Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução Ao Estudo Dos Evangelhos e Evangelho de Mateus
Introdução Ao Estudo Dos Evangelhos e Evangelho de Mateus
Mateus
Prof. Anísio Renato de Andrade
A palavra evangelho não foi criada por Jesus nem por seus discípulos. Era uma palavra de
uso comum nas comunidades antigas. As guerras entre os povos eram constantes. As
dificuldades de comunicação entre os guerreiros e suas cidades de origem eram muito
grandes. As famílias, principalmente, aguardavam ansiosamente por notícias de seus filhos
nos campos de batalha. O meio utilizado para isso era o envio de mensageiros, os quais
traziam notícias sobre o sucesso ou fracasso dos soldados. A chegada do mensageiro era
muito esperada. Quando ele chegava com boas notícias, então recebia uma recompensa por
seu esforço. Esse presente era chamado "evangelho". Era também realizada uma festa
comemorativa, que também passou a ser chamada "evangelho".
Jesus é o mensageiro de Deus que veio anunciar sua própria vitória sobre as forças das
trevas e a libertação do homem. Assim, no Novo Testamento, a palavra evangelho adquire
o significado de mensagem da salvação através da obra de Cristo a favor do homem
(Mt.4.23; 24.14). A tradição cristã estende esse significado, usando a palavra evangelho
para identificar cada um dos quatro primeiros livros do Novo Testamento, os quais
apresentam relatos sobre a vida de Cristo. Assim, surge o uso plural da palavra. Nos tempos
da igreja primitiva, isso seria considerado absurdo, uma vez que, para os primeiros cristãos,
o evangelho era único. Outro evangelho seria considerado anátema. Como então poderia
haver evangelhos? Entretanto, tal designação para os quatro evangelhos se firmou e se
tornou definitiva.
Pluralidade – Poderíamos ter 1 evangelho nas Escrituras e isso poderia ser satisfatório.
Contudo, Deus quis que fossem quatro. Esta pluralidade tem sua razão de ser e seu
objetivo. Um dos motivos nos parece ser o valor do número de testemunhas. A lei mosaica
determinava que o testemunho contra alguém deveria ser dado por duas ou três pessoas e
nunca por uma só (Dt.17.6). O mesmo princípio é utilizado por Cristo em Mt.18.16. O
número de testemunhas é importante na determinação da veracidade de um fato. Assim, era
importante que duas ou três testemunhas dessem testemunho sobre a vida, a morte e a
ressurreição de Jesus. Nos processos jurídicos as testemunhas continuam sendo muito
importantes até hoje. Em muitos casos não é possível a prova científica. Cabe então a prova
testemunhal. Todo testemunho deve ser registrado por escrito. Assim também aconteceu
com os relatos sobre Cristo. Alguns escritores dos evangelhos podem não ter sido
testemunhas oculares dos fatos ali narrados. Entretanto, escreveram o que as testemunhas
disseram. A pluralidade dos evangelhos é também valiosa por nos apresentar a mesma
história vista sob ângulos diferentes.
Unidade - Apesar de serem quatro os evangelhos, eles são harmônicos entre si. É possível
se construir um relato coerente reunindo os 4 evangelhos. Eles se completam.
Diversidade – Apesar da unidade entre os evangelhos, eles não são iguais. Se assim fosse,
não faria sentido a existência de quatro. Bastaria um. Existem diversas diferenças entre
eles. Contudo, diferença não significa contradição. São quatro relatos distintos sobre os
mesmos fatos. Algumas narrativas ou ensinamentos são apresentados exclusivamente por
um escritor ou apenas por dois ou por três ou pelos quatro E mesmo entre narrativas do
mesmo fato, existem diferenças entre os detalhes. Por exemplo, autor diz que Jesus curou
um cego em Jericó. O outro diz que foram dois cegos. Um não contradiz o outro. Se Jesus
curou um cego, ele pode muito bem ter curado outro. A contradição haveria se um autor
negasse a afirmação do outro. As diferenças podem advir de várias causas. Duas narrativas
normalmente relacionadas podem, na verdade, ser referência a dois episódios distintos.
Uma outra possibilidade é a omissão de algum detalhe, já que tais relatos foram, no
princípio, transmitidos oralmente. Assim, algum ponto poderia ser esquecido por um
narrador, mas lembrado por outro. Nesse processo, o que prevalece é a nossa fé no cuidado
divino para que a essência do evangelho chegasse a nós de forma íntegra. Entre os
evangelhos, observa-se maior semelhança entre Mateus, Marcos e Lucas. Por isso, são
chamados sinóticos, ou seja, possuidores da mesma ótica. Esse termo foi usado pela
primeira vez por J.J. Griesbach, em 1774. O evangelho de João, por sua vez, apresenta um
estilo todo particular.
Ordem - Os livros não se encontram dispostos em nossas Bíblias na mesma ordem em que
foram escritos. Além disso, os próprios fatos narrados não seguem ordem cronológica,
principalmente no livro de Mateus.
Fonte oral + fonte escrita + testemunho pessoal (em alguns casos) = evangelho
Uma das principais hipóteses das fontes apresenta o evangelho de Marcos como o primeiro
a ser escrito. Além deste, haveria também uma fonte denominada "Q", contendo relatos
sobre a vida de Cristo. Mateus e Lucas teriam então se utilizado do evangelho de Marcos e
da fonte "Q" para produzirem seus evangelhos. Teriam também usado material exclusivo.
Mateus teria tido acesso a uma fonte "M" exclusiva e igualmente Lucas a uma fonte "L".
Assim, os relatos comuns entre Mateus, Marcos e Lucas, seriam material original de
Marcos. Os relatos comuns entre Mateus e Lucas e desconhecidos por Marcos seriam o
conteúdo da fonte "Q". O material exclusivo de Mateus seria da fonte "M" e o material
exclusivo de Lucas seria da fonte "L". Contudo, existem muitas dúvidas sobre a existência
dessas fontes (Q,M,L) e se elas seriam escritas ou orais. Sobre a fonte "Q", por exemplo,
existe a hipótese de que a mesma não tenha existido, mas que todo esse material tenha sido
transferido de Mateus para Lucas ou vice-versa.
Mateus possui 1071 no total. Destes, 600 versículos correspondem a 606 de Marcos, ou
seja, Mateus faz as mesmas narrativas de modo quase idêntico. Mateus possui 300
versículos exclusivos (M). Os outros 171 podem ter vindo da fonte "Q" e encontram
semelhança com parte de Lucas.
Lucas possui 1151 no total. Destes, 380 versículos correspondem a 280 de Marcos, ou seja,
Lucas faz as mesmas narrativas de modo mais extenso. Lucas possui 520 versículos
exclusivos (L). Os outros 251 podem ter vindo da fonte "Q" e encontram semelhança com
parte de Mateus.
O problema torna-se maior quando aos motivos errados somam-se objetivos estranhos ao
evangelho. Então, o próprio conteúdo passa a ser deformado a fim de atingir propósitos
escusos (II Pd.2.1-3). Observa-se então o surgimento de um "evangelho comercial", onde as
pessoas são estimuladas a fazerem negócios com Deus. Desse pensamento surge o
"evangelho da prosperidade", o qual deixa para segundo plano a questão da salvação das
almas e se dedica à salvação do orçamento. Toda benção material sempre será bem-vinda.
Contudo, não podemos fazer disso o propósito do evangelho nem efeito essencial da sua
eficácia. Zacarias profetizou sobre Cristo, apresentando-o como um rei pobre, humilde e
que vinha montado em um jumentinho, quando o natural seria um rei rico montado num
elegante cavalo. Contudo, o profeta diz que o Messias é justo e salvador. Eis aí o valor e o
propósito do evangelho: justiça e salvação (Zc.9.9). Cai no mesmo erro a Teologia da
libertação, a qual interpreta a salvação e a libertação oferecidas por Cristo como um
rompimento das opressões sociais.
Cabe a cada um de nós o zelo pelo evangelho bíblico e por seu legítimo objetivo. Que não
sejamos mercadores da palavra de Deus. É legítimo o sustento aos que trabalham na obra
de Deus. O erro consiste em fazer do benefício pessoal a causa da obra. Igreja não é
empresa. Ministério não é profissão. Evangelho não é negócio.
O EVANGELHO DE MATEUS
AUTORIA – Mateus. Seu nome significa "dom de Deus". (Mat.9.9-13; 10.3 Mc.2.13-17 -
Lc.5.27-32). Era também conhecido pelo nome de Levi (Associado). Era um judeu cristão,
discípulo e apóstolo de Jesus Cristo. Antes de ser chamado pelo Mestre, exercia a função de
publicano, isto é, coletor de impostos para o Império Romano. Os publicanos eram tão
desprezados pelos judeus que não podiam falar nos tribunais, nem se aceitava seu dízimo
no templo. Sobre sua autoria em relação ao primeiro livro do Novo Testamento, tem-se o
testemunho de Papias, bispo de Hierápolis (Frígia), do 2o século d.C..
DESTINATÁRIOS - Judeus
VERSÍCULO CHAVE - 27.37
PALAVRA CHAVE - cumprir (Mt.5.17). O Novo Testamento não deve ser visto como
oposição ao Velho Testamento mas como seu cumprimento. O verbo "cumprir" e algumas
de suas variações são encontrados em muitas passagens de Mateus. Ele pretendia mostrar
na vida de Cristo o cumprimento das profecias do Velho Testamento. Sobre a lei, Jesus
disse que veio para cumprir e não para revogar. Isso significa não apenas a obediência de
Jesus à lei, mas também indica que, em alguns aspectos especiais, a obra de Cristo
representou o cumprimento último e definitivo da lei, a consumação. Podemos afirmar isto,
principalmente em relação aos sacrifícios de animais, cuja determinação teve no calvário
seu cumprimento suficiente e eterno.
CARACTERÍSTICAS E CONTEÚDO
Narrações breves – Os fatos narrados são poucos e sucintos, já que a doutrina tem
prioridade.
Sem ordem cronológica – O livro não apresenta fatos e ensinos na ordem em que ocorreram
ou foram ditos. A ordem só é seguida em parte: no início do livro (nascimento, batismo,
tentação) e no final (última semana, morte, ressurreição e ascensão). No meio, as parábolas,
milagres e ensinamentos não se encontram ordenados cronologicamente.
Escrito em hebraico – já que se dirigia aos judeus. Apesar desse direcionamento aos judeus,
Mateus não se apresenta como um bajulador de seus compatriotas. Ele demonstra
claramente que os judeus tinham prioridade no ministério de Cristo (Mt.15.24 10.6), mas
mostra também a perda do espaço para os gentios, que vão dominando a cena. Mateus
começa mencionando os magos no capítulo 2. Eles eram gentios e foram presentear o
menino Jesus, enquanto que os judeus que serviam a Herodes não se dirigiram a Belém,
embora estivessem bem informados sobre o local onde o Messias haveria de nascer.
Finalmente, Mateus cita a ordem de Cristo de se pregar o evangelho e se fazer discípulos
em todas as nações. (Mt.4.15; 8.10-12; 12.18-21; 21.42-34; 28.18-20.)
O evangelho de Mateus contém 6 discursos de Cristo: Mt.5-7; 10; 13; 18; 23; 24-25.
Mateus narra 20 milagres (3 exclusivos). Embora o número seja grande, as narrativas são
resumidas.
Mateus apresenta Jesus como Rei. Tal propósito já se nota na apresentação da genealogia.
A expressão "Filho de Davi" ocorre 9 vezes no livro. A palavra reino aparece 55 vezes.
II - Ministério na Galiléia - 3 - 18
5 - Os princípios do reino - 12
4 - As censuras do rei 23
7 - O triunfo do rei 28
ESBOÇO COMENTADO
Todo os esboços de livros bíblicos dependem muito de quem os elabora. Podem ser
encontrados diversos esboços de Mateus diferentes entre si. Isto se deve ao fato de que o
texto original não continha divisões em capítulos, versículos e blocos como temos hoje.
Assim, o presente esboço é uma entre tantas maneiras de se apresentar o evangelho de
Mateus. Scroggie trabalhou sobre o tema do reino. O esboço mostra o conteúdo de Mateus
como a apresentação do reino de Deus na pessoa do Rei Jesus.
3 - O embaixador do Rei - 3.1-17 – Era comum entre os reis o envio de mensageiros diante
de si para anunciar a aproximação da comitiva real. Iam estes anunciando em alta voz a
chegada do rei. Os súditos deviam então se colocar em atitude e posição de reverência.
Muitas vezes era comum que todos se prostrassem diante do rei. Da mesma forma, João
Batista foi enviado na frente de Jesus para anunciar a sua chegada, cumprindo-se assim a
profecia de Isaías (40).
Dr. G. Campbell Morgan apresenta as passagens acima como a relação de Cristo com a
terra (genealogia), o céu (a pomba e a voz no batismo), e o inferno (tentação).
2 - O manifesto do reino (as leis) - 5-7 – Manifesto = declaração pública. Jesus vem a
público apresentar as propostas do seu reino. Assim como Moisés recebeu no monte Sinai
as leis da antiga aliança, Jesus também sobe ao monte e promulga a lei do reino. Pode
parecer estranho se falar em lei no Novo Testamento. Contudo, Paulo chega a usar a
expressão "lei de Cristo" (Gálatas 6.2). Seus mandamentos atingem o interior do homem,
enquanto que a lei mosaica se aplicava principalmente ao exterior. A lei de Moisés proibia
o homicídio. Jesus foi além quando falou do ódio contra o próximo. Ele foi mais fundo.
Como disse João Batista: "O machado está posto à raiz das árvores." (Mt.3). No Novo
Testamento, Deus atinge a raiz do pecado no coração humano. Encontramos em Mateus o
constante confronto entre questões exteriores e interiores. A religiosidade judaica,
constituída de rituais exteriores, é permanentemente confrontada pelos ensinamentos de
Cristo, não exatamente para condenar os aspectos exteriores mas para mostrar o vazio
interior daqueles religiosos. Jesus veio levar o povo de Deus de um estágio superficial para
um relacionamento de intimidade com o Senhor. Ao invés da idéia de um Deus distante,
Jesus nos ensinou a chamar o Senhor de "Pai nosso". Vejamos uma relação dos elementos
apresentados no texto e que mostram esse confronto:
Folhas e frutos são igualmente produções da árvore. Contudo, o fruto só é produzido no tempo oportuno. Nos
momentos em que podemos agir com espontaneidade é que o fruto aparece. Nos nossos momentos de maior
liberdade de expressão é que os nossos frutos se manifestam. Em outras circunstâncias podemos estar agindo
apenas em cumprimento às exigências e expectativas sociais, atendendo a ordens ou pressões diversas. São
folhas que se multiplicam, mas não são suficientes para a identificação da árvore. "Pelos seus frutos os
conhecereis." Estas palavras de Jesus nos levam a concluir que podemos identificar o joio no nosso meio.
Contudo, não vamos condená-lo. "Não julgueis para que não sejais julgados." (Mt.7.1).
Ainda no capítulo 5, Jesus fala sobre o caráter do cidadão do reino de Deus. Logo se observa que tudo o que
ali se encontra é contrário aos ditames mundanos. É por essa diferença que os discípulos podem ser sal e luz
(Mt.5.14). Sendo positivamente diferentes, poderão ser força de influência. O sal dá sabor e evita a
putrefação. Porém, se o sal vier a cair por terra, será pisado pelos homens. Este é o caso daqueles servos de
Deus que se tornam motivo de escândalo e vergonha para o evangelho.
3 - Os sinais do Reino 8-9 – Nessa parte Mateus apresenta alguns milagres de Jesus. Seu reino não é
composto apenas de palavras, ensinamentos, mas demonstração de poder. Vemos então nesses capítulos a
autoridade do Rei Messias sobre: homens, toda sorte de enfermidades (Mt. 9.35), deficiências físicas, morte,
pecado, natureza, demônios. Fica em evidência o absoluto alcance do Reino de Deus. Ele abrange todas as
áreas. Temos referência ao natural, ao humano e ao espiritual. Poderíamos considerar o humano como parte
do natural, mas dividimos assim para visualizarmos o homem em relação ao que é natural e ao que é
espiritual. É importante separarmos bem essas coisas. Nem toda doença é provocada por demônios, mas
algumas são. Nem toda ventania é provocada por demônios, mas algumas podem ser, conforme se vê no livro
de Jó. O que não se deve fazer é generalizar. Em muitos casos será necessário o discernimento dado por Deus.
Seja de que tipo e origem for o fato, nada se encontra fora do alcance do poder de Deus.
4 - Os mensageiros do Reino - 10-11 – Os mensageiros aqui citados são: João Batista, seus discípulos, e os
discípulos de Jesus. João estava passando por uma crise de dúvidas. O rei Jesus, que ele mesmo anunciara não
havia tomado nenhuma providência para libertá-lo do cárcere. Surgiu então o questionamento: "Será este
mesmo o Cristo?" Muitas vezes o evangelho pode não atender às nossas expectativas particulares. Alguns
problemas podem persistir e isso pode trazer a frustração. Contudo, os propósitos divinos são superiores aos
nossos. "E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem,
e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é
anunciado o evangelho." O plano de Deus está se cumprindo e se alguma tribulação é permitida em nossas
vidas, ela também faz parte desse plano.
Quanto aos discípulos, Jesus os envia para uma espécie de treinamento. São enviados a pregar o evangelho do
reino e operar milagres. Sua missão estava restrita ao ambiente judaico. Estavam proibidos de se dirigirem aos
gentios e aos samaritanos. Tais pessoas não estavam eliminadas do plano de Deus. Entretanto, para tudo há
um tempo apropriado. Os judeus tinham primazia no objetivo de Cristo. Por outro lado, os próprios discípulos
ainda não estavam preparados para fazer a obra entre os gentios e samaritanos. Em Mateus 28, Jesus lhes dá a
ordem de pregarem a todas as nações, mas não sem o revestimento do Espírito Santo que lhes seria dado
(Lc.24.49 At.1.8).
Os fariseus, saduceus, escribas e sacerdotes são mencionados nas seguintes passagens do evangelho de
Mateus: 3.7; 5.20; 7.29; 8.19; 9.11,14; 12.14; 13.52; 15.12; 16.1,21; 21.23; 22.23; 23,2,13,14,15; 23.23,25,27;
27.1,41. Ao observarmos a grande quantidade de referências, notamos que esses religiosos eram assíduos
seguidores de Cristo (perseguidores). Eles compareceram a todos os eventos mais importantes da vida de
Cristo, desde o batismo até a cruz. O que poderia ter sido um experiência transformadora em suas vidas foi
perdido por um erro de propósito. Estavam seguindo a Cristo para matá-lo. Que tipo de seguidores somos
nós? Judas também era um seguidor. Seu propósito em seguir o Mestre era a obtenção de vantagem pessoal,
financeira. Tal ganância era tão grande que, não satisfeito com as ofertas que furtava, vendeu o próprio
Senhor para obter mais 30 moedas.
6 - Os mistérios do reino 13.1-52 – Jesus apresenta, por meio de parábolas, diversas características do reino,
as quais se encontram ao mesmo tempo ocultas e reveladas. Ocultas para a multidão e reveladas para os
discípulos. O início é uma semente: a palavra de Deus. A obra criadora começa com a palavra dita pelo
Senhor: "Haja luz." (Gn.1). Este é o padrão divino para as suas obras. Por isso ele nos envia sua palavra para
que se produza em nós a sua vontade. Voltando a Gênesis, encontramos, no capítulo 3, a palavra do Diabo, a
semente do maligno. Esta se encontra sempre agindo paralelamente à palavra de Deus. O Senhor nos fala algo
e logo vem o inimigo com sua versão. "É assim que Deus disse?..." Esta mensagem pode vir de várias formas.
Uma delas é o conselho dos ímpios (Salmo 1) ou o conselho de um cristão vacilante (Mt.16.22). Como se vê
na parábola do trigo e do joio, cada tipo de semente gera um tipo de caráter. Em Gênesis 3.15 temos a palavra
semente como sinônimo de descendência. Aparecem ali duas descendências: a semente da mulher e a semente
da serpente. Seriam então os filhos de Deus e os filhos do Diabo que se encontrariam misturados durante a
história e inclusive no reino apresentado por Cristo (trigo e joio). Essas duas linhagens se encontram
representadas em indivíduos como Abel e Caim, Isaque e Ismael, Jacó e Esaú, Davi e Saul, etc. Em todos os
casos, o joio está perseguindo o trigo e tentando destruí-lo. No Novo Testamento, vemos os fariseus
perseguindo Cristo e tentando destruí-lo. João os chamou de "raça de víboras". Jesus também usou a mesma
expressão (Mt.23.31-35) e acrescentou que eles seriam réus do sangue dos justos, desde Abel até Zacarias.
Observe o vínculo que Cristo fez entre os justos. Não seria um vínculo genealógico natural, pois tudo indica
que Abel tenha morrido sem deixar descendência. Outro detalhe importante é que Jesus estabeleceu uma
ligação entre Caim e os fariseus ao cobrar destes o sangue de Abel, morto por Caim. Sendo raça uma
descendência e víbora uma serpente, temos então uma ligação com Gênesis 3.15 e a semente da serpente.
Além disso, Cristo chamou os fariseus de "filhos do Diabo" (João 8.44).
As parábolas nos mostram essa mistura até mesmo no reino. Trigo e joio crescem juntos. O reino é também
comparado à rede que apanha toda espécie de peixe. Contudo, Cristo avisa sobre o juízo final, quando haverá
a separação. Isso se mostra também na parte profética do livro (cap.24/25), quando se fala das virgens
prudentes e das néscias, do servo fiel e do infiel, dos bodes e das ovelhas. Nesse ponto, Cristo é apresentado
como juiz, pois a ele cabe a decisão que separa os bons dos maus.
Apesar de mostrar essa diferença entre as pessoas, Jesus não apresenta tudo isso como um quadro imutável.
Há esperança para o ímpio, o joio, o injusto. A palavra de Deus, a santa semente divina, nos é enviada com o
propósito de nos transportar do império das trevas para o reino da luz (Colos.1.13). Todos nós éramos, por
natureza, filhos da ira (Ef.2.3), filhos da desobediência (Ef.5.6; Colos.3.6), mas fomos regenerados pela
palavra de Deus (I Pd.1.23). Foi enxertada em nós a semente bendita do Senhor, por meio da qual somos
feitos filhos de Deus (João 1.12).
Outro aspecto abordado por Jesus é o crescimento do reino. Ele começa do interior do homem para o seu
exterior. O reino de Cristo começa nos corações, mas no futuro atingirá todo o mundo (Apc.11.15). Outra
figura para o crescimento do reino é o fermento, o qual não se vê, mas apenas seu efeito é notado. Nota-se
novamente o aspecto do reino com algo interior, oculto, guardado no íntimo. O mesmo se observa em sua
comparação com a pérola e o tesouro escondido. Nessas parábolas, acrescenta-se ao reino a característica de
grande valor, ao ponto de ser sensata toda a renúncia que se fizer para alcançá-lo. Tal renúncia não é
compreendida pelas pessoas, pois não estão vendo a pérola nem o tesouro (II Cor.4,2,3,4,7).
7 - A ofensa do reino 13.53 a 16.12 – Após encerrar suas parábolas, Cristo se dirigiu à sua Nazaré, onde foi
rejeitado por seus compatriotas. Em seguida temos o relato da morte de João Batista. As reações negativas
contra o reino tornam-se mais intensas. Os fariseus entram em cena novamente em perseguição ao Mestre
(15.2; 16.1). Surge então o fermento maligno contra o fermento do reino (16.6). As obras malignas também
crescem. A perseguição contra Cristo estava crescendo. As falsas doutrinas, as palavras do inimigo, podem
produzir algum tipo de crescimento. A serpente disse que Adão e Eva iriam adquirir conhecimento. Isso
poderia ser visto como um tipo de desenvolvimento para eles. Contudo, tal crescimento não estava no plano
ou na hora de Deus para o homem. Da mesma forma, existem muitas maneiras de se crescer na vida. Algumas
delas incluem a exploração ao próximo e a transgressão de normas. Não deixa de ser um crescimento, porém
cresce também o ônus para quem assim age. É o fermento maligno, acerca do qual o apóstolo Paulo adverte
os coríntios (5.7). Dentro desse raciocínio alegórico se encaixam as determinações de abstinência de tudo o
que fosse fermentado ao se realizar a páscoa. A fermentação, vista sob o seu aspecto negativo, está
relacionada à putrefação.
1 - A revelação do rei 16.13 - 17.27 – Embora Jesus já fosse publicamente conhecido há um bom tempo, as
pessoas não sabiam muito bem quem ele era. Sabiam apenas que Jesus curava os enfermos e multiplicava os
alimentos. Nem os discípulos possuíam uma visão definida sobre ele. Ocorre então a revelação. Primeiro
Jesus pergunta: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" E eles disseram: Uns, João Batista; outros,
Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas." (Mt.16.13-14). Notamos a confusão de opiniões sobre Jesus.
Eram muitas e todas equivocadas. A mais absurda era de quem pensava se tratar de João Batista ressuscitado,
uma vez que João e Jesus foram contemporâneos. A confusão de opiniões persiste ainda hoje. Muitos dirão
que Cristo foi um grande mestre, um profeta, um filósofo, um revolucionário, um fundador de religião, um
espírito de luz, etc. Mesmo sendo verdade sua qualidade de Mestre e profeta, essas palavras são totalmente
inadequadas para defini-lo. Jesus continua interrogando os seus discípulos: "Disse-lhes ele: E vós, quem
dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." (Mt.16.15-16).
Pedro recebeu uma revelação divina, como se faz necessário até hoje. Jesus é o Filho de Deus e isso supera
todas as definições anteriores. Desse modo, fica evidente a superioridade de Cristo sobre João Batista, Elias,
Jeremias e todos os outros profetas (Hb.1.1-3). No capítulo 17, aparecem no monte Elias e Moisés. Ouve-se
então uma voz do céu que diz a respeito de Cristo: "Este é o meu Filho amado. A ele ouvi." Nesse momento,
Moisés entra para a lista. Fica demonstrado que Cristo é superior à lei e aos profetas. Até esse ponto do livro,
já foi apresentada a supremacia de Jesus em relação a todos os valores e figuras importantes do judaísmo.
A revelação do rei estava se desenvolvendo de forma muito agradável para os discípulos até que Cristo passa
a dizer-lhes que era necessário sua ida a Jerusalém para morrer e ressuscitar (Mt.16.21; 17.22-23). A
revelação da morte do Rei foi assustadora para os discípulos. Isso era totalmente contrário à expectativa que
eles haviam alimentado em relação ao reino de Deus. Pedro chegou a dizer que de maneira nenhuma aquilo
aconteceria. Jesus lhe repreendeu dizendo: "Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque
não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens." (Mt.16.21-23). Tal decepção
pode acontecer com muitos cristãos que possuem apenas uma expectativa humana em relação ao evangelho.
Muitos pensam que o cristianismo deverá nos proporcionar apenas alegrias, felicidade, bem estar,
prosperidade e satisfação. Contudo, Jesus nos advertiu: "No mundo tereis aflições." (João 16.33). Na
seqüência de Mateus 16, Jesus diz aos seus discípulos: "Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si
mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me" (Mt.16.24). A cruz faz parte deste caminho. As provas, as
tribulações, as tentações, fazem parte do plano de Deus. Paulo escreveu aos romanos: "...também nos
gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a
experiência a esperança." (Rm.5.3-4). Se não tivéssemos a tribulação também não teríamos os resultados
positivos que ela produz em nós. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer,
dá muito fruto." (João 12.24). Se não houver morte também não haverá ressurreição.
2 - A doutrina do rei 18-20 - Conforme deduzem alguns comentaristas, uma das preocupações de Mateus era
o atendimento das necessidades da sua comunidade, a igreja. Por isso ele selecionou e organizou seu material
da forma com o temos hoje. Nesses capítulos encontramos ensinamentos de Jesus sobre humildade, o valor de
uma alma, o perdão, decisões da igreja, divórcio, o perigo das riquezas e as recompensas aos seus seguidores.
3 - A rejeição do rei 21-22 – Os judeus recebem Jesus em Jerusalém com entusiasmo. Porém, estranham sua
atuação no templo, quando ele expulsa os comerciantes e derruba suas mercadorias. Da mesma forma muitos
estranham as mudanças que Jesus deseja fazer em suas vidas após terem-no recebido como Salvador. Na
seqüência, Jesus conta uma parábola que mostra a chegada dos gentios para o reino, enquanto que os judeus
ficam em último lugar. Em todo tempo os fariseus ouviam tudo isso. Porém, nunca entendiam o alerta de
Jesus. Sempre se viam ameaçados por ele, quando deviam vê-lo como salvador. E assim, se punham sempre
em atitude de perseguição e isto apenas se tornava cumprimento das próprias palavras de Cristo.
4 - As censuras do rei 23 – Até então, os fariseus vinham praticando um tipo de "perseguição teológica"
contra Jesus. Tentavam colocá-lo em dificuldade afim de apanhá-lo em alguma palavra. Jesus, por sua vez,
vinha administrando o conflito de forma amigável. Porém, no capítulo 23, Jesus parte para o confronto. Ele
usa palavras duras e revela publicamente toda a corrupção dos fariseus. Com tudo isso acrescentado ao
episódio do templo, aqueles religiosos já se consideravam de posse de motivos suficientes para condenar
Jesus à morte.
5 - As predições do rei 24-25 - Temos nesse trecho um discurso apocalíptico de Jesus. É a escatologia do
Mestre tratando dos sinais dos últimos tempos, o surgimento de falsos cristos, sua segunda vinda, o
arrebatamento, o juízo e a eternidade. Fica demonstrada então o conhecimento de Cristo sobre os eventos
futuros, exceto sobre o dia da sua vinda. Já que ninguém sabe esse dia, senão o Pai, Jesus reforça bem a
necessidade de vigilância por parte de seus seguidores. Alguns fatos previstos nesses capítulos relacionam-se
à destruição de Jerusalém no ano 70. Isso é claro em relação ao templo (Mt.24.1-2). No texto dos versículos
15 a 21, temos uma referência à Judéia e ao lugar santo. Nota-se, portanto, uma indicação específica para os
fatos que haveriam de acontecer em Jerusalém. Não obstante, algumas profecias podem se aplicar a mais de
um momento histórico. Além disso, muitos versículos dos referidos capítulos não tiveram seu cumprimento
no ano 70. Sobre o próprio templo, uma de suas paredes ainda se encontra de pé até hoje e recebeu o nome de
Muro das Lamentações. Jesus disse que ali não ficaria pedra sobre pedra. Então, resta ainda um cumprimento
final para aquela profecia do Mestre.
7 - O triunfo do rei 28 – Encerrando seu livro, Mateus fala sobre a ressurreição de Jesus. Está então
demonstrado o poder triunfal do Rei Messias sobre sua própria morte. Agora, tendo recebido todo poder nos
céus e na terra, ele dá ordens aos seus discípulos para que levem o evangelho a todas as nações.
BIBLIOGRAFIA
SÁNCHEZ, Tomás Parra, Os Tempos de Jesus - Ed. Paulinas.
GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 - Ed. Vida Nova.
TURNER, Donald D., Exposição de Os Atos dos Apóstolos - Imprensa Batista Regular.
PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do Novo Testamento - Ed. Vida.
MORACHO, Félix, Como Ler os Evangelhos - Ed. Paulus.
PEARLMAN, Myer, Mateus - O Evangelho do Grande Rei - CPAD.
TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa Batista Regular.
THOMAS, W. H. Griffith, Como Estudar os Quatro Evangelhos - Casa Editora Presbiteriana.
SOUZA, Itamir Neves, Atos dos Apóstolos - Uma História Singular - Ed. Descoberta.
CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal.
GIBERT, Pierre, Como a Bíblia Foi Escrita - Ed. Paulinas.
ELWELL, Walter A. , Manual Bíblico do Estudante - CPAD.
HOUSE, H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida
JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD
DOUGLAS, J.D., O Novo Dicionário da Bíblia – Ed. Vida Nova
SOUZA, Itamir Neves - 70 Sermões Expositivos no Livro de Atos dos Apóstolos.
Apostila do SEBEMGE – Pastor Delmo Gonçalves
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão Contemporânea - Ed. Vida