Você está na página 1de 5

Santa Joana d’Arc: virgem, mártir e profetisa.

Centenário
de sua canonização
gaudiumpress.org/content/santa-joana-darc-virgem-martir-e-profetisa-centenario-de-sua-canonizacao/

May 16,
2020

No dia 16 de maio de 1920, há exatamente 100 anos, Santa Joana d’Arc foi canonizada
por Bento XV

Redação (16/05/2020 08:59, Gaudium Press) A figura de Joana, a donzela de Domremy,


de quem se celebram os 100 anos de canonização no dia 16 de maio, brilha na Igreja
Católica como a infatigável guerreira combatente dos invasores de seu país, defensora
dos direitos de seu rei e da Santa Igreja, fiel à mais ilibada ortodoxia contra seus juízes –
clérigos heréticos e de costumes mais do que duvidosos –, virgem destemida, humilde
pastora, mártir e profetisa.

Aos 12 ou 13 anos de idade, na bucólica vida da camponesa direita e recatada, irrompe o


chamado divino. Vozes misteriosas de santos e de anjos a convocam para abandonar a
tranquilidade da inocente infância, as carinhosas amizades, o aconchego do lar. E ela,
como novo Abraão – que obedecendo o mandado divino partiu para sacrificar seu filho
único – zarpa numa das maiores aventuras da História: ela vai sacri-ficar sua própria
vida! E aquela mocinha inexperiente em artes bélicas ou políticas se tornará modelo de
1/5
heroísmo em de defesa dos Direitos de Deus! E também de sabedoria e sagacidade antes
seus iníquos juízes, como poucos mártires ao longo dos séculos.

“Todos os países do mundo gostariam de ter uma Joana d’Arc na sua História”… escreve
um autor francês contemporâneo.[1]

As misteriosas “vozes” que a conclamavam à ação continuam sendo até hoje um


mistério. Eram certamente aparições de santos e de anjos, como ela descreverá nos
processos, cujas atas nos foram conservadas. Essas vozes celestes falavam com a pas-
tora, davam-lhe conselhos, indicavam como agir, a sustentavam nas dificuldades…
Porém, mais do que isso: a graça divina no interior de sua inocente corajosa alma a
sustentava em todos os infortúnios. E não foram poucos.

Um cardeal de significativo papel no Concílio Vaticano II, especialmente na redação do


documento Gaudium et spes, a insere no elenco dos profetas do Novo Testamento. Não
são estes chamados a ensinar novas doutrinas, mas “sob a iluminação divina saberão
discernir os sentimentos profundos de sua época, diagnosticar os males e prescrever os
verdadeiros remédios”.[2]

Com efeito, “em nenhuma época faltaram homens dotados do espírito de profecia”,
lembra São Tomás de Aquino. Eles são suscitados por Deus “para dirigir os atos
humanos”.[3]

Foi o chamado de Santa Joana d’Arc.

2/5
Altíssima vocação à qual ela correspondeu com o derramamento de todo seu sangue!
Mas que recebeu como paga o descaso, a traição, a injúria, a perseguição per-versa e
cruel daqueles mesmos que ela era chamada a salvar (especialmente o clero).

Foram mãos sacerdotais, episcopais, cardinalícias as que a condenaram de modo injusto,


infame e calunioso por “feiticeira e idólatra”; e assistiam impávidos à combustão daquele
corpo virginal, do qual, como relatam as testemunhas, foi vista sair uma pomba e voar
aos céus, quando as chamas concluíram seu labor.

3/5
Do alto da pira que a consumia, ela bradava insistentemente: “As vozes não mentiram.
As vozes não mentiram!” Pois para os prelados que assim a levavam a um novo gólgota,
Deus não tinha o direito de intervir nos acontecimentos. Eram eles, bispos e cardeais,
teólogos e canonistas, os que decidiam como deveria ser a Igreja e a História.

“Aquele que está nos céus se ri deles, zomba deles o Senhor”, diz o Espírito Santo (Sl 2,
4). Por cima das tramas de seus algozes, Deus suscitava nas almas fiéis a certeza da
santidade de Joana, e a devoção a ela surgiu entre o povo fiel no mesmo instante em que
o carrasco jogou as cinzas no rio Sena.

André Malraux, voluntário nas brigadas internacionais que combateram nas Es-panha
contra os católicos nacionalistas (1936-1939), que nem admirava nem queria imitar a
epopeia de Santa Joana, no entanto constatava: “Joana sem sepulcro e sem retrato, tua
tumba foi o coração de todos os vivos”.

Com efeito, os “vivos” são aqueles batizados que, na pose habitual da graça divina,
adquirem um “senso da Fé” capaz de discernir onde se encontra a verdadeira fidelidade
aos Mandamentos, a santidade, a honestidade… Em suma, a Igreja imaculada nascida do
costado de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando o soldado romano atravessou seu divino
Coração com a lança. E se a Igreja demorou 500 anos em elevar Joana à honra dos
altares, ela já era admirada, reverenciada, invocada como bem-aventurada por aqueles
que, aflitos pelas calamidades que assolaram a Esposa de Cris-to, tinham a certeza do
auxílio divino.

Seu primeiro devoto foi o próprio carrasco quem, na mesma tarde da execução,
achegou-se discretamente até o convento dominicano, procurando um religioso de
conhecida piedade para se confessar: “Matei uma santa!”, exclamava o boia compungido.
Esta “fama de santidade” difundiu-se tão universalmente que na I Guerra Mundial, a qual
assolou Europa por quatro longos anos (1914-1918), produzindo entre 20 e 30 milhões
de mortos, soldados não apenas franceses, mas também de outras nacionalidades e até
norte-americanos, diziam tê-la visto nos campos de batalha, e carregavam singelas
gravuras com sua imagem, implorando da virgem-mártir ajuda e proteção. Apenas
quatro anos depois deste conflito armado, cujo fim foi previsto por Nossa Senhora em
Fátima, em 1917, a Santa Sé a inscrevera no catálogo dos santos aquela que todos os
católicos com sensus fidei (sendo da fé) a reconheciam como tal.

Nos tempos de Santa Joanna d’Arc, o papado era dessolado pelo “Cisma de Ocidente”,
em que diversos cardeais se arrogavam ser o verdadeiro Papa. Ela teria sabido
“prescrever os verdadeiros remédios”, tendo sido suscitada por Deus “para dirigir os atos
humanos”. Não foi escutada, mas queimada em praça pública.

Ao comemorar estes 100 anos de sua elevação à honra dos altares queira suscitar almas
proféticas capazes de indicar os verdadeiros remédios para nosso século XXI.

Por José Manuel Jiménez Aleixandre

4/5
[1] Cf. D. Magnier – http://www.stejeannedarc.net

[2] JOURNET, Charles, L’église du verbe incarné: Essai de Théologie spéculative, La


Hiérarchie Apostolique, [Saint-Maurice], v. I, Saint-Augustin, 1998, p. 281-285.

[3] S. Th., II-II, q. 174, a. 6, ad 3

5/5

Você também pode gostar