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Países Candidatos
Albânia, Mecedónia, Islândia, Montenegro, Sérvia, Turquia
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Elaborada por Jean Monnet
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Quadro institucional da UE
As Comunidades Europeias começaram por ser três: CECA, CEE e a CEEA. A cada uma
se reportava um diferente Tratado constitutivo, no qual se previa, para cada caso, um
quadro institucional próprio (não obstante a Assembleia e o Tribunal de Justiça se terem
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(art 289º, nº 1 TFUE). É sua a competência para aprovar moções de censura (art 234º
TFUE), resultando do art 17º, nº 8 TUE que a Comissão é politicamente responsável
perante o Parlamento. O Tratado de Lisboa prevê ainda a possibilidade de o
Parlamento constituir comissões de inquérito temporárias (art 226º TFUE). Este pode
ainda proceder debates de política geral e votar resoluções sobre quaisquer questões
de actualidade.
O Parlamento Europeu participa na designação de membros de outras instituições,
sendo nesse aspecto a sua competência mais relevante a eleição do Presidente da
Comissão, regulada no art 17º TUE. O Parlamento também elege o Provedor de Justiça
(art 228º, nº 1 TFUE).
CONSELHO EUROPEU (art 15º TUE e art 237º e sgts TFUE)
PRESIDENTE: Donald Tusk
O Conselho Europeu foi criado através de um acto informal dos Estados-membros –
um comunicado final – que resultou da Cimeira de Paris, decorrida no ano de 1974. Aqui
se definiu que o Conselho Europeu deveria ocupar-se dos assuntos comunitários e ser
o órgão da cooperação política europeia. Com o Acto Único Europeu, este passa a estar
previsto de forma expressa. No Tratado de Maastricht, o mesmo é transformado em
Órgão da União Europeia, sendo apenas no Tratado de Lisboa que o mesmo é visto
como uma instituição da UE de pleno direito – art 13º, nº 1 TUE.
Os Estados-membros são, no Conselho Europeu, representados pelo respectivo Chefe
de Estado ou de Governo (art 10º, nº 2 TUE), tratando o art 15º TUE da sua composição.
A essa composição, vai juntar-se o Presidente, o que é uma inovação trazida pelo
Tratado de Lisboa, bem como o Presidente da Comissão. O Conselho reúne duas vezes
por semestre, podendo haver reuniões extraordinárias.
A principal inovação trazida pelo Tratado de Lisboa prende-se com a eleição do
Presidente. Antes, havia um sistema de presidência rotativa semestral, entre os Chefes
de Estado ou de Governo. Agora, o Presidente é eleito pelo próprio Conselho, por um
mandato de dois anos e meio, renovável por uma vez. Este desaparecimento do
sistema rotativo acaba por prejudicar os Estados médios e pequenos, que vêem agora
a possibilidade de ter um Presidente “seu” eleito. Também pela primeira vez são
enumeradas as funções do Presidente do Conselho Europeu – art 15º, nº 6 TUE.
O Conselho Europeu decide por consenso, salvo disposição em contrário – art 15º, nº 4
TUE. Pode ser exigida maioria qualificada ou mera maioria simples, de acordo com as
situações previstas nos arts 235º e 236º TFUE.
Quanto à competência do Conselho Europeu, define o art 15º, nº 1 TUE que este dá à
União os impulsos necessários ao seu desenvolvimento e define as orientações e
prioridades gerais da União, não exercendo a função legislativa. Esta exclusão de
competências legislativas não é, no entanto, absoluta, visto que há situações nas quais
o Conselho Europeu terá de agir em vez do Conselho (arts 48º, n82º, 83º, 87º, nº 3
TFUE).
CONSELHO (art 16º TUE e art 237 e sgts TFUE)
O Conselho passou a ser um órgão comum das três Comunidades com o Tratado de
Fusão de 1965. Com o Tratado da União Europeia, na sua versão de Maastricht,
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implementação das decisões que são adoptadas, garante a acção externa da UE nas
áreas de ajuda ao desenvolvimento, presidindo também às reuniões dos Ministros dos
Negócios Estrangeiros no Conselho da União Europeia.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA (art 19º TUE e art 252º e sgts TFUE)
O Tribunal de Justiça da União Europeia inclui o Tribunal de Justiça propriamente dito,
o Tribunal Geral e jurisdições especializadas, actualmente reconduzidas ao Tribunal da
Função Pública. Compete ao Tribunal garantir o respeito do Direito na interpretação e
na aplicação dos Tratados. Este é, para isso, dotado de uma competência muito vasta.
O Tribunal de Justiça da União Europeia tem competência para decidir sobre os temas
presentes no art 19º TUE.
Tribunal de Justiça
São várias as referências feitas ao Tribunal no TFUE. O Tribunal é assistido por oito
advogados-gerais, podendo esse número ser aumentado por deliberação por
unanimidade do Conselho. Aos advogados-gerais cabe apresentar publicamente
conclusões fundamentadas sobre as causas que requeiram a sua intervenção. Estes
advogados, bem como os juízes, são escolhidos de entre personalidades que ofereçam
garantidas de independência e que reúnam as condições exigidas, sendo que há um
juiz por cada Estado-membro. O Tribunal pode, de acordo com o respectivo estatuto,
prescindir das conclusões dos advogados-gerais, se considerarem que não se suscitam
novas questões de direito. Procura-se evitar o acréscimo de trabalhos sobre os
advogados.
Os juízes e os advogados são nomeados de comum acordo, por um período de 6 anos,
de acordo com o disposto no art 255º TFUE. O Tratado de Lisboa traz uma importante
inovação: a nomeação dos juízes e dos advogados gerais radica na criação de um
comité composto por sete personalidades, escolhidas de entre antigos membros do
Tribunal de Justiça e do Tribunal Geral, um dos quais será proposto ao Parlamento
Europeu. Esse dará um parecer sobre a adequação ao exercício das funções de juiz ou
advogado-geral. A seguir, os Governos dos Estados-membros deverão ouvir o referido
comité e só depois deliberar sobre a nomeação desses membros. O mandato é
renovável, sendo prevista a renovação parcial dos juízes de três em três anos.
Os juízes gozam de certos direitos, como a inamovibilidade durante a duração do
mandato, a imunidade de jurisdição para todos os actos que praticaram enquanto durar
o seu mandato ou ainda outros previstos nos Estatutos. Cada juiz dispõe de três
assessores, juristas qualificados. São três as causas de cessação de funções:
o substituições normais
o falecimento
o demissão
O Tribunal de Justiça reúne a três níveis – Secções (3 ou 5 juízes), Grande Secção (13
juízes + Presidentes das Secções de 5 juízes) e Pleno (todos os juízes do Tribunal). A regra
é a da apreciação do processo pelas Secções, sendo as Grandes Secções e o Pleno
excepcionais.
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Tribunal Geral
Este Tribunal Geral – Tribunal de Primeira Instância – é criado por via do Acto Único
Europeu, com um duplo objectivo: descongestionar o TJ; instaurar na Ordem Jurídica
comunitária um duplo grau de jurisdição. O Tratado de Lisboa estabelece a
competência do Tribunal Geral no art 256º TFUE, não se afastando do que estava já
previsto no Tratado de Nice. Este tem competência para, em primeira instância,
conhecer dos recursos de anulação (art 263º), de omissão (art 265º), das acções de
responsabilidade (art 268º), dos recursos de funcionários (art 270º) e dos recursos com
fundamento em cláusula compromissória (art 272º). Quanto às questões prejudiciais
previstas no art 267º TFUE, o Tribunal Geral pode conhecer delas em matérias
específicas determinadas pelo Estatuto, podendo remeter as questões prejudiciais ao
TJ – art 256º, nº 3 TFUE.
Os Estatutos do Tribunal Geral são aprovados pelos Estados-membros, de comum
acordo, sem intervenção do Parlamento ou do Tribunal de Justiça. Estes são nomeados
por seis anos, sendo metade substituíveis de três em três anos (art 254º TFUE).
Beneficiam dos privilégios e das imunidades idênticas aos juízes e advogados-gerais do
Tribunal de Justiça (art 254º TFUE). Não dispõe de advogados-gerais permanentes.
A sua organização e o seu funcionamento estão previstos nos arts 50º do respectivo
Estatuto, podendo este Tribunal funcionar em secções de três ou de cinco juízes.
Tribunal da Função Pública (tribunais especializados)
A formação deste Tribunal baseou-se na necessidade de melhorar o funcionamento do
sistema judicial da União Europeia e de melhorar a adaptação às particularidades do
contencioso em causa. Sustenta-se hoje no art 257º TFUE – o Conselho e o Parlamento
Europeu, deliberando de acordo com o processo legislativo ordinário, podem criar
tribunais especializados adstritos ao Tribunal Geral. Este tem competência para
conhecer, em primeira instância, dos litígios entre a União e os seus agentes (art 270º
TFUE).
Este Tribunal é composto por sete juízes, podendo esse número ser aumentado a
pedido do Tribunal de Justiça, pelo Conselho, deliberando por maioria qualificada. A
deliberação do Conselho relativa a estes juízes é feita com base no art 257º TFUE. O
Conselho deve garantir que a composição do Tribunal seja equilibrada e assente na
mais ampla base geográfica, visto que neste Tribunal não há um juiz por cada Estado-
membro. O mandato dos juízes é de seis anos, renovável. Estes designam entre si o
Presidente por um período de três anos, podendo ser reeleito.
BANCO CENTRAL EUROPEU (art 13º TUE e art 282º e sgts TFUE)
O Tratado de Maastricht previu a criação de um Sistema Europeu de Bancos Centrais
e de um Banco Central Europeu. O BCE, diga-se, não é uma instituição como as demais:
a sua competência não se estende a todas as matérias dos Tratados, mas apenas às
matérias monetárias. O BCE conduz, conjuntamente com os bancos centrais, a política
monetária da União – art 282º, nº 1 TFUE.
Os bancos centrais nacionais e o BCE constituem o SEBC, sendo que o BCE é dotado de
personalidade jurídica. As atribuições do SEBC estão previstas nos arts 127º e seguintes
do Tratado sobre o Funcionamento da UE. As atribuições do BCE estão previstas no
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Agências europeias
Estas representam um fenómeno de descentralização do Direito da União Europeia.
Estas são entidades com personalidade jurídica e independência em relação às
instituições da União em sentido próprio. São agências dotadas de autonomia
financeira e são-lhes atribuídos uma série de poderes de natureza técnica ou científica.
Podemos ter agências de três tipos diferentes:
o Agências e organismos descentralizados;
o Agências de execução;
o Agências e organismos da Euratom
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extrema relevância as respostas do Tribunal a questões que lhe são enviadas a título
prejudicial.
Quanto à interpretação por parte do TJUE, a análise da jurisprudência respectiva
permite identificar quatro métodos de interpretação:
o Interpretação em função da intenção dos autores das normas;
o Interpretação de acordo com o elemento textual;
o Interpretação de acordo com o elemento teleológico e funcional;
o Interpretação de acordo com o elemento sistemático.
O TJUE privilegia, desta maneira, o procedimento objectivista da interpretação e a
interpretação extensiva.
Quanto à Doutrina, esta é constituída por jurisconsultos. Esta não assume grande
relevância em sede de Direito da União Europeia.
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acabou por reconhecer também a presença de efeito directo nas normas das directivas.
Estas, são de natureza incompleta, só se tornando efectivas após a sua transposição
para o Direito interno nos prazos previstos. O reconhecimento do efeito directo das
directivas ocorre já pela década de 70, tendo principal fundamento no facto de o
Conselho ter começado a adoptar directivas cada vez mais completas, que acabam por
impor obrigações incondicionais que se assemelhavam às impostas pelos
regulamentos. O TJ reconheceu, pela primeira vez, o efeito directo de uma directiva
no Acórdão Van Duyn. Quanto à posibilidade de a directiva ser dotada de efeito directo
horizontal, o Tribunal de Justiça começou por negar de forma firme essa possibilidade,
de modo a evitar conflitos com os tribunais nacionais. No entanto, tal chegou a tornar-
se incomportável, situações nas quais o Tribunal se viu obrigado a criar outras vias de
afirmação do direito dos particulares. É isso que acontece no Acórdão Marshall.
O Tribunal reconhece também efeito directo às deciões. Se os seus destinatários forem
um ou mais Estados-membros, o efeito directo opera nos mesmos termos que o da
directiva, tendo o Tribunal algumas dúvidas quanto ao efeito directo horizontal. Se,
por contrário, a decisão se dirige às empresas ou aos particulares, o efeito directo
horizontal é admitido.
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adoptado;
c) Propor alterações ao Conselho, aprovadas por maioria de deputados. O
texto alterado é transmitido ao Conselho e à Comissão, que emitirá um
parecer positivo ou negativo sobre tais alterações.
Considerando ocorrida a terceira possibilidade, pode no prazo de três meses o
Conselho, deliberando:
a) Aprovar as alterações feitas pelo Parlamento, por maioria qualificada (se o
parecer da Comissão tiver sido positivo) ou por unanimidade (se o parecer
tiver sido negativo). Em ambos os casos, o acto jurídico é adoptado;
b) Rejeitar as emendas feitas pelo Parlamento.
Verificada a segunda possibilidade, o Presidente do Conselho, de acordo com o
Presidente do Parlamento Europeu, convoca o Comité de Conciliação no prazo de seis
semanas. A partir daqui, apenas existem duas possibilidades:
a) Há acordo, por maioria qualificada – é aprovado um projecto comum;
b) Não há acordo – o acto tem-se como não adoptado e dá-se o fim do
Terceira leitura
procedimento legislativo.
Se esse projecto for aprovado dentro do prazo, o Parlamento e o Conselho terão seis
semanas par adoptar o acto em causa de acordo com o projecto comum. O Parlamento
delibera por maioria de votos expressos e o Conselho por maioria qualificada.
Uma vez aprovado, o acto jurídico é transcrito nas 23 línguas oficiais da União, é
assinado pelos Presidentes do Parlamento Europeu e do Conselho e, depois, publicado
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Definição adoptada por F. Perroux
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Esta integração internacional é mais forte que a mera cooperação – na integração não
é mantida a independência dos principais, deixando de haver poder de decisão
autónomo.
VANTAGENS E DIFICULDADES DA INTEGRAÇÃO ECONÓMICA
A integração traz consigo, desde logo, inegáveis vantagens:
o Economia de escala – resulta de uma eficiência acrescida das unidades
produtivas. Essa resulta do alargamento do mercado, que faz aumentar essas
unidades e possibilita mais produção a custos mais baixos.
o Desenvolvimento de actividades dificilmente compatíveis com a dimensão
nacional – fala-se, aqui, do facto de os países mais pequenos não conseguirem,
normalmente, atingir uma situação na qual lhes seja possível chegar a certos
mercados (por se exigir muito dinheiro ou tecnologia demasiado avançada).
o Formulação mais coerente e rigorosa das políticas económicas – exige-se, para
que tudo isto funcione, que os Estados aperfeiçoem as suas políticas
económicas, monetárias e fiscais, de modo a fazer face à concorrência sentida
no seu mercado e nos mercados dos demais Estados. A integração faz sempre
diminuir a liberdade de definição das políticas nacionais.
o Transformação das estruturas económicas e sociais – isto resulta de, em
sistema de intgração, os Estados trabalharem para atingir o nível do Estado mais
avançado que esteja nesse determinado conjunto.
o Reforço da capacidade de negociação – resulta do aumento de investimentos
estrangeiros, que faz aumentar o mercado e fortalecer a posição de cada Estado
no mercado.
o Aceleração do ritmo de desenvolvimento – a concorrência sentida no mercado
comum faz com que os Estados sintam necessidade de se desenvolver, para se
conseguirem manter no mercado.
o Intensificação da concorrência – resulta do facto de estarmos a falar de várias
empresas, presentes em mercado aberto, que actuam em competição com os
produtores de outros Estados. Gera-se uma redimensão e restruturação das
empresas, uma necessidade de redução de custos, uma melhoria da qualidade
dos produtos…
o Vantagens para os consumidores – no limite, estes poderão adquirir produtos
de melhor qualidade decorrente do progresso tecnológico e de preços mais
baixos, possível pela redução dos custos de produção.
Podemos também, no entanto, apontar como desvantagens ou dificuldades da
integração económica, por exemplo, as disparidades do desenvolvimento económico e
social entre os participantes nessa integração ou a resistência dos vários sistemas
nacionais às regras colectivas que se impõem. Também razões de natureza histórica e
questões de opinião pública podem afectar negativamente esse processo integrativo.
CARACTERÍSTICAS DE UM ESPAÇO ECONOMICAMENTE INTEGRADO
Desde logo é necessário entender o conceito de mercado – conjunto dos compradores
que podem ser abastecidos pelos produtos. Se um determinado produtor deseja apenas
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chegar ao mercado nacional, não enfrenta hoje, com uma integração económica
nacional plenamente realizada, grandes problemas. Terá:
o Livre circulação de mercadorias – as mercadorias circulam livremente no interior
das fronteiras de cada país;
o Liberdade de estabelecimento – o produtor pode instalar as unidades fabris e
montar os armazéns e os postos de venda que lhe forem necessários para escoar
os bens produzidos;
o Livre circulação de trabalhadores – o produtor pode recrutar livremente os
trabalhadores de que precisa, podendo também estes movimentar-se
livremente em todo o espaço nacional para esse efeito;
o Liberdade de prestação de serviços – os profissionais independentes podem
desenvolver a sua actividade onde desejarem, prestando livremente os serviços
que lhes forem solicitados;
o Livre circulação de capitais – o produtor vende e é pago em moeda nacional,
resolvendo-se assim problemas de câmbio
o Princípio da livre concorrência e da igualdade de tratamento – todos os
operadores económicos estão submetidos às mesmas regras da concorrência e
à mesma legislação.
Estes são os traços gerais de uma integração económica estável. Se é hoje
relativamente fácil atingir isto a nível nacional, a verdade é que tudo se complica
quando um produtor pretende alcançar um mercado de outro país. Para que um
produtor possa livremente entrar no mercado estrangeiro, é necessário que ele não se
depare com problemas em qualquer um dos aspectos supracitados.
Tudo isto foi a base para que se desenvolvesse um mercado comum aos Estados-
membros da União Europeia – falamos de um mercado único, no qual existe um espaço
económico liberalizado e integrado. Neste, os produtos de cada Estado-membro
circulam livremente e atigem consumidores dos restantes Estados, beneficiando todos
eles de um tratamento não discriminatório. No mercado comum é valorizada a
vantagem comparativa de cada país na produção de certos bens.
Para atingir este estádio a nível Comunitário, foi necessário ir progressivamente
eliminando as várias barreiras restritivas que existiam. Todo o processo teve base em
cinco alicerces essenciais:
o Zona de comércio livre – trata-se de um grupo de dois ou mais territórios
aduaneiros entre os quais os direitos aduaneiros e as outras regulamentações
comerciais restritivas são eliminadas para o essencial das trocas comerciais
relativas aos produtos originários dos territórios da zona de comércio livre. Este
ponto enloba a livre circulação de mercadorias (possível através da proibição de
restrições quantitativas ou medidas equivalentes). Note-se que isto não
prejudica a possibilidade de, nas suas relações com terceiros Estados, cada um
dos Estados-membros reserve a sua liberdade de acção. No entanto, esse factor
leva a que se possam gerar grandes complicaçõe (p.e. se os produtos de países
terceiros podem circular livremente dentro dessa zona, então estes tenderão a
entrar por via do Estado que lhes impuser uma tarifa aduaneira mais baixa).
Assim, conclui-se que os produtos importados de terceiros países não podem
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circular livremente no interior desta ZCL, sob pena de prejuízos graves das
produções nacionais.
o União aduaneira – é a forma mais perfeita de comércio livre, incluindo a livre
circulação de mercadorias em geral (sejam elas originárias dos Estados-
membros ou legalmente importadas de terceiros países). Isto implica que os
Estados adoptem uma pauta aduaneira comum, de modo a que os produtos
importados do exterior estejam sujeitos a imposições iguais, qualquer que seja
a fronteira da união pela qual pretendem entrar.
o Mercado comum – a noção de mercado comum, de acordo com o art 3º TUE,
comporta a união aduaneira, uma pauta aduaneira comum e as chamadas
“quatro liberdades”.
o União económica e monetária – a união económica exige que as legislações
nacionais sejam harmonizadas, tendo de haver uma autoridade comum. Esta
união implica a transformação de vários mercados nacionais num mercado
único, o que exige igualdade das actividades económicas de produção,
distribuição e consumo. Para que se verifique uma união monetária não é
exigido que se adopte uma moeda única, apesar de tudo se facilitar se assim for.
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Fale-se do art 36º TFUE. Deste resulta que os arts 34º e 35º não prejudicam a
possibilidade de um Estado-membro adoptar medidas justificadas pela moralidade
pública, ordem pública ou segurança pública.
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No entanto, o art 63º TFUE têm maior alcance, proibindo também as restrições aos
pagamentos entre Estados-membros e terceiros – tal funda-se na ideia de que a
economia da União não pode estar isolada da do resto do Mundo. Para além disso, o
normal funcionamento do mercado seria afectado por eventuais restrições aos
pagamentos internacionais. Note-se, ainda, que estas restrições seriam facilmente
ultrapassáveis, bastando para isso que os agentes económicos realizassem todos os
pagamentos através de Estados-membros que não tivesse adoptado tais restrições.
O Tratado não define o conceito de movimento de capitais. No entanto, a directiva
88/361/ CEE, do Conselho (1988), contém uma lista indicativa das operações
consideradas como movimentos de capitais. O Tribunal de Justiça, por sua vez, tem
julgado as disposições susceptíveis de impedir ou limitar as aquisições de acções nas
empresas como restrições, na letra do art 63º TFUE.
RESERVAS À REGRA DA LIVRE CIRCULAÇÃO DE CAPITAIS
Decorre desde logo uma limitação do art 63º, nº 1 e 2 TFUE – esta liberdade apenas se
implica “no âmbito das disposições do presente Capítulo”. Daí se retira que os Estados
podem limitar esta liberdade quando os pagamentos ou movimentos de capitais visam
domínios em que a União Europeia não dispõe de competência para intervir.
Do art 64º, nº 1 TFUE resulta que a União pode aplicar a países terceiros restrições que
estivessem em vigor a 31 de Dezembro de 1993. O Conselho, para além disso, pode
adoptar medidas restritivas dos movimentos de capitais com países terceiros, ainda
que essas constituam um retrocesso no Direito da União e mesmo tendo em conta que
o Conselho está vinculado, “na medida do possível, a esforçar-se por alcançar a livre
circulação de capitais entre Estados-membros e países terceiros.
Os arts 63º e seguintes (Capítulo IV) são aptas a produzir efeito directo nas esferas
jurídicas dos particulares. O Tribunal tem reconhecido esse facto.
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com os usos comerciais, não têm ligação com o objecto desses contratos – trata-
se de impingir produtos alvos de menor procura para que os consumidores
possam adquirir o produto que efectivamente querem.
Qualquer acordo ou decisão que puser em causa estas disposições é nulo. Essa nulidade
afecta todo o acordo, pelo que este não produzirá qualquer efeito e não será oponível
a terceiros.
Cabe aos juízes nacionais determinar a extensão dos efeitos da nulidade. O art 101º
TFUE tem condições para ser dotado de aplicabilidade directa. Assim, estas disposições
produzem efeitos imediatos nas esferas jurídicas dos particulares, podendo ser
invocados junto dos tribunais nacionais. A estes caberá, portanto, sancionar os acordos
e as decisões proibidas pelo artigo em apreço. Essas sansões, claro, terão de ser
superior ao que as empresas lucram com a adopção de práticas proibidas – se assim
não for, compensa pagar a multa e praticar as medidas ainda assim:
o Se for determinável o montante que a empresa ganhou, a multa pode ir até
esse valor – empresa perde tudo o que ganhou;
o Se não for determinável, a multa poderá chegar até aos 10% de tudo o que a
empresa ganhou num ano.
O primeiro membro do cartel a dar informações sobre o cartel em causa escapa à multa,
o que lhe é preferível, visto que acabará por ficar em melhores condições económicas
perante os restantes, que terão de pagar multas pesadas.
Note-se que estas proibições impostas pelo art 101º só se aplicam se não estivermos no
âmbito de aplicação do nº 3: as disposições no n.º 1 podem, todavia, ser declaradas
inaplicáveis:
a) (…) que contribuam para melhorar a produção ou a distribuição dos produtos
ou para promover o progresso técnico ou económico – aqui se integram, por
exemplo, acordos que tenham por objectivo a especialização das tarefas
produtivas: se cada empresa consegue, por via dessa especialização, aumentar a
sua produção e eventualmente a qualidade dos seus produtos, então isso
favorecerá a rentabilidade dos investimentos e pode até levar a uma redução do
preço a pagar pelo consumidor. Esta melhoria, no entanto, tem de se traduzir
em vantagens objectivas, de modo a compensar os inconvenientes de um acordo
no plano da concorrência.
b) (…) contanto que aos utilizadores se reserve uma parte equitativa do lucro daí
resultante
c) e que não imponham às empresas em causa quaisquer restrições que não sejam
indispensáveis à consecução desses objectivo – para que um cartel, que terá
certamente efeitos anticoncorrenciais, seja admitido, é necessário que as
vantagens que estes prosseguem não possam ser atingidas por qualquer outra
via, ou seja, se que sejam impostas essas restrições.
d) Nem dêem a essas empresas a possibilidade de eliminar a concorrência
relativamente a uma parte substancial dos produtos em causa – só é possível
permitir a existência de um cartel se disso não resultar uma supressão total da
concorrência. Assim, a existência desse cartel não deverá impedir outros
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dominante – sanciona, sim, a exploração abusiva dessa posição. Tal significa que não é
sancionada a situação de monopólio ou o atingir dessa situação por via de uma
concentração de empresas, mas tão só o abuso dessa posição dominante no mercado.
Esse abuso exclui a possibilidade beneficiar de qualquer isenção da interdição imposta.
O art 102º, nº 1 TFUE é directamente aplicável, pelo que pode ser invocado por
qualquer interessado perante os tribunais nacionais. Para a correcta aplicação deste,
exige-se desde logo a definição de posição dominante.
A definição de posição dominante não é referida nos Tratados. Assim, coube à
Comissão elaborar uma primeira noção e ao Tribunal de Justiça precisá-la. A Comissão
define posição dominante como aquela em que as empresas dispõem da possibilidade
de comportamentos independentes, colocadas como estão em posição que lhes
permite agir sem ter de tomar em grande conta os seus concorrentes. O núcleo deste
conceito reside, portanto, na ideia de que uma empresa em posição dominante é capaz
de influenciar de forma determinante os comportamentos das outras empresas que
com ela tentam concorrer no mercado. Esta empresa será capaz de decidir ou, pelo
menos, de influenciar a decisão das demais, influenciando acentuadamente os trâmites
nos quais a concorrência se desenvolve. Assim se explica que, regra geral, a detenção
por parte de uma empresa de uma grande parcela do mercado seja indicador de que
essa empresa tem uma posição dominante - há presunção de posição dominante se a
quota de mercado da empresa é superior a 80%. Note-se que a criação de posição
dominante depende, muitas vezes, do facto de a empresa em causa ser a primeira a
afirmar-se no mercado.
Para concluir se uma empresa tem ou não uma posição dominante no mercado não
importa só olhar para a sua dimensão – é também relevante olhar para o seu
comportamento relativo à fixação de preços, às condições de distribuição dos produtos
ou ainda em relação ao seu relacionamento com os restantes agentes económicos.
A análise de posição dominante de uma empresa num determinado mercado implica,
previamente, determinar o mercado em causa. Para conseguir determinar o mercado
que se está a analisar, relevam dois critérios – o critério geográfico e o critério do
produto em causa.
o Critério geográfico – é muito difícil que uma empresa consiga dominar todo o
mercado interno. Assim, mais provável será termos uma empresa que tem
posição dominante numa parte substancial do mercado interno. Para analisar
este factor, exige-se olhar a outros elementos economicamente relevante, como
a população que o constitui, a capacidade de consumo…
o Critério económico – visto que a posição determinante de uma certa empresa
numa parte substancial ou na totalidade do mercado interno só o é em relação
a determinado produto. Esta posição dominante supõe uma posição de
autonomia dessa empresa, que só existirá se ela não estiver sujeita à
concorrência efectiva de produtos idênticos, que apesar de diferentes possam
ser adquiridos com o mesmo fim. Para saber se dois produtos estão ainda no
mesmo mercado: analisa-se se o aumento acentuado no preço de um deles leva
a uma transferência de consumidores para o outro bem.
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2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
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2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
Concentração de empresas
Nada se diz de forma expressa, nos arts 101º e 102º, sobre a concentração de empresas.
Esta, que pode resultar de fusão, absorção, tomada de capital accionista ou até de
situações de capitais cruzados, pode levar a uma restrição da concorrência. Assim, a
efectividade de todo este regime sobre a concorrência não poderia deixar
desacauteladas estas situações – o controlo sobre a concentração de empresas
encontra fundamento em irrecusáveis exigências de eficácia, num acto de direito
derivado.
Combinando as orientações da Comissão e do Tribunal de Justiça, segue-se pela
importância de verificar a aplicabilidade dos artigos já analisados a estas situações:
o art 101º TFUE – este seria aplicável se o acordo de concentração de empresas
não provocasse uma modificação irreversível da titularidade das empresas.
Assim, havendo fusão, absorção ou aquisição de activos, o artigo não teria
aplicação. Resta, então, o art 102º TFUE;
o art 102º TFUE – este poderia ser aplicado se uma empresa que já detém uma
posição dominante no mercado a reforça, através da concentração (Ac
Continental – 1973). No entanto, note-se, aplicando o art 102º a estas situações,
estar-se-ia a sancionar o abuso de posição dominante e não a concentração
propriamente dita.
Dada a insuficiência dos Tratados para fazer face a esta questão, foi proposto pela
Comissão (em 1973) e adoptado pelo Conselho (em 1989) o Regulamento 4054/89, no
qual se estabeleciam as regras de fundo sobre a concentração de empresas e as
sanções aplicáveis.
Perante um pedido de concentração, pode acontecer uma de três hipóteses:
1. Operação é autorizada;
2. Operação é rejeitada;
3. Operação é autorizada com condições, relacionadas com o permitir a
concentração evitando que as empresas atinjam posição dominante. São os
chamados remedies, que podem ser estruturais ou comportamentais.
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2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
Os auxílios de Estado
O princípio geral é o da interdição dos auxílios estatais – São incompatíveis com o
mercado interno, na medida em que afectem as trocas comerciais entre os Estados-
Membros, os auxílios concedidos pelos Estados ou provenientes de recursos estatais,
independentemente da forma que assumam, que falseiem ou ameacem falsear a
concorrência, favorecendo certas empresas ou certas produções.
A noção de auxílios de Estado é uma noção muito ampla, que engloba subvenções,
isenções de impostos e de taxas, bonificações de juros (…), bem como qualquer outra
medida de efeito equivalente. São medidas de efeito equivalente, por exemplo, o
fornecimento de bens ou serviços a preço de favor, a concessão de adiantamentos às
empresas, a concessão de edifícios ou terrenos a título gratuito ou facilitado, entre
muitas outras. A ideia a reter é a de que os auxílios estatais não incluem apenas os
subsídios, mas também as medidas que façam diminuir os encargos. O critério decisivo
é, portanto, o de verificação de uma redução de custos, independentemente das razões
ou dos objectivos que determinam as acções do Estado.
O objectivo desta interdição é, precisamente, evitar situações de concorrência desleal,
em consequência da concessão a certas empresas de ajudas que as beneficiem face às
restantes. Esta interdição, porém, pode ser objecto de derrogações: no caso de certas
empresas, é viável o apoio por parte do Estado, para que a empresa sobreviva. Assim,
os nº 2 e 3º do preceito admitem ajudas que sejam compatíveis com o mercado
comum.
O problema de tudo isto é que a Comissão tem usado estas autorizações de auxílios do
Estado para modelar os comportamentos das empresas – muitas vezes, esta
autorização é dada sob condições de adotar ou não determinados comportamentos
(remedies). A União consegue, assim, ingerir-se no que seria competência dos Estados-
membros.
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2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
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