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Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros, A sua barba agreste! A lã dos seus barretes!
Vibra uma imensa claridade crua. Que espessos forros! Numa das regueiras
Calçam de lado a lado a longa rua, Que ferem lume sobre pederneiras.
Como as elevações secaram do relento, E nesse rude mês, que não consente as flores,
Em pé e perna, dando aos rins que a marcha Eu julgo-me no Norte, ao frio – o grande
agita, agente! –
Não se ouvem aves; nem o choro duma nora! Negrejam os quintais, enxuga a alvenaria:
Retinem alto pelo espaço fora, E os charcos brilham tanto, que eu diria
Com choques rijos, ásperos, cantantes. Ter ante mim lagoas de brilhantes!
Com que outros batem a calçada feita. O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato!
Pede-me o corpo inteiro esforços na friagem Donde ela vem! A atriz que tanto cumprimento
Mal encarado e negro, um pára enquanto eu E aos outros eu admiro os dorsos, os costados
passo,
Como lajões. Os bons trabalhadores!
Dois assobiam, altas as marretas
Os filhos das lezírias, dos montados;
Possantes, grossas, temperadas de aço;
Os das planícies, altos aprumados;
E um gordo, o mestre, com um ar ralaço
Os das montanhas, baixos, trepadores!
E manso, tira o nível das valetas.
Surge um perfil direito que se aguça; Sem que inda o público a passagem abra,
Toda abafada num casaco à russa. Com seus pezinhos rápidos, de cabra!
Cesário Verde