenhas começos de tua gló ria


desça diligentemente a Tepeaquilla,
e entre pedras ladrilhadas e redondas
você verá minha imagem perto das ondulaçõ es.

Nã o como aqui [em Remé dios] de esculturas e pincé is


que o grande Apeles empilha sobre tela branca
porque Deus, verdadeiro Praxı́teles,
ali me defenderá de Guadalupe.

Você s me farã o um templo ali, quando os ié is


levantarem a cruz, e ocuparem este hemisfé rio,
apó s a conquista desta terra,
porque nã o há nada de bom na guerra.

Ela disse, e a imperiosa garça


e o cacique devoto desceram para o vale;
ele encontrou a preciosa tela da rosa
e foi, como o primeiro, mantê -la.

Até a majestosa cidade


vestida pela Espanha ao nosso tamanho,
e para Ela de Guadalupe, lor bendita,
Dom Juan forjou de pinheiros uma Ermida.327
Como vemos, a alusã o é inequivocamente clara no que diz respeito à
classi icaçã o da Imagem como pintura de Deus. A maneira de descrever
Juan Diego é como protagonista deste grande evento.
Vemos assim que o acontecimento de Guadalupan foi uma inspiraçã o
desde o sé culo XVI até agora, e se é verdade que a Virgem de Guadalupe
constitui a sua personagem principal, també m manifesta claramente a
veneraçã o da humilde mensageira da Senhora do Cé u. , Juan
Diego. Como já dissemos, Juan Diego é representado em vá rias pinturas,
esculturas e monumentos como um mensageiro, como um pilar que
sustenta o pú lpito da Igreja de Pocito (a nascente de á gua de
Guadalupe); como uma coluna sustentando todo o retá bulo de
Guadalupe na Igreja de San Lorenzo Rı́otenco; como coluna que
sustenta um cá lice para a celebraçã o eucarı́stica. Ele aparece com halo
nã o só num desenho do sé culo XVI, mas també m num medalhã o do
inı́cio do sé culo XVII e na poesia, como a que vimos por Luis Angel
Betancourt. Como podemos ver, sã o vá rias as obras artı́sticas nas quais
també m está representada a igura de Juan Diego, o humilde e
obediente mensageiro da Virgem de Guadalupe.
Nestes poucos detalhes histó ricos que traçamos, ica claro que o Evento
Guadalupan deixou sua marca, e continua deixando sua marca, na
histó ria e identidade de toda uma naçã o, mas ao mesmo tempo é um
Evento que se destina a o mundo inteiro. Por intermé dio de Juan Diego,
temos a mensagem central da Virgem de Guadalupe, com a qual Ela se
manifesta como a Mã e de Deus que pede para ser nossa Mã e e mostrar
a todos nó s o mesmo Amor, de que a humanidade tanto necessita.

CAPÍTULO OITO

O evento Guadalupan se espalha rapidamente


Aqui sã o mostradas vá rias fontes documentais que falam diretamente
sobre a devoçã o a Nossa Senhora de Guadalupe e que complementam a
histó ria do grande acontecimento. Um dos principais protagonistas
desse Evento foi Juan Diego, que, com a sua vida santa, marcou a
histó ria.
Essa devoçã o alcançou a longı́nqua terra de Colima, no Mé xico, onde,
desde cedo, foi elaborado um interessante documento: o Testemunho
de Bartolomé Ló pez.1t foi falado no vale de Colima, em 15 de novembro
de 1537, perante o cartó rio Juan de la Torre. Bartolomé Ló pez dita seus
legados a Guadalupe nas clá usulas 23 e 24: “Ordeno a Nossa Senhora de
Guadalupe, pela minha alma, 100 missas, e ordeno que sejam pagas
com meus bens”. Depois, “Ordeno que rezem 100 missas pela minha
alma na Casa de Nossa Senhora de Guadalupe e que sejam pagas com
os meus bens”. O historiador Jesus Garcı́a Gutié rrez328assinala a
diferença nas clá usulas, visto que uma diz “Nossa Senhora de
Guadalupe” em geral, e a outra, “na Casa de Nossa Senhora de
Guadalupe”, pelo que é ló gico pensar que se referia a duas ordens
diferentes; nã o faria sentido dividir o legado se nã o fosse assim. E uma
referê ncia muito antiga, apenas seis anos depois das Apariçõ es, e em
um lugar longı́nquo, recentemente fundado pelo povo mexicano. O
testador nã o é um indı́gena, mas um espanhol que evidentemente foi
in luenciado pelo evento Guadalupan.
Francisco Verdugo Quetzalmamalintzin, senhor de Teotihuacan,
també m fez seu testamento, em 2 de março de 1563, onde indicou: “Em
primeiro lugar, ordeno que se Deus me tirar desta vida, quatro pesos
sejam levados entã o a Nossa Senhora de Guadalupe como esmolas,
para que o padre que resida naquela Igreja as use para rezar missas
para cumprimentos ”.329
També m Esteban ou Sabastiá n Tomelı́n, nascido em Villa de
Guadacanal, ilho legı́timo de Sabastiá n Garcı́a e Isabel Garcı́a e
residente na cidade de Puebla de los Angeles, doente e sentindo que
seu im se aproximava, ordenou seu testamento em 4 de abril de
1572,330deixando legados a favor de Nossa Senhora de Guadalupe. Ele
menciona explicitamente o da Cidade do Mé xico: “Envio a Nossa
Senhora de Guadalupe, na Cidade do Mé xico, dez pesos em ouro, que
devem ser pagos com minha propriedade”. Este testamento está
catalogado e publicado por Lorenzo Boturini, que nos diz no terceiro
volume de seu Catálogo, “Alé m disso, em seu testamento, Esteban
Tomilı́n (pai da venerada freira Marı́a de Jesú s, do convento da Limpia
Concepción de La Puebla, cuja canonizaçã o está agora a ser processada,
deixou um legado de alguns pesos à Beata Imagem de Guadalupe em
1575. Isto serve como prova da notoriedade das Apariçõ es e da
sucessiva veneraçã o que foi dada à Santı́ssima Senhora. ”
També m em Villa de Colima, em 30 de abril de 1577, Elvira Ramı́rez
ditou seu testamento perante o notá rio Francisco Ló pez, e nele
menciona inequivocamente Nossa Senhora de Guadalupe no
Mé xico. Este documento é interessante precisamente porque, como
no Testamento de Bartolomé Ló pez , a devoçã o a Nossa Senhora de
Guadalupe é perceptı́vel em terras longı́nquas e apenas alguns anos
depois das Apariçõ es. O texto principal é que “Ordeno que na cidade do
Mé xico, em Nossa Senhora de Guadalupe, sejam celebradas trê s Missas,
uma na Encarnaçã o, outra na Conceiçã o de Nossa Senhora, e outra ao
Espı́rito Santo, e que as esmolas habituais sejam pagas ”. E em outro
lugar diz: “Ordeno que sejam rezadas na mesma Casa de Nossa Senhora
de Guadalupe, cinco Missas: uma ao Beato [Santo] Blas e Santo Antô nio,
e trê s Missas pelas almas do Purgató rio, e que eles ser pago de minha
propriedade. "331 També m é feita referê ncia explı́cita à “casa” de
Guadalupe na Cidade do Mé xico.
Alonso Herná ndez de Siles ditou seu testamento em Sultepec, Mé xico,
em 9 de abril de 1577. O texto importante em seu legado é “Envio à
Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe que ica em Tepeaquilla, fora do
Mé xico, 20 pesos de tepuzque para o a construçã o está sendo feita e
deve ser pago com minha propriedade. ”332 Os espanhó is chamavam
Tepeyac de “Tepeaquilla”, para nã o confundir com Tepeaca do estado de
Puebla.
Outro testamento foi o de Anna Sá nchez, que ditou seu documento na
Cidade do Mé xico em 17 de fevereiro de 1580, e tem um legado
importante: “Que se rezem quatro missas pela minha alma e pelas dos
meus falecidos, duas em casa e l'Hermitage de Nossa Senhora de
Guadalupe e as outras duas na casa e Ermida de Nossa Senhora dos
Remé dios, e que sejam pagas com a esmola de costume ”.333
Assim como havia essas expressõ es de devoçã o, como testamentos,
doaçõ es e esmolas, també m havia uma boa organizaçã o para ajudar as
meninas ó rfã s que estavam desprotegidas. Está comprovado que, em
tempos remotos, existia uma confraria em l'Hermitage, como consta
do testamento de Alonso Montabte, que foi ditado na Cidade do Mé xico
em 16 de julho de 1564, e cujo texto diz: “Dê a Nossa Senhora de
Guadalupe nesta cidade dois pesos de tepuzque como esmola porque
sou membro da confraria de sua casa ”.334Como podemos ver, ele
declara a devoçã o que tem por Nossa Senhora de Guadalupe, deixando
esmolas para l'Hermitage, mas també m nos diz que é membro da co-
confraria de l'Hermitage, o que signi ica que já existia esta organizaçã o
devocional na importante Santuá rio de Guadalupe. A devoçã o estava se
tornando cada vez mais importante e os grandes e numerosos milagres
veri icados em Tepeyac estavam claramente se estendendo a outros
lugares.
Vá rios documentos testemunham em particular a devoçã o e
con irmaçã o de grandes e maravilhosos milagres que foram veri icados
no Santuá rio de Guadalupe em Tepeyac. Um dos exemplos mais
eminentes foi o do espanhol Bernal Dı́az del Castillo,335soldado e
companheiro de Herná n Corté s. Ele atribui o sucesso dos
conquistadores à “graça e ajuda da Virgem de Guadalupe” e em dois
textos fala do milagre de Tepeyac em seu livro intitulado Historia
Verdadera de la Conquista de la Nueva España, escrito por volta de
1560. O O primeiro texto diz: “Entã o Corté s ordenou a Gonzalo de
Sandoval que deixasse o que estava fazendo em Ixtapalapa e fosse por
terra cercar toda a estrada que vai do Mé xico a uma cidade que
chamaram de Tepeaquilla, que agora chamam de Nossa Senhora de
Guadalupe , onde Ela faz e tem feito muitos milagres ”.336No segundo
texto ele diz: “Sã o muitos hospitais, e eles tê m grandes benefı́cios, e a
casa sagrada de Nossa Senhora de Guadalupe que ica em Tepeaquilla,
onde icava a propriedade de Gonzalo de Sandoval quando batı́amos no
Mé xico. Ela realizou muitos milagres sagrados e o faz todos os
dias. Demos graças a Deus e à sua bendita Mã e, Nossa Senhora, por
isso. Ela nos deu graça e nos ajudou a ganhar esta terra onde há tanto
cristianismo. ”337
Bernal Dı́az del Castillo nã o estava no Mé xico em 1531, e tudo o que ele
diz em referê ncia à Virgem de Guadalupe e dos “santos milagres que Ela
fazia todos os dias” ele sabia porque na Guatemala, onde vivia,
recebiam notı́cias sobre o devoçã o. A grande distâ ncia que existe entre
a Cidade do Mé xico e a Guatemala deve ser destacada ao notar que a
fama dos milagres de Guadalupe ali havia chegado. Alé m disso, dá
algumas informaçõ es concretas sobre a á rea de Tepeyac, ou
Tepeaquilla, como os espanhó is a chamam para distingui-la da Tepeaca
de Puebla. Seu testemunho é mais poderoso porque nã o acreditava em
milagres facilmente, como mostra sua crô nica, onde escreve
ironicamente e zomba de algumas pessoas que viram o apó stolo Tiago
lutando pelos espanhó is contra os indı́genas durante a Conquista.
Assim como Dı́az del Castillo descreve o Santuá rio como um ponto
importante da devoçã o, con irmada pelos milagres da Virgem de
Guadalupe, há outros na literatura, como Francisco Cervantes de
Salazar, que, ao descrever a Cidade do Mé xico em seu livro México em
1554 , també m destaca a Ermida de Tepeyac: “Dos morros à cidade
(algo que dá valor), estendem-se mais de trinta quilô metros de terras
irrigadas em todas as direçõ es, banhadas pelas á guas de canais, rios e
nascentes. Lá estã o assentadas grandes cidades indı́genas, como
Texcoco, Tacuba, Tepeaquilla, Azcapozalco, Coyoacan, Ixtapalapa e
muitas outras. Esses templos que brilham e olham para o Mé xico sã o
deles. “338 Outro comentarista, Alonso de la Santa Cruz, em
aproximadamente 1555 desenhou este Santuá rio em um mapa.339
A chegada dos vice-reis, bem como a sua partida, foram eventos o iciais
e solenes de grande importâ ncia. Foi celebrada uma festa na qual toda a
cidade participou com grande entusiasmo. Tornou-se uma grande
ocasiã o para a cidade mais importante do vice-reinado. Pelo facto de a
vila de Guadalupe e o seu Santuá rio terem sido escolhidos para a
realizaçã o destes eventos solenes, pode-se compreender a importâ ncia
deste lugar sagrado.
Sabemos que quando Gastó n de Peralta, Marquê s de Falces,340chegou
ao Mé xico em 17 de setembro de 1566, uma celebraçã o suprema foi
realizada. Havia um dossel de tecido dourado com franjas douradas e
prateadas e veludo carmesim decorado com o brasã o da cidade. Alé m
disso, um novo guarda-roupa foi encomendado para os juı́zes, os
vereadores, o notá rio-chefe e o tesoureiro. Dentro de l'Hermitage
estava a venerada imagem do tilma de Juan Diego e uma brilhante
escultura em tamanho real da Virgem, feita de prata e coberta de ouro,
que foi uma oferta especial do homem mais rico da Nova Espanha,
Alonso de Villaseca, doada para seu amada Guadalupe em 15 de
setembro de 1566, apenas dois dias antes da chegada do vice-rei. O
historiador José Ignacio Rubio Mañ é complementa a informaçã o:
“També m foi autorizado, à s custas do governo, que fossem feitas as
concessõ es necessá rias para as acomodaçõ es do novo vice-rei na
cidade de Guadalupe. E a primeira vez que esta localidade é
mencionada em relaçã o a recepçõ es desta natureza. Talvez tenha sido a
primeira vez que Guadalupe foi escolhida como lugar para o descanso
do Vice-Rei depois do cansaço da viagem de Veracruz antes de entrar
na cidade, e també m para ter a chance de planejar os detalhes das
cerimô nias com ele ”.341
Dois anos depois, em outubro de 1568, um novo vice-rei chegou ao
Mé xico, Martin Enrı́quez de Almanza,342que també m foi recebido com
grandes celebraçõ es no Santuá rio de Guadalupe em novembro do
mesmo ano. Mas quando ele mal havia chegado à costa mexicana com
uma frota de comboios completa, ele surpreendeu o pirata
Hawkins. Com isso, Hawkins nã o teve escolha a nã o ser abandonar
alguns de seus companheiros na costa de Pá nuco, e entre eles estava o
protestante inglê s, Miles Philips, que foi capturado e enviado para a
Cidade do Mé xico. Graças ao facto de ter o costume de escrever as suas
aventuras, podemos conhecer detalhes importantes sobre o Santuá rio
de Nossa Senhora de Guadalupe da é poca. A escultura de prata e ouro,
doada ao Hermitage pelo rico mineiro Alonso de Villaseca em 1566,
chamou sua atençã o mais do que a venerada Imagem do tilma de Juan
Diego . O pirata disse,
No dia seguinte pela manhã caminhamos para o Mé xico, até chegarmos
a duas lé guas da cidade, para um lugar onde os espanhó is ergueram
uma magnı́ ica Igreja dedicada à Virgem. Lá eles tê m Sua imagem em
prata coberta de ouro, tã o alta quanto uma mulher alta, e na frente dela
e em todo o resto da Igreja há tantas lâ mpadas de prata quantos dias no
ano, todas as quais estã o acesas durante as festas solenes. Sempre que
os espanhó is passam junto a esta Igreja, mesmo a cavalo, descem,
entram na Igreja, ajoelham-se perante a Imagem e rezam a Nossa
Senhora para os libertar de todo o mal, para que, se estiverem a pé ou a
cavalo , nã o passariam sem entrar na Igreja e rezar, como eu disse,
porque acreditam que se nã o o izerem nã o terã o sorte em nada. Os
espanhó is chamam esta imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Aqui
há banhos frios que jorram como se a á gua estivesse a ferver e é
salgada ao gosto, mas muito bons para quem tem feridas ou feridas,
porque dizem que muitos estã o curados. Todos os anos, no dia da festa
de Nossa Senhora, as pessoas costumam vir oferecer e rezar diante da
Imagem e dizem que Nossa Senhora de Guadalupe faz muitos
milagres.343
Como se pode ver nesta narraçã o fresca e espontâ nea de algué m que
nã o professava a religiã o cató lica, há informaçõ es importantes sobre os
magnı́ icos dons e ofertas devocionais que foram feitas a l'Hermitage, a
forte devoçã o dos espanhó is que tentaram obter uma bê nçã o ,
ajoelhando-se diante da Imagem, a á gua salgada do entorno que fazia
com que o ambiente nã o fosse o mais adequado para a preservaçã o da
Imagem, sobre a devoçã o do povo, suas oferendas, suas oraçõ es, suas
peregrinaçõ es, e a fama que Nossa Senhora de Guadalupe teve pelos
“muitos milagres” que realizou.
A devoçã o a Nossa Senhora de Guadalupe era tal que nã o só o povo,
mas o pró prio clero, especialmente o diocesano, procuraram uma
forma de celebrar os atos litú rgicos no Santuá rio, mesmo à custa de
negligenciar as suas obrigaçõ es. Por exemplo, os có negos da catedral
metropolitana estavam ausentes dos seus serviços na catedral quando
iam festejar no Santuá rio de Guadalupe, especialmente no dia da
Natividade da Virgem Maria, que era a data em que Nossa Senhora de
Guadalupe era celebrado liturgicamente naquela é poca. Evidentemente
isso chegou a ser um problema, principalmente para quem nã o avisou,
entã o em 14 de setembro de 1568, um ato formal foi aprovado e impô s
uma sançã o severa aos que fossem à Ermida de Guadalupe sem
permissã o. Declarou que “No que diz respeito a ir a Nossa Senhora de
Guadalupe no dia do Natividade de Nossa Senhora, quem tiver que ir, a
partir de agora, é para obter licença se a pedir; mas se ele fosse com o
arcebispo, iria 'sem justi icativa'.344 Mas isso nã o resolveu o problema,
entã o um ano depois, antecipando o que poderia acontecer, dois dias
antes da festa litú rgica da Natividade de Maria, em 6 de setembro de
1569, outro ato foi elaborado que revelou como os cô negos que
deveriam ir a Nossa Senhora de Guadalupe poderia constituir uma
“justi icativa”.345
Como já assinalamos, existia uma confraria de Nossa Senhora de
Guadalupe bem organizada que contava com muitos só cios e uma boa
soma de dinheiro para custear qualquer festa ou festa de Guadalupe,
tanto dinheiro que em 8 de maio de 1571, o tesoureiro Cristó bal de
Aguilar foi autorizado a tomar 2.200 pesos como empré stimo da
confraria.346 Anos depois, mais confrarias do Santuá rio seriam
fundadas.
Os Jesuı́tas que chegaram ao Mé xico a 28 de setembro de 1572,
compreenderam imediatamente a importâ ncia da devoçã o a Nossa
Senhora de Guadalupe, tornando-se Seus grandes promotores entre os
jovens nas suas escolas, bem como nas suas pró prias missõ es. Por
meio de concursos literá rios em todas as escolas, eles conseguiram
que vá rios jovens estudantes levassem muito a sé rio a devoçã o a
Guadalupe. Sã o famosos os sermõ es sobre Guadalupe elaborados pelos
ilhos de Santo Iná cio. Como assinalamos, os Jesuı́tas també m
motivaram a devoçã o entre o povo. Quando a seca atingiu o paı́s em
1599, os Jesuı́tas promoveram uma famosa peregrinaçã o ao Santuá rio
de Guadalupe.347
Assim como Bernal Dı́az del Castillo, Suá rez de Peralta e Miles Philips
deram testemunho da devoçã o e da grande reputaçã o dos milagres da
Virgem de Guadalupe em Tepeyac, os jesuı́tas també m deram
testemunho deles. O superior dos Jesuı́tas no Mé xico, P. Francisco Baez,
enviou ao Jesuı́ta Geral, residente em Roma, o relató rio anual,
intitulado Annuae Literae , que abrangia abril de 1600 a abril de 1602,
dando os aspectos mais relevantes de cada uma de suas escolas e casas
da comunidade. Quando mencionou o Colé gio de Mé xico que tinham na
capital da Nova Espanha, dizia: “Embora nossos alunos e padres
tenham mostrado sua devoçã o e fervor, eles foram mais fervorosos por
causa de seu afeto demonstrado à Santı́ssima Virgem, Nossa Senhora,
aproveitando muitos feriados para ir visitar duas Imagens e Igrejas
Suas, uma a uma longa lé gua desta cidade e as outras trê s lé guas. Vã o e
vã o a pé como em peregrinaçã o e recebem o Santı́ssimo Sacramento no
altar da Imagem que visitam, abrindo a caixa da Imagem que é de
grande veneraçã o nesta terra, pelos grandes milagres que Ela fez. desde
o inı́cio dessas ı́ndias. ”348E ó bvio que uma dessas imagens e “os
grandes milagres que Ela fez desde o inı́cio dessas ı́ndias” é justamente
a Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, cuja igreja “está a uma
longa lé gua desta cidade”. A reputaçã o da Capela de Guadalupe é
també m comprovada por P. Pedro Flores, SJ, que em 1609 a chamou de
“famoso santuá rio”.349 Na histó ria das missõ es jesuı́tas no norte do
Mé xico, Califó rnia e outras regiõ es que hoje fazem parte dos Estados
Unidos, eles levaram a devoçã o à Virgem de Guadalupe, dedicando
igrejas e missõ es a Ela e pendurando pinturas de Guadalupe por toda
parte.350
Uma sé rie de documentos que resumem a sua importâ ncia sã o os que
derivam das indulgê ncias e privilé gios que o Santo Padre deu a
l'Hermitage no seu inı́cio. O Arcebispo do Mé xico, Pedro Moya de
Contreras, solicitou benefı́cios e indulgê ncias para a Ermida de
Guadalupe ao Papa Gregó rio XIII por meio do Prelado Geral dos
Jesuı́tas, Everardo Mercuriano. O Santo Padre acedeu a tal petiçã o em
fevereiro de 1573, concedendo aos ié is que visitavam a igreja de
“Santa Maria de Guadalupe de Tepeaquilla, na provı́ncia mexicana” a
indulgê ncia plená ria e outros benefı́cios segundo a forma
habitual.351Posteriormente, o Padre Everardo Mercuriano, SJ, escreveu
ao Arcebispo Moya de Contreras em 12 de março de 1576; o jesuı́ta
disse “A prorrogaçã o das indulgê ncias concedidas à Ermida de Nossa
Senhora de Guadalupe e a substituiçã o do dia, conforme ordenado,
foram obtidas e o Breve acompanha isto.”352 Padre Mercuriano
escreveu de Roma ao Provincial da Nova Espanha, Pedro Sanchez, em
31 de março de 1576 e, entre outras coisas relacionadas ao Mé xico,
relatou que o papa havia concedido “a prorrogaçã o do jubileu que as
confrarias solicitaram para l'Hermitage de Nossa Senhora de
Guadalupe de Tepeaquilla. ”353Parece, do escrito do Papa Gregó rio
XIII, Ut Deiparae sempre Virginis , de 28 de março de 1576,354que tinha
informaçõ es diretas sobre a Ermida de Guadalupe, que havia se
tornado um centro fundamental de peregrinaçõ es para indı́genas e
espanhó is da Cidade do Mé xico e seus arredores, especialmente
durante as grandes festas em que se especi icavam indulgê ncias. Isso,
sem dú vida, provocou um pedido de estender temporariamente essas
indulgê ncias, e estendê -las també m à catedral metropolitana, a im de
evitar que os ié is saı́ssem da catedral nessas fé rias para visitar o
Santuá rio de Guadalupe.355Diversas atividades espirituais e pastorais
já foram organizadas; por exemplo, os espanhó is fariam vigı́lia no
Santuá rio e rezariam novenas. Num relato de Frei Alonso Ponce,
aproximadamente em 23 de julho de 1585, ele dizia, “por uma ponte de
pedra, perto de uma pequena cidade indı́gena, e nela, pró ximo a um
morro, uma Ermida e Igreja chamada Nossa Senhora de Guadalupe,
onde os espanhó is do Mé xico vã o vigiar e rezar novenas, e ali mora um
clero que celebra a missa ”.356
Isso con irma mais uma vez que já naquela é poca os ié is, nã o só os
indı́genas, mas també m os espanhó is, iriam mais ao Santuá rio de
Guadalupe do que à catedral, com uma devoçã o profundamente
arraigada que estava se tornando parte de sua identidade. Este fato
contradiz as teses de alguns historiadores quando a irmam que em
meados do sé culo XVII Guadalupe era praticamente desconhecida.357O
episcopado de Moya de Contreras foi rico em referê ncias e atos
jurı́dicos que con irmam o fato de Guadalupe no Mé xico e que devem
ser interpretados à luz de todos os documentos e contrové rsias. Por
exemplo, Moya de Contreras decidiu que todos os rendimentos e
esmolas que a Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe recebia, excluindo
todas as despesas necessá rias para isso, deveriam ser usados para
casar com moças ó rfã s e pobres, encorajando assim a generosidade
dos devotos de Guadalupe. Isso ele escreveu em suas Constituciones de
Tepozotlan em 10 de setembro de 1576.358
A capela e seus arredores foram freqü entemente restaurados. Suas
enormes peregrinaçõ es, sua importante polı́tica e sua força social eram
uma realidade clara e constante. A diversidade de documentos onde
encontramos informaçõ es sobre estes tipos de restauraçõ es é o que
nos aproxima da realidade vivida no sé culo XVI. Por exemplo, em 19 de
fevereiro de 1574, o empreiteiro Garcı́a de Albornoz consertou a ponte
na estrada para Guadalupe.359 Em 4 de setembro de 1574, Geró nimo
Ló pez e o construtor Diego Herná ndez visitaram a estrada que estava
sendo construı́da do Barrio de Santa Lucı́a até a estrada para
Guadalupe.360 Em 8 de novembro de 1591, a ponte de madeira na
estrada para Guadalupe foi reparada. 361 E esses consertos e
ampli icaçõ es constantes continuam até hoje.
Durante as reparaçõ es e adaptaçõ es tanto em l'Hermitage como em
seus arredores, o monge Hieronymus, Diego de Santa Marı́a, chegou ao
Mé xico, enviado do Mosteiro de Guadalupe na Extremadura,
Espanha. Mostrando seu descontentamento com a Ermida de Tepeyac
por ter se distanciado da devoçã o espanhola, veio ao Mé xico a im de
inspecionar o Santuá rio de Tepeyac, já que sua fama havia ultrapassado
fronteiras e porque, segundo ele, parte das esmolas recebidas em
Ermida teve que ir para os monges Hieronymus. Frei Diego de Santa
Marı́a escreveu seu primeiro relató rio em 12 de dezembro de 1574 ao
rei Filipe II, no qual con irmou os numerosos legados, doaçõ es e
esmolas que l'Hermitage recebeu: “Hoje, l'Hermitage tem 2.000 pesos
em receitas e quase mais 2.000 é recolhido em esmolas, e nã o vejo
como podem gastar isso porque nã o é adornado e o edifı́cio em si é
muito pobre. Estas esmolas foram recolhidas sob o nome e sombra de
Nossa Senhora de Guadalupe e, se Vossa Majestade o entender
conveniente, serã o prestados contas aos administradores e pessoas
que ocuparam cargos nesta casa durante o tempo em que se chamou
Guadalupe para que Vossa Majestade o ponha em ordem.362 Ele
també m percebeu que o terreno era impró prio para a construçã o de
um Santuá rio, e ele até pensou que teria sido melhor se tivesse sido
construı́do na bela á rea lorestal de Chapultepec.363“O lugar onde foi
fundado o Hermitage é pé ssimo - tem depó sitos de salitre e ica contra
o lago, insalubre e sem á gua. Por este e por muitos outros motivos ... se
Vossa Majestade achar conveniente que este l'Hermitage seja
transferido para um lugar bom, poderia ser feito um mosteiro para a
Ordem, pois outros foram assim fundados pela Ordem do mosteiro de
Nossa Senhora de Guadalupe. O lugar mais conveniente perto desta
cidade é uma fazenda chamada Chapultepec. “364
O monge Hieronymus con irmou a grande devoçã o que existia:
“Encontrei nesta cidade uma Ermida com o nome de Nossa Senhora de
Guadalupe, a meia lé gua da cidade, onde se reú nem muitas pessoas”.365
Por um lado, o monge Diego de Santa Marı́a dá -nos informaçõ es
importantes, como os factos sobre as constantes doaçõ es e esmolas, os
testamentos que dirigem as heranças a l'Hermitage, a inadequaçã o da
á rea pelos depó sitos de salitre e a aridez, e a grande devoçã o que
existia em Tepeyac, “onde muitas pessoas se reuniam”. Mas, ao mesmo
tempo, suas imprecisõ es nã o sã o poucas e ele comete erros ó bvios,
mostrando que nã o sabe absolutamente nada sobre os fatos de
Guadalupe, já que em sua segunda carta, em 24 de março de 1575,
enviada ao Presidente do Conselho de Indias, Juan de Ovando, em
resposta a uma carta sua, atreve-se a dizer que l'Hermitage recebeu o
seu nome depois de 1560, enquanto em outra carta anterior disse que
em 1562 tinha outro nome. No entanto, fontes histó ricas,
como Información de 1556 , demonstram que já naquela é poca a
devoçã o do Tepeyac era denominada “Guadalupe”.
Neste segundo relató rio, o que se destaca é a sua preocupaçã o com o
esquecimento dos espanhó is do Santuá rio da Extremadura por terem
atraı́do o de Tepeyac, ao qual faziam oferendas e davam esmolas, e que
existiam vá rios testamentos que continham legados justamente para
aquele de Mé xico. O monge Hieronymus declarou: “O inconveniente de
ter dado o nome de Guadalupe à Imagem venerada no Mé xico é que os
espanhó is começaram a esquecer a Virgem de Guadalupe, venerada na
Extremadura, Espanha, a quem muitos espanhó is costumavam
conceder seus legados. Mas agora parece que sã o os espanhó is que
concedem à Virgem de Guadalupe de Tepeyac seus legados e
propriedades no Mé xico ”.366 Assim, o monge Hieronymus, Frei Diego
de Santa Maria, con irmou que era a Virgem de Guadalupe, no Mé xico,
que os espanhó is veneravam “e dã o esmolas”.
Frei Diego de Santa Maria acha que é um erro, porque supõ e que os
espanhó is pensam que oferecem seus legados à Virgem da Espanha. Ele
analisa os aspectos econô micos, e expressa sua opiniã o sobre o destino
do Santuá rio, buscando a jurisdiçã o, direçã o e administraçã o da Ermida
de Tepeyac à de Extremadura, Espanha. O monge Hieronymus nã o
obteve nada do que esperava, e a administraçã o e a direçã o de
l'Hermitage continuaram sendo as mesmas. Mas, como dissemos, os
pormenores que estã o contidos nesta informaçã o també m nos ajudam
a ver objetivamente que a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe de
Tepeyac nada tinha a ver com a da Extremadura, alé m de provar a forte
devoçã o mexicana, nã o apenas dos indı́genas, mas també m dos
espanhó is, com suas manifestaçõ es em esmolas, doaçõ es, legados
etc. Mais uma vez, con irma-se o terreno inadequado com depó sitos de
salitre onde se situava a Ermida, o que tornou a preservaçã o da Imagem
mais surpreendente. Outro detalhe a levar em conta é o poder
eclesiá stico e civil que a ordem Hieronymus tinha na é poca no reino da
Coroa espanhola. Poré m, mesmo com todo o seu grande poder polı́tico,
nã o conquistou absolutamente nada.
A Coroa Espanhola manifestou maior interesse em conhecer esta
devoçã o a Nossa Senhora de Guadalupe que apareceu em Tepeyac. E
assim, com o pedido de informaçõ es do rei Filipe II, o vice-rei Enriquez
de Almanza escreveu em 23 de setembro de 1575, dizendo: “O que se
sabe comumente sobre a fundaçã o da Igreja que hoje existe é que em
1555 ou 1556 havia um Ermida pequena em que estava a Imagem que
agora está na Igreja ”.367Obviamente, o vice-rei se referia a l'Hermitage
que o segundo arcebispo do Mé xico, Alonso de Montufar, havia
ampliado. També m escreveu sobre outros detalhes interessantes,
como a constataçã o da inadequaçã o do local para a fundaçã o de
qualquer mosteiro, bem como o fato de haver 400 membros em uma
das confrarias de l'Hermitage.368
Alonso de Villaseca, que foi um grande benfeitor do Santuá rio, morreu
em 8 de setembro de 1580. Foi lembrado por suas grandes doaçõ es à
Virgem de Guadalupe, em particular a escultura em tamanho natural de
prata revestida de ouro que foi uma das suas mais presentes
importantes. Seu genro, Agustı́n Guerrero, sabendo da grande devoçã o
que seu sogro professava à Virgem de Guadalupe, organizou uma
grande cerimô nia onde o corpo de seu sogro foi exposto por trê s dias
em seu amado Santuá rio de Guadalupe.369
Mais cerimô nias deveriam ser realizadas no Santuá rio, já que estavam
iniciando os preparativos para a tradicional recepçã o do novo vice-rei
da Nova Espanha, Lorenzo Suá rez de Mendoza, Conde de Coruñ a.370 No
dia 26 de setembro de 1580, foi decidido prolongar as festividades de
boas-vindas, entre as quais se destacou “que o Excelentı́ssimo Senhor,
Vice-rei, Conde da Corunha, seja abundantemente servido na casa de
Nossa Senhora de Guadalupe”.371 Posteriormente, o novo vice-rei
nomeado por Filipe II, em 26 de fevereiro de 1585, foi Alvaro Manrı́que
de Zuñ iga, marquê s de Villamanrique.372Quando essa notı́cia foi
conhecida no Mé xico, em 29 de julho, o cô nego se reuniu e decidiu em
ato solene, o nº. 4679, que se organize uma escaramuça no vale de
Nossa Senhora de Guadalupe, em homenagem ao novo vice-rei. Uma
comissã o foi nomeada para realizar todos os preparativos para o
acolhimento, entre os quais este acontecimento: “Pela primeira vez se
mencionam as planı́cies de Guadalupe, para aı́ fazer a escaramuça ... Por
ú ltimo, que se endireite o caminho para Guadalupe tanto quanto
Santiago. Poré m, na sessã o de 2 de outubro foi acordado suspender
todos os projetos para as festividades de Santiago, já que tudo deveria
ser feito em Guadalupe, estando o Vice-rei hospedado ali antes de sua
entrada ”.373 E assim foi: o vice-rei Manrı́que de Zú ñ iga teve uma longa
e agradá vel estada em Guadalupe, onde pô de gozar as festividades da
sua chegada.
Foi precisamente neste momento, 16 de outubro de 1585, que se
realizou o Terceiro Conselho Provincial do Mé xico, uma das mais
importantes reuniõ es eclesiais onde, alé m de muitos artigos que
orientaram os passos da Igreja no Mé xico, alguns temas foram
decididos. , de modo que proibiam expressamente as cançõ es indı́genas
da é poca e o tipo de seu paganismo, e que só seriam permitidas as
aprovadas pelos paroquianos e pelos vigá rios, e o mesmo se dizia das
imagens, que se uma delas tivesse uma histó ria falsa deve ser
destruı́da. A narraçã o da Virgem de Guadalupe continuou com a
aprovaçã o de sua histó ria, e a imagem milagrosa ainda era muito
venerada, e l'Hermitage, como vimos, era o ponto de encontro o icial
das personalidades mais importantes da Nova Espanha. Para o
arcebispo do Mé xico, Pedro Moya de Contreras, foi um dos ú ltimos atos
importantes de que participou, pois em abril de 1586 saiu do
arcebispado e foi direto para Guadalupe onde passou alguns dias
contemplando e se despedindo do Imagem Sagrada de Nossa Senhora
de Guadalupe a quem tanto amou.
Quase trê s anos depois, em 19 de julho de 1589, o rei Filipe II ordenou
ao vice-rei Manrı́que de Zú ñ iga que entregasse seu cargo ao novo vice-
rei, Luı́s de Velasco, ilho do segundo vice-rei da Nova Espanha, que
tinha o mesmo nome.374
Em 24 de dezembro do mesmo ano, Luis de Velasco desembarcou na
costa mexicana. Rapidamente os responsá veis da comissã o de
acolhimento entraram em açã o e prepararam os detalhes para a solene
festa de entrada: “també m 'Sr. Baltasar Mejı́a Salmeró n foi contratado
para hospedá -lo e recebê -lo, para fazer a casa e a cama confortá veis, e o
resto seria em Nossa Senhora de Guadalupe, onde esta cidade faz os
arranjos. O que for gasto, o que for conveniente e responsabilidade do
Tesoureiro desta cidade, o Tesoureiro deve dar a ele e o Regente deve
pagar por isso. ' ... Da mesma forma, um arco de triunfo muito caro foi
encomendado, e uma chave de ouro que o Magistrado Pablo de Torres
deveria lhe dar. Ele, os prefeitos das ordens e o presidente do Supremo
foram designados para assumir as ré deas do garanhã o e, assim, ser os
responsá veis por introduzir o vice-rei na Cidade do Mé xico em um ato
simbó lico ... Os preparativos continuaram na sessã o de 2 de janeiro ,
1590. Eles tentaram fazer a escaramuça entã o em Guadalupe, como
antes, eliminando assim a Plaza Mayor. ”375
O vice-rei Manrı́que de Zú ñ iga foi receber Luis de Velasco,
encontrando-o em Acolman onde, “depois de quase duas horas juntos,
Manrı́que de Zú ñ iga seguiu para Texcoco. No dia seguinte, o novo Vice-
Rei dirigiu-se à Cidade do Mé xico e passou a noite em Nossa Senhora
de Guadalupe (local onde todos os Vice-Reis param e onde sã o feitas
algumas festividades para eles). De lá ele entrou na cidade, entã o no dia
25 de janeiro foi recebido ”.376
O rei Filipe II nomeou outro vice-rei para a Nova Espanha em 28 de
maio de 1595. Ele estendeu o tı́tulo a Gaspar Acevedo y Zú ñ iga, conde
de Monterrey,377enquanto Luis de Velasco foi nomeado vice-rei do
Peru. Em 15 de setembro de 1595, começaram os preparativos para
receber o novo vice-rei. Alé m de nomear o comitê de boas-vindas,
nã o se esqueciam da seda para os vestidos que eram feitos para cada
ocasiã o; para preparar a recepçã o em Guadalupe; “Comprar o cavalo
junto com os ricos arreios e ré deas para que o Vice-rei entrasse desde
Guadalupe”; que o arco do triunfo foi feito, “usando o que restou do
anterior”; vestir toda a rua de Santa Ana a Guadalupe; fazer uma chave
de ouro para entregar a Gaspar Acevedo y Zú ñ iga, Conde de Monterrey,
em homenagem à prefeitura; o pá lio para a recepçã o; a infantaria e a
cavalaria para as honras militares; a comé dia e a escaramuça que deve
ser feita em Guadalupe; assim como o jogo da cana-de-açú car ... O
Conde de Monterrey foi recebido com grande festa e, conforme o
planejado, entrou solenemente na Capital naquele domingo, 5 de
novembro de 1595.378
Em 1603, o rei nomeou um novo vice-rei para o Mé xico, Juan de
Mendoza y Luna, Marquê s de Montesclaros;379que, acompanhado de
sua esposa e de muitos criados, desembarcou em Veracruz em 5 de
setembro de 1603. Só em 14 de setembro se conheceu a chegada do
novo mandatá rio. Quando a notı́cia chegou à Cidade do Mé xico, houve
jú bilo para o novo vice-rei, mas ao mesmo tempo houve ansiedade
porque, depois da esplê ndida recepçã o da vez anterior, nã o havia
dinheiro para organizar uma recepçã o como era de costume. Entã o,
eles tiveram que tirar de outros fundos. Na sessã o de 15 de setembro,
foi acordado ceder “2.000 pesos para a reforma da casa na cidade de
Guadalupe onde a marquesa estava hospedada, e para reformar a
estrada e as pontes do caminho da Cidade do Mé xico a Guadalupe antes
da saı́da do Conde de Monterrey. Como nas ocasiõ es anteriores, a
escaramuça e o jogo da cana tiveram que acontecer no campo da
cidade de Guadalupe .... Por im, no dia 16 de outubro, o Cô nego foi
avisado de que tudo estava pronto para que chegasse o novo Vice-rei.
em Guadalupe na segunda-feira, 20 de outubro, e que as festividades
pomposas de sua entrada na Cidade do Mé xico foram preparadas para
a quarta-feira seguinte ”.380 O vice-rei chegou a Guadalupe, onde foi
muito bem recebido, mas como o lugar onde iria residir na Cidade do
Mé xico nã o estava pronto ”, ele teve que icar mais tempo em
Guadalupe, constantemente entretido, até que inalmente no domingo,
26 de outubro. , ele entrou na cidade com grande solenidade.381
Em setembro de 1608 chegou o novo arcebispo do Mé xico, Garcı́a
Guerra, que é famoso pelo grande amor que imediatamente teve pela
Santa Imagem. 382Em 12 de junho de 1611, esse mesmo arcebispo foi
nomeado vice-rei da Nova Espanha, e a tradicional recepçã o aconteceu
em Guadalupe, como para qualquer outro vice-rei, mas alé m das
festividades a ele dedicadas, ele optou por passar um bom tempo em
um retiro espiritual, oraçã o e re lexã o sobre as famosas novenas que se
realizavam no Santuá rio. Juan de Torquemada conta-nos que “Foi
recebido como vice-rei, com a aparê ncia e as circunstâ ncias de todos
os outros vice-reis que o antecederam. Para esta recepçã o saiu da
Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, onde já tinha estado nas
novenas, e entrou com majestade na cidade e nas casas palacianas
”.383 O Arcebispo Garcı́a Guerra tinha a forte convicçã o de que as
doaçõ es e esmolas que chegavam ao Santuá rio nã o eram apenas para
receber grandes personagens, mas també m para pessoas necessitadas,
por isso doou esmolas mensais aos tı́midos mendigos da Igreja de
Nossa Senhora de Guadalupe.384
Em 23 de janeiro de 1612, foi nomeado o novo vice-rei do Mé xico,
Diego Ferná ndez de Có rdova, Marquê s de Guadalcazar.385 A recepçã o
foi organizada para setembro: “1.500 pesos deviam ser entregues ao
Regente da Cidade do Mé xico, Hernando de Rosas, pelas despesas de
recondicionamento da casa na cidade de Guadalupe e pelas refeiçõ es
que seriam servidas a ele, sua esposa , e membros da famı́lia que o
acompanham. ”386Nesta ocasiã o, o Pú blico que regia o vice-reinado
tentou novamente limitar as despesas adicionais. Mas em 16 de
outubro de 1612, eles insistiram na necessidade de realizar as
recepçõ es solenes que eram habituais, entã o, “eles concordaram em
insistir nas escaramuças em Guadalupe, para as quais pediram
autorizaçã o para gastar mais 2.000 pesos”.387
Com certeza os vice-reis viram a alegria e a esperança do povo,
precisamente no lugar mais signi icativo e importante para eles: o lugar
onde a Mã e de Deus, a Senhora do Cé u, se mostrou a um humilde ı́ndio.
També m houve vá rios autores que deram prova da reputaçã o deste
Santuá rio; por exemplo, em 1616, Frei Luis de Cisneros terminou sua
obra intitulada Historia de la Imagen de Nuestra Señora de los
Remedios, que foi impressa no Mé xico em 1621. No livro 1, capı́tulo 5,
quando abordou o assunto dos santuá rios de Mé xico, nã o teve dú vidas
ao dizer: “O mais antigo é o de Guadalupe, que ica a uma lé gua desta
cidade, ao norte, e que tem uma Imagem de grande devoçã o e consenso
que, quase desde que a terra foi conquistada , Ela tem feito, e faz,
muitos milagres. ”388Do mesmo modo, Diego de Cisneros, em sua obra
aprovada em 1617, que intitulou Sitio, Naturaleza y Propiedades de la
Ciudad de Mexico, e publicada no Mé xico, falava do novo templo que
estava sendo construı́do e das estradas do Mé xico. Ele disse, “e há uma
outra principal ao norte que eles chamam de Guadalupe, porque a
Igreja e a mais venerada Imagem de Nossa Senhora de Guadalupe ica
ao lado desta estrada, na orla de algumas montanhas, e sua construçã o
tem crescido com a devoçã o ú nica e in inito cuidado do mais Ilustre
Juan de la Serna, Arcebispo desta cidade. ”389
Enquanto isso, manteve-se a ordem de que nã o fossem feitas grandes
despesas nas diversõ es para receber os vice-reis. Assim, quando o novo
vice-rei Diego de Pimentel, conde de Priego e marquê s de Gelves,
chegou em 1621,390 embora houvesse entusiasmo e disponibilidade
para fazer as festividades, continuaram a considerar que “as despesas
da comissã o de acolhimento e, sobretudo, as acomodaçõ es e os
entretenimentos na cidade de Guadalupe” nã o deveriam ser pagos pelo
tesoureiro .391E embora houvesse objeçõ es, os organizadores tiveram
que ceder, devido à s ordens precisas da Corte espanhola. Mas em 20 de
agosto de 1621, na sessã o canô nica sobre o costume de grandes
festividades para as recepçõ es dos novos vice-reis, eles determinaram
que eles eram “contra aquelas ordens que se opunham à tradiçã o de
quase 100 anos de recebimento seus vice-reis com pompa e majestade,
nomeando comissá rios em nome da cidade para ir recebê -los em
Puebla de los Angeles, hospedando-os em Guadalupe, onde é
obrigató rio pernoitar, fazendo arcos de triunfo e outros preparativos
como os vistos no passado.'"392
Naquela é poca, o novo templo da Dama do Cé u estava para ser
concluı́do e já tinha sido usado para celebraçõ es tã o especiais como a
do Arcebispo Juan de la Serna, que se apresentou perante a Ermida de
Guadalupe quando chegou a a arquidiocese do Mé xico em 1613 para
que Ela o abençoasse em seu ministé rio, e ele nem mesmo hesitou em
ordenar sacerdotes no Santuá rio de Guadalupe, como em 1616 quando
deu este sacramento a P. Alonso Cuevas y Dá valos.393 Desta forma, atos
litú rgicos e importantes peregrinaçõ es foram realizados e ofertas e
sacrifı́cios aumentaram.
Finalmente, em novembro de 1622, o Arcebispo de la Serna dedicou e
abençoou o novo templo de Nossa Senhora de Guadalupe. A transiçã o
para o novo recinto da Imagem sagrada foi extremamente
emocionante. Foram oito dias de festa, grandes peregrinaçõ es,
celebraçõ es solenes e magnı́ icos sermõ es como o publicado por Juan
de Cepeda, que chamou de Sermón de la Natividad de la Virgen María
Señora Nuestra, predicado em la Ermita de la Guadalupana, extramuros
de la Ciudad de México na festa da misma Iglesia [Sermão da Natividade
da Virgem Maria Nossa Senhora, pregado na Capela de Guadalupe, fora
da Cidade do México, na festa da mesma Igreja ].394 Com certeza foi um
dos momentos mais importantes para toda a cidade.
No entanto, o Santuá rio de Guadalupe seria uma testemunha silenciosa
dos tremendos problemas entre as mais altas autoridades da Nova
Espanha. Os mal-entendidos reinaram por vá rias causas, tanto que em
determinado momento graves tensõ es entre o vice-rei marquê s de
Gelves e o arcebispo de la Sema chegaram a tal ponto que, em 11 de
janeiro de 1624, os magistrados do vice-rei condenaram o arcebispo à
deportaçã o para a Espanha. O arcebispo “entrou em sua carruagem e,
na primeira parte de sua viagem para Veracruz, foi escoltado por um
destacamento de soldados e uma multidã o imensa e muito triste de
pessoas o seguia pelas ruas da Cidade do Mé xico até o Santuá rio de
Guadalupe . Lá ele conseguiu encontrar uma maneira de permanecer
por um certo tempo: ali celebrava a missa e mandava ao seu clero a
ordem de reforçar os é ditos de excomunhã o contra o vice-rei marquê s
de Gelves e seus colaboradores. Pouco depois, o vice-rei teve de
renunciar ao seu cargo e foi nomeado um novo vice-rei, Rodrigo
Pacheco Osorio, marquê s de Cerralvo. Assim, no dia 18 de setembro,
falou-se na restauraçã o do Santuá rio de Guadalupe para receber o novo
vice-rei, como era de costume.
O historiador José Ignacio Rubio Mane nos oferece uma informaçã o
interessante, citando a sessã o do Câ non: “Em setembro de 1624, era
sabido no Mé xico que este novo vice-rei estava vindo para o Mé xico. Na
sessã o canô nica realizada na quarta-feira, dia 18 desse mesmo mê s,
deram o edital e as capitulares começaram a buscar uma forma de fazer
uma recepçã o solene, independentemente de tudo, ainda mais com a
notı́cia de que 'porque é obrigató rio para Excelê ncia em pernoitar na
Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe onde é costume. Mas aquele
lugar é tã o indecente que é apropriado providenciar para receber e
acomodar Vossa Excelê ncia naquela noite, uma vez que é imperdoá vel.
'”395Mas devido à s tensõ es e à extravagâ ncia que acontecia com
frequê ncia nessas festas para entreter o novo vice-rei, eles decidiram
nã o fazê -lo em Guadalupe. A respeito deste mesmo procedimento,
temos um detalhe interessante, transmitido por Rubio Mañ e e baseado
nos Atos Canô nicos. Isso diz que
Na sessã o de 29 de setembro, continuaram tratando da recepçã o que
aspiravam a fazer com grandes manifestaçõ es de jú bilo. Como os
homens comissionados para a recepçã o na vila de Guadalupe haviam
renunciado por doença e outras causas, “porque embora seja verdade
que desde que esta cidade foi conquistada, Vice-Reis foram recebidos e
acomodados naquela localidade de Guadalupe à s custas de o governo
desta cidade ”. . . assim, as nomeaçõ es foram feitas para novos
comissá rios, com efeito. No entanto, o magistrado Francisco Enriquez
Dá vila disse: “hoje Diego de Astudillo, camareiro de Vossa Excelê ncia
me contou como o Vice-rei o fez saber que como o lugar e as
acomodaçõ es em Guadalupe nã o eram adequados, ele achou que era
melhor icar em Chapultepec, mesmo que tivesse que dar a volta na
cidade e mesmo que fosse longe. Ele pediu para icar naquela á rea; que
dali ele iria para Guadalupe no dia de sua recepçã o, a im de manter o
procedimento normal de tudo. ” Entã o foi combinado.396
Como podemos ver, embora o vice-rei nã o pudesse se hospedar em
Guadalupe, ele queria ir para lá para venerar o tilma sagrado de Juan
Diego .
Mais informaçõ es sobre a importâ ncia que o Santuá rio teve na
recepçã o dos vice-reis aparecem a seguir. Quando Filipe IV nomeou
Garcı́a Sarmiento de Sotomayor, Conde de Salvatierra,397 como vice-rei,
em 1º de julho de 1642, o governo da Cidade do Mé xico insistiu que “a
recepçã o e entrada dos vice-reis fosse na cidade de Guadalupe e nã o
em Chapultepec, como havia sido implantada recentemente”.398 E mais
tarde, Francisco Ferná ndez de la Cueva, Duque de Alburquerque,399 e
sua famı́lia foi despedida em 26 de março de 1661, pelo novo vice-rei e
sua esposa, bem no Santuá rio: “Os Condes de Banhos os
acompanharam para despedi-los na Ermida de Nossa Senhora de
Guadalupe”.400
A opiniã o de José Guadalupe Victoria merece ser tida em consideraçã o:
“A ideia de colocar cidades e vilas sob o patrocı́nio de uma santa ou da
Virgem, numa das suas defesas, era uma prá tica frequente no Ocidente
desde os tempos antigos. A Cidade do Mé xico nã o foi exceçã o e,
embora, muito depois da Conquista, contasse com vá rios santos
padroeiros, é signi icativo que, a partir de meados do sé culo XVII, a
Virgem de Guadalupe continuasse sendo considerada a mais
importante Padroeira. ”401
Em todas as celebraçõ es solenes, sermõ es eloqü entes també m foram
pregados. E importante destacar que, neste campo das pregaçõ es, os
Jesuı́tas foram grandes escritores e especialistas dedicados à devoçã o
de Nossa Senhora de Guadalupe, especialmente no perı́odo do sé culo
XVII ao XVIII. Como já assinalamos, em 1600 o Padre Juan de Tovar, SJ, já
havia incluı́do um belo sermã o em seu Sermonário ,402enquanto em
1611, Francisco Colı́n escreveu exaltando a obra realizada pelos
jesuı́tas, Labour evangélica, ministerios apostólicos de los obreros de la
Cia. de Jesús , fundación y progresos de su provincia en las Islas
Filipinas [ Trabalho Evangélico, ministérios apostólicos dos
trabalhadores dos Jesuítas, fundação e progresso de sua Província nas
Ilhas Filipinas ] . Este manuscrito foi impresso por José Ferná ndez em
Madrid em 1663, e no capı́tulo 19, em uma de suas notas sobre a
Virgem de Guadalupe, ele se refere aos milagres que Ela havia realizado
nas Filipinas, nada menos!403
Como você pode ver, existem muitos e diferentes documentos histó ricos
que se referem a este grande evento de Guadalupan; certamente
existem muitos mais que existem, mas aqueles aqui mencionados
servem para dar uma idé ia da magnitude do Evento que marcou a
histó ria.

CAPÍTULO NOVE

A santidade de juan diego


Juan Diego foi um homem de sua é poca, uma é poca turbulenta; viveu
um momento de mudanças fundamentais; sua mudança pessoal, sua
conversã o ao cristianismo, foi, sem dú vida, a mudança mais importante
em sua vida. Nele se resumiu a educaçã o indı́gena que recebeu antes de
sua conversã o, bem como a mensagem salvadora do Evangelho,
recebendo a graça divina, alé m da eleiçã o direta para ser o humilde e
iel mensageiro de Nossa Senhora de Guadalupe.
Como vimos, Juan Diego era considerado por seus vizinhos como “um
ı́ndio muito bom e um cristã o muito bom”. A primeira parte, “um ı́ndio
muito bom”, teria bastado para classi icá -lo como virtuoso, embora nã o
no sentido completo da palavra que a Igreja lhe dá , mas sim no sentido
de algué m profundamente coerente. em seus princı́pios e
perseverantemente iel a eles até o heroı́smo. Vislumbramos o quã o
pró ximos os princı́pios que regiam a formaçã o indı́gena eram dos
cristã os. Alé m disso, sabemos que esta alma eleita recebeu o
sacramento do batismo, e temos a prova de sua conduta exemplar apó s
sua conversã o.
Certamente a cultura indı́gena era muito diferente da
espanhola; entretanto, nã o só os espanhó is, mas també m os indı́genas
perceberam que muitas coisas coincidiam ou eram muito
semelhantes. Essas semelhanças izeram com que os espanhó is
expressassem sua confusã o e, quando tentaram explicá -las, alguns
chegaram a dizer que provavelmente um antigo apó stolo havia
aparecido naquelas terras distantes do Novo Mundo e dado algumas
orientaçõ es religiosas que haviam sido preservadas, embora algumas
de suas expressõ es tenham mudado com o tempo. Por outro lado, os
indı́genas també m puderam apreciar que compartilharam com os
espanhó is certos princı́pios, como o amor a Deus acima de todas as
coisas, o amor ao pró ximo, a castidade, a penitê ncia, a vocaçã o de
sacri icar sua vida por Deus e pelo mundo. , ainda outros aspectos,
como oferecer o sangue e os coraçõ es de seus prisioneiros aos deuses,
eram totalmente contrá rios ao modo de pensar espanhol. Mas algo que
os indı́genas nã o podiam aceitar era a rejeiçã o total de seus valores
ancestrais, nem que todos os seus ancestrais estivessem no inferno,
embora estivessem dispostos a aceitar mais um deus, pois seria Jesus
Cristo; certamente eles nã o poderiam aceitar a destruiçã o de seus
deuses, suas crenças, seus templos, a tal ponto.
Acima de tudo, os indı́genas viviam a destruiçã o de sua cultura, de sua
religiã o, de seu povo; uma depressã o profunda, como vimos, tornou-se
comum. No entanto, Deus agiu como Frei Juan de Zumá rraga, chefe da
Igreja no Mé xico, o instou. E ele agiu de maneira inesperada, curando as
feridas das pessoas que nasceram das dores do parto.
Quer dizer, há quase cinco sé culos, e em circunstâ ncias totalmente
adversas, Deus realizou algo que nó s, depois do Concı́lio Vaticano II,
queremos aplicar em todos os anú ncios evangé licos, especialmente em
nossas missõ es.404 Ele pregou Jesus Cristo a partir da cultura do
ouvinte, o pregador se adaptando a eles e nã o ingindo que eles se
adaptaram, ou adotaram, sua cultura.
Agora pensamos que isso é muito ó bvio, mas na mentalidade daquela
é poca, era simplesmente impossı́vel. Educados e formados segundo
uma teologia medieval, e com a experiê ncia de ter podido recuperar sua
terra das mã os dos á rabes, que a possuı́am por quase oito sé culos, e
com a certeza de que eram os defensores de Cristo, os espanhó is os
missioná rios se consideravam em dı́vida com Seu poder
libertador. Foram assegurados pela Coroa dos Reis Cató licos que, na
â nsia de pureza de sangue, expulsaram tanto os á rabes como os judeus
de seu territó rio, sem se importar com a crise inanceira que isso
provocava, visto que seus olhos estavam postos em ser cavaleiros de
Deus, chamados a defender o catolicismo, que sofria os ataques dos
protestantes na Europa central com a força perturbadora de
Lutero. Para os missioná rios, em sua vocaçã o de encontrar uma vida
perfeita e em sua missã o constante de pregar Jesus Cristo, o Salvador
do mundo, e de batizar todos os pagã os, a ideia incisiva de que a
“Parusia” [o segundo Advento de Jesus Cristo], a segunda vinda de Jesus
Cristo sentado no trono a im de realizar o Juı́zo Final, era iminente. Era
simplesmente impossı́vel que os missioná rios e os bons cristã os jamais
pudessem imaginar a possibilidade de aceitar alguma parte do que
chamavam de idolatria.
E, por outro lado, a visã o indı́gena foi totalmente consagrada por seus
deuses, com a convicçã o de que seus sacrifı́cios eram vitais para que a
harmonia do cosmos continuasse e, assim, a humanidade
sobrevivesse. Com uma relaçã o total e completa com seus deuses e o
cosmos, seus deuses puderam continuar, graças aos coraçõ es e ao
sangue dos valiosos prisioneiros. Os indı́genas nã o podiam imaginar o
colapso que sofreria sua razã o de existir e, por isso, mergulharam em
uma depressã o tremenda, porque quando seus deuses morressem,
seria melhor se deixarem morrer. Era impossı́vel para eles aceitarem o
que estava acontecendo. Para os indı́genas a ideia de uma “nova
religiã o” era inconcebı́vel, pois, por de iniçã o, nada do que era novo
poderia ser verdadeiro, e muito menos tudo relacionado à essê ncia da
estabilidade, como é Deus. E isso, claro, estendia-se à questã o moral: se
verdadeiro é sinô nimo de estabilidade, nada que mude pode ser
verdadeiro, nem bom, tampouco, já que a estabilidade é també m a
garantia suprema de toda lei moral,405por essa razã o,
o Huehuetlamanitiliztli, "a Regra dos Anciõ es para a Vida", era
intocá vel,406e isso nã o foi apenas porque eles haviam decidido nã o
mudá -lo, mas porque era assim que as coisas eram essencialmente. O
que era tradicional, o que estava de acordo com o que sempre foi
ensinado e feito, era a ú nica coisa certa e a ú nica coisa certa. Yancuic,
novo, passou a ser sinô nimo nã o só de “falso”, mas també m de “imoral”
e, por conseguinte, o pró prio conceito de uma “nova” religiã o era para
eles, nesse sentido, també m contraditó rio nos mesmos termos.
As circunstâ ncias impossibilitaram a conversã o dos indı́genas, mas,
independentemente disso, nã o se pode negar que se converteram. Isso
se deveu em grande parte à mensagem, forte e direta, e ao mesmo
tempo terna e amorosa, que foi dada por Nossa Senhora de Guadalupe,
deixando um sinal de Sua presença em uma Imagem que aparece
no tilma de Juan Diego , um sinal que foi dado em busca da aprovaçã o
do bispo missioná rio, chefe da Igreja no Mé xico, Frei Juan de
Zumá rraga, para que izesse a vontade da Senhora do Cé u, erguendo um
templo para manifestar o amor de Deus. Essa imagem ainda está em
seu lugar, e alguns aspectos de sua composiçã o e preservaçã o ainda sã o
um desa io para a ciê ncia humana; mas mesmo que assim nã o fosse, o
que é verdadeiramente inexplicá vel e, por conseguinte, o que é mais
convincente, é que hoje um teó logo encontra tantas maravilhas de
enculturaçã o e sı́ntese teoló gica, tã o superiores naquela é poca que nem
hoje serı́amos capazes de para reproduzi-los.
Este é o argumento sobre o qual o atual arcebispo do Mé xico, Norberto
Rivera, nos oferece sua re lexã o: “Quem penetra na profundidade já
feita desta nossa histó ria, deve se perguntar: Como poderı́amos existir
se o seu amor materno nã o tivesse reconciliado e unido o antagonismo
de nossos pais espanhó is e indı́genas? Como nossos ancestrais
indı́genas poderiam ter aceitado a Cristo se Ela nã o tivesse
complementado o que os missioná rios haviam pregado, explicando-o
de forma magistralmente adaptada, de acordo com sua mentalidade e
sua cultura? ”407
E totalmente verdade que “a esmagadora piedade indı́gena e sua busca
pela segurança có smica e metafı́sica foi o que os levou a um culto tã o
sangrento que horrorizou os nã o muito delicados espanhó is,
convencendo-os de que estavam diante da mais abominá vel possessã o
diabó lica coletiva da histó ria, o que os fez abrir mã o de qualquer
possibilidade de entendimento ou diá logo, mesmo sem ter pretendido
fazê -lo. Observe que isso teria sido o su iciente para criar um problema
insolú vel para sua evangelizaçã o. ”408
Embora os indı́genas estivessem convencidos de que a divindade era
está vel, eles també m sabiam da fragilidade mutante da
humanidade; nesse aspecto tinham alguma aproximaçã o da crença
cató lica que contemplava os valores divinos como irremovı́veis, mas,
ao mesmo tempo, entendendo que para o homem limitado é
impossı́vel conhecê -los e compreendê -los completamente. Entã o, eles
estavam dispostos a desenvolver, melhorar, sua religiã o, mas nunca
mudá -la, pois “em relaçã o aos nossos deuses, antes morreremos do
que deixar seu serviço e adoraçã o”.409
Isso representava um problema real e insolú vel para a Evangelizaçã o,
uma vez que nenhum missioná rio espanhol do sé culo XVI, cuja rı́gida
ortodoxia nã o se afastou nem mesmo dos piores extremos
inquisitoriais, jamais aceitaria propor o Cristianismo como algo
diferente de radicalmente novo, diverso e oposto, e ainda mais, como
incompatı́veis com sua cultura “diabó lica”. Essa proposiçã o nã o era
aceitá vel, nã o só nos sentimentos indı́genas, mas també m em suas
mentes.
A admiraçã o pelas coisas boas que inegavelmente estavam presentes
na cultura indı́gena se transformou em descon iança, e até se a irmou
que essas coisas eram aparentemente boas, pois acreditavam na forma
enganosa com que o demô nio disfarçava sua maldade. Por exemplo, o
muito compreensivo e tolerante Frei José de Acosta, SJ, em vez de
admirar que a religiosidade mexicana soubesse encontrar
convergê ncia com a alma humana mais profunda, ao adquirir rituais e
conceitos aná logos aos cristã os, comentou no capı́tulo 11 de seu livro
“Como o diabo tentou se assemelhar a Deus na forma de sacrifı́cios,
religiã o e sacramentos. . . di icilmente há algo que Jesus Cristo, Nosso
Deus e Senhor, tenha instituı́do em Sua Lei do Evangelho, que o Diabo
nã o tenha de alguma forma complicado e transmitido aos gentios
”.410 Com isso, nã o pensava que Deus tivesse visto o indı́gena se render
de boa fé , mas, segundo ele, Sataná s tinha conseguido enganar e
subjugar suas vı́timas, como expressou Frei José de Acosta: “E
realmente incrı́vel que o a falsa opiniã o religiosa pode fazer tanto por
esses meninos e meninas do Mé xico que, com tal severidade, eles
podem fazer a serviço de Sataná s o que muitos de nó s nã o fazemos a
serviço de Deus, o Altı́ssimo. ”411
Vemos esse problema hoje, mas ningué m viu, ou mesmo imaginou; no
entanto, existia e era importante entã o como hoje. Como sempre, foi e é
totalmente real, pois como disse o Papa Joã o Paulo II em 1986, nã o
pode haver verdadeira Evangelizaçã o se a cultura nã o for
evangelizada. O Santo Padre disse,
A cultura, demanda tipicamente humana, é um dos elementos
fundamentais que constituem a identidade das pessoas. E a expressã o
completa de sua realidade vital e a cobre totalmente: valores,
estruturas, pessoas. Por isso, a evangelizaçã o de uma cultura é a forma
mais radical, global e profunda de evangelizar as pessoas ... A cultura
implica e exige uma “visã o integral do homem” compreendida na
totalidade das suas capacidades morais e espirituais, na plenitude de
sua vocaçã o. E aqui que está a conexã o profunda, “a relaçã o orgâ nica e
construtiva” que une a cultura humana à cultura cristã ; a fé oferece a
visã o profunda do homem de que a cultura precisa; alé m disso,
somente na fé algué m pode encontrar nutriçã o e inspiraçã o
de initivas. Mas a conexã o entre fé e cultura atua em diversas direçõ es,
també m. A fé nã o é uma realidade eté rea e externa da histó ria, que num
ato de pura liberdade, oferece sua luz à cultura, permanecendo
indiferente a ela. Ao contrá rio, a fé se vive na realidade concreta e se
concretiza nela e por meio dela. A sı́ntese entre cultura e fé nã o é
apenas uma exigê ncia da cultura, mas també m da fé . Uma fé que nã o se
torna cultura é uma fé que nã o está totalmente arraigada, nã o é
completamente pesada, nã o é vivida com idelidade. A fé compromete o
homem na totalidade de seu ser e de suas aspiraçõ es. Uma fé situada
fora do humano e, portanto, do cultural, seria uma fé desleal à plenitude
de tudo o que a Palavra de Deus manifesta e revela, uma fé decapitada,
ou melhor, uma fé em processo de dissoluçã o. A fé , mesmo quando
transcende a cultura e pelo mesmo ato, transcende e revela o destino
eterno do homem, cria e gera cultura.412
E verdade que a incompreensã o dos homens pode ser superada por um
verdadeiro testemunho de caridade, e isso será sempre um argumento
su iciente para entender a religiã o que motiva esse modo de ser e de
agir. No caso do Mé xico, poré m, foi extremamente difı́cil, porque se
fosse verdade que os primeiros missioná rios eram santos e deram seu
excelente testemunho, nã o o foi alguns outros espanhó is, cujos abusos
se multiplicaram, como vimos nas declaraçõ es de Juan de Zumá rraga , o
bispo do Mé xico, e em tantos outros documentos onde deram
testemunho desses abusos. Por exemplo, Fernando de Alva Ixtlilxó chitl
refere-se a ele, dizendo:
Com certeza Corté s e os outros conquistadores izeram grande coisa ao
implantar a lei do Evangelho neste novo mundo, porque os espanhó is
cometeram crueldades e coisas referidas nesta histó ria e tudo o mais
que se escreveu ... Li muitos autores que se referem a tiranias e
crueldades em outras naçõ es, e nenhuma delas, e todos sã o obra e
terrı́vel escravidã o dos nativos, que dizem que prefeririam ser
marcados como escravos do que viver da maneira que agora tê m de
viver viver, desta maneira. Os espanhó is que os tratam mal deveriam
ter pena deles, pelo menos por razõ es econô micas. O infortú nio dos
escravos é tal que se um deles tropeça, cai e se machuca, ica feliz
porque nã o precisa mais trabalhar para os espanhó is.413
E ló gico que o indı́gena pensasse “Se você chamar esses cristã os,
vivendo como eles e fazendo o que fazem, eu quero ser indı́gena, como
você me chama, e nã o quero ser cristã o”.414
Por outro lado, os bons frades missioná rios estavam convencidos de
que seu dever de bons padres e bons cristã os era destruir os enganos
do demô nio que se apoderou dos ı́ndios, de sua cultura e
religiã o. Recorde-se, como exemplo entre tantos, o que Frei Diego
Durá n e Frei Bernardino de Sahagú n proclamaram abertamente ao inal
de seus escritos:
Decidimos assumir esta ocupaçã o, leitor cristã o, de colocar por escrito
as velhas idolatrias e falsa religiã o com que o diabo era servido antes
que o Santo Evangelho fosse pregado por aqui, entendendo que nó s,
que ensinamos a doutrina aos indı́genas, iremos nunca acabe de
ensiná -los a conhecer o Deus verdadeiro, se primeiro as superstiçõ es,
cerimô nias e falsos cultos aos falsos deuses que eles adoram nã o forem
totalmente extirpados e apagados de sua memó ria, assim como nã o é
possı́vel plantar trigo e frutos no terreno montanhoso, cheio de
arbustos e ervas daninhas, que produziu naturalmente, se todas as
raı́zes e caules nã o forem primeiro removidos ... Nunca seremos
capazes de fazê -los conhecer verdadeiramente a Deus enquanto nã o
tivermos arrancado das raı́zes tudo o que cheira como a velha religiã o
de seus ancestrais.415
Ele vai mais longe quando a irma que “se os espanhó is, que cometeram
as grandes crueldades e atrocidades que cometeram matando homens,
mulheres e crianças, matassem todos os homens e mulheres que
encontrassem, para que os nascidos depois disso nã o soubessem sobre
os velhos costumes, talvez fosse um pecado mais remissı́vel e
crueldade, se feito no zelo por Deus. ”416E Frei Bernardino de Sahagú n,
por sua vez, a irmava que “O mé dico nã o pode prescrever corretamente
os remé dios ao paciente sem antes saber a causa da doença ... Os
pecados das idolatrias e dos rituais idó latras, e as superstiçõ es e
pressá gios idó latras, e abluçõ es e cerimô nias idó latras nã o
desapareceram completamente. Para pregar contra essas coisas, e
saber se ainda existem, é necessá rio saber como eram feitas na é poca
de sua idolatria ”.417
Em poucas palavras, poderı́amos resumir que a Evangelizaçã o, na
perspectiva indı́gena, teria sido absolutamente inı́qua e inaceitá vel
porque o comportamento dos cristã os laicos, que os atacavam e
exploravam, era um genocı́dio, e o comportamento dos missioná rios,
quem os defendeu e protegeu, mas que tentou privá -los de sua cultura,
foi um etnocı́dio. No entanto, o amor divino pode colocar alguns
escolhidos em situaçõ es limitadas, nas quais a Sua Graça os faz viver
aquela fé , embora lhes peça que renunciem e sacri iquem precisamente
aquilo que mais amam, como foi o caso de Abraã o, cuja idelidade Ele
provou. pedindo-lhe para matar seu ú nico ilho e, ao mesmo tempo,
continuar con iando que Ele lhe daria milhõ es de descendentes. Hoje
podemos ver que tal foi o caso de Juan Diego, uma alma sensı́vel que de
alguma forma entendeu que Deus estava lhe oferecendo o presente
ú ltimo: ser seu ilho. Ele descobriu que nã o havia oposiçã o entre sua
cultura e sua fé , e ele “foi onde seus ancestrais, seus avó s diziam, na
terra das lores”, e ele foi capaz de ser um instrumento que seus irmã os
indı́genas entenderiam e aceitariam .
Somos todos benfeitores e devedores da fé de Abraã o, e todo o Mé xico
é de Juan Diego. Se nos lembrarmos que “a sı́ntese entre cultura e fé
nã o é apenas uma exigê ncia da cultura, mas també m da fé , que uma fé
situada fora do humano e, portanto, fora da cultura, seria uma fé desleal
à plenitude do aquilo que a Palavra de Deus manifesta e revela,
”418poderı́amos nos perguntar: como poderia ser possı́vel a
evangelizaçã o “mais radical e global” entre pessoas cuja cultura era a
sua religiã o? Como iriam ser evangelizados por outras pessoas que nã o
entendiam nem podiam compreender aquela cultura, e que de modo
algum aspiravam a compreendê -la, mas antes a destruı́-la, se Deus, por
meio de sua Mã e, nã o tivesse contado com a colaboraçã o heró ica de
este profeta intermediá rio? Como poderı́amos existir se Seu amor
maternal nã o tivesse reconciliado e unido o antagonismo de nossos
pais espanhó is e indı́genas? Como nossos ancestrais indı́genas
poderiam ter aceitado a Cristo se Ela nã o tivesse complementado o que
os missioná rios haviam pregado a eles, explicando e magistralmente se
adaptando à sua mentalidade e à sua cultura, que Ela era '“a Mã e do
Deus Verdadeiro, por Quem vivemos , e Quem é o Criador das pessoas e
o Dono do que está pró ximo e do que está pró ximo, do Cé u e da Terra ',
e que Ela també m era a Virgem perfeita, a amá vel e maravilhosa Mã e de
Nosso Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo? ”419
Levando em conta os antecedentes e o contexto no momento em que se
deu o encontro entre a Virgem de Guadalupe e Juan Diego, expresso
com autoridade em Nican Mopohua, percebemos a pureza teoló gica do
Evento, que é um prodı́gio de inculturizaçã o do Evangelho. para a
mente indı́gena, e um forte apelo à conversã o para o coraçã o espanhol.
Como dissemos, Maria de Guadalupe deixa inequivocamente claro para
os ı́ndios, nã o que Ela é a mã e de um deus, mas a Mã e de Deus, do seu
Deus, a quem sempre amaram e veneraram atravé s de todos os seus
deuses. Longe de exigir “desprezar e odiar, acabar com, abominar,
cuspir” todo o seu mundo religioso, ela o assume e usa para
compartilhar o seu pró prio mundo, um conceito teoló gico que nã o está
bem expresso até o Vaticano II. Conselho, e isso, mesmo agora, é difı́cil
igualar. A evidê ncia de natureza histó rica é inegá vel, na medida em que
Ela, respeitando sua fé , torna fá cil para quem tem a Graça de ter fé
aceitar naturalmente todo o resto. E Juan Diego, um humilde ı́ndio,
quem corrobora algo totalmente verdadeiro e real, como sã o as
consequê ncias deste evento. Juan Diego, um recé m-convertido, torna-se
evangelista neste Novo Mundo, apresentando-se perante a hierarquia
eclesial, Juan de Zumá rraga, com a mensagem da Mã e de Deus,
pedindo-lhe que construa um templo para mostrar e doar o amor de
Deus. mentalidade e teologia medievais no inı́cio do sé culo XVI, era
seguramente impensá vel que a um recé m-convertido, de con iança
duvidosa, fosse con iado um dos modelos mais extraordiná rios da
inculturaçã o imprevista do Evangelho.
Juan Diego foi uma iel testemunha da mensagem da Senhora do Cé u, a
Mã e de Deus, que desejou ter a honra de ser a Mã e de todos, como ela o
expressou. Que Deus é amor nã o era um conceito desconhecido para os
indı́genas, mas eles nã o imaginavam que o amor fosse tã o pró ximo e
incondicional, e muito menos que o homem é ilho e herdeiro de Deus,
graças a uma vida desenvolvida em virtudes, nã o centrada na tipo de
morte que os deuses podiam determinar de acordo com seus
caprichos. Para os indı́genas, a apresentaçã o dessa realidade nã o
poderia ser mais bela, mais direta e precisa do que por meio do amor
de mã e, conceito extremamente venerado pelos indı́genas; em uma
cultura onde o pai mais respeitado estava quase sempre ausente, em
uma sociedade polı́gama, com guerras contı́nuas para manter os
deuses vivos e para que a harmonia universal continuasse, sua
populaçã o masculina foi reduzida, de modo que havia mais mulheres
do que homens . Alé m disso, os meninos foram entregues aos
professores disciplinares nos Tepochcalli ou Calmecac escolas em tenra
idade, para que a imagem que foi melhor integrado como um arqué tipo
de ternura e proteçã o, e, como consequê ncia, a autoridade e governo,
era a mã e. Alé m disso, as autoridades masculinas eram continuamente
comparadas a uma mã e, e a linguagem que elas mesmas usavam era
nitidamente maternal. Um verdadeiro soberano era um “pai e mã e”
para seus sú ditos, e nã o poderia ser de outra forma. Frei Diego Durá n
resume a imagem de um governante: “uma luminá ria que nos ilumina
como um raio de sol, e um espelho onde todos nos vemos, uma mã e
que nos leva ao colo e um pai que nos carrega nos ombros, um senhor
que governa e governa o domı́nio mexicano, e é ajuda e refú gio para os
pobres, os ó rfã os e as viú vas, e tem compaixã o daqueles que procuram
dia e noite nas colinas e fendas em busca de alimento. ”420
Entre os indı́genas, a imagem e os conceitos de uma boa mã e eram que
“a mã e virtuosa é vigilante, leve, vigilante, solı́cita, cuidadosa; cria os
ilhos, cuida deles continuamente, zela para que nã o precisem de nada,
dá presentes, é como uma escrava de todos os que estã o em sua casa,
preocupa-se com as necessidades de cada um, nã o descura nada do
necessá rio na casa dela. ”421Mas, ao mesmo tempo, ela deve ser
rigorosa e exigente para que seu ilho amadureça em vida. Juan Diego
viu tudo isso precisamente em Santa Maria de Guadalupe, sua
“menininha”, sua “menina”; Santı́ssima Maria manifestou-se a ele como
desejosa de pô r o amor em prá tica. Por um lado, declarando que Ela
queria resolver os problemas humanos “porque Eu sou
verdadeiramente sua Mã e compassiva, sua e de todos os que sã o um
nesta terra, e o resto de suas geraçõ es, Meus amados, aqueles que
clamam por Mim, aqueles que Me procuram, aqueles que con iam em
Mim, porque Eu ouvirei o seu clamor, a sua tristeza, para remediar, para
curar todas as suas diferentes a liçõ es, suas misé rias e suas dores
”.422 e de maneira complementar, por outro lado, Ela exigia: “E eu te
imploro, meu ilho mais novo, e ordeno com rigor, que vá amanhã
novamente para ver o Bispo”.423
Acreditar é sempre um privilé gio totalmente gratuito. Nã o podemos
pedir fé a quem nã o a recebeu como um presente do Altı́ssimo. Mas
podemos e devemos discutir as razõ es, e nã o é razoá vel supor que, no
sé culo XVI, mesmo o mais brilhante entendimento humano pudesse ter
integrado as “crenças indı́genas” com as “crenças europeias”. Por isso,
o Evento Guadalupano expresso no Nican Mopohua nã o é uma narraçã o
teatral, “cheia de anacronismos, mentiras, contradiçõ es e erros
mitoló gicos e idó latras; em uma palavra, que é uma comé dia, romance
ou auto-sacramento, à moda da é poca ”,424 nem apenas uma
“Catequese ou representaçã o teatral em quatro atos, com introduçã o
no morro com o canto dos passarinhos, com as gotas d'á gua parecendo
diamantes”.425E a narraçã o de um fato real que abarca essas culturas,
tã o distintas em si mesmas, dando-lhes os princı́pios de uma teologia
que só depois do Concı́lio Vaticano II eram evidentes. Prova-o
analisando, como vimos, vá rias fontes histó ricas que coincidem entre
si e nos mostram a verdadeira histó ria do Evento.
Já vimos que Mendieta reconhecia a fé em um só Deus em todos os
ı́ndios, mas culpava os ı́ndios por tê -la corrompido. Poderı́amos pensar
que esse mal-entendido era apenas algo particular daquela é poca, mas
quatro sé culos depois, ainda se acredita. E o que a irma o historiador
jesuı́ta Mariano Cuevas, que a irmou no sé culo XX que a
Cará ter, disposiçõ es intelectuais, valores, leis, riqueza, e tudo o que os
habitantes de Aná huac possuı́am foram profundamente corrompidos,
porque tudo estava impregnado de sua falsa religiã o, um pecado
imenso e contı́nuo que di icilmente se pode desculpar em qualquer dos
adultos que o professavam , que ia contra todas as tendê ncias
espirituais e corporais de cada um deles. Junto com outros autores,
Mendieta diz, e acreditamos, que eles sabiam do Deus verdadeiro e
para se referir a Ele tinham uma palavra pró pria. Isso era ainda pior
para eles, porque conhecendo-O, nã o O adoravam, mas caı́am na mais
humilhante e exagerada idolatria. ... Suas teogonias pareciam pesadelos
sangrentos, terrı́veis e sujos. A imagem de seu povo idolatrador e
degradado é instintivamente rejeitada como fantasia, pois icamos
corados ao pensar que nossos bons ı́ndios teriam tido tais
ancestrais.426
Mas tais conceitos eram o que habitualmente se conhecia e se
acreditava sobre o mundo indı́gena no nı́vel religioso e cultural do
Mé xico da é poca.427
Podemos, portanto, provar o quanto ainda podemos aprender sobre a
pedagogia maravilhosa e amorosa do evento Guadalupan, o quanto a
Igreja e o mundo ainda podem se bene iciar do obediente e humilde
Juan Diego, a quem podemos e devemos reconhecer como um
verdadeiro evangelista de Guadalupe, que com sua vida de santidade
marcou a histó ria.
Porque Juan Diego era real, e se submeteu verdadeiramente como
instrumento dó cil do amor de Deus por meio de sua Mã e, o mundo
indı́gena se converteu em um instante, correu em multidõ es para pedir
o batismo, como vimos escrito nos depoimentos dos missioná rios. eles
pró prios, e é por isso que nó s, os mexicanos, nascemos aı́, levando no
sangue a gló ria de ambas as raças. Este foi um grande milagre, nã o
má gica: Ela dissipou todas as dú vidas dos indı́genas e os reconciliou
com os espanhó is, mas nã o converteu nenhum dos dois, nem nó s, seus
descendentes, em santos ou estudiosos da nova lei, porque devemos
alcançá -lo pouco a pouco, com esforço e doando-nos. Nem nos autoriza
a nos gabar de sermos favoritos de Deus; antes, pelo contrá rio, nos
obriga a partilhar este tesouro com todos os homens, nossos irmã os,
porque «quem muito recebe, muito se pede» (Lc 12,48).

CAPÍTULO DEZ

Um Compromisso com o Mundo Inteiro


Ainda que passem quase cinco sé culos depois do acontecimento de
Guadalupan, hoje se revela como algo maravilhoso, perfeitamente
adequado à s necessidades de uma é poca que deseja obter a paz, para
que todos os homens possam crescer em harmonia, compartilhando as
riquezas das nossas culturas ancestrais. E isso, que hoje parece
impossı́vel, já aconteceu no paı́s onde nascemos. Para compartilhar
esta riqueza, devemos primeiro conhecê -la, e é tã o original que exige
esforço, como a irma Dom Norberto Rivera: “Este conhecimento, parte
dele tã o novo que ainda é desconhecido, mesmo entre os padres
mexicanos, é nã o uma exclusividade esoté rica de algumas pessoas
iniciadas; está ao alcance de todos os que se esforçarem por estudá -lo
... Agora, por este motivo, foram publicados vá rios livros, que estã o ao
alcance de todos e que nã o hesito em recomendar como sé rios e bem. -
escrito, que narre e divulgue o que foi feito, como foi feito e todo o
conhecimento valioso e inesperado que foi descoberto. ”428
O Acontecimento Guadalupano, na sua grande e profunda dimensã o,
convida-nos a conhecê -lo cada vez mais e melhor, e da mesma forma, a
difundi-lo, pois nos conferiu a distinçã o imerecida de nos fazer, por
meio de Sua Santı́ssima Mã e, “Seus embaixadores, em quem depositou
absolutamente a sua con iança ”, para dar ao mundo o nosso
testemunho do amor de Deus.
E um fato vivido pelo povo, a partir da fé dos simples e humildes. Foram
as pessoas simples que espalharam o grande evento Guadalupano por
toda parte, por meio de sua arte, có dices, escritos, testemunhos,
legados, ofertas, esmolas, peregrinaçõ es e, principalmente,
testemunhos de conversõ es. Isso enriqueceu a tradiçã o oral. A narraçã o
do evento Guadalupan foi transmitida pela memó ria caracterı́stica dos
indı́genas, tradiçã o que foi passada de pais para ilhos, de avó s para
netos.
Uma dessas narraçõ es singulares, que se transmitiu de geraçã o em
geraçã o, que reú ne os incidentes mais essenciais e belos do
Acontecimento de Guadalupe e em que Juan Diego é denominado “um
dos nossos”, ainda se ouve em Zozocolco, Veracruz, a pequena cidade
perdida nas montanhas entre Papantla e Poza Rica, seis horas nas
montanhas. O padre Ismael Olmedo Casas, em 12 de dezembro de 1995,
teve a ideia de perguntar aos ié is indı́genas qual o motivo da festa,
antes de pregar ele mesmo:
Bom dia, Grandes Chefes! Queremos que nos fale sobre a Virgem de
Guadalupe. Hoje é a festa da Virgem de Guadalupe.
Senhor sacerdote, principal servo das coisas sagradas, bom dia!
Vou lhe contar o que ouvimos dos é lderes, nossos avó s. Muitas Pá scoas
[festas] de Sã o Miguel atrá s, quase 1.000 safras atrá s [duas por ano],
quase 500 voos do Pó lo Voador [um voo por ano durante uma festa],
aconteceu lá , no centro, de onde nos mandavam . Eramos servos do
Grande Senhor Imperador, que se vestia com roupas inas e belas penas,
e oferecia ao Bom Deus do povo o que a terra produzia e o sangue de
seus ilhos para que a ordem da vida continuasse. Homens com cabelos
de sol chegaram, e já sabı́amos da chegada deles. Mas nã o esperá vamos
esses maus tratos da parte deles, porque pensá vamos que fossem
enviados pelos anjos. E eles apenas trouxeram sujeira, doença,
destruiçã o, morte e mentiras. Eles falaram conosco sobre um Deus que
amavam, mas eles, com suas vidas, odiavam.
O povo já estava cansado, quando, em uma manhã escura do forte meio
da colheita do café [meados de dezembro], o Espı́rito Santo de Deus deu
a um dos nossos uma mensagem do cé u. Como dizia o Grande Livro
[o Popol Vuh ] de nossos irmã os, os Maias, o homem se comportou mal
e o Grande Deus enviaria algué m para refazer o homem do milho.
O Grande Livro dos Espanhó is [a Bı́blia] també m diz que depois que o
homem destruiu a harmonia que existia no Universo, manifestada no
vô o perfeito do Flyer, ele mereceu a vida sem felicidade, mas Deus
prometeu que algué m nascido de nossa raça, um mulher, nos devolveria
um sorriso na cara, Ela tiraria o mecapal com a nossa carga na pior
ladeira, e terı́amos festas por dias inteiros, sem im [vida eterna].
No morro de Aná huac apareceu um sinal do Cé u, assim diriam os
caciques, onde pousa a maçã do Voador: uma mulher de grande
importâ ncia, mais do que os pró prios imperadores, que, embora seja
mulher, Seu poder é tal que Ela está diante do Sol, nossa doadora de
vida, e Ela pisa na Lua, que é nosso guia na luta pela Luz, e Ela se veste
com as Estrelas, que sã o as que regem nossa existê ncia e nos dizem
quando devemos semear, arar e colher.
Esta mulher é importante, porque está diante do Sol, pisa na Lua e se
veste com as Estrelas, mas Seu rosto diz que há algué m maior do que
Ela, porque está olhando para baixo, em um gesto de respeito.
Nossos presbı́teros ofereceriam coraçõ es a Deus para que houvesse
harmonia na vida. Esta mulher diz que sem arrancá -los [do coraçã o],
coloque-os em Suas mã os, a im de apresentá -los ao Deus verdadeiro.
Os trê s vulcõ es emergem de Suas mã os, e sobre Seu peito, os que fazem
fronteira com Aná huac e aquele que viu a chegada de nossos
conquistadores, que para Ela devem ser considerados como uma nova
raça, por isso Seu rosto nã o é igual ao deles nem igual. nosso, mas como
ambos. Na sua tú nica se pinta todo o vale do Mé xico e centra a atençã o
no ventre daquela Senhora, que, com a alegria de uma festa, dança
porque nos dará o Seu Filho, para que com a harmonia do anjo que
segura o Cé u e Terra [manto e tú nica] uma nova vida vai nascer. Isso é o
que recebemos de nossos mais velhos, nossos avó s, que nossa vida nã o
vai acabar, mas eles tê m um novo signi icado, e como diz o Grande Livro
dos Espanhó is [a Bı́blia], um sinal apareceu no cé u, uma mulher vestida
com o Sol, com a Lua a Seus pé s e uma coroa de estrelas, e está prestes
a dar à luz.
E isso que hoje celebramos, senhor sacerdote: a chegada deste sinal de
unidade, de harmonia, de vida nova.429
O Santo Padre Joã o Paulo II compreendeu e transmitiu també m com
grande força a importâ ncia da mensagem de Guadalupe comunicada
por Sã o Juan Diego e con irmou a perfeita Evangelizaçã o que nos foi
dada por Nossa Mã e, Maria de Guadalupe. O papa declarou que “a
Amé rica, que historicamente tem sido um caldeirã o de pessoas,
reconheceu 'no semblante mestiço da Virgem de Tepeyac'. . . em Santa
Maria de Guadalupe,. . . um grande exemplo de Evangelizaçã o,
perfeitamente inculturado. Por isso, nã o só no centro e no sul, mas
també m no norte do continente, a Virgem de Guadalupe é venerada
como Rainha de toda a Amé rica ”.430O Santo Padre rea irmou també m a
força e a ternura da mensagem de Deus por meio da Estrela da
Evangelizaçã o, Maria de Guadalupe, do Seu iel, humilde e verdadeiro
mensageiro, Juan Diego. O Santo Padre disse que “As Apariçõ es de
Maria ao Indı́gena Juan Diego no morro do Tepeyac, no ano de 1531,
tiveram uma repercussã o decisiva para a Evangelizaçã o. Esta in luê ncia
ultrapassa as fronteiras do Mé xico, atingindo todo o continente. “431
Juan Diego continua espalhando por todo o mundo o grande
acontecimento Guadalupano, uma grande mensagem de paz, unidade e
amor, que continua sendo transmitida por cada um de nó s,
transformando nossa pobre histó ria de humanidade, cheia de tragé dias,
traiçõ es, divisõ es, ó dios e guerras numa histó ria maravilhosa de
salvaçã o, cheia de esperança, porque no centro da Imagem Sagrada, no
centro do acontecimento de Guadalupan, no centro do pró prio coraçã o
da Santı́ssima Virgem Maria de Guadalupe, Jesus Cristo, nosso Salvador,
foi encontrado. E somente Ela, a Mã e de Deus, nossa Mã e, que nos
apresenta Seu Filho Jesus Cristo; Ela O traz a nó s, Ela O entrega a nó s,
entre lores e cantores, envolto no sol, vestido de estrelas, pisando na
lua, entre nevoeiros e nuvens, como o grande Tesouro que vem do
invisı́vel e que se torna visı́vel nela. E Ela que escolheu um humilde
Indı́gena, Juan Diego, que há pouco tinha abraçado a fé , Ela que nos
convida a abraçar o nosso Deus e Senhor.
Juan Diego cumpre plenamente o seu papel de intercessor e de modelo
de santidade, pois cada um de nó s que contempla a Imagem e a
mensagem de Nossa Senhora de Guadalupe é levado ao Amor de Deus,
por isso estamos dispostos, como outros. “Juan Diegos”, para tratar a
Mã e de Deus como nossa Mã e, nossa menininha do cé u.

CAPÍTULO ONZE

Papa João Paulo II canoniza São Juan Diego


Em 18 de dezembro de 2001, foi anunciado que se realizaria a
Proclamaçã o do Decreto sobre o Milagre realizado por Deus por
intercessã o de Juan Diego. Isso signi icou a aprovaçã o de todo o
processo de canonizaçã o desse humilde ı́ndio, celebrado por muitos
anos até agora.
Assim, em 20 de dezembro de 2001, o Decreto para o Milagre foi
proclamado perante o Santo Padre Joã o Paulo II. Este Grande Evento
aconteceu no Clementine Hall, na Cidade do Vaticano, onde muitos
cardeais e bispos estavam reunidos. Estiveram presentes o cardeal
Norberto Rivera e també m o cardeal Javier Lozano Barragá n,
Mons. Cipriano Calderó n, assim como P. Fidel Gonzá lez, que fez parte da
Comissã o Histó rica de Sã o Juan Diego, e eu. Eu era nomeado Postulador
da Causa de Canonizaçã o de Sã o Juan Diego desde o dia 17 de maio
daquele ano.
O papa Joã o Paulo II foi convidado a voltar ao Mé xico para canonizar
Juan Diego - o cardeal Norberto Rivera e vá rios bispos mexicanos
izeram esse convite. Como Postulador, havia dito ao Santo Padre que
seria uma graça enorme, um dom incomensurá vel, para nosso povo,
que em sua grande maioria nã o pô de vir a Roma, se pudesse canonizar
Juan Diego em terras mexicanas, considerando que ele foi o primeiro
santo indı́gena do continente americano. No inı́cio de janeiro de 2002,
foi ouvido que era prová vel que o Santo Padre canonizasse Juan Diego
no Mé xico.
Em 23 de janeiro de 2002, entrevistei Valentina Alazraki na Praça Sã o
Pedro de Roma e pela primeira vez mostrei o documento do Decreto do
Milagre, assinado pelo Cardeal Saraiva e pelo Secretá rio da
Congregaçã o, Mons. Novak. Este foi um momento importante para pedir
unidade, harmonia e amor em nosso continente, para avançar com
justiça e para apelar à nossa grandeza como naçã o, podendo sempre ser
melhor.
Em Roma, em meados de fevereiro, estive presente no Consistorium. Na
terça-feira, 26 de fevereiro de 2002, na presença de 45 cardeais e 55
bispos, vá rios sacerdotes e religiosas, o Consistorium aconteceu no
Vaticano, novamente na Sala Clementina, onde foi proclamado o
Decreto do Milagre , e agora o Papa Joã o Paulo II declarou que
canonizaria o beato Juan Diego na Cidade do Mé xico em 30 de julho do
mesmo ano. No entanto, a data teve que ser alterada para 31 de julho
por razõ es prá ticas.
Com um enorme esforço de sua parte por causa de sua delicada saú de,
Joã o Paulo II quis ir até Tepeyac, no norte da Cidade do Mé xico,
justamente porque foi onde a Virgem de Guadalupe e Juan Diego
tiveram aquele maravilhoso encontro.
Quando foi con irmado que a canonizaçã o seria em Tepeyac, Mé xico, os
meses seguintes envolveram muito trabalho e organizaçã o e as
diferentes comissõ es trabalharam com grande entusiasmo. O cardeal
Norberto Rivera nomeou-me secretá rio executivo da quinta visita de
Sua Santidade Joã o Paulo II, uma grande honra e, ao mesmo tempo,
uma grande responsabilidade. O trabalho foi realizado com o espı́rito
de unidade e colaboraçã o que nossa naçã o demonstra nestes grandes
eventos. Mais uma vez o nosso povo manifestou a sua solidariedade
com a sua participaçã o a todos os nı́veis, desde as pessoas mais simples
aos grandes empresá rios, toda a nossa naçã o foi uma só voz e uma só
vontade em torno do Papa, Nossa Senhora de Guadalupe e Juan Diego.
Depois de uma viagem exaustiva, o papa chegou ao Canadá para um
encontro com os jovens. Esta foi a primeira parte de sua viagem. Depois
disso, foi à Guatemala para a canonizaçã o de Sã o Paulo de
Betancour. Em seguida, ele continuou durante a ú ltima parte da viagem
à Cidade do Mé xico para a canonizaçã o de Sã o Juan Diego.
No hangar presidencial foi recebido pelo presidente do Mé xico, Vicente
Fox, pelo cardeal Norberto Rivera, arcebispo do Mé xico, e por todo o
episcopado mexicano, bem como por milhares de pessoas que agitaram
bandeiras brancas e amarelas em sinal de boas-vindas . Uma orquestra
com crianças cantando lindas melodias, mais crianças e suas famı́lias
com presentes para o Santo Padre, discursos de boas-vindas e
agradecimento se seguiram, com sinais de afeto e respeito por quem já
nã o era um visitante do Mé xico, mas uma parte de uma naçã o que
gritou: “Joã o Paulo II, agora você é mexicano!”
Entre as palavras que o Santo Padre dirigiu ao povo mexicano que ali se
encontrava, bem como a tantos que o viam na televisã o e o ouviam na
rá dio, estava uma expressã o de Informaciones Jurídicas de
1666, expressã o utilizada pelos nossos antepassados quando
abençoaram os seus entes queridos e que agora sã o as mesmas
palavras do Santo Padre Joã o Paulo II para nos abençoar: “Que Deus vos
santi ique como Juan Diego”. Este foi um dos momentos mais
importantes e emocionantes. Estas palavras traziam uma missã o de
santi icaçã o, de uma responsabilidade de viver segundo o exemplo de
santidade de Sã o Juan Diego, palavras que agora tê m um grande e forte
signi icado, palavras de nossos ancestrais que agora ganham vida,
pronunciadas pelo representante e Vigá rio de Cristo entre nó s, dando a
essas palavras uma enorme força espiritual, aquela santidade à qual
todos somos chamados.
O grande apó stolo Sã o Paulo diz:
Louvado seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, por meio
Dele, nos abençoou do Cé u com todos os dons do Espı́rito. Deus nos
escolheu em Cristo antes que o mundo começasse a ser santo e
irrepreensı́vel, a ser cheio de amor; nos destinou desde toda a
eternidade a sermos Seus ilhos adotivos, por meio de Jesus Cristo - de
acordo com sua vontade e plano - para sermos um hino à Sua gloriosa
misericó rdia, que Ele derramou sobre nó s por meio de Seu Filho
amado, que, com Seu sangue, obteve por nos a liberdade, o perdã o dos
nossos pecados, para nos mostrar a sua in inita misericó rdia. E Ele o
derramou sobre nó s com grande sabedoria e inteligê ncia para nos
revelar Seu plano secreto, segundo a vontade e o desı́gnio que Ele tinha
para completar a histó ria em sua plenitude: fazer unidade por Cristo no
universo, no cé u e na terra. . (Ef 1: 3-10)
Vemos isso literalmente acontecer em nosso paı́s, com a “Estrela da
Evangelizaçã o”, como o Santo Padre chama a Virgem de Guadalupe, e
com Juan Diego, Seu humilde mensageiro que deu esta boa nova em
primeiro lugar à Igreja, em o tempo sob as ordens do Bispo Frei Juan de
Zumá rraga. Foi uma mensagem de santidade sob o carinho amoroso e a
direçã o maternal de Deus: “Faça tudo o que Ele te mandar”.
Depois de um merecido descanso, na manhã do dia 31 de julho, tudo
estava pronto para que o Papa percorresse as ruas desde a Nunciatura
Apostó lica até a Bası́lica de Nossa Senhora de Guadalupe em Tepeyac,
em seu “papamó vel” entre os aplausos de milhõ es de pessoas que o
esperaram dias para canonizar Juan Diego. Sua chegada ao á trio da
bası́lica emocionou a todos os que o esperavam desde o
amanhecer; lá grimas de emoçã o rolaram pelos rostos sombrios, as
aclamaçõ es, os cantos, as saudaçõ es misturadas aos chocalhos,
tambores e trombetas, tudo para tornar conhecida a alegria que o povo
sentiu ao seu papa ao voltar a sua casa.
O Santo Padre vestiu-se na sacristia que foi especialmente construı́da
para ele, e a cerimô nia iniciou-se com mú sica composta justamente
para esta grande festa.
Vendo e ouvindo o Santo Padre pudemos sentir e reviver o que o velho
sacerdote indı́gena dizia aos primeiros missioná rios franciscanos:
“Entre as nuvens, no nevoeiro, entre as imensas á guas, viestes. Vó s que
sois Seus olhos, vó s que sois Seus ouvidos, vó s que sois Seus lá bios,
dono do que está longe e perto. Aqui nó s, de alguma forma, vemos de
uma maneira humana, aqui falamos como a um humano, ao Doador da
Vida, que é noite e vento, tu é s a Sua imagem, o Seu representante. Por
isso nos reunimos, tomamos Seu fô lego, Sua palavra, do Senhor de
longe e de perto, que viestes trazer, que é o dono do mundo, o Senhor
da terra, que te enviou por nossa causa. Por esta razã o, icamos
maravilhados, realmente você veio trazer Seu livro, Sua pintura, a
palavra celestial, a palavra divina. ”432
No momento crucial da liturgia, o Cardeal Joseph Saraiva, Prefeito da
Congregaçã o para as Causas dos Santos, e eu como Postulador da Causa
de Canonizaçã o de Juan Diego, pedimos ao Santo Padre a canonizaçã o
de Juan Diego, um maravilhoso homem, modelo de santidade para todo
o mundo.
Entã o o Papa Joã o Paulo II pronunciou a fó rmula de canonizaçã o,
aquela “palavra divina”:
Em honra da Santı́ssima Trindade, pela exaltaçã o da fé cató lica e pelo
crescimento da vida cristã , com a autoridade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, dos Santos Apó stolos Pedro e Paulo, e nossos, depois de
longamente analisada, rezando muitas vezes, por ajuda divina e
ouvindo as opiniõ es de numerosos irmã os no Episcopado, a irmamos e
de inimos o beato JUAN DIEGO CUAUHTLATOATZIN como Santo, e o
inscrevemos no catá logo dos Santos, e o estabelecemos em toda a Igreja
que ele seja homenageado com devoçã o entre os santos. Em nome do
Pai e do Filho e do Espı́rito Santo. Um homem.
Verdadeiramente sentimos que, como diriam nossos antepassados,
com essas palavras fomos enriquecidos, que “ele deixou jades e sa iras
plantadas em nossos coraçõ es, que abriu seus baú s e baú s onde guarda
seus tesouros”.433
O primeiro indı́gena do continente americano a se tornar santo, Sã o
Juan Diego Cuauhtlatoatzin foi o protagonista e iel portador daquele
ú ltimo presente que o amor divino nos concedeu, o Evento
Guadalupano, que se tornou a ponte que uniu a cultura indı́gena à
cultura espanhola , duas naçõ es se confrontaram, e como a irmou o
Cardeal Norberto Rivera em sua Carta Pastoral de 25 de fevereiro de
2002, “tudo é o eixo religioso que dá uma nova coesã o e identidade, e
que leva à formaçã o de uma raça mestiça . Nesse contexto, Juan Diego
brilha como um dos protagonistas desta surpreendente sı́ntese: por
um lado, é um indı́gena entre seu povo com uma tradiçã o que veio de
ancestrais remotos e cuja presença no tempo era sinô nimo de
verdade; por outro lado, entra em contato com o mundo do “novo” que,
portanto, nã o tinha garantia de veracidade. No entanto, ele aprendeu a
falar com a fonte dos sı́mbolos espanhó is: a Virgem Maria e o fruto
bendito de seu ventre, Jesus. Ele assimilou de maneira excepcional,
numa experiê ncia religiosa que nos permite ver o poder da Graça neste
eleito. A histó ria das Apariçõ es é o testemunho de vida da e iciê ncia de
Maria como mestra de um evangelizador indı́gena laico ”434que,
colocando-se nas suas mã os maternas, soube ser “um elo entre o
antigo mundo nã o cristã o mexicano e a proposta missioná ria que veio
atravé s da mediaçã o da Espanha. Ele é o escolhido por Deus para o
encontro de Jesus Cristo com a cultura indı́gena, atravé s da intervençã o
de Maria ”.435
Verdadeiramente foi um momento histó rico quando o Santo Padre
reconheceu e con irmou que Sã o Juan Diego é um modelo de santidade
que entregou o dom da mensagem de Santa Maria de Guadalupe, uma
mensagem de amor, de unidade, de harmonia e de paz. , uma mensagem
que nos ajuda a entender que temos os primeiros indı́genas do
continente a serem reconhecidos como santos por interceder por nó s e,
principalmente, por viver essa mensagem.

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Mé xico 1919.
Índice

Abraham
Acevedo y Zú ñ iga, Gaspar
Acosta, José de
agricultura
Aguilar, Cristó bal de
Alarcó n, Gonzalo de
Alazraki, Valentina
Albornoz, Garcı́a de
Alcibar, José de
esmolas. Veja também legados
Alva Ixtlilxó chitl, Fernando de
Alvarez, Fernando de
Amé rica. Veja também a Amé rica Latina
Añalejo de Bartolache
Anales de Cuetlaxcoapan
Anales de la Catedral
Anales de los Sabios Tlaxcaltecas
Anales de Puebla e Tlaxcala
Anales de Tlaltelolco y México
anjo
Angulo, Nicolá s de
"Anuais,"
Annuae Literae
Anónimo B
Anónimo C,
Antonio Vallejo, Francisco
Arnaez, José Ventura
arte: devoçã o com; gravuras; Juan Diego em; medalhõ es; Nossa Senhora de
Guadalupe em; pintura; escultura; imagem tilma analisada
como; imagem tilma em; Zumá rraga, Juan de, em
Agostinho Santo
autores
ayate. Veja tilma
Baez, Francisco
batismo: apó s o evento de Guadalupan; dos povos indı́genas; de Juan
Diego; Ritual romano de. Veja também conversã o
Bartolache y Dı́az de Posadas, José Ignacio
Bası́lica de Nossa Senhora de Guadalupe. Veja também Igreja do Santuá rio de
Guadalupe; Eremité rio; tê mpora
Baudot, Georges
Becerra Tanco, Luis
Benedict
legados. Veja também esmolas
Bernardino, Juan
Betancourt, Luis Angel de
Boturini, Lorenzo
Bustamante, Francisco de
Cabrera, Miguel
Cal, Luis
Calderó n, Cipriano
Calmecac
Cananea, Isabel
Cananea, Justina
bengala
Cano Moctezuma, Diego
canonizaçã o
Cantares
Canto Mexicano
Cá rdenas Soto, Lucas de
Carlos V,
Catolicismo. Veja também o Cristianismo
Cepeda, Juan de
Cervantes de Salazar, Francisco
castidade
Chá vez, Eduardo
parto
crianças
Chimalpopoca, Galiza
cristandade
igrejas
Igreja da Bem-Aventurada Virgem Maria de Guadalupe. Ver Hermitage
Igreja do Santuá rio de Guadalupe. Veja também a Bası́lica de Nossa Senhora de
Guadalupe; Eremité rio; tê mpora
Cicero
Cisneros, Diego de
Cisneros, Luis de
clero. Veja missioná rios; clero secular
imagens de nuvem
Coatlicue Tonantzin
Códice Gómez de Orozco
Colı́n, Francisco
Igreja Colegial de Guadalupe
Colorado, José
Conferencia del Episcopado Latinoamericano (CELAM)
con issã o
confrarias
Congregaçã o para as Causas dos Santos
conquista: conversã o e; evangelizaçã o e; Evento e Guadalupan; Nossa Senhora
de Guadalupe e; Zumá rraga, Juan de, e
Conrado Thomas
Contreras, Marcial de
conversã o: anjo e; conquista e; apó s o evento Guadalupan; idolatria e; dos
povos indı́genas, em geral; de Juan Diego; Motolinia, Toribio
e; imagem tilma e. Veja também batismo; missioná rios
Corripio, Cardeal Ernesto
Corté s, Herná n
Conselho das Indias
Cristo ana de
Cuauhtlatoatzin. Veja também Juan Diego, Saint
Cuauhxicalli
Cuebas y Dá valos, Miguel de
Cuevas, Mariano
Cuevas y Dá valos, Alonso
cultura
mã o morta
morte
devoçã o: com arte; em legados; na Igreja do Santuá rio de
Guadalupe; disseminaçã o geográ ica de; em Hermitage; como idolatria; dos
povos indı́genas; para Juan Diego; missioná rios e; a Nossa Senhora de
Guadalupe; raça e; clero secular e; vice-reis e. Veja também intercessã o; serviço
diá logo
Dı́az del Castillo, Bernal
doaçõ es. Veja esmolas; legados
tambor
boca seca
Durá n, Diego de
Aguia
Echave, Baltasar de
Educaçã o
anciã os
Regra dos anciã os para a vida
El Encuentro de la Virgen de Guadalupe e Juan Diego (Chá vez et al.)
Elizondo, Virgilio
gravuras
Enrı́quez de Almanza, Martı́n
Episcopado do Mé xico
Comissã o Episcopal de Educaçã o e Cultura do Mé xico
Estrella del Norte (Florencia)
evangelizaçã o: conquista e; na vida contemporâ nea; a cultura e a; Quinto
Centená rio de; Evento e Guadalupan; fato histó rico e; Joã o Paulo II em
diante; Nossa Senhora de Guadalupe e
fé
paternidade
Festa da Virgem de Guadalupe,. Veja também ofı́cio litú rgico
Felicidad de México (Becerra Tanco)
Ferná ndez, José
Ferná ndez de Có rdova, Diego
Ferná ndez de la Cueva, Francisco
Quinto centená rio
Primeiro Conselho Provincial do Mé xico
Florencia, Francisco de
Flores, Pedro
lores. Veja també m a imagem tilma
imagens de nevoeiro
Fox, Vicente
Franciscanos. Ver missioná rios
Francisco Ló pez, Juan
Fuenlabrada, Nicolá s de
Fuenleal, Ramirez de
Gama, Antonio de
Gaona, Juan de
Garı́a, Isabel
Garcı́a, Sabastiá n
Garcı́a Gutié rrez, Jesú s
Garcia Icazbalceta, Joaquı́n
Garcı́a Martin, Juan
Genaro Cuadriello, Jaime
Deus: Indı́genas e; Jesus Cristo e
Gó mez, Alvar
Gonzá lez, Baltasar
Gonzá lez, Fidel
Evangelho
graça
graças
Gregory XIII,
Evento Guadalupan: em “Annals,”; depois do batismo; conquista
e; consequê ncias de, em geral; na vida contemporâ nea; conversã o
depois; evangelizaçã o e; disseminaçã o geográ ica de; graça e; como fato
histó rico; Informaciones Jurídicas de 1666 em; Amé rica Latina e; signi icado
de; como milagre; missioná rios e; mú sica e; em Nican Mopohua ; realismo
e; em Relación Primitiva ; historia de; como sı́mbolo; em documentos
testamentá rios; efeito uni icador de
Santuá rio de Guadalupan do Tepeyac. Ver Hermitage
Guadalupe Victoria, José
Guerra, Garcı́a
Gutié rrez, Alberto
Hawkins, John
Paraı́so
Henkel, Willi
Ermida: administraçã o de; cofraternidades de; construçã o de, inicial; devoçã o
em; condiçõ es ambientais de; in Informaciones Jurídicas de 1666 ,; Juan Diego
mora perto; localizaçã o de; permissibilidade de; peregrinaçõ es
para; restauraçã o de; vice-reis e. Veja também a Bası́lica de Nossa Senhora de
Guadalupe; Igreja do Santuá rio de Guadalupe; tê mpora
Herná ndez, Diego
Herná ndez de Siles, Alonso
Herná ndez Illescas ,, Juan Homero
Herrera, Juan de
Monge hierô nimo. Veja Santa Maria, Diego de
Historia de la Imagen de Nuestra Señora de los Remedios (Cisneros)
Historia General (Sahagú n)
Historia Verdadera de la Conquista de la Nueva España (Dı́az del Castillo)
fato histó rico: Episcopado do Mé xico em; evangelizaçã o e; Evangelho e; graça
e; Evento Guadalupan como; Encarnaçã o e; em Informaciones Jurídicas de
1666; Juan Diego as; milagre e; papado e visã o geral de; processo de
avaliaçã o; realismo e
santidade, de Juan Diego: canonizaçã o e; contexto cultural de; registro
histó rico de
Huehuetlamanitilizt / i
Huehuetlatolli
Huei Tlamahuizoltica (la Vega). Veja também Nican Mopohua
Huete, Antonio de
Huey Tlamahuizoltica. Veja Nican Mopohua
humildade
fome
Ibarra, José de
idolatria: ritual batismal e; conversã o e; devoçã o a Nossa Senhora de
Guadalupe como; Durá n, Diego de, e; imagens e; Povos indı́genas
e; missioná rios e; Nican Motecpana diante; puniçã o para; Sahagú n, Bernardino
de, on; Testera, Jacobo de, on; imagem tilma e. Veja também Satan
Ignacio Andrade, Manuel
Imagen de la Virgen Santísima de Guadalupe (Sá nchez)
imagens
imagens. Veja també m a imagem tilma
Encarnaçã o
Povos indı́genas: batismo de; castidade de; conquista e; Conversã o de; cultura
semelhante ao cristianismo; devoçã o de; educaçã o de; deuses de; Evento e
Guadalupan, geralmente; humildade de; idolatria e; linguagem de; casamento
e; missioná rios e; obediê ncia de; religiã o de; serviço e; escravidã o
e; imagem tilma , signi icando
indulgê ncias
Información de 1556,
Informaciones Jurídicas de 1666,
Ininhueytlamahuizoltzin. Veja Relación Primitiva
intercessã o. Veja também milagres
Ipalnemohuani
Javier Alegre, Francisco
Javier Molina, Alejandro
Jeró nima, Marı́a
Jesú s, Marı́a de
Jesú s Chauvet, Fidel de
Jesus Cristo
Joã o XXIII,
Joã o Paulo II: sobre evangelizaçã o; Quinto Centená rio e; Juan Diego,
beati icaçã o de, e; Juan Diego, canonizaçã o de, e
Juan, André s
Juan Diego, Santo: na arte; batismo de; beati icaçã o de; biogra ia
de; canonizaçã o de; castidade de; Conversã o de; morte de; dı́vida de
mexicanos devidos; descendentes de; devoçã o a; Educaçã o e; no cé u; em
Hermitage; como fato histó rico; santidade de; humildade de; Informaciones
Jurídicas de 1666 em; intercessã o por; casamento de; como missioná rio; nomes
de; obediê ncia de; personalidade de; propriedade de propriedade de; raça
e; historia de; Valeriano, Antonio e. Veja também Evento Guadalupan
la Ascenció n, Marı́a de
la Asunció n, Jeró nima de
Evangé lica Trabalhista (Colı́n)
la Concepció n, Juana de
la Coruna, Agustı́n de
la Cruz, Mateo de
lı́ngua
la Peñ a, Pedro de
la Santa Cruz, Alonso de
la Serna, Juan de
Amé rica latina. Veja também Amé rica; Mé xico
Conferê ncia Episcopal Latino-Americana. Veja Conferencia del Episcopado
Latinoamericano (CELAM)
la Torre, Juan de
la Torre Villar, Ernesto de
la Vega, Luis Lasso de
Leó n – Portilla, Miguel
Leo XIII,
Libro Primero
ofı́cio litú rgico,. Veja também Festa da Virgem de Guadalupe
Lizardi y Valle, Joseph
tanga e manto
Ló pez, Bartholome
Ló pez, Francisco
Ló pez, Geronimo
Ló pez de Avalos, Sebastian
Ló pez de Cá rdenas, Alonso
Ló pez de Montoya, Diego
Ló pez Murto, Antonio
Lozano Barragá n, Javier
Lucı́a, Marı́a
Luis Guerrero, José
macehualiztli
Maldonado, Antonio
Mancera, Marquê s de
Manrı́que de Zú ñ iga, Alvaro
Manuel Altamirano, Ignacio
Manuscrito de la Universidad
Maravilla Americana (Cabrera)
Marı́a Garibay, Angel
casado
Missa e Ofı́cio, xvn2. Veja também Festa da Virgem de Guadalupe
Masseguer, Juan de
tapete e cadeira
signi icado
medalhõ es
Mejı́a Salmeró n, Baltasar
Melgarejo, Juan
memorizaçã o
Mendieta, Geró nimo de: sobre o batismo; na con issã o; na conquista; na
conversã o; na educaçã o; na fé ; na idolatria; no casamento; nos templos
Mendoza, Alonso de
Mendoza, Antonio de
Mendoza y Luna, Juan de
Mercuriano, Everado
Mesa, Juan de
Conselhos Provinciais Mexicanos
Mé xico. Veja também a Amé rica Latina
Cidade do Mé xico
milagres: Evento como Guadalupan; fato histó rico e; Nossa Senhora de
Guadalupe, elaborada; nas Filipinas. Veja também intercessã o
missioná rios: conquista e; devoçã o e; Educaçã o e; Evento e
Guadalupan; idolatria e; Povos indı́genas e; Jesus Cristo e; Juan Diego as; clero
secular e. Veja também conversã o
Moctezuma
Mó nica, Catalina
Monroy, Diego de
Montabte, Alonso
Montesinos, Antonio de
Montú far, Alonso de
Mora y del Rı́o , José
Morlete Ruiz, Patricio
maternidade
Motolinia, Toribio: sobre a castidade; conversã o e; na educaçã o; no evento
Guadalupan; na idolatria; no casamento; Montú far, Alonso de, e
Moya de Contreras, Pedro
mú sica. Veja também as cançõ es
Natividade da Virgem Maria
natureza
Navarro de Anda, Ramiro
nepotismo
Nican Mopohua (Valeriano)
Nican Motecpana
Noguez, Xavier
Noticas Históricas de la Nueva España (Peralta)
Novak, Mons.
juramentos
obediê ncia
Ochoterena, Isaac
Escritó rio. Veja ofı́cio litú rgico
O'Gorman, Edmundo
Ojeda, Alonso de
Olmedo Casas, Ismael
Ometeotl
Ortiz, Jeró nimo
Ortiz Vaquero, Manuel
Osorio, Manuel
Nossa Senhora de Guadalupe: na arte; conquista e; semblante de; devoçã o
a; evangelizaçã o e; sinal de lor de; intercessã o por; linguagem usada por; Leo
XIII e; milagres realizados; como mã e; nome de; como padroeira; raça e; na
Espanha; historia de; pedido de templo de; como desconhecido no sé culo
XVII; aparê ncia visual de. Veja também Evento Guadalupan; imagem tilma O
Nossa Senhora de Guadalupe (na Espanha)
Nossa Senhora dos Remé dios
Ovando, Juan de
Oyanguren, Pedro de
Pacheco, Marcos
Pacheco, Marı́a
Pacheco Osorio, Rodrigo
pintura. Veja também arte
cestos
papado. Veja també m papas individuais
Paredes de Benavente, Toribio. Veja Motolinia, Toribio
Sã o Paulo
Paulo de Betancour, Santo
Paulo VI,
Paz
Peralta, Gastó n de
Peralta, Juan Suá rez de
Perea, Luis de
Pé rez Carpio, Luciano
Per iñ á n, Juan de
Philip II,
Philip III,
Philip IV,
Filipinas
Philips, Miles
peregrinaçõ es
Pimentel, Diego de
Pio X,
Pio XI,
Pio XII,
Poema
poesia. Veja também as cançõ es
Ponce, Alonso
Ponce de Leó n, Pedro, xxviiin5
Poole, Stafford
Prabes, Gaspar de
Primavera Indiana (Sigü enza y Gó ngora)
privilé gios
protestantismo
Puebla, anais de
Puebla, Bachiller de
raça: catolicismo e; devoçã o e; fé , inculturaçã o de, e; Juan Diego e; no
Mé xico; Nossa Senhora de Guadalupe e
Ramı́rez, Elvira
chocalho
realismo
Relación Primitiva
religiã o
Rivera Carrera, Norberto
estrada para Guadalupe
Rubio Mañ é , José Ignacio
Rubio y Salinas, Manuel
Rudolph II,
Sahagú n, Bemardino de: sobre educaçã o; no evento Guadalupan; idolatria
e; em tilmas
Salazar, Francisco de
Salazar, Juan de
Salguero, Juan
Salinas, Carlos
Salomé , Martina
Sá nchez, Anna
Sá nchez, Juan
Sá nchez, Miguel
Sá nchez, Pedro
Sá nchez de Cisneros, Alonso
santuá rio. Veja a Igreja do Santuá rio de Guadalupe; Eremité rio; tê mpora
Sandoval, Gonzalo de
San José , Gertrudis del
San Joseph, Juan de
San Luis, Martı́n de
San Nicolá s, Pedro de
San Simó n, Pedro de
Santa Maria, Diego de
Santiago, Alonso de
Saraiva, Joseph
Sarmiento de Sotomayor, Garcı́a
Sastre Santos, Eutimio
Sataná s. Veja também idolatria
Schulenburg, Guillermo
Ciê ncia
escultura
Segundo Conselho Provincial do Mé xico
Concı́lio Vaticano II
clero secular
Sermonario (Tovar)
Sermón de la Natividad de la Virgen María Señ ora Nuestra (Cepeda)
sermõ es
serviço. Veja também devoçã o
Sigü enza y Gó ngora, Carlos de
Sitio, Naturaleza y Propiedades de la Ciudad de México (Cisneros)
escravidã o
imagem solar
cançõ es. Veja também mú sica; poesia
estabilidade
Stradanus, Samuel
Suá rez de Mendoza, Lorenzo
Suá rez de Peralta, Juan
sustento
sı́mbolo
Tapia, Bartholomé de
templo: construçã o de; em Informaciones Jurídicas de 1666 ,; localizaçã o
de; Pedidos de Nossa Senhora de Guadalupe; peregrinaçõ es para; reverê ncia
por; Zumá rraga, Juan de e. Veja também a Bası́lica de Nossa Senhora de
Guadalupe; Igreja do Santuá rio de Guadalupe; Eremité rio
Santuá rio Tepeyac. Ver Hermitage
Tepochcalli
documentos testamentá rios
Testamento de Alonso Hernández de Siles
Testamento de Alonso Montabte
Testamento de Anna Sánchez
Testamento de Elvira Ramírez
Testamento de Francisco Quetzalmamalintzin
Testamento de la hija de Juan García Martín
Testamento de Sebastián ou Esteban Tome / in
Testera, Jacobo de
Terceiro Conselho Provincial do Mé xico
tigre
imagem tilma : á cido derramado; anjo em; em arte; aná lise artı́stica de; bomba
explodiu nas proximidades; conversã o e; semblante em; coroaçã o de; Primeiro
Conselho Provincial do Mé xico e; cé u e; identidade e; idolatria e; imagens
de; Investigaçã o de; signi icado de; Montú far, Alonso de, supostamente
instala; pintor de; Pio XII diante; preservaçã o de; em Relación
Primitiva ; historia de; retoque de; verdade e. Veja também lores
tilmas, geralmente
dı́zimos
Tloque Nahuaque. Veja também Deus
Tomelı́n, Sabastiá n
tonacayotl
Torquemada, Juan de
Torres, Pablo de
Torres Bulló n, Diego de
Torres Vá zquez, Diego de
Tovar, Juan de
Tratado del Descubrimiento de / as Indias (Peralta)
verdade
uni icaçã o
Valê ncia, Francisco de
Valeriano, Antonio
Vargas Lugo, Elisa
Velasco, Luis de (pai)
Velasco, Luis de ( ilho)
Verdugo Quetzalmamalintzin, Francisco
vice-reis. Veja també m os vice-reis individuais
Villaseca, Alonso de
Virgen de Guadalupe (Echave)
Virgem Maria, Natividade de
guerra
Xuá rez, Gabriel
Xuá rez, Juan (pai)
Xuá rez, Juan ( ilho)
Xuá rez, Mateo
Xuá rez, Pablo
Zá rate, Alonso de
Zavala, Silvio
Zerdá n, Nicolá s
Zodiaco Guadalupano (Florencia)
Zozocolco
Zumá rraga, Juan de: chegada de; em arte; conquista e; morte de; Evento
Guadalupan, efeito sobre; idolatria e; in Informaciones Jurídicas de
1666, 40; em Relación Primitiva ; ceticismo de; historia de; templo e

Sobre o autor

Eduardo Chávez é membro fundador e reitor do Instituto Superior de


Estudos Guadalupanos (ISEG), cô nego honorá rio da Bası́lica de
Guadalupe, primeiro reitor da Universidade Cató lica Lumen Gentium da
arquidiocese do Mé xico e doutor em histó ria da Igreja que confere
freqü entemente em A Virgem de Guadalupe e Sã o Juan Diego. Foi
membro da comissã o histó rica do Evento Guadalupano, formada pela
Congregaçã o para a Causa dos Santos, e postulador da Causa de
Canonizaçã o de Sã o Juan Diego. Ele també m foi ordenado sacerdote na
arquidiocese do Mé xico e é doutor em histó ria da Igreja pela Pontifı́cia
Universidade Gregoriana de Roma.
Dr. Chá vez é autor de vá rios livros, incluindo: El Encuentro de la Virgen
de Guadalupe y Juan Diego; Il Volto di Cristo Re e la Persecuzione della
Chiesa no México; e Juan Diego. El mensajero de Santa María de
Guadalupe.
1Cfr. Actas y Decretos del Concilio Plenário da América Latina celebrado
em Roma, 1906, pp. LXXXVI, CXL, 7.
2Bento XIV concedeu à Santı́ssima Virgem de Guadalupe sua pró pria
missa e ofı́cio (celebrado em 12 de dezembro); com decreto assinado
pelo Card. Prefeito da Congregaçã o dos Ritos e pelo Secretá rio da
mesma Congregaçã o, em 24 de abril de 1754, em
ASV, Decrt . Saco. Rit. C. ab anno a 1754 ad annum 1756 , f. 124.
Prorrogaçã o da concessã o para os demais domı́nios da Espanha (1757),
arquivado na Bası́lica de Guadalupe (sem indicaçã o de coloc. De
arquivo). Bento XIV com o breve Non est equidem, em 25 de maio de
1754, con irma a concessã o da Missa e do Ofı́cio e declara a Virgem de
Guadalupe a principal Padroeira do Reino da Nova Espanha e concede
outros agradecimentos e indulgê ncias particulares, na Coleção de Obras
e Opuscules, Impr. Lorenzo de S. Martı́n, Madrid 1785, pp. 1-60. Ofı́cio
da Câ mara Municipal de Sã o Pedro de Roma para a Coroaçã o de Nossa
Senhora de Guadalupe, em 11 de junho de 1740, no Arquivo Histó ria da
Bası́lica de Guadalupe (sem indicaçã o de coloc. De arquivo).
3Toda a documentaçã o sobre o assunto está no Álbum de la Coronación
de la Sma . Virgen de Guadalupe , Mé xico 1895.
4Joã o Paulo II, em Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Vaticano
Ed. Livraria. VIII / 2, 88s.
5Conferencia del Episcopado Latinoamericano (Celam), Documentos de
Puebla, rm. 445–446.
6Cfr. sobre essas posiçõ es, a aná lise aguda do conhecido literá rio
peruano Mario Vargas Llosa sobre o caso peruano, mas com muitas
referê ncias ao Mé xico e outros paı́ses latino-americanos: Vargas Llosa,
Mario, La utopía arcaica. José María Arguedas y las icciones del
indigenismo, Ed. FCE, Mé xico 1996.
7Cfr. Joã o Paulo II, “Discurso para la apertura del 'Novenario' de añ os
promovido pelo CELAM: Fidelidad al pasado, mirada a los desafı́os del
presente, compromisso para una nueva evangelizació n,” Sto. Domingo,
12 de outubro de 1984, em Insegnamenti di Giovanni Paolo II , Libreria
Ed. Vaticana, VII / 2, p. 889.
8Conferencia del Episcopado Latinoamericano (Celam), Documentos de
Puebla, nn. 445—446.
9Ignacio Manuel Altamirano, La Celebración de Guadalupe , Mé xico
1884, pp. 1130–133.
10Joã o Paulo II, Ecclesia in America, 11.
11“Cuauhtlatoatzin”, nome indı́gena de Juan Diego, Cfr. Carlos de
Sigü enza y Gó ngora, Piedad Heroica de don Fernando Cortés, Talleres de
la Librerı́a Religiosa, segunda ediçã o de “La Semana Cató lica,” Mé xico
1898, p. 31. També m em Xavier Escalada, SJ, Enciclopedia
Guadalupana, Ed. Enciclopedia Guadalupana, Mé xico 1997, TV
12“Testimonio del P. Luis Becerra Tanco,” in Informaciones Jurídicas de
1666 , AHBG, Ramo Histó rica, f. 158r: “e tendo sido baptizado Juan
Diego no ano de 1524, altura em que veio o religioso do Senhor Sã o
Francisco (e a cuja paró quia pertencia). E certo que foi batizado aos 48
anos ”.
13Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, AHCM; publicado
em Ernesto de la Torre Villar e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios
Históricos Guadalupanos, Ed. FCE, Mé xico 1982, p. 305.
14Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 305.
15Cfr. Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, pp. 304-
5. També m em Xavier Escalada, SJ, Enciclopedia
Guadalupana, Ed. Enciclopedia Guadalupana, Mé xico 1997, TV També m
em Anales de Puebla y Tlaxcala ou Anales de los Sabios Tlaxcaltecas ou
Anales de Catedral, AHMNA, AAMC, nº 18, 1, que diz: “ Ano de
1548 , omomiquili em Juan Diego em oquimotenextilitzino em tlazo
Cihuapili Guadalupe México ” (ano de 1548, morreu honrosamente Juan
Diego, a quem apareceu a preciosa Senhora de Guadalupe). També m
em Analejo de Bartolache ou Manuscrito de la Universidad, BNAH,
Archivo Histó rico, Archivo de Sues. Gó mez de Orozco, que diz: “Texcia
1548, Omomiquili Juan Diego in oquimonextilli in tlazocihuapili
Guadalupe Mé xico. Otecihuilo niztac té petl ”(ano Tecpatl, 1548 Juan
Diego morreu honrosamente, [a quem] a Amada Senhora de Guadalupe
do Mé xico honrou sua apariçã o. Saudou na colina branca). També m em
“Testimonio del P. Luis Becerra Tanco”, em Informaciones Jurídicas de
1666 , f. 158r: “Juan Diego morreu aos 74 anos no ano de 1548.” O
mesmo foi declarado e con irmado por Jeró nimo de Leó n, Gaspar de
Praves e Pedro Ponce de Leó n, todos eles grandes e importantes,
repó rteres de Luis Becerra Tanco; “Por exemplo, sabe-se que Pedro
Ponce de Leó n era indı́gena, nascido em 1546 e falecido em 1626, que
se tornou sacerdote e se formou em Teologia na Pontifı́cia Universidade
do Mé xico, e serviu na paró quia de Zumpahuacan. Ele era um
especialista na cultura Ná huatl e escreveu um livro valioso que
descreve sua sobrevivê ncia na é poca. Este livro é a segunda parte
do Códice Chimalpopoca ou Anales de Cuauhtitlán , datado de 1892. O
autor foi amigo e repó rter de Becerra Tanco, um dos primeiros
escritores da Histó ria Guadalupana ”. Diccionario Porrúa. Biogra ia y
Geogra ia de Mexico , Ed. Porrú a, Mé xico 1995, p. 2768.
16Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Montecpana, p. 305. També m a
morte de Frei Juan de Zumá rraga no Codex Vaticanus, em BAV, Fondo
Vaticano, Vat. Lat. 3738, f. 94r.
17Episcopado mexicano. El Acontecimiento Guadalupano hoy no
aniversario da dedicação da atual Basílica de Guadalupe e no traslado da
Sagrada Imagen, Mé xico, D. F, 12 de outubro de 2001, no. 3
18 Episcopado mexicano, El Acontecimiento Guadalupano hoy, no. 9
19 Gregory XIII (1572-1585).
20Gregory XIII, Ut Deiparae sempre virginis, Arquivos Secretos do
Vaticano, Sec. Brev. 69, ss. 537v – 538v; 70, ss. 532v – 533v.
21Everardo Mercuriano, General, Carta ao Arcebispo do México, Pedro
Moya de Contreras, Roma, 12 de março de 1576, ARSI, Mexicano No. 1,
f. 9r; Publicado em Fé lix Zubillaga (Editor), Monumenta Mexicana,
Monumenta Historica Societatis Iesu, Roma 1956, TI, 1570–1580, pp.
192–193.
22 Carta do Arcebispo do México, Pedro Moya de Contreras, ao Papa
Gregório XIII, Arquivos Secretos do Vaticano, AA-Arm. I. XVIII, sf
23Pio XII, “Alocució n Radiomensaje”, 12 de outubro de 1945, in AAS ,
XXXVII (1945) 10, pp. 265–66.
24Nossa Senhora de Guadalupe foi declarada Padroeira das Filipinas
em 16 de julho de 1935. Cfr. PIUS XI, Carta Apostó lica “BV sub titulo de
Guadalupa Insularum Philippinarum Coelestis Patrona Declaratur,”
in AAS , XXVIII (1936) 2, pp. 63-64.
25Joã o XXIII, “Ad christi ideles qui ex ó mnibus Americae nationibus
Conventui Mariali secundo Mexici interfuerunt,” para o quinquagé simo
aniversá rio de, Roma, 12 de outubro de 1961, em AAS , LIII (1961) 12,
pp. 685-87.
26Paulo VI, “Allocution Radio Television”, 12 de outubro de 1970,
em AAS , LXII (1970) 10, p. 681.
27Joã o Paulo II, “Alocuçã o para a III Conferê ncia Geral do Episcopado
Latino-Americano”, 28 de janeiro de 1979, in AAS , LXXI 3, p. 205.
28Joã o Paulo II, “Alocució n a los Obispos de Amé rica Latina”, Primeira
Viagem Apostó lica ao Mé xico, Mé xico DE 27 de janeiro de 1979, in AAS ,
LXXI (1979) 3, p. 173
29Cfr . Carta da Congregação para as Causas dos Santos a Ernesto
Cardeal Corripio Ahumada, 8 de junho de 1982, Prot. N. 1408–2 / 1982,
pp. XVI – XXIV; XIX.
30Joel Romero Salinas, Juan Diego, su Peregrinar a los
Altares, Ed. Paulinas, Mé xico 1992, p. 54
31Cfr. Relatio et Vota dos Consultores Histó ricos em 30 de junho de
1990, e dos Consultores Teoló gicos em 30 de março de 1990.
32Cayetano de Cabrera e Quintero, Escudo de Armas, Imp. del Real,
Mé xico 1746, p. 345, no. 682.
33 Conc. Cuba. II , Const. Dogm. Lumen Gentium , nã o. 11 .
34 AAS , LXXXII (1990), pp. 853–55.
35Fidel Gonzá lez, Eduardo Chá vez e José Luis Guerrero, El Encuentro de
la Virgen de Guadalupe e Juan Diego, Ed. Porrú a, Mé xico 1999, XXXVIII,
564 pp. Atualmente, está em sua quarta ediçã o.
36Alberto Gutié rrez. SJ, resenha do livro El Encuentro de la Virgen de
Guadalupe e Juan Diego, dos autores Fidel Gonzá lez, Eduardo Chá vez e
José Luis Guerrero, Ed. Porrú a, Mé xico 1999, Roma, 18 de novembro de
1999, nos Arquivos da Congregaçã o para as Causas dos Santos.
37Eutimio Sastre Santos, resenha do livro El Encuentro de la Virgen de
Guadalupe e Juan Diego, dos autores Fidel Gonzá lez, Eduardo Chá vez e
José Luis Guerrero, Ed. Porrú a. Mé xico 1999, Roma, 2 de novembro de
1999, nos Arquivos da Congregaçã o para as Causas dos Santos.
38Willi Henkel, resenha do livro El Encuentro de la Virgen de Guadalupe
e Juan Diego, dos autores Fidel Gonzá lez, Eduardo Chá vez e José Luis
Guerrero, Ed. Porrú a, Mé xico 1999, Roma, 6 de novembro de 1999, nos
Arquivos da Congregaçã o para as Causas dos Santos.
39Joã o Paulo II, Ecclesia in America, Mé xico, 22 de janeiro de 1999,
Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano, 1999, no. 11, pá g. 20. O
Santo Padre citou literalmente a IV Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano, Santo Domingo, 12 de outubro de 1992, 24. Ver
també m em AAS , 85 (1993) p. 826.
40Joã o Paulo II, Ecclesia in America, p. 20, nã o. 11
41Cfr. Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica
Indiana, Ed. Porrú a (= Col. Biblioteca Porrú a, no. 46), Mé xico 1980.
També m Frei Toribio Motolinia, Historia de los Índios de la Nueva
España, Ed. Porrú a (= Col. “Sepan cuantos” nº 129), Mé xico 1973.
També m Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General de las Cosas de la
Nueva España, Ed. Porrú a (= Col. “Sepan cuantos” nº 300) Mé xico 1982.
42Miguel Leó n-Portilla, El Reverso de la Conquista, Ed. Joaquı́n Mortiz,
Mé xico 1970, pp. 21–22.
43Miguel Leó n-Portilla, El Reverso, p. 62
44Esta é a resposta dos sá bios sacerdotes mexicanos a 12 franciscanos
que chegaram em 1524. Arquivos Secretos do Vaticano, Misc. Arm-I-91,
f. 36r. També m em Miguel Leó n-Portilla. El Reverso, pá g. 25
45Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 219.
46Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 227.
47Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 22
48Frei Bernardino de Sahagú n, Florentine Codex, aprox. 1564–1569,
Manuscrito 218–220 da Coleçã o Palatina na Biblioteca Medicea
Laurenciana, Livro XI, f. 234r. Publicado em Frei Bernardino de
Sahagú n. Historia General, pá g. 705.
49 Carta de fray Juan de Zumárraga al rey de España, Mé xico, 27 de
agosto de 1529, Arquivos de Simancas, Bibl. Miss., III, 339, carta 13.
Có pia em Col. Muñ oz, T. 78, f. 279r — 279v.
50 Carta de fray Juan de Zumárraga al rey de España, Mé xico, 27 de
agosto de 1529, f. 281v.
51 Carta de fray Juan de Zumárraga al rey de España, Mé xico, 27 de
agosto de 1529, f. 284r — 284v.
52 Carta de fray Juan de Zumárraga al rey de España, Mé xico, 27 de
agosto de 1529, f. 314v.
53Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 43
54Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 49
55Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 53
56Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, pp. 311–312.
57Antonio Valeriano, Nican Mopohua, traduzido para o espanhol por P.
Mario Rojas Sá nchez, Ed. Fundació n La Peregrinació n, Mé xico 1998,
p. 27
58Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 29
59Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 30
60Antonio Valeriano, Nican Mopohua, pp. 30-33.
61Vou glori icar você : nimitzcuiltonoz, nimitztlamachtiz; ambos os
verbos sã o usados para signi icar uma alegria e felicidade
extraordiná rias.
62Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 34
63Virgilio Elizondo, Guadalupe, Mãe da Nova Criação, Ed. Orbis Books,
Maryknoll, New York 2002, p. 55
64Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 37
65 Mecapal, cacaxtli (parihuela): instrumentos de transporte, ainda em
uso em muitas partes do paı́s. O primeiro é uma tira de corda que passa
ao redor da testa e ajuda a segurar a carga; o segundo é uma estrutura
de madeira com gravetos e cordas apertadas onde um pacote é
colocado e repousa nas costas do carregador. Sã o expressõ es de grande
humildade, tiradas de ditos e modos de falar daquela é poca, de falar
folcló rico, como se dissesse: “Nã o sou mais que um animal destinado a
carga, preciso que outras pessoas me conduzam, me sinto alheio a
aqueles lugares para onde você me enviou. ”
66Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 38
67Antonio Valeriano, Nican Mopohua, pp. 38-39.
68Antonio Valeriano, Nican Mopohua , p. 48
69Antonio Valeriano, Nican Mopohua, pp. 48-49.
70Antonio Valeriano, Nican Mopohua. p. 50
71Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 51
72Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 52
73Antonio Valeriano, Nican Mopohua , p. 54
74Antonio Valeriano, Nican Mopohua , p. 61
75Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 62
76Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 64
77Antonio Valeriano, Nican Mopohua, pp. 66-67.
78Cfr. Xavier Escalada, Enciclopedia Guadalupana, T. I, pp. 101–108.
79Dr. Isaac Ochoterena, Análise de unas ibras do ayate de Juan Diego o
Icono de Nuestra Señora de Guadalupe, Mé xico, 7 de junho de 1946,
Instituto de Biologı́a de la UNAM, o icio 242, arquivo 812.2 / –2, no
Archive for the Causa da Canonizaçã o de Juan Diego, no CCS, Santa Sé .
80Alejandro Javier Molina, Química aplicada ao manto de la Virgen de
Guadalupe, 1981, p. 3, nos Arquivos pela Causa da Canonizaçã o de Juan
Diego no CCS, Santa Sé . Carlos Salinas diz: “Este é o tilma de Juan Diego,
um ayate cujo tecido ou trama é feito de uma planta centenária , tecida
à mã o. Os indı́genas de Cuauhtirlá n con irmam isso. Dois deles, don
Pablo Juá rez e don Martin de San Luis chamam isso de ichtli ”. Carlos
Salinas, Juan Diego nos ojos de la Santísima Virgen de
Guadalupe, Ed. Tradició n, Mexico 1974, p. 114
81Frei Juan de Torquemada, Monarquía Indígena, p. 361.
82Frei Bernardino de Sahagú n. Historia General, pp. 567-68.
83Mixtitlan Ayauhtitlan signi ica “Entre a né voa e entre as nuvens” e
era sinô nimo da presença de Deus.
84 Códice Florentino, editado pelo governo do Mé xico, ediçã o
supervisionada pelo Arquivo Geral Nacional (Mé xico) 1879, Livro XII,
f. 25r.
85 Colloquios y Doctrina Christiana conque los doze frayles de san
Francisco enbiados pelo Papa Adriano sesto y pelo imperador Carlo
qujnto côvertierô a los indios de la Nueva España ê lêgua Mexicana y
Española, 1524, ASV, 1564, Misc. Braço. I-91, f. 34r.
86 Colloquios y Doctrina Christiana, f. 35r.
87Alé m disso, coincide com a narraçã o em Nican Mopohua, pp. 16-
20. “E quando ele estava diante dela, ele icou muito surpreso como,
sem exagero, a grandeza perfeita dela era superada. Seu vestido
brilhava como o sol, como se fosse vibrar, e a rocha sobre a qual Ela se
erguia como se para irradiar Seu esplendor como gemas preciosas,
como uma joia (tudo que é belo) Ela parecia. O solo brilhava com o
esplendor do arco-ı́ris na né voa. ”
88“Olhar de lado” é o signi icado dos verbos sinô nimos Teixtlapalitta
(Te: pessoa, Ixtlapal: transversal, Itta: ver); Teixtlapaltlachia (Te-
Ixtlapal e Tlachia: veja); Tenacazitta (Te: pessoa Nacaz : canto, orelha
e Itta: ver: “ver uma pessoa pela orelha”); Tenazcaztlachia ( Te-Nacaz-
Tlachia : “olhar para uma pessoa por cima da orelha”).
89O P. Dr. Fidel Gonzá lez Ferná ndez, o consultor histó rico da
Congregaçã o para a Causa dos Santos, declarou durante a sessã o de 30
de julho de 1998, diante da Imagem de Guadalupe que “Uma vez,
quando visitei a Imagem da Virgem de Guadalupe I viu um jovem casal
passar perto da Imagem e disse-lhe: “Repara que o rosto dela é como o
nosso”. Ata da sessã o de 30 de julho de 1998. Análise e estudo direto do
Ayate ou Ícone de Nossa Senhora de Guadalupe de Juan Diego, na Bası́lica
de Nossa Senhora de Guadalupe, Cidade do Mé xico, nos Arquivos para a
Causa da Canonizaçã o de Juan Diego, no CCS, Santa Sé , pá g. . 6
90“Feito isso, os casamenteiros amarrariam o manto do homem com
o huipil da mulher . . . e entã o colocava os dois juntos em um quarto e os
casamenteiros os jogavam na cama, fechavam a porta e os deixavam
sozinhos. ” Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 365.
“Casamento. . . em frente à chaminé ou fogueira que icava na parte
principal da casa, e os noivos sentados ali, amarrados um ao outro pelas
roupas e amarrados assim, os chefes da tribo chegavam para desejar-
lhes bem e que Deus desse muitos ilhos. ” Juan Pomar e Alonso de
Zorita, Relación en Texcoco y de la Nueva España, Ed. Chá vez Hayhoe,
Mé xico 1941, p. 24
91“Testimonio del P. Miguel Sá nchez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, 14 de abril de 1666, AHBG Historic Branch, f. 70v.
92 Informaciones Jurídicas de 1666, ss. 177r – 187v.
93 Informaciones Jurídicas de 1666, f. 137r.
94 Informaciones Juridicas de 1666, ss. 137v — 138r.
95 lnformaciones] urídicas de 1666, ff. 138v — 140r.
96 Informaciones Jurídicas de 1666, ss. 182v — 183r.
97 Informaciones Jurídicas de 1666, f. 185r-185v.
98 Informaciones Jurídicas de 1666, f. 187r.
99 O Arcebispo do Mé xico, Manuel José Rubio y Salinas (1748-1765).
100Abelardo Carrillo y Gariel, El Pintor Miguel Cabrera , INAH, Mé xico
1966, pp. 21-22.
101Cfr. Miguel Cabrera, Maravilla Americana e conjunto de raras
maravillas observadas com a direção das reglas da arte da pintura na
prodigiosa Imagen de Nuestra Señora de Guadalupe de México, publicado
pelo Real y má s antigo Colé gio de San Ildefonso, Mé xico 1756.
102José Ignacio Bartolache y Dı́az de Posadas, Manifesto Satisfactorio u
Opúsculo Guadalupano, in Ernesto de la Torre Villar e Ramiro Navarro
de Anda, Testimonios Históricos Guadalupanos, Ed. FCE, Mé xico 1982,
p. 648.
103No sé culo XVIII, o grande pintor D. Francisco Antonio Vallejo
assinalava que “mesmo que um pintor talentoso quisesse fazer uma
pintura com os detalhes dos per is e ao mesmo tempo com a graça
misteriosa concedida a Nossa Guadalupana ... seria impossı́vel devido à
incompatibilidade que existe entre um e o outro extremo. Assim, para
isso e para o resto, admira-se na Imagem Sagrada a condiçã o exata, falta
de preparo da tela, para ser pintada a ó leo ou tê mpera, ou ainda na
combinaçã o de diferentes tintas sobre uma mesma superfı́cie. Concluo,
e piamente acredito, é uma obra sobrenatural e milagrosa e é formada
por um artesã o superior e divino. ” “Relató rio de Francisco Antonio
Vallejo”, in Miguel Cabrera, Maravilla Americana, p. 34
104Juan Ignacio Bartolache, Manifesto Satisfactorio, p. 644.
105Alejandro Javier Molina, Química aplicada, p. 7
106 Instrumento Jurídico sobre el aguafuerte que se derramó
casualmente, hace muchos años, sobre o Sagrado Lienzo de la Portentosa
Imagen de N. Sra. de Guadalupe de México, 1820, AHBG,
Correspondê ncia com o Governo Supremo, Caixa 3, Arquivo 54, 24 e
seguintes.
107“Testimonio de Manuel Ignacio Andrade,” no Instrumento Jurídico
sobre el aguafuerte que se derramó casualmente, hace muchos años,
sobre o Sagrado Lienzo de la Portentosa Imagen de N. Sra. de Guadalupe
de México, 1820 , AHBG, Correspondê ncia com o Governo Supremo,
Caixa 3, Arquivo 54, ss. 19v-20v.
108Eduardo Chá vez, La Iglesia de México entre Dictaduras, Revoluciones
y Persecuciones, Ed. Porrú a, Mexico 1998, pp. 165-66.
109Cfr. Juan Homero Herná ndez Illescas; Mario Rojas Sá nchez e
Enrique R. Salazar y Salazar, La Virgen de Guadalupe y las
Estrellas, Ed. Centro de Estudios Guadalupanos, Mé xico 1995. També m
Juan Homero Herná ndez Illescas, La Imagen de la Virgen de
Guadalupe , un Codice Nahuatl , em Histórica (1/2 sem data), pp. 7-20. E
do mesmo autor, em seu artigo, Estudio de la Imagen de la Virgen de
Guadalupe , Breve Comentarios , in Histórica (1/3 sem data), pp. 2-21.
110Cfr. José Aste Tonsmann, Los Ojos de la Virgen de Guadalupe ,
Ed. Diana, Mé xico 1981.
111Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 429.
112Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 305.
113Cfr. Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica , p. 429.
114“Testimonio del P. Luis Becerra Tanco”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 157v-158r.
115Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 305.
116“Testimonio del P. Luis Becerra Tanco”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 157v.
117“Gertrudis del Senor San José ,” em Apuntes de algunas vidas de
nuestras hermanas difuntas, Arquivo do Convento de Corpus Christi
para os Caciques das Indias , Mosteiro Autô nomo das Clarisas de Corpus
Christi, no Mé xico, snf
118Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 305.
119“Testimonio de André s Juan”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 28v.
120Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 305.
121Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 305.
122Uma das transcriçõ es mais utilizadas das Informaciones Jurídicas de
1666 é a de 1752, solicitada por Joseph Lizardi y Valle, sacerdote da
Arquidiocese do Mé xico e Regente do Santuá rio, e que ainda se
conserva no Arquivo Histó rico da Bası́lica de Guadalupe . Foi publicado
por Fortino Hipó lito Vera como Informaciones sobre la Milagrosa
Aparición de la Santísima Virgen de Guadalupe, recibidas en 1666 y
1723, Imprenta Cató lica, Amecameca, Mé xico 1889, 249 pp. Primo
Feliciano Vá zquez. La Aparición de Santa María de Guadalupe, Mé xico
1931, XVI, 449 pp. Lauro Ló pez Beltrá n, “Almanaque Juan Diego”
em Juan Diego (1965). Luis Medina Ascencio, Documentario
Guadalupano, 1531—1768, Centro de Estudios Guadalupanos, AC,
Mé xico 1980, 299 pp. “Las Informaciones Guadalupanas de 1666 y de
1723,” em Ernesto de la Torre Villar e Ramiro Navarro de
Anda, Testimonios Históricos Guadalupanos , pp. 1338-1377. Ana Marı́a
Sada Lambretó n, Las Informaciones Jurídicas de 1666 e o Beato Juan
Diego, fotogra ias da senhora, Ed. Hijas de Marı́a Inmaculada de
Guadalupe, Mé xico 1991. Mas agora oferecemos as notas tiradas da
primeira transcriçã o notarial e o icial feita em 14 de abril de 1666, e
que se encontra no Arquivo Histó rico da Bası́lica de Guadalupe, Ramo
Histó rico, 198 ff .
123Miguel Leó n-Portilla, Tonantzin Guadalupe, Pensamiento Náhuatl y
Mensaje Cristiano en el “Nican Mopohua,” Eds. El Colegio Nacional y FCE,
Mexico 2000, p. 45
124“Comisió n de parte del Cabildo al P. Antonio de Gama,” Cidade do
Mé xico, 23 de dezembro de 1665, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 5v.
125Nasceu e foi batizado em Cuauhtitlá n em 26 de outubro de 1639,
Cfr. Arquivos da Paró quia de San Buenaventura, Cuauhtitlá n, Livro de
Bautizos, de abril de 1599 a 1711, nº 120, f. 20r.
126“Juramento de los inté rpretes del Ná huatl al castellano, para
traducir con toda verdad el testemunho de los indı́genas ancianos de
Cuauhtitlá n,” in Informaciones Juridícas de 1666 , f. 20r.
127“Testimonio de Marcos Pacheco”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 16r.
128“Testimonio de Marcos Pacheco”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 13v.
129“Testimonio de Marcos Pacheco”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 15r-15v.
130“Testimonio de Marcos Pacheco”, in Informaciones Juridícas de
1666, f. 16r.
131“Testimonio de Gabriel Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 19v-21r.
132“Testimonio de Gabriel Xuá rez.” in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 20r-20v.
133“Testimonio de Gabriel Xuá rez.” in Informaciones Jurídicas de
1666, ss. 21v — 22r.
134“Testimonio de André s Juan”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 26v.
135“Testimonio de André s Juan”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 28r.
136“Testimonio de André s Juan”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 28v.
137“Testimonio de Juana de la Concepció n”, in Informaciones Jurídicas
de 1666, ff. 31r — 34r.
138“Testimonio de Juana de la Concepció n”, in Informaciones Jurídicas
de 1666, f. 35r.
139“Testimonio de Pablo Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 36v — 38r.
140“Testimonio de Pablo Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 40r.
141“Testimonio de Pablo Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 38r.
142“Testimonio de Pablo Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 38v. – 39r.
143“Testimonio de Pablo Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 40r.
144“Testimonio de Martin de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 42r.
145“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 46r — 46v.
146“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 43v.-44r.
147“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 43r.
148“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 45r.
149As novenas: “A novena é uma devoçã o que consiste em rezar
durante 9 dias à Virgem ou a um Santo, pedindo a sua intercessã o para
obter favores especiais”. Ana Rita Valero de Garcı́a Lascurá in. Estudio
Introductorio, em Francisco de Florencia, Las Novenas del Santuario de
Nuestra Señora de Guadalupe, que se apareció na Manta de Juan
Diego (1785), ediçã o da Archicofradı́a Universal de Santa Marı́a de
Guadalupe, Mé xico 1999, pp. 1-2.
150“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 45r — 45v.
151“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 46v.
152“Testimonio de Juan Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 51v — 52v.
153“Testimonio de Catalina Mó nica”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 56v.
154“Testimonio de Catalina Mó nica”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 57r.
155“Testimonio de Catalina Mó nica”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 58v – 59r.
156“Testimonio de Catalina Mó nica”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 59r – 60v.
157“Testimonio de André s Juan”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 28v.
158“Testimonio de Catalina Mó nica”, in Informaciones Jurídicas de
1666, ff. 59r – 60v.
159“Testimonio de fray Pedro de Oyanguren”, in Informaciones Jurídicas
de 1666, f. 72r.
160“Testimonio de fray Antonio de Mendoza”, in Informaciones
Jurídicas de 1666, f. 85r – 85v.
161“Testimonio de fray Pedro de San Nicolá s”, in Informaciones
Jurídicas de 1666, f. 108r.
162“Testimonio de Diego Cano Moctezuma”, in Informaciones Jurídicas
de 1666, f. 125v.
163“Testimonio de P. Miguel Sá nchez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 69v.
164“Testimonio de fray Pedro de Oyanguren”, in Informaciones Jurídicas
de 1666, ss. 75r-77r.
165“Testimonio de fray Antonio de Mendoza”, in Informaciones
Jurídicas de 1666, f. 88r - 88v.
166“Testimonio de fray Pedro de Monroy”, in Informaciones Juridicas de
1666, f. 101 v.
167“Testimonio de Miguel de Cuebas”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 123r.
168 Relación Primitiva, 1541-1548, em Ernesto de la Torre Villar e
Ramiro Navarro de Anda, Testimonios Históricos Guadalupanos, p. 24
169 Relación Primitiva, p. 25
170 Relación Primitiva, p. 25
171Introduçã o à Relación Primitiva, p. 25
172Fonte: Senhora de 1568, no AGN, Mé xico, publicado no Boletín del
Archivo General de la Nación, T. XIV, 2, Mé xico 1943. També m em Juan
Suá rez de Peralta, Tratado del descubrimiento de las Indias, Capı́tulo XLI
( 1589). Apó s seu retorno à Inglaterra, Miles Philips deu informaçõ es
em 1582 para uma breve crô nica que foi publicada pela primeira vez
em 1600, e agora tem uma nova ediçã o em Richard Hakluyt, Voyages
and Discoveries: The Principal Navigations, Voyages, Traf iques and
Discoveries da Nação Inglesa, Ed. Penguin Group (Col. = Penguin
Classics), Londres, 1985.
173Ele se refere a uma imagem de prata dourada, doada em 1566 pelo
homem mais rico da Nova Espanha, Alonso de Villaseca. Cfr. Anales de
Juan Bautista, Arquivo Histó rico da Bası́lica de Guadalupe, f. 21.
També m em Francisco Javier Alegre, SJ, Historia de la Provincia de la
Compañía de Jesús de Nueva España, Ed. Institutum Historicum, Roma,
1959, TI, p. 175: “No domingo, 15 de setembro de 1566, celebrou-se a
oitava de Nossa Senhora Santa Maria da Natividade, e entã o a festa foi
celebrada, no Tepeyac, de Santa Maria de Guadalupe. Lá estava
Villaseca, e mostrou uma imagem de Nossa Mã e, toda em prata ... E a ele
devemos isso, assim como a casa onde repousam os enfermos [o
hospital]. Estavam presentes as autoridades: os auditores e també m o
arcebispo e todos nó s indı́genas. Villaseca ofereceu uma refeiçã o aos
auditores e à s autoridades e relatou como foi construı́da a igreja no
Tepeyac. ”
174“A Discourse Written by Miles Philips, Englishman, Put on Shore in
the West Indies by Mr. John Hawkins” 1568, in Richard Hakluyt, Voyages
and Discoveries, p. 143
175Cfr. Niceto de Zamacois, Historia de México from sus tiempos mas
remotos hasta nuestros días, Ed. JF Parres y Compañ ı́a, Barcelona-
Madrid [data da introduçã o: 1876]. TV, p. 149.
176Juan Suá rez de Peralta, Tratado del Descubrimiento de las
Indias, Biblioteca Pú blica de Madrid, manuscrito no. 302,
f. 163v. També m em Noticias Históricas de Nueva España. Tratado del
Descubrimiento de las Indias , Madrid 1878, cap. 41. També m em
Fortino Hipó lito Vera, Tesoro Guadalupano, Imp. del Colegio Cató lico,
Amecameca 1889, T. I, p. 68. També m saiu na ediçã o da Secretaria de
Educaçã o Pú blica: Juan Suá rez de Peralta, Tratado del Descubrimiento
de las Indias, Ed. SEP, Mé xico 1949.
177Congregatio pro Causis Sanctorum, Prot. 1720,
Manilen. Beati icationis ... Hieronymae ab Assumptione (em saec. H.
Yá ñ ez) ... Positio super vita et virtutibus, Roma MCMXCI, pp. 648-56, 726.
178Luis Lasso de la Vega, Huei Tlamahuizoltica o El Gran
Acontecimiento, 1649, em Ernesto de la Torre e Ramiro Navarro de
Anda, Testimonios Históricos Guadalupanos, p. 288.
179Carlos de Sigü enza y Gó ngora, Primavera Indiana, 1668, em Ernesto
de la Torre e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios Históricos
Guadalupanos, pp. 350–351, 352 e 355.
180Baltasar de Echave y Orio, denominado “o Velho” porque era pai de
dois outros pintores com o mesmo apelido, Baltasar e Manuel Echave
Ibia, e do avô de outro, Baltasar Echave Rioja. Nasceu em Zumaya,
Guipuzcuoa, em 1558, mas viveu em Sevilha, onde recebeu a in luê ncia
das escolas lamenga e italiana. Chegou ao Mé xico em 1580 e casou-se
na Catedral com Isabel de Ibia, ilha de outro pintor, Francisco de
Zumaya. Ele foi um pintor renascentista de cores excelentes, e ainda
temos muitas de suas belas obras. Ele criou uma o icina da qual seus
dois ilhos e outros discı́pulos surgiram. Ele morreu no Mé xico em
1660. Cfr. Manuel Toussaint, Pintura Colonial en Mexico, UNAM,
Instituto de Investigaciones Esté ticas, Mexico 1965, pp. 84-97.
181Esta pintura pertence a uma coleçã o privada e foi exposta na
exposiçã o Imágenes Guadalupanas Cuatro Siglos, no Centro Cultural de
Arte Contemporaneo, na Cidade do Mé xico, em 1988, e foi publicada no
livro comemorativo daquela exposiçã o.
182Elisa Vargas Lugo, “Algunas notas má s sobre Iconografı́a
Guadalupana,” em Anales de Insituto de Investigaciones Estéticas, UNAM,
Mé xico 1989, p. 60
183Jaime Genaro Cuadriello, Maravilla Americana . Variantes de la
Iconogra ía Guadalupana, siglos XVII-XIX, Ed. Patrimonio Cultural de
Occidente, Guadalajara 1989, p. 33
184“Testimonio de Pablo Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 40r.
185Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 297.
186Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 297.
187Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 349.
188Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 369.
189Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, pp. 369-370.
190Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 383.
191Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, pp. 384-385.
192Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 546.
193Friar Toribio Motolinia, Memoriales, pp. 309–312.
194Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, pp. 343-345.
195“Tapete e cadeira” está em petatl in icpalli, uma expressã o que
signi ica o governo, a autoridade.
196“Em todos esses casos, o ú nico deus se chama Tloque
Nahuaque, Dono do pró ximo e do pró ximo.” Miguel Leó n-Portilla, Los
Antiguos Mexicanos a través de sus Crónicas y Cantares, Ed. FCE, Mé xico
1995, p. 183
197 “Mã o morta, boca seca” signi ica ser incapaz de agir e falar.
198“Aguias e tigres [onças]” eram os sı́mbolos do sol e das estrelas, por
causa do pê lo malhado do jaguar; em outras palavras, dia e noite,
portanto simbó licos do con lito có smico em que era missã o e honra do
homem ajudar e continuar ajudando e nutrindo o sol com seu sangue.
199O cuauhxicalli era a tigela que recebia os coraçõ es dos
sacri icados; o cuahpiaztli deveria ser a palha com a qual o sol bebia o
sangue para se alimentar; “O copo da á guia”, “o tubo da á guia” é o
homem que atinge a dignidade completa ao ajudar Deus a manter o
universo com vida.
200“Cana e cestos” referem-se ao empresá rio que carregava uma
bengala. Se dissesse em mecapal em cacaxtl, signi icaria um carregador
simples.
201 “Sulco e a irrigaçã o”, expressã o que se refere à agricultura.
202“O tambor e o chocalho” signi icava a dança, que representava para
o Indı́gena a oração total. Nã o apenas invocavam, honravam e louvavam
seus deuses com suas cançõ es, mas també m com seus coraçõ es e com
os sentidos de seus corpos pelos quais, para fazer isso bem, tinham e
usavam muitos sinais memorizados, portanto, no balanço. de sua
cabeça, de seus braços e de seus pé s, assim como de todo seu corpo,
eles tentaram chamar e servir seus deuses. Por essa razã o, eles tiveram
o cuidado laborioso de elevar seus coraçõ es e seus sentidos aos
demô nios e servi-los com todas as partes de seus corpos,
e macehualiztli que era seu esforço de perseverar na penitê ncia e
merecer durante um dia e a maior parte da noite. Frei Toribio
Motolinia, Memoriales, p. 386.
203“Segundo uma tradiçã o que nos deixaram, que nos obrigaram a
manter.” Isso mostra que os indı́genas sempre souberam sustentar e
enfrentar com estoicismo e serenidade as piores di iculdades, bem
como nã o se apegar excessivamente a riquezas e privilé gios, o que nos
explica a nobre atitude de Juan Diego e de seu tio.
204“Nosso sustento” está em tonacayotl. Leve em consideraçã o essa
ê nfase para entender que Juan Diego chamou de Paraı́so em
tonacatlapan, ou “a terra de nosso sustento”.
205Alusã o à expressã o In Maxtlatl in Tilmatli, “tanga e manto”, forma
de se referir ao homem e à virilidade, nã o só no sentido sexual, mas
també m integral. A frase pode ser interpretada como "Peça a Ele que
você seja um homem!" També m pode ser levada em consideraçã o essa
identidade da tilma com a pessoa para entender o fato de que a Rainha
do Cé u deixou sua Imagem (també m um sı́mbolo de uma pessoa)
especi icamente no tilma de Juan Diego .
206 Huehuetlatolli. Sexto Libro del Códice Florentino, paleogra ia,
versã o, notas e ı́ndice de Salvador Dı́az Cı́ntora, UNAM, Coordinació n de
Humanidades, Mé xico 1995, pp. 25-31.
207Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 401.
208 Huehuetlatolli. Sexto Libro del Códice Florentino, pp. 126–128.
209Vemos o comportamento de Juan Diego aqui, obedecendo em um
instante quando a Senhora do Cé u indicava algo. Veio de uma tradiçã o
que foi recebida e assimilada quando criança.
210 “Entrar na á gua” signi ica á gua fria, como uma morti icaçã o.
211 Refere-se à ciê ncia, a sabedoria consignada na tradiçã o escrita.
212 Huehuetlatolli. Libro Sexto del Códice Florentino, pp. 126–128.
213Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 209.
214Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 163
215Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica Indiana, pp. 225-
226.
216 Narración sobre la misión de los indios acaxes en la Sierra de San
Andrés, sé culo XVI ou XVII, AHSI, Roma, Mé xico, Annuae 1574-1614
(Mé xico 14), Volume I, f. 32r.
217 Narración sobre la misión de los indios acaxes en la Sierra de San
Andrés, p. 34v.
218“Carta del P. Juan de Tovar, SJ, al P. Joseph de Acosta, SJ,” in Angel
Marı́a Garibay K., Frei Juan de Zumárraga e Juan Diego — Elogio
Fúnere . Ed. Bajo el signo de “Abside,” Mé xico 1949, pp. 11-14.
219“Testimonio de Martı́n de San Luis”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 46v.
220Frei Juan de Zumá rraga, Recado urgente a Hernán Cortés, ACI, Stand
51, caixa 6, arquivo 3, em Mariano Cuevas, Notável Documento
Guadalupano. Informe leído na Real Academia de la Historia, na sessão
de 27 de junho de 1919, Ed. Comité General de la ACJM, Mé xico 1919,
p. 9
221Frei Juan de Zumá rraga, Recado urgente a Hernán Cortés, pp. 9-10.
222Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 78
223De fato, alguns dos missioná rios, como Sahagú n e Durá n, se
encarregaram de investigar, meticulosamente, a cultura indı́gena, a im
de melhor combater qualquer tipo de idolatria, que pudesse prejudicar
seu rebanho recé m-convertido: “O mé dico nã o pode aplicar o remé dio
corretamente para o paciente, se primeiro ele nã o souber o que causa a
doença ... Para pregar contra essas coisas, e até mesmo para saber se
existem, é necessá rio saber como foram usadas ”. Frei Bernardino de
Sahagú n, Historia General, p. 17. Essa era a atitude geral. No entanto,
houve exceçõ es, como Frei Jacobo de Testera, que escreveu: “Sua
idolatria nã o assustou os religiosos quando entramos nesta terra e, por
ter compaixã o de sua cegueira, tı́nhamos grande con iança de que tudo
isso e muito mais seria a serviço do Nosso Deus, quando o conhecerem
”. Carta de fray Jacobo de Testera, Huejotzingo, 6 de maio de 1533,
em Cartas de Indias, Madrid 1877, p. 66
224Cfr. Frei Diego de Durá n, Historia de las Indias de Nueva España e
Islas de Tierra Firme, terminado em 1591, Ed. Porrú a (= Col. Biblioteca
Porrú a, n ° 36 e 37), Mé xico 1967.
225Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 85
226Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 85
227Frei Juan de Torquemada, Monarquía Indiana, Ed. Porrú a (= Col.
Biblioteca Porrú a, no. 43), introduçã o de Miguel Leó n-Portilla, Mé xico
1986, T. III, p. 140
228Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 276.
229Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 276.
230Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 277.
231Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 278
232Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, pp. 282–83. Uma
liga tem 3 milhas ou 5 quilô metros.
233Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 98
234Frei Toribio Motolinia, Historia de los Indios, p. 98
235Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 300
236Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 3
237Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 307.
238Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 307.
239Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Nican Motecpana, p. 307.
240“Testimonio de Gonzalo de Alarcó n”, in Información de 1556
ordenada realizada por Alonso de Montúfar, Arzobispo de México, em
Ernesto de la Torre Villar e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios
Históricos Guadalupanos, pp. 61-62.
241Vicente Riva Palacio, México a traves de los siglos, Ed. Cumbre,
Mé xico 1891, T. III, p. 366.
242 Códice Franciscano, siglo XVI, reunido por Joaquı́n Garcı́a
Icazbalceta, Ed. Salvador Chá vez-Haynoe, Mé xico 1941, p. VIII.
243Silvio Zavala, El servicio personal de los indios en la Nueva España
1521-1550, Eds. El Colegio de Mé xico y El Colegio Nacional, Mé xico
1984 [republicado, Mé xico 1991], TI, p. 485.
244Georges Baudot, La pugna franciscana por México, Eds. Alianza
Editorial Mexicana y Consejo Nacional para la Cultura y las Artes (= Col.
Los Noventa, n ° 36), Mé xico 1990, p. 49
245De fato, a Audiê ncia da Nova Espanha já havia escrito ao rei, em 14
de setembro de 1555, quando todos os padres ainda estavam no
conselho, relatando os maus-tratos que os ı́ndios recebiam quando
continuavam pedindo-lhes os dı́zimo que o rei havia ordenado em sua
disposiçã o de 23 de junho de 1543. A princesa escreveu ao Auditó rio da
Nova Espanha, ordenando que continuassem cobrando o dı́zimo, mas
que falassem com o arcebispo e os provinciais de cada ordem para
chegar a uma decisã o . Cfr. Genaro Garcı́a, Documentos inéditos o muy
raros para la historia de México, Ed. Porrú a (= Col. Biblioteca Porrú a, no.
58), Mé xico 1974, pp. 448-449. Sobre esta questã o do dı́zimo, seus
antecedentes e a con irmaçã o de seu im, Cfr. Silvio Zavala, El servicio
personal, TI pp. 485-509.
246 Carta del provincial franciscano, fray Francisco de Bustamante y
comunidad al rey Felipe II, Mé xico, 20 de novembro de 1555, AGI, S.
Indiferente General, 2978.
247 Carta del provincial franciscano, fray Francisco de Bustamante y
comunidad al rey Felipe II. Na verdade, na é poca de Frei Juan de
Zumá rraga, em 23 de junho de 1543, o rei havia ordenado aos ı́ndios
que pagassem o dı́zimo; no entanto, isso nã o foi imposto com rigor. Mas
por causa da carta escrita por Frei Francisco de Bustamante, enviada à
Espanha em 1555, em 10 de abril de 1557, quase dois anos depois, a
Coroa espanhola decidiu que os indı́genas nã o seriam obrigados a
pagar o dı́zimo: “Que o capı́tulo que refere-se ao ı́ndio desta terra
pagando o dı́zimo nã o icar guardado. . . nã o os incomode nem os
humilhe de forma alguma, até que tenha recebido instruçõ es daqui do
que aconselhamos. ” “Cé dula Real a la audiencia de Mé xico,” Valladolid,
10 de abril de 1557, em Cedulario Indiano, reproduçã o fac-sı́mile,
reunida por Diego de Encinas, Ed. Cultura Hispá nica, Madrid 1945,
ss. 191-92.
248“Testimonio de Gonzalo de Alarcó n”, in Información de 1556, p. 61
249“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 51
250“Testimonio de Juan de Salazar”, in Infomación de 1556, p. 51
251“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 50
252“Testimonio de Francisco de Salazar”, in Información de 1556, p. 50
253“Seria melhor se as esmolas ali dadas fossem para os hospitais da
cidade, especialmente o dos bubõ es, depois de terem recebido a maior
parte das suas doaçõ es, e ele nã o sabia o que eram as esmolas que se
recebiam nesta Ermida de Guadalupe gasto ou consumido.
” “Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556, p. 50. Sua
referê ncia ao hospital para bubõ es foi particularmente cá ustica, visto
que fora fundado e apoiado por Zumá rraga. Isso implicava entã o que o
novo arcebispo dominicano era ganancioso e miserá vel, muito diferente
do franciscano anterior.
254“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 58
255Parece que a Información de 1556 sobre o sermã o de Bustamante
tornou-se um verdadeiro processo canô nico contra Bustamante,
embora Montú far nã o o tenha seguido dessa maneira. Esteban
Anticoli, Historia de la Aparición de la Virgen de Guadalupe en México
from el año MMDXXXI al MDCCCXCV, Ed. La Europea, Mexico 1887, T. XIV,
pp. 203-28. José de Jesú s Cuevas, La Santísima Virgen de
Guadalupe, Ed. Cı́rculo Cató lico, Mé xico 1897, T. XIV, pp. 54-55; T. XXII,
pá g. 119. Fidel de Jesú s Chauvet, Historia del Culto Guadalupano, em
José Ignacio Echegaray, Álbum Conmemorativo del 450 aniversario de las
apariciones de Nuestra Señora de Guadalupe, Ed. Buena Prensa, Mexico
1981, pp. 30-34, todos pensam assim, enquanto Edmundo O'Gorman
acredita que nã o houve processo Canon: Cfr. Edmundo
O'Gorman, Destierro de Sombras. Luz en el origen de la imagen y culto de
Nuestra Señora de Guadalupe en el Tepeyac, UNAM, Mexico 1986, pp. 81-
107.
256Um exemplo de juramento é o do Real Procurador da Audiê ncia,
que foi testemunha e jurou “por Deus e por Santa Maria e pelo sinal da
Cruz, na qual colocou a mã o direita, cuja carga prometeu para dizer a
verdade sobre o que ele sabia e foi perguntado. ” “Testimonio de Juan
de Salazar”, in Información de 1556, p. 49
257“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, pp. 51-52.
258 Concilios Provinciales. Primero y Segundo, celebrados en la muy
nobre y leal Ciudad de México, presidudos por el Illmo. y Rmo. Señor D.
Fr. Alonso de Montúfar, nos años de 1555 e 1565, publicação por el
arzobispo de México, Francisco Antonio Lorenzana, Imprenta del
Superior Gobierno del Br. D. Joseph Antonio de Hogal, México 1769,
p. 171
259“Testimonio de Alonso Sá nchez de Cisneros,” in Información de
1556, p. 64
260Edmundo O'Gorman, Destierro de Sombras, p. 21 .
261“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 51
262“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 51
263“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 53
264“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 49-50. A
grande popularidade da devoçã o també m se manifesta em outros
depoimentos: “Esta testemunha estando em l'Hermitage viu entrar ali
com grande devoçã o tanto espanhó is como indı́genas, e muitos de
joelhos, pela porta do altar onde está a Imagem de Nossa Senhora de
Guadalupe é colocada, e parece-lhe que é fundamental o su iciente para
sustentar este l'Hermitage, e que querer retirar esta devoçã o seria
contra todo o Cristianismo. ” “Testimonio de Juan de Salazar”,
in Información de 1556, p. 71. Outro testemunho: “Ele encontrou muitas
senhoras abastadas caminhando, e outras pessoas, homens e mulheres
de todos os tipos, indo e vindo, e que viu muitas esmolas sendo dadas
ali, e que lhe pareceu que foi com grande devoçã o. ” “Testimonio de
Alvar Gó mez de Leó n”, in Información de 1556, p. 67
265“Houve um grande escâ ndalo no auditó rio; e foi na cidade, e ele
ouviu muitas pessoas justas dizerem que ele parecia apaixonado e que
estava escandalizado. ” “Testimonio de Juan de Masseguer”,
in Información de 1556, p. 71
266Edmundo O'Gorman, Destierro de Sombras, p. 21. Stafford Poole,
CM, concorda com a posiçã o de O'Gorman: “Há alguma plausibilidade,
no entanto, na teoria avançada por alguns anti-aparicionistas, como
O'Gorman, de que foi Montufar quem instalou a imagem original no
Hermitage . ” Stafford Poole, Nossa Senhora de Guadalupe. The Origins
and Sources of a Mexican National Symbol, 1531–1971, Ed. Tucson,
Arizona: The University of Arizona Press. 1995, p. 68. Este ú ltimo autor,
que é antaparatista e continua na linha de O'Gorman, nem sequer
analisou a importante Información de 1556, apenas aponta a sua
aprovaçã o da hipó tese de O'Gorman.
267Edmundo O'Gorman, Destierro de Sombras, p. 13
268“Testimonio de Juan de Mesa”, in Información de 1556, p. 48
269“Testimonio de Juan de Salazar”, in Información de 1556, p. 50
270“Testimonio de Marcial de Contreras”, in Información de 1556, p. 54
271“Testimonio del Bachiller de Puebla”, in Información de 1556, pp.
56-57.
272“Testimonio de Francisco de Salazar”, in Información de 1556, p. 59.
273“Testimonio de Gonzalo de Alarcó n”, in Información de 1556 , p. 62
274“Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556 , p. 71
275“Testimonio de Francisco de Salazar”, in Información de 1556, p. 59.
276“Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556 , p. 71
277“Testimonio de Francisco de Salazar”, in Información de 1556, p. 59.
278“Testimonio de Alvar Gó mez de Leó n”, in Información de 1556, p. 67
279“Testimonio de Gonzalo de Alarcó n.” in Información de 1556 , p. 62
280O franciscano e especialista em Guadalupe Frei Fidel de Jesú s
Chauvet identi ica Frei Luis como Luis Cal, Cfr. Frei Fidel de Jesú s
Chauvet, El Culto Guadalupano del Tepeyac. Sus Orígenes y sus Críticos en
el Siglo XVI, no apê ndice, La Información de 1556, Ed. Centro de
Estudios Bernardino de Sahagú n, AC, Mé xico 1978, pp. 99-100.
281“Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556 , p. 69
282“Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556 , p. 71
283“Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556, p. 69
284“Testimonio de Francisco de Salazar”, in Información de 1556, p. 60
285“Testimonio de Juan de Masseguer”, in Información de 1556 , p. 72
286Frei Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 705.
287Juan Suá rez de Peralta, Tratado del descubrimiento de las
Indias, Ed. SEP, Mé xico 1949, p. 161
288As distâ ncias percorridas pelos peregrinos indı́genas foram
realmente surpreendentes. Torquemada mencionou que foram da
Guatemala ao Santuá rio de Tianquizmanalco, o equivalente a
Guadalupe. Cfr. Frei Juan de Torquemada, Monarquía, T.III, p. 357.
289Cfr. Frei Fidel de Jesú s Chauvet, El Culto Guadalupano del
Tepeyac . També m José Bravo Ugarte, Cuestiones Históricas
Guadalupanas, Ed. Jus, Mexico 1966, pp. 15-45. Robert Ricard, La
conquista espiritual de México, traduçã o de Angel Marı́a Garibay, Ed. Jus,
Mexico 1947, pp. 348-52. “Informació n de 1556,” in Ernesto de la Torre
Villar e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios Históricos
Guadalupanos, pp. 36-141. Jacques Lafaye, Quetzalcóatl y
Guadalupe . Ed. Gallimard, Paris 1974, pp. 315-20. Esta ú ltima, embora
seja uma teoria desfavorá vel da sobrenaturalidade da Apariçã o, expõ e
elementos acompanhantes que in luenciaram a hostilidade dos
franciscanos.
290Cfr. Francisco Antonio Lorenzana, Concilios Provinciales . Serie de los
Arzobispos de Mexico , Imp. Joseph Antonio de Hogal, Mé xico 1769, TI,
p. 214. També m em Luis T. Montes de Oca, Las Tres primeras ermitas
guadalupanas del Tepeyac , Mé xico [1935?].
291“Testimonio de Gabriel Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de 1666 ,
f. 20r.
292“Testimonio de Gabriel Xuá rez”, in Informaciones Jurídicas de
1666, f. 20r.
293“Carta del Virrey de la Nueva Españ a, don Martı́n Enrı́quez, al rey
don Felipe II, dá ndole cuenta del estado de varios asuntos, de la
solució n que habı́a dado a otros e informando sobre algunos puntos
que se le consultaban,” Mé xico, 23 de setembro , 1575, em Cartas de
Indias , Ed. Secretarı́a de Hacienda y Cré dito Pú blico, Mé xico 1980, p. 39
294“Carta de fray Diego de Santa Marı́a a Su Majestad,” Cidade do
Mé xico, 12 de dezembro de 1574, AGI, Sevilha, Espanha. Documento
Mé xico no. 69, nº 3, em Xavier Noguez, Documentos Guadalupanos. Un
Estudio sobre las fuentes de información tempranas en torno a las
mariofanias en el Tepeyac , Ed. FCE, Mé xico 1993, p. 230
295 Anales de Puebla y Tlaxcala ou Anónimo B (1524–1674), AHMNA,
AAMC, no. 19, 2.
296 Anales de Puebla y Tlaxcala ou Códice Gómez de Orozco ou Anales
de Cuetlaxcoapan ou Anónimo C (1519-1720), BNAH, Arquivos
Históricos , no. 1040.
297 Anales de Tlaltelolco y Mexico (1524-1686), AHMNA, AAMC, no. 13,
1-2.
298 Anales de Puebla y Tlaxcala ou Anales de los Sabios Tlaxcaltecas ou
Anales de Catedral (1519-1739), AHMNA, AAMC, no. 18, 1.
299Xavier Noguez, Documentos Guadalupanos, pp. 55-56.
300 Añalejo de Bartolache ou Manuscrito de la Universidad (1454-
1737), BNAH, Arquivos histó ricos, Archivo de Sucs. Gó mez de Orozco.
301“Testimonio del P. Luis Becerra Tanco”, in Informaciones Jurídicas de
1666 , ff. 151v-152r. Ele també m a irma isso em seu manuscrito
publicado em 1675, intitulado Felicidad de México , introduçã o, notas e
versã o de José Roberto Mendirichaga, Monterrey, Mé xico 1995, pp. 30-
31. També m em Francisco de Florencia, La Estrella del Norte, 1688,
Ed. Lorenzo de San Martı́n, Mé xico 1785, pp. 376-79.
302 Concilios Provinciales Primero y Segundo, pp. 91-94.
303Cfr. Manuel Ramos Medina (Coord.). El Monacato Femenino en el
Imperio Español. Monasterios , Beaterios , Recogimientos y
Colegios . Memoria del Segundo Congreso Internacional, Ed. Condumex,
Mé xico 1995.
304 Cedulario de Puga , publicado na casa de Pedro Ocharte, Mé xico
1563, TI, p. 444.
305“Testimonio de Becerra Tanco”, in Informaciones Jurídicas de 1666 ,
ff. 156r-157r. Embora diga que o ı́ndio erudito, criado no convento de
Santa Cruz de Santiago, em Tlaltelolco, e governador dos indı́genas da
Cidade do Mé xico se chamava Juan Valeriano, na verdade está
escrevendo sobre Antonio Valeriano.
306Cfr. Añalejo de Bartolache ou Manuscrito de la Universidad (1454-
1737), BNAH, Arquivos Histó ricos, Arquivos Sues. Gó mez de
Orozco. També m Luis Becerra Tanco, Felicidad de México , 1666, pp. 36
e 39; Los Anales de Puebla y Tlaxcala ou Anales de los Sabios
Tlaxcaltecas ou Anales de Catedral, AHMNA, AAMC, no. 18, I .; e
em Códice 1548 , em Enciclopedia Guadalupana, dirigido por Xavier
Escalada, SJ, Ed. Enciclopedia Guadalupana, Mé xico 1997, TV
307 Descobertas con irmadas por Manuel Garcı́a de la Torre, Secretá rio
do Patrimô nio Nacional, 3 de dezembro de 1963, INAH e Departamento
de Monumentos Pré -hispâ nicos.
308 Por exemplo, a igreja do sé culo XVIII em Cuauhtitlá n foi erguida
usando suas fundaçõ es como um tronco que protegia as paredes de
adobe originais da casa que sempre foi considerada de Juan Diego.
309O escritor Antonio Valeriano (nã o sabemos seu nome indı́gena) foi
o mais importante colaborador de Bernardino de Sahagun, e o aluno
mais brilhante do Colégio de Santa Cruz de Tlaltelolco, posteriormente
professor e diretor. Ele nã o era descendente de nobres, mas depois de
se casar com a princesa Isabel Huanitzin, tornou-se parte da mais alta
aristocracia indı́gena e parente das casas reais do Mé xico e
Texcoco. Senhor de Atzcapotzalco, deu asilo ao seu sobrinho, Francisco
Verdugo Quetzalmamalitzin, antepassado de Fernando de Alva
Ixtlilxó chitl, atravé s do qual este documento chegou à s mã os de P.
Sigü enza y Gó ngora, que o transmitiu ao nosso conhecimento
geral. Miguel Leó n-Portilla con irmou que este manuscrito foi escrito
por Antonio Valeriano por volta de 1556, Cfr. Carta de Miguel León-
Portilla em P. Fidel González, Mé xico, 12 de agosto de 1998, ACCID, em
CCS.
310A có pia mais antiga conhecida do Nican Mopohua do sé culo XVI é
mantida na Biblioteca de Nova York, Seç. Manuscritos, Col. Lenox.
311De facto, Lorenzo Boturini, no seu Catálogo, dá -nos a notı́cia de
“uma grande herança de tı́tulos e documentos antigos de um
manuscrito piedoso de pobres constrangedores, que estava ligado à
primeira Ermida e Santuá rio de Guadalupe. Neste legado encontram-se
documentos que comprovam a veneraçã o desde tempos imediatamente
posteriores à s Apariçõ es e muito mais tarde (originais). ” Lorenzo
Boturini Benaduci, Catálogo de Obras Guadalupanas, em Ernesto de la
Torre Villar e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios Históricos
Guadalupanos, p. 410
312 El Testamento de la Hija de Juan García Martín é mantido na
Biblioteca Pú blica de Nova York, Seçã o de Manuscritos, Col. Lenox,
Arquivos Guadalupe, uma có pia do original e sua traduçã o no Col.
Aubin-Goupil, Biblioteca Nacional de Paris, e no Arquivo Histó rico da
Bası́lica de Guadalupe, Cidade do Mé xico. A traduçã o do texto foi feita
por Faustino Galicia Chimalpopoca. Cfr. Mariano Cuevas, Álbum
Histórico Guadalupano del IV Centenario. Escuela Tipográ ica Salesiana,
Mé xico 1930, pp. 85-86.
313Cfr. Actas de Cabildo de la Cd . de México , Acta 3121-3271.
314Cfr. Niceto de Zamacois, Historia de Mexico from sus tiempos más
remotos hasta nuestros días, Ed. JF Parres y Compañ ı́a, Barcelona-
Madrid [data da introduçã o: 1876]. TV, p. 149.
315Juan Suá rez de Peralta, Tratado del Descubrimiento de las Indias ,
Biblioteca Pú blica de Madrid, manuscrito no. 302, f. 163v. També m
em Noticias Históricas de la Nueva España . Tratado del Descubrimiento
de las Indias, Madri 1878, cap. 41. També m em Fortino Hipó lito
Vera, Tesoro Guadalupano, T. I, p. 68. També m houve uma ediçã o do
Secretariá de Educacion Pú blica, Juan Suá rez de Peralta. Tratado del
Descubrimiento de las Indias , Ed. SEP, Mé xico 1949.
316AA. VV, Álbum de los 450 Aniversario de las Apariciones, Ed. Buena
Prensa, Mé xico 1981.
317 Concilio III Provincial Mexicano Celebrado en México el Año de
1585 , publicado por Mariano Galvá n Rivera, Ed. Eugenio Maillefert,
Mé xico 1859, L. I, T. I, p. 23
318Cfr. Informe de Fernando Alvarez, AGN, Ramo Bienes Nacionales, v.
78, expediente 111.
319Francisco Javier Alegre, Historia de la Compañia de Jesú s, TI Lib. IV,
p. 374.
320 Actas del Cabildo, ACC, L-4-1600, f.246. També m em Cayetano de
Cabrera, Escudo de Armas, Lib. III, cap. XVII, n. 707, pá g. 358.
321Cfr. Actas de Cabildo de la C. de México , Acta 6065.
322Frei Juan de Torquemada, Monarqúia Indiana, T. I, 727.
323Cfr. Jesú s Garcı́a Gutié rrez. Primer Siglo, pá g. 116
324Cayetano de Cabrera, Escudo de Armas, Lib. III, cap. XCII, n. 708,
pá g. 359. També m em Patricio Uribe, Disertación, n. 8, pá g. 59.
325Congregatio de Causis Sanctorum, Prot. 1720,
Manilen. Beati icationis ... Hieronymae ab Assumptione (em Saec. H.
Yañ ez) ... Positio super vita et virtutibus, Roma MCMXCI, pp. 648-
56; 726.
326Segundo Jesus Garcı́a Gutié rrez, o manuscrito deste poema foi
encontrado no Archivo General de la Nació n, em uma sé rie de volumes
manuscritos sobre assuntos histó ricos do Mé xico: Colección de
Memorias de Nueva España, quien de virtud de órdenes de Su Majestad
del Excmo . Ir. Conde de Revillagigedo e do MRP Ministro Fray Francisco
García Figueroa, colectó, extrair e dispuso em 32 tomos, um religioso de
la Provincia del Santo Evangelio de México, por el ano de 1792, tomo I.
Comprenden las piezas del Museo de Boturini y otras, de las que pidió Su
Majestad en su real orden del 21 de Febrero de 1790, Cfr. Jesú s Garcı́a
Gutié rrez, Primer Siglo , p. 120
327Luis Angel Betancourt, Poema, em Francisco de la Maza, El
Guadalupanismo Mexicano, Eds. FCE y SEP (= Col. Lecturas Mexicanas
no. 37), Mé xico 1984, pp. 41-42.
328Jesú s Garcı́a Gutié rrez, Primer Siglo, p. 72
329 Testamento de Francisco Quetzalmamalintzin, nos Arquivos da Real
Academia de Histó ria, Madrid, Coronel de Manuscritos, Guı́a de Fuentes
para la Historia de IA, vol. II, p. 406. També m na Biblioteca Nacional de
Paris, Mexicains, 243. Citado por Lorenzo Boturini Benaduci, “Museo
Indiano”, em Idéia de uma Nova História Geral de la América
Setentrional, Ed. Porrú a (= Col. “Sepan Cuantos” nº 278), pará grafo 2,
Mé xico 1986, pp. 148-49.
330Cfr. Testamento de Sebastián ou Esteban Tomelin, em Fortino
Hipó lito Vera, Tesoro Guadalupano, Anexo pp. 13-22. També m Cfr. Jesú s
Garcı́a Gutié rrez, Primer Siglo, pp. 70-71. També m Cfr. Lorenzo Boturini
Benaduci, “Catá logo del Museo Indiano. Guadalupe, Instrumentos
Pú blicos y otros Monumentos, Pá rrafo XXXVI, ”in Ernesto de la Torre
Villar e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios Históricos
Guadalupanos, pp. 409-11.
331 Testamento de Elvira Ramírez, Arquivo Geral do Estado de Colima,
Registro de Escrituras Pú blicas ante Francisco Ló pez (1577), caixa 4,
arquivo 10. Todo o Registro tem 56 fs. O documento original ocupa
apenas 5 pastas.
332 Testamento de Alonso Hernández de Siles, AGN, Bienes Nacionales,
vol. 391, arquivo 16, snf
333 Testamento de Anna Sánchez, AGN, Bienes Nacionales, vol. 391,
arquivo 11, snf
334 Testamento de Alonso Montabte, AGN, Bienes Nacionales, vol. 391,
arquivo 10.
335Bernal Dı́az del Castillo nasceu em Medina del Campo, Espanha,
entre 1492 e 1493; veio ao Novo Mundo como soldado sob o comando
de Pedrarias Dá vila e morreu na Guatemala em 1585. Foi a Cuba em
expediçõ es com Herná ndez de Có rdoba, Juan de Grijalva e depois com
Corté s, sob o comando de Pedro de Alvarado. Ele participou da infeliz
expediçã o de Las Hibueras. Ele participou dos principais eventos. Foi
para a Espanha em 1539, obteve o tı́tulo de magistrado em Soconusco,
voltou ao Mé xico em 1541 e decidiu ir para Santiago da Guatemala. Em
1551 voltou para a Espanha pela segunda vez e obteve o tı́tulo de
magistrado na Guatemala. Por volta de 1560 ele escreveu um
livro, Historia Verdadera de la Conquista de la Nueva España. Foi
publicado em Madrid em 1632 por Frei Alonso Ramó n, Repó rter Geral
da Ordem da Merced, que utilizou uma có pia enviada pelo autor à
Espanha. O manuscrito original de sua obra agora se encontra no
Arquivo Nacional da Guatemala.
336Bernal Dı́az del Castillo, Historia Verdadera, T. I, p. 373.
337Bernal Dı́az del Castillo, Historia Verdadera, T. I, p. 651.
338Francisco Cervantes de Salazar, México en 1554 , E. Antigua Librerı́a
de Andrade y Morales, Mé xico 1875. També m em Fortino Hipó lito
Vera, Tesoro Guadalupano, T. I, p. 15
339E um pergaminho policromado de 78 cm. por 114 cm; agora
mantido na Universidade de Uppsala, Sué cia. Como isso chegou à Sué cia
é um misté rio; parece que depois que seu guardiã o, Alonso de la Santa
Cruz, morreu em Praga em 1572, foi comprado pelo colecionador
Rodolfo II da Alemanha e depois acabou em Praga onde “provavelmente
se tornou parte do saque na pilhagem de Praga em 1648 pelo exé rcito
sueco. ” Sigvald Linne, El Valle de la Ciudad de México en 1550, em José
Irurriaga de la Fuente, Anecdotario de Viajeros Extranjeros en México,
Siglos XVI — XX, apresentaçã o de André s Henestrosa, Ed. FCE, Mexico
1989 [republicado em 1991], T. I, p. 67
340 Gastó n de Peralta, Marquê s de Falces, foi vice-rei na Nova Espanha
de 1566 a 1567.
341José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato. Orígenes y Jurisdicciones, y
Dinámica Social de los Virreyes, UNAM, Instituto de Investigaciones
Histó ricas, y FCE, Mé xico 1983 [Reimpresso em 1992], T. I, p. 124
342 Martı́n Enrı́quez de Almanza foi vice-rei na Nova Espanha de 1568
a 1580.
343 Um discurso escrito por um certo Miles Philips, inglês , p. 143
344Archivo del Cabildo y Catedral Metropolitana, Actas de Cabildo, 2º
livro, có pia a laser. També m publicado por Jesú s Garcı́a
Gutié rrez, Primer Siglo, p. 85
345Archivo del Cabildo y Catedral Metropolitana, Actas de Cabildo, 2º
livro, có pia a laser. També m publicado por Jesú s Garcı́a
Gutié rrez, Primer Siglo, p. 85
346 Actas de Cabildo de la Catedral de Mé xico, Lei 3513.
347Cfr. Francisco Javier Alegre, Historia de la Provincia Compañía de
Jesús en la Nueva España, Ed. Institutum Historicum, SJ, Roma 1959, T. I,
p. 374.
348P. Francisco Baez, SJ, Annuae Literae de la Provincia de Mexico y
Philipinas, de abril de 1600 a abril de 1602, AHSI, Roma,
Mé xico, Annuae 1574-1614 (Mé xico 14), vol. Se. 268v.
349P. Pedro Flores, SJ, Annuae Literae Provinciae Mexicanae, 1609,
AHSI, Roma, Mé xico, Annuae 1574-1614 (Mé xico 14), vol. 1, f. 502v.
350Uma sı́ntese da devoçã o dos jesuı́tas a Guadalupe e de sua
propagaçã o pode ser vista no sermã o de Frei Antonio Ló pez Murto,
franciscano na Propaganda Fidei, pronunciado em 7 de maio de 1791,
24 anos depois da expulsã o dos jesuı́tas. Nele, ele elogia o trabalho
missioná rio dos jesuı́tas e como os indı́genas mais relutantes do norte
do Mé xico viviam sua devoçã o a Guadalupe.
351No Arquivo Secreto do Vaticano dois ı́ndices cronoló gicos sã o
mantidos, um sobre as comissõ es expedidas de 1569 a 1571, outro
sobre as petiçõ es expedidas entre 1569 e 1575. As indulgê ncias
pontifı́cias a favor do Santuá rio de “Nossa Senhora de Guadalupe de
Tepeaquilla no Provı́ncia mexicana ”sã o registrados em fevereiro de
1573. ASV, Sec. Brev. Lat. 81, pá g. 165
352 Carta de Everardo Mercuriano, SJ, al arzobispo de Mexico, Pedro
Moya de Contreras, ARSI, mexicana, 1, f. 9r; publicado també m
na Monumenta Mexicana, vol. I (1570-1580), (= Col. Monumenta
Historica Societatis Iesu n. 77), ediçã o dirigido por Felix Zubillaga,
Ed. Monumenta Historica Societatis lesu, Roma 1956, pp. 192-93, nota
3. Cfr. Cartas de Indias, p. 310; Francisco del Paso y
Troncoso, Epistolário de Nova Espanha, XI, p. 266. Algumas informaçõ es
oferecidas por Stafford Poole, Nossa Senhora, p. 76, está errado.
353 Monumenta Mexicana, vol. I, p. 213.
354Cfr. Gregory XIII, Ut Deiparae sempre Virginis, 28 de março de 1576,
ASV, Sec. Resumo 69, fs. 537r-538v; Sec. Breve 70 f. 532-533v. Este
resumo foi publicado na America Ponti icia, coordenado e editado por
Joseph Metzler, Libreria Editrice Vaticana, Cidade do Vaticano 1991,
vol. 2, pp. 1051-53.
355Cfr. Gregory III, Ut Deiparae sempre Virginis, 28 de março de 1576,
Sec. Resumo 69, fs. 537r-538v; Sec. Breve 70, ss. 532r-533v.
356Frei Alonso Ponce, Relación, em Miguel Salva e Marqué s Fuensanta
del Valle, Relación Breve y Verdadera, Imp. Viuda de Calero, Madrid
1875, vol. 1, pá g. 107
357Por exemplo: Stafford Poole, Our Lady, pp. 76-77.
358Nos arquivos da Bası́lica de Guadalupe guardam diversos
documentos com a informaçã o de todas as meninas ó rfã s que foram
auxiliadas pelo arcebispo do Mé xico. Alé m disso, Patricio Uribe o
publicou em Disertación Histórico-Crítica sobre la Aparición, no. 8,
pá g. 60
359Cfr. Actas de Cabildo de la C. de México, Ato. 3743.
360Cfr. Actas de Cabildo de la C. de México, Ato. 4154.
361Cfr. Actas de Cabildo de la C. de México, Ato. 5266.
362“Carta de Fray Diego de Santa Marı́a a su Majestad,” Cidade do
Mé xico, 12 de dezembro de 1574, AGI, Sevilla, Espanha, Documento
Mé xico no. 69, nº 3, em Xavier Noguez, Documentos Guadalupanos , pp.
230-31.
363O testemunho de Diego de Santa Marı́a de 12 de dezembro de 1574,
com os resultados de sua visita e suas proposiçõ es, enviadas nessa data
a Filipe II, foram descobertos por P. Mariano Cuevas no Arquivo Geral
das Indias e publicados em sua Historia de la Iglesia no México. vol. 2,
pp. 493-97. As cartas eram dirigidas a Filipe II e nã o a Carlos V, já
falecido na é poca. As vezes, esse monge comete pequenos erros de
apreciaçã o e julgamento sobre o lugar.
364“Carta de fray Diego de Santa Marı́a a su Majestad,” Cidade do
Mé xico, 12 de dezembro de 1574, AGI, Sevilla, Espanha, Documento
Mé xico no. 69, nº 3, em Xavier Noguez, Documentos Guadalupanos, pp.
230-31.
365“Carta de fray Diego de Santa Marı́a a su Majestad,” Cidade do
Mé xico, 12 de dezembro de 1574, AGI, Sevilla, Espanha, Documento
Mé xico no. 69, nº 3, em Xavier Noguez, Documentos Guadalupanos , pp.
230-31.
366“Carta de fray Diego de Santa Marı́a a su Majestad,” Cidade do
Mé xico, 24 de março de 1575, AGI, Sevilla, Espanha, Signature Mé xico,
no. 283, em Xavier Noguez, Documentos Guadalupanos , pp. 232-36.
367Arquivo Histó rico de Madrid, Documentos de Indias , no. 235.
Publicado em Cartas de Indias , LVI, p. 310. També m em Fortino Hipó lito
Vera, Tesoro Guadalupano , p. 34
368Cfr. Arquivo Histó rico de Madrid, Documentos de Indias , no. 235.
Publicado em Cartas de Indias , LVI, p. 310, També m em Fortino Hipó lito
Vera, Tesoro Guadalupano , p. 46 e p. 48
369Cfr. Francisco de Florencia, La Estrella del Norte , Imp. D. Marı́a de
Benavides, Mé xico 1688, p. 197. També m em Fortino Hipó lito
Vera, Tesoro Guadalupano , pp. 57-58.
370 Lorenzo Suá rez de Mendoza, conde da Coruñ a, foi vice-rei da Nova
Espanha de 1580 a 1583.
371José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato , vol. I, p. 128
372 Alvaro Manrı́que de Zú ñ iga, marquê s de Villamanrique, foi vice-rei
da Nova Espanha de 1585 a 1589.
373José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato , vol. I, p. 129
374 Luis de Velasco, o ilho, foi vice-rei da Nova Espanha de 1589 a
1595.
375José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato , vol. I, p. 132
376Frei Juan de Torquemada, Monarquía Indiana, vol. I, p. 652.
377 Gaspar Acevedo y Zú ñ iga, conde de Monterrey, foi vice-rei na Nova
Espanha de 1595 a 1603.
378José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato , vol. I, p. 134
379 Juan de Mendoza y Luna, Marquê s de Montesclaros, vice-rei na
Nova Espanha de 1603 a 1607.
380José Ignacio Rubio Mané , El Virreinato , vol. I, pp. 136-37.
381José Ignacio Rubio Mané , El Virreinato , vol. I, p. 137
382Mateo Alemá n, Sucesos de Fr. García Guerra , Arzobispo de México ,
Mé xico 1613, em Fortino Hipó lito Vera, Tesoro Guadalupano, p. 285.
383Frei Juan de Torquemada, Monarquía Indiana, vol. I, livro I,
cap. LXXIV, p. 767.
384Cfr. Francisco Antonio Lorenzana, Concilios Mexicanos, vol. I, Serie
de los Ilmos. Sres Arzobispos de la Santa Iglesia de México, p. 216
385 Diego Ferná ndez de Có rdova, Marquê s de Guadalcazar, foi vice-rei
da Nova Espanha de 1612 a 1621.
386José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 140
387José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 141
388També m publicado por Cayetano de Cabrera, Escudo de Armas, livro
III, cap. XV, n. 677, pá g. 342.
389Publicado també m por Fortino Hipó lito Vera, Tesoro
Guadalupano, p. 94
390 Diego de Pimentel, conde de Priego e marquê s de Gelves, foi vice-
rei da Nova Espanha de 1621 a 1624.
391José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 142
392José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 142
393Cfr. “Resguardo contra el Olvido”, cap. III, pá g. 20, in Fortino
Hipó lito Vera, Tesoro Guadalupano, pp. 287-88.
394També m publicado em Fortino Hipó lito Vera, Tesoro
Guadalupano, p. 96. També m impresso por Bachelor Juan de Alcazar,
Mé xico 1622.
395José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 143
396José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, pp. 143-44.
397 Garcı́a Sarmiento de Sotomayor, conde de Salvatierra, foi vice-rei
da Nova Espanha de 1642 a 1647.
398José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 148
399 Francisco Ferná ndez de la Cueva, duque de Alburquerque, foi vice-
rei da Nova Espanha de 1653 a 1660.
400José Ignacio Rubio Mañ é , El Virreinato, vol. I, p. 151. També m in
Gregorio Martı́n de Guijo, Diario de Sucesos Notables. 1665-1703,
em Documentos para la Historia de México, Mé xico 1853, vol. I, pp. 446-
47 e 455.
401José Guadalupe Victoria, “Un singular ejemplo de piedad Mariana,
Notas en torno a una Pintura de la Virgen de Guadalupe,” in Anales del
Instituto de Investigaciones Estéticas, UNAM, Mé xico 1989, p. 71
402“Sermó n Guadalupano,” em Juan de Tovar, SJ, Sermonario,
Biblioteca Nacional do Mé xico, Fondo Reservado, MS. 1475, ss. 51r-53r.
403També m publicado em Fortino Hipó lito Vera, Tesoro Guadalupano ,
p. 263.
404Cfr. especialmente o Decreto do Concı́lio Vaticano II, Ad Gentes
Divinitus, sobre a atividade missioná ria da Igreja.
405Cfr. Miguel Leó n-Portilla, La Filoso ía Náhuatl Estudiada en sus
Fuentes, UNAM, Instituto de Investigaciones Histó ricas, Mé xico 1974,
pp. 234-35.
406“Nã o há ningué m no mundo, nem houve, que honrou os mais velhos
com mais temor e reverê ncia do que essas pessoas e, portanto, aqueles
que nã o respeitaram os mais velhos, pais ou mã es pagaram por isso
com a vida. Portanto, o que essas pessoas mais recomendaram e
ensinaram a seus ilhos foi a reverê ncia aos mais velhos, de qualquer
tipo, dignidade ou condiçã o que pudessem ser. ” Frei Diego
Durá n, Historia de las Indias de la Nueva España e Islas de Tierra
Firme, Ed. Porrú a (= Col. Biblioteca Porrú a no. 36), Mé xico 1967, TI,
p. 36
407Norberto Rivera Carrera, ¿No estoy yo aquí que soy tu
madre? Palabras de la Santísima Virgen de Guadalupe al Beato Juan
Diego en el Tepeyac [ Nã o estou aqui, sou sua mãe? Palavras da
Santíssima Virgem de Guadalupe ao beato Juan Diego em
Tepeyac]. Dezembro 1531, Ed. Arquidió cesis Primada de Mexico,
Mexico 1996, p. 4
408Fidel Gonzá lez, Eduardo Chá vez e José Luis Guerrero, El Encuentro
de la Virgen de Guadalupe e Juan Diego, Ed. Porrú a, Mé xico 2002, p. 526.
409 Colloquios y Doctrina Christiana, ff. 3r — 41v.
410Frei José de Acosta, Historia Natural y Moral de las Indias, Ed. FCE,
Mé xico 1979, p. 235.
411Frei José de Acosta, Historia Natural y Moral de las Indias, p. 244.
412 Juan Pablo II al mundo intelectual y cultural católico, julho de 1986,
in FUNDICE, Órgano informativo de la fundación pro difusión cultural del
medio milenio en América AC, I (1987), 2, p. 3
413Fernando de Alva Ixtlilxó chitl, Obras Históricas, estudo introdutó rio
de Edmundo O'Gorman; prefá cio de Miguel Leó n-Porrilla, UNAM,
Instituto de Investigaciones Histó ricas, Mé xico 1975, T. I, p. 505.
414Frair Geró nimo de Mendieta, Historia Eclesiástica, p. 506.
415Frei Diego Durá n, Historia de las Indias, T. I, pp. 3 e 5.
416Frei Diego Durá n, Historia de las Indias, T. I, p. 79
417Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 17
418 Juan Pablo II ao mundo intelectual, p. 3
419Fidel Gonzá lez, Eduardo Chá vez e José Luis Guerrero, El
Encuentro, pp. 531-32.
420Frei Diego Durá n, Historia de las Indias, T. I, p. 397.
421Frei Bernardino de Sahagú n, Historia General, p. 545.
422Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 33
423Antonio Valeriano, Nican Mopohua, p. 39
424Frei Servando Teresa de Mier, “Cartas a Juan Bautista Muñ oz,” 1797,
em Ernesto de la Torre Villar e Ramiro Navarro de Anda, Testimonios
Históricos Guadalupanos, p. 768.
425Guillermo Schulenburg Prado, “El Milagro de
Guadalupe”. Entrevista com Guillermo Schulenburg Prado, em Ixtus,
Espirito y Cultura 3 (1995) 15, p. 34
426Mariano Cuevas, Historia de la Iglesia en México, Ed. Patria, Mexico
1947, T. I, pp. 68-69.
427Outro exemplo claro é o ritual do batismo de adultos no ritual
romano, que nã o foi modi icado até muito pouco tempo atrá s. Nã o só
tratava o convertido como um autê ntico possesso diabó lico, fazendo
exorcismos sobre ele, mas també m, ao sinalizá -lo na testa e no coraçã o,
o ameaçavam propositalmente: “Ficai horrorizado com os ı́dolos,
repreendam suas imagens. . . Fique horrorizado com o judeu traiçoeiro,
repreenda a superstiçã o hebraica! ... Fique horrorizado com o traiçoeiro
muçulmano, repreenda a seita perversa da in idelidade! ... Fique
horrorizado com a maldade da heresia, repreenda as seitas perversas
do mal! ” Ordo Baptismi adultorum, em Rituale Romanum. Paulo V
Ponti icis Maximi iussu editum e um Benedicto XIV auctum et castgatum
cui novissima accedit Benedictionum et Instructionum
Appendiz, Ed. Desclé e, Rome 1900, pp. 34-35.
428Norberto Rivera Cabrera, ¿No estoy yo aquí que soy tu
madre? Palabras, pá g. 5
429 O texto completo e sua homologaçã o judicial se encontram na
Sagrada Congregaçã o para as Causas dos Santos, Arquivos para a Causa
da Canonizaçã o de Juan Diego.
430Joã o Paulo II, Ecclesia in America, n. 11, pá g. 20. O Papa cita
literalmente a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano, Santo Domingo, 12 de outubro de 1992, p. 24. Citado
també m em AAS 85 (1993) p. 826. O Santo Padre també m menciona a
declaraçã o feita pelos bispos dos Estados Unidos da Amé rica do Norte
na Conferê ncia Nacional dos Bispos Cató licos, Behold Your Mother
Woman of Faith, Washington 1973, p. 37
431Joã o Paulo II, Ecclesia in America, n. 11, pá g. 20
432 Colloquios y Doctrinas Cristiana, p. 147
433Fray Bemardino de Sahagú n, Historia General, p. 338
434Norberto Rivera Carrera, Carta Pastoral por la Canonización del
Beato Juan Diego Cuauhtlatoazin, Laico, Arquidioces do Mé xico, 25 de
fevereiro de 2002, III Juan Diego Evangelizador, no. 58–59, p. 28
435Norberto Rivera Carrera, Carta Pastoral . . . Juan Diego y el desa ío
para la Misión de los Laicos hoy día, no. 140, pá g. 51

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