Você está na página 1de 224

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/299434959

NEUROCIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO:O INFINITO NÃO ACABA


JAMAIS (Neuroscience and Human Development: The Infinite Never Ends).

Research · March 2016


DOI: 10.13140/RG.2.1.2690.9849

CITATIONS READS

0 8,535

2 authors, including:

Carlos Ac Vasconcelos
Federal University of Pernambuco
61 PUBLICATIONS 200 CITATIONS

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Hope as a behaviour and cognitive process: a new clinical strategy about mental health’s prevention/Esperança como processo cognitivo e comportamental: uma nova
estratégia clínica de prevenção da saúde mental View project

Comparative studies on the effect of Oxytocin on memory: “Love hormone” to remember, “Love hormone” to forget View project

All content following this page was uploaded by Carlos Ac Vasconcelos on 26 March 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


NEUROCIÊNCIA
E DESENVOLVIMENTO HUMANO
O INFINITO NÃO ACABA JAMAIS

Neuroscience and Human Development:


The Infinite Never Ends
NEUROCIÊNCIA
E DESENVOLVIMENTO HUMANO
O INFINITO NÃO ACABA JAMAIS

Organizadores:
Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Modesto Leite Rolim Neto – Universidade Federal do Cariri (UFCA)

Tema:
Interdisciplinaridade em saúde, experimentação básica e clínica.

Abrangência:
Pesquisadores, professores, alunos e profissionais de saúde e áreas afins.

Área:
Neurociências, nutrição e neuropsiquiatria.
Copyright © Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos e Modesto Leite Rolim Neto
Todos os direitos reservados.
Sumário
Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecâ-
nico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa per-
Saudade.......................................................................................................................................................................11
missão do autor. Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor.
Prefácio.....................................................................................................................................................................17
Editora Schoba
Rua Melvin Jones, 223 – Vila Roma – Salto – São Paulo – Brasil
CEP: 13.321-441 Parte 1: Neurociência básica e clínica..........................................21
Fone/Fax: +55 (11) 4029.0326
E-mail: atendimento@editoraschoba.com.br O nervo periférico como unidade funcional:
www.editoraschoba.com.br a orelha e os sons do universo – Da sintonia ao caos................23
Macro e microanatomia e anatomofisiologia molecular
CIP-Brasil. Catalogação na Publicação do sistema auditivo periférico do rato...................................................................41
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Morfometria de nervos.....................................................................................................................63
N414 Memória emocional em idosos sadios e com doença de
Alzheimer: uma revisão dos estudos comportamentais
Neurociência e desenvolvimento humano : o infinito não acaba jamais /
organização Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos, Modesto Leite Rolim e de neuroimagem funcional.....................................................................................................85
Neto. - 1. ed. - Salto, SP : Schoba, 2014.
SLEEP-WAKE CYCLE, CIRCADIAN RHYTHMS AND MALNUTRITION.
444 p. : il. ; 23 cm.
A REVIEW................................................................................................................................................................... 105
Inclui bibliografia
Ataxias espinocerebelares de início tardio......................................................139
ISBN 978-85-8013-317-2
Neurofisiologia clínica da doença de Parkinson................................173
1. Neurociências. 2. Ciências médicas. I. Vasconcelos, Carlos Augusto Carva-
lho de. II. Rolim Neto, Modesto Leite. INFLUENCE OF SEX HORMONE ESTROGEN
ON MEMORY AND EMOTION............................................................................................................199
14-09228 CDD: 612.82
CDU: 612.82 As bases neurológicas do ego, Id e superego.........................................233
Reflections of a Reproductive Physiologist
(Living and Working in Two Hemispheres)........................................................... .255
Círculo arterial cerebral de Willis: história, anatomia,
filogenia e sua associação com aneurismas cerebrais.............277
Meralgia parestésica: experiência com 38 casos....................................301
Parte 2: Nutrição básica e aplicada............................................. 309
Primeiramente, agradeço a Deus por estar pre-
Efeitos da desnutrição precoce e da estimulação ambiental sente em minha vida (fé, força e resiliência),
sobre os níveis de monoaminas e seus metabólitos sempre oro pelos bravos e os covardes. Sou gra-
no sistema nervoso central de ratos...................................................................311 to a minha família e aos amigos indeléveis.
Nutrição básica e aplicada......................................................................................................339
Agradecimento especial ao ilustre Prof. Dr. Modesto Leite Rolim
Efeitos da desnutrição precoce sobre o hipocampo e o Neto, professor do Curso de Medicina, da Universidade Federal
comportamento em modelos animais de aprendizagem do Cariri-UFCA, pela amizade e valiosos apoios, bem como a
e memória espacial.................................................................................................................................377 todo gentil povo de Juazeiro do Norte, “Terra Santa abençoada”.
À parceria com a Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA-I-
SEAD, em Recife (graduação e pós-graduação) pela magnificên-
Parte 3: psicologia médica................................................................. 409
cia e realizações. À Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/
Uma introdução ao pensamento depressivo Campus Recife, em nome de seus ilustres representantes atuais,
do idoso institucionalizado: aspectos Reitor Anísio Brasileiro de Freitas Dourado e Vice-Reitor Sílvio
clínicos e neuropsicológicos.........................................................................................411 Romero de Barros Marques, por tudo de bom conquistado até
o presente momento, bem como aos meus grandes mestres ilu-
Atenção................................................................................................................................................................. 427
minados Othon Bastos, Everton Sougey, Gilson Edmar, Marcelo
Valença, Fernando Colafêmina, Luiz Marcellino (In memoriam),
Amilton Barreira, Valéria Fazan, Kenneth Moore, Randy Nessler,
João Ricardo, José Luiz, Fábio Brayner, Luiz Carlos, Geraldo Car-
valho, Débora Nepomuceno, Florisbela Campos e Naíde Teodósio
(in memoriam), dentre outros, pela elevada competência e irrefu-
táveis ensinamentos na ciência e na vida. Ao Deputado Federal
Marco Aurélio Ubiali/PSB-São Paulo, pela empatia e honestidade,
bem como ao Governo do Estado de Pernambuco, em nome de seu
representante atual maior e novo amigo abençoado Eduardo Hen-
rique Accioly Campos, Presidente Nacional do PSB, para o bem do
Brasil. Ao iluminado mestre Ariano Suassuna pelo carisma irrefu-
tável. Ao conterrâneo Fábio Xavier do PR piauiense pelos apoios.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela bolsa do Programa Nacional de Pós-Doutorado Ins-
titucional (Processo 2311-2011) no Programa de Pós-Graduação
em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, do Centro de
Ciências da Saúde (CCS) da UFPE, e a todos os destros que direto
e/ou indiretamente colaboraram para a finalização desta obra.
D
edico este livro aos meus diletos filhos Thiago Vasconcelos
(In memoriam), Diogo Vasconcelos, Carlos Vasconcelos e
ao ultimogênito Apolo Amarante Vasconcelos, pelo amor
e beleza, divina chegada ao meu coração e fonte inspiradora; em
especial, às vítimas e familiares da tragédia em Santa Maria/RS, no
dia 27/1/2013, na Boate Kiss, e do atentado à Maratona de Bos-
ton/USA, ocorrido no dia 15/4/2013 (poucos dias antes da minha
chegada), onde o destino nos mostra como somos tão insignifican-
tes materialmente. Assim como toda nação brasileira, muito me
comoveu. Nada pode separá-los do amor de Deus.

“Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”.


João Paulo II/Karol Josef Woityla (1920-2005).
Saudade
Patativa do Assaré1


Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa


Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado


No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.”

1. Antônio Gonçalves da Silva (Nasceu na Serra de Santana, Assaré/CE, no dia 5/3/1909


– Faleceu em Assaré/CE, no dia 8/7/2002) – Poeta popular, compositor, cantor e impro-
visador. Pelo espetáculo Argumas de Patativa (Festival de Teatro de Santos/SP), recebeu o
Prêmio Plínio Marcos 2005 (de cultura popular brasileira). O cearense já é considerado o
maior poeta popular brasileiro.
“Liberdade é uma possibilidade de ser melhor,
enquanto que escravidão é a certeza de ser pior.”
Albert Camus (1913-1960).
“Crê no direito como o melhor instrumento para o
humano convívio;
Crê na justiça como o objetivo normal do direito;
Crê na paz como o substitutivo piedoso da justiça;
Acima de tudo, crê na liberdade,
Sem a qual não há direito, nem justiça, nem paz.”

“Believe in the law as the best instrument for human


living;
Believe in justice as the objective standard of law;
Believe in peace as the godly substitute of justice;
Above all, believe in freedom,
Without which there is no law, no justice, no peace.”
Prefácio
O cérebro tem opinião. Tem uma opinião.
(Miguel Nicolelis – Neurocientista)

C
ada partícula do universo em suas múltiplas dimensões
configura-se a partir do contexto situacional onde elas es-
tão inseridas. Nessa configuração estabelecida entre espaço
e tempo, conexões distintas são ativadas no fluxo do desenvolvi-
mento humano. Nesse sentido, a cada novo enquadre e/ou pista
advinda do apreender sobre o inesperado, formas plurais e carre-
gadas de ressignificação são postas em movimentação. Questões
da natureza da curiosidade são depositadas no reconhecimento do
(in)certo. Assim, etapas são circunscritas na busca de tradução às
situações complexas formuladas ao aprender sobre a vida.
Neste cenário tensional entre sapiens e demens perdura uma
dicotomia essencial à produção de sentidos: o lugar do “nunca”
mediante à miscelânea de coisas suscitadas pelas interfaces pro-
duzidas pela realidade concreta e pela abstração do instante no
movimento e na expertise alocada no saber/fazer aprendizagem
humana. Afora o fato de que o “nunca” poderá criar interlocu-
ções carregadas de decodificações que nem sempre são capturadas
a priori pelo olhar daquele que busca o conhecimento. Ademais,
o “nunca” paira na magnitude das coisas incertas, o que em sua
profundidade traz especificidades e exigências no reconhecimento
daquilo que supostamente acaba. Necessariamente, o discernimen-
to sobre a dinâmica do tempo traz o “nunca” na sua especificidade
mais pungente em se pensar o infinito das coisas.
Assim, em que consiste o “nunca”, do ponto de vista específi-
co do infinito? Para alguns, as coisas pretensamente não acabam,
transformam-se. Para outros, o “nunca” é um lugar que não existe,

17
portanto, infinito em sua dimensão de captura de realidades ador- necessárias a corporificar as contribuições de diferentes pesquisado-
mecidas. Dito isto, o infinito percorre as malhas do tempo emer- res em suas distintas e cuidadosas articulações do saber no ampliar
gindo e religando os pontos tensionais de circunstâncias, saberes o debate, destacando as novas perspectivas do conhecimento no que
e acontecimentos em detrimento a espaços pulsantes de energias diz respeito às especificidades e exigências dos temas abordados.
circulantes – outrora apenas destacada como pista contextual. Gostaria de ressaltar a importância do Prof. Carlos Augusto
Seguindo essa linha de raciocínio, o “nunca” remaneja possibi- de Vasconcelos, na condução da obra, particularmente no diálogo
lidades incertas no traduzir espaços vácuos, revisitando e instigan- estabelecido com os mais diversos pesquisadores, chamando-me
do a permanência de elementos intrínsecos ao constructo humano. a atenção a natureza e o espírito desbravador deste piauiense, em
Dessa forma, o infinito encontra sua possibilidade de localização a trazer o sorvo de diversas contribuições científicas, dentro de uma
partir das transformações fáticas entre o estranho, o esquecimento visão crítica e otimista sobre neurociência e desenvolvimento hu-
e a lembrança, produzindo sinais identificadores das construções mano. A constatação de sua origem: Regeneração/PI, suscita e re-
humanas perante o pretenso saber ante a estrutura do pensar e do afirma uma observação pontual a aquilo que fora destacado como
sujeito a ele alocado. Nessa perspectiva, o infinito não acaba ja- “o infinito não acaba jamais” – a notável capacidade de desafiar
mais, permanece como decodificador emergente de configurações o seguir em frente, vencendo obstáculos, contribuindo e aplican-
complexas entre o tempo, a consciência, o ser e a multifacetada do ações reflexíveis sobre o que aparentemente não chamaria a
realidade circundante ao homem. atenção. Do ponto de vista humano, religa autores amigos e au-
Pode-se afirmar, então, que o cérebro assume papel fundamen- tores pensantes, cumprindo a missão de oferecer credibilidade à
tal nessa articulação entre os determinantes do desenvolvimento e natureza de seres demasiadamente humanos. Do ponto de vista
o conhecimento do humano, implicando pensar as formas impos- acadêmico, reafirma a força da transmissão do conhecimento, po-
tas pela consciência no revitalizar a autonomia do pensar, bem tencializando desfechos científicos no gerir informação e seus cré-
como no identificar os pontos nodais suscitados muitas das vezes ditos no presente.
pela incógnita da religação de situações opacas. Essa constatação Como diria Albert Einstein, a distinção entre passado, presen-
remonta as questões envoltas ao desejo, ao fazer, a latência do te e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. Nesse
que somos, enquanto resultado das inúmeras interações provoca- sentido, o infinito não acaba jamais, também assume essa aplica-
das entre o corpo e a mente. A neurociência aparece neste cenário bilidade em termos de neurociências e desenvolvimento humano.
como de fundamental importância no (re)visitar a polissemia do
humano, sublinhando as diferentes situações nas quais o cérebro
seja capaz de atuar, interagir, “moldar” a consciência. Prof. Dr. Modesto Leite Rolim Neto
Nesse sentido, limites e possibilidades entre o cérebro e a consci- Professor Adjunto do Curso de Medicina
ência provocam estratégias distintas na apropriação científica naqui- da Universidade Federal do Cariri – UFCA
lo que perfaz a magnitude do discernimento da atuação de um sobre
o outro e suas repercussões no interpelar o biológico, o cultural, o
social, o psicológico e os processos envoltos à saúde e à doença.
Todos parecem concordar quanto à complexidade do tema, no
entanto, o contexto deste livro permite identificar algumas questões

18 19
Parte 1
Neurociência básica e clínica
O nervo periférico como unidade
funcional: a orelha e os sons do
universo – Da sintonia ao caos
Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos2
Debora Catarine Nepomuceno de Pontes Pessoa3
Laryssa Nayara Nogueira de Souza4
Maria Eduarda Alcoforado Bold da Silva5
José Luiz de Lima Filho6
Marcelo Moraes Valença7

A
s células nervosas ou neurônios são unidades anatômicas
fundamentais do sistema nervoso periférico (SNP) consti-
tuídas por um corpo celular (soma) que contém um núcleo
(centro metabólico do neurônio) e várias organelas; possuem um
axônio, por onde saem informações para outros neurônios através
dos contatos sinápticos em seus terminais, fazendo contato com

2. Departamento de Neuropsiquiatria – Serviço de Neurologia e Neurocirurgia – Progra-


ma de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento – Centro de
Ciências da Saúde/Universidade Federal de Pernambuco (CCS/UFPE) – Recife.
Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA)/UFPE.
Pós-doutorando bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES), 2011.
3. Professora Aposentada e Nutricionista do LNED/CCS/UFPE.
4. Aluna de graduação em Nutrição/UFPE.
5. Aluna de graduação em Nutrição/UFPE.
6. Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA)/UFPE.
7. Departamento de Neuropsiquiatria – Serviço de Neurologia e Neurocirurgia – Progra-
ma de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento – Centro de
Ciências da Saúde/Universidade Federal de Pernambuco (CCS/UFPE) – Recife.

23
outros milhares de dendritos ou corpos celulares de outros neurô- Quanto a lesões do SNP e sua fisiopatologia, ao demonstrar
nios, bem como outras partes da célula nervosa, recebendo estas quando um nervo periférico sofre uma lesão grave, as fibras nervo-
muitas informações do meio externo ou interno (vias aferentes e sas do segmento distal degeneram, enquanto que as do segmento
eferentes) do organismo.[1,8,9] A fibra nervosa compreende o axônio proximal à lesão sobrevivem. Quando as fibras nervosas são dani-
em conjunto com as células de Schwann no SNP, ou oligodendró- ficadas por esmagamento, secção, isquemia ou no decorrer de um
citos no sistema nervoso central (SNC). As fibras agrupam-se em processo inflamatório, de forma a causar interrupção da integrida-
pequenos feixes, que possuem uma constituição variável em ter- de dos axônios, surge um fenômeno degenerativo nas fibras distais
mos de dimensões, número e padrão, de acordo com os diferentes à lesão que é denominado degeneração Walleriana8 (degradação
nervos.[13,15,17] Do ponto de vista clássico, as fibras nervosas são do axônio, alterações da mielina, resposta das células da glia, mo-
divididas em dois grandes grupos, as mielinizadas (mielínicas) e as dificações na barreira hematoneural e resposta das células macro-
não mielinizadas (amielínicas). Em ambos os tipos de fibras ner- fágicas para tentar reparar danos, diferenciados em estádios). Após
vosas, os axônios são rodeados pelas células de Schwann no SNP. a lesão axonal também surgem alterações do tipo degenerativo no
Nas fibras mielinizadas, uma célula de Schwann envolve apenas segmento proximal, com a consequente reação do corpo celular. O
um axônio, em torno do qual seu citoplasma se enrola em espiral primeiro pré-requisito para a regeneração axonal é a sobrevivên-
e produz uma bainha constituída por camadas distintas de lipídios cia do neurônio após a lesão; essa sobrevivência vai depender de
e proteínas – a bainha de mielina.[13,17] vários fatores importantes, como o tipo de neurônio, a idade e a
Quanto à estrutura microscópica do nervo periférico, pode- proximidade do corpo celular. De forma geral, os neurônios moto-
mos reconhecer, através de uma secção transversal, os seguintes res dos nervos espinais são menos susceptíveis à morte celular que
elementos: o epineuro, a camada mais externa, composto por um os dos nervos cranianos ou sensitivos; os neurônios dos animais
tecido conjuntivo que envolve completamente o nervo; o perineuro, adultos são menos susceptíveis do que os neurônios imaturos dos
que é constituído por tecido conjuntivo mais denso e disposto em neonatos; quanto mais afastadas do corpo celular ocorrerem as
camadas concêntricas que rodeiam as fibras nervosas, dividindo o lesões, maior será a probabilidade de sobrevivência do neurônio.
nervo em fascículos; e o endoneuro, um tecido conjuntivo intersti- Lembrando que lesões no SNC ainda são irreversíveis.[8,9,15,17,24] A
cial dentro do fascículo, contendo vasos sanguíneos, plexos capi- Figura 1 esquematiza hipoteticamente as implicações da imunida-
lares, células satélites, células circulantes de reparação e de defesa, de celular e humoral envolvidas em possíveis afecções autoimu-
quando necessário; assim, o nervo periférico possui um sistema mi- nes do SNP e neuropatias inflamatórias. Assim, a morte do soma
crovascular intrínseco bem desenvolvido. É no nível do endoneuro neuronal pode resultar em uma degeneração trans-sináptica (por
que existe a barreira hematoneural ou barreira sangue-nervo, que exemplo, perda de células ciliadas internas, levando a alterações e
possui as mesmas propriedades funcionais bastante similares às da perdas das células do gânglio espiral na cóclea).
barreira hematoencefálica do SNC. O transporte axonal pode ser
feito de modo anterógrado, quando as diferentes substâncias são
transportadas a partir do corpo celular para o axônio e suas termi-
nações nervosas, enquanto que o inverso, o transporte retrógrado
é responsável pelo movimento de material ao longo do axônio a
8. Relativo a Augustus Waller, que, em 1850, contribuiu de forma decisiva para o início
partir dos terminais nervosos em direção ao corpo celular.[9,13,15,17] da neurobiologia celular.

24 25
macrófagos são atraídos para o nervo e a sua especificidade nos alvos não são conhecidas.
A ação cooperativa com os anticorpos antimielina (ABS) via receptores Fc pode ser um
guia até a bainha de mielina. A interação de complemento macrofágico tipo 3 (CR3) com
a mielina pode igualmente estar envolvida. Finalmente, os mastócitos podem contribuir,
sintetizando peróxido de hidrogênio (H2O2), aminas vasoativas e moléculas quimioatrati-
vas, aumentando a permeabilidade de células inflamatórias através da BSN e, assim, am-
plificando a resposta autoimune [6]. Os macrófagos ativados liberam diferentes citocinas
(interleucinas, fator de necrose tumoral (TNF-α), dentre outras), efetivando as lesões e a
desmielinização. (Adaptado de HARTUNG, H. P.; TOYKA, K. V. T-cell and macrophage
activation in experimental autoimmune neuritis and Guillain-Barré syndrome. Annals of
Neurology, Boston, n. 27, p. S57-S63, 1990.[3]

Quanto à classificação das lesões do nervo periférico ao lon-


go do seu percurso anatômico, está sujeito a eventuais lesões. Os
dois sistemas mais amplamente utilizados incluem a proposta de
Seddon[11,12] e a de Sunderland,[13-16] considerados por muitos inves-
tigadores como os “pais da cirurgia do nervo periférico”.
Neuropraxia ou lesão de Sunderland de tipo I: O termo neuro-
praxia foi introduzido por Seddon para definir um bloqueio local na
condução, após compressão ou estiramento da fibra nervosa. Nestes
casos, a continuidade axonal é preservada e não ocorre degeneração
walleriana. Após algumas semanas e de forma geralmente espontâ-
nea, é recuperada a condução no segmento afetado. A neuropraxia,
que é de caráter agudo, resulta da danificação da bainha de mielina.
Figura 1: Esquema sumarizado e hipotético das implicações da imunidade celular e hu-
moral envolvidas na patogênese da neurite alérgica experimental (NAE), síndrome de Em termos clínicos, aparece paralisia motora, enquanto que as fi-
Guillain-Barré e outras possíveis afecções autoimunes do sistema nervoso periférico (SNP) bras sensitivas e do sistema nervoso autônomo (SNA) são geralmen-
e de neuropatias inflamatórias humanas, incluindo as que podem afetar a cóclea e o VIII te poupadas. Esses sinais clínicos resultam da maior vulnerabilida-
nervo craniano. No circuito imune local do nervo existem macrófagos (MØ), células que
apresentam antígenos (APC), células de Schwann, linfócitos T (T, Th) e B, mastócitos de das fibras de maior diâmetro em relação às de menor diâmetro.
(MC), dentre outros elementos. Na sequência [1] e [2], células T ativadas circulantes atra- Axonotmese ou lesão de Sunderland de tipo II: Corresponde a um
vessam a barreira sangue-nervo (BSN), possivelmente facilitadas pelo interferon-γ (IFN estádio avançado de compressão ou de retração do nervo periférico,
-γ) interagindo, via seus receptores T (TCR), com as células apresentadoras de antígenos
(APC), exibindo, em sua superfície, autoantígenos (AG) em associação com o complexo
implicando a perda da continuidade axonal e consequente degene-
maior de histocompatibilidade (MHC) classe II. Essa interação resulta em uma prolifera- ração walleriana. Para que haja recuperação funcional, é necessário
ção clonal de células B, levando a uma produção de anticorpos antiperiféricos nervosos que ocorra a regeneração axonal. Podem os músculos sofrer danos
(anticorpos para gangliosídeos, glicolipídios neutros, IG e ABS) [3]. As células T auxiliares
(TH) não são necessárias para transformação de células B em anticorpos produzidos no
irreversíveis, enquanto o processo de reinervação não se conclui.
plasma (IgM, IgG). As células T ativadas, via liberação de IFN-γ, recrutam macrófagos de Neurotmese ou lesão de Sunderland de tipo III-V: Implica
várias direções para atacar a bainha de mielina do nervo através de fagocitose e liberação uma perda não só da continuidade dos axônios, mas também dos
de moléculas efetoras danosas, como radicais livres derivados do oxigênio, radicais supe-
róxidos (O2-) e metabólitos do ácido aracdônico, como as prostaglandinas E (PGE), enzi-
elementos que constituem o nervo periférico (endoneuro, perineu-
mas hidrolíticas e componentes do complemento (C) [4] e [5]. A forma exata de como os ro e epineuro), da qual resulta uma desorganização total da estru-

26 27
tura anatômica no local afetado. A regeneração espontânea não audição e equilíbrio, é uma obra fantástica da natureza. Envolve
é possível, sendo necessária a reparação cirúrgica do nervo com eletrônica, acústica, hidráulica e miniaturização; é um microfone
vista à recuperação funcional. De acordo com a classificação de sofisticado que nenhum engenheiro até o presente momento conse-
Sunderland, a neurotmese pode ainda ser subdividida em três sub- guiu reproduzir perfeitamente. A orelha possui similaridades entre
grupos, baseada na continuidade ou descontinuidade dos diferen- as espécies, em particular entre os mamíferos. A audição é essencial
tes tecidos de suporte do nervo periférico: 1. Lesão de Sunderland a vida humana (por exemplo, as crianças aprendem a falar vendo e
de tipo III, em que se observa uma perda de continuidade axonal, ouvindo os adultos falarem) e indispensável para sobrevivência de
bem como do endoneuro, enquanto o perineuro permanece intac- alguns animais inferiores. O som proveniente do ambiente externo,
to. 2. Lesão de Sunderland de tipo IV, que associa a lesão anterior na forma de ondas sonoras mecânicas, chega através do conduto
à perda de continuidade do perineuro, permanecendo intacto o auditivo externo até a membrana do tímpano, fazendo-a vibrar, e
epineuro. 3. Lesão de Sunderland de tipo V, em que o nervo peri- logo os ossículos da orelha média (martelo, bigorna e estribo – os
férico é completamente seccionado, resultando, daí, uma distância menores ossos do corpo humano). Em seguida, na orelha interna,
variável entre os segmentos neurais afetados.[11,12, 14-17] na cóclea, esse som é transformado em ondas elétricas, que serão
Neuropatias periféricas são doenças dos nervos periféricos. transmitidas até o cérebro através do VIII nervo craniano (nervo
Podem ser mielinopatias ou axonopatias. No caso das primeiras, o auditivo) ou do nervo vestibulococlear (vias aferentes e eferentes).
axônio é poupado, mas a condução nervosa é lenta. Já as últimas O nervo vestibulococlear é um nervo aferente puramente sensorial,
envolvem principalmente axônios, não ocorrendo condução ner- constituído por prolongamentos de neurônios bipolares localiza-
vosa, levando à degeneração distal e mista, em que o axônio e a dos no gânglio espiral (de Corti). Ainda na orelha interna, existe
mielina são afetados, e o corpo neuronal é inicialmente poupado, o labirinto e sua porção do nervo vestibular e seus ramos, que são
degenerando-se depois; as axonopatias podem ainda ser primárias importantes para o equilíbrio e para a orientação aéreo-espacial
ou secundárias. A compressão do nervo também bloqueia a sua do corpo humano. Uma porção do VII nervo craniano ou nervo
condução, porém sua recuperação é mais rápida que a de um corte facial está próxima ao nervo vestibulococlear.[19,21,22]
ou de uma lesão mais grave.[11,12,14-17,27] A neuropatia auditiva é uma desordem na audição na qual os
Os médicos gregos, no V século a.C., foram os primeiros a potenciais evocados auditivos estão ausentes ou substancialmente
terem contato e especularem sobre a membrana timpânica e a ore- anormais. Ratos diabéticos induzidos por estreptozotocina (STZ)
lha média, considerando esses locais como responsáveis pela nossa servem como modelo do diabetes mellitus tipo 1 (DM1), porém, o
audição; porém, entre 131 a 201 d.C., Galeno descreveu o nervo modelo animal para o estudo do DM2 ainda não foi plenamente
auditivo, sugerindo sua origem na orelha média. De 1500 até os desenvolvido.[4,22] A Figura 2 mostra, na microscopia eletrônica de
dias atuais, foram feitas várias descobertas, e muito se tem obti- transmissão (MET), cortes transversais de nervo vestibulococlear
do com os avanços das técnicas de microscopia desde 1851; pio- de rato controle e diabético, evidenciando principalmente as atro-
neiramente por Alfonso Corti, seguido por Retzius, em 1892, que fias axonais nos animais diabéticos. A Figura 3 mostra, na micros-
descreveu as células auditivas e suas inervações com as fibras do copia de luz, cortes transversais do nervo vestibulococlear de ratos
nervo auditivo. A orelha humana, em particular a cóclea e o nervo controle (A e B) e diabético (C e D). Nota-se a desorganização
vestibulococlear, é um aparato muito sofisticado.[5,22] endoneural das fibras mielínicas nos ratos diabéticos (C e D), bem
A orelha humana e sua complexa maquinaria de comparti- como a grande densidade de fibras mielínicas organizadas dispos-
mentos aéreos e líquidos, com suas respectivas funções distintas, tas em paralelo nos animais controle (A e B).

28 29
É descrito, na literatura, que pacientes diabéticos apresentam
A B
distúrbios de audição, geralmente apresentando sintomas como
tontura, zumbidos e hipoacusia. A hipoacusia é principalmente
do tipo neurossensorial, que pode ser confundida ou ocorrer em
paralelo com perda auditiva associada ao avanço da idade (pres-
biacusia, após os 40 anos de idade). No presente estudo, foram
apresentadas alterações ultraestruturais axonais do nervo vestibu-
Figura 2: Eletromicrografias de cortes seriados transversais mediano do nervo vestíbulo-
coclear de ratos da linhagem Wistar. (A) Controle e (B) diabético crônico (STZ® – 60 mg/
lococlear em ratos com diabetes crônico induzido experimental-
kg, i.p.). Note a presença intensa de atrofia axonal (ponta de setas) no endoneuro, e um mente,11,22,23,26 bem como o mesmo protocolo experimental está
núcleo de célula de Schwann (cabeça de seta) com seu citoplasma proeminente após 10 sendo usado para avaliar os efeitos da hiperglicemia em animais
semanas de inoculação de uma única dose de STZ®. 5.000x.
desnutridos[6,7,10] e verificar se a desnutrição proteica altera ain-
da mais estes resultados. Apesar das recentes e diversas pesquisas
acerca das alterações histológicas e estruturais da orelha interna de
pacientes diabéticos e seus modelos experimentais, uma avaliação
histológica do nervo vestibulococlear está sendo realizada pionei-
ramente em animais desnutridos para corroborar a extrapolação
em futuras pesquisas no humano.

Figura 3: Fotomicrografias na microscopia de luz de cortes transversais do nervo vestibu-


lococlear de ratos controle [A] e [B] e diabético [C] e [D], corados com azul de toluidina.
Nota-se a desorganização endoneural das fibras mielínicas nos ratos diabéticos [C] e [D],
bem como a grande densidade de fibras mielínicas organizadas dispostas em paralelo nos
animais controle [A] e [B] com seus vários vasos sanguíneos. Nota-se também um grande
neurônio ganglionar [A]. Barra=10μm.

30 31
Agradecimentos: À CAPES, pela bolsa e auxílio financeiro Referências
(2311/2011) do Programa Nacional de Pós-Doutorado Institucio-
1. BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neuro-
nal(PNPD/2011); à Profa. Dra. Valéria Paula Sassoli Fazan, visce-
ciências – Desvendando o Sistema Nervoso. 3 ed. Porto Alegre:
ralmente perfeita nos apoios, batalhas e auxílios, e à sua compe-
ArtMed, 2008. 896 p.
tência intrépida e elevada destreza na pesquisa científica e na vida.
Ao Dr. Randy Nessler, novo Diretor do Central Microscopy Re- 2. FAZAN, V. P.; VASCONCELOS, C. A. C.; VALENÇA, M. M.;
search Facility (CMRF)/The University of Iowa, Estados Unidos, NESSLER, R. A.; MOORE, K. C. Diabetic Peripheral Neuropa-
pela amizade, conselhos e auxílios. À Cristina Schiavoni, Renato thies: A Morphometric Overview. International Journal of Mor-
Meirelles, Aracy Edwirges, Rafael Padilha, Sérgio Santos, Raimun- phology, Temuco, v. 28, n. 1, p. 51-64, 2010.
do Pimentel, Ana França, Anisberto Cunha e Edeones França pelos
excelentes auxílios técnicos, laboratoriais e de vivências. 3. HARTUNG, H. P.; TOYKA, K. V. T-cell and macrophage ac-
tivation in experimental autoimmune neuritis and Guillain-Barré
syndrome. Annals of Neurology, Boston, n. 27, p. S57-S63, 1990.

4. HONG, B. N.; KANG, T. H. Auditory neuropathy in streptozo-


tocin-induced diabetic mouse. Neuroscience Letters, Limerick, v.
431, n. 3, p. 268-72, 6 fev. 2008.

5. MERCHANT, S. N.; ROSOWSKI, J. J. Auditory Physiology. In:


GLASSCOCK, M.E.; GULYA, A. J. (eds.). Surgery of the ear. 5.
ed.. Hamilton: BC Denker; 2003, p. 59-82.

6. MORGANE, P. J.; AUSTIN-LAFRANCE, R. J.; BRONZINO,


J. D.; TONKISS, J.; DIAZ-CINTRA, S.; CINTRA, L. et al. Prena-
tal malnutrition and development of the brain. Neuroscience and
Biobehavioral Reviews, Nova Iorque, v. 17, p. 91-128, 1993.

7. MORGANE, P. J.; MOKLER, D. J.; GALLER, J. R. Effects of


prenatal protein malnutrition on the hippocampal formation.
Neuroscience and Biobehavioral Reviews, Nova Iorque, v. 26, p.
471-83, 2002.

8. PATON, W. Man and mouse: animals in medical research. Ox-


ford: Oxford University Press, 1984. 174 p.

9. POLLI-LOPES, A. C.; CASALETTI-ROSA, L.; BELEBONI, R.

32 33
O.; ROMCY-PEREIRA, R. N.; VASCONCELOS, C. A. C.; MO- 19. VASCONCELOS, C. A. C. Aspectos descritivos e quantitativos
REIRA, J. E. Aspectos moleculares da transmissão sináptica. Re- da anatomia macroscópica e microscópica do nervo vestíbulo-co-
vista Medicina, Ribeirão Preto, v. 32, n. 2, p. 167-88, 1999. clear de cobaias. 2005. Dissertação (Mestrado em Neurologia) –
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São
10. RESNICK, O.; MILLER, M.; FORBES, W.; HALL, R.; KEM- Paulo, Ribeirão Preto, 2005.
PER, T.; BRONZINO, J. et al. Developmental Protein malnutrition;
influences on the central nervous system of the rat. Neuroscience 20. VASCONCELOS, C. A. C.; FAZAN, V. P. S.; VALENÇA, M.
and Biobehavioral Reviews, Nova Iorque, v. 3, p. 233-46, 1979. M. Neuropatia diabética, desnutrição e sistema nervoso. Revista
Neurobiologia, Recife, v. 72, p. 129-36, 2009.
11. SEDDON, H. Three types of nerve injury. Brain, Oxford, v. 66,
p. 237-88, 1943. 21. VASCONCELOS, C. A. C.; FAZAN, V. P. S.; MOORE, K. C.;
VALENÇA, M. M. Protocolo histológico de preparação de nervos
12. SEDDON, H. Surgical disorders of the peripheral nerves. para microscopia eletrônica de transmissão. Revista Neurobiolo-
Edimburgo: Churchill-Livingstone, 1972.
gia, Recife, v. 72, p. 175-81, 2009.
13. SHERMAN, D.; BROPHY, P. J. Mechanisms of axon ensheath-
22. VASCONCELOS, C. A. C. Ultraestrutura de nervos no diabete
ment and myelin growth. Nature Reviews Neuroscience, Londres,
experimental em ratos: comparação entre um nervo espinal (nervo
v. 6, p. 683-90, 2005.
isquiático) e um nervo craniano (nervo vestíbulo-coclear). 2010.
14. SUNDERLAND, S. A classification of peripheral nerve injuries 126 p. Tese (Doutorado em Neuropsiquiatria e Ciências do Com-
producing loss of function. Brain, Oxford, v. 78, p. 491-516, 1951. portamento, área de concentração de Neurociências). Universida-
de Federal de Pernambuco, Recife, 2010.
15. SUNDERLAND, S. Nerves and nerve injuries. 2. ed. Edimbur-
go: Churchill Livingstone, 1978. 23. VASCONCELOS, C. A. C.; FAZAN, V. P.; MOORE, K. C.; NES-
SLER, R. A.; VALENÇA, M. M. Transmission electron microscopy
16. SUNDERLAND, S. The anatomy and physiology of nerve in- studies of the vestibulocochlear nerve in chronic diabetic rats. Inter-
jury. Muscle & Nerve, Charlottesville, v. 13, p. 771-84, 1990. national Journal of Morphology, Temuco, v. 29, n. 1, p 272-7, 2011.

17. VAREJÃO, A. S. P. Regeneração do nervo periférico: recupera- 24. VASCONCELOS, C. A. C. Animal models of human nutritio-
ção funcional num modelo experimental. 2003. 302 p. Tese (Dou- nal diseases: a short overview. Revista Brasileira de Hematologia e
torado em Ciências Veterinárias) – Universidade de Trás-os-Mon- Hemoterapia, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 264, 2012.
tes, Vila Real, 2003.
25. WALLER, A. Experiments on the section of the glossopharyn-
18. VASCONCELOS, C. A. C.; BARREIRA, A. A. Síndrome de geal and hypoglossal nerves of the frog, and observations of the
Landry-Guillain-Barré-Strohl, neurite alérgica experimental e o alterations produced thereby in the structure of their primitive fi-
comprometimento do VIII par de nervo craniano. Revista Neuro- bers. Philosophical Transactions of the Royal Society of London,
biologia, Recife, v. 66, p. 37-42, 2003. Londres, v. 140, p. 423-9, 1850.

34 35
26. WALKER, D.; CARRINGTON, A.; CANNAN, S. A.; SAWI- Sobre os autores
CKI, D.; SREDY, J.; BOULTON, A. J. M. et al. Structural abnor-
malities do not explain the early functional abnormalities in the
peripheral nerves of the streptozotocin diabetic rat. Journal of Debora Catarine Nepomuceno de Pontes Pessoa
Anatomy, Londres, v. 195, p. 419-27, 1999.
Possui doutorado em Nutrição pela Universidade Federal de
27. WATKINS, P. K.; THOMAS, P. K. Diabetes mellitus and the Pernambuco (1997). Atualmente é nutricionista da mesma uni-
nervous system. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychia- versidade. Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em
try, Londres, v. 65, p. 620-32, 1998. Dietética, atuando principalmente nos seguintes temas: exercício
físico, consumo alimentar, ratos, desnutrição e DBR. Foi bolsista
de produtividade CNPq.
http://lattes.cnpq.br/7712991204487483

Laryssa Nayara Nogueira de Souza


Estagiária de iniciação científica com início voluntário em de-
zembro de 2012, sob a orientação do Prof. Dr. Carlos Augusto
Carvalho de Vasconcelos, no projeto institucional intitulado As-
pectos ultraestruturais de nervos periféricos cranianos e espinais
em ratos cronicamente diabéticos e desnutridos (Programa de Pós-
Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – PNPD/CAPES
2011), acompanhando assiduamente o desenvolvimento do refe-
rido projeto de pós-doc (postdoctoral fellow), com intenção futu-
ra de bolsa de pesquisa. Instituições envolvidas na elaboração do
projeto: Departamento de Nutrição/UFPE (LNED), Laboratório
de Imunopatologia Keizo Asami/LIKA-UFPE (Setor de Microsco-
pia Eletrônica de Transmissão/TEM e Varredura/SEM), Faculda-
de de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(LNAE). The University of Iowa – The Central Microscopy Rese-
arch Facility, Iowa City, Estados Unidos.
http://lattes.cnpq.br/7301543255637959

36 37
Maria Eduarda Alcoforado Bold da Silva tes temas: biossensor, diagnóstico molecular, produção, purifica-
ção e imobilização de proteínas e instrumentação médica.
Estagiária de iniciação científica com início voluntário em de-
http://lattes.cnpq.br/2834403735297272
zembro de 2012, sob a orientação do Prof. Dr. Carlos Augusto
Carvalho de Vasconcelos, no projeto institucional intitulado As-
pectos ultraestruturais de nervos periféricos cranianos e espinais Marcelo Moraes Valença
em ratos cronicamente diabéticos e desnutridos (Programa de Pós-
Possui graduação em Medicina pela UFPE (1981), mestra-
Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
do em Ciências Biológicas (Fisiologia) pela mesma universidade
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – PNPD/CAPES
(1986) e doutorado em Ciências (Fisiologia Geral) pela Faculda-
2011), acompanhando assiduamente o desenvolvimento do refe-
de de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de
rido projeto de pós-doc (postdoctoral fellow), com intenção futu-
São Paulo (USP, 1989). Realizou pós-doutoramento no National
ra de bolsa de pesquisa. Instituições envolvidas na elaboração do
Institutes of Health (Visiting Fellow, Neuroendocrinologia, 1983-
projeto: Departamento de Nutrição/UFPE (LNED), Laboratório
1987; 1990), Estados Unidos; University of London (Neurocirur-
de Imunopatologia Keizo Asami/LIKA-UFPE (Setor de Microsco-
gia, 1995), Inglaterra; FMRP/USP (Neurocirurgia, 2001-2002) e
pia Eletrônica de Transmissão/TEM e Varredura/SEM), Faculda-
Montreal Neurological Institute, McGill University (Neurocirur-
de de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
gia, 2009-2010). Em maio de 2008, recebeu o título de Livre-Do-
(LNAE). The University of Iowa – The Central Microscopy Rese-
cente em Neurocirurgia do Departamento de Cirurgia e Anatomia
arch Facility, Iowa City, USA.
da FMRP/USP. No National Institute of Health, vinculado ao La-
http://lattes.cnpq.br/7645379513829481
boratory of Molecular and Integrative Neurosciences, NIEHS, tra-
balhou com neurossecreção de neurônios hipotalâmicos e realizou
José Luiz de Lima Filho as primeiras pesquisas com neurônios imortalizados. No National
Hospital for Neurology and Neurosurgery/Institute of Neurology,
Possui graduação em Medicina (1983) pela Universidade
University of London, estudou todos os casos de tumores da re-
Federal de Pernambuco (UFPE), doutorado em Bioquímica e Mi-
gião pineal operados até então. Na FMRP, realizou vários projetos
crobiologia pela University of St. Andrews (1987), pós-doutorado
nas áreas da Cirurgia de Pacientes Epilépticos, Neuroendocrino-
no GBF (Alemanha), Instituto de Tecnologia de Tóquio (Japão) e
logia e Cefaleia. Foi Professor Assistente (1988) de Fisiologia, do
National Institute of Standard and Technology (NIST), Estados
Departamento de Fisiologia da FMRP/USP e Professor Adjunto
Unidos. Atualmente é professor titular de Bioquímica da UFPE,
de Farmacologia (1989), do Departamento de Fisiologia e Farma-
membro do corpo editorial da World Journal of Microbiology and
cologia da UFPE. Desde 1990, é Professor Associado de Neuro-
Biotechnology da Revista Faculdade de Odontologia de Bauru e da
logia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da
Revista FITOS. É consultor da Financiadora de Estudos e Projetos
UFPE. Foi o Coordenador da Pós-Graduação em Neuropsiquiatria
(FINEP), CAPES, CNPq, FACEPE e FAPEMIG. Possui experiência
e Ciências do Comportamento (áreas Neurologia, Neurocirurgia,
na área de Microbiologia, com ênfase em Microbiologia Industrial
Psiquiatria, Neuropsicopatologia e Neurociências) de 2003 até
e de Fermentação, Biologia Molecular (Diagnóstico Molecular),
dezembro de 2007. Participou da criação dos doutorados em Ci-
Bioinformática e Instrumentação. Atua principalmente nos seguin-
ências Biológicas (1994) e em Neuropsiquiatria da UFPE (2004,

38 39
como coordenador). Tem experiência na área de Medicina, com Macro e microanatomia e
ênfase em Neurocirurgia e Neurologia, atuando principalmente
nos seguintes temas: neurocirurgia, tumores intracranianos, ner- anatomofisiologia molecular do
vos periféricos, doenças cerebrovasculares e cefaleia secundária sistema auditivo periférico do rato
a lesões intracranianas. De setembro 2009 a setembro 2010, foi
Visiting Scholar no Service of Neurosurgery do Professor Andrés
Olivier, McGill University, Montreal, Canadá. Foram publicados Miguel Angelo Hyppolito9
190 artigos científicos em periódicos, 4 livros e 20 capítulos de Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos10
livro, sendo 14 em livros internacionais. Cerca de 97 resumos ou
abstracts foram publicados em periódicos, boa parte em jornais
internacionais. Foram orientados 32 alunos no mestrado, 24 alu-
nos no doutorado e coorientados 3 alunos no mestrado. Atual-

M
mente, orienta 11 alunos no doutorado e 4 no mestrado. Desde
odelos animais são alternativas viáveis para pesquisas
23/3/2012, é o Coordenador do Programa de Pós-Graduação em
em neurociências, e compreender a estrutura microana-
Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento (nível 5 CAPES).
tômica e organização estrutural e molecular da orelha
http://lattes.cnpq.br/8636975750865801
interna permite delinear estudos morfofuncionais, que impulsio-
nam estudos que permitam a compreensão dos mecanismos re-
generativos da mesma. O modelo experimental de diabetes pode
ser dividido em duas categorias: genética ou induzida. O rato da
linhagem Wistar (Rattus norvegicus) diferente de outras espécies;
é bastante usado pelo seu tamanho, facilidade no manejo, ciclo
de reprodução e de vida curtos, relativo baixo custo de manuten-
ção em biotérios, bem como o seu uso em modelos experimentais
de desnutrição humana, sendo empregado como ferramenta in-
dispensável em técnicas e protocolos em microscopia de luz e/ou
eletrônica para o estudo das neuropatias periféricas.[1-5]

9. Disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolarin-


gologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da
Universidade de São Paulo.
10. Departamento de Neuropsiquiatria – Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquia-
tria e Ciências do Comportamento da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no
Recife – Bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado da CAPES – PNPD/CAPES
2011: Institucional). Setor de Microscopia Eletrônica – LIKA (UFPE). Graduação e pós-
graduação da Universidade Estadual Vale do Acaraú/Instituto Superior de Economia e Ad-
minstração – Faculdade Europeia de Administração e Marketing (UVA/ISEAD-FEPAM),
no Recife.

40 41
Nas pesquisas otológicas, o rato é um dos animais mais fre- ma vestibular, são constituídos pelo labirinto ósseo e membranoso.
quentemente utilizados. A orelha interna do rato (cóclea) está lo- Preenchendo o labirinto ósseo, está a perilinfa e, dentro da rampa
calizada na bula timpânica, um espaço aerado pela tuba auditiva, média da cóclea, mas não no sistema vestibular, está a endolinfa,
sendo correspondente à orelha media humana. A bula timpânica com características hidroeletrolíticas específicas, mantidas pelas
do rato se encontra na parte posteroinferior do crânio, e somente a células da estria vascularis. A membrana de Reissner, na cóclea, e o
porção petrosa e o osso timpânico são unidos. Pelo conduto audi- epitélio do teto do sáculo, utrículo e dos canais semicirculares são
tivo externo do rato, é possível visualizar a membrana timpânica, responsáveis por separar os fluidos intralabirínticos.[8-13]
que não veda toda a orelha media, e a cadeia ossicular está aderida Existem três tipos de epitélio envolvidos pela endolinfa: o epi-
à membrana timpânica através do cabo do martelo.[6-9] télio sensorial, o epitélio transportador de íons e o epitélio de sus-
O rato tem sua cóclea inserida mais inferiormente na bula tentação, não especializado. O epitélio sensorial é constituído pelo
timpânica, o que permite visualizar a membrana timpânica, o cabo órgão de Corti.[14,15]
do martelo, a bigorna e parte do estribo, quando da abertura da
bula timpânica. No rato, os ossículos são individualizados; com a
remoção da parte superior da bula timpânica, o martelo e a bigor- Orelha interna
na são removidos juntamente com a membrana timpânica, permi- O órgão de Corti apresenta células ciliadas externas (CCEs)
tindo a visualização das paredes ósseas da cóclea e do estribo sobre com padrão de distribuição ciliar em W, organizadas em três fi-
a janela oval. Um aspecto peculiar e importante na microdissecção leiras, podendo, por vezes, apresentar células supranumerárias e
da orelha do rato é que a janela redonda não pode ser visualizada, células ciliadas internas (CCIs) organizadas em uma fieira de célu-
pois está encoberta pela artéria carótida que percorre seu trajeto las. As CCEs da terceira fileira se localizam fora da fileira em in-
entre as cruras anterior e posterior do estribo.[6,9] tervalos de espaço (Figura 2). A espira basal mostra padrão celular
A cóclea do rato possui duas voltas e meia. A espira basal bem organizado, e, na espira 2, a terceira fileira de CCEs não tem
do rato é rígida e fundida à cobertura óssea da cóclea, podendo o padrão W/V regular. A espira apical apresenta um desarranjo das
ser removida em conjunto com a porção óssea, se não dissecada CCEs e CCIs e do padrão W/V, além do enfileiramento das células
com cautela. É possível identificar através da microscopia de luz que não é bem definido nas fileiras 2 e 3. Nas espiras cocleares do
e microscopia eletrônica de varredura MEV) as espiras basal, a rato, as células de Hensen não são visualizadas, enquanto que as
espira 2 e a espira apical (Figura 1). Em todas as espiras, podem-se células falângicas externas (células de Deiters) que sustentam as
observar a membrana tectória, a membrana de Reissner, o órgão CCEs são facilmente visualizadas à MEV. As células ciliadas do
de Corti e as células de Hensen. No tratamento da cóclea para órgão de Corti são mecanotransdutores que convertem estímulos
a MEV, a membrana tectória se encolhe, soltando-se das células mecânicos de movimento em sinal elétrico (biopotenciais).[14,15]
ciliadas externas. A membrana de Reissner possui duas faces, a en- No órgão de Corti maduro, o quinocílio não está presente na
dolinfática e a perilinfática; a primeira é mais lisa, sendo possível cóclea madura, como ocorre nas células ciliadas do sistema ves-
identificar, em sua face perilinfática, sua composição celular pelo tibular. Uma fileira de estereocílios de cada célula ciliada externa
realce nuclear das mesmas. [9] entra em contato com a membrana tectorial.[12-15]
No rato, a cóclea está localizada dentro da bula auditiva, que Os estereocílios possuem seus canais de transdução no topo
pode ser isolada com facilidade. A orelha interna, a cóclea e o siste- do cílio e são constituídos de filamentos de actina que se ligam

42 43
por filamentos de fimbrina e espina, que mantêm a rigidez do es- ração de neurotransmissores na fenda sináptica, possibilitando a
tereocílio. Os estereocílios são suportados na placa cuticular, um despolarização de neurônios e de potássio, que é importante para
trabeculado de filamentos de actina no ápice da membrana cito- a repolarização, o que confere respostas voltagem-dependentes
plasmática no nível da junção entre as células ciliadas e as células distintas.[14,15]
suporte. Além de actina, a placa cuticular contém proteínas, como Os corpos celulares das células suporte estão abaixo das cé-
a espectrina e tropomiosina.[12,15-18] lulas ciliadas, onde as mesmas repousam e estão apoiadas na ma-
Na margem lateral, a placa cuticular está ligada à membrana triz extracelular do epitélio sensorial, mas não são conhecidas suas
plasmática das células ciliadas através de junções do tipo gap junc- moléculas de adesão. Apresentam os processos falângeos entre as
tions com as quais as células suporte estão conectadas por actina e células ciliadas externas preenchendo os espaços entre elas.[14,15]
outras proteínas do citoesqueleto. Os estereocílios brotam da pla- As células suporte apresentam, no seu citoesqueleto, uma β
ca cuticular que funciona como uma plataforma que os suporta, forma de actina organizada em filamentos paralelos à superfície
permitindo respostas de remodelação a pequenos deslocamentos. apical. Apresentam diferentes isotipos de citoqueratina entre elas
Na região cuticular e nos estereocílios, existem proteínas contrá- e um filamento relacionado relacionado à vimentina (filamentos
teis da família da miosina e que são isotopos não convencionais, encontrados em células epidérmicas), que promove uma estrutura
contráteis e não musculares (miosinas tipo 1c, 6, 7a e 15). Cepas rígida de suporte para as células ciliadas. Entre as células suporte,
de ratos com alterações nessas enzimas apresentam surdez ou de- existem gap junctions, formando uma rede contínua de canais e
sordens do equilíbrio.[15-17,19,20] poros, conectando o citoplasma das células suportes adjacentes. As
Estereocílios fundidos podem ser vistos em camundongos e gap junctions são formadas por conexinas, sendo descritos 20 di-
em ratos mutantes com defeito na miosina 6, assim como em hu- ferentes tipos das mesmas. Seis subtipos de conexinas formam um
manos com presbiacusia. Animais com deficit na miosina 15 têm hemicanal chamado conéxon, que permite a passagem de peque-
cílios encurtados, e alterações na miosina 7a são encontradas na nos metabólitos maiores que 1,2kDa de tamanho, íons e segundos
síndrome de Usher tipo 1B.[19,20] mensageiros. Cada gap junction é composta de diversos conéxons.
Os estereocílios estão interconectados lateralmente por liga- Uma das funções atribuídas às células suporte é a remoção de íons
ções cruzadas – cross links. Além dessas conexões, existe uma liga- K+ do espaço intercelular. Foram identificadas três conexinas nessa
ção no topo das células ciliadas com o topo da célula adjacente (ti- região (26, 30 e 31).[12,16,19-21]
p-link) que funcionam como um portão de entrada para os canais O órgão de Corti é composto de uma cadeia de células em
celulares (canais de potássio). Sua arquitetura molecular ainda não espiral repousando sobre uma membrana basilar. No homem, tem
está completamente desvendada. A miosina 1c foi descrita na região cerca de 35mm de comprimento (28 a 40mm) e, no rato, mede cer-
de inserção mais alta das tip-links, no cílio mais longo.[12,14,16,18-20] ca de 15 a 20mm. Além disso, é constituído por por dois tipos de
As ligações laterais parecem ter estrutura molecular e funções células ciliadas externas e internas organizadas regularmente e que
diferentes das tip-links, funcionando na harmonia do movimento permitem uma distribuição tonotópica de frequências sonoras.
dos cílios como uma unidade. As proteínas que estariam envolvi- Existe uma fileira de CCIs e três ou quatro fileiras de CCEs.[9,19,20]
das são a protocadeína, a cadeína 23 e miosina 7a e vezatina.[17,18,21] Entre as CCEs, existem os espaços de Nuel, e, entre as CCEs e
A membrana citoplasmática lateral das células ciliadas exter- CCIs, existe o túnel de Corti.[9,19,20]
nas apresenta múltiplos canais de Ca+2; esses íons permitem a libe- Os cílios das CCIs (forma de pera) estão organizados na for-

44 45
ma de U, apresentam-se em continuidade e parecem não fazer con- As CCEs têm a capacidade de se encurtar com estímulos em
tato com a membrana tectorial. As CCEs são cilíndricas, com seu variadas frequências e, como estão estruturalmente acopladas à
núcleo localizado na base e cílios em forma de W, e mantêm con- membrana basilar, fazem-na se movimentar em maior amplitude
tato com a membrana tectorial.[9,19,20] nessa frequência de estímulo, o que gera uma amplificação fina do
As diferenças entre as CCEs e as CCIs estão descritas na Ta- sinal e permite que a CCI se despolarize para aquela frequência
bela 1. específica.[9,19,20]
Somente as CCEs têm, em sua estrutura, proteínas contráteis
CÉLULAS CILIADAS EXTERNAS CÉLULAS CILIADAS INTERNAS de alta densidade intramembrana (prestina, que é única para as
Apresentam 3.500 células CCEs). A prestina interage com íons cloreto, causando mudanças
Apresenta de 10.000 a 14.000 células
aproximadamente
conformacionais em suas moléculas que levam a um aumento na
Forma cilíndrica Forma piriforme
área de superfície de membrana da célula. As CCEs têm, em sua
Disposta em uma só fileira sobre a
Disposta em três fileiras e em padrão “W” parede lateral, uma guarnição cortical de filamentos de actina em
membrana basilar
Situadas sobre a membrana basilar Estereocílios em padrão “V” disposição helicoidal circundados por ligações cruzadas de espec-
São menores na base e maiores no ápice da trina, uma proteína com propriedades elásticas. Essa guarnição
Não há espaços livres ao seu redor
cóclea dá suporte à membrana plasmática, prevenindo-a de se deformar.
Banhadas por endolinfa no pólo ciliar e por Dentro dessa guarnição e paralelamente à membrana, existem sa-
Banhadas só por endolinfa no pólo ciliar
perilinfa nas partes laterais
cos vacuolares, chamados de cisternas laterais, que abrigam Ca+2
Presença de proteínas contráteis: actina, miosina,
Apresentam canais catiônicos ATPase – uma enzima transportadora ativa de íons Ca+2 (contra-
tropomiosina e agentes reguladores
Os cílios não alcançam à membrana gradiente), e, próximo a essas cisternas, existe uma rica concentra-
Possui cisternas laminadas
tectorial ção de mitocôndrias, indicando o processo ativo envolvido.[12,18,22]
Potencial elétrico de repouso é de – 70 mV Potencial elétrico é de – 40 mV As células de Deiters, localizadas entre as CCEs, têm contato
SÃO TRANSDUTORES SENSORIAIS entre si e repousam na membrana basilar. Emitem seus finos pro-
NÃO ATUAM COMO RECEPTORES COCLEARES, (receptor da mensagem sonora
não codificando a mensagem sonora produzindo codificação em mensagem
cessos falângeos, através dos espaços de Nuel, para a superfície
elétrica) lateral de cada uma das CCEs que, lateralmente, são livres de con-
Possui dois tipos de contração: rápida e lenta Possui seletividade em freqüência fina tato com as células suporte.[19,20]
Funciona como um amplificador coclear e uma Transmitem a mensagem sonora As CCEs e CCIs são separadas pelos pilares internos e ex-
seletividade de freqüência acurada convertida para o SNC ternos que formam o túnel de Corti. Do lado externo das CCEs,
Possibilita um aumento de até 50 dB da
existem as células de Hensen, que contém corpos gordurosos, par-
intensidade de um estímulo (por ser amplificador Não são amplificadores
mecânico) ticularmente nas espiras mais apicais (o que influencia nas pro-
priedades mecânicas do órgão de Corti). As células de Deiters e as
Tabela 1: Diferenças entre as células ciliadas externas e internas.
células pilares promovem suporte mecânico para a atividade das
células ciliadas em resposta ao estímulo sonoro. Contêm um gran-
As células ciliadas externas aumentam de tamanho sistemati-
de número de microtúbulos organizados em paralelo da base para
camente da base para o ápice. (20μm na base e 65mm no ápice). O
comprimento dos estereocílios maiores também varia de 2,5μm na o ápice da célula, compostos por tubulina.[9,12,18-20,22]
base para 7 μm no ápice[9,19,20]. A membrana basilar (MB) é uma estrutura de matriz extrace-

46 47
lular composta por filamentos e uma camada de células de borda servem de ligação entre duas células adjacentes, permitindo a pas-
alongadas e descontínuas em contato com a perilinfa da escala sagem de moléculas e de íons entre as duas células. São constituí-
timpânica. Essas miofibrilas são compostas por colágeno do tipo das por seis proteínas denominadas conexinas, que se organizam,
IV (COL4A1 e COL4A5). Além disso, existem, na matriz extra- formando um canal, e as junções aderentes circundam as células.
celular da MB, fibronectina e laminina tipo 11. Também existe a Existem vários tipos de junção aderente, entre eles os desmosso-
identificação da proteína usherina em indivíduos com síndrome mas e os hemidesmossomas.[10,12,16,20]
de Usher tipo IIa, assim como alterações – mutação no gene CO- As células que compõem a estria vascular são ricas em ATPase
L4A5, que ocorre na síndrome de Alport (ligada ao X).[9,19,20] Na K+. Esta ATPase é conhecida como a bomba de sódio, que é
+

A membrana tectorial (MT) é composta por matriz extracelu- uma proteína integral existente na membrana plasmática da maio-
lar e está acoplada às células interdentais do limbo espiral. O cílio ria das células animais. É responsável pelo transporte de íons sódio
maior das CCEs estão embebidos na superfície inferior da MT, para o meio extracelular e pela entrada de íons potássio para o meio
produzindo sua deflexão. A MT é composta por fibras radiais em intracelular, num processo acoplado à hidrólise de uma molécula de
uma matriz de finas fibrilas constituídas por colágeno tipo II, IV e ATP. Com esse transporte, é possível o estabelecimento de um gra-
IX (diferente da MB) e que estão associadas a proteína otogelina, α diente eletroquímico através da membrana, essencial para o balan-
e β-tectorina (que estão também presentes na membrana otolítica) ceamento iônico e manutenção dos potenciais de membrana.[10,11]
e a otogelina (que está presente na cúpula da crista ampular). Essas Nesse sentido, acredita-se que a estria vascular desempenha
proteínas são únicas da orelha interna e são formadas apenas na uma importante função na manutenção da composição iônica da
fase de desenvolvimento embrionário coclear; não são expressas endolinfa, secretando ativamente íons potássio e absorvendo íons
no órgão de Corti adulto, o que significa que se lesadas não são sódio na escala média, contribuindo diretamente para a gênese do
capazes de se reparar.[12,18,19,20,22] potencial endococlear positivo.[10,11,19]
Assim como os capilares, a estria vascular é composta por três
tipos de células: as células marginais, as células intermediárias e as
Estria vascular células basais.[10,11]
A estria vascular (ou stria vascularis) é composta por um te- O espaço intersticial fica protegido da endolinfa pelas junções
cido epitelial altamente vascularizado e está localizada na parede tight das células da camada marginal, assim como da difusão da
lateral da escala média da cóclea em mamíferos. É considerada o perilinfa, pela presença das junções tight das células da camada
único tecido epitelial que apresenta vasos localizados entre duas basal. Entretanto, existem junções gap que unem as células da ca-
camadas de células unidas por junções.[10,-13,15] mada basal aos fibroblastos adjacentes do ligamento espiral e às
Essas junções são especializações da membrana plasmática células da camada intermediária. Portanto, a glicose e o potássio
das células que têm como função a ligação entre células adjacentes podem ser transportados ativamente da perilinfa por meio das cé-
ou entre células e a matriz extracelular. São conhecidos três tipos lulas da camada basal para as células da camada marginal. Esse
de junções: junções tight, junções gap e junções aderentes.[10,12,16,20] acesso seletivo de íons e metabólitos ao espaço perilinfático, asso-
As junções tight são um tipo de junção que liga duas células ciado à permeabilidade limitada dos capilares da estria, colabora
vizinhas, o que torna o meio extracelular impermeável, não permi- com a hipótese de que a endolinfa deve ser provavelmente deriva-
tindo a passagem de pequenas moléculas ou íons. As junções gap da da perilinfa e não do sangue.[10,11,12,19,20]

48 49
As células da camada marginal apresentam aparência escure- endolinfática são mais fundidas que aquelas das outras regiões da
cida com algumas microvilosidades na sua superfície apical vol- cóclea. Existem junções gap conectando as células basais entre si,
tada para a endolinfa. Elas têm citoplasma rico em mitocôndrias, ligando as células basais e as células intermediárias e, finalmente,
microtúbulos e citoqueratina. Existe uma relação linear entre o unindo as células basais às células do ligamento espiral.[10,11,13,19,20]
tamanho da estria vascular e o número de células da camada mar- As células basais formam uma linha contínua próxima do
ginal. Extensões citoplasmáticas das células da camada marginal ligamento espiral, contêm algumas mitocôndrias e são ricas em
circundam a maioria dos capilares dentro da estria vascular. As fibrilas. O ligamento espiral consiste de fibrócitos e está funcional-
células dessa camada estão unidas umas às outras por meio de mente associado à formação e manutenção da perilinfa, apresenta
junções tight e junções aderentes. Abaixo do complexo juncional, uma baixa concentração de íons K+ e uma alta concentração de
a membrana basolateral de cada célula dobra-se e suas projeções íons Na+.11,13,19,20
estão associadas às mitocôndrias. Desse modo, a superfície lateral A estria vascular contribui para a normalidade da função co-
de cada célula apresenta interdigitações especializadas e o espaço clear e geralmente produz o potencial endococlear e mantém a
extracelular é reduzido. O interior do citoplasma das células mar- baixa concentração de sódio (Na+) e alta concentração de potássio
ginais é dotado de um retículo endoplasmático bem desenvolvido, (K+) na composição da endolinfa.[9,11,13,19,20]
uma grande concentração de vesículas, vacúolos e glicogênio, que
são características de células com alta atividade metabólica com
funções secretórias e de transporte.[10,11,15,19,20] Estruturas nervosas
As células intermediárias formam uma camada descontínua As estruturas nervosas (Figura 3) que suprem o osso temporal
ao longo das células marginais. Elas não entram em contato com a do rato podem ser melhor identificados através da porção medial
endolinfa e constituem um grupo de células claras. O fato de esta- da porção petrosa do osso temporal, um segmento de formato pi-
rem em posição intermediária faz com que elas entrem em contato ramidal onde podem ser identificados os forames por onde passam
com as células da camada basal e marginal e, assim, é provável que as estruturas nervosas (nervo coclear, nervo vestibular e nervo fa-
elas exerçam uma importante função na geração do potencial en- cial). Da porção mais rostral, pode-se visualizar o conduto audi-
dococlear positivo. Apesar de serem consideradas as células “cla- tivo interno, que é curto, muito próximo ao tronco encefálico e
ras” da estria vascular, essas células são melanócitos derivados da subdividido em pequenos canais. A crista óssea vertical a área do
crista neural com a capacidade de produzir melanina. A atividade nervo facial do forame para o nervo vestibular superior. O nervo
das células intermediárias é fundamental para o desenvolvimento vestibular superior supre a inervação do canal semicircular ante-
das células da camada marginal ou para promover o movimento rior e lateral, mácula utricular e pequena porção da mácula sacu-
do potássio em direção à endolinfa.[10,11] lar. Inferiormente, localiza-se a crista transversa do CAI que separa
As células basais têm a forma achatada e estão unidas por o nervo facial e nervo vestibular superior. A maior abertura infe-
junções tight, formando uma camada contínua de células que se- rior, rostralmente à projeção coclear, encontra-se o nervo coclear.
para as demais células e capilares da estria vascular do ligamento O nervo coclear apresenta aproximadamente 24.000 neurônios, e
espiral e da perilinfa. Essa camada estende-se acima e abaixo da o nervo vestibular, cerca de 8.000, dos quais 5.000 vão compor o
estria vascular e entra em contato com a superfície endolinfática. nervo vestibular superior, e 3.000, o inferior. Na porção ventro-
As junções tight localizadas entre as células basais na superfície caudal do CAI, há dois pequenos forames para a mácula sacular e

50 51
para o canal semicircular posterior (nervo singular). Lateral e dor- INERVAÇÃO AFERENTE
salmente ao canal semicircular anterior (superior), forma-se um CÉLULAS CILIADAS EXTERNAS CÉLULAS CILIADAS INTERNAS
arco (eminência arqueada) –; nesta região, a fossa subarqueada ou Os neurônios constituem 5% das fibras do nervo
São neurônios do tipo I
auditivo
paraflocular é profunda e acomoda o lobo paraflocular do cerebe-
Neurônios do tipo II amielínicas e ramificadas Fibras radiais sem ramificações
lo. Dois forames remanescentes na superfície da porção petrosa do
Enviam aos centros nervosos mensagens lentas e Leva a mensagem sonora codificada
osso temporal representam a abertura para o aqueduto da cóclea e poucos seletivas para os centros auditivos
para o aqueduto vestibular ou saco endolinfático.[2,4,12,15,23,24] Existe uma fibra nervosa para cada 10 ou 20 CCE’s 10 neurônios para cada CCI
O nervo vestibulococlear do rato é diretamente afetado pelo Não se conhece o neurotransmissor aferente O neurotransmissor é o glutamato
diabetes após 10 semanas induzido experimentalmente (fase crô- INERVAÇÃO EFERENTE
nica); entre os achados histológicos evidentes, o mais importan- CÉLULAS CILIADAS EXTERNAS CÉLULAS CILIADAS INTERNAS
te foram as atrofias axonais.24 Os efeitos a curto e longo prazo Possui sistema eferente medial e lateral Chamado de sistema eferente lateral
dessa hiperglicemia merecem ser investigados posteriormente e em Medial: fibras mielinizadas, sendo que cada fibra
Fibras amielínicas
mantém contato com 15 a 30 células
porções mais distais ou proximais do nervo, uma vez que alguns
Origem no complexo olivar superior e corpo
pacientes diabéticos possuem problemas na audição, e o modelo trapezóide
Origem no complexo olivar superior
experimental do diabetes mellitus tipo 1 (DM1) está sendo estuda- 70% contralateral e 30% ipsilateral Ipsilateral
do nesse aspecto histológico.24 Neurotransmissores: acetilcolina. GABA,
Principal neurotransmissor é a acetilcolina
As características básicas entre a inervação eferente e aferente dopamina, neuropeptídeos e CGRP
estão descritas na Tabela 2. Tabela 2: características da inervação coclear aferente e eferente.

52 53
Figura 2: Fotografia de MED do órgão de Corti do rato, mostrando CCEs com padrão de
Figura 1: Bula Timpânica do rato. [A] cóclea; [B] artéria carótida; [C] membrana timpâ-
distribuição ciliar em W [A], organizadas em três fileiras; células suporte falangeanas [B],
nica; [D] tendão do estribo; [E] estribo.
que se conectam à placa cuticular [C] aos espaços entre as células ciliadas [D].
Referências bibliográficas

1. VASCONCELOS, C. A. C.; BARREIRA, A. A. Síndrome de Lan-


dry-Guillain-Barré-Strohl, neurite alérgica experimental e o com-
prometimento do VIII par de nervo craniano. Revista Neurobiolo-
gia, Recife, v. 66, p. 37-42, 2003.

2. VASCONCELOS, C. A. C.; FAZAN, V. P. S.; VALENÇA, M.


M. Neuropatia Diabética, Desnutrição e Sistema Nervoso. Revista
Neurobiologia, Recife, v. 72, p. 129-136, 2009.

3. FAZAN, V. P.; VASCONCELOS, C. A. C.; VALENÇA, M. M.;


NESSLER, R. A.; MOORE, K. C. Diabetic Peripheral Neuropa-
thies: A Morphometric Overview. International Journal of Mor-
phology, Temuco, v. 28, n. 1, p. 51-64, 2010.

4. VASCONCELOS, C. A. C.; FAZAN, V. P. S.; MOORE, K. C.;


VALENÇA M. M. Protocolo histológico de preparação de nervos
para microscopia eletrônica de transmissão. Revista Neurobiolo-
gia, Recife, v. 72, p. 175-81, 2009.

5. VASCONCELOS, C. A. C. Animal models of human nutritional


diseases: a short overview. Revista Brasileira de Hematologia e He-
Figura 3: Osso temporal do rato e estruturas nervosas. [A] vista medial da porção petrosa
do osso temporal, identificando os forames dos [B] nervos coclear [A], vestibular [B] e
moterapia, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 264, 2012.
facial [C] próximo ao tronco encefálico [D]. A crista óssea vertical separa a área do nervo
facial do forame para o nervo vestibular superior. [C] Corte transversal do nervo coclear 6. JUDKINS, R. F.; LI, H. Surgical anatomy of the rat middle ear.
com suas fibras mielínicas. [D] 24.000 neurônios no gânglio espiral [E] e seus axônios [F]. Otolaryngology – Head and Neck Surgery, St. Louis, v. 117, n. 5,
p. 438-47, 1997.

7. PINILLA, M.; RAMÍREZ-CAMACHO, R.; JORGE, E.; TRINI-


DAD, A.; VERGARA, J. Ventral approach to the rat middle ear for
otologic research. Otolaryngology – Head and Neck Surgery, St.
Louis, v. 124, n. 5, p. 515-7, 2001.

57
8. SCHANAIDER, A.; SILVA, P. C. uso de animais em cirurgia America, Washington DC, v. 97, p. 12155, 16 jul. 2013.
experimental. ACTA Cirúrgica Brasileira, Rio Claro, v. 19, n. 4, p.
441-7, 2004. 17. SELF, T.; SOBE, T.; COPELAND, N. G.; JENKINS, N. A.;
AVRAHAM, K. B.; STEEL, K. P. Role of myosin VI in the dif-
9. ALBUQUERQUE, A. A. S.; ROSSATO, M.; OLIVEIRA, J. A. ferentiation of cochlear hair cells. Developmental Biology, Nova
A.; HYPPOLITO, M. A. Conhecimento da Anatomia da Orelha Iorque, v. 214, p. 331-41, 1999.
de Cobaias e ratos e sua aplicação na pesquisa otológica básica.
Brazilian Journal of Otorhinolaringology, São Paulo, v. 75, p. 43- 18. TILNEY, L. G.; TILNEY, M. S.; DEROSIER, D. J. Actin fila-
9, 2009. ments, stereocilia, and hair cells: how cells count and measure. An-
nual Review of Cell Biology, Nova Iorque, v. 8, p. 257-74, 1992.
10. LOHUIS, P. J. F. M.; PATTERSON, K.; RAREY, K. E. Quan-
titative assessment of the rat stria vascularis. Hearing Research, 19. FLOCK, A.; BRETSCHER, A.; WEBER, K. Immunohistoche-
Amsterdã, v. 47, p. 95-102, 1990. mical localization of several cytoskeletal proteins in inner ear sen-
sory and supporting cells. Hearing Research, Amsterdã, v. 7, p.
11. SANTI P. A.; LAKHANI, B. N.; BINGHAM, C. The volume 75-89, 1982.
density of cells and capillaries of the normal stria vascularis. Hea-
ring Research, Amsterdã, v. 11, p. 7-22, 1983. 20. FORGE, A.; WRIGHT, T. The molecular architecture of the
inner ear. British Medical Bulletin, Oxford, v. 63, p. 5-24, 2002.
12. SLEPECKY, N. B. Structure of the mammalian cochlea. In:
DALLOS, P.; POPPER, A. N.; FAY, R. R. (eds.). The Cochlea. Nova 21. STEEL, K. P.; KROS, C. J. A genetic approach to understanding
Iorque: Springer, 1996. p. 44-129. auditory function. Nature Genetics, Londres, v. 27, p. 143-9, 2001.

13. WANGEMANN, P. Comparison of ion transport mechanisms 22. ZHENG, J.; SHEN, W.; HE, D. Z.; LONG, K. B.; MADISON,
between vestibular dark cells and strial marginal cells. Hearing L. D.; DALLOS, P. Prestin is the motor protein of cochlear outer
Research, Amsterdã, v. 90, p. 149-57, 1995. hair cells. Nature, Londres, v. 405, p. 149-55, 2000.

14. HUDSPETH, A. J. How the ear’s works work. Nature, Lon- 23. ENGSTRÖM, H.; ADES, H. W.; HAWKINS, J. E. The ves-
dres, v. 341, p. 397-404, 1989. tibular sensory cells and their innervation. Symposium Biologica
Hungarica, v. 5, p. 21-41, 1965.
15. SAMPAIO, A. L.; OLIVEIRA, C. A. Estrutura e Ultraestrutura
da Orelha Interna dos Mamíferos com ênfase na Cóclea. Arquivos 24. VASCONCELOS, C. A. C.; FAZAN, V. P.; MOORE, K. C.;
Internacionais de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 10, p. 228- NESSLER, R. A.; VALENÇA, M. M. Transmission electron mi-
40, 2006. croscopy studies of the vestibulocochlear nerve in chronic diabetic
rats. International Journal of Morpholology, Temuco, v. 29, n. 1,
16. KACHAR, B.; PARAKKAL, M.; KURC, M.; ZHAO, Y.; GIL- p. 272-7, 2011.
LESPIE, P. G. High-resolution structure of hair-cell tip links. Pro-
ceedings of National Academy of Sciences of the United States of

58 59
Informações sobre os autores: experiência nas áreas de Neurociências Clínica e Experimental,
Nutrição (Clínica, Normal e Experimental) e Medicina, com ên-
fase Multidisciplinar, atuando principalmente nos seguintes temas:
Miguel Angelo Hyppolito VIII nervo craniano (nervo vestibulococlear), nervo isquiático,
neuropatias periféricas e diabética, morfometria de nervos, neu-
Graduação em Medicina (1996) pela Faculdade de Medici-
ropatologia, fisiologia geral e neurofisiologia, nutrição e sistema
na de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP);
nervoso central e periférico, processamento e digitalização de ima-
graduação em Ciências Biológicas, Modalidade Médica, pela mes-
gens, microscopia de luz e eletrônica (transmissão e varredura).
ma universidade (1992) e doutorado em Ciências Médicas pela
Editor Assistente da tradicional Revista Neurobiologia (www.neu-
USP (2004). Atualmente é professor doutor da FMRP/USP. Tem
robiologia.org). Professor Adjunto I Doutor (40 horas). Categoria:
experiência na área de Medicina, com ênfase em Clínica e Cirur-
Substituto do Laboratório de Nutrição Experimental e Dietética/
gia Otorrinolaringológica e Pesquisa Básica em Otorrinolaringo-
LNED-CCS/UFPE (2010-2012) e do Laboratório de Fisiologia
logia, atuando em pesquisa, principalmente nos seguintes temas:
da Nutrição Naíde Teodósio/LAFINNT (2011-2012). Criador do
ototoxicidade a aminoglicosídeos, salicilato e quimioterápicos;
Prêmio Celebridade (2011). Consultor ad hoc do SIGProj – Minis-
otoproteção; timpanoplastias; membrana de látex e materiais im-
tério da Educação (desde 2011). Cadastrado e parecerista ad hoc
plantáveis em orelha média, implante coclear, eletrofisiologia da
da Pró-Reitoria de Extensão da UFPE (desde 2011). Primeiro bol-
audição, otoneurologia e equilíbrio. Atuação clínica e cirúrgica em
sista de pós-doutorado PNPD/CAPES Institucional do Programa
Otologia, Implante Coclear, Otoneurologia e Otorrinolaringologia
de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Compor-
Geral Adulto e Infantil.
tamento – CCS/UFPE (em colaboração com o Departamento de
http://lattes.cnpq.br/5535637780238796
Nutrição/UFPE [LNED], o Laboratório de Imunopatologia Keizo
Asami/LIKA/UFPE [Setor de Microscopia Eletrônica de Transmis-
Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos são/TEM e Varredura/SEM], a FMRP/USP [LNAE] e a The Uni-
versity of Iowa – The Central Microscopy Research Facility, Iowa
Graduado em Nutrição (1996) pela Universidade Federal de City, Estados Unidos), desde 2011.
Pernambuco (UFPE). Estágio e início da pós-graduação em Patolo- http://lattes.cnpq.br/1945870478294512
gia (1998) pela Universidade de São Paulo (USP). Aperfeiçoamen-
to em Eletrofisiologia e Psicoacústica, pela mesma universidade
(1999). Mestre em Ciências Médicas, na área de Neurologia/Neu-
rociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP)
da USP (2005). Estágio de Doutorado na The University of Iowa,
Estados Unidos (Central Microscopy Research Facility – John
W. Eckstein Medical Building), sob a orientação dos Professores
Doutores Kenneth Charles Moore e Valéria Paula Sassoli Fazan
(2009). Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamen-
to/UFPE (2010), na área de concentração de Neurociências. Tem

60 61
Morfometria de nervos

Profa. Dra. Valéria Paula Sassoli Fazan11

Introdução à morfometria

A
palavra “morfometria” é formada pelo radical grego mor-
phé, que significa forma, associado ao radical grego me-
trikós, ou do latim metricu, que significa ato de medir ou
processo de estabelecer dimensões. Esse método tem por função
tornar mais objetiva e precisa a coleta, a apresentação e a análise
dos resultados obtidos em pesquisas e na rotina de laboratório,
permitindo ainda se relacionarem as diferentes estruturas anatô-
micas com as funções.
Helander[1] discutiu a morfometria em relação às expecta-
tivas e achados com o uso dessa técnica. Esse autor descreve a
morfometria como uma série de procedimentos matemáticos que
permitem descrever quantitativamente estruturas e, em particular,
revelar diferenças morfológicas mínimas entre estados ou funções.
Entretanto, esse autor ressalta que, apesar de a morfometria for-
necer um impressionante suporte teórico para a estereologia, tal
técnica não é fácil de ser compreendida por indivíduos não acos-
tumados com a leitura de artigos científicos matemáticos. A estere-
ologia torna possível a determinação de parâmetros quantitativos
11. Professora Associada do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Me-
dicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP); orientadora em nível
de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Neurologia e Neurociências
do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP/USP; mem-
bro da Sociedade Brasileira de Anatomia, com título de Proficiência em Anatomia por
notório saber;membro da American Association of Anatomists, da American Association
of Clinical Anatomists, da British Association of Clinical Anatomy, da Peripheral Nerve
Society e da International Association for Study of Pain.

63
tridimensionais de estruturas histológicas, a partir de cortes bidi- Amostragem das fibras
mensionais, utilizando a geometria e a estatística.
Embora o interesse nas medidas das fibras tenha expandido
mais recentemente, juntamente com o interesse nas investigações
Morfometria de nervos de várias neuropatias, o esforço envolvido na medida de todas as
fibras de um tronco nervoso pode ser enorme e, muitas vezes, mal
O objetivo principal de estudos morfométricos de nervos nor- direcionado[40]. Dessa forma, alguns pesquisadores se preocupa-
mais é a obtenção de valores característicos e específicos que permi- ram com a investigação de métodos para amostragem das fibras,
tam a comparação com nervos anormais[2]. A análise morfométrica para que não houvesse a necessidade de se medirem todas as fibras
de nervos tem sido extensivamente utilizada em investigações so- em um tronco nervoso[39,41-42].
bre reparo dos mesmos[3-5], regeneração dos nervos[6-10] e implante e Torch et al. [39] estudaram amostras normais do nervo fibular
transplante de nervos ou de um membro completo[11-15], sendo que superficial de humanos, preparadas com técnicas de rotina para
os métodos quantitativos constituem ferramentas importantes no biópsia de nervos. Dois protocolos foram utilizados: o estudo de
estudo das neuropatias experimentais. Além disso, a morfometria 100% da área endoneural e quatro diferentes técnicas de amostra-
tem sido amplamente utilizada nas investigações de modelos experi- gem (Figura 1), mais comumente utilizadas na prática clínica. Os
mentais de doenças que acometem o sistema nervoso periférico, tais métodos de amostragem consistiram em:
como o diabetes[16-19], a hipertensão[20-23] e o envelhecimento[24-27].
Além da ampla utilização da morfometria nos estudos de Ÿ Seleção aleatória de quadros de imagens do fascículo (Figura
neuropatias, essa técnica tem se mostrado extremamente útil nas 1A)
definições de parâmetros normais de nervos tanto no homem[28-31]
Ÿ Seleção de cinco quadros de imagens, justapostos, em forma
quanto em animais de laboratório[32-38], sendo que os dados obti-
de cruz (Figura 1B)
dos fornecem a base morfológica para os estudos dos danos cau-
sados pelas doenças que acometem o sistema nervoso periférico. Ÿ Seleção de cinco quadros de imagens, na forma da letra X
A utilização de técnicas morfométricas para diagnóstico de neu- (Figura 1C)
ropatias é também extensamente utilizada na prática clínica[3,11,39], Ÿ Seleção de oito quadros de imagens, justapostos, em forma de
de forma que essa técnica torna o diagnóstico o mais rápido e confi- quadrado, com a imagem central não utilizada (Figura 1D)
ável possível. Assim sendo, não é surpresa o grande número de mé-
todos que tem sido empregados na morfometria de nervos, na tenta-
tiva de se ganhar mais precisão na obtenção de dados quantitativos.

64 65
vo vago, por exemplo), e uma amostra das regiões mais centrais
não consideraria tais fibras no processo de morfometria, podendo
levar ao falso diagnóstico de perda de fibras de grosso calibre. O
mesmo pode acontecer com fibras mielínicas finas, como é o exem-
plo do nervo laríngeo recorrente (Figura 2).
Dessa forma, a grande heterogeneidade na distribuição espa-
cial das fibras no espaço endoneural acaba por impor a medida de
grandes amostras (2/3 ou mais de todo o espaço endoneural) de
forma a garantir uma correta estimativa da densidade de fibras e
sua distribuição[39]. Então, as vantagens dos estudos amostrais na
morfometria de nervos ainda continua controversa.
Mais recentemente, Cai et al.[43], investigando biópsias de ner-
vo sural humano, sugeriram que seria necessária a quantificação
de 100% das fibras mielínicas para que se pudessem obter dados
morfométricos confiáveis do nervo sural. Posteriormente, Chen-
tanez et al.[44] indicaram que a amostragem do tipo “três janelas”
(Figura 3) seria uma amostragem ótima para a avaliação morfo-
Figura 1: Representação esquemática da seleção de amostras de um tronco nervoso utili-
zada por Torch et al.[39] na investigação de morfometria amostral.
métrica de nervos surais humanos com resultados confiáveis.

Após a análise das fibras com os diferentes métodos e a com-


paração entre eles, os autores concluíram que a variabilidade dos
dados foi grande a tal ponto que nenhum dos métodos permitiu o
acesso preciso nem ao número nem à distribuição das fibras mie-
línicas. Uma conclusão importante dos autores foi que, no caso
dos estudos amostrais, para que se obtivessem valores semelhan-
tes àqueles do estudo de 100% do fascículo, o número de fibras
estudado deveria ser tão grande (50% ou até 2/3 do total), que a
vantagem do estudo amostral ficaria questionável.
Uma característica importante dos nervos a ser considerada
em estudos com morfometria amostral é o fato de que nem sempre
as fibras mielínicas e amielínicas apresentam-se uniformemente
distribuídas no espaço endoneural. Exemplos de diferentes nervos
utilizados de rotina em nosso laboratório (Figura 2) demonstram
claramente que, dependendo do nervo estudado, fibras mielínicas
de maior calibre podem se concentrar na periferia do nervo (ner-

66 67
Em nosso laboratório, realizamos um estudo no qual investi-
gamos a morfometria amostral em nervo sural de ratos adultos, de
forma que 30%, 50% e 70% da área endoneural foi morfometrada
aleatoriamente[45]. A comparação com os dados obtidos dos mesmos
nervos, sem nenhuma amostragem, demonstrou que a morfometria
de 30% do endoneuro é suficiente para reproduzir a situação real
do nervo sural. Esse resultado, em conjunto com o obtido por Chen-
tanez et al.[44], sugere que a morfometria amostral pode ser aplicada
ao nervo sural, tanto em humanos quanto em animais de experi-
mentação. Muito provavelmente, isso se deve ao fato de o nervo
sural apresentar uma distribuição homogênea das fibras mielínicas
no espaço endoneural. Ainda assim, parece clara a necessidade de
uma investigação mais apropriada de amostragem de nervos com
neuropatias focais ou com distribuição heterogênea das fibras.

Métodos para realização de morfometria


Figura 2: Secções transversais semifinas dos nervos frênico [A] sural [B] vago [C] e laríngeo
recorrente [D] de ratos adultos normais da linhagens Wistar. Notar que os nervos frênico Sistemas de imagens têm sido cada vez mais utilizados para
e sural apresentam distribuição homogênea das fibras mielínicas no espaço endoneural, reconhecer, contar e medir vários eventos biomédicos e estrutu-
sendo que no nervo frênico há nítido predomínio de fibras de grosso calibre, enquanto no
ras[46]. Em relação aos nervos, havia uma preocupação especial
nervo sural o predomínio é de fibras mielínicas finas. O nervo vago apresenta predomínio
de fibras mielínicas finas, com concentração de fibras mais calibrosas na periferia [seta], com relação às medidas manuais, pois elas são consideradas te-
próximas ao perineuro. O nervo laríngeo recorrente apresenta predomínio de fibras de diosas e cansativas, além de tomarem um tempo razoável do ob-
grosso calibre, com concentração de fibras mielínicas finas na periferia [seta preenchida], servador, apresentado o risco de uma grande margem de erro nas
próximas ao perineuro.
medidas. A necessidade da análise das fibras mielínicas e a sepa-
ração e identificação das mesmas em classes ou tipos de fibras, de
acordo com seu diâmetro, trouxe um avanço no desenvolvimento
de aparelhos, sistemas analisadoras de imagens e programas com-
putacionais destinados a esse fim. Diante disso, Espir e Harding[47]
foram uns dos primeiros autores a idealizar, montar e difundir um
aparelho para realizar medidas e contagens de fibras mielínicas
em fotomicrografias de secções transversais de nervos. Posterior-
mente, o mesmo equipamento mostrou-se útil nas contagens e nas
Figura 3: Representação esquemática da seleção de amostras do tipo “três janelas” de um
medidas de fibras amielínicas[48].
tronco nervoso, utilizada por Chentanez et al.[44] na investigação de morfometria amostral Até os anos 1980, os métodos mais populares para a medida
do nervo sural humano. de área das fibras incluíam, entre outros[49]:

68 69
Ÿ Técnicas utilizando réguas e compassos, micrômetros e cír- análise de imagens computacional[50]. Com o aumento da disponi-
culos calibrados. bilidade instrumental e dos programas de computador para aná-
Ÿ O método da contagem de quadrados, no qual o desenho lise de imagens e a redução dos custos, especialmente da memó-
da fibra era transferido da fotomicrografia para um papel ria dos computadores, explorar as técnicas de análise de imagens
milimetrado, e o número de quadrados do interior de cada para morfometria de nervos parece ser oportuno[46]. A utilização da
fibra era contado sob lupa, com a convenção de que se um mesa digitalizadora apresenta a vantagem da obtenção mais rápida
quadrado completo ou mais da metade de um quadrado es- dos dados e de ser um método eficiente e relativamente barato[50].
tivesse dentro do desenho, ele seria contado como um qua- Além disso, elimina a necessidade de reentrar os dados obtidos em
drado. Se menos da metade de um quadrado estivesse no planilhas eletrônicas (programas de computador) para posterior
interior do desenho, ele não seria contado. análise[50]. Sistemas automatizados computadorizados e interati-
Ÿ Um instrumento que mede a quantidade de interrupção de vos que permitem que o operador elimine erros já foram descritos
luz entre o emissor de luz e o fotossensor, no qual as fibras como ideais entre métodos manuais e totalmente automáticos[51].
eram recortadas das fotomicrografias e passadas pelo apa- Os estudos existentes em que técnicas morfométricas para a
relho. O instrumento utilizava a quantidade de interrupção medida de fibras nervosas são comparadas entre si datam do início
de luz causada pela fibra para medir sua área. dos anos 1980 até o final dos anos 1990. Com o grande avanço
dos computadores, das câmeras digitais e dos programas de com-
Ÿ Método do peso das fibras, no qual as fibras eram recorta-
putador a partir dos anos 2000, tornam-se necessários novos estu-
das das fotomicrografias e pesada em uma balança de preci-
dos que abordem de maneira completa a nova tecnologia existente
são. Para a conversão de peso em área, uma área conhecida
para esses fins.
de papel fotográfico era pesada para servir como padrão.
Classicamente, a morfometria pode ser realizada de forma
Ÿ Sistema de análise óptica manual (MOP), com mesa digita- manual, automática ou semiautomática. Alguns autores argumen-
lizadora contendo fios magnetizados em forma de rede nas tam que a técnica manual seja inadequada e imprecisa, em de-
direções X e Y, nos quais pulsos de corrente são passados. corrência da chance de erros nas contagens e medidas, por causa
A mesa é conectada ao computador, e a estrutura que se do grande número de fibras nas amostras e do exaustivo trabalho
deseja medir é colocada sobre a mesa e desenhada (circun- do pesquisador, sendo que qualquer método que requeira atenção
dada) por um aparato contendo um elemento condutor, que para fibras nervosas individuais envolve um considerado tédio e
também é conectado ao computador. Quando um ponto da um grande consumo de tempo de tempo[51,52]. Esses autores ainda
mesa é comprimido pelo elemento condutor, a informação ressaltam a dificuldade nas contagens das fibras pequenas, sendo
da mesa é enviada ao computador, que calcula as coordena- talvez necessário o estudo com microscopia eletrônica de trans-
das do ponto. A partir do desenho do perímetro, a área do missão, o que implicaria um gasto excessivo de tempo e de ma-
objeto é calculada. terial de consumo. Enquanto um grupo de autores acredita que
o método automático, sem qualquer intervenção do pesquisador,
Após os anos 1990, os métodos mais populares para a análise possa falhar nas contagens das fibras pequenas e/ou acrescentar
morfométrica de fibras, utilizados até o presente, são a planimetria nas contagens, artefatos e outras estruturas que não as fibras ner-
computadorizada (utilizando a mesa digitalizadora) e sistemas de vosas[51], o que limitaria sua utilização na morfometria de nervos,

70 71
outros defendem a utilização desse método, justamente para evitar maiores do que aqueles obtidos pelo método semiautomático, ape-
as desvantagens do método manual e, ainda, permitir a avaliação sar de, assim como no estudo de Silva et al.[57], não terem apresen-
do nervo como um todo, com resultados expressos em valores ab- tado diferença estatisticamente significativa.
solutos, contornado os problemas causados pela amostragem[52,53]. Métodos interativos têm sido considerados como os mais pre-
Um terceiro grupo de autores ainda sugere que a utilização de mé- cisos[2] e aqueles com os quais se obtêm os resultados com uma
todos semiautomáticos seja uma boa escolha, por permitir uma velocidade razoável[2,59]. No entanto, assim como ocorre em méto-
interação entre o pesquisador e o computador, eliminando os erros dos manuais, qualquer técnica que exija a participação direta de
dos métodos automático e manual[51]. Mesmo assim, alguns mé- um observador pode incorrer em erros[60]. Por isso, Urso-Baiarda e
todos considerados como semiautomáticos, com a utilização de Grobbelaar[61], ressaltam que não existe, até o momento, nenhum
mesas digitalizadoras conectadas ao computador são descritos por método de morfometria de nervos que preencha todos os critérios,
alguns autores como métodos tediosos e consumidores de tempo sem equipamento adicional especializado e sem a interação de um
desnecessário[54], enquanto que o método automático tem se mos- observador, para que seja rápido e preciso o bastante, evitando-se,
trado, ao mesmo tempo, preciso e “econômico” no tempo e no assim, os aspectos negativos dos métodos automático, semiauto-
esforço do pesquisador[54]. mático e manual.
Além da evidente controvérsia a respeito do melhor método Diferentes técnicas morfométricas podem gerar valores abso-
para a morfometria de nervos, existe também uma discordância lutos distintos[46,57]. Estudos que compararam o número de fibras
entre os diversos autores a respeito da definição de método ma- através métodos totalmente automáticos com métodos definidos
nual e semiautomático. Alguns autores consideram que métodos como automático interativo revelaram diferenças de 14,4%[62] e
morfométricos que utilizem a técnica de circundar as fibras com 16%[63], enquanto que a comparação do número de fibras mielí-
uma mesa digitalizadora, sejam método manual[2,50,55], outros con- nicas através de métodos automáticos interativos e semiautomáti-
sideram esse mesmo método como semiautomático[54]. Também cos mostrou uma diferença não significativa de 0,8%[2]. Em outro
na definição entre métodos semiautomático e automático há con- estudo que comparou um método totalmente automático com um
trovérsia, uma vez que alguns autores consideram que sistemas método manual, essa diferença chegou a 8,3%[64]. Ainda, se forem
computacionais que fazem a identificação automática, mas que comparados métodos totalmente automáticos com métodos se-
permitem a interação ou interferência do observador, são sistemas miautomáticos, a diferença poderia chegar a 15%[46]. O estudo de
automáticos[2,50], e outros consideram esse mesmo método como Urso-Baiarda e Globbelaar[61] mostrou que o método automático
semiautomático[51]. interativo oferece grande reprodutibilidade em relação ao método
Vita et al.[54] estudaram o nervo sural de humanos através do totalmente automático, pois o programa identifica inicialmente em
método totalmente automático, sem interferência de um avaliador, torno de 85% das fibras automaticamente, e, somente após isso,
e do método semiautomático, que permitia a interferência de um ocorre a interferência semiautomática com a correção realizada por
avaliador. No desenho experimental do estudo de Vita et al.[54], foi um observador. Assim, grande parte da identificação inicial é auto-
utilizado um mesmo programa computacional, mas com dois mé- mática e utiliza os mesmos critérios em ambos os métodos. Ela é re-
todos diferentes de morfometria. Assim como no estudo de Cam- alizada de acordo com uma rotina computacional pré-estabelecida
padelli et al.[56] e em nosso laboratório[57-58], os dados obtidos por pelo programa, e as chances de serem reprodutíveis, por utilizarem
Vita et al.[54], através do método automático, foram discretamente os mesmos critérios quando comparamos métodos automáticos

72 73
interativos com métodos totalmente automáticos, são maiores do Referências bibliográficas
que quando comparamos um método automático com um método
1. HELANDER, H. F. Experience from morphometry: Expecta-
que exija a participação do avaliador para definir praticamente em
tions and findings. ACTA Anatomica, Basel, v. 111, p. 60-1, 1981.
100% dos casos o que deve ou não ser morfometrado[61].
2. MEZIN, P.; TENAUD, C.; BOSSON, J. L.; STOEBNER, P. Mor-
phometric analysis of the peripheral nerve: Advantages of the semi
Considerações finais
-automated interactive method. Journal of Neuroscience Methods,
Em ciências morfológicas, qualquer método que permita quan- Amsterdã, v. 51, p. 163-9, 1994.
tificar ou medir propriedades estruturais é definido como morfo-
metria. A importância de tal procedimento se justifica a partir do 3. ORGEL, M. G.; TERZIS, J. K. Epineural vs perineural repair.
momento em que, através dele, obtenham-se dados que permitam Plastic and Reconstruction Surgery, Baltimore, v. 60, p. 80-91, 1977.
uma descrição quantitativa completa da estrutura ou tecido de in-
4. LUGNEGARD, H.; BERTHOLD, C. H.; RYDMARK, M. Ul-
teresse, tamanho e proporção dos vários componentes, e mudan-
trastructural morphometric studies on regeneration of the lateral
ças que ocorrem devido à morfogênese normal ou em processos
sural cutaneous nerve in the white rat after transaction of the scia-
patológicos[65]. Dentre as áreas em que a morfometria é utilizada
tic nerve III. Regeneration after suture in rats of different ages.
na descrição quantitativa de nervos, essa técnica é extremamente
Scandinavian Journal of Plastic and Reconstructive Surgery and
relevante, pois oferece uma alta sensibilidade para a detecção de
Hand Surgery, Estocolmo, v. 20, p. 65-85, 1984.
mudanças precoces mínimas ocorridas em nervos decorrentes de
determinadas doenças[44]. 5. OLIVEIRA, E. F.; MAZZER, N.; BARBIERI, C. H.; DELBEL, E.
Embora conceitos e princípios gerais possam ser aplicados na A. The use of a muscle graft to repair a segmentary nerve defect. An
maioria dos casos de morfometria de nervos, ainda é necessária a experimental study using the sciatic nerve of rats as model. Journal
intervenção de um observador, quer seja no desenho experimental, of Neuroscience Methods, Amsterdã, v. 133, p. 19-26, 2004.
para a definição da necessidade e viabilidade da amostragem, de-
pendendo do nervo envolvido, quer seja no processo de morfome- 6. GUTMANN, E.; SANDERS, F. K. Recovery of fiber numbers
tria per se, dependendo do procedimento utilizado. and diameters in the regeneration of peripheral nerves. Journal of
Physiology, Cambridge, v. 101, p. 489-518, 1943.

7. SCHRÖDER, J. M. Altered ratio between axon diameter and


myelin sheath thickness in regenerated nerve fibers. Brain Resear-
ch, Amsterdã, v. 45, p. 49-65, 1972.

8. LUTHMAN, J.; ALDSKOGIUS, H.; SVENSSON, M.; JONS-


SON, G. Exogenous GM1 ganglioside and thyrotropin-releasing
hormone do not affect survival rate of spinal motoneurons and
number of ventral root myelinated fibers following early postnatal

74 75
sciatic nerve transection. Experimental Neurology, Nva Iorque, v. A. A. The end-to-side peripheral nerve repair. Functional and mor-
99, p. 166-77, 1988. phometric study using the peroneal nerve of rats. Journal of Neu-
roscience Methods, Amsterdã, v. 136, v. 45-53, 2004.
9. MENDONÇA, A. C.; BARBIERI, C. H.; MAZZER, N. Directly
applied low intensity direct electric current enhances peripheral 16. RODRIGUES FILHO, O. A.; FAZAN, V. P. S. Streptozotocin
nerve regeneration in rats. Journal of Neuroscience Methods, induced diabetes as a model of phrenic nerve neuropathy in rats.
Amsterdã, v. 129, p. 183-90, 2003. Journal of Neuroscience Methods, Amsterdã, v. 151, p. 131-8,
2006.
10. RASO, V. V. M.; BARIBIERI, C. H.; MAZZER, N.; FAZAN,
V. P. S. Can therapeutic ultrasound influence the regeneration of 17. FAZAN, V. P. S.; SALGADO, H. C.; BARREIRA, A. A. Aortic
peripheral nerves? Journal of Neuroscience Methods, Amsterdã, v. depressor nerve myelinated fibers in acute and chronic experimen-
142, p. 185-92, 2005. tal diabetes. American Journal of Hypertension, Nova Iorque, v.
19, p. 153-60, 2006..
11. LUGNEGARD, H.; BERTHOLD, C. H.; RYDMARK, M. Ul-
trastructural morphometric studies on regeneration of the lateral 18. FAZAN, V. P. S.; RODRIGUES FILHO, O. A.; JORDÃO, C. E.
sural cutaneous nerve in the white rat after transaction of the scia- R.; MOORE, K. C. Phrenic Nerve Diabetic Neuropathy in Rats:
tic nerve II. Regeneration after nerve suture and nerve grafting. Unmyelinated Fibers Morphometry. Journal of the Peripheral Ner-
Scandinavian Journal of Plastic and Reconstructive Surgery and vous System, Singapura, v. 14,, p. 137-45, 2009.
Hand Surgery, Estocolmo, v. 20, p. 27-64, 1984.
19. OLIVEIRA, F. S.; NESSLER, R. A.; CASTANIA, J. A.; SAL-
12. SECKEL, B. R.; RYAN, S. E.; SIMONS, J. E.; GAGNE, R. G.; GADO, H. C.; FAZAN, V. P. S. Ultrastructural and morphometric
WATKINS, E. Vascularized vs nonvascularized nerve grafts: an ex- alterations in the aortic depressor nerve of rats due to long term
perimental structural comparison. Plastic and Reconstruction Sur- experimental diabetes: effects of insulin treatment. Brain Research,
gery, Baltimore, v. 78, p. 211-20, 1986. Amsterdã, v. 1491, p. 197-203, 2013.

13. MACKINNON, S. E.; DELLON, A. L.; HUDSON, A. R.; 20. FAZAN, V. P. S.; FAZAN Jr., R.; SALGADO, H. C.; BARREI-
HUNTER, D. A. Chronic human nerve compression – a histologi- RA, A. A. Morphology of aortic depressor nerve myelinated fibers
cal assessment. Neuropathology and Applied Neurobiology, Ox- in normotensive Wistar-Kyoto and spontaneously hypertensive
ford, v. 12, p. 547-65, 1986. rats. Journal of the Autonomic Nervous System, Amsterdã, v. 77,
p. 133-9, 1999.
14. KOLLER, R.; RAB, M.; TODOROFF, B. P.; NEUMAYER, C.;
HASLIK, W.; STOHR, H. G.; FREY, M. The influence of the graft 21. FAZAN, V. P. S.; SALGADO, H. C.; BARREIRA, A. A. Aortic
length on the functional and morphological result after nerve graf- depressor nerve unmyelinated fibers in spontaneously hypertensive
ting: an experimental study in rabbits. British Journal of Plastic rats. The American Journal of Physiology – Heart and Circulatory
Surgery, Edimburgo, v. 50, p. 609-14, 1997. Physiology, Bethesda, v. 280, p. H1560-H1564, 2001.

15. SÁ, J. M. R.; MAZZER, N.; BARBIERI, C. H.; BARREIRA, 22. FAZAN, V. P. S.; SALGADO, H. C.; REIS, G. C.; BARREIRA,

76 77
A. A. Relation between myelin area and axon diameter in the aor- tral and peripheral parts of individual ventral motoneuron axons
tic depressor nerve of spontaneously hypertensive rats. Journal of I. Myelin sheath and axon caliber. Journal of Anatomy, Londres,
Neuroscience Methods, Amsterdã, v. 148, p. 130-6, 2005. p. 126, p. 509-533, 1978.

23. ALCÂNTARA, A. C. L.; SALGADO, H. C.; FAZAN, V. P. S. 30. SWALLOW, M. Fibre size and content of the anterior tibial
Morphology and morphometry of the vagus nerve in male and fe- nerve of the foot. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psy-
male spontaneously hypertensive rats. Brain Research, Amsterdã, chiatry, Londres, v. 29, p. 205-13, 1966.
v. 1197, p. 170-80, 2008.
31. O’SULLIVAN, D. J.; SWALLOW, M. The fiber size and content
24. JERONIMO, A.; JERONIMO, C. A. D.; RODRIGUES FILHO, of the radial and sural nerves. Journal of Neurology, Neurosurgery
O. A.; SANADA, L. S.; FAZAN, V. P. S. Microscopic anatomy of and Psychiatry, Londres, v. 31, p. 464-70, 1968.
the sural nerve in the postnatal developing rat: a longitudinal and
lateral symmetry study. Journal of Anatomy, Londres, v. 206, p. 32. FRIEDE, R. L.; SAMORAJSKI, T. Relation between the num-
93-9, 2005. ber of myelin lamellae and axon circumference in fibers of vagus
and sciatic nerves of mice. Journal of Comparative Neurology,
25. LIMA, N. T. M. S.; FAZAN, V. P. S.; COLAFÊMINA, J. F.; Nova Iorque, v. 130, p. 223-32, 1967.
BARREIRA, A. A. Recurrent laryngeal nerve post-natal develop-
ment in rats. Journal of Neuroscience Methods, Amsterdã, v. 165, 33. FAZAN, V. P. S.; SALGADO, H. C.; BARREIRA, A. A. A des-
p. 18-24, 2007. criptive and quantitative light and electron microscopy study of
the aortic depressor nerve in normotensive rats. Hypertension,
26. JERONIMO, A.; JERONIMO, C. A. D.; RODRIGUES FILHO, Dallas, v. 30, p. 693-8, 1997.
O. A.; SANADA, L. S.; FAZAN, V. P. S. A morphometric study on
the longitudinal and lateral symmetry of the sural nerve in mature 34. FAZAN, V. P. S.; MA, X.; CHAPLEAU, M. W.; BARREIRA, A.
and aging female rats. Brain Research, Amsterdã, v. 1222, p. 51- A. Qualitative and quantitative morphology of the renal nerves in
60, 2008. C57BL/6J mice. Anatomical Record, Nova Iorque, v. 268, p. 399-
404, 2002.
27. RODRIGUES, A. R.; FERREIRA, R. S.; SALGADO, H. C.; FA-
ZAN, V. P. S. Morphometric analysis of the phrenic nerve in male 35. SATO, K. L.; CARMO J. M. do; FAZAN, V. P. S. Ultrastructu-
and female Wistar-Kyoto (WKY) and spontaneously hypertensive ral anatomy of the renal nerves in rats. Brain Research, Amsterdã,
rats (SHR). Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 1119, p. 94-100, 2006.
Ribeirão Preto, v. 44, p. 583-91, 2011.
36. SCHIAVONI, M. C. L.; FAZAN, V. P. S. There is no relation
28. BERTHOLD, C. H. A study on the fixation of large mature between the fascicular and the endoneural blood vessel areas on
feline myelinated ventral lumbar spinal root fibers. Acta Soc Med the cervical vagus nerve of normotensive rats. Journal of Neuros-
Ups, Cidade, v. 73, s. 9, p. 1-36, 1968. cience Methods, Amsterdã, v. 158, p. 171-8, 2006.

29. FRAHER, J. P. Quantitative studies on the maturation of cen- 37. CAMPOS, S. A. R.; SANADA, L. S.; SATO, K. L.; FAZAN, V. P.

78 79
S. Morphometry of the saphenous nerve in young rats. Journal of 46. ZIMMERMAN, I. R.; KARNES, J. L.; O’BRIEN, P. C.; DYCK,
Neuroscience Methods, Amsterdã, v. 168, p. 8-14, 2007. P. J. Imaging system for nerve and fiber tract morphometry: com-
ponents, approaches, performance and results. Journal of Neuro-
38. FAZAN, V. P. S.; RODRIGUES FILHO, O. A.; JORDÃO, C. E. pathology and Experimental Neurology, Lawrence, v. 39, p. 409-
R.; MOORE, K. C. Ultrastructural morphology and morphometry 19, 1980.
of phrenic nerve in rats. Anatomical Record, Nova Iorque, v. 292,
p. 513-17, 2009. 47. ESPIR, M. L. E.; HARDING, D. T. C. Apparatus for measuring
and counting myelinated nerve fibers. Journal of Neurology, Neu-
39. TORCH, S.; STOEBNER, P.; USSON, Y.; D’AUBIGNI, G. D.; rosurgery and Psychiatry, Londres, v. 24, p. 287-90, 1961.
SAXOD, R. There is no simple adequate sampling scheme for esti-
mating the myelinated fiber size distribution in human peripheral 48. OCHOA, J. The sural nerve of human foetus: electron micros-
nerve: a statistical ultrastructural study. Journal of Neuroscience cope observations and count of axons. Journal of Anatomy, Lon-
Methods, Amsterdã, v. 27, p. 149-64, 1989. dres, v. 108, p. 231-45, 1971.

40. MAYHEW, T. M. Relevance and significance of morphometry 49. FRAHER, J. P. On methods of measuring nerve fibers. Journal
for neurohistology. ACTA Anatomica, Basel, v. 111, p. 97, 1981. of Anatomy, Londres, v. 130, p. 139-51, 1980.

41. MAYHEW, T. M; SHARMA, A. K.; BEDI, K. S. Economical 50. EWART, D. P.; KUZON Jr, W. M.; FISH, J. S.; MCKEE, N. H.
sampling designs for sizing fibers in peripheral nerves. ACTA Ana- Nerve fiber morphometry: a comparison of techniques. Journal of
tomica, Basel, v. 111, p. 97, 1981. Neuroscience Methods, Amsterdã, v. 29, p. 143-50, 1989.

42. SHAY, J. Economy of effort in electron microscope morphome- 51. AUER, R. N. Automaterd nerve fiber size and myelin sheath
try. American Journal of Pathology, Filadélfia, v. 81, p. 503-11, 1975. measurement using microcomputer-based digital image analysis:
theory, method and results. Journal of Neuroscience Methods,
43. CAI, Z.; CASH, K.; THOMPSON, P. D.; BLUMBERGS, P. C. Amsterdã, v. 1, p. 229-38, 1994.
Accuracy of sampling methods in morphometric studies of human
sural nerves. Journal of Clinical Neuroscience, Parkville, v. 9, p. 52. TOMASCH, J. Numerical size variability in the peripheral ner-
181-6, 2002 ve. ACTA Anatomica, Basel, v. 115, p. 78-90, 1983.

44. CHENTANEZ, V.; AGTHONG, S.; HUANMANOP, T; PAI- 53. TORCH, S.; USSON, Y.; SAXOD, R. Automated morphome-
ROH, S.; KAEWSEMA, A. Morphometric analysis of the human tric study of human peripheral nerves by image analysis. Patholo-
superficial radial nerve. Anatomical Science International, Tóquio, gy, Research and Practice, Stuttgart, v. 185, p. 567-71, 1989.
v. 85, p. 167-70, 2010.
54. VITA, G.; SANTORO, M.; TROMBETTA, G.; LEONARDI,
45. SILVEIRA, F. B. C.; SANADA, L. S.; FAZAN, V. P. S. Sampling L.; MESSINA, C. A computer-assisted automatic method for mye-
method for morphometry of the myelinated fibers of sural nerves linated nerve fiber morphometry. ACTA Neurologica Scandinavi-
in adult rats. The FASEB Journal, Bethesda, v. 26, 725.18, 2012. ca, Copenhague, v. 85, p. 18-22, 1992.

80 81
55. FRIEDE, R. L.; BEUCHE, W. Combined scatter diagrams of 63. SAVY, C.; MARGULES, S.; SOLARI, A.; SAINT-JEAN, P.;
sheath thickness and fiber caliber in human sural nerves: changes FARKAS-BARGETON, E. An image analysis morphometric me-
with age and neuropathy. Journal of Neurology, Neurosurgery and thod for the study of myelinated nerve fibers from mouse trigemi-
Psychiatry, Londres, v. 48, p. 749-56, 1985. nal root. Analytical and Quantitative Cytology and Histology, St.
Louis, v. 10, p. 307-16, 1987.
56. CAMPADELLI, P.; GANGAI, C.; PASQUALE, F. Automated
morphometric analysis in peripheral neuropathies. Computers in 64. USSON, Y.; TORCH, S.; SAXOD, R. Morphometry for human
Biology and Medicine, Elmsford, v. 29, p. 147-56, 1999. nerve biopsies by means of automated cytometry: assessment with
reference to ultrastructural analysis. Analytical Cellular Pathology,
57. SILVA, A. P. D.; JORDÃO, C. E.; FAZAN, V. P. S. Peripheral Amsterdã, v. 3, p. 91-102, 1991.
nerve morphometry: Comparison between manual and semi-auto-
mated methods in the analysis of a small nerve. Journal of Neuros- 65. WEIBEL, E. R. Morphometry: Potentials and limitations.
cience Methods, Amsterdã, v. 159, p. 153-7, 2007. ACTA Anatomica, Basel, v. 111, p. 160-1, 1981.

58. BILEGO NETO, A. P. C.; SILVEIRA, F. B. C.; SANADA, L.


S.; FAZAN, V. P. S. Two nerve morphometry methods performed
through the same computer program: are they comparable? The
FASEB Journal, Bethesda, v. 26, 725.19, 2012.

59. ELLIS, T. J.; ROSEN, D. C. J. Automated measurement of peri-


pheral nerve fibres in transverse section. Journal of Biomechanical
Engineering, Nova Iorque, v. 2, p. 272-80, 1980.

60. ZHAO, X.; PAN, Z.; WU, J.; ZHOU, G.; ZENG, Y. Automatic
identification and morphometry of optic nerve fibers in electron
microscopy images. Computerized Medical Imaging and Graphics,
Elmsford, v. 34, p. 179-84, 2010.

61. URSO-BAIARDA, F.; GROBBELAAR, A. O. Practical nerve


morphometry. Journal of Neuroscience Methods, Amsterdã, v.
156, p. 333-41, 2006.

62. SELVA, J.; SCHOEVAERT-BROSSAULT, D. S. G. Automated


morphometric analysis of cross-sections of normal and patholo-
gical nerve biopsy specimens. Biology of the Cell, Paris, v. 42, p.
57-64, 1981.

82 83
Sobre o autor Memória emocional em idosos
sadios e com doença de Alzheimer:
Valéria Paula Sassoli Fazan uma revisão dos estudos
Possui graduação em Medicina (1991), mestrado em Mor- comportamentais e de neuroimagem
fologia (1995) e doutorado em Neurologia (1999) pela Faculda-
de de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo funcional
(FMRP/USP). Realizou doutorado-sanduíche na Universidade de
Iowa, com a qual mantém relações científicas estreitas. Atualmen- Corina Satler12
te é orientadora puntual de doutorado na Pós-Graduação em Pa- Carlos Tomaz13
tologia, área de concentração Patologia Geral, na Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, e professora da pós-graduação em
Ciências Morfológicas na Universidad de La Frontera, em Temu-
co, no Chile. Ocupa o cargo de Professora Associada da FMRP/
USP, no Departamento de Cirurgia e Anatomia, sendo responsável

C
por várias disciplinas da graduação, particularmente nos cursos om a idade, nossas habilidades cognitivas diminuem de for-
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Tem experiência na área de ma constante, em paralelo com a gradual deterioração da
Morfologia, com ênfase em Anatomia Humana e Animal, e Neuro- anatomia e da fisiologia cerebral. No entanto, existe um
anatomia, atuando, principalmente, nos seguintes temas: anatomia domínio em que adultos saudáveis podem igualar ou até mesmo
macroscópica, hipertensão experimental, diabetes experimental, superar adultos mais jovens: o chamado bem-estar emocional.
neuropatias periféricas e envelhecimento. Realizou dois estágios Apesar dos desafios em vários domínios, incluindo deficit de
de pós-doutorado no exterior (Central Microscopy Research Fa- visão, audição e memória, mobilidade reduzida e saúde física, as-
cility e Department of Anatomy and Cell Biology, ambos na Uni- sim como a morte de parentes e amigos, a maioria dos idosos sau-
versidade de Iowa), atuando diretamente nas linhas de pesquisa dáveis são surpreendentemente bem ajustados no nível emocional.
em anatomia e neurociências. É responsável pelo laboratório de Várias teorias psicológicas têm sido propostas para explicar esse
Microscopia e Morfometria do setor de Cirurgia Experimental do fenômeno contraintuitivo, e elas têm inspirado uma quantidade
Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP/USP, o qual man- substancial de pesquisas comportamentais.
tém com verba de projetos individuais de pesquisa. Esse laborató- Mais recentemente, mudanças no processamento emocional,
rio está preparado para a realização de procedimentos histológicos relacionadas à idade, tornaram-se o foco de um crescente número
de rotina, incluindo a microtomia e ultramicrotomia, e possui sis- de estudos de neuroimagem funcional, nos quais têm sido identi-
tema completo e moderno para análise morfológica e morfomé- ficadas diferenças substanciais entre o mecanismo neural de como
trica de imagens histológicas. Na pós-graduação da FMRP/USP, é indivíduos jovens e mais velhos percebem, lembram-se, tomam de-
credenciada como orientadora em nível de mestrado e doutorado
no programa de Neurologia, opção Neurociências. 12. Professora Adjunta, Universidade de Brasília (UnB), campus Ceilândia.
http://lattes.cnpq.br/3724897321951944 13. Professor Titular, UnB, campus Darcy Ribeiro.

84 85
cisões e regulam o material emocional. Alteração anatômica no envelhecimento
Adicionalmente, pacientes com doença de Alzheimer (DA)
O declínio anatômico relacionado à idade é mais pronuncia-
apresentam atrofia precoce nas estruturas límbicas envolvidas na
do no córtex pré-frontal lateral (CPFL). Adicionalmente, a atrofia
memória e no processamento emocional, fornecendo uma popula-
relacionada à idade é substancial no hipocampo, a qual, por sua
ção clínica única para investigar como a emoção é capaz de modu-
vez, estaria relacionada com a redução da memória, e esta, por
lar os processos de retenção das informações.
sua vez, associada com a atividade cerebral[1]. Em contraste com
O objetivo do capítulo é rever as principais conclusões dos
o declínio em regiões mediadoras das funções executivas e da me-
estudos comportamentais e de neuroimagem funcional, focalizan-
mória, regiões cerebrais envolvidas no processamento emocional e
do principalmente o efeito de facilitação emocional (emotional
de recompensa, como a amígdala, o córtex pré-frontal medial CPF
enhancement effect), definido como a melhora na memória para
medial e o estriado ventral, estão relativamente bem preservadas
eventos emocionais em comparação com os eventos neutros.
em idosos saudáveis.
O capítulo tem duas seções.A primeira resume evidências de
A amígdala (ou complexo amigdaloide) tem sido associada
dois aspectos da neurociência cognitiva envolvidos no processa-
com a detecção automática de emoções e a geração de emoção e
mento emocional no envelhecimento normal e patológico (DA):
respostas fisiológicas associadas[2]. Também participa mediando a
a alteração anatômica e a compensação funcional; na segunda se-
modulação emocional da percepção, emoção e tomada de decisão,
ção, examinamos o efeito da emoção na memória durante o en-
o que é consistente com uma densa rede de conexões anatômi-
velhecimento normal e na DA mediante uma análise dos estudos
cas entre esta estrutura e o córtex visual, o lobo temporal medial
comportamentais e de neuroimagem funcional.
(LTM) e os lobos frontais[3].
Em relação à memória, a amígdala é capaz de modular a co-
I. Aspectos associados ao processamento emocional dificação, consolidação e recuperação do material emocional me-
diante o aumento da atividade no hipocampo, sendo também uma
no envelhecimento normal e na doença de Alzheimer:
estrutura específica para a memorização emocional[4].
alteração anatómica e compensação funcional No envelhecimento saudável, a integridade da amígdala per-
Existem evidências de que, no envelhecimento normal, o pro- manece relativamente preservada. Embora alguns estudos relatem
cessamento emocional é relativamente melhor preservado quan- reduções volumétricas relacionadas com a idade, esse efeito tem sido
do comparado com o envelhecimento patológico. Uma possível atribuído à inclusão de matéria branca no interior da região de inte-
explicação é que a deterioração anatômica, relacionada à idade, resse da amígdala[5]. Em contraste, atrofia substancial da amígdala
é menos pronunciado nas regiões do cérebro responsáveis pela tem sido encontrada em indivíduos com DA ou naqueles indivíduos
mediação do processamento emocional (hipótese de preservação que apresentam um risco genético para desenvolver a doença.
anatômica no envelhecimento saudável). Uma outra explicação Estudos que examinaram as primeiras mudanças no cérebro
possível é que o declínio anatômico e fisiológico relacionado à ida- de pacientes que apresentaram uma forma incipiente (pré-sinto-
de é parcialmente compensado por aumentos na atividade cerebral mática) de DA indicam que as diferenças na atividade cerebral são
(hipótese de compensação funcional). A seguir, são analisadas evi- consequência de mudanças estruturais, que estariam localizadas
dências dessas duas hipóteses que são compatíveis uma com outra. no LTM, especificamente no hipocampo e no córtex entorrinal[6].
As lesões na região entorrinal e isocórtex temporal produzem fa-

86 87
lhas nas conexões com a formação hipocampal, produzindo, con- ção no processamento emocional no envelhecimento saudável, que
sequentemente, prejuízos principalmente na memória episódica[7], é a compensação funcional.
o que é consistente com numerosas evidências neuropsicológicas. Durante o envelhecimento, as formas de organização cerebral
Considerando que a amígdala está fortemente relacionada no se alteram. Analisando esse fato, alguns pesquisadores formularam
contexto do processamento emocional e da memória, a redução teorias para uma compreensão maior dessas alterações.
no volume da amígdala poderia ter consequências dramáticas no O modelo de PASA (Posterior-Anterior Shift in Aging), fe-
processamento da emoção na DA. nômeno abordado por Davis et al.[12], refere-se à diminuição na
Em contraste ao processamento emocional automático, estu- atividade occipital juntamente com um aumento na atividade no
dos indicam que o córtex pré-frontal (CPF) atua como mediador CPF relacionada à idade. Esse padrão foi observado em muitos
de processos de controle emocional. Particularmente, as regiões do domínios cognitivos, incluindo percepção, atenção, memória ope-
CPFL (áreas de Brodmann 44/46, 46/49), relacionadas ao funcio- racional, codificação e recuperação da informação (memória epi-
namento executivo, seriam associadas a estratégias de regulação sódica), controle inibitório, entre outros[13].
da emoção deliberada, como a reavaliação[8], sendo recrutadas as No modelo de PASA, sugere-se que os adultos mais velhos
regiões do córtex pré-frontal ventrolaterais (CPFVL) quando os compensariam os deficit no processamento visual (diminuição
participantes tentam regular emoções utilizando estratégias de ela- occipital), recrutando os processos cognitivos de ordem superior
boração semânticas[9]. (aumento no CPF). Consistente com a hipótese de compensação,
No entanto, regiões do CPFM estariam envolvidas em formas há evidências de que o aumento no CPF em adultos maiores é po-
menos deliberadas de controle emocional. Especificamente a área sitivamente correlacionado com o desempenho cognitivo e negati-
BA 10, relaciona-se ao processamento autorreferencial, ou seja, vamente correlacionado com a diminuição occipital[12].
informações relativas a si mesmo, tais como sentimentos e pen- O modelo HAROLD (Hemispheric Asymmetry Reduction in
samentos internos. Assim, essa região apresenta maior atividade Older Adults), descrito por Cabeza et al.[14], foi baseado em evi-
quando os participantes julgam a si mesmos ou a pessoas próxi- dências de que a atividade bilateral em adultos maiores é positi-
mas em comparação a quando julgam pessoas desconhecidas, ou vamente correlacionada com o desempenho cognitivo, sendo en-
a quando os participantes processam informações sobre eventos a contrado principalmente em adultos maiores com um desempenho
partir da perspectiva do eu versus o outro[10]. cognitivo bem-sucedido[13].
Cabe indicar também que o CPFM forma parte do chamado Os dois padrões de super-recrutamento no CPF, a mudança
default network, que é o conjunto de regiões que tendem a ser de- posteroanterior associada ao envelhecimento (PASA) e a redução
sativadas durante atividades que exigem atenção numa atividade da assimetria hemisférica observada em adultos maiores (HA-
externa, sendo ativadas quando a atenção se concentra em aspec- ROLD), têm sido associados ao desempenho cognitivo bem-suce-
tos internos, como emoções e memórias[11]. dido, sugerindo que esse recrutamento aumentado no CPF poderia
também explicar a preservação no processamento emocional no
envelhecimento. Assim, essas duas teorias fornecem um fundo útil
Compensação funcional no envelhecimento
para avaliar o possível papel compensatório do super-recrutamen-
Além da preservação de algumas regiões cerebrais, como a to no CPF no domínio da emoção[15].
amígdala e o CPFM, existe um outro fator que explica a preserva- Em contraste com o envelhecimento normal, estudos des-

88 89
crevem a compensação funcional na DA caracterizada por hipo- interpretadas considerando que os efeitos da valência emocional
perfusão nos lobos temporais mediais e temporoparietais, sendo apenas seriam evidentes em determinadas condições de testagem.
que reduções metabólicas e de perfusão no córtex de associação Assim, de acordo com Mather[19], diferenças na memória para es-
parietotemporal bilateral têm sido reconhecidas como um padrão tímulos positivos e negativos seriam menos prováveis de aconte-
especifico da doença[16]. Adicionalmente, estudos mais recentes têm cer em adultos maiores quando a codificação dos estímulos coloca
demonstrado reduções funcionais no lobo temporal medial, mes- maiores exigências sobre os recursos cognitivos exigidos pelo teste
mo numa fase precoce. reduzindo a atenção para os aspectos emocionalmente marcantes
dos estímulos.
Nos últimos anos, estudos de neuroimagem funcional come-
II. O papel da emoção na memória durante o çaram a explorar as bases neuronais das mudanças relacionadas
envelhecimento normal e na doença de Alzheimer: à idade no efeito de facilitação da emoção. Apesar das diferenças
estudos comportamentais e de neuroimagem metodológicas, os estudos descreveram um aumento na atividade
funcional do CPF e alterações na amígdala durante a fase de codificação da
informação. Assim, St. Jaques, Dolcos e Cabeza[20] encontraram
A seção a seguir revê os estudos comportamentais e de neu-
que a atividade na amígdala prevê a recordação subsequente de
roimagem funcional sobre os efeitos do envelhecimento no pro-
imagens negativas versus imagens neutras em adultos jovens e ido-
cessamento emocional, especificamente no domínio cognitivo da
sos, sendo que os adultos idosos precisaram de um recrutamento
memória episódica.
adicional da atividade frontal para apoiar a formação das memó-
rias considerando a diminuição da atividade do córtex visual.
Envelhecimento saudável Nesse contexto, Fischer[21] observou um aumento da ativida-
de neural no CPF dorsolateral para a subsequente recordação de
Sabe-se que apesar de frequentes, os deficit de memória as- faces de medo versus faces neutras. Cabe considerar que, embora
sociados ao envelhecimento não se apresentam de forma iguali- em ambos os grupos etários houve ativação bilateral da amígdala
tária em todos os sistemas de memória. As alterações de memória durante a codificação bem-sucedida das faces de medo, apenas os
associadas à idade são mais pronunciadas em testes de memória adultos jovens recrutaram maior atividade na amígdala direita. De
operacional e de memória episódica que requerem evocação livre forma similar, Murty et al.[22] descreveram aumentos relacionados
e recordação do contexto no qual o evento/informação ocorreu[17]. à idade no recrutamento do CPF dorsolateral esquerdo durante a
No entanto, vários estudos têm informado que o conteúdo emo- codificação de blocos de imagens negativas versus neutras, sem en-
cional pode facilitar o desempenho da memória comparado com contrar diferenças relacionadas à idade na atividade da amígdala.
conteúdos não emocionais[18]. Kensinger e Schacter[23] observaram um recrutamento da
Em relação ao efeito da emoção, alguns estudos têm demons- amígdala durante a codificação bem-sucedida independentemente
trado que, em adultos maiores, o efeito de facilitação emocional da valência positiva ou negativa dos estímulos, o que foi invariante
na memória é similar para estímulos negativos e positivos, en- com a idade. No entanto, durante a codificação bem-sucedida de
quanto outros estudos descreveram efeitos diferenciais dependen- estímulos positivos nos adultos maiores houve ainda uma maior
do da valência emocional dos estímulos. Tais diferenças têm sido atividade no CPFM.

90 91
Adicionalmente, tem sido observada uma diminuição associa- magnética funcional sugerem que o envelhecimento leva a uma de-
da à idade na conectividade funcional entre a amígdala e as regiões pendência crescente de processos controlados no CPF que apoiam
que tipicamente apoiam a formação das memórias para estímulos e mantêm o efeito de facilitação emocional na memória. Esses re-
negativos (hipocampo), junto com um aumento, também associa- sultados estão na linha dos estudos comportamentais já descritos
do à idade, na conectividade funcional com o CPF e áreas envol- que sugerem que mudanças relacionadas à idade na memória para
vidas no processamento controlado[20,22]. Dessa forma, o aumento estímulos emocionais dependem do recrutamento de processos
no recrutamento frontal poderia refletir processos compensatórios controlados que influenciam emoção.
que apoiam a formação bem-sucedida de memórias.
Addis et al.[24] descreveram que o padrão de conectividade du-
Pacientes com doença de Alzheimer
rante a formação de memórias positivas difere em adultos maio-
res. Usando um modelo de equação estrutural para examinar a Estudos analisando o processamento emocional em pacientes
conectividade afetiva entre a rede emocional, eles descobriram com DA descrevem preservação nas habilidades emocionais[25], as-
que os adultos maiores apresentavam fortes conexões positivas sim como nas respostas fisiológicas à emoção[26].
na influência da amígdala e do córtex pré-frontal ventromedial A magnitude do efeito de facilitação emocional no memória
(CPFV) no hipocampo, enquanto nos adultos jovens tiveram ape- declarativa tem sido avaliada, nesses pacientes, utilizando para-
nas uma influência negativa no hipocampo nessas mesmas regiões. digmas de recordação e reconhecimento da informação com uma
Adicionalmente, os jovens tiveram uma grande influência positiva codificação intencional (o participante tem conhecimento de que
do tálamo no hipocampo. Os autores sugeriram que as mudanças posteriormente será avaliada sua memória).
relacionadas à idade na conectividade afetiva durante a codifica- Numerosos estudos descrevem um grande prejuízo no desem-
ção bem-sucedida de memórias positivas podem refletir maior ca- penho em testes de memória; porém, o efeito de facilitação emo-
pacidade de processamento autorreferencial nos adultos maiores, cional tem sido demonstrado utilizando diferentes tipos de testes
o que também poderia explicar o aumento na memória para esses e materiais.
mesmos estímulos. O efeito de facilitação emocional tem sido descrito, às vezes,
St. Jaques et al.[15], a partir de evidências de estudos de neu- apenas para as emoções positivas[26-28], ou para emoções positivas
roimagem funcional relacionados à idade baseados no estudo da e negativas[29-,31].
percepção emocional, memória e domínios de regulação emocio- De forma geral, um grande número de estudos têm encontra-
nal, geralmente descrevem um padrão de atividade neural chamado do um efeito de facilitação emocional na memória em pacientes
FADE (Frontoamygdalar Age-Related Diferences in Emotion), as- com DA, mesmo que alguns deles controlaram as diferenças no
sociado ao aumento da atividade no CPF e à diminuição da resposta desempenho entre os grupos, o que reforça o efeito benéfico da
da amígdala a estímulos negativos. O modelo refere-se a mudanças emoção nas perdas mnésicas nesses pacientes. Em contraposição,
funcionais na atividade neural; porém, também pode estar relacio- outros autores descreveram que o efeito de facilitação emocional
nado a mudanças estruturais na anatomia cerebral. Dessa forma, na memória estaria interrompido[32,33].
pode ser associado a ambas as hipóteses de preservação anatômica Vale a pena mencionar também que alguns estudos relataram
no envelhecimento normal e à hipótese de compensação funcional. a presença do efeito de facilitação emocional no grupo de pacien-
Em resumo, os resultados de estudos utilizando ressonância tes com DA (ausência de efeito no grupo controle) ou, inversamen-

92 93
te, apenas para o grupo controle[27,29,34,35]. pela função de suas instruções de recuperação da informação su-
Nesse contexto, pesquisadores ressaltam que quando o teste gerem que o efeito de facilitação emocional permanece preservado
a ser realizado é muito fácil para o grupo de idosos saudáveis ou nos pacientes com DA quando são realizadas atividades de lem-
quando ele é muito difícil para o grupo de pacientes com DA, o brança da informação[28,34].
efeito de facilitação emocional tende a ser escurecido por um efeito Estudos demonstram que, enquanto atividades de lembrança
teto ou chão, respectivamente. Tais efeitos podem resultar de di- são sustentadas pela área do hipocampo, atividades de reconhe-
ferenças gerais no funcionamento da memória entregrupos, o que cimento se associam com a atividade no córtex perirrinal. Essa
poderia ofuscar o efeito emocional genuíno. distinção é fundamental, considerando que as teorias do efeito de
Numa tentativa de evitar tais efeitos, alguns estudos têm ofe- facilitação emocional propõem que as influências da emoção na
recido certas modificações nas atividades a serem desenvolvidas memória declarativa são sustentadas por conexões funcionais en-
pelos grupos de participantes. Assim, por exemplo, Werheid et tre a amígdala e o hipocampo[2,4,36].
al.[31] utilizaram um paradigma no qual a representação do estí- Assim, a evocação (lembrança) bem-sucedida de estímulos
mulo foi repetido três vezes apenas para o grupo de pacientes com emocionais apoia o conceito de que a interação dentro das estru-
DA, permitindo um beneficio do material emocional na melhora turas do LTM são parcialmente preservadas nos pacientes com
do desempenho mnemônico. No estudo desenvolvido por Kalen- DA, mesmo quando os volume do hipocampo e da amígdala estão
zaga et al.[27], foram utilizados intervalos de tempo diferenciados parcialmente reduzidos.
para os grupos, apresentando um intervalo de tempo menor para Em relação ao estado cognitivo dos pacientes com DA, al-
o grupo de pacientes com DA. guns autores propõem que a ausência de um efeito de facilitação
Vale considerar que vários fatores podem intervir na presen- emocional, ao invés de ser um deficit no impacto da emoção no
ça ou ausência do efeito de facilitação emocional, como também processamento da memória, poderia representar um deficit no
modular a magnitude do efeito em pacientes com DA: diferenças desempenho cognitivo global (memória de curto prazo, habilida-
nas instruções para a recuperação da informação (memória de re- des verbais, memória semântica, funções executivas, habilidades
conhecimento), a presença de um declínio cognitivo severo (por visuoespaciais). Dessa forma, a presença de um efeito de facilita-
exemplo, de memória) ou o tipo de estímulo emocional (exemplo, ção emocional poderia resultar no acesso a habilidades cognitivas,
carga emocional, autor-referência). como as funções executivas[18,37].
Em relação às instruções, atividades mnemônicas de reconhe- Outro importante ponto a ser considerado no desencadea-
cimento envolvem a recordação de detalhes específicos (informação mento do efeito de facilitação da emoção na DA é o tipo de estí-
contextual) de um evento codificado, porém testes de lembrança mulo emocional utilizado. Tem sido proposto que diferenças nas
(evocação) requerem um maior envolvimento da memória episódi- propriedades dos estímulos, como o tempo de exposição, a riqueza
ca. Cabe indicar que, durante testes de reconhecimento, os proces- táctil, e a autorreferência (estímulos referentes ao próprio sujeito),
sos de detecção de familiaridade podem compensar as dificuldades podem ser a razão para resultados contraditórios no efeito de faci-
da memória episódica. Familiaridade refere-se à capacidade de se litação emocional na DA.
lembrar que um episódio tenha sido vivenciado anteriormente, Sundstrom[35], usando objetos com carga emocional, como pre-
quando nenhuma outra informação contextual está disponível. sentes, demonstrou um efeito facilitador da emoção nos pacientes
No contexto da memória emocional, a separação dos estudos com DA. Dessa forma, foi comprovado que, através de uma dimen-

94 95
são de autorreferência táctil (o participante recebeu um presente), os maior nos pacientes com DA para faces neutras e emocionais com-
objetos foram melhor lembrados que aqueles objetos não presentes. parado com o grupo controle. Assim, a hipótese da preservação
Adicionalmente, no estudo desenvolvido por Kalenzaga et do impacto emocional poderia ser explicada por um mecanismo
al. , os participantes realizaram uma atividade de reconhecimen-
[27]
compensatório que requer um maior recrutamento da amígdala e/
to de adjetivos com traços emocionais e neutros e logo caracteri- ou solicitação de uma rede anatômica adicional[18,40].
zaram, durante a fase de codificação, quanto cada um dos adje- Labar e Cabeza[36] salientam o papel da amígdala e a sua in-
tivos os descrevia (codificação de autorreferência). Os resultados teração com outras áreas do cérebro, incluindo as estruturas do
indicaram que a estratégia de codificação do estímulo favoreceu LTM e do CPF, no contexto da memória declarativa e não declara-
o efeito de facilitação da emoção, principalmente para adjetivos tiva. Nesse quadro teórico, a amígdala é mediadora da influência
negativos sugerindo que a atenção nos pacientes com DA é atraída da excitação emocional na memória declarativa através de liga-
pela valência emocional do material potencialmente congruente ções diretas com as estruturas do LTM, favorecendo a consolida-
ou emocionalmente ligado a ele. Essa consideração poderia ser ção da memória. Por outro lado, conexões diretas e indiretas entre
aplicada no contexto de memórias flashbulb, as quais são caracte- a amígdala e o CPF são mediadoras de outras formas de memória,
rizadas por uma melhor memória para situações experimentadas incluindo a memória autobiográfica, semântica e memória opera-
com grande carga emocional. No estudo desenvolvido durante o cional. Além do aprendizado condicionado emocional que ocorre
terremoto de Kobe, foi observado que os pacientes com DA recor- intrinsicamente na amígdala, projeções neurais diretas com o cór-
daram mais facilmente a sua experiência emocional durante o ter- tex sensorial atingem outras formas de memória não declarativa,
remoto do que a vivência na ressonância magnética, sendo ambos incluindo o priming perceptivo e conceitual.
os eventos experimentados quase na mesma época[38]. De forma No contexto da DA e com base neste modelo, sugere-se que
similar, Budson et al.[39] observaram que os pacientes com DA re- a recordação bem-sucedida de estímulos emocionais (em compa-
tiram mais informação pessoal que fatual sobre sua experiência ração com não emocionais) poderiam estar relacionados à preser-
durante o evento do 11 de setembro de 2001. vação ou ao reforço de interações funcionais entre a amígdala e
Em geral, esses resultados sugerem que a utilização de dife- estruturas do LTM no contexto da memória declarativa. Tais inte-
rentes estímulos emocionais pode levar a diferentes cargas emo- rações entre a amígdala e o LTM para promover o efeito de faci-
cionais, o que pode potencialmente gerar um efeito de facilitação litação emocional poderiam também depender da força do alerta-
emocional, sempre e quando a intensidade e a autorreferência dos mento emocional e a relevância dos estímulos emocionais[27,30,35,38].
estímulos forem o suficientemente elevados. Adicionalmente, sugere-se que projeções neurais reforçadas
Estudos de neuroimagem que investigaram o efeito da memó- entre as áreas do cérebro durante a promoção do benefício emo-
ria utilizando informação com alertamento emocional em pacien- cional devam ser consideras no contexto dos recursos cognitivos
tes com DA mostraram maior atividade pré-frontal, o que reflete que estão disponíveis nestes pacientes[18,37]. Dessa forma, os deficit
a presença de um mecanismo compensatório, já descrito no enve- graves nos sistemas de memória de forma geral ou nas funções
lhecimento saudável, porém envolvendo a amígdala e redes pré- executivas podem comprometer o efeito da emoção na memória
frontais em maior grau do que no grupo controle. para uma tarefa dada.
Nesse contexto, os resultados descritos por Wright et al.[40] Nesse contexto, considerando a diminuição drástica da me-
mostraram que a atividade na amígdala foi significativamente mória declarativa na DA, vale a pena ressaltar a importância do

96 97
efeito de facilitação da emoção na memória, o que aumenta os Referências bibliográficas
benefícios potenciais do uso de estímulos emocionais nos progra-
1. DASELAAR, S.; FLECK, M.; DOBBINS, I.; MADDEN, D.;
mas de reabilitação. Dessa forma, pistas emocionais podem ser um
CABEZA, R. Effects of healthy aging on hippocampal and rhinal
caminho promissor na elaboração de intervenções terapêuticas.
memory functions: an event-related fMRI study. Cerebral Cortex,
Oxford, v. 16, n. 12, p. 1771-82, 2006.

2. PHELPS, E. Emotion and cognition: Insights from studies of the


human amygdala. Annual Review of Psychology, Palo Alto, v. 57,
p. 27-53, 2006.

3. AMARAL, D.; PRICE, J. Amygdalo-cortical projections in the


monkey (Macaca fascicularis). Journal of Comparative Neurology,
Nova Iorque, v. 230, n. 4, p. 465-96, 1984.

4. CAHILL, L.; BABINSKY, R.; MARKOWITSCH, H.; MCGAU-


GH, J. The amygdala and emotional memory. Nature, Londres, v.
377, p. 295-96, 1995.

5. BRABEC, J.; RULSEH, A.; HOYT, B.; VIZEK, M.; HORINEK,


D.; HORT, J. et al. Volumetry of the human amygdala – an anato-
mical study. Psychiatry Research, Limerick, v. 182, n. 1, p. 67-72,
2010.

6. MIZUNO, K.; WAKAI, M.; TAKEDA, A.; SOBUE, G. Medial


temporal atrophy and memory impairment in early stage of Al-
zheimer´s disease: an MRI volumetric and memory assessment stu-
dy. Journal of Neurological Sciences, Amsterdã, v. 173, p. 18-24,
2000.

7. BRAAK, H.; BRAAK, E. Neuropathological staging of Alzhei-


mer-related changes. ACTA Neuropathologica, Berlim, v. 82, p.
239-59, 1991.

8. OCHSNER, K.; GROSS, J. The cognitive control of emotion.


Trends in Cognitive Sciences, Cambridge, v. 9, n; 5, p. 242-9, 2005.

98 99
9. OCHSNER, K.; BUNGE, S.; GROSS, J.; GABRIELI, J. Rethinking 17. GRADY, C.; CRAIK, F. Changes in memory processing with
feelings: an FMRI study of the cognitive regulation of emotion. Jour- age. Current Opinion in Neurobiology, Londres, v. 10, n. 2, p. 224-
nal of Cogntive Neuroscience, Berkeley, v. 14, n. 8, p. 1215-29, 2002. 31, 2000.

10. ST. JACQUES, P.; CONWAY, M.; LOWDER, M.; CABEZA, 18. BROSTER, L.; BLONDER, L.; JIANG, Y. Does emotional
R. Watching my mind unfold versus yours: An fMRI study using memory enhancement assist the memory impaired? Frontiers in
a novel camera technology to examine neural differences in sel- Aging Neuroscience, Lausanne, v. 4, n. 2, p. 1-6, 2012.
f-projection of self versus other perspectives. Journal of Cogntive
Neuroscience, Berkeley, v. 23, n. 6, p. 1275-84, 2011. 19. MATHER, M. Why memories may become more positive as
people age. In: Uttl, B.; OHTA, A. (eds.), Memory and emotion:
11. GUSNARD, D.; RAICHLE, M. Searching for a baseline: Func- Interdisciplinary perspectives. Malden: Blackwell, 2006.
tional imaging and the resting human brain. NatureReviews Neu-
roscience, Londres, v. 2, p. 635-94, 2001. 20. ST. JACQUES, P.; DOLCOS, F.; CABEZA, R. Effects of aging
on functional connectivity of the amygdala for subsequent me-
12. DAVIS, S.; DENNIS, N.; DASELAAR, S.; FLECK, M.; CABE- mory of negative pictures: A network analysis of fMRI data. Psy-
ZA, R. Que PASA? The posterior-anterior shift in aging. Cerebral chological Science,, v. 20, n. 1, p. 74-84, 2009.
Cortex, Oxford, v. 18, n. 5, p. 1201-9, 2008.
21. FISCHER, H. Age-related differences in brain regions suppor-
13. CABEZA, R. Hemispheric asymmetry reduction in older ting successful encoding of emotional faces. Cortex, Milão, v. 46,
adults: the HAROLD model. Psychology and Aging, Arlington, v. p. 490-7, 2010.
17, n. 1, p. 85-100, 2002.
22. MURTY, V.; SAMBATARO, F.; DAS, S.; TAN, H.; CALLICOTT,
14. CABEZA, R.; GRADY, C.; NYBERG, L.; MCINTOSH, A.; J.; GOLDBERG, T. et al. Age-related alterations in simple declara-
TULVING, E.; KAPUR, S. et al. Age-Related Differences in Neural tive memory and the effect of negative stimulus valence. Journal of
Activity during Memory Encoding and Retrieval: A Positron Emis- Cogntive Neuroscience, Berkeley, v. 21, n. 10, p. 1920-33, 2009.
sion Tomography Study. Journal of Neuroscience, Nova Iorquek,
v. 17, n. 1, p. 391-400, 1997. 23. KENSINGER, E.; SCHACTER, D. Neural processes suppor-
ting young and older adults’ emotional memories. Journal of Cog-
15. ST. JACQUES, P.; BESSETTE-SYMONS, B.; CABEZA, R. ntive Neuroscience, Berkeley, v. 20, n. 7, p. 1161-73, 2008.
Functional neuroimaging studies of aging and emotion: fronto
-amygdalar differences during emotional perception and episodic 24. ADDIS, D.; LECLERC, C.; MUSCATELL, K.; KENSINGER,
memory. Journal of the International Neuropsychology Society, E. There are age-related changes in neural connectivity during the
Cambridge, v. 15, n. 6, p. 819-25, 2009. encoding of positive, but not negative, information. Cortex, Milão,
v. 46, n. 4, p. 425-33, 2010.
16. FOSTER, N. ; CHASE, T. ; MANSI, L. ; BROOKS, R. ; FEDIO,
P. ; PATRONAS, N. et al. Cortical abnormalities in Alzheimer’s 25. KLEIN-KOERKAMP, Y.; BEAUDOIN, M.; BACIU, M.; HOT,
disease. Annals of Neurology, Boston, v. 16, p. 649-54, 1984. P. Emotional decoding abilities in Alzheimer’s disease: a meta-a-

100 101
nalysis. Journal of Alzheimer Disease, San Antonio, v. 32, n. 1, p. S. Effects of Alzheimer disease on memory for verbal emotional
109-25, 2012. information. Neuropsychology, Oxford, v. 42, p. 791-800, 2004.

26. HAMANN, S.; MONARCH, E.; GOLDSTEIN, F. Memory 34. BOLLER, F.; EL MASSIOUI, F.; DEVOUCHE, E.; TRAYKOV,
enhancement for emotional stimuli is impaired in early Alzhei- L.; POMATI, S.; STARKSTEIN, S. Processing emotional informa-
mer´s disease. Neuropsychology, Oxford, v. 14, p. 82-92, 2000. tion in Alzheimer´s disease: Effects on memory performance and
neurophysiological correlates. Dementia and Geriatric Cognitive
27. KALENZAGA, S.; BUGAÏSKA, A.; CLARYS, D. Self-reference Disorders, Basel, v. 14, p. 104-12, 2002.
effect and autonoetic consciousness in Alzheimer disease: evidence
for a persistent affective self in dementia patients. Alzheimer Dise- 35. SUNDSTROM, M. Modeling recall memory for emotional ob-
ase and Associated Disorders, Nova Iorque, 2012. jects in Alzheimer’s disease. Neuropsychology, development, and
cognition. Section B, Aging, neuropsychology and cognition, v. 18,
28. PERRIN, M.; HENAFF, M.; PADOVAN, C.; FAILLENOT, I.; p. 396-413, 2011.
MERVILLE, A.; KROLAK-SALMON, P. Influence of emotional
content and context on memory in mild Alzheimer’s disease. Jour- 36. LABAR, K.; CABEZA, R. Cognitive neuroscience of emotional
nal of Alzheimer Disease, San Antonio, v. 29, p. 827-26, 2012. memory. Nature, Londres, v. 7, p. 54-64, 2006.

29. MOAYERI, S.; CAHILL, L.; JIN, Y.; POTKIN, S. Relative 37. BORG, C.; LEROY, N.; FAVRE, E.; LAURENT, B. How emo-
sparing of emotionally influenced memory in Alzheimer’s disease. tional pic- tures influence visuospatial binding in short-term me-
Neuroreport, Oxford, v. 20, n. 4, p. 653-5, 2000. mory in ageing and Alzheimer’s disease? Brain and Cognition,
Nova Iorque, v. 76, p. 20-5, 2011.
30. SATLER, C.; GARRIDO, L.; SARMIENTO, E.; LEME, S.;
CONDE, C.; TOMAZ, C. Emotional arousal enhances declarative 38. IKEDA, M.; MORI, E.; HIRONO, N.; IMAMURA, T.; SHI-
memory in patients with Alzheimer’s disease. ACTA Neurologica MAMURA, T.; IKEJIRI, Y. et al. Amnestic people with Alzheimer´s
Sacandinavica, Copenhague, v. 116, n. 6, p. 355-60, 2007. disease who remembered the Kobe earthquake. British Journal of
Psychiatry, Londres, v. 172, p. 425-8, 1998.
31. WERHEID, K.; MCDONALD, R.; SIMMONS-STERN, N.;
ALLY, B.; BUDSON, A. Familiar smiling faces in Alzheimer’s dise- 39. BUDSON, A. ; SIMONS, J. ; SULLIVAN, A. ; BEIER, J. ; SO-
ase: understanding the positivity-related recognition bias. Neurop- LOMON, P. ; SCINTO, L. et al. Memory and Emotions for the
sychology, Oxford, v. 49, p. 2935-40, 2011. September 11, 2001, Terrorist Attacks in Patients With Alzheimer’s
Disease, Patients With Mild Cognitive Impairment, and Healthy Ol-
32. BUDSON, A.; TODMAN, R.; CHONG, H.; ADAMS, E.; KE- der Adults. Neuropsychology, Oxford, v. 18, n. 2, p. 315-27, 2004.
NSINGER, E.; KRANGEL, T. et al. False recognition of emotional
word lists in aging and Alzheimer disease. Cognitive and Behavio- 40. WRIGHT, C.; DICKERSON, B.; FECZKO, E.; NEGEIRA, A.;
rial Neurology, Filadélfia, v. 19, p. 71-8, 2006. WILLIAMS, D. A functional magnetic resonance imaging study of
amygdala responses to human faces in aging and mild Alzheimer’s
33. KENSINGER, E.; ANDERSON, A.; GROWDON, J.; CORKIN, disease. Biological Psychiatry, Nova Iorque, v.62, p. 1388-95, 2007.

102 103
sobre os autores SLEEP-WAKE CYCLE, CIRCADIAN RHYTHMS
AND MALNUTRITION.
Corina Elizabeth Satler A REVIEW.
Possui graduação em Psicologia pela Pontificia Universidad
Catolica Argentina (2004), mestrado em Ciências da Saúde (Neu- Pilar Durán14
rociências, 2008) pela Universidade de Brasília (UnB), doutora- Selene Sánchez-Jiménez15
do sanduíche em Neurociências Cognitivas pelo Center for Cog- León Cintra16
nitive Neuroscience, na Duke University (2010), e doutorado em
Ciências da Saúde (Neurociências, 2012) pela UnB. Atualmente é
Professora Adjunta da UnB. Tem experiência na área de Neurop-
sicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: avaliação
neuropsicológica, memória, funções executivas e emoção.
http://lattes.cnpq.br/4909947416140473 Abstract

T
here is well known perinatal malnutrition alters the devel-
Carlos Alberto Bezerra Tomaz oping central nervous system (CNS), essentially during the
brain spurt growth, this can lead to significant modifica-
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do tions in those structures related with the sleep-wake and its circa-
Pará (1977), mestrado em Psicologia Experimental (1981) pela dian control. Among the parameters of interest we had been stud-
Universidade de São Paulo (USP), doutorado em Psicologia Fisio- ied the prenatal or chronic malnutrition effects on the wake-sleep
lógica e Comparada pela Universitat Düsseldorf (1986) e livre-do- cycle and its cyclic variation due it can serve as functional integrity
cência pela USP (1988). Foi professor titular da USP (campus de index. There are few studies in relation to the effects that malnutri-
Ribeirão Preto) e atualmente é Professor Titular da Universidade tion or undernutrition produces in this particular cycle, especially
de Brasília. Tem experiência na área de Neuropsicofarmacologia e about their circadian rhythmicity, being our group a pioneer in this
Neurociências Cognitivas, atuando principalmente nos seguintes field. León Cintra was an international reference in the study of
temas: memória, emoções, ansiedade, depressão, desenvolvimento the sleep-wake cycle ontogenic development, locomotor activity,
de modelos pré-clínicos em primatas. brain and body temperature and water intake circadian rhythms
http://lattes.cnpq.br/2576531891879144
14. Pilar Durán, PhD: Lab. Biología Animal Experimental, Edif. A, Biología, Dpto. Biolo-
gía Celular, Facultad de Ciencias, Circuito Exterior, Ciudad Universitaria s/nUniversidad
Nacional Autónoma de México Del. Coyoacán, Distrito Federal, México. Tel: +52 55 56
22 48 33. E-mail: pilis@servidor.unam.mx
15. Lab. Biología Animal Experimental, Edif. A, Biología, Dpto. Biología Celular, Facultad
de Ciencias, Circuito Exterior, Ciudad Universitaria s/nUniversidad Nacional Autónoma
de México Del. Coyoacán, Distrito Federal, México. Tel: +52 55 56 22 48 33.
16. Deceased June 18, 2009.

104 105
and the effect of low protein diets during vulnerable and critical born child are recognized, marasmus and Kwashiorkor. Marasmus
periods of the central nervous system development from juvenile is a severe deficiency of calories and protein. It tends to develop
to senile rats. in infants and very young children. It typically results in weight
loss and dehydration. Breastfeeding usually protects against this
syndrome. Starvation is the most extreme form of marasmus (and
Keywords: Low protein malnutrition, rat, suprachiasmatic nuclei,
undernutrition). It results from a partial or total lack of essential
circadian rhythm, brain development, sleep-wake cycle.
nutrients for a long time. Kwashiorkor is a severe deficiency more
of protein than calories and is less common than marasmus. The
term is derived from an African word meaning “first child-sec-
SLEEP-WAKE CYCLE, CIRCADIAN RHYTHMS AND MALNUTRITION. ond child” because a first born child often develop Kwashiorkor
A REVIEW. when the second child is born and replaces the first born child at
mother’s breast. Effects of undernutrition and malnutrition in the
In recent years has been an enormous interest in the study of
human physiology have been studied assessing several systems in
pre and postnatal undernutrition and malnutrition and how they
humans and other mammals. In the central nervous system (CNS),
alter the development of Central Nervous System. Undernutrition
the sleep-wake cycle and its cyclic circadian variation can serve as
in humans and mammals can be defined in a quantitative relation
functional integrity index. Nowadays, there are few studies in rela-
to a normal equilibrated diet: a diet containing proteins, lipids,
tion to the effects that malnutrition or undernutrition produces in
carbohydrates, vitamins and minerals. When all components in the
this particular phenomena especially in relation to their circadian
diet, are reduced to at least 50% for several days, the caloric intake
rhythmicity, so that, it is very important to do a review of this kind
or deficiency or of one or more essential nutrients a undernourished
of studies that relates nutrition with vigilance states in humans and
condition is developed. By the other hand, malnutrition is defined
rats models, as well as some other circadian rhythms.
in a qualitative relation to a standard consumption of nutrients,
In mammals malnutrition installed perinatally or chronical-
when one or more are increased or reduced, misbalancing the com-
ly in utero, affects the CNS development particularly during the
ponents. Thus, malnutrition is an imbalance between the nutrients
developmental critical periods (gliogenesis, micro and macro-neu-
the body needs and the nutrients it gets, and includes overnutrition
rogenesis and myelination, growth factors and neurotransmitters)
(consumption of too many calories or too much of any specific nu-
and can produce permanent changes in some structures of the CNS,
trient: protein, fat, vitamin, mineral or other dietary supplement).
altering the sleep-wake cycle (Cintra et al, 1988; Durán et al, 1999;
It is possible to talk about the increase of lipids and carbohydrates
Cintra et al, 2002) and other cognitive funtions. In the rat, an al-
and produce obesity or to reduce this or other elements to pro-
tricial mammal, the postnatal electrocorticogram (ECoG) matures
duce a low corporal weight; in extreme conditions it can produce
gradually; its electrophysiological changes can be studied by spec-
bulimia or anorexia pathological conditions, and it is particularly
tral analysis (Corsi et al, 2001). The electrocorticographic activity
more common among women than men. Nowadays, undernutri-
of vigilance states (waking W, slow wave sleep SWS and rapid eye
tion is often used interchangeably as a malnutrition synonim, but
movement sleep REM-sleep) is considered an electrophysiological
actually is a type of malnutrition. In humans, two syndromes relat-
indicator of neural organization, differentiation and functional de-
ed with a bad nutrition during pregnancy in the women or in the
gree of CNS maturity and could reveal some alterations which di-

106 107
rectly affects its normal function (Durán & Cintra, 2004). some cholinergic neurons of the TLD and TPP nuclei, reason why
Wakefulness is produced by the concerted action of diffuse these cells had been denominated REM-off and when the neuronal
activating systems in the basal forebrain (acetylcholine), hypo- activity of these nuclei decrease permits the activation of cholin-
thalamus (histamine and orexins), and brainstem (acetylcholine, ergic nuclei neurons (REM-on cells) and REM sleep is generated
noradrenaline, serotonin, glutamate) which together promote low (Hobson et al, 1975; Baghdoyan et al, 1987; Steriade, 1992).
voltage fast activity in the cortex, depolarization of thalamocorti-
cal neurons and excitation of motor neurons, leading to enhanced
muscle tone. Most of these systems have mutually excitatory con-
nections with each other and converge upon common effector
mechanisms in target neurons (McCormick, 1992; Brown et al,
2002) so that the loss of one of them produces only minor changes
in sleep and waking. The major exception to this is the orexin/ GABA
Hist- Hist- Hist-
hypocretin system, whose dysfunction leads to the sleep disorder Orex
Hist-
Orex
G
Orex
Orex A
narcolepsy. Shut off wake-active neurons and induction of SWS B
A
is achieved by increased activity in preoptic area GABAergic Ach Ach Ach Ach
Glut Glut Glut Glut
neurons. REM sleep is produced by the activation of cholinergic 5HT 5HT 5HT + 5HT
-
and glutamatergic brainstem neurons together with inactivation NA NA NA NA
of aminergic neurons (serotonin, noradrenaline and histamine).
Figura 1: Wake (W) is keeped by acetylcholine (Ach) neurotransmitter, widespread on
Different subpopulations of GABAergic brainstem neurons play
forebrain, intracting with Histamine-Orexine (Hist-Orex) system on hyphotalamus and
a role in controlling the activity of both REM-on and REM-off Ach, Glutamate (Glu), 5HT (serotonine) and Noradrenaline (NA). Slow wave sleep (SWS)
neurons. Stabilization of wakefulness and suppression of REM is produced by all neuronal groups deactivation acting during W and increased activity
sleep is produced by the activity of the orexin/hypocretin system, of GABA neurons at preoptical area. During Rapid Eye Movement Sleep (REM sleep)
some groups remains deactivated (doted arrows) while other ones became active (arrows);
which may be important in consolidating wakefulness in the ac- meanwhile GABA neurons groups acts as regulator all over this period. Wakefulness is
tive period of the day. Suppression of wakefulness after prolonged produced by activating Hist-Orex neurons.
periods without sleep is mediated to a large extent by adenosine
accumulation in the basal forebrain and preoptic area. One of the Cholinergic neurons from the brainstem increase their spon-
hypothesis dealing with the generation mechanism of the wake- taneous firing frequency and excitability during the cortical de-
sleep cycle (Reciprocal Interaction Model, McCarley & Hobson, synchronization and produces high cerebral activity. A relatively
1975) proposes that during waking biogenic amines (serotonin modified view was subsequently proposed by Sakai in the form of a
and noradrenaline) from Raphé Nuclei (RN) and Locus Coeruleus Mutual Inhibitory Model. In this model, the REM-on and REM-off
(LC), are elevated in concentration and acetylcholine is reduced in neurons inhibit each other. During REM sleep is a progressive de-
the tegmental latero dorsal nuclei (TLD) and pedunculo pontine crease in firing rate of the LC noradrenaline (NAergic neurons) and
nuclei (PPN) from brainstem. These concentrations that had been a consequent withdrawal of inhibition from the REM-on neurons.
established are reversed when the animal is in REM sleep, after Accordingly REM sleep can occur either by direct excitation of
SWS states. The RN and LC nuclei send inhibitory projections in REM-on neurons or by disinhibition of REM-off neurons (Sakai,

108 109
1988). These results were observed on isolated single unit record- Malnutrition Method
ing studies: REM-on and REM-off neurons were simultaneously
We had been employed a malnutrition animal model that ini-
recorded in freely moving cats, and the temporal relation of their
tiates with female adult rats 5 weeks before mating and fed with
firing pattern during REM sleep supported this hypothesis (Mal-
a experimental diet with 25% or 6% casein as the main source of
lick et al, 1998) REM sleep is a unique behavioral state present in
protein (Harlan-Teklad, Madison WI) and also we used a normal
homeothermic vertebrates. Neurons in the brainstem pontine area
25% casein diet (Purina Chow diet) After birth of several litters in
are implicated in its regulation. The LC-NAergic neurons are con-
the same day, they were mixed and standardized to 8 pups per lit-
tinuously active during waking, decrease activity gradually during
ter (4 males and 4 females) and 6% casein rats were divided in two
non-REM sleep, and cease firing during REM sleep, an effect prob-
groups: one continued in the 6% casein diet to produce a chronic
ably mediated by GABA. In contrast, NAergic neurons fire continu-
malnutrition model and others litters are cross-fostered to a nor-
ously during REM sleep deprivation. If the activity of these neurons
mal mother, in order to produce the prenatal malnutrition model,
is maintained by electrical stimulation or by local application of
that are compared with normal fed rats (Morgane et al, 1993)
GABA antagonist picrotoxin, REM sleep is significantly reduced.
Continuous activation of these neurons would increase NA levels
in the brain, which in turn induce physiological effects similar to
those observed after REM sleep deprivation. These findings thus
suggest that the LC-NAergic REM-off neurons are negative REM 5HT
sleep executive neurons and the cessation of their discharge, medi- NA
ated by GABA, is a prerequisite for the appearance of REM sleep. 5HT
NA
5 weeks feed mating gestation birth-crossfoster-lactation weaning (P21) groups

GABA
+-

GABA
Co dams/Co

+-
pups Co
25% casein diet Co dams
M dams/M CrM
6% casein diet M dams pups CrM
Co dams/M PrM
pups CrM ACh
Figura 2: Protocol of low protein malnutrition in the rat model.
ACh
It is important to mention that in our perinatal and prena-
tal low protein malnutrition models the offspring present an in-
crease in brain levels of serotonin and norepinephrine from birth
to adulthood (Miller et al, 1982; Stern et al, 1974, 1975, 1976). Figura 3: Reciprocal inhibithory model, proposed by McCarley & Hobson,1975 and mo-
dify by Sakai, 1988. RN (raphé nucleus ), LC (locus coeruleus), TLD (tegmental latero
Those results are important because they can explain some of the dorsal nuclei), PPT (pedunlo-pontine nuclei).
deleterious effect of malnutrition.

110 111
Using stereotaxic technique (David Kopff, Tujunga, CA) and At the same time electrical signals are captured in the poly-
several atlas, according with animal’s age, stainless-steel monopo- graph’s paper, and by a PC computer (Pentium 100 MHz) with
lar or bipolar electrodes are implanted in Occipital right and left an analogical-digital converter of 12 bits resolution by means of
cortices (A:0.0mm, L:3.0 mm and V:-1.0mm) and also in CA1 CAPTUSEN-Program, a data acquisition program, at sampling
right and left Hippocampal Formations (A:2.3mm, L:2.2mm and frequency of 128 Hz (4 sec.) and 21,000 segments were obtained
V:-2.7mm)or other brain structures. Flexible stainless-steel bipolar in 24 hr. These data were processed with a digital filter and Rapid
electrodes were implanted in dorsal neck muscles, and one elec- Fourier Transform was used for ECoG spectral analyses. In some
trode in the cerebellum as reference and grounding. All electrodes studies we obtain for example 300 electrical segments, noise free,
are connected to an amphenol cap and secured to animal skull considering their frequency and amplitude collected at particular
with dental acrylic. These implants were performed 10 days before h of the day and are selected for vigilance states analysis with fast
recording a particular age, and animals are connected to recording Fourier transformed, using the program POTENCOR. Absolute
cables attached to a slip ring (Airflyte Co, Bayonne, N.J.) and are power (AP) from 1 to 32 Hz was obtained with 1 Hz resolution
in recording chambers (38x38x114cm) during 24 hours (h) for for each animal and physiological vigilance state.
habituation. Recording chambers are illuminated by a fluorescent To obtain frequencies that covariant and extract broad bands,
white lamp with 124-128 luxes. the mean power spectra of all epochs from each animal are sub-
A 12L/12D cycle controlled by a timer (light from 8.00-20.00 mitted to Principal Component Analysis (PCA), one for each phys-
h) and controlled temperature of 22-24°C +-2°C are used and wa- iological state (SWS, REM sleep and W), with EEG frequencies
ter and diets provided ad libitum. We work with several protocols as variables. The following criteria were used: eigenvalues higher
with a minimum of 24 hr or several days recordings including sleep than 1 for eigenvectors, and factor loading higher than 0.60 to
deprivation experiments, obtained in a Model 7D Grass-polygraph include or exclude a frequency in a factor or eigenvector. Varimax
with filters set at 1 and 35 Hz. rotation is used. In order to validate the selection of EEG epochs as
representative of each vigilance state AP of each frequency is com-
pared among states by means of ANOVAs for repeated measures
with W, SWS and REMS as within-subjects variable. For post-hoc
pair wise comparisons a Tukey’s Studentized T-tests are used. AP
of each frequency was log transformed before statistical analysis.
We also perform intra and interhemispheric correlation analy-
ses from both occipital cortices and both hippocampal formations
as well as relative and absolute power spectral analyses. The data
suggest that the marked laterality due to malnutrition, is influ-
enced by the injury timing and maturational processes.

Figura 4: Implanted rat for EEG and


recording conditions in our lab.

112 113
hypocaloric diets in rats from postnatal days 0 to 40; they found in
adults that hypoprotein diets administered in those days, reduced
sleep total time as well as SWS and REM sleep. Not significant
differences were found by the hypocaloric diet.
Drucker-Colín et al, (1976) employed a normal diet with 25%
protein and an 8% hypoprotein diet, in rats during gestation and
postnatal days; they found that in rats fed with 8% protein a reduc-
tion in REM sleep, an irregular duration of the sleep cycle and an
increase in wake frequency. Also they studied the sleep pattern in
human kids chronically malnourished and found a 53% decrease
in REM sleep duration in relation with normal boys of the same
age and it was an increase in waking and states I and II of SWS.
Borbély (1977), studied rats during consecutive 8 days with
LD 12:12 cycle using 48 hours as a control period, 80 hours of
total feed deprivation and the next 64 hours to feed restitution.
The study showed that during feed deprivation REMS was re-
duced during dark hours and augmented during light hours. SWS
and REM sleep episodes were shorter during dark period in feed
Figura 5: Inter and intrahemispheric correlation analysis of EEG frecuencies for wake
deprivation and total sleep episodes were progressively reduced in
(W), sleep (S) and REMS (R) recorded in hippocampus (H) and prefrontal cortex (C)
and compared in the well nourished (CO), prenatal malnourished (PM) and chronic mal- both light and dark periods. During feed restitution, SWS and total
nourised rats at two developmental juvenile stages. sleep episodes were increased in comparison with control levels.
Rojas & Posadas (1977), used deficient nutriments diets alter-
nated with normal diets during two 25 days initiated at the wean-
Malnutrition and the sleep-wake cycle and maturation ing. They ECoG recordings were of 8-12 hours during the light
of vigilance states period and they reported in undernourished rats, an increase in
Jacobs & McGinty (1971), reported the effects of a prolonged REM sleep latency and reduction in total time of this state, as well
deprivation of food in rats with a cycle of 12 light-dark hours (LD as an increase in the averaged duration of W and a decrease in the
12:12) and they found an increase in W and a reduction of SWS averaged duration of SWS.
and REM sleep due to total deprivation of food of 6-11 days. Salas et al, (1983) used a nutritional and sensorial deprivation
Leathood et al, (1974) studied sleep patterns in postnatal mal- in rats separating half of the litter from the mother during 12 h a day
nourished white mouse by increasing the number of individuals in from the first to the 23rd postnatal day. They recorded the ECoG
the litter or with an adoptive malnourished mother. They used a of these animals during 4 days at 8 h of light period at 120-150
LD 12:12 cycle and did not found significant differences in SWS or days of age, and during 2 days the same period during dark hours.
REM sleep time consumed by the experimental groups. They found in undernourished rats a significant increase in the av-
Benesová & Dyntarova (1975) used hypoprotein, normal or eraged REM sleep duration in light hours and an increase of W and

114 115
SWS during dark hours. The complete duration of wake-sleep cycles old Sprague-Dawley rats submitted total sleep deprivation. They
measured the beginning from one REM sleep to the next during used chronic pre and postnatal protein malnutrition and obtained
light hours and showed that it was decreased in malnourished rats. ECoG recordings at 30 days of age followed by 24 h of total sleep
In order to evaluate the functional alterations produced by pre deprivation by slowly rotating cylinder and also recorded further
and postnatal chronic malnutrition, Morgane et al (1978) studied three days of recovery. Body weight was significantly reduced in
the cyclic variation of sleep. Previously Sobotka et al (1974) studied malnourished rats from postnatal day 4 until 34. On basal day,
the maternal restriction of hypoprotein diet during lactation period malnourished rats showed a significant increase of SWS during the
and they found an elevated serotonin and norepinephrine concen- light and dark phases of the circadian period, and over the 24 h of
tration in malnourished rats. Also Stern et al, (1974, 1975) demon- recording in comparison to control rats. Also REM sleep was sig-
strated that if protein restriction is prolonged after weaning, this nificantly increased in these rats during the 12 h dark phase of basal
increase in biogenic amines continues elevated through animal’s day, but wake ECoG activity was significantly reduced during both
life. Based on this data the Morgane’s group utilized a LD 12:12 light and dark phases and over the 24 h of recording, as a result of
cycle during three days and they obtained an ECoG record the last sleep increases. After sleep deprivation, young malnourished rats
24 h. Authors reported differences in the circadian distribution of failed to show any significant SWS rebound and, unlike control rats,
REM sleep in a 4 h analysis between normal and malnourished they did not regain predeprivation SWS levels within the 3 day post
rats. Also they found during dark phase an increase in REM sleep in deprivation recovery period. Further, malnourished rats also failed
malnourished animals compared with controls (Forbes et al, 1977). to have a significant REM sleep rebound, especially during the dark
Cintra et al, in 1988, studied the sleep wake cycle and its cir- phase. They concluded from these results an important alteration
cadian rhythm in malnourished Sprague-Dawley rats with a hy- produced by protein malnutrition in the homeostatic and circadian
poprotein diet of 8% of casein in 60, 120 and 220 days of age. control of vigilance states before and after sleep deprivation.
They used 4 days of 12L/12D followed by 8 days of continuous Cintra et al, in 2002, studied the alteration produced by pre
dark (DD) and obtained 24 hour recordings during days: 3, 4, 5, and postnatal protein malnutrition in REM sleep deprivation
7, 8, 11 and 12 of the experiment. They found in malnourished (REMS-D) by the platform technique upon the electrocorticogram
rats an increase in the vigilance states amplitude of the circadian of the circadian sleep-wake cycle and its frequency bands in the rat.
rhythms, during DD days as well as during LD 12:12 days. Ac- By means of electrocorticogram recordings, they examined the sleep-
rophase of vigilance states in malnourished rats presented higher wake cycle as a functional maturity index, and its circadian and
delays during DD experimental days. ALPHA/RHO ratio between homeostatic mechanisms in prenatal (PM) and chronically (CM)
control and experimental days was different for SWS and REM protein malnourished young male Sprague-Dawley rats. The effects
sleep, according with age. Malnourished animals did faster the of REMS-D, by the platform technique in a “conflict experiment”
change of vigilance states from lights-on to lights-off or vice versa. (i.e. recovery from REMS-D begun during the circadian phase of
They concluded from these results that malnutrition produces a activity), revealed that in PM animals, W was increased significantly
long term effect in the structures that control the sleep-wake cycle during recovery days 1 and 2, and SWS was reduced significantly
and its circadian rhythm. during these days. Prenatal protein-malnutrition altered the phase
Durán et al, in 1999, studied the effects of protein malnu- of W and REM sleep rhythms, and the amplitude of SWS rhythm
trition on vigilance states and their circadian rhythms in 30 day- decreased. The REM sleep compensatory increase after REMS-D

116 117
(REMS rebound) was confined to the first 4 h block of the activity The model of prenatal protein malnutrition was studied by
phase in all experimental groups and 24 h later another REM sleep Durán et al, in 2005, where they induced a phase shift advance of
rebound was displayed in PM animals. The paradoxical sleep-re- the spontaneous locomotor rhythm and altered the rest/activity
bound in CM animals was significantly higher than control and ratio in adult rats. Included among the structures that are likely
PM rats and it was only shown at the first 4 h block after REMS-D. affected by prenatal protein malnutrition are the suprachiasmat-
Before and after REMS-D the circadian distribution of both sleep ic nuclei (SCN) involved in the regulation of locomotor activity,
states, and the electrocortical frequency bands showed different cir- sleep-wake cycle and drinking behavior. To determine the effects
cadian phases at the same daytime in control, PM and CM rats. The of prenatal protein malnutrition on the spontaneous activity
aforementioned indicates that protein malnutrition exerts import- rhythm, they used 24 h radiotelemetric measurements and were
ant effects on the circadian and homeostatic mechanisms driving recorded over an 8 day period. They employed male offspring of
sleep. Therefore, the temporal structure of the malnourished rats Sprague-Dawley rats with protein-deficient (6% casein) or ade-
may not allow proper synchronization of some sleep parameters, quate (25% casein) diets for 5 weeks prior to mating and through-
particularly REM sleep, to the environmental time cues. out pregnancy. Well nourished rats displayed a rise in activity level
during the first hour of the 12 h light phase, whereas prenatally
malnourished rats displayed this increase during the 12 h dark
Vigilance States
Well Nourished Malnourished phase, approximately 50 min before lights on, reflecting a signif-
W
icant phase advance in this group. In addition, cosinor analysis
SWS
revealed that the ALPHA/RHO relationship was affected in the
REMs
previously malnourished group, the activity phase begin shorter
% Recording time

than in well nourished animals. Those findings suggest changes in


the regulatory systems controlling the locomotor activity rhythm
as a consequence of prenatal protein malnutrition. Alterations in
entrainment to the light-dark cycle, and/or in the coupling force of
the circadian oscillators are all candidate mechanisms.
Juveniles
30 days old Durán, et al; in 2006 studied the effects of prenatal malnutri-
Tiempo (hr)
tion on the sleep states: effects of restraint stress and they estab-
Well Nourished Malnourished lished that independently, prenatal malnutrition and psycholog-
ical/physical stress have been shown to affect the sleep architec-
ture in adult rats. As malnutrition and stress commonly co-exist in
% Recording time

malnourished human populations, the objective of the study was


to ascertain the combined effects of these two insults by examin-
ing sleep-wake parameters following a brief restraint stress in pre-
natally malnourished Sprague-Dawley rats. The male offspring of
Aged rats rats provided with a protein deficient diet (6% casein) for 5 weeks
550 days old
hours
prior to mating and throughout pregnancy were implanted with
Figura 6: Homeostatic and temporal daily distribution differences in the wake-sleep cycle due to
malnutrition and aging in malnourished rats.
119
recording electrodes 10 days before the age and recording was be- found a daily rhythm on task execution efficiency, modified by one
ginning at postnatal day 90. Polygraph recordings were obtained or another malnutrition type: PtM and PrM had a lower efficien-
to quantify sleep states during the first 4 h of the dark phase of the cy than Co but particularly interesting was delay in acrophase in
cycle on two consecutive days. The first followed a 24 h habituation both. CM had efficiency similar to PtM and PrM, main difference
session to the recording chamber (baseline). The second occurred were hardly seen differences in execution related with LD. Authors
during the exact same time of the day but followed 20 min of suggest this differences might go for modification in suprachias-
restraint stress in a Plexiglas tube. During baseline, prenatally mal- matic nucleus (SCN) due to deficient protein malnutrition. The
nourished rats spent more time in REM sleep in the first two hours SCN is very important in regulating cyclic physiology, this struc-
after “lights off”, and greater amounts of W with a corresponding ture present rhythms from day 13 of gestations, which might ex-
reduction in SWS in the second two hours, as compared with con- plain differences in execution between PrM and PtM, going worse
trols. Following stress, the sleep architecture of both groups of rats in PrM resulting from critical damage on prenatal stage.
remained unaltered relative to their baseline day in the first 2-hour Recently, Miyamoto et al (2012) after had done experiments
block. In last two hours after stress, both groups exhibited signif- of extracellular neuronal firing, reported that SCN circadian sig-
icant reductions of SWS and REM sleep with significantly greater nal, for regulating circadian rhythms, is integrated in basal fore-
reductions being expressed in the prenatally malnourished group brain (BF) as well as in preoptical area (POA), using a setorotinin-
(most dramatically, REM sleep was completely eliminated). They ergic system. Their discovering led them to hypothesize that SCN
concluded those findings suggest that sleep disturbances may be regulates circadian sleep-wake cycles sending 5-HT inputs into BF-
more severe in those malnourished human populations subjected POA via ventral subparaventricular zone (SPZ) and dorsomedial
to acutely stressful experiences. hypothalamus (DMH).
As much as it was known, circadian oscillators regulate many More recently researches had widespread to many levels in
processes, from physiological to behavioral and cognitive ones; order to understand how circadian rhythms work, from molecular
such regulation, circadian or daily organization, is driven by supra- to systems. Molecular basis of circadian clock had been proposed,
chiasmatic nucleus (SCN). Malnutrition by protein deficit leads to main candidates are genes Circadian Locomoter Output Cycles
damage central nervous system (CNS), particularly if it is placed in Kaput (CLOCK; and its paralog in neurons PAS domain protein2,
early developmental stages; this damage is expressed as alterations Npas2), BMAL1, Period 1 (Per1), Per2, Cryptochrome 1 (Cry1)
in neurochemical, neuroanatomical and behavioral and cognitive and Cry2 (Mohawk et al, 2012; Yasenkov & Deboer, 2012) to
function at CNS. In 2011, Durán et al tried to find out the effects whom may be added Period 3 (Per3) which is active during sleep.
of chronic (CM), prenatal (PrM) or postnatal malnutrition (PtM) It had been found CLOCK and BMAL1 are widespread in most
on daily patterns of learning in the adult rat. For that, they used cells of the body, playing a regulator role all over Per and Cry and
the malnutrition protocol previously described (Morgane et al, being integral part of many cells which have cell autonomous os-
1993). All rats were 90-120 days old. Behavioral learning was test- cillators. That oscillation comes in 24 hours cycles, autorregulated
ed with a spatial learning protocol using a wooden T-maze with a via a negative-feedback transcription (Takahashi et al, 2008; Mo-
procedure as it follows: rats were water deprived 12 hours before hawk et al, 2012).
training trial, each subject were trained individually to learn how
to reach a Petri dish, with water on it, at the end of one arm. They

120 121
light temperature, some aspects of blood circulation, breathing, excretion,
hormonal secretions and different kind of behavioral activities.
The main objective of this type of “pacemaker” system could
SCN
be the regulation of the circadian rhythms, which are endogenous
light biological rhythms with a period near to 24 hours. Any form in
RHT which circadian rhythms are generated, the pacemaker system
eye SCN
seems to have the coupling between them and the synchronization
that they maintain with periodic phenomena that are present in
the environment (Kafka, 1983).
SCN
Neuron Cell Nucleus Cytoplasm It is well known in the animal kingdom there are diurnal spe-
cies that maintain their activity during light hours and nocturnal
species that are active during dark hours; a third group, the cre-
puscular animals whom are active during crepuscule or the dawn.
This classification is not absolute because some vertebrate species
does not present a consistent daily activity pattern and some oth-
ers can transfer this pattern to diurnal, nocturnal or crepuscular
hours. In the major part of animals exists a characteristic daily
cycle in which alternate the activity or rest periods. This cycle has
Figura 7: Summary of the molecular control into the of the suprachiasmatic nucleus, the
structure known as the circadian oscillator in mammals.
particular interest for researcher in sleep, because sleep is restrict-
ed to the inactive phase of the rest-activity cycle (Groos, 1984).
However, even body cells have an autonomous autorregulated The investigation that was done in the circadian activity-rest
oscillators, SCN is still the master clock. Studies with mice mutants cycle is based on important manner in the motor activity record-
were Per1 and Cry1 were knockout produced a loss of rhythms ing, because there are few long period sleep recordings studies.
phenotypes all over mice including neurons without input-outputs Waking is a requisite for the existence of motor activity, although
from SCN. When SCN cells where coupled, this structure itself this is not ever present during waking. In the occasions that “activ-
was able to synchronize all individual cells, both in vitro and in ity-wheel” is used to measure activity, the non-active period does
vivo (Liu et al, 2007). not correspond necessarily to sleep or rest. A method that pro-
portion a close approximation of the sleep-wake rhythm is a long
term-record of the animal with a transducer collocated underneath
Physiological organization of the to animal box (Borbély & Neuhaus, 1978).
circadian of sleep-wake cycle The spontaneous oscillation frequency, the relation between
activity time (ALPHA) with respect the duration of rest period
It has been proposed that in mammals exists a system whose (RHO), (ALPHA/RHO) proportion, and the excitation level of
function is the order maintenance of different physiological process- a living structure are correlated in such manner that the change
es, among these are included molecular and enzymatic activities, core in one of them are related with a change in the other two, these

122 123
changes also depends of the light amount that the system receives, and it is very stable in a long period. Moreover it maintains a char-
in such manner that diurnal animals increase frequency, the AL- acteristic phase relation with 24 hours cycle, this means that if the
PHA/RHO proportion and the excitation level, when they receive animal has diurnal habits its awakening time is to coincident in
more light, instead nocturnal animals reduces this three parame- approximate form with to dawn period; if it has nocturnal habits,
ters in the same environmental situation. This facts and their gen- he will be awake near to crepuscular period. From those facts it is
eralization are known as Aschoff’s circadian rule. inferred that one of the most powerful synchronizers of the wake-
The daily alternating of sleep-wake episodes are not due pri- sleep cycle, is the day-night alternation. Under laboratory condi-
marily for the environmental fluctuations of 24 hours. Specifically tions it is easy to prove that light-dark cycles are sufficient to syn-
to maintain the rhythmicity the sleep-wake cycle do not requires chronize the wake-sleep rhythm (Rusak & Zucker, 1979; Aschoff,
of day and night fluctuations or periodical light-environmental 1981; Underwood & Gross, 1982). The identification of photic
changes, of temperature or humidity or any other variable. This signals as effective synchronizers had important implications for
independence has been demonstrated in animals (Borbély & Neu- the circadian rhythms study, had been used as tools in the exper-
haus, 1978) and humans that has been carefully isolated of any imental synchronization analysis and they helped in the localiza-
environmental signal or external periodic stimuli (Zeitgeber or tion of involved structures in the circadian rhythms synchroniza-
Synchronizer) real or potential, that could give information in re- tion and regulation. The circadian systems capacity to be in phase
lation to time-hours. That means that in constant environmental with periodic external signals, in particular with luminous ones, it
conditions, the sleep-wake cycle persists. Nevertheless if not envi- means that probably they possesses photoreceptor structures with
ronmental periodic signals exist, this cycle shows an “oscillatory the capacity to send signals “to centers” that in some way they or-
natural frequency” (Aschoff, 1981), and it is calculated measuring ganize the capacity to show periodic behavior from different struc-
the average duration of registered cycles. In this conditions the tures of an organism. However it is not yet possibly to know ex-
circadian period value is near but not equal to 24 hours, differing actly the photoreceptors position (not necessary must be visuals),
the day-night cycle duration by a value, that in some species is not or the organizing centers of periodic functions in a lot of species.
more than one hour. In such manner it is how was handled the “circadian pacemaker”
The natural frequency oscillation is not the reflex of any en- concept to name hypothetic structures that some authors reported
vironmental periodicity reason why the rhythm that presents it, is in the hypothalamus (Ritcher, 1965), because the extirpation of
considered of endogenous nature, it is generated by the organism. such structure produced modifications in some circadian rhythms.
The endogenous property of circadian rhythms has been accept- An important finding was the retino-hypothalamic projection to
ed for many reasons particularly they are transmitted by heredity, suprachiasmatic nuclei (SCN) (Rusak & Zucker, 1979; Moore,
that means the circadian period is determined and can be geneti- 1972). This particular projection is importantly related with mam-
cally manipulated. mals’ capacity to shown circadian behavior since this structure
In natural conditions, those in which exists a daily environ- brings luminous-visual information to centers in the SCN.
mental variability of the light-dark cycle the wake–sleep rhythm
do not show its natural oscillation frequency because its temporal
course is in synchrony with sun-days. Its average period is of 24
hours and shows only from one day to next one, little variations

124 125
Suprachiasmatic Nuclei and Circadian Rhythms tion of the neurobiology of circadian function. There is now vir-
and malnutrition tually universal agreement that the SCN is a circadian pacemaker.
In vitro studies of SCN, by Prosser & Gillette in 1989, re-
The supraquiasmatic nucleus is a prominent feature of the ported that those slices structure keeps glucose consumption high
anterior hypothalamic structure. In most mammals, the SCN is a by day, low by night. Their finds showed SCN cells had their own
compact group of small neurons situated dorsal to the optic chiasm pacemaker, even isolated from other structures on the CNS, and
along most of its length and lateral to the periventricular nucleus that rhythm could be reset by increasing cAMP at subjective day
and the third ventricle. This nucleus was recognized in early cy- time, those finds leads them to conclude cAMP could play an im-
toarchitecture studies by Gurdjian in 1927 and Brockhaus in 1942, portant role on intracellular SCN control. Later on, in 1992 Med-
but its function remained obscure until late 1960s when Richter anic & Gillette studied serotoninergic effects in vitro slices of SCN
found that removing and lesioning some parts of rat brain, a circa- by Long-Evans rats; serotonine was applied for 5 minutes at seven
dian clock could be found on the hypothalamus. As happens in sci- circadian points of the day, then, they tested SCN slices electrical
ence, new technical advances provided the basis for the discovery activity. They discovered a phase advance during circadian time 7
of this important structure. The discovery of anterograde transport (CT 7) (the starting subjective day “lights on” at the Long Evans
by Weiss in 1972, pointed to the fact that triated amino acids are colony) which activity remained for 3 days. However subjective
incorporated into proteins in neuronal perikarya and then trans- night activity remained almost without changes. Those experi-
ported through axons to sites of terminal arbors. This phenome- ments suggest that serotonin could induce SCN activity changes at
non formed the basis for an axoplasmic tracing method to analyze long time, modifying its phase. Even SCN has its own pacemaker;
connections in brain, and this was applied to the study of retinal it could be modified forward or backward its activity by serotonin
projections, providing a new evidence for a retino-hypothalam- inputs, widely distributed neurotransmitter on CNS.
ic tract in mammals (Hendrickson, Wagoner, and Cowan, 1972, Cintra et al; in 1994 studied the effects of prenatal and post-
Moore, 1973; Moore & Lenn, 1972). In these studies silver grains natal protein malnutrition on the major and minor somatic axes of
were found distributed over the ventral SCN, strongly suggesting the suprachiasmatic nucleus (SCN) cells of Sprague-Dawley male
that terminals of retinal axons were present in that location. This rats. Female rats were fed either 6%, 8% or 25% casein diet be-
finding was confirmed by the electron microscopic technique of fore mating, during gestation and lactation. After weaning the pups
degenerating axons terminals synapsing on SCN neurons dendrites were maintained on the same diet until sacrifice at 30, 90 or 220
after eye removal (Moore & Lenn, 1972). Those findings provid- days of age. The major and minor axes in fusiform, multipolar and
ed definitive evidence for a retinohypothalamic tract terminating ovoid cells were measured in Nissl-stained SCN slices. Although
in the SCN. At about the same time, Curt Ritcher performed ex- the 8% diet group displayed significant reductions in fusiform and
periments indicating that the circadian pacemaker supporting the ovoid cells, the 6% diet group showed the most intense reductions
rest-activity rhythm is located in the anterior hypothalamus, with in cell size of the three cell types. In the 6% diet group, cell size was
these results was logical to hypothesize that the SCN is a circadi- significantly lower at 30 days but the difference with other nutri-
an pacemaker. Moore & Eichler (1972) in experiments ablating tional groups ameliorated at 90 days and almost reached control
SCN demonstrated the lost of the adrenal corticosterone content values at 220 days. They conclude from those data that malnu-
rhythm. These observations introduced a new era in the investiga- trition maintained during gestation and postnatal life reduces the

126 127
somatic size of SCN cells. This alteration may be a morphological that in malnourished rats there is a decrease 1) in the coupling
substrate underlying sleep and behavioral circadian alterations ob- force among the oscillators and 2) in the strength of the phase lock
served in malnourished rats. between the oscillators and the light-dark cycle.
The circadian distribution in behavioral patterns of chronic Castañón-Cervantes & Cintra studied in 2002 the circadian
malnourished rats was studied by Escobar et al (1996). Chronic rhythm of occipital-cortex temperature and motor activity in young
malnourished Sprague-Dawley male rats due to a low protein diet (mean age= 55days) and old (mean age= 550 days) rats under chronic
and their nutritional controls were assessed at 30 and 60 days of age. protein malnutrition. The circadian rhythm of cortical temperature
Their spontaneous activity was recorded during 4 days at: 10.00, registered in the right occipital cortex and the circadian rhythm of
16.00, 22.00 and 4.00 h and frequency of four behavioral categories motor activity were studied in young and old Sprague-Dawley male
were obtained. At both ages significant differences were observed in rats submitted chronic malnutrition paradigm. Circadian rhythms
the circadian patterns of malnourished rats, especially in exploring of cortical temperature and motor activity in control (25% casein)
and playing behavior where a pronounced increase was observed and malnourished (6% casein) rats were registered by telemetry
during the dark phase. Other behavioral categories reflected main- along different lighting conditions. Results indicate that: 1) there
ly a decrease in frequency. Results indicate that circadian patterns are masking effects of light upon the period of cortical temperature
in malnourished rats have a different structure than their controls. in malnourished old rats, 2) cortical temperature and motor activ-
This may reflect a disability to respond to light-dark fluctuation as ity rhythms, show endogenous periods different from 24 h under
well as a deficient interaction with social and environmental stimuli. free-running conditions, 3) protein malnutrition increases the am-
In order to know how circadian rhythmicity and suprachias- plitude and the mean value of cortical-temperature rhythm in mal-
matic nuclei in malnourished rats is organized, Aguilar-Roblero nourished–young rats, 4) aging decreases the amplitude and mean
et al (1997) aim a study at characterizing the effects of low-pro- value of the motor activity rhythm, 5) the acrophase of cortical
tein malnutrition (6% casein) on the circadian rhythm of drinking temperature is delayed in malnourished old rats, and 6) the tem-
behavior and on suprachiasmatic nuclei immunohistochemistry poral relationship between cortical temperature and motor activity
in Sprague-Dawley rats. Recordings were started at 30 days of circadian rhythms is altered in malnourished young and old rats.
age under a 12:12 h LD cycle. At 150 days age, recordings were Therefore this study provides evidence that protein malnutrition
continued under constant dim red light, and finally the latency to produces long lasting alterations in the architecture of the circadi-
entrain to complete and skeleton photoperiods was established. an system, particularly affecting cortical temperature oscillation.
At the end of the recordings rats were processed for histological These changes might indicate thermoregulatory differences in the
analysis. Compared with their controls, malnourished rats exhib- brain of malnourished rats that could be related to metabolic and
ited 1) splitting rhythmicity under LD that 2) condensed to one behavioral alterations due to protein malnutrition.
component in constant dim red light, 3) delayed entrainment to Malnutrition affects not only developmental life, but has ef-
skeleton photoperiod, and 4) precocious entrainment under com- fects on late stages. Durán et al (2008) studied how malnutrition
plete photoperiod. Immunohistochemical analysis showed main- and aging modified circadian rhythms as body temperature (BT)
ly a decrease in the immunohistochemical detection of vasoactive and locomotor activity (LA). The objective of this study was to
intestinal polypeptide (VIP) and glial fibrillar acid protein cells in ascertain the combined effects of these two factors by examining
malnourished animals. Those results, concluded authors, indicate period, entrainment and other circadian parameters between LA

128 129
and BT rhythms. Two groups were created: well nourished (WN) References
and protein malnourished (PM). Rats were allowed to grow up
Afonso, D., Santana, C. y Rodríguez, M. Neonatal lateralization
550-590 days old, with food and water ad libitum their whole life,
of behavior and brain dopaminergic asymmetry. Brain Res Bull
and then were implanted with activity-temperature intraperitoneal
32(1):11-16, 1993.
radio transmitters (Mini Mitter) and exposed to different lighting
protocols during at least 10 days – light-dark cycles (LD 12:12) Aguilar-Roblero, R., Salazar-Juárez, D., Rojas-Castañeda, J. C.
constant darkness (DD), skeleton photoperiod (SP) and again LD. Escobar, C. and Cintra, L. Organization of circadian rhythmicity
What authors found was a decoupling internal circadian orga- and suprachiasmatic nuclei in malnourished rats. Am. J. Physiol.
nization between SCN and peripheral oscillators, particularly in 1273(42): R1321-R1331, 1997.
well-nourished rats, while malnourished rats present a statistically
low percentage of arrhythmic cycles. Meanwhile, PM rats had a Aschoff, J. Free running and entrained rhythms. En: Handbook
larger amount activity than the other group; this associates hyper- of Behavioral Neurobiology Vol 4 Aschoff, J. (Ed.) Plenum Press,
activity with malnutrition even in aged rats. Results indicate that New York,. pp. 81-94. 1981
parametric entrainment, achieved by means of complete photope-
riod, is not negatively affected in malnourished rats; however, it Benesová, O. and Dyntarová, H. The effects of early postnatal mal-
is affected under non-parametric entrainment like SP. A different nutrition and pharmacological treatment on sleep time in adult
free running period between the LA and BT circadian rhythms was rats. Act. Nerv. Sup. (Praha) 17: 63-64, 1975.
detected for well-nourished and malnourished aged rats.
Borbély, A. A. Sleep in the rat during food deprivation and subse-
This review conduces to conclude that low protein malnutri-
quent restitution of food. Brain Res. 124: 457-471, 1977.
tion on critical stages of cerebral development produces distur-
bances in the short, mid and long-term, some of them very serious Borbély, A. A. and Neuhaus, H. U. Circadian rhythm of sleep and
particularly on the Central Nervous System and cannot be totally motor activity in the rat during skeleton photoperiod, continuous
reverted by a normal intake diet. Those changes alter all basic and darkness and continuous light. J Com. Physiol. 128: 37-46, 1978.
higher cognitive functions besides homeostatic and metabolic pro-
cess of whole organism. Brockhaus, H. Beitrag zur normalen anatomie des hypothalamus
and der zona incerta beim menschen. Journal für Psychologie und
Neurologie. 51: 96-196, 1942.
ACKNOWLEDGEMENT
Bronzino, J. D., Blaise, J. H., Mokler D. J., Galler J.R., Morgane,
This work includes a review of research that Doctor León Cin-
P. J. Modulation of paired-pulse responses in the dentate gyrus:
tra (1947-2009) developed for more than 35 years (1973-2009).
effects of prenatal protein malnutrition. Brain Research, 849, 45-
We also added a summary of unpublished writings he was work-
57, 1999
ing on some months before he died; all of them are an academic
legacy he left to UNAM and to research group he established. Brown, R.E., Sergeeva, O. A., Ericsson, K.S. and Hass, H. L.Con-
vergent excitation of dorsal raphe serotonin neurons by multiple

130 131
arousal systems (orexin/hypocretin, histamine and noradrenaline). Durán, P., Cintra, L. Disociación de la actividad hipocámpica y pre-
J. Neurosci. 22:8850-9, 2002. frontal como resultado de la malnutrición hipoproteínica crónica
en la rata. En Guevara, M. A. et al Aproximaciones al estudio de la
Castañón-Cervantes, O. and Cintra, L. Circadian rhythms of oc- corteza prefrontal, Universidad de Guadalajara, 2004.
cipital-cortex temperature and motor activity in young and old
rats under chronic protein malnutrition. Nutr. Neurosci. 5(4):279- Durán, P., Cintra, L., Galler, J. R. and Tonkiss, J. Prenatal protein
286, 2002. malnutrition induces a phase shift advance on the spontaneous
locomotor rhythm and alters the rest/activity ratio in adult rats. J.
Cintra, L., Diaz-Cintra, S. Galvan, A. and Morgane, P.J. Circadian Nutr. Neurosci. 8 (3) 167-172, 2005.
rhythm of sleep in normal and undernourished rats. Bol. Estud.
Méd. Biol. Méx., 36: 3-17, 1988. Durán, P., Galler, J. R., Cintra, L., and Tonkiss, J. Prenatal mal-
nutrition and sleep states in adult rats: Effects of restrain stress.
Cintra, L., Galván, A., Diaz, S and Escobar, C. Protein malnutri- Physiol. Behav. 89: 156-163, 2006.
tion on suprachiasmatic nucleus cells in rats of three ages. Bol.
Estud. Méd. Biol. Méx., 42: 11-19,1994. Durán, P., Miranda-Anaya, M., Mondragón-García, I., Cintra, L.
Protein malnutrition and aging affects entraining and intensity of
Cintra, L. and Durán, P. Análisis espectral de la actividad eléctrica locomotor activity and body temperature circadian rhythms in
cerebral de la rata neonata malnutrida sometida a privación de rats. J. Nutr. Neurosci. 11 (6), 263-268, 2008.
sueño MOR. En: Javier Velázquez Moctezuma (Ed.) Medicina del
sueño: aspectos básicos y clínicos. Soc Mexicana de Sueño-UAM, Durán, P., Miranda-Anaya, M., Romero-Sánchez, M.J., Mon-
pp.181-212, 1997 dragón-Soto, Karla, Granados-Rojas, L., Cintra, L. Time-place
learning is altered by perinatal low-protein malnutrition in the
Cintra, L., Durán, P., Guevara, M. A. Aguilar, A. and Castañón-Cer- adult rat. J. Nutr. Neurosci. 14 (4), 145-150, 2011.
vantes, O. Pre-and postnatal malnutrition alters the effect of rapid
eye movement sleep deprivation by the platform technique upon Drucker-Colín, R. R., Shkurovich, M., Ugartechea, J.C., Domín-
the electrocorticogram of the circadian sleep wake cycle and its guez, J and Rojas Ramírez, J.A. Sleep patterns in malnutrition.
frequency bands in the rat. Nutr. Neurosci. 5(2): 91-101, 2002. Proceedings, 16th Annual Meeting. Society for the Psychophysio-
logical study of sleep. Cincinnati, USA, Abstracts, p. 95, 1976.
Corsi-Cabrera, M., Pérez-Garci, E., Del Río-Portilla, Y., Ugalde,
E. and Guevara, M. A. EEG bands during wakefulness, slow wave Forbes, W. B., Tracy, C. A., Resnick, O., and Morgane, P.J. Effect
sleep, and paradoxical sleep as a result of principal component of protein malnutrition during development on sleep behavior of
analysis in the rat. Sleep 24 (4): 374-380, 2001. rats. Exp. Neurol. 57: 440-450, 1977.

Durán, P., Galván, A., Granados, L., Aguilar-Robledo, R., and Gramsbergen, A. EEG development in normal and undernourished
Cintra, L. Effects of protein malnutrition on the vigilance states rats. Brain Res. 195: 287-308, 1976a.
and their circadian rhythms in 30-day-old rats submitted total
sleep-deprivation. Nutr Neurosci 2:127:138, 1999. Gramsbergen, A. The development of the EEG in the rat. Develop.

132 133
Psychobiol. 9: 501-515, 1976b. Paradoxical sleep and avoidance learning of swiss white mice af-
ter early undernutrition by raising in large litters. Experientia 30:
Gross, G. The physiological organization of the circadian sleep- 1428, 1974.
wake cycle. In: Sleep Mechanisms. Borbély, A. and Valatx, J.L.
(Eds) Springer-Verlag, Berlin. pp. 241-257, 1984. Mallick, B. N. Thankachan, S. and Islam, F. Differential respons-
esof brain stem neuronsduring spontaneous and stimulation-in-
Gurdjian, F. S. The diencephalons of the albino rat. J. Comp. Neu- duced desynchronizationof the cortical egg in freely moving cats.
rol. 43: 1-114, 1927. Sleep Res. Online 1,132-46, 1998.
Hendrickson, A. E., Wagoner, N. and Cowan, W. M. An autora- McCormic, D.A. Neurotransmitter actions in the thalamus and ce-
diographic and electron microscopic study of retino-hypothalam- rebralcortex and their role in neuromodulation of thalamocortical
ic connections. Zeitschrift für Zellforschung und Mikroskopiche activity. Prog. Neurobiol. 39, 337-88, 1992.
Anatomie 135: 1-26, 1972.
Medanic, M. and Gillette, M.U. Serotonin regulates the phase of
Liu, A.C., Welsh D.K., Ko, C.H., Tran, H.G., Zhang, E.E., Priest the rat suprachiasmatic circadian pacemaker in vitro only during
A.A., Buhr, E.D., Singer O., Meeker, K., Verma, I.M., Doyle, F.J. the subjective day. Journal of Physiology, 450, 629-642, 1992
3rd, Takahashi, J.S., Kay, S.A. Intercellular coupling confers ro-
bustness against mutations in the SCN circadian clock network. Miller, M., Hasson, R. and Resnick, O. Availability of phenylalanine
Cell 129: 605–16, 2007 and tyrosine for brain norepinephrine synthesis in developmentally
protein malnourished rats. Exp. Neurol. 77: 163-178, 1982.
McCarley, R.W. and Hobson J.A. Neuronal excitability modula-
tion over the sleep cycle: a structural and mathematical model. Miyamoto, H., Nakamaru-Ogiso, E., Hamada, K., Hensch, T. K.
Science. Jun 4; 189(4196): 58-60; 1975 Serotonergic Integration of Circadian Clock and Ultradian Sleep–
Wake Cycles. The Journal of Neuroscience, 32(42):14794 –14803,
Jacobs, B. L. and McGinty, D. J. Effects of food deprivation on 2012.
sleep and wakefulness in the rat. Exp. Neurol. 30: 212-222, 1971.
Mohawk, J. A., Green, C.B., Takahashi, J.S. Central and periphe-
Jouvet-Mounier, D., Astic, L. and Lacote, D. Ontogenesis of the rial circadian clocks in mammals. Annu. Rev. Neurosci., 35: 445-
states of the sleep in the rat, cat and guinea pig during the first 462, 2012.
postnatal month. Develop. Psychobiol. 2: 216-239, 1970.
Moore, R. Y. and Eichler, V. B. Loss of circadian corticosterone
Kafka, M. S. Central nervous system control of mammalian circa- rhythm following suprachiasmatic lesions in the rat. Brain Res. 42:
dian rhythms. Symposium presented by the Am. Physiol. Soc. At the 201-206, 1972.
66th Annual Meeting of the Federation of Am. Soc. for Exp. Biol.
New Orleans, Louisiana, 1982. Federation Proc. 42: 2782, 1983. Moore, R. Y. and Lenn, N. J. A retinohypothalamic projection in
the rat. J Comp. Neurol. 146: 1-14, 1972.
Leathwood, P. D., Busch, M. S., Berent, C. D. and Valatx, J. L.

134 135
Moore, R. J. Retinohypothalamic projection in mammals: A com- Sakai, K. Executive mechanisms of paradoxical sleep. Arch. Ital.
parative study. Brain Res. 73: 125-130, 1973. Biol.126, 1988.

Morgane, P. J., Miller, M., Kemper, T., Stern, W. C., Forbes, W. Salas, M., Ruiz, C. Torrero, C., and Pulido, S. Neonatal food re-
Hall, R. Bronzino, J., Kissane, J., Hawrylewicz, E. and Resnick, O. striction: its effects on the sleep cycles and vigil behavior of adult
The effects of protein malnutrition on the developing central ner- rats. Bol. Estud. Méd. Biol. Méx. 32: 209-215, 1983.
vous system in the rat. Neurosci. Biobehav. Rev. 2: 137-230, 1978.
Sobotka, T.J., Cook, M. P. and Brodie, R. E. Neonatal malnutri-
Morgane, P.J., Austin-La France, R., Bronzino, J., Tonkiss, J., Di- tion: neurochemical, hormonal and behavioral manifestations.
az-Cintra, S., Cintra, L., Kemper, T., Galler, J. Prenatal malnutri- Brain Res. 65: 443-457, 1974.
tion and development of the brain. Nerusoci Biobehav Rev, 17 (1):
91-128, 1993. Stern, W. C., Forbes, W. B., Resnick, O. and Morgane, P.J. Seizure
susceptibility and brain amine levels following protein malnutri-
Prosser, R.A. and Gillette, M. The Mammalian Circadian Clock in tion during development in the rat. Brain Res. 79: 375-384, 1974.
the Suprachiasmatic Nuclei Is Reset in vitro by cAMP. The Journal
of Neuroscience. 9(3): 1073-l081, March 1989 Stern, W. C., Miller, M. Forbes, W.B., Morgane, P. J. and Resnick,
O. Ontogeny of the levels of biogenic amines in various parts of
Resnick, O., Miller, M., Forbes, W., Hall, R., Kemper, T. Bronzino, the brain and the peripheral tissues in normal and protein mal-
J. and Morgane, P. J. Developmental protein malnutrition: Influ- nourished rats. Exp. Neurol. 49: 314-326, 1975.
ences on the central nervous system of the rat. Nerosci. Biobehav.
Rev. 3: 233-246, 1979. Stern, W. C., Miller, M., Forbes, W. B., Leahy, J. P., Morgane, P. J.
and Resnick, O. Effects of protein malnutrition during develop-
Richter, C. P. Biological clocks in medicine and psychiatry. Thomas ment on protein synthesis in brain and peripheral tissues. Brain
(Ed). Springfield, Il. 1965. Res. Bull 1:27-31, 1976.

Rojas, Ramírez, J. A. and Posadas, A. A. Ciclo sueño-vigilia en Takahashi, J. S. Shimomura, K., Kumar, V. Searching for Genes
ratas sometidas a periodos de deficiencia nutricional postdestete. Underlying Behavior: Lessons from Circadian Rhythms. Science,
Bol. Estud. Méd. Biol. Méx., 29: 237, 1977. Vol. 322, November 2008.

Rosenberg, R.S., Zepelin, H and Rechtschaffen, A. Sleep in young Takahashi, J. S., Hong, H.K., Ko, C.H., McDearmon, E.L. The
and old rats. J. Gerontol., 34: 525-532, 1979. genetics of mammalian circadian order and disorder: implica-
tions for physiology and disease. Nature Reviews, Genetics. Oct;
Rosenwasser, A.M.Functional neuroanatomy of sleep and circadi- 9(10):764-775, 2012
an rhythms. Brain Res Rev. Oct; 61(2):281-306, 2009.
Underwood, H. and Groos, G. Vertebrate circadian rhythms: retinal
Rusak, B. and Zucker, I. Neural regulation of circadian rhythms. and extraretinal photoreception. Experientia. 38: 1013-1021, 1982.
Physiol. Rev. 59: 449-526, 1979.

136 137
Yasenkov, R. Deboer, T. Circadian modulation of sleep in rodents. Ataxias espinocerebelares
In A. Kalsbeek, M. Merrow, T. Roenneberg and R. G. Foster (Eds.)
Neurobiology of circadian clock, Progress in Brain Research, Vol. de início tardio
199, 2012.
Vívian Pedigone Cintra17
Van Gool, P. A. and Mirmiran, M. Age-related changes in the sleep
Wilson Marques Jr.18
pattern of male adult rats. Brain Res. 279: 394-398, 1983.

Weiss, P. A. Neuronal dynamics and axonal flow: Axonal peristal-


sis. Proc. of the National Academy of Sciences of the USA. 69:
1309-1312, 1972.

Wollnik, F. Physiology and regulation of biological rhythms in lab-


oratory animals: an overview. Laboratory Animals, 23, 107-125 Introdução
107, 1989

A
s ataxias espinocerebelares (AECs) compreendem um am-
plo espectro de doenças neurodegenerativas de ordem he-
reditária, nas quais há envolvimento obrigatório, porém
variável, do cerebelo e/ou de suas vias aferentes ou eferentes. Asso-
ciadamente, outras estruturas ou órgãos podem estar afetados, tais
como gânglios da base, núcleos do tronco encefálico, trato cortico-
espinal, coluna posterior da medula espinal e retina[1,2]. Em geral,
as manifestações se iniciam na fase adulta, entre os 30 e 40 anos,
sendo a forma de manifestação mais comum o distúrbio da marcha
lentamente progressivo, ao qual se associam, ao longo do tempo,
incoordenação apendicular, disartria, disfagia e distúrbios da mo-
tricidade ocular[1,3,4]. Características adicionais como parkinsonis-
mo, espasticidade, comprometimento cognitivo, retinopatia, neuro-
patia periférica e mioclonia, dentre outras, também podem ocorrer.
O padrão de herança das AECs é autossômico dominante e,
portanto, é esperado que existam acometidos em todas as gera-
ções; que tanto o pai, como a mãe afetados transmitam a doença
para filhos de ambos os sexos, havendo, portanto, transmissão ho-

17. Doutoranda.
18. Professor Associado do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamen-
to da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

138 139
mem para homem; que cada filho/filha de um afetado tenha uma ram identificados pelo menos 37 loci e 20 genes causadores de
chance de aproximadamente 50% de desenvolver a doença; que AECs (ATXN1, ATXN2, ATXN3, SPTBN2, CACNA1A, ATXN7,
a proporção final de afetados seja de aproximadamente de 50% ATXN8, ATXN10, TTBK2, PPP2R2B, KCNC3, PRKCG, ITPR1,
para cada sexo[1]. Sabe-se há longo tempo, no entanto, que é fre- TBP, PDYN, FGF14, AFG3L2, BEAN, TGM6 e NOP56/NOL5A) e
quente, nas famílias com AECs, o fenômeno da antecipação, no um gene causador da atrofia dentatorrubropalidoluisiana – ADR-
qual a doença vai se iniciando mais precocemente e torna-se mais PL (ATN1).
severa à medida que as gerações se sucedem. Esse fenômeno faz
com que, excepcionalmente, a doença se inicie na adolescência ou
mesmo na infância. Tais pacientes, no entanto, têm, em geral, um
quadro clínico extremamente grave e incapacitante, evoluindo,
muitas vezes, para o êxito letal em poucos anos[1,3-5].
Uma característica das AECs é a grande heterogeneidade, não
só interfamiliar como também intrafamiliar, que pode ser expli-
cada somente em parte pelo fenômeno de antecipação. Adicional-
mente, há uma grande sobreposição de sinais e sintomas entre as
diversas AECs, o que praticamente impossibilita a distinção clínica
entre elas, embora algumas poucas manifestações possam ser mui-
to sugestivas de algumas delas (ver item “Classificação fenotípica
e apresentação clínica relevante” neste capítulo)[2,6,7]. Essa gran-
de heterogeneidade clínica dificulta o estabelecimento de critérios
diagnósticos baseados exclusivamente na clínica dos pacientes. A
avaliação molecular é, em geral, fundamental.
Os achados de neuroimagem mostram, em geral, uma atrofia
olivopontocerebelar, com grau variado de comprometimento das
diversas estruturas, mas sem grande especificidade. Aspectos quan-
titativos de neuroimagem podem ser mais específicos[1-4,8].
A partir de 1993, com o avanço das técnicas de genética mole-
cular[9], as AECs foram sendo progressivamente mapeadas em seus
respectivos loci cromossômicos, e, depois, os respectivos genes fo-
ram sendo identificados, possibilitando uma classificação baseada
nos aspectos genéticos e o desenvolvimento de uma grande preci-
são diagnóstica devido à disponibilização dos testes moleculares.
À medida que os loci gênicos e/ou os próprios genes foram sendo
identificados, as AECs foram sendo numeradas de acordo com a
ordem cronológica da descoberta (Quadro 1). Até o momento, fo-

140 141
AEC Lócus Gene Mutação Referências Frequência
AEC 1 6p22.3 ATXN1 Expansão CAG [9]
As AECs têm distribuição mundial, e suas estimativas demons-
AEC 2 12q24.13 ATXN2 Expansão CAG [10, 11, 12]
AEC 3 14q32.12 ATXN3 Expansão CAG [13]
tram haver aproximadamente 3 acometidos para cada 100.000
AEC 4 16q24-qter AEC4 -- [14] habitantes[45-47]. A frequência relativa das AECs varia significativa-
AEC 5 11q13.2 SPTBN2 D/MM [15] mente nas diferentes populações ou regiões do mundo, o que pode
AEC 6 19p13.13 CACNA1A Expansão CAG [16] ser parcialmente atribuído aos efeitos fundadores, como visto nas
AEC 7 3p14.1 ATNX7 Expansão CAG [17] populações portuguesa/brasileira e japonesa para AEC3[48,49], es-
AEC 8 13q21 ATXN8 Expansão CTG [5] candinava para AEC7[50] e mexicana para AEC10[51]. Como regra,
AEC 9 Reservado -- -- -- certos tipos de AECs têm uma maior incidência em determinados
AEC 10 22q13.31 ATXN10 Expansão ATTCT [18] países e assim, o Quadro 2 mostra as principais ascendências aco-
AEC 11 15q14-q21.3 AEC11 I/D [19]
metidas, podendo, de certo ponto, orientar a investigação diagnós-
AEC 12 5q32 PPP2R2B Expansão CAG [20]
tica em relação a um determinado subtipo.
AEC 13 19q13.33 KCNC3 MM [21]
De modo geral, as AECs ocasionadas por expansões codifica-
AEC 14 19q13.42 PRKCG MM [22]
AEC 15 3p26-p25 ITPR1 D [23, 24]
dores da poliglutamina (ver item “Classificação genotípica” neste
AEC 16 3pter-p26.2 ITPR1 D [24] capítulo) são mais frequentes que as outras formas de ataxia espi-
AEC 17 6q27 TBP Expansão CAG [25] nocerebelar[52]. Dentre elas, a forma mais comum de AEC é o tipo
AEC 18 7q31-q32 -- -- [26] 3 ou doença de Machado Joseph (DMJ), a qual foi inicialmente
AEC 19 1p21-q21 -- -- [27] descrita em famílias portuguesas-açorianas (famílias Machado,
AEC 20 11p13-q11 -- -- [28] Thomas e Joseph) nos Estados Unidos[53-55]. Desde então, a DMJ
AEC 21 7p21.3-p15.1 -- -- [29] tem sido relatada em diversos grupos étnicos. Muitos indícios su-
AEC 22 1p21-q23 -- -- [30] gerem que, pelo menos em parte, essa distribuição, aliada à alta
AEC 23 20p13-p12.2 PDYN MM [31]
prevalência mundial, está relacionada com a colonização portu-
AEC 24 Reservado -- -- [32]
guesa-açoriana e o período das grandes navegações[56,57].
AEC 25 2p21-p15 -- -- [33]
Apesar da indiscutível prevalência da AEC3 no Brasil, prova-
AEC 26 19p13.3 -- -- [34]
AEC 27 13q33.1 FGF14 MM [35]
velmente decorrente do efeito fundador açoriano acima descrito,
AEC 28 18p11.22-q11.2 AFG3L2 MM [36, 37] nosso país recebeu imigração de inúmeras outras etnias, em maior
AEC 29 3p26 -- -- [38] ou menor grau, fenômeno este responsável pela identificação em
AEC 30 4q34.3-q35.1 -- -- [39] nosso território de vários outros tipos de AECs, incluindo as AECs
AEC 31 16q22.2 BEAN I (TGGAA)n [40] 1, 2, 6, 7 e 10[58-62].
AEC32 7q32-q33 -- -- [41]
AEC35 20p13 TGM6 MM [42]
AEC36 20p13 NOP56; NOL5A Expansão GGCCTG [43] Classificação fenotípica e
ADRPL 12p13.31 ATN1 Expansão CAG [44] apresentação clínica relevante
Quadro 1: Genética molecular das ataxias espinocerebelares
Abreviaturas – AEC: ataxia espinocerebelar; ADRPL: atrofia dentatorrubropalidoluisia- Apesar da sobreposição fenotípica, da utilização de manifes-
na; D: deleção; MM: mutação missense; I: inserção. tações clínicas gerais, da ancestralidade e da idade de início, é pos-

142 143
sível reconhecer características que ajudam na investigação mole- CLASSIFICAÇÃO MÉDIA DA
PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES
cular (Quadro 2). Em algumas formas particulares, manifestações AEC FENOTÍPICA
ASCENDÊNCIAS ADICIONAIS
IDADE DE
(TIPO) INÍCIO
específicas de início podem ocorrer, tal como o comprometimento
Italiana, indiana, Sinais piramidais, neuropatia
inicial da visão em uma subpopulação de pacientes com AEC7 e, AEC 1 I 3ª – 4ª década
sul-africana. periférica.
embora tenha sido considerada como exceção ao quadro clínico Cubana, Movimentos sacádicos
inicial, a paraparesia espástica progressiva também foi relatada AEC 2 I mexicana, lentos, neuropatia periférica, 3ª – 4ª década
como sintoma de início da desordem[63]. italiana. demência.
Ademais, manifestações adicionais à síndrome cerebelar podem Sinais piramidais e
Portuguesa,
extrapiramidais, retração
ocorrer em outros subtipos, como movimentos sacádicos extrema- AEC 3 I brasileira, 4ª década
palpebral, nistagmo, diplopia,
mente lentos na AEC2[64], fala mal articulada, lenta e hesitante na japonesa, alemã.
neuropatia.
AEC8[65-67], epilepsia na AEC10[68-70], alterações comportamentais Norte-americana, Neuropatia sensorial axonal,
AEC 4 I 4ª – 7ª década
na AEC17[71,72] e movimentos coreicos na ADRPL[73,74] (Quadro 2). alemã. surdez.
Ainda na era pré-molecular, Anita E. Harding individualizou Progressão lenta, nistagmo
AEC 5 III Norte-americana. 3ª – 4ª década
vertical para baixo.
quatro subtipos de AEC, um conceito que foi confirmado com a
Alemã,
progressiva identificação dos genes. O tipo I é caracterizado por australiana,
Algumas vezes ataxia
ataxia de marcha associada a uma ou mais manifestações, tais AEC 6 III episódica, progressão muito 5ª – 6ª década
japonesa,
lenta.
como oftalmoplegia, sinais piramidais e extrapiramidais, altera- taiwanesa.
ções cognitivas, atrofia óptica ou neuropatia periférica. As carac- AEC 7 II
Sul-africana, Perda visual associada à
3ª – 4ª década
sueca, finlandesa. retinopatia
terísticas clínicas deste grupo são causadas pela combinação de
Progressão lenta, fala mal
degeneração do cerebelo, núcleos da base, córtex cerebral, nervo AEC 8 I/ III Finlandesa. articulada, lenta e hesitante, 4ª década
óptico, estruturas pontomedulares, tratos espinais e nervos peri- neuropatia sensitiva.
féricos. O tipo II distingue-se da anterior pela presença de reti- Mexicana, Crises convulsivas com sinais
nopatia pigmentar. O tipo III caracteriza-se por apresentar ataxia AEC 10 I/ III argentina, piramidais e extrapiramidais 4ª década
brasileira. ou ataxia cerebelar pura
cerebelar pura, no qual o processo degenerativo restringe-se ao
Ataxia leve e de progressão
cerebelo, enquanto o tipo IV é acompanhado por mioclonia, neu- AEC 11 III Britânica.
lenta
3ª década
ropatia periférica e surdez[75]. Tremor de ação cefálico
e de membros superiores,
AEC 12 I/ III Indiana 4ª década
parkinsonismo, hiperreflexia,
demência, neuropatia.
Deficiência intelectual leve, Infância ou
AEC 13 I Francesa, filipina.
baixa estatura. idade adulta
Japonesa,
AEC 14 III/IV Mioclonia axial, distonia focal. 3ª – 4ª década
inglesa, francesa.
Síndrome cerebelar pura
AEC
III Japonesa. podendo estar relacionada 4ª década
15/16
ao tremor cefálico.

144 145
Alterações comportamentais Classificação genotípica
Francesa,
com deterioração mental;
AEC 17 I japonesa, 4ª década Genotipicamente, as AECs podem ser subcategorizadas pelo
ocasionalmente coreia,
italiana, alemã.
distonia, mioclonia e epilepsia. mecanismo de mutação gênica. As principais categorias são as ex-
Início com neuropatia pansões dinâmicas, localizadas ou não em regiões codificadoras
sensitivo-motora, nistagmo, de proteínas, bem como as mutações de ponto, as deleções e as
AEC 18 I Norte-americana. Adolescência
disartria, diminuição dos
reflexos tendinosos.
inserções.
Progressão lenta, raro
AEC
I/ IV Holandesa. comprometimente cognitivo, 4ª década
19/22
mioclonia e hiperreflexia. 1. Expansões dinâmicas
Disartria inicial, disfonia
Anglo-celta A característica das mutações mais frequentes que causam
AEC 20 I espasmódica, hiperreflexia, 5ª década
(Austrália).
bradicinesia. várias das AECs é o aumento do número de repetições de uma
Comprometimento cognitivo determinada sequência de nucleotídeos acima do valor encontrado
AEC 21 I Francesa. 6 – 30 anos
leve, sinais extrapiramidais. em indivíduos normais. As expansões dinâmicas, como são conhe-
Disartria, movimentos anormais cidas essas mutações, decorrem da instabilidade do DNA repetido
dos olhos, sensação
AEC 23 I Holandesa. 5ª – 6ª década em um mesmo locus, ocasionando maior propensão a deslizes da
de vibração e posição
reduzidas. enzima DNA polimerase. Esses deslizes acarretam a inserção de
AEC 25 I Francesa. Neuropatia sensitiva severa 1,5 – 39 anos mais nucleotídeos nesse segmento, favorecendo a expansão. As-
Movimento de perseguição sim, a ocorrência da primeira mutação aumenta a chance de novos
AEC 26 III Norueguesa. 26 – 60 anos
visual irregular, disartria. deslizes nesses sítios, levando a mais deslizes e expansões[76].
Tremor de início precoce, Acredita-se que a base biológica das repetições na expansão
AEC 27 I Holandesa. discinesia, deficiência 12 – 40 anos
cognitiva.
seja a instabilidade das repetições durante a divisão celular, tanto
Nistagmo, oftalmoparesia, na mitose, quanto na meiose[49,77,78]. Essa instabilidade gera, pelo
AEC 28 I Italiana. ptose, aumento dos reflexos 12 – 36 anos processo de contração e conversão gênica, diferentes populações
tendinosos. celulares com diferentes números de repetições, formando um mo-
AEC 29 III Caucasiana. Deficiência de aprendizagem Primeira infância saico de células. A instabilidade na meiose ocasiona o mosaicismo
Anglo-celta
AEC 30 III Hiperreflexia 45 – 76 anos gonadal, observado no esperma de pacientes. Esse mosaicismo,
(Austrália).
quando ocorre durante a mitose, é detectado em células somáticas
Início tardio, síndrome
AEC 31 III Japonesa. 5ª – 6ª década (mosaicismo somático), incluindo linfócitos, células musculares e
cerebelar pura.
AEC 35 I Chinesa. Hiperreflexia, sinais de Babinski 4ª década do sistema nervoso central, sendo, porém, menos acentuado que o
Japonesa, “Costa mosaicismo gonadal[79-81].
Fasciculações musculares,
AEC 36 I da Morte” 5ª década Vários autores têm demonstrado as bases moleculares em pa-
atrofia da língua, hiperreflexia.
(Galiza, Espanha).
cientes com o fenômeno da antecipação a partir do genitor em que
Japonesa, Coreia, convulsões, demência,
ADRPL I/ IV
portuguesa. mioclonia
3ª – 4ª década o alelo expandido é herdado. Entre as AECs, quando a transmis-
Quadro 2: Ataxias espinocerebelares: principais distinções clínicas e étnicas. são é paterna, verifica-se uma tendência ao aumento no número de

146 147
repetições nos filhos a partir de uma maior instabilidade meiótica. claro. A principal hipótese é a de que o número aumentado de
Portanto, devido ao aumento de repetições, essa transmissão pater- glutaminas altera o dobramento das proteínas, as quais disparam,
na implica manifestações clínicas mais graves nos filhos que, mui- de alguma maneira, uma cascata de eventos moleculares que cul-
tas vezes, podem apresentar os primeiros sintomas de ataxia ante- minam na disfunção e na morte neural[86].
riormente aos pais[1,3,4]. Excetua-se a essa característica a AEC8, na Outra evidência é de que proteínas normais com o traço po-
qual a maior instabilidade do alelo expandido faz-se presente nas liglutamínico participam do processo de controle de qualidade da
meioses maternas[5]. célula, como através das chaperonas moleculares, via ubiquitina
Tanto os mecanismos de perda como os de ganho de função[82] -proteassoma e autofagia. Portanto, alterações dessas funções le-
são reconhecidos como resultantes de expansões de nucleotídeos. vam a um desequilíbrio em vias que mantêm o controle de qualida-
Nos mecanismos que envolvem a perda de função, o produto do de da célula, levando à formação de proteínas mal elaboradas[82,87].
gene ou não é produzido, ou é gerado em níveis baixos. Um ganho
de função pode ocorrer no ácido ribonucleico (RNA), bem como
B. Expansões dinâmicas em regiões não codificadoras de proteína
na proteína, dependendo da localização da expansão de nucleotí-
deos no gene. Se uma repetição expandida é traduzida, porque se Esta classe de desordens é, dentre as AECs caracterizadas por
localiza dentro da sequência de codificação, é susceptível de afetar um tri, penta ou hexanucleotídeo expandido em uma porção não
a estrutura da proteína e, por conseguinte, sua função[83,84]. codificadora de um locus específico[7]. Tal repetição é transcrita, mas
não é traduzida e, por essa razão, as proteínas não desempenham
um papel central no desenvolvimento da doença[82]. Dessa forma,
A. Expansões dinâmicas em regiões codificadoras de proteína
embora outros mecanismos de patogênese tenham sido propostos,
O aumento de repetições do trinucleotídeo CAG em regiões as expansões não traduzidas podem ocasionar a enfermidade atra-
codificadoras é a causa mais frequente de ataxia espinocerebelar, vés de um mecanismo de ganho de função do RNA, desencadeado
sendo responsável pelas AECs 1, 2, 3, 6, 7, 17 e ADRPL[84]. O Qua- pelo acúmulo de transcritos contendo a expansão[88]. Nessa série,
dro 3 indica o número de repetições CAG considerado normal e incluem-se as AECs 8, 10, 12, 31 e 36 (Quadro 3).
o dito patológico e de penetrância completa, ou seja, o indivíduo É importante ressaltar que ainda não foi estabelecido para a
herdando esse número de repetições, obrigatoriamente apresentará AEC8 um número de repetições considerado patológico, uma vez
sinais e sintomas da doença. A penetrância reduzida presente nas que na faixa de 74 a 1.000 repetições já foram relatados tanto
AECs 6, 7 e 17, indica que, nessa faixa de repetições, o indivíduo indivíduos saudáveis como indivíduos com sinais e sintomas da
pode ou não desenvolver a enfermidade. A faixa de incerteza é de- doença[5,89-91]. Portanto, é altamente recomendado que o diagnós-
finida por haver uma, duas ou mais publicações contraditórias[85]. tico de certeza da AEC8 seja emitido somente em casos em que
Sabe-se que o produto genético oriundo da mutação, em ver- a história familiar seja passível de investigação, a fim de que seja
dade uma proteína definida como ataxina, com a presença de um confirmado que a expansão segrega, juntamente com a doença, na
número aumentado de repetições poliglutamínicas, produziria um linhagem estudada[92].
ganho de função e, subsequentemente, levaria a uma degeneração A repetição na AEC10 é polimórfica, com alelos normais va-
neuronal específica[1,3,4]. O mecanismo pelo qual o número aumen- riando de 8 a 32 pentanucleotídeos e alelos expandidos contendo
tado de repetições de poliglutamina danifica os neurônios não está de 800 a 4.500 repetições[93]. Casos de penetrância reduzida foram

148 149
encontrados em pacientes com alelos intermediários de 280 a 850 tadas as correlações entre fenótipo e genótipo[52].
pentanucleotídeos[93]. Como exemplo, pode-se citar uma pacien- As AECs 5 e 11 são ocasionadas por pequenas deleções[15,95]
te brasileira com quadro de epilepsia e ataxia cerebelar de início enquanto as AECs 15 e 16 são provocadas pela deleção de 48
precoce, cujos achados moleculares revelaram expansão de 850 éxons do gene ITPR1[24]. A inserção de uma única base também já
ATTCT no locus causador de AEC10. Em contrapartida, expan- foi relatada como causadora de AEC11[95], e mutações missense,
sões similares de 850 repetições foram identificadas em seis de oito ou seja, mutações de sentido trocado, em que há substituição de
familiares assintomáticos analisados[94]. um aminoácido por outro, foram relacionadas às AECs 5, 13, 14,
Outra característica importante refere-se a AEC31, na qual 23, 27, 28 e 35[15,31,35,42,96-99] (Quadro 1).
não há necessariamente uma expansão, mas sim uma inserção de Os demais subtipos de ataxias espinocerebelares tiveram seus
2,5 a 3,8kb da repetição TGGAA[40]. Os indivíduos normais para loci mapeados, mas sem identificação de seus respectivos genes
essa mutação não apresentam essa inserção ou se a apresentam, (Quadro 1).
ela é pobre em repetições TGGAA e contém de 1,5 a 2,0kb[40].

Faixa de Penetrância Penetrância Diagnóstico molecular


Ataxia Repetição Normal
incerteza reduzida completa
Como já anteriormente mencionado, as ataxias espinocerebe-
AEC 1 CAG 6 – 38 -- -- 39 – 44
AEC 2 CAG 14 – 31 32 – 34 -- 35 – 500
lares mais frequentes no mundo são ocasionadas pela expansão de
AEC 3/DMJ CAG 11 – 44 45 – 59 -- 61 – 87 um determinado segmento nucleotídico e, portanto, são as mais
AEC 6 CAG 4 – 18 -- 19 20 – 33 globalmente investigadas. Embora o diagnóstico molecular das
AEC 7 CAG 4 – 19 28 – 33 34 – 35 36 – 460 doenças de expansão não implique tratamento definitivo específi-
AEC 17 CAG 25 – 42 -- 43 – 48 49 – 66 co, com ele há esclarecimento do possível prognóstico ao pacien-
ADRPL CAG 6 – 35 -- -- 49 – 93 te e a seus familiares, contribuindo também para o planejamento
AEC 8 CTG 14 – 42 -- 74 – 1000 -- familiar. Os resultados dos testes de DNA, no entanto, podem ter
AEC 10 ATTCT 8 – 32 280 >280 – 850 800 – 4500 impactos ético, social e legal sobre a vida dos sujeitos do teste e de
AEC 12 CAG 4 – 32 40 – 45 -- 51 – 78
suas famílias. Por essas razões, o aconselhamento genético e psico-
AEC 31 TGGAA --/1,5 – 2,0 Kb -- -- I 2,5 – 3,8 Kb
lógico cuidadoso é necessário para os pacientes que se submetem
AEC 36 GGCCTG 3–8 -- -- 1,5 – 2,5 Kb; >10 Kb
aos testes moleculares.
Quadro 3: Intervalos de referência para o número de repetições de oligonucleotídeos nos
loci causadores de ataxia espinocerebelar A metodologia de análise de fragmento em eletroforese de ca-
Abreviaturas – AEC: ataxia espinocerebelar; ADRPL: atrofia dentatorrubropalidoluisia- pilar a partir do produto da reação da cadeia da polimerase (PCR)
na; kb: quilobase; I.: inserção. tem sido utilizada para determinação do número de repetições em
algumas doenças de expansão[100]. Os picos resultantes de alelos nor-
mais do produto da amplificação das reações de PCR convencionais
C. Outras mutações relacionadas às ataxias espinocerebelares
necessitam ser bem definidos, estando ausentes resíduos no fundo
Um grande grupo de ataxias espinocerebelares é atribuível a do eletroferograma (Figura 1). Nos alelos expandidos, são obser-
achados isolados, com apenas algumas famílias identificadas com vados picos em repetição (stutter), ou seja, produtos do deslize da
cada um desses tipos de mutação, fazendo com que sejam dificul- DNA polimerase durante a amplificação, diferindo-se em tamanho

150 151
do alelo principal por um número a mais ou a menos de repetições.
Nesses casos, um pico dominante e evidente deve ser observado em
relação aos outros de acordo com a sua amplitude, sendo este o

Figura 1: Eletroferograma com alelos normais resultantes da amplificação das regiões de interesse dos genes ATXN3 e
pico referencial ao alelo expandido de cada paciente (Figura 2).
Para cada alelo, o tamanho em pares de base fornecido pelo se-
quenciador automático incluiu a repetição característica mais uma
região residual onde ocorre o anelamento dos primers. Assim, o
número de repetições é definido através da subtração do tamanho
fornecido pelo aparelho com a região residual, e dividido pelo nú-
mero de nucleotídeos da unidade de repetição (três, cinco ou seis).

ATXN8, respectivamente.
152
Considerações finais
Embora as ataxias espinocerebelares abranjam um grupo de
desordens lentamente progressivas, na maioria dos casos iniciam-

Figura 2: Eletroferograma com alelos expandidos resultantes da amplificação das regiões de interesse dos genes ATXN1
se em fase produtiva da vida do indivíduo e, além disso, suas ele-
vadas proporções de ocorrência em algumas regiões do mundo le-
vam a um considerável impacto psicológico, familiar e econômico.
Não há, até o momento, tratamentos definidos para as dife-
rentes formas de AECs, existindo, entretanto, medidas paliativas
para a atenuação de alguns sintomas. Assim, o acompanhamento
fisioterapêutico, fonoaudiológico e psicoterápico podem auxiliar
na independência funcional do paciente em suas atividades diárias,

e ATXN7, respectivamente. As setas indicam o pico dominante dentre os picos em stutter.


aliado à melhora da qualidade de vida dos mesmos.
Várias estratégias terapêuticas têm sido buscadas pelos pes-
quisadores para tratamento das doenças de expansão de poliglu-
tamina. Cada etapa relacionada com o possível processo de pato-
gênese tem sido alvo para estudos terapêuticos e entre eles estão a
supressão da expressão do gene mutado por RNA de interferência;
inibição do mau dobramento e agregação da proteína; promoção
da degradação proteica; ativação da transcrição; ativação da fun-
ção mitocondrial; inibição da morte da célula neuronal e neuro-
proteção por fatores neurotróficos e modelos knockout.
Uma vez que a variabilidade fenotípica e a sobreposição clí-
nica têm dificultado o desenvolvimento de um algoritmo clínico
útil para o diagnóstico diferencial de pacientes atáxicos, os testes
moleculares são essenciais para a identificação precisa de um sub-
tipo de AEC. Para tanto, cada laboratório deve definir um painel
apropriado de testes moleculares de acordo com as prioridades
estabelecidas, as quais devem ser adaptadas em relação à taxa de
prevalência ou à frequência relativa dos vários tipos de AECs na
população que servem. Quando não disponíveis, estudos popula-
cionais específicos devem ser incentivados.
Ademais, os laboratórios devem estar cientes de que as rea-
ções de PCR podem não ser capazes de amplificar expansões mui-
to grandes, especialmente em casos de início precoce da doença.

155
Assim, resultados mostrando aparente homozigose para alelos Referências bibliográficas
normais devem ser confirmados através de outros métodos, como
1. KLOCKGETHER, T.; WÜLLNER, U.; SPAUSCHUS, A.;
o Southern blotting ou repeat-primed PCR.
EVERT, B. The molecular biology of the autosomal-dominant ce-
rebellar ataxias. Movement Disorders, Nova Iorque, v. 15, n. 4, p.
604-12, jul. 2000.

2. SCHÖLS, L.; BAUER, P.; SCHMIDT, T.; SCHULTE, T.; RIESS,


O. Autosomal dominant cerebellar ataxias: clinical features, gene-
tics, and pathogenesis. Lancet Neurology, Londres, v. 3, n. 5, p.
291-304, maio 2004.

3. EVIDENTE, V.; GWINN-HARDY, K.; CAVINESS, J.; GIL-


MAN, S. Hereditary ataxias. Mayo Clinic Proceedings, Rochester,
v. 75, n. 5, p. 475-90, maio 2000.

4. MARGOLIS, R. The spinocerebellar ataxias: order emerges


from chaos. Current Neurology and Neuroscience Reports, Fila-
délfia,v. 2, n. 5, p. 447-56, set. 2002.

5. KOOB, M.; MOSELEY, M.; SCHUT, L.; BENZOW, K.; BIRD,


T.; DAY, J. et al. An untranslated CTG expansion causes a novel
form of spinocerebellar ataxia (SCA8). Nature Genetics, Londres,
v. 21, n. 2, p. 37984, abr. 1999.

6. SCHÖLS, L.; AMOIRIDIS, G.; BÜTTNER, T.; PRZUNTEK,


H.; EPPLEN, J.; RIESS, O. Autosomal dominant cerebellar ataxia:
phenotypic differences in genetically defined subtypes? Annals of
Neurology, Boston, v. 42, n. 6, p. 924-32, dez. 1997.

7. ALBIN, R. Dominant ataxias and Friedreich ataxia: an upda-


te. Current Opinion in Neurology, Londres, v. 16, n. 4, p. 507-14,
ago. 2003.

8. BÜRK, K.; ABELE, M.; FETTER, M.; DICHGANS, J.; SKALEJ,


M.; LACCONE, F. et al. Autosomal dominant cerebellar ataxia
type I clinical features and MRI in families with SCA1, SCA2 and

156 157
SCA3. Brain, Oxford, v. 119, n. 5, p. 1497-505, out. 1996. ARMBRUST, K.; DALTON, J. et al. Spectrin mutations cause spi-
nocerebellar ataxia type 5. Nature Genetics, Londres, v. 38, n. 2, p.
9. ORR, H.; CHUNG, M.; BANFI, S.; KWIATKOWSKI, T.J.; 184-90, fev. 2006.
SERVADIO, A.; BEAUDET, A. et al. Expansion of an unstable tri-
nucleotide CAG repeat in spinocerebellar ataxia type 1. Nature 16. ZHUCHENKO, O.; BAILEY, J.; BONNEN, P.; ASHIZAWA,
Genetics, Londres, v. 4, n. 3, p. 221-6, jul. 1993. T.; STOCKTON, D.; AMOS, C. et al. Autosomal dominant cere-
bellar ataxia (SCA6) associated with small polyglutamine expan-
10. IMBERT, G.; SAUDOU, F.; YVERT, G.; DEVYS, D.; TROT- sions in the alpha 1A-voltage-dependent calcium channel. Nature
TIER, Y.; GARNIER, J. et al. Cloning of the gene for spinocere- Genetics, Londres, v. 15, n. 1, p. 62-9, jan. 1997.
bellar ataxia 2 reveals a locus with high sensitivity to expanded
CAG/glutamine repeats. Nature Genetics, Londres, v. 14, n. 3, p. 17. DAVID, G.; ABBAS, N.; STEVANIN, G.; DÜRR, A.; YVERT,
285-91, nov. 1996. G.; CANCEL, G. et al. Cloning of the SCA7 gene reveals a highly
unstable CAG repeat expansion. Nature Genetics, Londres, v. 17,
11. PULST, S.; NECHIPORUK, A.; NECHIPORUK, T.; GISPERT, n. 1, p. 65-70, set. 1997.
S.; CHEN, X.; LOPES-CENDES, I. et al. Moderate expansion of
a normally biallelic trinucleotide repeat in spinocerebellar ataxia 18. MATSUURA, T.; YAMAGATA, T.; BURGESS, D.; RASMUS-
type 2. Nature Genetics, Londres, v. 14, n. 3, p. 269-76, nov. 1996. SEN, A.:, GREWAL, R.; WATASE, K. et al. Large expansion of the
ATTCT pentanucleotide repeat in spinocerebellar ataxia type 10.
12. SANPEI, K.; TAKANO, H.; IGARASHI, S.; SATO, T.; OYAKE, Nature Genetics, Londres, v. 26, n. 2, p. 191-4, out. 2000.
M.; SASAKI, H. et al. Identification of the spinocerebellar ataxia
type 2 gene using a direct identification of repeat expansion and 19. WORTH, P.; GIUNTI, P.; GARDNER-THORPE, C.; DIXON,
cloning technique, DIRECT. Nature Genetics, Londres, v. 14, n. 3, P.; DAVIS, M.; WOOD, N. Autosomal dominant cerebellar ataxia
p. 277-84, nov. 1996. type III: linkage in a large British family to a 7.6-cM region on
chromosome 15q14-21.3. American Journal of Human Genetics,
13. KAWAGUCHI, Y.; OKAMOTO, T.; TANIWAKI, M.; AIZAWA, Chicago, v. 65, n. 2, p. 420-6, ago. 1999.
M.; INOUE, M.; KATAYAMA, S. et al. CAG expansions in a novel
gene for Machado-Joseph disease at chromosome 14q32.1. Natu- 20. HOLMES, S.; O’HEARN, E.; MCINNIS, M.; GORELICK-
re Genetics, Londres, v. 8, n. 3, p. 221-8, nov. 1994. FELDMAN, D.; KLEIDERLEIN, J.; CALLAHAN, C. et al. Ex-
pansion of a novel CAG trinucleotide repeat in the 5’ region of
14. FLANIGAN, K.; GARDNER, K.; ALDERSON, K.; GALSTER, PPP2R2B is associated with SCA12. Nature Genetics, Londres, v.
B.; OTTERUD, B.; LEPPERT, M. et al. Autosomal dominant spi- 23, n. 4, p. 391-2, dez. 1999.
nocerebellar ataxia with sensory axonal neuropathy (SCA4): clini-
cal description and genetic localization to chromosome 16q22.1. 21. WATERS, M.; MINASSIAN, N.; STEVANIN, G.; FIGUEROA,
American Journal of Human Genetics, Chicago, v. 59, n. 2, p. 392- K.; BANNISTER, J.; NOLTE, D. et al. Mutations in voltage-gated
9, ago. 1996. potassium channel KCNC3 cause degenerative and developmental
central nervous system phenotypes. Nature Genetics, Londres, v.
15. IKEDA, Y.; DICK, K.; WEATHERSPOON, M.; GINCEL, D.; 38, n. 4, p. 447-51, abr. 2006.

158 159
22. CHEN, D.; BRKANAC, Z.; VERLINDE, C.; TAN, X.; BYLE- 29. VUILLAUME, I.; DEVOS, D.; SCHRAEN-MASCHKE, S.;
NOK, L.; NOCHLIN, D. et al. Missense mutations in the regula- DINA, C.; LEMAINQUE, A.; VASSEUR, F. et al. A new locus for
tory domain of PKC gamma: a new mechanism for dominant no- spinocerebellar ataxia (SCA21) maps to chromosome 7p21.3-p15.1.
nepisodic cerebellar ataxia. American Journal of Human Genetics, Annals of Neurology, Boston, v. 52, n. 5, p. 666-70, nov. 2002.
Chicago, v. 72, n. 4, p. 839-49, abr. 2003.
30. CHUNG, M.; LU, Y.; CHENG, N.; SOONG, B. A novel auto-
23. LEEMPUT, J van de; CHANDRAN, J.; KNIGHT, M.; HOLT- somal dominant spinocerebellar ataxia (SCA22) linked to chromo-
ZCLAW, L.; SCHOLZ, S.; COOKSON, M. et al. Deletion at ITPR1 some 1p21-q23. Brain, Oxford, v. 126, n. 6, p. 1293-9, jun. 2003.
underlies ataxia in mice and spinocerebellar ataxia 15 in humans.
PLoS Genetic, San Francisco, v. 3, n. 6, p. e108, jun. 2007. 31. VERBEEK, D.; WARRENBURG, B. van de; WESSELING, P.;
PEARSON, P.; KREMER, H.; SINKE, R. Mapping of the SCA23
24. IWAKI, A.; KAWANO, Y.; MIURA, S.; SHIBATA, H.; MAT- locus involved in autosomal dominant cerebellar ataxia to chro-
SUSE, D.; LI, W. et al. Heterozygous deletion of ITPR1, but not mosome region 20p13-12.3. Brain, Oxford, v. 127, n; 11, p. 2551-
SUMF1, in spinocerebellar ataxia type 16. Journal of Medical Ge- 7. nov. 2004.
netics, Londres, v. 45, n. 1, p. 32-5, jan. 2008.
32. SWARTZ, B.; BURMEISTER, M.; SOMERS, J.; ROTTACH,
25. NAKAMURA, K.; JEONG, S.; UCHIHARA, T.; ANNO, M.; K.; BESPALOVA, I.; LEIGH, R. A form of inherited cerebellar
NAGASHIMA, K.; NAGASHIMA, T. et al. SCA17, a novel auto- ataxia with saccadic intrusions, increased saccadic speed, sensory
somal dominant cerebellar ataxia caused by an expanded poly- neuropathy, and myoclonus. Annals of the New York Academy of
glutamine in TATA-binding protein. Human Molecular Genetics, Sciences, Nova Iorque, v. 956, p. 441-4, abr. 2002.
Oxford, v. 10, n. 14, p. 1441-8, jul. 2001.
33. STEVANIN, G.; BROUSSOLLE, E.; STREICHENBERGER,
26. DEVOS, D.; SCHRAEN-MASCHKE, S.; VUILLAUME, I.; N.; KOPP, N.; BRICE, A.; DURR, A. Spinocerebellar ataxia with
DUJARDIN, K.; NAZÉ, P.; WILLOTEAUX, C. et al. Clinical fea- sensory neuropathy (SCA25). Cerebellum, Dordrecht, v. 4, n. 1, p.
tures and genetic analysis of a new form of spinocerebellar ataxia. 58-61, 2005.
Neurology, Cleveland, v. 56, n. 2, p. 234-8, jan. 2001.
34. YU, G.; HOWELL, M.; ROLLER, M.; XIE, T.; GOMEZ, C.
27. VERBEEK, D.; SCHELHAAS, J.; IPPEL, E.; BEEMER, F.; PE- Spinocerebellar ataxia type 26 maps to chromosome 19p13.3 ad-
ARSON, P.; SINKE, R. Identification of a novel SCA locus (SCA19) jacent to SCA6. Annals of Neurology, Boston, v. 57, v. 3, p. 349-
in a Dutch autosomal dominant cerebellar ataxia family on chro- 54, mar. 2005.
mosome region 1p21-q21. Human Genetics, Berlim, v. 111, n. 4-5,
p. 388-93, out. 2002. 35. SWIETEN J. van; BRUSSE, E.; GRAAF, B., de; KRIEGER, E.;
GRAAF, R. van de; KONING, I. de et al. A mutation in the fi-
28. KNIGHT, M.; GARDNER, R.; BAHLO, M.; MATSUURA, T.; broblast growth factor 14 gene is associated with autosomal do-
DIXON, J.; FORREST, S. et al. Dominantly inherited ataxia and minant cerebellar ataxia [corrected]. American Journal of Human
dysphonia with dentate calcification: spinocerebellar ataxia type Genetics, Chicago, v. 72, n .1, p. 191-9, jan. 2003.
20. Brain, Oxford, v. 125, n. 5, p. 1172-81, maio 2004.

160 161
36. CAGNOLI, C.; MARIOTTI, C.; TARONI, F.; SERI, M.; MI, T.; AKECHI, Y. et al. Expansion of intronic GGCCTG hexanu-
BRUSSINO, A.; MICHIELOTTO, C. et al. SCA28, a novel form cleotide repeat in NOP56 causes SCA36, a type of spinocerebellar
of autosomal dominant cerebellar ataxia on chromosome 18p11. ataxia accompanied by motor neuron involvement. American Jour-
22-q11.2. Brain, Oxford, v. 129, n. 1, p. 235-42, jan. 2006. nal of Human Genetics, Chicago, v. 89, n. 1, p. 121-30, jul. 2011.

37. BELLA D. di; LAZZARO, F.; BRUSCO, A.; PLUMARI, M.; 44. KOIDE, R.; IKEUCHI, T.; ONODERA, O.; TANAKA, H.;
BATTAGLIA, G.; PASTORE, A. et al. Mutations in the mitochon- IGARASHI, S.; ENDO, K. et al. Unstable expansion of CAG re-
drial protease gene AFG3L2 cause dominant hereditary ataxia peat in hereditary dentatorubral-pallidoluysian atrophy (DRPLA).
SCA28. Nature Genetics, Londres, v. 42, n. 4, p. 313-21, abr. 2010. Nature Genetics, Londres, v. 6, n. 1, p. 9-13, jan. 1994.

38. DUDDING, T.; FRIEND, K.; SCHOFIELD, P.; LEE, S.; 45. MOSELEY, M.; BENZOW, K.; SCHUT, L.; BIRD, T.; GO-
WILKINSON, I.; RICHARDS, R. Autosomal dominant congenital MEZ, C.; BARKHAUS, P. et al. Incidence of dominant spinoce-
non-progressive ataxia overlaps with the SCA15 locus. Neurology, rebellar and Friedreich triplet repeats among 361 ataxia families.
Cleveland, v. 63, n. 12, p. 2288-92, dez. 2004. Neurology, Cleveland, v. 51, n. 6, p. 1666-71, dez. 1998.

39. STOREY, E.; BAHLO, M.; FAHEY, M.; SISSON, O.; LUECK, 46. SILVEIRA, I.; LOPES-CENDES, I.; KISH, S.; MACIEL, P.;
C.; GARDNER, R. A new dominantly inherited pure cerebellar GASPAR, C.; COUTINHO, P. et al. Frequency of spinocerebellar
ataxia, SCA 30. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychia- ataxia type 1, dentatorubropallidoluysian atrophy, and Machado-
try, Londres, v. 80, n. 4, p. 408-11, abr. 2009. Joseph disease mutations in a large group of spinocerebellar ataxia
patients. Neurology, Cleveland, v. 46, n. 1, p. 214-8, jan. 1996.
40. SATO, N.; AMINO, T.; KOBAYASHI, K.; ASAKAWA, S.; ISHI-
GURO, T.; TSUNEMI, T. et al. Spinocerebellar ataxia type 31 is 47. WARRENBURG, B. P. van de; SINKE, R. J.; VERSCHUUREN
associated with “inserted” penta-nucleotide repeats containing -BEMELMANS, C. C.; SCHEFFER, H.; BRUNT, E. R.; IPPEL, P.
(TGGAA)n. American Journal of Human Genetics, Chicago, v. 85, F. et al. Spinocerebellar ataxias in the Netherlands: prevalence and
n. 5, p. 544-57, nov. 2009. age at onset variance analysis. Neurology, Cleveland, v. 58, n. 5, p.
702-8, mar. 2002.
41. JIANG, H.; ZHU, H P.; GOMEZ, C. M. SCA32: an autosomal
dominant cerebellar ataxia with azoospermia maps to chromoso- 48. STEVANIN, G.; CANCEL, G.; DIDIERJEAN, O.; DÜRR, A.;
me 7q32-q33 (Abstract). Movement Disorders, Nova Iorque, v. 25, ABBAS, N.; CASSA, E. et al. Linkage disequilibrium at the Ma-
s. S, p. 192, 2010. chado-Joseph disease/spinal cerebellar ataxia 3 locus: evidence
for a common founder effect in French and Portuguese-Brazilian
42. WANG, J.L.; YANG, X.; XIA, K.; HU, Z.M.; WENG, L.; JIN, families as well as a second ancestral Portuguese-Azorean muta-
X. et al. TGM6 identified as a novel causative gene of spinocere- tion. American Journal of Human Genetics, Chicago, v. 57, n. 5, p.
bellar ataxias using exome sequencing. Brain, Oxford, v. 133, n. 1247-50, nov. 1995.
12, p. 3510-8, dez. 2010.
49. TAKIYAMA, Y.; IGARASHI, S.; ROGAEVA, E.; ENDO, K.;
43. KOBAYASHI, H.; ABE, K.; MATSUURA, T.; IKEDA, Y.; HITO- ROGAEV, E.; TANAKA, H. et al. Evidence for inter-generational

162 163
instability in the CAG repeat in the MJD1 gene and for conserved 57. MARTINS, S.; CALAFELL, F.; GASPAR, C.; WONG, V.C.;
haplotypes at flanking markers amongst Japanese and Caucasian SILVEIRA, I.; NICHOLSON, G. A. et al. Asian origin for the worl-
subjects with Machado-Joseph disease. Human Molecular Geneti- dwide-spread mutational event in Machado-Joseph disease. Archi-
cs, Oxford, v. 4, n. 7, p. 1137-46, jul. 1995. ves of Neurology, Chicago, v. 64, n. 10, p. 1502-8, out. 2007.

50. JOHANSSON, J.; FORSGREN, L.; SANDGREN, O.; BRICE, 58. TEIVE, H.; ROA, B.; RASKIN, S.; FANG, P.; ARRUDA, W.;
A.; HOLMGREN, G.; HOLMBERG, M. Expanded CAG repeats NETO, Y. et al. Clinical phenotype of Brazilian families with spi-
in Swedish spinocerebellar ataxia type 7 (SCA7) patients: effect of nocerebellar ataxia 10. Neurology, Cleveland, v. 63, n. 8, p. 1509-
CAG repeat length on the clinical manifestation. Human Molecu- 12, out. 2004.
lar Genetics, Oxford, v. 7, n. 2, p. 171-6, fev. 1998.
59. TEIVE, H. A.; MUNHOZ, R. P.; RASKIN, S.; WERNECK, L.
51. MATSUURA, T.; RANUM, L.; VOLPINI, V.; PANDOLFO, C. Spinocerebellar ataxia type 6 in Brazil. Arquivos de Neuropsi-
M.; SASAKI, H.; TASHIRO, K. et al. Spinocerebellar ataxia type quiatria, São Paulo, v. 66, n. 3B, p. 691-4, set. 2008.
10 is rare in populations other than Mexicans. Neurology, Cleve-
land, v. 58, n. 6, p. 983-4, mar. 2002. 60. JARDIM, L.; SILVEIRA, I.; PEREIRA, M.; FERRO, A.; ALON-
SO, I.; MOREIRA M. do C. et al. A survey of spinocerebellar ata-
52. DURR, A. Autosomal dominant cerebellar ataxias: polygluta- xia in South Brazil – 66 new cases with Machado-Joseph disease,
mine expansions and beyond. Lancet Neurology, Londres, v. 9, n. SCA7, SCA8, or unidentified disease-causing mutations. Journal of
9, p. 885-94, set. 2010. Neurology, Berlim, v. 248, n. 10, p. 870-6, out. 2001.

53. NAKANO, K. K.; DAWSON, D. M.; SPENCE, A. Machado 61. TROTT, A.; JARDIM, L.; LUDWIG, H.; SAUTE, J.; ARTIGA-
disease. A hereditary ataxia in Portuguese emigrants to Massachu- LÁS, O.; KIELING, C. et al. Spinocerebellar ataxias in 114 Bra-
setts. Neurology, Cleveland, v. 22, n. 1, p. 49-55, jan. 1972 zilian families: clinical and molecular findings. Clinical Genetics,
Copenhague, v. 70, n. 2, p. 173-6, ago. 2006.
54. WOODS, B. T.; SCHAUMBURG, H. H. Nigro-spino-dentatal
degeneration with nuclear ophthalmoplegia. A unique and par- 62. LOPES-CENDES, I.; TEIVE, H.; CALCAGNOTTO, M.; COS-
tially treatable clinico-pathological entity. Journal of the Neurolo- TA, J. da; CARDOSO, F.; VIANA, E. et al. Frequency of the diffe-
gical Sciences, Amsterdã, v. 17, n. 2, p. 149-66, out. 1972. rent mutations causing spinocerebellar ataxia (SCA1, SCA2, MJD/
SCA3 and DRPLA) in a large group of Brazilian patients. Arquivos
55. ROSENBERG, R. N.; NYHAN, W. L.; BAY, C.; SHORE, P. de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 55, n. 3B, p. 519-29, 1997.
Autosomal dominant striatonigral degeneration. A clinical, patho-
logic, and biochemical study of a new genetic disorder. Neurology, 63. LINHARES, S. A. C.; HORTA, W. G.; CUNHA, F. M.; CAS-
Cleveland, v. 26, n. 8, p. 703-14, ago. 1976. TRO, J. D.; SANTOS, A. C.; MARQUES, W. Spastic paraparesis as
the onset manifestation of spinocerebellar ataxia type 7. Arquivos
56. SEQUEIROS, J.; COUTINHO, P. Epidemiology and clinical de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 66, n. 2A, p. 246-8, jun. 2008.
aspects of Machado-Joseph disease. Advances in Neurology, Nova
Iorque, v. 61, p. 139-53, 1993. 64. WADIA, N. H.; SWAMI, R. K. A new form of heredo-familial

164 165
spinocerebellar degeneration with slow eye movements (nine fami- 72. MARIOTTI, C.; ALPINI, D.; FANCELLU, R.; SOLIVERI, P.;
lies). Brain, Oxford, v. 94, n. 2, p. 359-74, 1971. GRISOLI, M.; RAVAGLIA, S. et al. Spinocerebellar ataxia type 17
(SCA17): oculomotor phenotype and clinical characterization of
65. DAY, J. W.; SCHUT, L. J.; MOSELEY, M. L.; DURAND, A. C.; 15 Italian patients. Journal of Neurology, Berlim, v. 254, n. 11, p.
RANUM, L. P. Spinocerebellar ataxia type 8: clinical features in a 1538-46, nov. 2007.
large family. Neurology, Cleveland, v. 55, n. 5, p. 649-57, set. 2000.
73. SHIMOJO, Y.; OSAWA, Y.; FUKUMIZU, M.; HANAOKA,
66. IKEDA, Y.; SHIZUKA, M.; WATANABE, M.; OKAMOTO, S.; TANAKA, H.; OGATA, F. et al. Severe infantile dentatorubral
K.; SHOJI, M. Molecular and clinical analyses of spinocerebellar pallidoluysian atrophy with extreme expansion of CAG repeats.
ataxia type 8 in Japan. Neurology, Cleveland, v. 54, n. 4, p. 950-5, Neurology, Cleveland, v. 56, n. 2, p. 277-8, 23 jan. 2001.
fev. 2000.
74. FARMER, T. W.; WINGFIELD, M. S.; LYNCH, S. A.; VOGEL, F.
67. JUVONEN, V.; HIETALA, M.; PÄIVÄRINTA, M.; RAN- S.; HULETTE, C.; KATCHINOFF, B. et al. Ataxia, chorea, seizures,
TAMÄKI, M.; HAKAMIES, L.; KAAKKOLA, S. et al. Clinical and and dementia. Pathologic features of a newly defined familial disor-
genetic findings in Finnish ataxia patients with the spinocerebellar der. Archives of Neurology, Chicago, v. 46, n. 7, p. 774-9, jul. 1989.
ataxia 8 repeat expansion. Annals of Neurology, Boston, v. 48, n.
3, p. 354-61, set. 2000. 75. TEIVE, H. A. Spinocerebellar ataxias (Review). Arquivos de
neuropsiquiatria, São Paulo, v. 67, n. 4, p. 1133-42, dez. 2009.
68. MATSUURA, T.; ACHARI, M.; KHAJAVI, M.; BACHINSKI,
L. L.; ZOGHBI, H. Y.; ASHIZAWA, T. Mapping of the gene for 76. RICHARDS, R.; SUTHERLAND, G. Dynamic mutations: a
a novel spinocerebellar ataxia with pure cerebellar signs and epi- new class of mutations causing human disease. Cell, Cambridge, v.
lepsy. Annals of Neurology, Boston, v. 45, n. 3, p. 407-11, mar. 70, n. 5, p. 709-12, set. 1992.
1999.
77. DEKA, R.; GUANGYUN, S.; SMELSER, D.; ZHONG, Y.;
69. ZU, L.; FIGUEROA, K. P.; GREWAL, R.; PULST, S. M. Ma- KIMMEL, M.; CHAKRABORTY, R. Rate and directionality of
pping of a new autosomal dominant spinocerebellar ataxia to mutations and effects of allele size constraints at anonymous, ge-
chromosome 22. American Journal of Human Genetics, Chicago, ne-associated, and disease-causing trinucleotide loci. Molecular
v. 64, n. 2, p. 594-9, fev. 1999. Biology and Evolution, Oxford, v. 16, n. 9, p. 1166-77, set. 1999.

70. RASMUSSEN, A.; MATSUURA, T.; RUANO, L.; YESCAS, P.; 78. TAKIYAMA, Y.; SAKOE, K.; AMAIKE, M.; SOUTOME, M.;
OCHOA, A.; ASHIZAWA, T. et al. Clinical and genetic analysis of OGAWA, T.; NAKANO, I. et al. Single sperm analysis of the CAG
four Mexican families with spinocerebellar ataxia type 10. Annals repeats in the gene for dentatorubral-pallidoluysian atrophy (DR-
of Neurology, Boston, v. 50, n. 2, p. 234-9, ago. 2001. PLA): the instability of the CAG repeats in the DRPLA gene is
prominent among the CAG repeat diseases. Human Molecular Ge-
71. DÖHLINGER, S.; HAUSER, T. K.; BORKERT, J.; LUFT, A. netics, Oxford, v. 8, n. 3, p. 453-7, mar. 1999.
R.; SCHULZ, J. B. Magnetic resonance imaging in spinocerebellar
ataxias. Cerebellum, Dordrecht, v. 7, n. 2, p. 204-14, 2008. 79. KAMEYA, T.; ABE, K.; AOKI, M.; SAHARA, M.; TOBITA,

166 167
M.; KONNO, H. et al. Analysis of spinocerebellar ataxia type 1 88. TODD, P. K.; PAULSON, H. L. RNA-mediated neurodegenera-
(SCA1)-related CAG trinucleotide expansion in Japan. Neurology, tion in repeat expansion disorders. Annals of Neurology, Boston,
Cleveland, v. 45, n. 8, p. 1597-94, ago. 1995. v. 67, n. 3, p. 291-300, mar. 2010.

80. MACIEL, P.; LOPES-CENDES, I.; KISH, S.; SEQUEIROS, J.; 89. JUVONEN, V.; HIETALA, M.; KAIRISTO, V.; SAVONTAUS,
ROULEAU, G. Mosaicism of the CAG repeat in CNS tissue in re- M. L. The occurrence of dominant spinocerebellar ataxias among
lation to age at death in spinocerebellar ataxia type 1 and Macha- 251 Finnish ataxia patients and the role of predisposing large nor-
do-Joseph disease patients. American Journal of Human Genetics, mal alleles in a genetically isolated population. ACTA Neurologica
Chicago, v. 60, n. 4, p. 993-6, abr. 1997. Scandinavica, Copenhague, v. 111, n. 3, p. 154-62, mar. 2005.

81. STEVANIN, G.; DÜRR, A.; BRICE, A. Clinical and molecular 90. SCHÖLS, L.; BAUER, I.; ZÜHLKE, C.; SCHULTE, T.; KÖL-
advances in autosomal dominant cerebellar ataxias: from geno- MEL, C.; BÜRK, K. et al. Do CTG expansions at the SCA8 locus
type to phenotype and physiopathology. European Journal of Hu- cause ataxia? Annals of Neurology, Boston, v. 54, n. 1, p. 110-5,
man Genetics, Londres, v. 8, n. 1, p. 4-18, jan. 2000. jul. 2003.

82. BROUWER, J. R.; WILLEMSEN, R.; OOSTRA, B. A. Mi- 91. BRUSCO, A.; CAGNOLI, C.; FRANCO, A.; DRAGONE, E.;
crosatellite repeat instability and neurological disease. Bioessays, NARDACCHIONE, A.; GROSSO, E. et al. Analysis of SCA8 and
Cambridge, v. 31, n. 1, p. 71-83, jan. 2009. SCA12 loci in 134 Italian ataxic patients negative for SCA1-3, 6
and 7 CAG expansions. Journal of Neurology, Berlim, v. 249, n. 7,
83. MIRKIN, S. M. Expandable DNA repeats and human disease. p. 923-9, jul. 2002.
Nature, Londres, v. 447, n. 7147, p. 932-40, jun. 2007.
92. SEQUEIROS, J.; MARTINDALE, J.; SENECA, S.; GIUNTI, P.;
84. ORR, H. T.; ZOGHBI, H. Y. Trinucleotide repeat disorders. KAMARAINEN, O.; VOLPINI, V. et al. EMQN Best Practice Gui-
Annual Review of Neuroscience, Palo Alto, v. 30, p. 575-621, 2007. delines for molecular genetic testing of SCAs. European Journal of
Human Genetics, Londres, v. 18, n. 11, p. 1173-6, nov. 2010.
85. SEQUEIROS, J.; SENECA, S.; MARTINDALE, J. Consensus
and controversies in best practices for molecular genetic testing 93. SEQUEIROS, J.; SENECA, S.; MARTINDALE, J. Consensus
of spinocerebellar ataxias. European Journal of Human Genetics, and controversies in best practices for molecular genetic testing
Londres, fev. 2010. of spinocerebellar ataxias. European Journal of Human Genetics,
Londres, v. 18, n. 11, p. 1188-95, nov. 2010.
86. PRICE, D. L.; SISODIA, S. S.; BORCHELT, D. R. Genetic neu-
rodegenerative diseases: the human illness and transgenic models. 94. RASKIN, S.; ASHIZAWA, T.; TEIVE, H. A.; ARRUDA, W. O.;
Science, Cambridge, v. 282, n. 5391, p. 1079-83, 1998. FANG, P.; GAO, R. et al. Reduced penetrance in a Brazilian family
with spinocerebellar ataxia type 10. Archives of Neurology, Chi-
87. SOONG, B. W,; PAULSON, H. L. Spinocerebellar ataxias: an
cago, v. 64, n. 4, p. 591-4, abr. 2007.
update. Current Opinion in Neurology, Londres, v. 20, n. 4, p.
438-46, 2007. 95. HOULDEN, H.; JOHNSON, J.; GARDNER-THORPE, C.;

168 169
LASHLEY, T.; HERNANDEZ, D.; WORTH, P. et al. Mutations sobre os autores
in TTBK2, encoding a kinase implicated in tau phosphorylation,
segregate with spinocerebellar ataxia type 11. Nature Genetics,
Londres, v. 39, n. 12, p. 1434-6, dez. 2007. Vívian Pedigone Cintra

96. HERMAN-BERT, A.; STEVANIN, G.; NETTER, J.C.; RAS- Possui graduação em Biomedicina pela Universidade de Fran-
COL, O.; BRASSAT, D.; CALVAS, P. et al. Mapping of spinocere- ca (2006), mestrado (2012) e doutorado em andamento em Medi-
bellar ataxia 13 to chromosome 19q13.3-q13.4 in a family with cina com ênfase em Neurociências, pela Universidade de São Paulo.
autosomal dominant cerebellar ataxia and mental retardation. Atua principalmente no estudo molecular das ataxias hereditárias.
American Journal of Human Genetics, Chicago, v. 67, n. 1, p. 229- http://lattes.cnpq.br/2302197785955959
35, jul. 2000.

97. STEVANIN, G.; HAHN, V.; LOHMANN, E.; BOUSLAM, N.; Wilson Marques Junior
GOUTTARD, M.; SOUMPHONPHAKDY, C. et al. Mutation in Possui graduação em Medicina (1983) pela Faculdade de Me-
the catalytic domain of protein kinase C gamma and extension dicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/
of the phenotype associated with spinocerebellar ataxia type 14. USP), mestrado em Medicina com ênfase em Neurologia (1988) e
Archives of Neurology, Chicago, v. 61, n. 8, p. 1242-8, ago. 2004. doutorado em Medicina com ênfase em Neurologia (1994), ambos
também pela USP, e pós-doutorado em Neurologia (1997) pelo
98. BAKALKIN, G.; WATANABE, H.; JEZIERSKA, J.; DEPO- Institute of Neurology da London University. Atualmente é Profes-
ORTER, C.; VERSCHUUREN-BEMELMANS, C.; BAZOV, I. et sor Associado da USP e Chefe do Departamento de Neurociências
al. Prodynorphin mutations cause the neurodegenerative disorder e Ciências do Comportamento. Tem experiência na área de Medi-
spinocerebellar ataxia type 23. American Journal of Human Gene- cina, com ênfase em Neurologia, atuando principalmente nos se-
tics, Chicago, v. 87, n. 5, p. 593-603, nov. 2010. guintes temas: neurofisiologia clínica (eletromiografia) e neuropa-
99. CAGNOLI, C.; STEVANIN, G.; BRUSSINO, A.; BARBERIS, tias periféricas, com especial ênfase na neuropatia da moléstia de
M.; MANCINI, C.; MARGOLIS, R. L. et al. Missense mutations Hansen e nas neuropatias hereditárias, incluindo aspectos clínicos,
in the AFG3L2 proteolytic domain account for ∼1.5% of Euro- diagnósticos e biologia molecular.
pean autosomal dominant cerebellar ataxias. Human Mutation, http://lattes.cnpq.br/1453957198527855
Nova Iorque, v. 31, n. 10, p. 1117-24, out. 2010.

100. LE, H.; FUNG, D.; TRENT, R. J. Applications of capillary


electrophoresis in DNA mutation analysis of genetic disorders.
Molecular Pathology, Cidade, v. 50, n. 5, p. 261-5, out. 1997. [Re-
search Support, Non-U.S. Gov’t].

170 171
Neurofisiologia clínica
da doença de Parkinson
Otávio Gomes Lins
Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano
Amdore Asano
Isabella Araújo Mota
José Sérgio Tomaz de Souza
Luciana Rodrigues Belo
Marcelo Ataíde de Lima
Departamento de Neuropsiquiatria/Universidade Federal de Pernambuco

A
doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerati-
va de caráter progressivo que acomete indivíduos de todas
as raças, sexo e classes sociais, sobretudo acima dos 50
anos de idade. Foi descrita pela primeira vez em 1817 por James
Parkinson, em sua monografia intitulada An Essay on the Shaking
Palsy, na qual seu diagnóstico foi baseado em apenas aspectos clí-
nicos, principalmente as manifestações motoras.
Até o presente momento, o diagnóstico da DP é ainda feito por
critérios eminentemente clínicos, ou seja, pela presença de pelo me-
nos dois sinais motores cardinais: bradicinesia, tremor de repouso,
rigidez e alteração da postura e do equilíbrio. Não existe ainda um
marcador biológico para o diagnóstico da doença; portanto, os
exames complementares são utilizados para excluir outras patolo-
gias que poderiam mimetizar um quadro clínico semelhante à DP
e para melhor caracterizar e monitorizar os sintomas da doença.
A bradicinesia é o sinal mais característico da DP, manifes-
tada por diminuição dos movimentos voluntários e automáticos
de todo o corpo, comprometendo os movimentos finos das mãos,

173
a expressão facial e o piscar dos olhos, o balançar dos membros depressão, ansiedade e fadiga não foram identificadas em mais de
superiores ao andar e a marcha em bloco com passos curtos. 50% das consultas, e os transtornos do sono em mais de 40% dos
O tremor de repouso é o que mais chama atenção dos pa- pacientes com DP[2]. Os sintomas não motores podem ocorrer du-
cientes e dos profissionais da área de saúde, sendo mais evidente rante todo o curso da doença; alguns surgem no início da doença
na parte distal das extremidades, principalmente nos dedos das (fase pré-motora), porém aumentam de frequência e intensidade ao
mãos, causando movimentos semelhantes “a contar dinheiro”, ge- longo da evolução da doença. Eles podem ser tão incapacitantes
ralmente com frequência que varia de 4 a 6Hz, podendo ainda ser quanto os sinais motores, como o caso da depressão e os transtor-
observados nos pés, queixo e na cabeça. nos do sono que influenciam na qualidade de vida dos pacientes[3].
A rigidez muscular pode afetar todo o corpo, porém é mais vi- Na DP, há uma redução dos níveis da dopamina na parte com-
sível nas extremidades. Existe uma resistência ao movimento pas- pacta da substância negra. A alteração patológica característica
sivo durante todo o movimento do segmento examinado, dando a é a presença de inclusões intraneuronais contendo α-sinucleína,
impressão de um cano de chumbo. representadas sob as formas de corpúsculos e neurites de Lewy.
A alteração da postura e do equilíbrio pode ser observada Um importante estudo realizado por Braak et al.[4] correlacionou
na posição ortostática, em que o paciente assume uma postura a distribuição topográfica da alteração patológica com a evolução
inclinada para frente, pela instabilidade de se manter em pé, com temporal da sintomatologia da doença. Esses autores definiram a
tendência a quedas frequentes. evolução da DP em seis estádios: o estádio 1 envolve as estruturas
Além dos sinais motores cardinais, outras manifestações mo- olfativa anterior e o núcleo motor dorsal do vago (bulbo inferior),
toras podem estar presentes, como a disartria, disfagia e hipofonia, que estariam relacionados com a redução da olfação e com a dis-
que podem ser resultado da bradicinesia, e rigidez nas musculatu- função autonômica, particularmente gastrointestinal da fase pré-
ras da face, orofaringe e laringe[1]. Embora os sinais motores car- motora da DP. O estádio 2 envolve os núcleos coerulei, núcleo da
dinais sejam utilizados para o diagnóstico da DP, os sintomas não rafe mediana e a formação reticular, porém confinados ao bulbo e
motores são importantes, pela possibilidade de ocorrer durante ao tegmentopontino. Nesta fase, os sintomas estariam correlaciona-
todo o curso da doença, por diminuir a qualidade de vida e preci- dos ao distúrbio comportamental do sono REM e aos transtornos
pitar a hospitalização. Os sintomas não motores já foram reconhe- afetivos. Nos estádios 3 e 4, a substância negra (parte compacta) é
cidos por James Parkinson, descritos em sua monografia, como: afetada; é quando surgem os sinais motores. Nos estádios avança-
transtorno do sono, constipação intestinal, incontinência urinária dos da doença[3,4], as alterações patológicas atingem o neocórtex[5].
e sonolência com leve delírio. Posteriormente, outros sintomas não Portanto, além do sistema dopaminérgico, outros sistemas de
motores foram mais detalhadamente descritos por diversos auto- neurotransmissores estão comprometidos na DP, incluindo o se-
res, representados principalmente pelas disfunções autonômicas, rotoninérgico, noradrenérgico e colinérgico. Essas alterações es-
queixas sensitivas, transtornos neuropsiquiátricos, distúrbios do tariam relacionadas com o aparecimento tanto das manifestações
sono, sintomas gastrointestinais, fadiga e outros. motoras quanto das não motoras.
Os sintomas não motores são comumente subdiagnosticados, Este capítulo discute o papel dos testes eletrofisiológicos na
tanto pala falha dos pacientes em relatar suas queixas, como tam- caracterização e monitoramento da DP. Discutiremos mais especi-
bém dos profissionais da área de saúde por não questionar adequa- ficamente a eletromiografia de superfície, a eletroencefalografia, o
damente. Um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que estudo da variabilidade da frequência cardíaca, os potenciais evo-

174 175
cados e a polissonografia. A abordagem não pretende ser balance- captação e o grupo muscular ativo. Isso aumenta sobremaneira a
ada, completa ou exaustiva. Apresenta um claro viés: os assuntos variabilidade das medidas de amplitude[11]. Um método utilizado
que o nosso grupo de pesquisa vem trabalhando nos últimos anos. para diminuir a variabilidade é a normalização. Diversos protoco-
los de normalização têm sido propostos, por exemplo, no estudo
eletromiográfico da vocalização[12]. A aplicação dessas técnicas no
Eletromiografia de superfície estudo da deglutição seria muito útil, porém existem dificuldades.
A eletromiografia de superfície (EMGs) vem sendo utilizada Em geral, a amplitude aumenta com o volume deglutido e é maior
para o estudo da atividade muscular de diferentes músculos e/ou para a degluição de bolos pastosos que líquidos. Não foram obser-
grupos musculares de pacientes com DP, seja na realização de con- vadas diferenças significativas na amplitude entre pacientes com
trações isométricas padronizadas (como uma contração voluntária DP e controles durante a deglutição de bolos com igual volume e
máxima), seja durante a realização de uma atividade funcional, consistência[9,14].
como a marcha ou a deglutição. A duração da atividade eletromiográfica mede o tempo neces-
A EMGs é a atividade elétrica de um músculo ou grupo de mús- sário para a realização de um ciclo completo de ativação de um
culos, captada por eletrodos de superfície (aderidos à superfície da músculo ou grupo muscular. A duração da EMGs das MSHs du-
pele). Representa o complexo somatório dos potenciais de ação das rante a deglutição é um importante parâmetro que indica o início
unidades motoras ativas desses músculos, atenuada pela resistivida- e o final da fase orofaríngea desse mecanismo. A duração é muito
de dos tecidos interpostos entre as fibras musculares e os eletrodos menos influenciada por fatores anatômicos, fisiológicos e técnicos
de captação. Essa fraca energia é medida em milésimos de volt (mV) do que a amplitude; por isso, sua variabilidade é menor. Qualquer
ou mesmo frações dessa unidade[6]. O eletromiógrafo amplifica essa disfunção que provoque um aumento da duração e/ou altere a se-
pequena energia, filtra os “ruídos” indesejados, analisa as formas quência de ativação dos músculos envolvidos numa determinada
de onda obtidas e mostra os resultados na tela de um computador. função pode aumentar a duração da atividade eletromiográfica. A
Entre os estudos que utilizam a EMGs, destacamos aqueles duração aumenta com o volume deglutido e é maior para a deglui-
que monitoram a musculatura supra-hióidea (MSH) durante a de- ção de bolos pastosos que líquidos. A duração é significativamente
glutição de pacientes com DP[9]. Os parâmetros eletromiográficos maior pacientes com DP que em controles para a deglutição de
usualmente analisados nos estudos de deglutição são a amplitude e bolos com igual volume e consistência[9,14].
a duração da atividade eletromiográfica, além da ocorrência de de- Talvez a alteração mais evidente observada em pacientes com
glutição em partes. A amplitude da atividade eletromiográfica cor- DP seja o aumento da ocorrência de deglutição em partes. O per-
relaciona-se, entre outras coisas, com a força muscular. A duração centual de pacientes com DP que apresentam deglutição dessa
da deglutição pode ser utilizada para medir a duração da fase oro- maneira é substancialmente maior do que em sujeitos normais. A
faríngea da deglutição. A EMGs pode ser utilizada para a identifica- ocorrência de deglutição em partes na DP é mais frequente na fase
ção da ocorrência de deglutição em partes (piecemeal deglutition), a off, porém persiste mesmo na fase on, ou seja, a medicação dopa-
divisão do bolo em duas ou mais partes durante uma deglutição[10]. minérgica reduz apenas parcialmente a sua ocorrência[13].
A amplitude da atividade eletromiográfica está relacionada ao A EMGs é uma ferramenta útil para a avaliação clínica da
torque ou força muscular. No entanto, a amplitude é influenciada deglutição na DP. É indolor, de fácil aplicação e pode ser repetida
por diversos fatores, em especial a distância entre os eletrodos de com frequência. É importante se conhecer bem o significado das

176 177
medidas obtidas com a EMGs, considerar suas limitações e inter- Segundo Domitriz et al., o EEG de pacientes com DP e de-
pretar os resultados sempre no contexto clínico de cada paciente. mência mostrava uma maior lentificação do ritmo de base (73%)
e uma diminuição da reatividade do ritmo α à abertura ocular
(53%) em relação a pacientes com DP e sem demência (42% e
Eletroencefalografia 11%, respectivamente)[16].
O eletroencefalograma (EEG) é o registro da atividade elé- O eletroencefalograma quantitativo pode se tornar um bio-
trica cerebral mediante a utilização de eletrodos de superfície, co- marcador para o desenvolvimento de demência em pacientes com
locados sobre o couro cabeludo. O EEG é útil na avaliação de DP. Pezard et al. observaram que uma diminuição isolada da po-
distúrbios que acometem o sistema nervoso central (SNC). Entre tência na banda β pode representar um marcador eletroencefa-
as indicações do EEG, estão a investigação dos distúrbios paroxís- lográfico precoce de disfunção cortical ou corticossubcortical[20].
ticos intermitentes, como as epilepsias, e as condições agudas ou Os pacientes com DP que tinham menor média de frequência do
subagudas com comprometimento parcial ou completo do estado ritmo de base apresentavam maior incidência de demência que os
de consciência, como as encefalopatias tóxicas, metabólicas, infec- pacientes com médias maiores, e aqueles com maior potência na
ciosas e degenerativas. faixa θ tinham maior incidência de demência em relação aqueles
Na DP, o EEG é usualmente normal, principalmente nas fases com menor potência nessa faixa. Essa relação com as alterações
iniciais da doença. Entretanto, mesmo em pacientes sem declínio cognitivas não foi associada com idade, sexo, tempo de doença,
cognitivo significativo, uma correlação entre os sintomas motores gravidade dos sintomas motores ou dose de levodopa equivalente.
e uma lentificação na atividade de base tem sido observada. Um Dessa forma, a incidência de demência em cinco anos poderia au-
estudo na década de 60 já evidenciava esse fato, onde 36% de 223 mentar de 34% para 66% em pacientes com média de frequência
pacientes exibiam achados anormais no EEG, consistindo em len- de ritmo de base menor que 8,5Hz[21]. A análise quantitativa em
tificação difusa e/ou localizada da atividade de base[15]. Do mesmo regiões específicas (frontal, parietal ou occipital) não mostrou a
modo, foi observado que a incidência de alterações no EEG em mesma correlação com as alterações cognitivas que as observadas
pacientes com DP foi maior que em controles saudáveis[16]. durante a análise global do EEG. Com isso, a análise global do
A maioria dos autores, porém, concorda que as principais alte- EEG é provavelmente mais fidedigna que medidas derivadas de
rações no EEG estão correlacionadas com a progressão das altera- regiões específicas do cérebro ou de um eletrodo isolado[19].
ções cognitivas. A lentificação do ritmo de base em pacientes com Em relação a outras síndromes parkinsonianas associadas a de-
DP e a demência é similar à encontrada em pacientes com doença mências, tem sido observada lentificação importante no EEG na de-
de Alzheimer. Essas modificações consistem na diminuição relativa mência por corpúsculo de Lewy; tanto que um EEG normal ou com
das frequências na faixa α[17] e aumento nas frequências na faixa θ poucas alterações fala contra esse diagnóstico. O EEG é também
e Δ[18]. Essa relação entre lentificação do EEG e disfunção cognitiva útil para o diagnóstico diferencial entre a demência por corpúsculo
foi observada por Caviness et al. onde ritmos de frequências mais de Lewy e a doença de Alzheimer[22]. No caso de parkinsonismo se-
lentas (θ e Δ) estavam presentes anormalmente em pacientes com cundário a lesões vasculares isquêmicas (parkinsonismo vascular),
maior declínio cognitivo, enquanto que os ritmos mais rápidos (α e Zijlmans et al. evidenciaram que o EEG nesses pacientes difere dos
β) estavam diminuídos nesses pacientes, em comparação ao grupo pacientes com doença de Parkinson; no parkinsonismo vascular, foi
sem alterações cognitivas[19]. observada uma menor lentificação do ritmo α e menor potência

178 179
relativa nas frequências mais lentas que na doença de Parkinson. Uma maneira “elétrica” de se medir o intervalo entre dois bati-
Isso sugere que os pacientes com parkinsonismo vascular não são mentos é medir o intervalo entre dois complexos QRS (mais espe-
pacientes com DP que apresentam lesões vasculares subcorticais[23]. cificamente entre duas ondas R) do eletrocardiograma: o intervalo
Embora existam modelos neurofisiológicos para explicar as RR. A variabilidade da frequência cardíaca expressa a influência
alterações no EEG relacionadas com o declínio cognitivo na DP, dinâmica de uma gama de mecanismos fisiológicos, entre eles está
ainda são desconhecidas as modificações nas redes neurais res- a ação dos braços simpático e parassimpático sobre o nó sino-
ponsáveis por essas alterações. Os ritmos α e β dependem ambos atrial. Embora tanto o simpático como o parassimpático sejam
de uma rede neocortical intacta. Acredita-se que um aumento na responsáveis pela variação fisiológica da frequência cardíaca, o
atividade θ e Δ represente uma disfunção da substância cinzen- parassimpático é principal responsável pela variabilidade da fre-
ta, tanto cortical como subcortical, bem como uma deaferentação quência cardíaca[33,34].
parcial do córtex cerebral. O acúmulo de corpúsculos de Lewy no A variabilidade da frequência cardíaca pode ser estudada obje-
lobo frontal ou em outras regiões que se projetam para as regiões tivamente através de um conjunto de testes que utilizam estímulos
corticais posteriores pode interromper certas redes neurais, levan- padronizados, denominado de teste ou bateria de Ewing. A bateria
do a alterações na frequência α[21]. No seu conjunto, as alterações de Ewing consiste em quatro testes autonômicos cardiovasculares:
patológicas observadas em áreas corticais e subcorticais na DP coeficiente respiratório, coeficiente de Valsalva, teste ortostático
alterariam os ritmos do EEG, principalmente em pacientes com ou 30:15 e a diferença da pressão arterial sistólica deitado e em pé.
declínio cognitivo[19,24]. Apesar de não ser propriamente um reflexo, a diferença da pressão
arterial sistólica deitada e em pé foi adicionada ao conjunto de tes-
tes por sua importância no diagnóstico de hipotensão ortostática e
Estudo da variabilidade da frequência cardíaca no diagnóstico diferencial das sinucleionopatias[27,29,30].
Os sintomas não motores do sistema nervoso autônomo en- Recentemente, a variabilidade da frequência cardíaca (VFC)
volvem o sistema digestório (sialorreia, disfagia, disfagia e cons- tem sido estudada utilizando-se sofisticados métodos matemáti-
tipação), sistema geniturinário (incontinência urinária, disfunção cos. A análise da densidade espectral a VFC pode ser feita através
erétil, nictúria), sistema cardiovascular (hipotensão ortostática e do algoritmo transformada rápida de Fourier ou autorregressivo
redução da variabilidade da frequência cardíaca), sudorese e in- dos intervalos RR, partindo de um registro eletrocardiográfico di-
tolerância ao calor e ao frio. Eles podem preceder os sintomas gital[28,29]. O resultado é expresso no domínio da frequência em
motores e/ou se associar a eles, em especial nos estádios avança- bandas espectrais denominada de muito baixa frequência (0,005 a
dos. Sua prevalência estimada varia entre 14% e 80%[25,26,32]. Os 0,04Hz), baixa frequência (0,04 a 0,15Hz) e alta frequência (0,15
métodos eletrofisiológicos são importantes para avaliar a função a 0,4Hz). A alta frequência representa a modulação cardiovagal, e
do sistema nervoso autônomo na DP e podem oferecer subsídios a muito baixa e baixa frequência são influenciadas pelo estímulo
essenciais para o diagnóstico e acompanhamento das disfunções neuro-humoral e simpático respectivamente[33,34].
desse sistema[28-30]. Outro método matemático que tem sido utilizado recente-
Há um fenômeno fisiológico oculto entre os batimentos cardí- mente para estudar a variabilidade da frequência cardíaca é o plot
acos, expresso na variabilidade do intervalo entre dois batimentos de Poincaré. O plot de Poincaré é uma representação gráfica bidi-
subsequentes ou, o que é a mesma coisa, da frequência cardíaca. mensional da correlação entre intervalos RR consecutivos, no qual

180 181
cada intervalo RR é plotado contra o intervalo precedente. A “nu- e calcula-se a média dos potenciais registrados. Ao contrário do
vem” formada (“atrator”) expressa o grau de complexidade do ruído, que muda a cada repetição, os potenciais relacionados ao
sistema de intervalos RR. A figura geométrica permite uma análise evento permanecem relativamente estáveis. Com isso, o “ruído”
qualitativa, e a magnitude dos intervalos RR reflete a variabili- decresce com as repetições (proporcionalmente à raiz quadrada do
dade da frequência cardíaca. As medidas quantitativas é o desvio número de repetições), enquanto o “sinal” permanece constante.
padrão ou SD; SD1 corresponde à largura e tem forte correlação Essa promediação pode ser feita para frente (para ver o que ocor-
com a modulação vagal, e SD2 corresponde à reta longitudinal e reu no cérebro após o evento) ou para trás no tempo (para ver o
reflete a flutuação da banda espectral de baixa frequência e muito que ocorreu no cérebro antes do evento). A promediação para trás
baixa frequência[30]. no tempo (backward averaging) é usada para estudar os potenciais
Variabilidade da frequência cardíaca reduzida é um fator pre- pré-motores (Bereitschaftpotential).
ditor independente de mortalidade para a população em geral. A Os potenciais evocados têm sido utilizados na DP para a com-
redução da variabilidade da frequência cardíaca ou do tônus pa- preensão da sua fisiopatologia e dos sinais e sintomas clínicos. A
rassimpático está associada com disfunção autonômica cardíaca variabilidade de apresentação clínica e a multifatoriedade etiológi-
no contexto de enfermidades crônicas degenerativas. Há registros ca nos faz concluir que a sintomatologia motora é apenas a “pon-
consistentes de redução da variabilidade da frequência cardíaca na ta do iceberg”. Dessa forma, a utilização dos potenciais evocados
DP[30]. O crescente interesse pelos sintomas não motores contribui na DP atualmente não tem finalidade diagnóstica ou prognóstica,
para detecção precoce da DP e favorece potenciais avanços nas mas visa a avaliar o funcionamento de diversas vias corticais sob o
terapias modificadoras da doença. Nesse contexto, os testes eletro- ponto de vista neurofisiológico.
fisiológicos são fundamentais para o diagnóstico diferencial entre A tentativa de compreender as anormalidades existentes nas
as enfermidades que constituem um grupo de doença autonômica interrelações que geram os sinais motores clássicos da DP levou
degenerativa descrita como sinucleinopatia autonômica[29-31]. vários pesquisadores a estudar o potencial pré-motor ou Bereits-
chaftpotential, que corresponde ao potencial cortical que precede
à atividade motora, relacionando-se diretamente ao preparo do
Potenciais evocados ato motor voluntario. O Bereitschaftpotential possui um compo-
Os potenciais evocados são pequenos potenciais elétricos pro- nente precoce, relacionado à elaboração do movimento, e um tar-
duzidos pelo cérebro durante o processamento de algum evento dio relacionado à execução[36].
sensorial, motor ou cognitivo. Eles estão “soterrados” de “ruído”, Estudando-se o Bereitschaftpotential relacionado à elevação do
os demais potenciais elétricos produzidos pelo cérebro enquanto dedo indicador, foi observada uma redução da amplitude do Bereits-
processa outros eventos, por outras estruturas eletricamente ativas chaftpotential precoce em pacientes com DP com incremento desse
da cabeça e do corpo (músculos, olhos, coração, etc.) e por fontes potencial após o uso de dopamina[37]. Curiosamente, um aumento
não biológicas (por exemplo, a rede elétrica). Para se separar o semelhante desse potencial também ocorreu nos controles normais.
“sinal” (os potenciais relacionados ao evento) do “ruído” (os po- Há também relatos de aumento da amplitude do Bereitschaftpoten-
tenciais não relacionados ao evento), usa-se a promediação, uma tial precoce relacionado ao movimento dos dedos e aumento do Be-
técnica engenhosa e espantosamente simples: repete-se o evento reitschaftpotential tardio relacionado ao movimento da mão após
várias vezes, alinham-se os potenciais temporalmente ao evento palidotomia[38] em parkinsonianos em estádio tardio da doença.

182 183
Os potenciais evocados também têm sido utilizados para o complementando as técnicas de imagem (principalmente no aspec-
estudo da dor na DP. Sabe-se que a dor precede as queixas motoras to funcional) e embasando a observação clínica cuidadosa.
na DP e se mantém ao longo da evolução da doença. A dor na DP
pode ter origem periférica e/ou central. Como as fibras finas C e
AΔ, responsáveis pela condução dos estímulos térmicos e doloro- Polissonografia
sos, não são avaliadas pelos estudos neurofisiológicos tradicionais As queixas relacionadas com o sono em pacientes com DP
(estudo da condução nervosa e eletromiografia de agulha), ava- são frequentes e, em alguns casos, pode ser a manifestação inicial
liaram-se as vias da dor na DP por meio da resposta sudomotora da doença. Estima-se que 60% a 90% de pacientes parkinsonia-
cutânea (avalia indiretamente o funcionamento de fibras simpá- nos sejam afetados por distúrbios do sono, e isso tem um impacto
ticas pós-ganglionares implicadas na fisiologia da dor), teste de negativo em sua qualidade de vida[39,40]. Os métodos diagnósticos
quantificação sensitiva (quantifica todas as formas de sensibilidade utilizados na investigação dos distúrbios do sono vão desde ava-
por meio de estímulo graduado, controlado e fisiológico de aferen- liações subjetivas, através de questionários estruturados, a regis-
tes somatossensitivos) e potenciais corticais evocados por laser de tros polissonográficos. A polissonografia (PSG) consiste no regis-
baixa intensidade (registra os potenciais evocados corticais ou res- tro, análise e interpretação de múltiplos parâmetros fisiológicos
postas sudomotoras evocadas por estimulação da pele por laser)[35]. do sono: atividade elétrica cerebral (EEG), movimentos oculares
Neste estudo, observou-se que, apesar da condução das prin- (eletro-oculografia), atividade muscular (eletromiografia), função
cipais vias da dor ser normal na DP, há um prejuízo na integração cardíaca (eletrocardiografia), função respiratória (saturação de O2,
desses sinais no SNC. Essa conclusão deve-se ao fato de que na fluxo aéreo oronasal, esforço respiratório torácico e abdominal),
fase off, na DP com dor central, houve redução do limiar para dor movimentos corporais durante o sono, etc.
e temperatura, maiores amplitudes e menor habituação nas res- Na DP, há uma desorganização gradual da arquitetura nor-
postas sudomotoras cutâneas induzidas por laser. As anormalida- mal do sono, porém sem desintegração ou dissolução dos princi-
des foram mais evidentes no hemicorpo mais afetado. Na fase on, pais componentes do sono. Essa desorganização do sono é rela-
houve uma redução das diferenças visualizadas nos testes neurofi- cionada ao grau de prejuízo motor e à quantidade de medicações
siológicos. A administração da dopamina modificou parcialmente dopaminérgicas ou sedativas. Surpreendentemente, ocorre de for-
os achados sugerindo que centros regulados pela droga influen- ma independente da idade, apesar dos distúrbios idade-dependen-
ciem as respostas autonômicas e inibidoras de dor. Dessa forma, o te relacionados à consolidação do sono ser bem documentados[41].
estado de hiperalgesia da DP seria decorrente de vias somatossen- Existem divergências em relação às alterações no tempo total
sitivas no nível de tronco encefálico e não talamocortical[35]. de sono na DP. Wailke et al. encontraram uma significativa dimi-
Os potenciais evocados são úteis para o estudo funcional nuição do tempo total de sono em pacientes com DP em relação
do SNC. A característica mais interessante desse método é a sua aos controles[42]. Entretanto, Brunner et al. não encontraram dife-
excepcional resolução temporal: os potenciais evocados acom- renças significativas no tempo total de sono entre pacientes com
panham a atividade do cérebro milissegundo por milissegundo, DP e controle[43].
enquanto a tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância Estudos com PSG demonstram que os pacientes com DP têm
magnética necessitam de um segundo ou mais para serem gera- redução na eficiência de sono (razão entre o tempo total de sono e
das. Os potenciais evocados podem ajudar na compreensão da DP, o tempo de registro após o “boa noite”) e aumento do número de

184 185
despertares[44]. Em Buskova et al., ao se realizar PSG em 15 pacien- duração maior que 10s. Alguns estudos encontraram altas preva-
tes com DP e 15 pacientes saudáveis, observou-se que os parkinso- lências (20% a 60%) de apneia do sono em pacientes com DP em
nianos tinham eficiência de sono significativamente menor e maior relação aos controles. Outros estudos não encontraram diferenças
quantidade de despertares que o grupo controle[45]. Pacientes com ou, até mesmo, uma menor prevalência de apneia do sono em pa-
escores maiores no Unified Parkinson’s Disease Rating Scale III cientes com DP que em controles hospitalizados[51].
(UPDRS III) tinham maior latência de sono. Não houve diferenças Acredita-se que os fenômenos motores, como a rigidez e dis-
significativas nos percentuais da fase 3 do sono NREM e do sono cinesias diafragmática, distúrbios autonômicos e disfunção nos
REM. Happe et al. encontraram eficiência do sono significativa- mecanismos de controle respiratórios, podem levar à redução da
mente menor em pacientes com DP em relação aos controles[46]. função dos músculos respiratórios, causando um padrão restritivo
Entretanto, outros estudos não observaram essas diferenças[47]. na dinâmica respiratória e precipitando apneias de sono. O esta-
Estudos polissonográficos mais antigos mostraram anormalidades diamento recente, proposto por Braak, indica que a doença pro-
na arquitetura do sono: aumento da fase 1 NREM e redução da gride de forma ascendente do bulbo para a substância negra, com
fase REM[48]. No entanto, outros estudos não encontratram dife- o consequente desenvolvimento dos sintomas parkinsonianos. As
renças no percentual das fases 1, 2 ou 3 NREM ou REM entre estruturas responsáveis pela coordenação do ciclo sono-vigília
pacientes com DPO e controle[44,47]. estão localizadas no tronco cerebral (como o núcleo da rafe e o
A presença de distúrbios dissociativos dos componentes do complexo coeruleus-subcoeruleus na ponte), onde o acúmulo dos
sono REM, especificamente os distúrbios comportamentais do corpúsculos de Lewy se inicia precocemente[52].
sono REM e sono REM sem atonia, estão sendo considerados po-
tenciais marcadores pré-clínicos de distúrbios neurodegenerativos,
especialmente as sinucleopatias, como a DP[49]. A prevalência de
distúrbios comportamentais do sono REM em DP varia de 15%
a 33%, contrastando com menos de 1% em estudos populacio-
nais[47]. Buskova et al. observaram uma alta percentagem de sono
REM sem atonia em pacientes com DP não medicados em rela-
ção a grupos controle[45]. Em relação a componentes específicos
do sono REM, a perda da atonia, por exemplo, pode refletir uma
degeneração de subgrupos neurais no nível do núcleo peduncu-
lopontino e do locus coeruleus, levando a uma perda da influên-
cia descendente nos neurônios motores espinhais[50], podendo-se
especular que alterações na atividade motora dessa fase do sono
podem refletir uma progressão de doença.
Os distúrbios respiratórios relacionados ao sono (DRRS) são
a segunda causa mais comum de sonolência excessiva diurna na
população geral, depois da insônia. A apneia do sono é caracte-
rizada por pausas repetitivas na respiração durante o sono com

186 187
Referências bibliográficas M. J. Impaired motor cortical inhibition in Parkinson’s disease:
motor unit responses to transcranial magnetic stimulation. Experi-
1. HUNKER, C. J.; ABBS, J. H.; BARLOW, S. M. The relationship
mental Brain Research, Berlim, v. 138, n. 4, p. 477-83, 2001.
between parkinsonian rigidity and hypokinesia in the orofacial
system: A quantitative analysis. Neurology, Cleveland, v. 32, p. 9. CORIOLANO, M. G. W. S.; BELO, L. R.; CARNEIRO, D. et
749-54, 1982. al. Swallowing in patients with Parkinson’s disease: a surface elec-
tromyography study. Dysphagia, Nova Iorque, v. 27, n. 4, p. 505-
2. SHULMAN, L. M.; TABACK, R. L.; RABINSTEIN, A. A.; WEI-
50, 2012.
NER, W. J. Non-recognition of depression and other non- symp-
toms in Parkinson’s disease. Parkinsonism & Related Disorders, 10. FEODRIPPE, P.; BELO, L. R.; CORIOLANO, M. G. W. S. et
Amsterdã, v. 8, p. 193-7, 2002. al. EMG BioanalyzerBR para análise de sinais eletromiográficos na
deglutição. CEFAC, São Paulo, v. 14, n. 3, p. 498-505, 2012.
3. GLOBAL PARKINSON’S DISEASE SURVEY STEERING
COMMITEE. Factor simpacting on quality of life in Parkinson’s 11. LUCA C. J. de. The Use of Surface Electromyography in Bio-
disease: results from international survey. Movement Disorders, mechanics. Journal of Applied Biomechanics, Providence, v. 13, p.
Nova Iorque, v. 17, p. 60-7, 2002. 135-63, 1997.
4. SCHRAG, A.; JAHANSHAHI, M.; QUINN, N. What contri- 12. JUSTINO, H. Protocolos de eletromiografia de superfície em
butes to quality of life in patients with Parkinson’s disease? Jour- fonoaudiologia. Barueri: Pró-Fono, 2013.
nal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry, Londres, v. 69, p.
308-12, 2000. 13. MONTEIRO, D. Eletromiografia de superfície durante a de-
glutição de pacientes com doença de Parkinson nas fases on e off.
5. BRAAK, H.; BOHL, J. R.; MULLER, C. M. et al. Stanley Fahn 2013. Dissertação (Mestrado) – Curso de Medicina, Universidade
Leccture 2005: The staging procedure for the inclusion body pa- Federal de Pernambuco, Recife, 2013.
thology associated with sporadic Parkinson’s disease reconsidered.
Movement Disorders, Nova Iorque, v. 21, p. 2042-51, 2006. 14. ERTEKIN, C.; TARLACI, S.; AYDOGDU, I. et al. Electrophy-
siological Evaluation of Pharyngeal Phase of Swallowing in Pa-
6. CRAM, J.; KASMAN, G. S. The Basics of Electromyography. tients with Parkinson’s Disease. Movement Disorders, Nova Ior-
In: _____; _____. Introduction to Surface Electromyography. 2 ed. que, v. 17, n. 5, p. 942-9, 2002.
Massachussets: Jones and Bartlett Publishers, 2011. p. 35-61.
15. YEAGER, C. L.; ALBERTS, W. W.; DENATURE, L. D. Effect of
7. FOLLAND, J. P.; HAAS, B.; CASTLE, P. C. Strength and acti- stereotaxic surgery upon electroencephalographic status of parkin-
vation of the knee musculature in Parkinson’s disease: effect of sonian patients. Neurology, Cleveland, v. 16, p. 904-10, 1966.
medication. NeuroRehabilitation, Richmond, v. 29, n. 4, p. 405-
411, 2011. 16. DOMITRIZ, I.; FRIEDMAN A. Electroencephalography of
demented and non-demented Parkinson’s disease patients. Parkin-
8. KLEINE, B. U.; PRAAMSTRA, P.; STEGEMAN, D. F.; ZWARTS, sonism & Related Disorders, Amsterdã, v. 5, p. 37-41, 1999.

188 189
17. NEUFELD, M. Y.; BLUMEN, S.; ATTKIN, I.; PARMET, Y.; Aging, Nova Iorque, v. 24, n. 2, p. 197-211, 2003.
KORCZYN, A. D. EEG Frequency Analysis in Demented and Non-
demented Parkinsonian Patients. Dementia, v. 5, p. 23-8, 1994. 26. CHAHINE, L. M.; STERN, M. B. Diagnostic markers for
Parkinson`s disease. Current Opinion in Neurology, Londres, v.
18. RAE-GRANT, A.; BLUME, W.; LOU, C.; HACHINSKI, V.; FIS- 24, n. 4, p. 309-17, 2011
MAN, M.; MERSKY, H. The electroencephalogram in Alzheimer-
type dementia. Archives of Neurology, Chicago, v. 44, p. 50-4, 1987. 27. CONSENSUS COMMITTEE OF THE AMERICAN AUTO-
NOMIC SOCIETY AND THE AMERICAN ACADEMY OF
19. CAVINESS, J. N.; HENTZ, J. G.; EVIDENTE V. G. et al. Both NEUROLOGY. Consensus Statement on the Definition of Orthos-
early and late cognitive dysfunction affects the electroencephalo- tatic Hypotension, Pure Autonomic Failure, and Multiple Atro-
gram in Parkinson’s disease. Parkinsonism & Related Disorders, phy.. Neurology, Cleveland, v. 46, n. 5, p. 1470, 1996.
Amsterdã, v. 13, p. 348-54, 2007.
28. EWING, D. J.; CLARKE, B. F. Diagnosis and management of
20. PEZARD, L. Investigation of non-linear properties of multi- diabetic autonomic neuropathy. British Heart Journal, Londres, v.
channel EEG in the early stages of Parkinson’s disease. Clinical 285, p. 916-8, 1982.
Neurophysiology, Sydney, v. 112, p. 38-45, 2001.
29. LOW, P. A.; TOMALIA, V. A.; PARK, K. J. Autonomic function
21. KLASSEN, B. T. Quantitative EEG as a predictive biomarker tests: some clinical applications. Journal of Clinical Neurology,
for Parkinson disease dementia. Neurology, Cleveland, v. 77, p. Seul, v. 9, n. 1, p. 1-8, 2013.
118-24, 2011.
30. HAAPANIEMI, T. H.; PURSIAINEN, V.; KORPELAINEN, N.
22. BONANNI, L.; THOMAS, A.; TIRABOSCHI, P. et al. EEG et al. Ambulatory ECG and analysis of heart rate variability in
comparisons in early Alzheimer’s disease, dementia with Lewy bo- Parkinson`s disease. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psy-
dies and Parkinson’s disease with dementia patients with a 2-year chiatry, Londres, v. 70, p. 305-10, 2001.
follow-up. Brain, Oxford, v. 131, p. 690-705, 2008.
31. LOW, P. A.; BENARROCH, E. E. (eds.). Clinical Autonomic
23. ZIJLMANS, J. C. M.; PASMAN, J. W.; HORSTINK, M. W. Disorders. 3. ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 2008.
I. M. et al. EEG findings in patients with vascular parkinsonism.
ACTA Neurologica Scandinavica, Copenhague, v. 98, p. 243-7, 32. MUZERENGI, S.; CONTRAFATTO, D.; CHAUDURI, K. R.
1998. Non-motor symptoms: identification and management. Parkinso-
nism & Related Disorders, Amsterdã, v. 13, p. S450-S456, 2003.
24. NIEDERMEYER, E. The normal EEG of the waking adult.
In: _____, SILVA F.L. da (eds.). Electroencephalography. Filadélfia: 33. TASK FORCE OF EUROPEAN SOCIETY OF CARDIOLO-
Lippincott Williams & Wilkins, 2005. p. 178-80. GY AND THE NORTH AMERICAN SOCIETY OF PACING
AND ELETROCPHYSIOLOGY. Heart rate Variability. Standards
25. BRAAK, H.; DEL, T. K.; RUB, U. et al. Staging of brain pa- of Measurement, Physiological Interpretation and Clinical Use.
thology related to sporadic Parkinson’s disease. Neurobiology of European Heart Journal, Londres, v. 17, n. 3, p. 354-81, 1996.

190 191
34. VANDERLEI, L. C. M.; PASTRA, C. M. et al. Noções de va- crostructure of sleep in Parkinson’s disease. European Journal of
riabilidade da freqüência cardíaca e sua aplicabilidade clínica. Re- Neurology, Oxford, v. 18, p. 590-6, 2011.
vista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, São José do Rio Preto,
v. 24, n. 2, p. 205-17, 2009. 43. BRUNNER, H.; WETTER, T.C.; HOGL, B.; YASSOURIDIS,
A.; TRENKWALDER, C.; FRIESS, E. Microstructure of the non
35. SCHESTATSKY, P. Estudo de técnicas neurofisiológicas para a -rapid eye movement sleep electroencephalogram in patients with
avaliação da dor em indivíduos normais e pacientes com DP e dor newly diagnosed Parkinson’s disease: effects of dopaminergic tre-
central. 2006. Dissertação (Mestrado em Medicina) – Faculdade atment. Movement Disorders, Nova Iorque, v. 17, p. 928-33, 2002.
de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2006. 44. WETTER, T. C.; BRUNNER, H.; HOGL, B.; YASSOURIDIS,
A. et al. Increased alpha activity in REM sleep in do novo patients
36. SHIBASAKI, H.; HALLET, M. What is the Bereitschaftspoten- with Parkinson’s disease. Movement Disorders, Nova Iorque, v.
tial? Electroencephalography and Clinical Neurophysiology, Syd- 16, p. 928-33, 2001.
ney, v. 117, n. 11, p. 2341-56, 2006.
45. BUŠKOVÁ, J.; KLEMPÍŘ, J.; MAJEROVÁ, V.; PICMAUSOVÁ,
37. DICK, J. P. R. et al. The Bereitschaftspotential, l-DOPA and J. et al. Sleep disturbances in untreated Parkinson’s disease. Journal
parkinson’s disease. Electroencephalography and Clinical Neuro- of Neurology, Berlim, v. 258, n. 12, p. 2254-9.
physiology, Sydney, v. 66, n. 3, p. 263-74, 1987.
46. HAPPE, S.; KLOSCH, G.; LORENZO, J. et al. Perception of
38. DELFINO, M. et al. Bereitschaftspotential (BP) in Parkinson’s sleep: subjective versus objective sleep parameters in patients with
Disease (PD) Patients Pre- and Post- PosteroventralPallidotomy Parkinson’s disease in comparison with healthy elderly controls.
(PVP). Neurology, Cleveland, v. 52, n. 6, s. 2, p. 170, 1999. Sleep perception in Parkinson’s disease and controls. Journal of
Neurology, Berlim, v. 252, 2005, p. 936-43.
39. IRANZO, A. Parkinson’s disease and sleepiness. Sleep Medici-
ne Clinics, v. 1, p. 127-37, 2006. 47. PEERAULLY, T.; YONG, M. H.; CHOKROVERTY, S. et al.
Sleep and Parkinson’s Disease: A Review of Case-Control Poly-
40. CHAUDHURI, K. R.; SCHAPIRA, A. H. Non-motor symp- somnography Studies. Movement Disorders, Nova Iorque, v. 27,
toms of Parkinson’s disease: dopaminergic pathophysiology and n. 14, p. 1729-37, 2012.
treatment. Lancet Neurology, Londres, v. 8, p. 464-74, 2009.
48. EMSER, W.; BRENNER, M.; STOBER, T.; SCHIMRIGK, K.
41. DIEDERICH, N.J.; PAOLINI, V.; VAILLANT, M. Slow wave Changes in nocturnal sleep in Huntington’s and Parkinson’s disea-
sleep and dopaminergic treatment in Parkinson’s disease: a poly- se. Journal of Neurology, Berlim, v. 235, p. 177-9, 1988.
somnographic study. ACTA Neurologica Scandinavica, Copenha-
gue, v. 120, p. 308-13, 2009. 49. IRANZO, A.; SANTAMARIA, J; TOLOSA, E. The clinical and
pathophysiological relevance of REM sleep behavior disorder in
42. WAILKE, S.; HERZOG, J.; WITT, K.; DEUSCHL, G.; neurodegenerative diseases. Sleep Medicine Reviews, Estrasburgo,
VOLKMANN, J. Effect of controlled-release levodopa on the mi- v. 13, p. 385-401, 2009.

192 193
50. BLIWISE, D. L.; RYE, D. B.; DIHENIA, B.; GURECKI, P. Gre- sobre os autores
ater daytime sleepiness in subcortical stroke relative to Parkinson’s
disease and Alzheimer’s disease. Journal of Geriatric Psychiatry
and Neurology, St. Louis, v. 15, n. 2, p. 61-7, 2002. Otávio Gomes Lins

51. ZOCCOLELLA, S.; SAVARESE, M.; LAMBERTI, P.; MANNI, Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de
R. et al. Sleep disorders and the natural history of Parkinson’s di- Pernambuco (1978), mestrado em Fisiologia – University of Ot-
sease. The contribution of epidemiological studies. Sleep Medicine tawa (1992) e doutorado em Medicina (Neurologia) pela Uni-
Reviews, Estrasburgo, v. 15, p. 41-50, 2011. versidade Federal de São Paulo (2002). É professor adjunto da
Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de
52. BRAAK, H.; TREDICI, K. del; RÜB, U.; VOS, R. A. de, JAN- Medicina, Neurologia, Neurofisiologia Clínica, Eletroneuromio-
SEN STEUR, E. N.; BRAAK, E. Staging of brain pathology related grafia, Potenciais Evocados e Monitorização Neurofisiológica In-
to sporadic Parkinson’s disease. Neurobiology of Aging, Nova Ior- tra-Operatória. É líder do grupo de pesquisa Neurofisiologia Clí-
que, v. 24, p. 197-211, 2003. nica e Experimental da UFPE.
http://lattes.cnpq.br/7194458232811067

Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano


Professora Adjunto 2 do Departamento de Anatomia da Uni-
versidade Federal de Pernambuco. Graduação em Fisioterapia
pela Universidade Federal de Pernambuco em 1995. Especializa-
ção em Morfologia pela Universidade Federal de Pernambuco em
1999. Mestrado na área de concentração da Morfologia Aplicada
pela Universidade Federal de Pernambuco em 2006. Doutorado
em Neurociências pela Universidade Federal de Pernambuco em
2009. É pesquisadora do grupo de pesquisa neurofisiologia clínica
e experimental com foco em doença de Parkinson. Atua como do-
cente desde 2003 na disciplina de Anatomia Humana.
http://lattes.cnpq.br/9161992270492544

Amdore Guescel C. Asano


Possui residencia-medicapela Universidade Federal de Per-
nambuco(1988). Tem experiência na área de Medicina.
http://lattes.cnpq.br/4762609640602899

194 195
Isabella Araújo Mota nambuco. Realizou residência mêdica em Clínica Médica, Hos-
pital Getúlio Vargas – PE (Período: 2006-2008). Atualmente está
Médica formada pela Universidade Federal da Paraíba, reali-
realizando residência mêdica em Neurologia no Hospital das Clí-
zou residência médica em neurologia no Hospital das Clínicas da
nicas -PE (Período: 2008-2011)
Universidade Federal de Pernambuco e pós-graduação em dor pelo
http://lattes.cnpq.br/9605176249146587
Instituto de Ensino e Pesquisa em Saúde. Atualmente mestranda
do programa de pós graduação em Inovação terapêutica da Uni-
versidade Federal de Pernambuco. Registrada atualmente no Con-
selho Regional de Medicina de Pernambuco com o CRM 17563 e
no Conselho Regional da Paraiba CRM 6652.
http://lattes.cnpq.br/5986610995484608

José Sérgio Tomaz de Souza


Neurologista do ambulatório da Policlínica Salomão Kelner.
Neurologista do Hospital Agamenon Magalhães Mestrando da
Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamen-
to – UFPE.
http://lattes.cnpq.br/6796201995002792

Luciana Rodrigues Belo


Possui graduação em Fonoaudiologia pela Universidade
Católica de Pernambuco (2002). É especialista em Motricidade
orofacial com enfoque em disfagia pelo CEFAC. Formação pelo
conceito bobath básico e avançado. É integrante do grupo de pes-
quisa Neurofisiologia Clínica e Experimental cuja linha é Doen-
ça de Parkinson. Atualmente, doutoranda na pós-graduação em
Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento da Universidade
Federal de Pernambuco – UFPE.
http://lattes.cnpq.br/0696193651129693

Marcelo Ataíde de Lima


Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Per-

196 197
INFLUENCE OF SEX HORMONE ESTROGEN
ON MEMORY AND EMOTION
Antonella Gasbarri and Assunta Pompili19
Department of Applied Clinical and Biotechnologic Sciences, University of L’Aquila,
Italy European Center for Brain Research, Santa Lucia Foundation IRCCS, Rome, Italy

ABSTRACT

M
any studies have evidenced important issues regard-
ing the influence of estrogen on emotion and cognitive
functions, including learning and memory processes on
humans, non-human primates and rodents. The modulator role
of estrogen on several neurotransmitter systems (acetylcholine in
particular, but also catecholamines, serotonin and GABA) can ex-
plain, at least in part, its influence on cognition and emotion both
in animal models and humans. Another explanation may be repre-
sented by the widespread presence of estrogen receptors in cerebral
areas involved in emotion and cognition, such as the hippocampal
formation, amygdala, and cerebral cortex. The present chapter re-
views research conducted in our laboratory and in others with the
aim of clarifying the role of estrogens on cognition and emotion in
rodents and humans. In particular, while the first section is focused
on the mechanisms of estrogens action in the brain, illustrating
the involvement of estrogen receptors and neurotransmitters in the
cognitive and emotional processes, the second section describes
the effects of estrogen on cognitive and emotional mechanisms,
with particular emphasis on memory.
19. Corresponding author at: Assunta Pompili, Department of Applied Clinical and Biote-
chnological Sciences, University of L’Aquila, via Vetoio, Coppito – 67100 L’Aquila, (Italy).
Tel.: +39 (0862) 433447; fax: +39 (0862) 433433. e-mail: assunta.pompili@cc.univaq.it

199
Keywords: cognition; learning and memory; emotion; steroid hor- performance across the estrous and menstrual cycles evidenced
mones, sex steroid hormones, cognitive functions, learning and that estrogen influences cognition and neural substrates subserving
memory, emotion, menstrual cycle. learning and memory in both rodents (Pompili et al., 2010; 2012),
and in humans and non-human primates (Gasbarri et al., 2008a,b).
Running title: estrogen, memory and emotion. In human females, estradiol fluctuations across the natural
menstrual cycle are also associated with mood changes: negative
affect is more commonly experienced when estrogen levels are de-
1. INTRODUCTION clining or low whereas positive affect is associated with high es-
Sex steroids hormones, produced mainly by the reproductive trogen and progesterone levels (Sherwin, 2003; Genazzani et al.,
glands, include estrogens, androgens, and progestogens, which 2007). Affective disorders, such as premenstrual syndrome, and
have major effects on reproductive physiology. Behavioral evidence postnatal depression are the most common mental disorders as-
documents that they are not only implicated in the control of repro- sociated with low serum-levels of estrogens during reproductive
ductive behavior but play a relevant role in cognition. Theis effect years. In addition, evidence exists suggesting that estrogens may
can be explained by the modulator role of estrogens on several neu- have a protective role against the onset of diseases such as schizo-
rotransmitter systems, such as acetylcholine (Ach) in particular, but phrenia and AD. However, there are still conflicting views on the
also catecholamines and serotonin, GABA (Spencer et al, 2008), protective effects exerted by estrogen replacement therapy (ERT),
both in lower animals and non human/ human primates (Sher- as a treatment and a deterrent for cognitive impairments associat-
win, 2003). Another reason may lie in the widespread presence of ed with age, disease and injury.
estrogen receptors (ERs) in limbic areas involved in learning and
memory, such as the hippocampal formation (HF), amygdala, and
2. ESTROGEN RECEPTORS AND COGNITION
cerebral cortex in rodents, monkeys, and humans (Sherwin, 2003).
Considering that estrogen acts across a broad range of neural Estrogen can induce its effects by binding specific ERs (ERα
systems, it is likely that it exerts its influence on cognition by al- and ERβ), localized in cerebral areas involved in cognitive func-
tering the relative participation of specific memory systems, thus tions, including learning and memory, and emotion (Sherwin,
acting as a conductor, orchestrating the dynamics, timing and coor- 2003). While ERα is predominantly present in the amygdala and
dination of multiple cognitive strategies during learning. In partic- hypothalamus, suggesting estrogen modulation of autonomic,
ular, evidence exists suggesting that this steroid hormone enhances neuroendocrine, and emotional functions, ERβ is manly present
performance in working memory tasks, including face-tasks and the in HF, entorhinal cortex, and thalamus. In the rat brain, the cor-
delayed matching-to-sample task (DMTS) (Lacreuse et al., 2007). tex, pituitary and hypothalamus contain both receptors, whereas
Modulation effects exerted by estrogens are complex and can the cerebellum expresses only ERα and the HF expresses mostly
vary depending on the task, gender differences and also, in females, ERβ (Genazzani et al, 2007). ERα-selective agonists evidenced an
according to the different phases of the menstrual/estrous cycle. anxiogenic effect with consequent increase of the hormonal stress
Taking into account that estrogen modulates cognitive processes, response, while ERβ selective agonists exerted potent anxiolytic
menstrual-cycle-related changes in estrogen levels can have differ- activity when animal models were tested in behavioral paradigms.
ent effects on various cognitive tests. Numerous studies assessing Concerning the subcellular localization, evidence exist that,

200 201
in addition to the nuclear ERs, there is a predominant localiza- tions is represented by its modulator role on Ach. The effects of
tion of ERs at extra-nuclear sites, such as the plasmatic membrane estradiol on the cholinergic system and cognition decrease with
(Genazzani et al, 2007; McEwen, 2002). Therefore, the estrogen time, following loss of ovarian function3).
action may be exerted through classic nuclear receptors (genom- In the rat, estradiol enhances Ach muscarinic receptor densi-
ic mechanism) or through rapid membrane action (non-genomic ty, high-affinity choline uptake, choline acetyltransferase (ChAT)
mechanism). Genomic signaling involve that nuclear estrogen-re- activity in the basal forebrain and two of its projection areas (the
ceptor complexes bind specific DNA sites in gene promoter re- hippocampal CA1 field and the frontal cortex); moreover, it modu-
gions, known as estrogen response elements, to modulate gene lates acetylcholine release and ameliorates a scopolamine-induced
transcription. In these classic genomic mechanisms, estrogen caus- memory deficit (Gibbs et al, 2004).
es relatively long-term actions on neurons modulating the synthe- Estrogen increases potassium-stimulated Ach release in the
sis, release and metabolism of several neurotransmitters and neu- HF, suggesting that enhanced cholinergic stimulation could medi-
romodulators, and the expression of their receptors (Genazzani et ate some estrogen effects in this area (Gibbs et al, 2004). Moreover,
al, 2007). Concerning the non-genomic mechanisms, they can be estrogen bound to ERα may affect local Ach release and reuptake
exerted through receptors integrated or associated with the plas- to influence N-methyl-D-aspartate (NMDA) receptor expression
matic membrane, mediating intracellular signaling cascades and and HF function.
rapid effects that do not involve genomic activation (McEwen et Estradiol may also affect Ach release by a direct action on
al., 2002). Genomic and non-genomic types of cell signaling could cholinergic afferent of basal forebrain to HF. Indeed, a key role
be activated separately, even though there is evidence that they for the basal forebrain in estrogen’s effects on the HF is suggested
are intertwined at several cellular instances and can influence each by studies reporting that lesions of the basal forebrain partially
other reciprocally, yielding synergic effects (Genazzani et al, 2007). attenuate estrogen mediated disinhibition of HF pyramidal cells in
female rats. In addition, taking into account that in vitro estradi-
ol activates similar signaling pathways in the Ach basal forebrain
2.2. Estrogen and neurotransmitters:
and HF neurons, it may have synergistic effects on basal forebrain
effects on memory and emotion
and HF neurons culminating in enhanced hippocampal-dependent
The influence that estrogen exert on several systems of neu- learning and memory.
rotransmission can explain its action on many aspects of behav- In conclusion, estrogen may affect the cholinergic system, in
ior and cognitive functions, including learning and memory and both the basal forebrain and its HF afferents. These effects may be
emotionality, and its role on neurodegenerative diseases (McEwen, relevant for estrogen’s ability to enhance HF-dependent learning
2010; Spencer et al, 2008). and memory processes.

2.2.1. Estrogen and acetylcholine. 2.2.2. Estrogen and monoamines

Acetylcholine (Ach) is a basic neurotransmitter involved in The mechanisms by which estrogen may affect mood and
the regulation of learning and memory processes and one of the emotion include its action on dopamine (DA), norepinephrine
mechanisms explaining the effect of estrogen on cognitive func- (NE), serotonin (5-HT), and also on GABA, opioid and neuroste-

202 203
roid systems (Shafir et al, 2012). increased in cerebral regions involved in mood and cognition, such
Sex-related differences in the estrogen effects on 5-HT, NE, as the anterior frontal, anterior cingulate, and pyriform cortices,
and DA systems are also observed, and they may contribute to sev- olfactory tubercle, nucleus accumbens, and lateral dorsal raphe
eral brain functions that are affected by ovarian hormones, includ- nucleus: these data suggest that estrogen may influece mood by in-
ing affective state and cognitive function (Genazzani et al, 2007; creasing the concentration of 5-HT receptors in cerebral key areas.
McEwen, 2010).
The positive effect of estrogen on mood, extensively report-
Estrogen and catecholamines
ed, could be related to its inhibitory role on monoaminooxidase
(MAO) enzimes. In rats, estradiol decreases MAO activity in the The influence of estrogen on mood is also related to its mod-
amygdala and basomedial hypothalamus, and activates 5-HT re- ulatory role on DA and NE systems at the hypothalamic level.
ceptors in forebrain regions involved in cognition and behavior, in- Animal studies show an enhancement of NE turnover induced by
cluding the frontal lobe, cingulated cortex, and nucleus accumbens. estrogen during the pro-estrous period (Genazzani et al, 2007). On
the other hand, in castrated female rats, an impairment of cathecol-
aminergic neurons has been reported, with an increase in NE and a
Estrogen and serotonin
decrease in DA release. Estrogen administration impairs hypotha-
Estradiol modulates 5-HT function acting on different pro- lamic NE release, whereas an enhancement of DA neuronal activity
cesses, such as synthesis and degradation, density of post-synaptic and DA release in the medio-basal hypothalamus has been shown.
5-HT2A receptors, and the sensitivity of the presynaptic 5-HT1A Estrogen modulates several aspects of DA transmission (which
autoreceptor. Taking into account that intact 5-HT function is rel- is involved in motivation, learning and memory), including release,
evant for healthy mood, learning and memory, the heuristic impor- turnover, uptake, and receptors in OVX rodents and monkeys; in
tance of studying this estrogen-serotonin interaction in menopaus- OVX monkeys, short-term estrogen replacement therapy (ERT) has
al women is evident. beneficial effects in the DA mesostriatal system. After ERT adminis-
The 5-HT system modulates cognitive function and mood and tration in a window time of six months since ovariectomy, the densi-
is the target of a broad class of antidepressant therapies; therefore, ty of tyrosine hydroxylase striatal fibers was enhanced; the DA mes-
the knowledge of the effects of ovarian steroids on this system is encephalic neurons in monkeys were preserved only if the therapy
essential to better understand the mechanisms underlying depres- was initiated within ten days of ovariectomy. The effects of longer
sion in women. durations of ovariectomy or ERT in the primate DA mesostriatal
The action of antidepressant drugs is exerted mainly on system are still unclear. Taken togheter, the findings in the primate
5-HT1A and 5-HT2B receptors, whereas estrogen affects 5-HT DA mesocortical system suggest that the effects of ovariectomy and
synthesis, uptake, and receptor modulations. Evidence exist that ERT on DA system may depend on the timing or length of ma-
5-HT1A receptor agonists have anxiolytic and antidepressant nipulations, or that the DA mesocortical system, compared to the
effects. In normal female rats, acute estradiol administration mesostriatal system, may be less responsive to these manipulations.
down-regulates 5-HT1A receptor mRNA in the limbic system, re- These findings confirm the hypothesis that changes in gonadal
ducing 5-HT synthesis, turnover, and release into target areas. In steroids may underlie the ability of estrogen to influence the NE
ovariectomized (OVX) rats, the density of 5-HT2A receptors also transmission within the hypothalamus and elsewhere in the brain.

204 205
2.2.3. Estrogen and opioids The administration of transdermal estradiol, independent of
the type of progestin used, induces a significant increase in plas-
Some studies reported a modulatory role of estrogen on brain
ma β-EP levels to premenopausal values. In addition, the lack of
opioid peptide mRNA levels, opioid peptide levels, opioid receptor
β-EP response to clonidine, a α2-presynaptic receptor agonist, and
density and opioid receptor-mediated signal transduction. Estro-
to naloxone, an opiate receptor antagonist, in post-menopausal
gen may even attenuate the effects of endogenous and exogenous
women suggests an impairment of adrenergic and opiatergic re-
opioids through direct binding to opioid receptors. The studies of
ceptors in modulating β-EP release. HRT restores basal plasma
Genazzani et al (2007) were focused on β-endorphin (β-EP), the
β-EP levels to those present in fertile women as well as the re-
most important and biologically active endogenous opioid peptide,
sponse of β-EP to naloxone and clonidine tests.
with behavioral, analgesic, thermoregulatory and neuroendocrine
properties. Ovariectomy in female rats induces a decrease in HF,
hypothalamus, pituitary and plasma β-EP content, the magnitude 2.2.4. Estrogen and melatonin
of which depends on the brain area analysed. It is possible that dif-
Melatonin is synthesized by the pineal gland; both synthesis
ferent brain tissues and plasma do not respond to gonadal steroid
and secretion follow a circadian rhythm: lower rates of produc-
deprivation in the same way in terms of β-EP synthesis/release.
tion and release occur during the day, while higher rates occur
In ovariectomized rats, oral administration of estradiol valerate,
at night. An antioxidant property of melatonin was reported: the
estrone sulphate, and conjugated equine estrogens restores central
administration of a physiological dose of melatonin to female se-
β-EP levels to values similar or higher, at the maximum doses, to
nescence-accelerated mice can prevent the age-related cerebral ox-
those observed in fertile rats. This positive stimulus is meaningful
idative DNA damage. Moreover, in humans, melatonin adminis-
in the neurointermediate pituitary. Aged female rats showed lower
tration synchronizes endogenous rhythms to environmental cycles,
brain levels of β-EP, and the age-related decrease ranged from 40
induces a propensity to sleep, enhances LH and prolactin secretion,
± 4% in the HF to 83 ± 7% in the neurointermediate lobe with
and reduces body temperature. Melatonin has been reported to re-
respect to fertile rats. Aging may be associated with an impairment
duce blood pressure in hypertensive subjects and, more recently, a
of brain β-EP production and storage, either directly by acting on
decrease of blood pressure and internal carotid artery pulsatility
opiatergic neurons or indirectly through the derangement of the
index was evidenced in young men and women.
neuroendocrine systems responsible for opiatergic neuron control.
Much evidence indicates that aging influences the secretion
After spontaneous or surgically induced menopause, a decrease
and the biological responses to melatonin. Ageing reduces the
in plasmatic β-EP levels has been detected, which could have a role
circulating levels of the hormone and the number of melatonin
in the mechanisms of hot flushes and sweat episodes; it has also been
receptors in animals. Since the identification of gonadal steroid
related to the pathogenesis of mood, behaviour and nociceptive dis-
receptors in the rat pineal gland, many studies have suggested that
turbances occurring in the postmenopausal period. Indeed, a pos-
melatonin synthesis may be modulated by the gonadal steroids.
itive role of ERT on vasomotor and subjective psychobehavioural
In addition to environmental light, circulating levels of gonadal
symptoms may be mediated by effects on the opiatergic pathway. In
steroids can influence the capability of the pineal gland to synthe-
fact, oral ERT subsequent to spontaneous or surgical menopause is
size and release melatonin. In female rats, estrogen regulates pineal
followed by a significant increase in circulating β-EP levels.
melatonin synthesis and release by modulating the sensitivity of

206 207
pinealocytes to adrenergic stimulation. At physiological concen- could have a role in the protection of nervous tissue by increasing
trations, estrgen reduces the stimulation of melatonin synthesis local estrogen levels . Estrogen synthesized by astrocytes may be
evoked by the simultaneous activation of α1- and β-adrenergic re- released as a trophic factor for damaged neurons and it could be
ceptors in female rat pineal cells. However, in humans, the effect involved in the compensatory restructuring of injured brain tissue.
of estrogen on pineal secretion of melatonin is still controversial, Therefore, estrogen released by astroglia may have a role in syn-
varying: in fact, its influence varies markedly, depending on the aptic function, selective regeneration of neuronal processes and
dose of estrogen and the duration of estrogen administration. local cerebral blood flow, participating to neuronal recovery and
reduction of neuronal death. Moreover, compared with the wild-
type mice, aromatase knockout mice evidenced an increased rate
2.2.5. Estrogens and neurosteroids
of apoptosis and cell loss in frontal cortex and reduced spatial
Steroid hormones synthesized by the gonads and adrenal working memory and short-term memory. Taking into account
glands easily cross the blood–brain and the blood–nerve barri- that aromatase is expressed in the adult human brain, including
ers and quickly accumulate within the nervous tissues, except for the HF (Genazzani et al, 2007), this enzyme may represent a new
their conjugated forms such as the steroid sulphates that enter the molecular target for the prevention or therapy of neurodegenera-
brain with difficulty. Neurons and glial cells have enzymes neces- tive diseases, such as Parkinson’s disease, Alzheimer’s disease (AD),
sary for progesterone, testosterone and estrogen metabolism). The and other ageing-associated brain neurodegenerative disorders.
differentiation process of the precursor stem cells into terminally Even though steroid-metabolizing enzymes allow the CNS to
differentiated CNS cells strongly influence he activities of these ste- modify circulating steroids, the CNS is also able to synthesize ste-
roid metabolizing enzymes. Neurons and glial cells co-ordinately roids from cholesterol, at least in part, independently of peripheral
metabolize steroid hormones, forming a functional unit; therefore, steroidogenic gland secretion, leading to the production of potent
both the endocrine glands and the local metabolism give their con- steroidal compounds, named neurosteroids. It has been reported
tribution to the pool of steroids present in the nervous tissues. In that these brain-produced steroids exert important regulatory ac-
addition, the age-dependent changes in circulating levels of ste- tions on neurons and glial cells.
roid hormones may reflect changes in brain levels. In the brain, Several studies have evidenced that some psychological func-
local aromatization of circulating androgens to estrogen plays an tions and symptoms such as depression, anxiety, irritability and
important role during neuroprotection and neuroregeneration. In affectivity can be related to the fluctuation of the synthesis and
rhesus monkeys, the activity rate of aromatase enzyme, that cat- release of some neurosteroids, in particular allopregnanolone and
alyzes the reaction of conversion of androgens to estrogens, has dehydroepiandrosterone (DHEA). Allopregnanolone is a 3-α, 5-α
been measured throughout the brain, revealing that the highest reduced metabolite of progesterone, and the gonads and adrenal
activity occur within specific regions of hypothalamus and amyg- cortex, more than the CNS, represent the major sources of its cir-
dale. In normal conditions, aromatase activity is believed to be culating levels. Allopregnanolone acts as an agonist on the γ-ami-
centralized in cell bodies and axon terminals. However, increased nobutyric acidA (GABAA) receptor, modulating stress, mood and
aromatase expression and activity has been evidenced in reactive behaviour with anxiolytic, sedative and antiepileptic effects. Its
astroglia of rat brain after induced injury. The increased expression cerebral levels increase during pregnancy and acute stress, while
of aromatase in injured cerebral regions suggests that this enzyme decrease during chronic stress, parturition and depression. Fluc-

208 209
tuating concentrations of central neurosteroids also modulate anxiolytic and sedative effects of HRT in menopausal women. The
GABAA receptor gene expression through genomic mechanisms. evidence that gonadal steroids modulate neurosteroid levels can
Ovarian steroids can produce changes in circulating allopregnano- open new prospects in the study of neuroendocrinological meno-
lone; in fact, female rats evidenced significantly higher hippocam- pause-related changes.
pal allopregnanolone concentrations in the morning and after-
noon of proestrus than at diestrous or estrous, with lowest levels
2.2.6. Estrogen, GABA and neuropeptide Y
at estrous. In addition, allopregnanolone itself seems to be able
to influence gonadal function: in female rats, the intracerebral in- Estrogen may promote HF synaptic plasticity through modu-
jection of allopregnanolone inhibits the ovulatory process, where- lation of inhibitory input onto pyramidal cells. Indeed, data exist
as the injection of anti-allopregnanolone antiserum increases the indicating that estrogen exerts effects both in vitro and in vivo on
number of mature follicles. Ematic and cerebral allopregnanolone expression of GABA-synthesizing enzyme glutamic acid decarbox-
levels significantly decrease after ovariectomy, while they increase ylase (GAD), and on electrophysiological GABAergic inhibition
the adrenal content of allopregnanolone. Conversely, if 17-β-E2 is (Spencer et al, 2008). In HF slices from estradiol-treated rats, a
administered to castrated female rats, allopregnanolone levels in- transient reduction of GABAergic inhibition is followed by a re-
crease in the HF, hypothalamus, pituitary and serum, whereas they covery of the inhibition and an increase in GAD expression, sug-
decrease in adrenals. In post-menopausal women, serum levels of gesting that homeostatic mechanisms could be responsible of con-
allopregnanolone evidences a general tendency towards lower lev- trolling estrogen-mediated excitation of pyramidal cells that could
els compared with fertile women, and HRT can modify circulating otherwise lead to excitotoxicity.
levels of neurosteroids, enhancing allopregnanolone levels and de- At the ultrastructural level, estradiol may specifically target
creasing DHEA levels. In addition, recent data support the hypoth- different subtypes of GABAergic neurons. In hippocampal CA1 in-
esis that the effects of allopregnanolone on GABAA receptors are terneurons expressing NPY, estrogen mobilizes vesicles to the pre-
influenced by ovarian hormones: estrogen and progesterone may synaptic membrane and increases NPY expression. NPY inhibits
regulate GABAergic responses, through the synthesis and turnover glutamate release at the synapse. By increasing the availability of
of GABAA receptors by a long-term genomic action. NPY in addition to presynaptic vesicles at inhibitory synapses, es-
Allopregnanolone serum levels are reduced in patients affect- trogen could potentiate inhibitory input onto CA1 pyramidal cells
ed by both vascular dementia and AD, but the latter had a reduced from this subset of NPY-expressing GABAergic interneurons. On
response of allopregnanolone to corticotrophin release factor the other hand, further studies evidenced that, on average, estra-
stimulation. Moreover, a comparative analysis of the concentra- diol decreases the number of vesicles adjacent to the presynaptic
tion of several neurosteroids in various cerebral areas between membrane at inhibitory presynaptic boutons on CA1 pyramidal
aged Alzehimer’s patients and aged non-demented controls has cells . Therefore, estradiol may impair total GABAergic activity
shown a general trend towards lower levels of neurosteroids in the at pyramidal cell synapses in the CA1, while enhancing inhibito-
different brain regions of the patients compared to controls. These ry transmission from the subset of interneurons expressing NPY,
data suggest a major role for these compounds as neuroendocrine indicating that estradiol itself may have has opposing effects on
mediators of the effects of estrogens on the CNS, and the modula- different interneuronal subtypes (Spencer et al, 2008).
tor role of HRT on allopregnanolone levels could be related to the Compared to young women, post-menopausal women show

210 211
lower NPY plasma levels. Estrogen enhances NPY content in the could be mediated by membrane associated estrogen receptors
median eminence and the synthesis of NPY in arcuate nucleus, activating mitogen-activated protein kinase pathways in specif-
by inducing NPY gene expression. Indeed, several interactions be- ic neural sites. For example, estrogen enhances performance in
tween NPY and β-EP neurons were demonstrated in the hypothal- tasks such as inhibitory avoidance, object recognition and place-
amus; thus, estrogen may indirectly exert modulatory effects on ment within 4 h of treatment (Frye, 2007). The utilization of a
NPY when inducing β-EP release. post-training paradigm evidenced that these effects are due to the
facilitatory effect of estrogen on memory. Previous memory studies
hypothesized that newly-acquired informations is transferred to
3. ESTROGEN, EMOTION AND MEMORY long-term memory over time, and seminal work by McGaugh and
co-workers (McGaugh, 2000) has shown that consolidation takes
The term cognition indicates the mental processes by which
place within 1–2 h post-training.
knowledge is acquired, stored and used, including several func-
In addition, the impairment or improvement of consolidation
tions, such as learning and memory, attention, language, problem
process due to drugs or hormones can occurs if given within this
solving, planning, reasoning, complex perceptual and motor skills.
time, but not later. Estrogenic improvements in consolidation uti-
One of the most important aspects of cognition influenced by
lizing post-training paradigms have been shown in some memory
estrogen is memory. Episodic memory, a particular type of mem-
tasks, such as water maze, inhibitory avoidance, object recognition
ory, also referred to as declarative memory, is the ability to store
and object placement. Administration of the powerful estrogen
new information and then to recall it in a conscious manner after a
agonist, diethylstilbestrol, immediately before, immediately after,
period of time; it depends on the integrity of medial temporal lobe
but not 2 h after, the presentation of items increased discrimina-
structures (Squire, 2009). Cognitive aging often entails a remark-
tion between previously viewed and never viewed objects in the
able decline in episodic memory. It is very well known that estro-
recognition trial. Therefore, temporal relations between hormonal
gen have direct effects on brain areas controlling cognition and, in
application and performance enhancements are in agreement with
particular, learning and memory. studies in knockout mice using improvement of mnemonic processes.
the selective estrogen receptor modulators suggest that ERβ and Estrogen not only modulates memory formation and main-
ERα make different contributions to memory mechanisms. Several tenance processes in some contexts, but also biases the learning
studies have shown estrogen regulation of ERα. Moreover, it was strategy utilized to solve a task, thus changing what and how in-
recently reported that selective ERβ agonists increased levels of formation is learned, and therefore not only how much is learned,
key synaptic proteins in vivo in the HF, and these effects were ab- i.e., the strength of the memory.
sent in ERβ knockout mice or after treatment with an ERα agonist. Rats with high estrogen levels utilize place or allocentric strat-
ERβ agonists also induced morphological changes in HF neurons, egies rather successfully, outperforming hormone-deprived rats on
including an increased density of mushroom-type spines. Most tasks requiring the configuration and use of extramaze cues for
importantly, estrogen or ERβ agonists improved performance in successful completion. On the contrary, rats with low estrogen lev-
some HF-dependent memory tasks. Therefore, these results con- els tend to use response or egocentric strategies on tasks where the
firm the role of ERβ in memory, but cross-talk between ERα and
use of a directional turn, e.g., left or right, is required for acquisi-
ERβ receptors cannot be excluded.
tion. Taking into account the estrogen’s actions across a wide range
It was also evidenced that rapid improvements in cognition

212 213
of neural systems, estrogen could exert its actions on cognition by have on performance, and these considerations may account, at
altering the relative involvement of specific memory systems, act- least in part, for some inconsistency in the literature. Therefore, it
ing much like a conductor, orchestrating the dynamics, timing and is hypothesized that stress experienced during task performance
coordination of multiple cognitive strategies during learning (Mc- may interfere with estrogen enhancements of some spatial tasks.
Gaugh, 2000). Influences on neurotransmitters such as acetylcho- In addition, extensive handling, housing conditions, or environ-
line that regulate other processes, like inhibitory tone and excit- mental enrichment can also mitigate hormonal effects on other
ability, reflect one mechanism by which estrogen may orchestrate spatial tasks. Taking into account that cognition represents a com-
learning and memory. In fact, the cholinergic system is also activat- plex, multidimensional set of higher-order functions that are sub-
ed by estrogen in brain areas that are important for memory, such served by specific, yet inter-related, cerebral areas, the intervention
as the basal forebrain and its acetylcholine-containing projections of other stimuli on the effects of estrogen is not unexpected. It is
to the HF and frontal cortex (Gibbs, 2004; Luine, 2008). interesting to note that more recent results, evidencing consistent
Even though gonadal hormones influence cognition, these estrogenic improvements of memory, use tasks evaluating working
hormone-induced changes are not large (Luine, 2008). Hormones or short-term memory, tap into higher order memory or executive
can impact cognition, especially when function is compromised function, and also rely on cortical integration with HF fields. In
by aging or lesions however, they do not improve all the different addition, subjects are not exposed to stressful circumstances or
aspects of cognition such as, for example, acquisition during mem- negative reinforcers during the task. Therefore, recognition memo-
ory processes. ry tests, where subjects have to discriminate between familiar and
Rodents have been evaluated in several tasks, utilizing dif- unfamiliar objects or objects in familiar or unfamiliar locations,
ferent kinds of mazes, and they rely on diverse reinforcements or seem to be quite consistently improved by estrogen and its agonists
contingencies (positive food rewards or aversive electric shocks) in OVX rats or mice.
for the learning phase, and the tasks measure different kinds of In agreement with OVX models, pro-estrous rats demonstrate
memory, such as spatial memory, which requires the establishment better recognition memory compared to rats in a different phase
of relationships between distant cues in the environment and the of the estrous cycle (Frye, 2007), and mice show better spatial
reinforcement site. Other tasks use visual memory, based on visual memory in pro-estrous . However, rats in pro-estrous phase are
associations. Nonetheless, many studies show positive effects of often impaired during acquisition. Other researches did not show
estradiol on cognition. Spatial memory, which is dependent on the modifications over the cycle, but they evaluated reference memory,
HF, has been extensively evaluated by the radial arm maze and wa- which seems to be insensitive to hormones after acquisition.
ter maze; studies conducted in OVX subjects show enhancements
in performance during the acquisition but, after learning how to
3.1. Estrogen and working memory
solve the task (reference memory), estradiol no longer enhances
performance and could even impair spatial memory, although the As showed by researches assessing performances across the
data are not conclusive. When working memory is evaluated in estrous and menstrual cycles, ovarian hormones affect cognition
spatial tasks, consistent enhancements by estradiol are seen. and neural substrates subserving learning and memory functions,
Results of studies assessing hormonal effects on learning and including working memory (WM), in both rodents and humans
memory include the relevance that context and ⁄ or experience can (Pompili et al., 2010; Gasbarri et al., 2008). The decrease of estro-

214 215
gen following ovariectomy or menopause enhances the possibility demand on an animal’s WM system was restricted to one to four
of such diseases as osteoporosis and vasomotor dysfunction but elements of information. However, when the demand on the WM
could also have a role in the development of cognitive impairments system was increased to six elements of information, physiologi-
(Sherwin, 2003). ERT relieves several menopausal symptoms, but cally moderate doses of estrogen replacement provided the maxi-
whether its benefits comprise protection of cognitive functions is mum benefit, even beyond that of intact females.
still controversial. Moreover, it was reported that estrogen can prevent deficits in
In recent years, considerable progress has been made towards spatial WM induced by neurotoxin treatments aimed to mimic the
specifying the neural mechanisms underlying WM in humans, de- pathology of early AD.
fined as the ability to retain information in the face of potentially Cholinergic and HF systems are closely linked to learning and
interfering distraction, in order to guide behavior and make a memory processes, and it can be predicted that estrogen has its
response. most profound effect on HF-dependent cognitive functions such as
Data from OVX rats treated with estrogen showed improve- learning and memory. In fact, estrogen enhances cholinergic func-
ments in performance of some tasks and impairments on others tion and the synthesis of acetylcholine in basal forebrain and the
compared to OVX, untreated controls. For example, improved per- cholinergic neurons projecting to the HF and cortex, and mediates
formance in estrogen-treated rats has been reported for tasks that dendritic spine density in the hippocampal CA1 region. In humans,
require spatial WM, such as the radial-arm maze and a 2-choice the HF and adjacent anatomically related cortex play a crucial role
WM task, while estrogen related impairment of performance in in the explicit encoding and consolidation of verbal and nonverbal
spatial reference memory tests, such as the Morris water maze task information into short-term memory. It has been speculated that
was described. estrogen activity in HF might underlie the effects of HRT on mem-
Estrogen replacement enhances spatial WM performance ory in postmenopausal women. Estrogen receptors, as well as estra-
both on water maze and radial-arm maze. The results of Fader et diol-concentrating neurons, were detected in the HF and entorhinal
al (Fader, 1999) confirm previous evidence that estrogen selective- cortex of rodents. Circulating estrogens have quantifiable effects
ly improves performance on tasks that depend on WM. In fact, es- on neurotransmitter activities in HF where, for example, a low es-
trogen treatment improved WM performance during maze acqui- trogen state increases serotonin transporter activity in the HF de-
sition, without affecting reference memory performance; scopol- spite an apparent reduction in serotonin transporter density; more-
amine treatment impaired WM, but not reference memory, while over, a regulation of NMDA and GABA receptors has also been
estrogen prevented the impairment of WM by scopolamine. A re- reported. Estradiol administration in OVX rats produces increased
cent paper of Gibbs and Johnson (2008) reported substantial sex ChAT activity and high-affinity choline uptake in CA1 field. Even
differences in the effects of gonadectomy and hormone replace- though research has mainly focused on the medial temporal lobe
ment on spatial working and reference memory in male and female areas, these are not the only neuroanatomical regions important
rats. An interesting direction of this field is the idea that estrogens for memory in humans. In fact, the PFC mediates a number of cog-
may influence learning strategy, independent from memory. nitive processes that contribute to memory function, particularly
Furthermore, both physiologically low and moderate doses of WM. WM represents an important function that has been strongly
estradiol replacement improved the capability of ovariectomized linked to the PFC in humans and nonhuman primates. In general,
rats to handle increasing amounts of WM information, when the WM tasks require the temporary maintenance of significant infor-

216 217
mation in a readily accessible form, while concurrently processing prevented or reversed in rats treated with hormone replacement.
and integrating new information or actively performing manipu- Estrogen may also regulate neurotransmission in the PFC of non-
lations, re-orderings, or other active updates on the stored con- human primates. Remarkable increases in axons immunoreactive
tents of WM itself. In humans, WM represents the basis for many for dopamine β-hydroxylase and 5-HT and reductions in the den-
cognitive functions, including reasoning, reading comprehension, sity of axons immunoreactive for ChAT and tyrosine hydroxylase
and mental calculations. Both nonverbal and verbal stimuli were were observed in the dorsolateral PFC of adult rhesus monkeys,
utilized in experimental tasks with a relevant WM component. following OVX. In OVX monkeys treated with estrogen, the densi-
The important role of the PFC in WM was demonstrated after ty of labeling was similar to hormonally intact controls, suggesting
lesion and electrophysiological techniques in monkeys, functional that estrogen plays a role in maintaining cholinergic, noradrenergic,
neuroimaging techniques in healthy human volunteers, and local- serotonergic, and dopaminergic activity in the PFC. In addition, in
ized cortical excisions in human neurological patients. Taking into humans, neuroimaging studies using positron emission tomogra-
consideration that, by definition, WM tasks intrinsically involve phy (PET) or functional magnetic resonance imaging (fMRI) have
both temporary retention of verbal or visual information and its ac- evidenced systematic differences in patterns of task-induced brain
tive manipulation, some researches have clarified that the require- activation in PFC, connected to differences in women’s estrogen sta-
ment for active manipulation during WM tasks specifically recruits tus, in a behavioural study conducted on rhesus monkeys, showed
activity in dorsolateral PFC. In contrast, passive storage processes that menopausal and postmenopausal females, compared to age-
seem to depend on more posterior brain regions, as evidenced by matched but premenopausal females, exhibited an impairment of
deficits in the immediate span for spatial or verbal information, performance on the WM Delayed Response task, commonly used
in patients with lesion of parietal or perisylvian cortex, and by to assess PFC dysfunction in nonhuman primates. Taken together,
changes in functional cerebral activity in parietal and temporal re- the neuroendocrine and behavioral data supply evidence to suggest
gions of healthy volunteers, during performance of neuroimaging that estrogen is active in the PFC. In such a case, estrogen could
tasks that emphasize passive storage of information. Therefore, the modulate cognitive functions mediated by the PFC in women.
dorsolateral PFC, as part of the WM system, plays a critical role in Taking into account that the dorsolateral PFC is one of the ar-
mediating the control processes required for the active manipula- eas of the frontal cortex where estrogen activity was demonstrated,
tion, or selective utilization of items contained in WM. estrogen might contribute to WM function by modulating informa-
Several lines of research raised the possibility of estrogen’s tion processing in the PFC. In order to verify the hypothesis that the
modulating effect on the PFC. In particular, analysis of human WM system is responsive to estrogen in women, designed a study
brain specimens has revealed that in PFC estradiol concentrations evaluating, in a group of postmenopausal women, two measures,
was approximately two times higher than in temporal cortex or one verbal and one spatial, which strongly recruit the WM system
seven times higher than in HF, showing that the PFC is a principal (Digit Ordering, Spatial Working Memory task). Their findings were
target for estrogen in the adult female brain. Animal studies report- consistent with the hypothesis that estrogen is active within PFC
ed that estrogen influences the activity of several neurotransmitter and it can influence functions, like WM, dependent on this region.
systems in the PFC. For example, a 56% reduction in ChAT and a In agreement with the above findings, there is evidence of the
24% reduction in high affinity choline uptake in the frontal cortex activation of PFC during the performance of WM tasks, and de-
of female rats at 28 weeks post-OVX were found; this effect was crease of WM with increasing age. The integrity of both the PFC

218 219
and its complex neural circuitry, which consolidates input from fear, disgust and surprise – and their corresponding facial expres-
various modalities via cortical, subcortical, and limbic connections, sions, are recognized across different cultures (Ekman, 1976) im-
are critical to intact executive functions, an amalgamation of cog- aging studies, focusing on the localization of emotion processing
nitive processes that includes WM, besides directed attention, re- in the human brain, showed that different brain areas are activated
sponse inhibition, dual task coordination, cognitive set switching, during the processing of different, distinct emotions. It was also
and behavioral monitoring. Dopaminergic and serotonergic fibers reported that not only subcortical areas, such as amygdala or bas-
originating in the brain stem project to PFC and modulate the ex- al ganglia, but also cortical areas, mainly PFC, cingulate cortex,
citability of prefrontal pyramidal neurons. Experimental reduction and temporal cortices, are essential in emotion processing many
of prefrontal dopamine in rhesus monkeys and naturally occurring studies on emotion perception in faces have been concerned with
loss of dopaminergic neurons in Parkinson’s disease are associat- identifying those regions of the brain, whose damage give rise to
ed with deficits in WM. The D2 agonist bromocriptine improves emotion perception deficits. This facial emotion recognition deficit
WM while D2 antagonist raclopride had a minor inhibitory effect. appears to be, at least in part, related to a more general problem
Ovarian steroids are powerful modulators of the dopaminergic in cognitive functions including the categorisation, discrimination
neurotransmission. In monkeys ovariectomy reduces, while subse- and identification of facial stimuli, as well as deficits in other cog-
quent estrogen and progesterone replacement restores, the density nitive processes, such as WM, which are impaired in the psychiat-
of axons immunoreactive for tyrosine hydroxylase in the dorsolat- ric and neurological damages.
eral PFC. Ovariectomy also decreases the density of axons immu- Physiological fluctuations in ovarian hormones across the
noreactive for ChAT and increases the density of fibers immuno- menstrual cycle allow for non-invasive studies of the effects of es-
reactive for dopamine β–hydroxylase. Estrogen replacement alone trogen on cognition in young women and underlie a reliable pat-
attenuates these effects estradiol also decreases monoamine oxidase tern of cognitive change across the menstrual cycle.
(MAO), involved in the degradation of dopamine (McEwen, 2002). The cognitive performance in a WM task for emotional facial
expressions, using the six basic emotions (Ekman, 1976) as stimuli
in the DMTS, was evaluated in young women in the different phases
3.1.1. Working memory for emotional facial expressions across
of the menstrual cycle, in order to point out possible differences re-
the menstrual cycle in young women
lated to the physiological hormonal fluctuations (Gasbarri, 2008).
Facial expressions are non-verbal communicative displays Our findings suggest that high levels of estradiol in the follicular
that are critical in social cognition, allowing quick transmission of phase could have a negative effect on delayed matching-to-sample
valence information to cospecifics concerning objects or environ- working memory task, using stimuli with emotional valence. More-
ments. In particular, humans and non-human primates use facial over, in the follicular phase, compared to the menstrual phase, the
expressions to communicate their emotional state. This communi- percent of errors was significantly higher for the emotional facial
cation can be reflexive, as situations may induce emotions that are expressions of sadness and disgust. The evaluation of the response
spontaneously expressed on the face. In other cases, particularly in times (time employed to answer) for each facial expression with
humans, facial expressions may consist in volitional signals with emotional valence showed a significant difference between follicu-
the aim of communicating, and not reflecting, the real emotional lar and luteal in reference to the emotional facial expression of sad-
state of the subject. Six basic emotions – happiness, sadness, anger, ness. Our results show that high levels of estradiol in the follicular

220 221
phase could impair the performance of working memory. However, We used two experimental protocols: in Experiment 1, which
this effect is specific to selective facial expressions suggesting that, assessed working and reference memory, we utilize a RAM with
across the phases of the menstrual cycle, in which conception risk four arms baited; in Experiment 2, which assessed spatial reference
is high, women could give less importance to the recognition of memory, we utilize the MWM. The results obtained in our study
the emotional facial expressions of sadness and disgust. This study suggest that the endogenous fluctuation of estrogen, naturally pres-
is in agreement with research conducted on non-human primates, ent across the different phases of estrous cycle of female rats, can
showing that fluctuations of ovarian hormones across the men- exert an influence over the performance of tasks utilized in the
strual cycle influence a variety of social and cognitive behaviors. present study to assess memory. In particular, in experiment 1, data
For example, female rhesus monkeys exhibit heightened interest obtained during 20 cycles revealed no significant differences across
for males and enhanced agonistic interactions with other females the estrous cycle for any measure of working and reference memo-
during periods of high estrogen levels (Lacreuse, 2007). ry. However, errors sorted according to proestrus phase (when ste-
Moreover, our data could also represent a useful tool for roid hormone are at peak levels) and estrous phase (when steroid
investigating emotional disturbances linked to menstrual cycle hormone are at their lowest levels) showed a trend evolution.
phases and menopause in women. This trend evolution showed clearly that the means of work-
ing memory errors are higher during estrous for almost each cycle
of the 20 considered; on the contrary, the means of reference mem-
3.1.2. Estrogen and working memory in rats
ory errors are higher during proestrus for almost each cycle of the
In recent years there has been an increase in the number of 20 considered.
the animal studies evaluating the effects of estrogen on learning The experimental procedure of radial maze requires food
and memory, comparing estrogen replacement in ovariectomized deprivation, which can disrupt the estrous cyc1es of female rodents.
animals, most using the most potent estrogen, estradiol. In spite of attempts of promote cyc1icity we keep food restriction
Most of those studies showed that a constant delivery of ex- to a minimum and we do not see major disruption of ovarian ac-
ogenous estrogen to ovariectomized rats influence memory per- tivity. Moreover, male rats were housed in the same room with
formance throughout radial arm maze (RAM) and Morris water females throughout the course of experiments to promote cyclicity.
maze (MWM) acquisition. However, there were no works study- In experiment 2, data obtained during 20 cycles showed that
ing intact female rats, without pharmacological and surgical treat- the latencies (time to reach the hidden platform) were significant-
ments, ovr a long period of time, across the estrous cycle. There- ly higher during proestrous phases compared to that of estrous
fore, we analyzed the performances in a RAM task, dependent phase; also the distances (the length to reach the platform) were
upon working memory, and in a MWM task, dependent upon spa- significantly higher during proestrus phase compared to that of
tial reference memory. estrous phase. These results showed that estrogen impaired spatial
In the present study, we used gonadally intact females, and reference memory.
concentrated our attention to the post-acquisition phase. To this Taking together, our data show that estrogen can have an ef-
aim, we first trained the animals to reach the criterion in perform- fect on memory processes, and that this effect may be different in
ing tasks, and than we submitted them to experimental phase relation to different kinds of memory.
(Pompili et al, 2010). One possible explanation is that the effects of estrogen on

222 223
cognition depend on the cognitive task used and reflect the differ- input, and this sensitivity positively correlated with dendritic spine
ential involvement of brain regions recruited during the various density. Furthermore, the administration of exogenous estrogen to
types of tasks utilized (Spencer et al., 2008). ovariectomized rats and the elevated levels of endogenous in the
It is well established that spatial learning and memory rely on proestrus were associated with enhanced induction of long-term
the integrity of HF and tasks designed to test hippocampal facul- potentiation in CA1.
ties in rodents include MWM navigation and baited RAM tests of Acetylcholine is considered a basic neurotransmitter in the
working and reference memory. regulation of learning and memory. The medial septum, the hor-
A variety of studies conducted in several different laborato- izontal limb of the diagonal band and the nucleus basalis mag-
ries indicate that estrogen induce morphological, physiological nocellularis expressed estrogen receptor immunoreactivity for 50-
and chemical changes in HF (McEwen, 2002). Therefore, it is not 80% of the cholinergic neurons in doubling labelling experiments.
surprising that behaviours relying on intact hippocampal function The basal forebrain contains cholinergic neurons that project
will be sensitive to estrogen. In fact, estrogen receptors are located to cerebral cortex and HF, where they play an important role in
in CA1, CA3, and the dentate gyrus. In situ hybridization studies cognitive function. A great deal of eveidence suggests that estradiol
revealed that although both the receptor-alpha mRNA and the re- enhances the affinity choline uptake and activity choline acetyl-
ceptor-beta mRNA are expressed in the hippocampus, estrogen transferase (ChAT) in the basal forebrain and two of its projec-
receptor-beta mRNA was more abundant. tion areas (the CA1 hippocampal field and the frontal cortex) and
The density of dendritic spines in dissociated hippocampal modulate acetylcholine release in the HF and overlying cortex.
neurons grown in culture doubled following exposure to estradiol. Additionally, high affinity transport of the precursor, choline,
The density of dendritic spines on pyramidal neurons in the CA1 was reduced in the frontal cortex and HF following ovariectomy,
region and the density of synapses in the stra¬tum radiatum of an effect reversed by estrogen replacement. Furthermore, several
CA1 varies with plasma estrogen levels in female rats. Rats in late studies have reported that the effects of estradiol on the choliner-
proestrus, when estrogen is high, have 30% higher spine densities gic system and cognitive function diminishes with time following
in the CA1 region than rats in late estrus, when estrogen is low. loss of ovarian function.
Proestrus rats, compared to rats in the estrus phase, have also a Many studies show a relationship between the ability of es-
higher proportion of “mushroom” shaped spines (Gonzalez-Bur- tradiol to influence cholinergic neuro-transmission and to induce
gos et al., 2005), widely believed to be a stronger, more mature changes in CA1 of the hippocampus.
subset of spines. In our study, estrogen selectively improved working memory,
Therefore, during the 4-day rat estrous cycle a natural fluctua- but not reference memory, during post-acquisition performance of
tion of spine density and shape occur, in response to fluctuating lev- a radial maze task with four baited and four unbaited arms. There
els of gonadal hormones, and similar results were reported follow- is growing evidence that estradiol enhances working memory, but
ing administration of exogenous hormones to ovariectomized rats. not reference memory Moreover, water maze performances showed
Many studies indicate that the increase of synapse and spine that estrogen have a negative effect on spatial reference memory.
density in CA1 pyramidal cells is mediated by N-methyl-D-Aspar- The results of many studies show that high levels of estradiol
tate (NMDA) receptors. Estradiol treatment increased the sensitiv- are associated with an improvement of performance on working
ity of CA1 pyramidal cells to NMDA receptor-mediated synaptic memory tasks.

224 225
By contrast to the positive effects of estrogen on working 4. Conclusions
memory, several studies reported that elevated levels of endoge-
The past two decades have seen an explosion of research on
nous or exogenous estradiol impaired or had no effect on tasks de-
the roles of hormones on cognition, and much progress has been
pendent primarily on spatial reference memory, such as the WM.
made, evidencing that ovarian hormones, particularly estrogen,
Furthermore, estradiol replacement in ovariectomized rats
are detrimental for cognitive function, affecting brain areas crit-
had no effect on arm choice accuracy in reference memory version
ical for cognitive function, such as the HF and prefrontal cortex.
of a radial arm-maze task.
The findings reported in this review could contribute in clari-
Why does estrogen differentially affect working and spatial
fying the role of the steroid hormone estrogen in the modulation of
reference memory?
some aspects of emotion and cognitive activity, including learning
One possible explanation is that estrogen may affect differ-
and memory processes. The knowledge of neurobiological param-
entially working and spatial reference memory because receptors
eters of the relationship between estrogen, cognition and emotion
for this hormone are located on cholinergic neurons in the medial
may be useful to develop therapies for the treatment of distur-
septum and horizontal limb of the diagonal band, basal forebrain
bances related to the phases of menstrual cycle and to attenuate
structures that send the majority of cholinergic input to the hip-
or prevent cognitive decline in older women, the fastest growing
pocampus. Many studies showed that the medial septum is criti-
segment of the population in industrialized countries. However,
cally involved in working memory function, but does not regulate
although this review showed that much has been learned about the
reference memory. Infact, lesions of the basal forebrain produced
effects of estrogen on cognition, many critical questions remain for
by the cholinergic immunotoxin 192 IgG-Saporin induce perfor-
future investigation.
mance impairments in spatial working memory tasks, but not in
spatial reference tasks.
In conclusion, if estrogen affect learning and memory perfor-
mance acting on basal forebrain cholinergic neurons that project to
the HF, the impact of this hormone on working memory without an
effect on reference memory is not surprising. The results of our long-
term study support the hypothesis that the physiological fluctuation
of estrogen that occur during the estrous cycle can differentially af-
fect the performance on working and reference memory tasks.
Further studies are required and our understanding of the role
of estrogen on task of learning and memory should be considered
within the context of its effects in brain areas, which play a role on
learning and memory, including both hippocampal and extra-hip-
pocampal areas.

226 227
References estrus rats. Neurosci. Lett. 2005; 379, 52-4.
1. Ekman P, Friesen WV. Pictures of facial affect. Palo Alto, CA: 10. Lacreuse J, Martin-Malivel HS, Herndon JG, Effects of the
Consulting Psychologists Press. 1976. menstrual cycle on looking preferences for faces in female rhesus
monkeys. Anim. Cogn. 2007; 10(2):105-15.
2. Fader AJ, Johnson PEM, Dohanich GP. Estrogen improves work-
ing but not reference memory and prevents amnestic effects of sco- 11. Luine VN. Sex steroid and cognitive function. J. Neuroendocri-
polamine on a radial-arm maze. Pharmacol. Biochem. Behav. 1999; nol. 2008; 20, 866-72.
62:711-717.
12. McEwen B. Estrogen actions throughout the brain. Recent
3. Frye CA, Duffy CA, Walf AA. Estrogens and progestins enhance Prog. Horm. Res. 2002; 57:357-384.
spatial learning of intact and ovariectomized rats in the object
placement task. Neurobiol. Learn. Mem. 2007; 88: 208–216. 13. McEwen BS. Stress, sex, and neural adaptation to a changing
environment: mechanisms of neuronal remodeling. Ann N Y Acad
4. Gasbarri A, Pompili A, d’Onofrio A, Cifariello A, Tavares MC, Sci. 2010; 1204 Suppl: E38-59.
Tomaz C (2008a). Working memory for emotional facial expres-
sions: role of the estrogen in young women. Psychoneuroendocri- 14. McGaugh JL. Memory--a Century of Consolidation. Science
nology 2008a; 33:964-72. 2000; 287:248-251.

5. Gasbarri A, Pompili A, d’Onofrio A, Tostes Abreu C, Tomaz C, 15. Pompili A, Tomaz C, Arnone B, Tavares MC, Gasbarri A.
Tavares MC. Working memory for emotional facial expressions: Working and reference memory across the estrous cycle of rat:
role of the estrogen in human and non-human primates. Rev. Neu- a long term study in gonadally intact females. Behavioural Brain
rosci. 2008b; 19:129-148. Research 2010; 213:10-18.

6. Genazzani AR, Pluchino N, Luisi S, Luisi M. Estrogen, cognition 16. Pompili A, Arnone B, Gasbarri A. Estrogens and memory in
and female ageing. Hum. Reprod. Update. 2007; 13:175-87. physiological and neuropathological conditions. Psychoneuroen-
docrinology 2012; 37:1379-1396.
7. Gibbs RB, Johnson DA. Sex-specific effects of gonadectomy and
hormone treatment on acquisition of 12-arm radial maze task by 17. Shafir T, Love T, Berent-Spillson A, Persad CC, Wang H, Reame
Sprague Dawley rats. Endocrinology. 2008; 149(6):3176-83. NK, Frey KA, Zubieta JK, Smith YR. Postmenopausal hormone
use impact on emotion processing circuitry. Behav Brain Res.
8. Gibbs RB, Gabor R, Cox T, Johnson DA. Effects of raloxifene 2012; 226(1):147-53
and estradiol on hippocampal acetylcholine release and spatial
learning in the rat. Psychoneuroendocrinology 2004; 29: 741-748. 18. Sherwin BB. Estrogen and cognitive function in women. Endo-
cr. Rev. 2003; 24: 133–151.
9. Gonzalez-Burgos I, Alejandre-Gomez M, Cervantes M. Spine-
type densities of hippocampal CA1 neurons vary in proestrus and 19. Spencer JL, Waters EM, Romeo RD, Wood GE, Milner TA,

228 229
McEwen BS. Uncovering the mechanisms of estrogen effects on Sobre os Autores
hippocampal function. Front. Neuroendocrinol. 2008; 29:219-37

20. Squire LR. Memory and brain systems: 1969–2009. J. Neuro- Antonella Gasbarri
sci. 2009; 29:12711–12716.
Full Professor.
Department of Applied Clinical and Biotechnologic Sciences,
University of L’Aquila, Italy
European Center for Brain Research, Santa Lucia Foundation
IRCCS, Rome, Italy.
Referee for the following journals: Acta Neurol Scandinav, Ar-
quivos de Neuro-Psiquiatria, Behav & Neur Biol (Neurobiol Learn&
and Mem), Behav Brain Res, Biochem & Behav, Brain Res, Cerebral
Cortex, Cognition and Emotion, Curr Pharml Design, Emotion, Ge-
nomics, Front Behav Neurosci, Hippocampus, Industrial Health, Jnl
Alzheimer’s Disease, Jnl Enz Inhib & Med Chem, Neurosci Prot,
Peptides, Pharmacol Reports, Pharmacology, Psychoneuroendocri-
nology, Salud UIS – Referee for the evaluation of Research Programs
(Italian Ministry of Research): PRIN, PON, FIRB.

Assunta Pompili
Full Professor.
Department of Applied Clinical and Biotechnologic Sciences,
University of L’Aquila, Italy.
European Center for Brain Research, Santa Lucia Foundation
IRCCS, Rome, Italy.

230 231
As bases neurológicas
do ego, Id e superego
Euclides Maurício Trindade Filho20

D
esde que a consciência apareceu nos seres humanos, algu-
mas perguntas referentes à sua origem surgiram; algumas
delas foram respondidas em função do desenvolvimento
das ciências, principalmente as ciências biológicas. Nos dias atuais,
sabemos com exatidão como ocorre a reprodução humana a partir
dos conhecimentos sobre fecundação e desenvolvimento embrioná-
rio, como ocorre a diferenciação embrionária que dá origem aos
diversos tecidos e órgãos, como as características genéticas são de-
terminadas e transmitidas, principalmente a partir dos estudos de
Mendel e da descoberta da estrutura dos ácidos nucleicos. Conhece-
mos também os mecanismos fisiológicos dos diversos sistemas bio-
lógicos: como eles se formam, como são amadurecidos e, inclusive,
podemos conhecer os diversos mecanismos que levam às suas dis-
funções. No campo da Física, passamos de uma compreensão base-
ada fundamentalmente em princípios teológicos, que considerava a
Terra como centro do universo para uma compreensão científica que
a coloca como elemento secundário e minúsculo dentro do cosmo.
No entanto, três questões continuam sem uma resposta efe-
tiva e completa: como surgiu o universo? Como surgiu a vida?
Como surge a consciência?
A primeira questão parece ser a mais difícil de ser respondida.
Existem teorias lógicas e interessantes quanto a esse início, basea-
das fundamentalmente na constatação de que o universo está em
expansão contínua, o que pressupõe a sua origem a partir de um
20. Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas.

233
momento e um ponto único. No entanto, a distância entre o come- e morrem, mas não são capazes de perceber todos esses processos,
ço e os dias atuais torna essa busca árdua em função da ausência isto é, não fazem uma história de si mesmo. Durante muitos anos
de instrumentos adequados para essa sondagem. – E por que não dizer nos dias atuais? –, o pensamento humano
A segunda questão, quanto à origem da vida, também, com foi e está dividido em duas correntes: o idealismo e o materialismo.
certeza, não será respondida nos próximos anos. Apesar de a te- A corrente idealista advoga que a primazia é da ideia. A ideia é o
oria da evolução ser amplamente aceita no meio científico, no elemento primário, gerador da matéria, o elemento secundário. To-
que se refere ao desenvolvimento das espécies, falta ainda algo de das as religiões têm como fundamento filosófico o idealismo. Nas
concreto, uma descoberta singular, um experimento elegante que diversas religiões, deuses (ou Deus) criaram (ou criou) toda a ma-
não deixe dúvidas quanto à origem dos primeiros seres vivos. Por téria. Assim, uma ideia, ou seja, Deus, é o responsável pela criação
outro lado, o desenvolvimento dos recursos tecnológicos à dispo- do universo. Nessa concepção, a consciência seria o espírito, que
sição das ciências nos últimos anos permite-nos imaginar que a teria vida própria e sobreviveria à finitude do corpo. Os defensores
resposta para a última pergunta é uma questão de tempo. da concepção materialista, por outro lado, pensam de forma opos-
A terceira questão, saber como surge a consciência, é o tema ta. Acreditam que a matéria é o elemento primário e o responsável
candente da Neurociência. A busca pelos mecanismos neurais res- pelo surgimento da ideia ou espírito. Os defensores dessa concep-
ponsáveis pela construção da mente tem sido objeto de pesquisas ção advogam que foi o desenvolvimento do corpo, em especial
de um número crescente de pesquisadores em todo o mundo. O es- do sistema nervoso dos mamíferos, que possibilitou esse salto de
tudos dos princípios neurofisiológicos dos neurônios e, principal- qualidade que gerou a autoconsciência. Dessa forma, a evolução
mente, o estudo dos mecanismos associativos dos neurônios den- que ocorreu no sistema nervoso humano criou as condições para
tro das chamadas redes neuronais têm contribuído enormemente que um arranjo neuronal específico pudesse gerar esse elemento
para o entendimento de como esses processos levam à subjetivida- subjetivo conhecido como a mente. Descartes, no século XVII, ten-
de contida em nossas mentes. Por outro lado, a questão de como tou conciliar essas duas correntes, criando o chamado dualismo.
a consciência surgiu ao longo das espécies é mais tangível e razo- Nessa concepção, tanto a matéria quanto a ideia ou espírito seriam
avelmente aceita no meio científico. Essa questão foi inicialmente os elementos primários, e não existiria causalidade entre eles. Os
abordada do ponto de vista filosófico no tocante à causalidade das dois teriam vidas independentes, podendo interagir entre si. No en-
unidades do universo. tanto, a possibilidade dessa interação nunca foi comprovada cien-
A natureza possui dois componentes: a matéria e a ideia (em tificamente, por mais que alguns físicos tentassem infrutivamente
uma acepção científica) ou espírito, como é mais intuitivamente encontrar uma solução para esse dilema do dualismo.
entendido, em uma linguagem mais popular. A matéria é o elemen- Na área científica, a visão idealista como geradora da cons-
to palpável, concreto, mensurável e constituído fundamentalmente ciência nunca foi ampla e efetivamente defendida como geradora
de átomos. A ideia, por outro lado, é o elemento subjetivo, sem da consciência. Apesar de um grande número de pesquisadores se-
corpo, representado pelo pensamento, pelos sentimentos e pela rem religiosos, a maioria deles não utilizava os princípios religiosos
própria autoconsciência. Esta última entendida como a capacidade para explicar a origem da consciência. O que sempre existiu na
que apenas os humanos têm de perceber a sua existência concreta, área científica foi a disputa entre os partidários da corrente locali-
espacialmente e temporalmente definida. Os outros animais não zacionista, que advoga que áreas específicas do sistema nervoso são
têm essa capacidade. Eles nascem, desenvolvem-se, reproduzem-se responsáveis por comportamentos específicos, e os generalistas, que

234 235
defendem que os diversos comportamentos são frutos do trabalho dicos que visavam a corrigir um quadro clínico específico, mas que
global do sistema nervoso. Apesar de vários pesquisadores terem resultaram em desastres na vida pessoal dos pacientes; entretanto,
contribuído para a solução desse debate, o pêndulo oscilou para redundaram em contribuições históricas fundamentais para o en-
o lado dos partidários da concepção localizacionista, a partir dos tendimento do funcionamento sistema nervoso. Como exemplo,
trabalhos do médico francês Jean Paul Broca. Paul Broca era mé- citamos de início o caso do paciente Henry Gustaf Molaison, mais
dico do Hospital Salpetriere, em Paris, e sob seus cuidados existia conhecido como paciente HM. Este paciente sofreu um traumatis-
um paciente de nome Leborgne, que apresentava um distúrbio da mo craniano ao cair de uma bicicleta quando tinha 5 anos. A partir
expressão da fala. Apesar de conseguir entender a linguagem, ele desta idade, começou a apresentar crises epilépticas do tipo parcial
apresentava uma estereotipia e geralmente respondia aos questio- complexa. Essas crises aumentaram em frequência e não respon-
namentos utilizando a palavra “tan”. Quando esse paciente mor- diam à medicação antiepiléptica. Quando ele completou 27 anos,
reu, Paul Broca examinou o seu cérebro e constatou uma enorme sua vida estava socialmente destruída, pois apresentava mais de 50
lesão ocupando toda a parte inferoposterior do lobo frontal esquer- crises ao dia, mesmo sob medicação. Foi então que seus médicos,
do. Portanto, Paul Broca, já no século XVIII, deixou bem claro que sabendo que as crises eram geradas por focos epilépticos localiza-
a região posteroinferior do lobo frontal esquerdo é determinante dos nos lobos temporais, decidiram fazer uma cirurgia radical
para a nossa expressão da fala. Quatro anos depois, Karl Werni- nunca antes realizada. O paciente foi submetido à ressecção das
cke, um médico alemão, apresentou casos opostos aos de Broca. regiões mediais de ambos os lobos temporais. Como resultado da
Eram pacientes que não conseguiam entender a linguagem falada, cirurgia, o paciente teve uma melhora considerável das crises epi-
embora apresentassem uma fala construída corretamente, porém lépticas. Por outro lado, aconteceu uma alteração desastrosa para
prolixa e sem sentido. Essa descoberta foi seguida por outras que o paciente, a qual comprometeu indelevelmente a sua qualidade de
demonstraram, de forma inequívoca, a associação entre áreas cor- vida: a perda da capacidade de formar novas memórias explícitas
ticais e comportamentos, como: motores, sensoriais específicos (vi- ou declarativas. Perdeu a capacidade de lembrar conscientemente
suais, somestésicos, gustativos, gustativos e auditivos), memória e de tudo e de todos com quem entrava em contato após a cirurgia,
atenção. Nos dias atuais, está amplamente estabelecida tanto é que tendo sido preservadas, contudo, todas as memórias gravadas até
os médicos, particularmente os neurologistas, utilizam semiologi- o momento da cirurgia. Assim, apesar desse resultado desastroso
camente esses conhecimentos para, durante o exame clínico, fazer para a vida do paciente, a ciência teve uma contribuição gigantes-
o diagnóstico topográfico da área neurológica lesionada. ca, pois ficamos sabendo da importância do lobo temporal, em
Embora ainda não exista um método elegante de perscrutar particular do hipocampo, nos processos de consolidação da me-
os mecanismos nervosos da geração da consciência, é possível tra- mória. No caso dos processos geradores da consciência, um outro
çarmos algumas hipóteses a partir do estudos de pacientes que so- procedimento médico-cirúrgico realizado também resultou em in-
breviveram a lesões traumáticas neurológicas e a lesões provoca- formações importantes para o seu entendimento. É o caso das ci-
das pelos médicos com propósitos terapêuticos. A literatura médi- rurgias de comissurotomias, ou seja, a secção do corpo caloso. O
ca é rica em casos clássicos de pacientes que sobreviveram a lesões corpo caloso é um compacto e grosso feixe de fibras nervosas que
neurológicas, espacialmente bem definidas, e desenvolveram alte- conecta um hemisfério ao outro, permitindo que o indivíduo exe-
rações específicas do comportamento. Da mesma forma, existe his- cute ações coordenadas utilizando-se de funções diferentes locali-
tórico de ablações neurológicas cirúrgicas empreendidas pelos mé- zadas em cada hemisfério. Desde os anos 40, pacientes epilépticos

236 237
com crises resistentes à medicação têm sido submetidos à cirurgia direito. A mesa de estudo possuía ainda uma espécie de gaveta,
de secção do corpo caloso. A calosotomia é eficiente em mais de também dividida em dois compartimentos, onde eram colocados
70% dos casos, com excelentes resultados em crises tônicas, atôni- objetos aos quais os pacientes tinham acesso apenas através das
cas, tônico-clônicas generalizadas e frontais com bissincronia se- mãos. Quando aparecia na metade direita da tela uma palavra ou
cundária. Como resultado, as crises diminuem em frequência e, um objeto, o paciente prontamente pronunciava a palavra ou o
quando surgem, ficam limitadas a uma das metades do corpo, sem nome do objeto. A informação era conduzida para o hemisfério
perda da consciência. No entanto, desde as primeiras cirurgias, al- esquerdo, que conscientemente respondia à pergunta. No entanto,
guns pacientes começaram a apresentar um comportamento estra- quando a palavra ou o objeto era apresentado na metade esquer-
nho que, no entanto, ajudou na formulação de uma teoria científi- da, o indivíduo ficava calado e, quando instado pelo pesquisador
ca da consciência. Esse comportamento estranho ficou conhecido para que respondesse, pronunciava uma palavra ao acaso, nunca
como síndrome da desconexão hemisférica, mas já havia sido rela- acertando o nome real da palavra ou do objeto apresentado. Quan-
tado, na literatura científica, como síndrome da mão alienígena. do uma palavra ou imagem carregada de conteúdo emocional era
Os pacientes com essa síndrome apresentavam atividades motoras apresentada na metade esquerda da tela, os pacientes continuavam
simples ou complexas da mão esquerda que estavam sem seu con- sem identificar a palavra ou o objeto; no entanto, ficavam emocio-
trole volicional. A mão esquerda fazia movimentos independentes nalmente perturbados. Inicialmente, os pesquisadores imaginavam
ao propósito e que, muitas vezes, eram opostos à vontade do indi- que a falta de resposta pelos pacientes era fruto da incapacidade
víduo. Os indivíduos tinham a percepção consciente de que a mão deles de utilizar a maquinaria da fala, localizada no hemisfério es-
esquerda estava atuando sem seu controle consciente, o que lhes querdo, à qual o hemisfério direito não teria acesso por causa do
conferia uma sensação angustiante de estranheza. A mão esquerda corte das fibras do corpo caloso. No entanto, quando os pacientes
chegava, às vezes, a machucar o rosto dos pacientes ou a tentar eram questionados sobre o que havia sido projetado, eles diziam
impedir que a mão direita realizasse uma ação proposital. Esse que não sabiam, pois não tinham visto nada. Por outro lado, quan-
comportamento deixava bem claro que o hemisfério direito, con- do a imagem projetada era de um objeto igual ao que havia na
trolador dos movimentos da mão esquerda, estava atuando por gaveta do lado esquerdo, o indivíduo pronta, mesmo involuntaria-
conta própria sem a influência do hemisfério esquerdo e, sobretu- mente, segurava o objeto com a mão esquerda e o apresentava.
do, sem a influência do “eu” consciente do indivíduo. Para esclare- Esses resultados mostraram que a ausência de resposta sobre as
cer esse comportamento, alguns pacientes foram colocados senta- informações que chegavam ao hemisfério direito não era simples-
dos diante de uma mesa com uma tela dividida em duas metades: mente porque os indivíduos não conseguiam falar através do he-
direita e esquerda. Nessas telas, eram apresentadas, durante alguns misfério direito; a questão era que o indivíduo, ou seja, o seu “eu”
milissegundos, uma palavra ou uma imagem em cada metade, as- consciente não teve acesso à informação. Por outro lado, a respos-
segurando que as informações apresentadas em cada metade fos- ta deixa claro que o hemisfério direito teria uma consciência pró-
sem enviadas apenas a um hemisfério. Assim, quando uma imagem pria, capaz de interpretar um estímulo e elaborar uma resposta
era projetada na metade direita da tela, essa informação era con- adequada embora essa resposta fosse geralmente de pequena com-
duzida, em função da decussação das vias visuais, apenas para o plexidade. Essa consciência, por não ter acesso ao instrumental da
hemisfério esquerdo, e, quando a imagem era projetada na metade linguagem, localizada no hemisfério esquerdo, ficava impossibili-
esquerda da tela, a informação era conduzida para o hemisfério tada de falar, mas respondia prontamente, utilizando-se de outras

238 239
formas de comunicação. Alguns pacientes, no entanto, eram capa- manticamente pela área TOP. Portanto, a área TOP do hemisfério
zes de fazer pequenas associações utilizando esse hemisfério direi- esquerdo é que nos permite reconhecer o significado das palavras
to. Por exemplo, quando apresentada ao hemisfério direito a ima- e nos permite entender a fala. A fala, por sua vez, é elemento base
gem de uma paisagem com neve, alguns pacientes escolhiam com a do pensamento. Dessa maneira, faz sentido imaginarmos que a
mão esquerda uma pá, mostrando que ele havia reconhecido a área TOP do hemisfério esquerdo seja a estrutura central no mó-
imagem e escolhido um objeto que tivesse uma relação com a ima- dulo nervoso responsável pela consciência. Poderíamos então di-
gem, no caso a pá que era utilizada para fazer a retirada da neve. zer, tomando emprestados os conceitos emitidos por Freud, que o
Esses resultados, portanto, deixam bem claro que nós possuímos nosso ego é estruturado organicamente na área TOP do hemisfério
duas mentes independentes: uma localizada no hemisfério esquer- esquerdo. Vale ressaltar que estamos utilizando unidades concei-
do, e outra localizada no hemisfério direito. A primeira nos permi- tuais de Freud, mas isso não quer dizer defender ou corroborar
te acesso consciente e é a responsável pelo que nós somos, ou seja, qualquer interpretação da mente advinda da psicanálise. Por outro
representa o “eu consciente” ou, utilizando o conceito freudiano, lado, nós sabemos que existe uma área TOP correspondente no he-
representa o nosso ego. A outra é normalmente inacessível cons- misfério direito. Essa área, embora menor e menos desenvolvida,
cientemente e representa um eu obscurecido, desconhecido, ou o também é uma área heteromodal e, portanto, está conectada com
“eu inconsciente”, que representaria o id proposto por Freud. Do as áreas sensoriais correspondentes do hemisfério direito. Assim,
ponto de vista anatômico, fica bem claro que o “eu consciente” poderíamos afirmar que nós temos uma outra mente, isto é, um
estaria localizado no hemisfério esquerdo, enquanto que o “eu in- outro eu localizado na área TOP do hemisfério direito. Essa hipó-
consciente” estaria localizado no hemisfério direito. No entanto, tese parece inicialmente despropositada, uma vez que nós temos
em quais regiões especificamente dos dois hemisférios estariam lo- uma percepção unitária da nossa mente. Nós não nos sentimos
calizadas essas duas mentes? duplos; a nossa mente nos proporciona ter uma história única e,
A área heteromodal temporo-occiptoparietal (TOP), localiza- portanto, fazermos um conceito único de nós mesmos. Mas, se é
da nos giros angular e supramarginal, parece ser uma área funda- assim, o que acontece com a área TOP do hemisfério direito? Será
mental no processo de construção da mente. A área TOP do he- que ela sofreu um processo de degeneração ou ficou atrofiada?
misfério esquerdo fica localizada na confluência de área sensoriais Será que a sua capacidade de gerar uma mente foi substituída plas-
importantes para o processo de unidade conceitual. A área TOP do ticamente por outras funções? Parece-nos que este não é o caso. O
hemisfério esquerdo é uma região aglutinadora das informações que provavelmente acontece durante o nosso amadurecimento é
provenientes das áreas sensoriais olfativas, gustativas, somestési- uma assimetria no desenvolvimento dessas duas áreas, motivada
cas, auditivas e visuais, sendo capaz de unificar as informações em pelos processos de aquisição e desenvolvimento da linguagem, que
um conceito único. A área TOP do hemisfério esquerdo é respon- é fundamental no desenvolvimento cognitivo, associado a um blo-
sável pela capacidade que nós temos de entender o significado da queio fisiológico obtido durante a evolução.
linguagem. As informações sonoras captadas pelas nossas orelhas Pesquisas realizadas no século passado delinearam as linhas
são conduzidas até a área auditiva primária. Daí, as informações gerais do desenvolvimento cognitivo humano. É geralmente aceito
sonoras de natureza linguísticas são enviadas até a área de Werni- que, durante o nosso desenvolvimento, passamos por quatro pe-
cke, que é parte da área auditiva secundária, onde as informações ríodos: período sensoriomotor, período pré-operacional, período
são transformadas em traços, capazes de serem interpretados se- operacional concreto e período operacional formal.

240 241
O primeiro período, que vai do nascimento até os dois anos, é to, não é automática, em função do envelhecimento. Para que esse
caracterizado pela ausência de linguagem, portanto, incapacidade período seja alcançado, a escola tem um papel fundamental, pois a
de a criança pensar simbolicamente. No lugar da simbolização, sistematização e a hierarquização passadas por ela ajudam a per-
existem os chamados esquemas, uma forma motora de representar mitir que essa evolução atinja o seu ápice. Nós podemos observar
as coisas. Nesse período, a criança reage reflexamente às suas ne- que aqueles indivíduos que não puderam frequentar a escola, ape-
cessidades, e todo o aprendizado desse período é através de meca- sar de apresentarem uma grande sabedoria em função de suas ex-
nismos implícitos. A criança é capaz de fazer imagens mentais que periências, comportam-se e reagem como se estivessem no período
lhe permitem responder adequadamente aos estímulos de várias operacional concreto. Por outro lado, podemos dizer que todo esse
espécies. No entanto, essas imagens mentais são fundamentalmen- desenvolvimento cognitivo só ocorre pelo advento da linguagem.
te de natureza motora e sensorial. Neste ponto, podemos agora chegar a algumas conclusões
No segundo período, o pré-operacional, que vai dos dois aos que podem explicar a assimetria no desenvolvimento das áreas
seis anos, a criança começa a utilizar a linguagem e passa a ser TOP dos hemisférios direito e esquerdo. Como o instrumental da
capaz de formar símbolos. Essa capacidade significa que a criança linguagem fica localizado na maioria das pessoas no hemisfério
pode entender que uma coisa possa representar algo diferente e esquerdo, a sua área TOP utiliza as suas potencialidades permi-
que não esteja presente. No início, essa representação se dá através tindo que o “eu esquerdo” possa evoluir, passando por todas as
de outros objetos, mas, finalmente, passa a ser através das pala- fases possíveis do desenvolvimento cognitivo, atingindo o seu ápi-
vras. No final desse período, a criança também demonstra uma ce, o observado no período operacional formal. Por outro lado,
capacidade de agrupar as coisas e os objetos em classes. A criança a área TOP do hemisfério direito não tem acesso a esse apare-
ainda é incapaz de utilizar o raciocínio e pensar de forma lógica e lho linguístico e, portanto, é condenada a estacionar no período
dedutiva; já consegue nomear os objetos, mas não classificá-los, e sensoriomotor. Assim, podemos concluir que o desenvolvimento
seus conceitos ainda são primitivos. evolutivo particular que ocorreu singularmente nos mamíferos,
No terceiro período, o período operacional concreto, que vai com o surgimento de dois hemisférios permitiu que nos humanos
dos 7 aos 12 anos, a criança é capaz de fazer abstrações; no en- surgissem duas mentes: uma localizada no hemisfério esquerdo,
tanto, essas abstrações são dependentes da experiência prévia das que evolui cognitivamente e assume o controle das ações do indi-
crianças. A criança opera e age sobre o mundo concreto, real e víduo que, em uma linguagem freudiana corresponderia ao ego, e
visível dos objetos e fenômenos. O pensamento da criança começa outra, localizada no hemisfério direito, condenada a viver no perí-
a ter lógica, porém embasados no concreto. Elas são incapazes de odo sensoriomotor e que também, na linguagem freudiana, seria o
tirar conclusões baseadas em inferências, na experiência alheia ou correspondente ao id.
baseadas em situações hipotéticas. Essa formulação deixa bem claro o porquê das respostas es-
Por fim, o último período, o período operacional formal, que tranhas dos pacientes que sofreram comissurotomia calosa. Quan-
geralmente surge após os 12 anos, representa o período da maturida- do a informação chegava ao hemisfério direito, sem acesso ao he-
de cognitiva. Nesse período, a simbolização chega ao ápice, propor- misfério esquerdo, a área TOP desse hemisfério, embora com uma
cionando ao indivíduo a capacidade de fazer raciocínios baseados mente infantil, era capaz de elaborar respostas simples, como iden-
na pura abstração, utilizando conceitos, conclusões e experiências tificar um objeto e prontamente responder através da ação motora
prévias. A passagem para o período operacional formal, no entan- sobre os músculos sob seu controle.

242 243
A esta altura da discussão, podemos fazer alguns comentá- Está bem estabelecido que, durante o sono, nós apresentamos,
rios sobre o destino do “eu direito”. Será que ele realmente está de forma cíclica, duas fases: a primeira com a qual damos início
condenado a viver nos porões do nosso cérebro durante toda a ao sono, convencionalmente chamada de fase NREM, e a segunda,
nossa vida? A observação dos casos de síndrome da desconexão conhecida como fase REM. Essa abreviatura se refere à expressão
nos mostra que seria desastroso para nós ter as nossas ações sendo “movimento oculares rápidos” em inglês. A primeira fase é sub-
dirigidas simultaneamente por duas mentes. Duas mentes diferen- dividida em três períodos crescentes em função da profundidade
tes: uma adulta e outra infantil, o que nos deixaria frequentemen- do sono. À medida que esses períodos progridem, o eletroencefa-
te expostos a situações embaraçosas. Mesmo que a mente direita lograma (EEG) dos indivíduos é progressivamente substituído por
também pudesse se desenvolver e chegar ao período operacional ondas lentas e de grande amplitude, existe uma desconexão senso-
formal, as duas mentes poderiam ter opiniões diferentes ou até rial, e ocorre uma diminuição do tônus muscular generalizado. No
mesmo divergentes, o que paralisaria as nossas ações por falta de sono REM, que corresponde a aproximadamente a 25% do sono
comando. Outro aspecto importante é que o hemisfério direito total o EEG é substituído por ondas de baixa amplitude e frequên-
especializou-se, durante a evolução, a trabalhar com informações cia mais alta, semelhante à observada na vigília; no entanto, o in-
diferentes daquelas do hemisfério direito. É comum na nossa vida divíduo continua desconectado sensorialmente do meio ambiente,
diária encontrarmos ou sermos apresentados a pessoas que temos e ocorre uma atonia muscular esquelética generalizada poupando
a nítida impressão de já a termos visto, embora conscientemente, apenas os músculos respiratórios e extrínsecos dos olhos. Quan-
nunca a tenhamos visto antes. Na verdade, nós já a vimos antes, o do os indivíduos são acordados durante a fase REM, em 90%
que aconteceu é que a pessoa impressionou o nosso “eu direito”, das vezes afirmam que estavam sonhando, enquanto que, quando
e este guardou a informação que não ficou acessível ao nosso “eu acordados na fase NREM, em apenas 10% das vezes relatam a
esquerdo”. Da mesma forma, o hemisfério direito armazena infor- presença de sonhos. No entanto, os sonhos relatados durantes as
mações referentes à prosódia da linguagem, assim o “eu direito” duas fases apresentam diferenças significativas. Os da fase REM
pode utilizar essas informações para formar uma interpretação da são prolongamentos do pensamento, de natureza linguística, fu-
linguagem baseada na melodia da fala, possibilitando, assim, inter- gidios, lógicos e com temas relacionados à vida diária. Os sonhos
pretar um sentido diferente daquele que está explicito no sentido da fase REM, pelo contrário, são vívidos, extremamente visuais,
literal das palavras, como as observadas nas ironias. Nos indiví- pouco linguísticos, atemporais, emocionais e bizarros.
duos normais, as informações armazenadas podem e devem ser Diversas teorias surgiram, ao longo do tempo, para explicar
aproveitadas para que ele possa ter uma vida mais adaptada; no os mecanismos dos sonhos. No início, dominado por questões te-
entanto, o “eu direito” não deve, em hipótese alguma, assumir o ológicas, os sonhos eram entendidos como mensagens dos deuses.
controle das ações do indivíduo. Felizmente, durante a evolução Os nobres e, principalmente os reis, tinhas em suas cortes um inter-
do sistema nervoso, surgiram mecanismos que, nos indivíduos pretador de sonhos, geralmente um sacerdote, que tinha a incum-
normais, impede que o “eu direito” aflore e assuma o comando bência de interpretar os sonhos desses indivíduos. Principalmente
das ações dos indivíduos. No entanto, esse bloqueio é retirado em em situações limite, quando os reis precisavam tomar decisões im-
duas condições: uma nos indivíduos normais, que ocorre durante portantes para o reino, utilizavam a interpretação dos seus sonhos
o sono, particularmente durante o sono REM, e outra anormal, por esses indivíduos para decidir o destino dos seus reinos. O nas-
que ocorre durante os surtos psicóticos. cimento de Cristo, um dos fundamentos do cristianismo, é conhe-

244 245
cido como um ato anunciado através de um sonho. No entanto, to”. Durante o sono, por outro lado, essas regiões frontais ficam
dando ênfase apenas às explicações de base científica, citaríamos a inativas, permitido que o “eu direito” assuma o comando pelas
psicodinâmica e as neurofisiológicas baseadas na consolidação da ações do indivíduo. Um dado importantíssimo nessa interpretação
memória e na ativação cortical. A primeira sugere que os sonhos é a constatação de que todo indivíduo que tem lesão na área TOP
nada mais são que desejos reprimidos, geralmente de natureza se- do hemisfério direito não consegue mais sonhar. Dessa forma, o
xual, que afloram durante o sonho. Como esses desejos não são sonho não seria mais do que atividade consciente do “eu direito”
aceitos pelo indivíduo, principalmente pelo seu conteúdo, eles são governando momentaneamente as ações do indivíduo. Essa visão
distorcidos e, portanto, aparecem de forma confusa. A segunda explicaria a natureza visual, ilógica, atemporal e bizarra dos so-
defende a ideia de que o sonho é o resultado de processo de des- nhos. Como foi comentado anteriormente, o “eu direito” ficou es-
carte das memórias armazenadas temporariamente no hipocampo. tacionado na fase sensoriomotora do desenvolvimento cognitivo.
Durante o sono o cérebro executaria um processo de filtragem, O “eu direito” é uma criança com menos de dois anos e, como tal,
enviando para o córtex cerebral as informações importantes e eli- tem um pensamento arcaico, baseado em imagens visuais e ainda
minando as informações irrelevantes. O cérebro, então, tentaria não adquiriu o conceito de tempo. O “eu direito” é incapaz de fa-
dar lógica a esses fragmentos de memória, dando origem aos so- zer raciocínio lógico; assim, durante o sonho nós somos incapazes
nhos. A terceira teoria afirma que os sonhos são gerados, durante apreender o absurdo das situações. Esse “eu direito” não consegue
o sono REM, por uma ativação aleatória, proveniente do tronco dar linearidade aos acontecimentos, podendo sonhar com pessoas
encefálico. Durante o sono REM foi constatado, incialmente em que já morreram como se estivessem vivas.
ratos, mas posteriormente em humanos, o surgimento de atividade A segunda condição na qual o bloqueio do cérebro sobre a
elétrica de grande amplitude, iniciando na ponte, propagando-se região TOP do hemisfério direito é retirado ocorre anormalmente
para o tálamo e terminando nas áreas occipitais do córtex cere- nos casos de surto psicótico. Há vários anos que as diversas áreas
bral. Assim, os sonhos seriam o resultado da ativação aleatória e das ciências que se devotam ao estudo do comportamento humano
casual de diversas áreas occipitais, o que explicaria o seu caráter já afirmavam as semelhanças entre os sonhos e os quadros psi-
caótico e visual. Nessa teoria, os sonhos teriam como causa primá- cóticos. Durante o surto psicótico, os pacientes perdem o senso
ria a ativação proveniente do tronco encefálico; o córtex cerebral, crítico da realidade. Desenvolvem ideias delirantes, geralmente de
com suas áreas cognitivas, teria um papel secundário, apenas ten- perseguição, sem base sólida que as justifiquem. Pensam e agem de
tando dar coerência às imagens geradas pela ativação proveniente forma inapropriada socialmente. Agem de forma infantil, como se
do tronco encefálico. No entanto, levando em consideração o tema não tivessem assimilado as normas sociais de boa conduta. Apre-
deste texto, outra alternativa nos parece mais coerente. sentam um discurso incongruente e bizarro. A linguagem dos pa-
Está bem estabelecido que os processos que levam à atividade cientes é inapropriada, desarticulada e sem sentido, como se os
consciente necessitam da ativação do córtex cerebral. Portanto, mesmos tivessem desaprendido a semântica das palavras. Apre-
tanto o “eu esquerdo” quanto o “eu direito” só poderiam eclodir sentam percepções estranhas de natureza visual e, principalmente
em condições de intensa ativação cortical, como as observadas na auditiva, as alucinações. O indivíduo afirma que está recebendo
vigília e durante o sono REM. Durante a vigília normal, mecanis- ordens externas, incitando-o a fazer ações geralmente inadequa-
mos provenientes dos lobos frontais impedem que a área TOP do das. Na verdade, não seriam ordens externas, mas sim o “eu direi-
hemisfério direito fique ativa, impedindo a eclosão do “eu direi- to” tentando instruir o “eu esquerdo” a cometer ações de acordo

246 247
com as suas convicções. Portanto, poderíamos afirmar que, duran- so das informações externas, chegando através das áreas primárias
te o surto psicótico, em virtude das alterações neuropatológicas, os às áreas de processamento heteromodal. Por outro lado, o sistema
mecanismos cerebrais não conseguiram impedir que o “eu direito” dopaminérgico estaria hipofuncionante, pois o mesmo teria uma
continuasse inibido durante a vigília e assim, os dois “eus” estão ação inibitória sobre as regiões dorsolaterais pré-frontais. Duran-
despertos simultaneamente e cada um tentando manter o controle te o sono NREM, a atividade cortical é reduzida gradativamente,
do indivíduo. O grau de controle de cada eu neste momento resul- motivada pela redução da atividade dos neurônios glutamatérgicos
taria nas diversas formas clínicas de esquizofrenia: controle total, e colinérgicos. Simultaneamente, os neurônios noradrenérgico e se-
na forma hebefrênica, e parcial, na forma paranoide. Essa afir- rotonérgicos silenciam, enquanto que os neurônios dopaminérgi-
mação seria corroborada pelo achados de que as áreas cerebrais cos mantém uma atividade basal de baixa intensidade, semelhante
ativadas e desativadas são semelhantes durante o sono REM e du- à observada na vigília. Essa redução é refletida eletrograficamente
rante o surto psicótico. Um achado marcante nessa proposição é pelo aparecimento de ondas de frequência θ (5-12Hz), inicialmente,
o fato de que quando os pacientes esquizofrênicos são privados de e ondas Δ (<4Hz) de grande amplitude nos períodos posteriores da
sono, não apresentam o rebote para o sono REM, normalmente fase NREM. Durante o sono REM, semelhantemente ao que ocor-
observados nos indivíduos sadios. Esses resultados demonstram re durante os surtos psicóticos, a ativação cortical também ocor-
que tais pacientes vivem em um estado semelhante ao sono REM, re sob a ação dos neurônios colinérgicos do tronco encefálico; no
mesmo quando estão em vigília, daí a ausência do rebote caracte- entanto, essa atividade colinérgica é acompanhada por inativação
rístico dos indivíduos normais. Foi observado também que a hipo- dos neurônios serotonérgicos e noradrenérgicos e pela ativação dos
ativação dos lobos frontais, em especial as áreas dorsolaterais dos neurônios dopaminérgicos. Dessa forma, os neurônios dopaminér-
lobos frontais, encontradas durante o sono REM, também existe gicos e as áreas dorsolaterais pré-frontais teriam um papel funda-
em estados psicóticos, como na esquizofrenia. mental no processo de inibição-ativação da área TOP do hemisfé-
Neste ponto da discussão, podemos colocar alguns aspectos rio direito. Quando os neurônios dopaminérgicos ficam ativos, eles
bioquímicos que corroboram com as ideias deste texto. Durante a bloqueiam as áreas dorsolaterais frontais que, por sua vez, reti-
vigília, a ativação cortical ocorre à custa da ativação de neurônios ram a inibição sobre a área TOP do hemisfério direito. Quando os
glutamatérgicos e colinérgicos provenientes da formação reticular neurônios dopaminérgicos ficam inativos, deixam de inibir as áreas
ativadora do tronco encefálico. Essa ativação cortical confere um dorsolaterais frontais que voltam a inibir a área TOP direito como
padrão eletroencefalográfico caracterizado pela dessincronização. normalmente ocorre na vigília sadia. Essas afirmações ganham sus-
O EEG caracteriza-se por ondas de baixa amplitude com frequ- tento com os achados de que indivíduos que foram submetidos à
ências acima de 14Hz. Predomina um padrão na banda espectral leucotomia frontal, na qual as fibras dopaminérgicas frontais são
β (15-30Hz), que é característica da vigília, aparecendo também cortadas, não apresentam mais sonhos. Da mesma forma, indi-
ondas na frequência γ (>30Hz) nas regiões com intensa atividade víduos que são submetidos a tratamento com o uso de agonistas
cognitiva. Essas ações cognitivas são sustentadas por atividade in- dopaminérgicos, como no caso da doença de Parkinson, relatam
tensa dos neurônios monoaminérgicos contendo serotonina e nora- aumento da frequência de sonhos e apresentam até mesmo, aluci-
drenalina, que seriam importantes para processos como a memória nações quando em vigília. Poderíamos assim afirmar que as regiões
e a atenção. Esta atenção estaria vinculada a uma grande ativação pré-frontais dorsolaterais atuariam como um sistema liga-desliga,
das áreas dorsolaterais pré-frontais, que permitiriam o livre aces- permitindo, em momentos adequados, a ativação da área TOP do

248 249
hemisfério direito. Quando essa área está ativa, ela bloqueia ativi- colocada, no fundo do orifício, uma almofada, que suavizava o
dade da área TOP direita, impedindo que o “eu direito” acorde, o impacto. Aconteceu, para infortúnio do operário, que alguém o in-
que deve acontecer na vigília sadia. Por outro lado, quando ela está terrompeu após a colocação dos explosivos no orifício. Ao voltar,
inativa, a área TOP do hemisfério direito deixa de ser inibida e, à atividade não percebeu que faltava colocar a almofada e então
portanto, essa desinibição permite que o “eu direito” possa acordar socou o explosivo diretamente com a barra de ferro. Houve então
e assumir o comando das ações do indivíduo, normalmente durante uma violenta explosão que projetou a barra de ferro através do eu
o sono REM e, anormalmente, durante os surtos psicóticos. Por crânio. O traumatismo destruiu partes importantes dos seus lobos
outro lado, a atividade da área pré-frontal dorsolateral seria modu- frontais, principalmente do lado direito. Mas, apesar da grave le-
lada pela atividade cíclica dos neurônios dopaminérgicos mesolím- são, o paciente sobreviveu ao traumatismo aparentemente bem.
bicos e mesocorticais. Quando eles estão ativos, provocam inibição No entanto, ocorreram mudanças radicais no seu comportamento.
da área dorsolateral frontal e, quando estão inativos, provocam Além de alterações da atenção e de funções executivas, ocorreu
desinibição da área dorsolateral, fato este observado tanto durante uma alteração profunda no seu comportamento social. Antes, o
o sono REM como durante os surtos psicóticos. operário era uma pessoa educada, respeitadora dos bons costumes
Essa discussão, aventando a possibilidade da existência de e, após o acidente, tornou-se um indivíduo completamente ino-
dois “eus” em nosso cérebro com características de desenvolvi- portuno. Apresentava uma desinibição inapropriada, semelhan-
mento diferentes, de uma certa forma, é plausível com a formu- te ao que ocorre com os indivíduos quando estão embriagados.
lação de Freud sobre os conceitos de ego e id. O ego, consciente, A literatura médica é rica em casos semelhantes provocados por
lógico, racional e abstrato, seria o resultado do desenvolvimento traumatismo, degenerações ou tumores, todos eles acompanhados
do “eu esquerdo”, enquanto que, o id, infantil, não linguístico, por desinibição após o comprometimento dos lobos frontais. As-
irracional e sensorial, seria resultado do pobre desenvolvimento sim, poderíamos afirmar que uma das atividades das regiões pré-
do “eu direito”. Se essas afirmações forem realmente verdadeiras, frontais seria atuar como um censor impedindo que agíssemos de
seria possível encontrarmos áreas cerebrais responsáveis pelo o forma inconsequente ou incompatível socialmente. A região pré-
que Freud chamou de superego? Os relatos obtidos de pacientes frontal seria uma espécie de local de armazenamento de regras
que sofreram traumatismo craniano apontam para uma resposta e padrões morais de comportamento, que seria consultada toda
positiva para essa indagação. Começamos com o relato clássico vez que fossemos fazer uma ação. Durante toda a nossa vida, nós
da Neurociência sobre o operário norte-americano Phineas Gage, somos ensinados a viver adequadamente do ponto de vista social.
no século XIX. Esse indivíduo trabalhava em empresa construtora Inicialmente a família, em seguida, os amigos e, principalmente, a
de estradas que estava construindo uma rodovia em uma região escola nos transmitem essas normas e regras, e elas são armazena-
pedregosa, cujas pedras deveriam ser retiradas. O processo de de- das nas regiões pré-frontais, principalmente no hemisfério direito.
tonação das pedras era bastante artesanal em comparação com o É um fato conhecido que o álcool tem atividade inibitória sobre
dos dias atuais. Inicialmente, era utilizada uma furadeira que per- o sistema nervoso; no entanto, essa ação se dá mais rapidamente
furava um orifício na pedra, onde eram colocados os explosivos. nos lobos frontais e no cerebelo. A inibição cerebelar provoca um
Esses explosivos teriam que ser, em seguida, compactados, utili- padrão típico de alterações de equilíbrio que caracterizam o indi-
zando uma barra de ferro. No entanto, para evitar que o contato víduo embriagado. Por outro lado, a inibição frontal provoca um
da barra de ferro com os explosivos provocasse a sua ignição, era comportamento de desinibição, que geralmente leva o indivíduo a

250 251
praticar atos socialmente inadequados, que eles não praticariam se Literatura recomendada
não estivessem sob o efeito do álcool.
1. PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança. Imitação Jogo e
É verdade que não podemos afirmar com absoluta segurança
Sonho Imagem e Representação. Rio de Janeiro: LTC, 1990.
que as hipóteses defendidas neste texto são verdades inquestio-
náveis; no entanto, o conjunto de conhecimentos adquiridos pela 2. GAZZANIGA, M. S.; IVRY, R. B.; MANGUN, G. R. Neuroci-
Neurociência nos últimos anos e as discussões ardorosas, mas inte- ência Cognitiva. A Biologia da Mente. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,
ligentes, que surgiram e surgirão, apontam para a possibilidade de 2006. 768 p.
que a resposta à pergunta de como surge a mente e, consequente-
mente, a percepção da autoconsciência observada pelos humanos 3. RHAWN, J. The Right Brain and the Unconscious: Discovering
esteja bem próxima[1-7]. the Stranger within. Michigan: Plenum Press, 1992.

4. MOTA, N. B.; RIBEIRO, S. T. G. Comparação entre sonhos


e psicose: do processamento de memórias aos déficits cognitivos.
Neurobiologia, Recife, v. 74, n. 3-4, p. 161-172, 2011.

5. SOLMS, M. Dreaming and REM sleep are controlled by dife-


rente brain mecanism. Behavioral and Brain Sciences, Cambridge,
v. 23, p. 793-1121, 2000.

6. FREUD, S. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago,


2001.

7. SCARONE, S.; MANZONE, M. L.; GAMBINE, O.; KANTZAS,


I.; LIMOSANI, I.; D’AGOSTINO, A.; HOBSON, A. The Dream as
a model for Psychosis: An Experimental Approach Using Bizarre-
ness as a Cognitive Marker.. Schizophrenia Bulletin, Rockville, v.
34, n. 3, p. 515-22, 2008.

252 253
sobre o autor Reflections of a
Reproductive Physiologist
Euclides Maurício Trindade Filho (Living and Working in Two Hemispheres)
Possui graduação em Medicina (1981) pela Universidade Fe-
deral de Alagoas (UFAL), mestrado em Ciências Biológicas (Fisio- Desmond Philip Gilmore (Des Gilmore)21
logia) pela Universidade Federal de Pernambuco (1995) e douto-
rado em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo
(2000). Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Estadual
de Ciências da Saúde de Alagoas, Colaborador da UFAL, Professor

B
Adjunto da Fundação Educacional Jaime de Altavila e Professor
orn in New Zealand of Irish descent, I was the first mem-
Adjunto da Faculdade de Alagoas. Tem experiência na área de Fi-
ber of our extended family to attend University. Soon after
siologia, com ênfase em Neurofisiologia, atuando principalmente
completing an undergraduate degree in Zoology at the Uni-
nos seguintes temas: eletroencefalografia, comportamento, epilep-
versity of Canterbury in Christchurch, I was awarded a New Zea-
sia, pilocarpina, depressão alastrante e serotonina.
land Government Scholarship to undertake a Ph.D. In late 1963 I
http://lattes.cnpq.br/8482346933128722
commenced my research, also at the University of Canterbury, on
the Australian brush-tailed possum (Trichosurus vulpecula). My
supervisor was Dr. Bernard Stonehouse, originally from England,
who has spent a life-time teaching and undertaking research, par-
ticularly in the Polar regions. The brush-tailed possum had been
introduced into New Zealand in the mid-nineteenth century be-
cause of its potential as a valuable fur producer. With no preda-
tors other than man, it quickly spread throughout the country to
become a major threat to forest and to a lesser extent farmland.
During my Ph.D., I examined various aspects of this marsupial’s
biology which led to 10 publications, the most important being a
finding that seasonal reproductive periodicity existed in the male
(as well as in the female) and that the animal’s prostate showed a
six-fold increase in size during the autumn breeding season (up to
200g) reflecting a marked rise in the activity of the interstitial tis-
sue of the testes (Gilmore, 1969). Moreover, both weight and body
fat deposits in the male possum dropped markedly with the onset

21. College of Medical, Veterinary and Life Sciences, University of Glasgow G12 8QQ.
SCOTLAND

254 255
of the autumn breeding season. My research involved the spending eyed young colonial from a far off country on the opposite side of
of long periods working in the field. Much of this time was spent the world. Incidentally, a little time after I left the Royal Veterinary
living in a caravan in various locations on Banks Peninsula near College, Peter McDonald became the first to discover that sexual
Christchurch with trappers employed by the local Rabbit Board, differentiation of the male brain in rats was actually brought about
who provided me with an unending source of material (over a by estradiol after its intraneuronal conversion from testosterone.
thousand animals were dissected). The Rabbit Boards were origi- This discovery resulted in him being recruited to study the situa-
nally set up in an attempt to reduce the rabbit population in New tion in other mammals at the Oregon Primate Centre. However, in
Zealand and later also took on possum control by trapping, shoot- 1974, just before his impending departure to take up the post in
ing and the use of poison. Interestingly, prior to European coloni- the United States, both Peter and his wife were killed in the crash
zation, the country had little in the way of mammals. However, the of a Turkish Airline in Paris; a devastating loss to the scientific
introduction of domestic animals, rabbits, hares, deer, possums, community and most of all to their family and close friends.
wallabies and mustelids has played havoc with the ecology and After two years in London I was in 1970 awarded a Ford
drastically reduced and in some cases exterminated the native bird Foundation Fellowship to move to the Worcester Foundation for
population, many being flightless. Experimental Biology in Shrewsbury, Massachusettts and work in
Upon completing my Ph.D. I was offered a Post-doctoral Fel- the laboratory of Dr, Min Cheuh Chang (known to all as just MC),
lowship, which I took up in 1968 at The Royal Veterinary Col- whose research with Gregory Pincus back in the 1950s had led to
lege in London in the Physiology Department there, headed by the development of the oral contraceptive and who had also shown
Professor E.C. Amoroso (Amo). There I worked with Dr. Peter that spermatozoa had to first undergo the process of capacitation
McDonald, recently returned to England after several years car- before fertilization could take place. In Dr, Chang’s laboratory I
rying our research in California. Our work was largely concerned spent two years studying the actions of various anti-fertility com-
with investigations into the sites of action in the rat brain of var- pounds in the male rat and hamster. The male reproductive tract of
ious anti-fertility compounds, using stereotaxic methods and the the rat was also surgically altered in an attempt to produce a revers-
intra-cerebroventricular injections of hypothalamic extracts (Mc- ible sterility. Other work dealt with the role of estrogens, anti-estro-
Donald & Gilmore, 1971). This research took place in the days genic compounds, progesterone, prostaglandins and gonadotropins
shortly before gonadotropin releasing hormone (GnRH) had itself in prolonging the length of pseudopregnancy in the rat (Shaikh &
been isolated and identified. It required visits to a local abattoir Gilmore, 1974). Living in New England was a fascinating experi-
and the use of a machete to remove the top of the skull of recently ence, with its beautiful Fall colors and its proximity to the moun-
slaughtered cattle and the surgical isolation of the hypothalamus tains of New Hampshire and Maine and to Québec in Canada.
to prepare the extracts for use in our experiments. It was demand- In 1972 I returned to the United Kingdom as a Lecturer in
ing work in freezing conditions, and frequently resulted in blisters Physiology at the University of Glasgow in Scotland. Here, through
and bruises to one’s hands! Other research demonstrated that dos- the kind co-operation of Professor Sir Malcolm McNaughton at
es of estrogen, not greatly outside the physiological range, could Glasgow Royal Infirmary, I obtained access to human material
initiate and prolong vaginal diestrus in the rat up to and beyond and thus had the opportunity to examine the manner in which hy-
that of a normal pseudopregnancy. Living and working in London pothalamic control of anterior pituitary function becomes estab-
during the late 1960s was a great experience, especially for a wide- lished in the fetus and the role the central neurotransmitters might

256 257
play in this process This work, in collaboration with colleagues brain regions (Siddiqui & Gilmore, 1988). Some of the changes
at St. Bartholomew’s Hospital in London (Drs. Alan McNeilly that take place are of late onset, occurring long after puberty has
and Chris Mortimer), indicated that in the human mid-term fe- been reached. Ph.D. students closely involved in the above research
tus, catecholamines and indoleamines, as well as the hypothalamic included an Iraqi (Mohammed Al Hamood) and Arif Siddiqui
regulatory hormones, are present and their concentrations can be from Pakistan.
measured (Gilmore et al., 1978). Moreover, LH- and prolactin-re- With other Ph.D. students (Colin Brown, Chaya Gopalan
leasing activity were demonstrated in extracts of mid-term human from India and Bayram Yilmaz from Turkey) we moved on to ex-
fetal hypothalamus using bioassays. Because this is well before the amine how the various opioid receptors in the brain modulate LH
hypophyseal portal blood vessels have fully developed, it is likely release and published 15 full length papers on this topic. These ex-
that cerebrospinal fluid may have a role to play in transporting periments included intraperitoneal, intravenous and intracerebro-
these neurotransmitters and hormones from the brain to the an- ventricular injections into the conscious unrestrained rat (Brown
terior pituitary during early fetal life. On arriving in Glasgow I et al., 1994; Yilmaz & Gilmore 1999). The endogenous opioids,
also continued with some research on antifertility compounds in in particular β-endorphin, are known to play a pivotal role in the
the male rat working with a colleague (Dr. Roger Wadsworth) at control of ovulation as their action is to inhibit the pre-ovulatory
Strathclyde University and a Ph.D. student (Tissa Ratnasooriya) LH surge. Moreover, they have also been implicated in the onset
from Sri Lanka. of exercise-associated amenorrhoea. We were able to demonstrate
In collaboration with both graduate and undergraduate that both mu- and kappa-opioid receptor subtypes are involved in
students and with colleagues at other Institutions in the United depressing the pre-ovulatory LH surge. Their action is to prevent
Kingdom and abroad (principally Professor Catherine Wilson at an increase in hypothalamic noradrenergic activity that leads to a
St. George’s Hospital in London), my major research over many rise in GnRH secretion into the hypophyseal portal blood vessels.
years in Glasgow has involved investigations into the manner by We were also able to show that the opioid antagonist naloxone
which the central neurotransmitters modulate the secretion of the increased the amplitude of the LH surge and thus blocked any
hypothalamic hormones, in particular GnRH. Experiments on rats effect of the opioids. Interestingly, after completing postdoctoral
involved the infusion into the IIIrd ventricle and arcuate nucleus research in Edinburgh and in Montreal, Colin Brown moved from
of a number of neurotransmitters, their agonists and antagonists, his native Scotland to New Zealand where he took up a post in the
including several newly-developed drugs obtained from pharma- Medical School at Otago University in Dunedin – one leaves the
ceutical companies. In this way we characterized the receptors in- country but after a very long time his replacement arrives!
volved in the stimulation of gonadotropin release by noradrena- Funded by a grant from the Wellcome Trust to Professor A.P.
line and its inhibition by dopamine (Al-Hamood, et al., 1985). (Tony) Payne of Glasgow University and myself we set out, along
From here we went on to carry out a detailed investigation with another Ph.D. student (Heather Johnston), to investigate how
into the role the biogenic amines play in sexual differentiation opiates, administered during the critical period for brain sexual
of the brain. Using high performance liquid chromatography we differentiation, might affect this process in hamsters. Opiates are
demonstrated that androgens, acting during a limited critical pe- known to interfere with neural development, and exposure of the
riod in the rat, have a long-lasting and generalized effect on both developing nervous system to opiates can also affect brain sex-
the catecholaminergic and serotoninergic systems within various ual differentiation. For complete masculinization of both the re-

258 259
productive tract and behavior, sufficient levels of androgens must period, could have serious implications if, as in rodents, it affected
be present during limited critical periods. In rodents, such as the sexual orientation along with reproductive and other social behav-
rat and hamster, this critical period occurs perinatally. When the ior once adolescence was reached (Johnston et al., 1994).
long-acting opiate Duromorph® was administered by us to golden Other large grants from the Wellcome Trust and the British
hamsters over the last four days of their pregnancy, and to their Biotechnology and Biological Sciences Research Council funded
pups during the first four days of life, adult sexual behavior was research for Tony Payne, Drs. Sarah Mackay, Suzanne Ullmann
altered Although this perinatal opiate exposure had little effect and myself, (along with a Chinese Ph.D. student, Sheila Xie) to
on the female pups’ ability to display normal sexual behavior as investigate the course and nature of sexual differentiation of the
adults, feminine sexual behavior (lordosis) in the males was greatly brain and reproductive systems in the South American opossum,
enhanced. In a further study in which we treated hamsters with Monodelphis domestica. We set up a breeding colony of these in
Duromorph® throughout pregnancy and into lactation it was dis- Glasgow. Because marsupials are born at a quasi-fetal stage, they
covered, rather unexpectedly, that this chronic opiate exposure in- provide a unique opportunity for developmental studies. It was
creased both feminine and masculine sexual behavior in the male also interesting that I began my research career working on an
offspring when adult. Again, no significant changes in either femi- Australian possum and many years later returned to study another
nine or masculine sexual behavior were seen in the female offspring marsupial, but this time a South American one! Development of
which had received exactly the same treatment. The fact that male the scrotum in the marsupial had long been regarded as an andro-
sexual behavior was even higher in the experimental group than in gen-independent process. We clarified the ontogeny of scrotal de-
the control males would seem to rule out that the observed changes velopment by histological examination of opossum embryos/pups
in feminine behavior were in fact caused by a reduction in andro- sexed by karyotyping from one day prior to birth until two days
gen levels during the critical period for brain sexual differentiation, after. Expression of the key steroidogenic enzyme, 3β-hydroxys-
and indicate that another mechanism was involved. The chronic teroid dehydrogenase, was first detected in gonads and adrenals
administration of Duromorph® in our experiments may have af- of both sexes one day prior to birth and before the appearance
fected opioid receptor distribution and ontogeny in the male ham- of scrotal bulges. Androgen receptor-like immunoreactivity was
ster offspring and thereby delayed neural development, so that the detected in the scrotal anlagen of male opossum pups as early as
systems involved in the defeminization process occurred too late in one day after birth, significantly earlier than previous reports and
the critical period for this to be completed. This would cause such coinciding with the appearance of scrotal bulges. Androgen recep-
males to show a higher incidence than expected of lordosis, but tor-like immunoreactivity was also seen in the genital tubercles
would not explain why the same hamsters showed a great increase of male pups, but not in female pups, two days after birth. Our
in male sexual behavior as well, in comparison to the controls. It is results indicated that androgens may play an important role in
also possible that the opiates affected brain neurotransmitter con- the development of the male genitalia at a much earlier stage than
centrations and therefore interfered with the signals which these had previously been assumed and that scrotal development in this
have been shown to provide for neural outgrowth and synapto- species may not be androgen-independent as had been suggested.
genesis. In the human brain sexual differentiation is known to take Other findings suggested that anti-Müllerian hormone (the secre-
place during midgestation. Exposure of a human male fetus to opi- tion from Sertoli cells responsible for regression of the female duct
ates, for example through heroin abuse by the mother during this system in males) is produced from embryonic day 14 until at least

260 261
25 days after birth. We have also examined sexual dimorphism in reproductive hormones in this animal, we were able to demon-
the cremaster muscle which is present in both sexes in marsupi- strate that the anterior pituitary quickly responds to the adminis-
als. Transverse sections of the cremaster muscle in Monodelphis tration of exogenous GnRH by dramatically increasing its output
showed that in the male the muscle was compact and circular in of LH, which in turn leads to a very significant rise in circulating
outline, whilst the female muscle was larger and more diffuse; nev- testosterone levels. We were able to detect sloth LH and prolactin
ertheless, the male muscle contained about 30% more fibres. Last- using radioimmunoassays set up for measuring these hormones in
ly we examined the control of testis descent in Monodelphis. By the rat. However, neither follicle stimulating hormone nor thyroid
postnatal day 13 the abdominal phase of testis descent has com- stimulating hormone cross-reacted with the antibodies available
menced and the inguinal phase by day 15. The testes have entered for measuring these molecules in the rat and human.
the scrotal sac by day 24 and are in their final position by day 28. There has long been disagreement as to whether there is a
Three lengthy and several shorter papers were published on the breeding season for Bradypus variegatus, or whether the animals
findings from this research (Xie et al., 1998). reproduce throughout the year.
Through a chance meeting with Professor Waldemar Ladosky In a study undertaken during August-September 1991, we ac-
at a conference in Berlin in 1980, I was invited across to the Uni- cumulated evidence to indicate that in the male sloth either
versidade Federal de Pernambuco in Recife to examine neurotrans-
mitter levels in the opossum Didelphis albiventris. Unfortunately a. breeding is indeed seasonal, with a complete cessation of
this work was unproductive, but while at the University I struck spermatogenesis occurring during certain times of the year
up a close friendship with Professor Carlos Peres da Costa. As a or
consequence I returned at his invitation in 1989 to engage in col- b. that there are a small number of “dominant males” in which
laborative research, lasting more than 20 years largely, but not ex- spermatogenesis continues while in the subordinate major-
clusively, on endocrine function in the three-toed sloth (Bradypus ity of animals reproductive function is arrested.
variegatus). This research with Carlos and his colleague Professor
Denia Fittipaldi Duarte resulted in a large number of publications, A third, but unlikely possibility is that functional sperm are
the most recent being a chapter in a monograph on xenarthrans stored outwith the testes, possibly in the cauda epididymis, thereby
(Gilmore et al., 2008). It has largely been funded by the Pernam- enabling the animals to mate successfully at any time of the year.
buco State Research Foundation (Fundação de Amparo a Ciên- In all the animals examined during 1991, the seminiferous tu-
cia e Tecnologia – FACEPE), the Brazilian Ministry of Education bules were in a very poor state. Although the occasional mature
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Persoal de Nível Superior spermatozoon was seen, all intermediate stages in the spermato-
– CAPES) and the Brazilian National Council for Scientific and genic cycle were entirely lacking. In this condition the sloths would
Technological Research (Conselho Nacional de Desenvolvimento have been completely infertile and one wonders how long it would
Cientifíco e Tecnológico – CNPq). My initial visit to Brasil stimu- have taken for the seminiferous tubules to have recovered full activ-
lated an intense love for the country, its people and culture which ity. This research involved hormone measurements combined with
has only intensified over the years. electron and light microscopical examination of gonadal tissue. In
The three-toed sloth, Bradypus variegatus, is still present in 2006 a study was undertaken with a Mestrado student (Monica
the forest close to Recife. Early on, investigating secretion of the

262 263
Mühlbauer) to assess the possibility of measuring fecal steroid hor- frequently also to the first and/or second year medical, dental and
mone metabolites as a non-invasive technique for monitoring repro- nursing students. Experimental laboratory and histology teaching
ductive function in Bradypus. The metabolites of both estradiol and to those groups of students mentioned above has extended over
progesterone were detected and were able to be measured. More- most areas of physiology. Reproductive physiology and endocri-
over they indicated when ovulation had taken place, thus demon- nology have been taught regularly to third year students studying
strating that the procedure is indeed a reliable one for recording for degrees in Developmental Biology, Neuroscience, Pharmacolo-
gonadal steroid secretion and thus reproduction in the sloth. gy, Physiology and Zoology. At the Honours Level, for many years,
I have also been involved in other research in Glasgow not I have organized a five week Unit in Neuroendocrinology mainly
exclusively related to reproduction. Approximately 15 years ago a for Physiology and Neuroscience students. Endocrinology lectures
strain of rat arose as a spontaneous mutation, in the Laboratory of have also been given on a regular basis to Physiology and Phar-
Human Anatomy at Glasgow University. The rats show progressive macology students. The supervision of senior students working on
impaired locomotion, associated with ungainliness and hind limb research projects, either during term time or over the summer va-
rigidity. With Tony Payne, David Russell and others it was demon- cation, has on several occasions, led to publications. On many oc-
strated that there is a 60% deficit in dopaminergic cell bodies in casions I have taught on postgraduate medical courses and others
the substantia nigra and a marked reduction of dopamine levels in in Sports and Exercise Science and Sports Medicine.
the substantia nigra, ventral tegmental area and corpus striatum. In late 2006 I took on a role as a Facilitator in the prob-
Levels of other neurotransmitters are also decreased. The condi- lem-based teaching to first and second year medical students and
tion is a progressive one and it is hoped that this strain of rat may this continues to the present day. I find facilitating extremely in-
prove an appropriate animal model for investigations into human spiring and most enjoyable, as the students are almost without
movement disorders. This work has received support from the Par- exception very intelligent, enthusiastic, hard-working and a real
kinson’s Disease Society and the British Medical Research Council. pleasure to be involved with.
Along with my involvement in teaching to the Physiology and On seven occasions between 1989 and 1997 I participated in
Sports Science students in Glasgow, I have initiated research into the Mestrado course at the Universidade Federal de Pernambuco,
the effect of exercise on circulating hormone levels in young ac- presenting a short series of lectures in reproductive physiology. In
tive and sedentary males. Another Physiology & Sports Science November 1999 I was sent by Glasgow University out to St. Mat-
Honours project led to the publication of a short letter to Nature thew’s Medical School in San Pedro, Belize, to teach a week’s revi-
indicating that male distance runners were likely to father slightly sion course in general physiology.
more daughters than sons! We have also examined IGF-1 levels, Throughout my life I have been extremely keen on sport, in
leg extensor power and physical performance after proximal fem- particular cross-country and road running. After giving up compet-
oral fracture in elderly women and investigated the effect of stren- ing, I decided to contribute to the sport as an Official and now hold
uous training and repeated cycles of weight loss on leptin and sex Scottish Athletic Federation (SAF) qualifications as Track Judge,
hormones in elite female wrestlers. Field Judge and Timekeeper, and regularly officiate at University
During my career my teaching has ranged from the elementa- and SAF meetings. I was a Technical Official at the 1986 Common-
ry to the postgraduate level. Over the years I have taught basic en- wealth Games in Edinburgh, at the European Cross Country Cham-
docrinology and reproductive physiology to science students, and pionships in Edinburgh in 2003 and at the World Cross Country

264 265
Championships also in that city in March 2008, as well as assisting
during the Olympic football matches in Glasgow in July 2012. This
involvement in athletics has very much complemented my academ-
ic life and has proven to be a very welcome means of relaxing, espe-
cially when work commitments are intense and stressful.
I firmly believe that the best teachers are those also undertak-
ing research. Both go together hand in hand and nothing inspires
the students more than a lecturer who delivers their lectures clearly Figure 1: A photo taken at Oxford near Figure 2: This shows an abattoir in London
and enthusiastically incorporating the latest research findings, in- Christchurch in 1964 when I was about where Peter McDonald and his Ph.D. student
cluding their own, in the material being presented. Finally, without to return from a trip collecting possums. (Richard Craven) are removing brains from
Transport was basic, to say the least! cattle to extract the hypothalami (1969).
doubt the most valuable part of my entire career has been the mak-
ing of life-long friends amongst fellow researchers, teachers and
students, coupled with the opportunity to visit and live in many of
the most interesting and beautiful places on this planet.
Included with this resumé are a selection of photographs illus-
trating the places where I have worked and visited and a number
of my colleagues, who are also valued friends.

Figure 3: A photo of Peter McDonald, his Figure 4: With Dr. Chang and his techni-
wife Wendy and son Paul also taken in 1969 cian (Dot Hunt) in Dr. Chang’s office at the
at Beachey Head at the cliffs of Dover on Worcester Foundation (1971).
the English Channel.

Figure 5: On the Bosphorus near Istanbul


with Cathy Wilson22, Tony Payne and Da-
vie Russell shortly before leaving to attend
a conference in Elazig in eastern Turkey
(1999).

22. Cathy Wilson sadly died in 2011.

266
Figure 6: In Istanbul (left to right) Cathy Wilson, Davie Russell, Ron Baxendale, Tony
Payne & Arif Siddiqui (1999).

Figure 8: In the Anatomy Museum at Glasgow University with Andy Lockhart (Chief Te-
chnician) and colleague Dr. Sarah Mackay shortly before the summer graduations (2000).

Figure 7: Outside the conference centre in Elazig (Turkey) with


Arif Siddiqui, Davie Russell and Ron Baxendale (1999).
Figure 10: With my colleague and friend Professor Carlos Vasconcelos at the Universidade
Federal de Pernambuco (2009).

Figure 9: Carlos Peres da Costa & Des Gilmore at the joint meeting of the British & Bra-
zilian Physiological Societies in Riberão Preto (2006).
Selected References:
1. Gilmore, D.P. (1969) Seasonal reproductive periodicity in the
male Australian brush-tailed possum (Trichosurus vulpecula Kerr).
Journal of Zoology (London) 157: 75-98.

2. McDonald, P.G. & Gilmore, D.P. (1971) The effect of norethin-


drone on hypothalamic and pituitary thresholds for the induction
of ovulation in the rat. Neuroendocrinology 7: 46-53.

3. Shaikh, A.A. & Gilmore, D.P. (1974) Factors involved in the


maintenance of luteal function in the pseudopregnant rat. Journal
of Reproduction and Fertility 36: 387-394.

4. Gilmore, D.P., Dobbie, H.G., McNeilly, A.S. & Mortimer, C.H.


(1978) Presence and activity of LH-RH in the mid-term human
fetus. Journal of Reproduction and Fertility 52: 355-359.

5. Al-Hamood, M.H., Gilmore, D.P. & Wilson, C.A. (1985) Evi-


dence for a stimulatory beta-adrenergic component in the release
of the ovulatory LH surge in pro-oestrous rats. Journal of Endo-
crinology 106: 143-151.

6. Siddiqui, A. & Gilmore, D.P. (1988) Regional differences in the


catecholamine content of the rat brain: effects of neonatal castra-
tion and androgenization. Acta Endocrinologica (Copenh) 118:
483-494.

7. Brown, C.H., Gilmore, D.P., Kalia, V., Leigh, A.J. & Wilson,
C.A. (1994) Dose-dependent opioid modulation of the preovula-
tory luteinizing hormone surge in the rat. Mediation by catechol-
amines. Biogenic Amines 10: 119-128.
Figure 11: The University of Glasgow on a cold winter’s day (2010).
8. Yilmaz, B. & Gilmore, D.P. (1999) Opioid modulation of cate-
cholaminergic neurotransmission and the pre-ovulatory LH surge
in the rat. Neuroendocrinology Letters 20: 115-121.

273
9. Johnston, H.M., Payne, A.P. & Gilmore, D.P. (1994). Effect About author
of exposure to morphine throughout gestation on feminine and
masculine adult sexual behaviour in golden hamsters. Journal of
Reproduction and Fertility 100: 173-176. Curriculum Vitae – Desmond Philip Gilmore*

10. Xie, Q., Mackay, S., Ullmann, S.L., Gilmore, D.P. & Payne, Place of Birth, Lower Hutt, New Zealand Dual British/New Zea-
A.P. (1998) Postnatal development of Leydig cells in the opossum land Citizenship
Monodelphis domestica: an immunocytochemical and endocrino-
logical study. Biology of Reproduction 58: 664-669.
Degrees:
11. Gilmore, D., Duarte, D. & da Costa, C.P. (2008) The physi- B.Sc. (Zoology) University of Canterbury, New Zealand (1963)
ology of two- and three-toed sloths. Chapter 13 pp 130-142 in Ph.D. (Zoology) University of Canterbury, New Zealand (1967)
Biology of Xenarthra, Edited by Jim Loughry & Sergio Vizcaino,
University of Florida Press 379pp.
Positions Held
Research Assistant, Department of Cancer Research, University of
Otago, Dunedin, New Zealand, 1963.
Post-doctoral Research Fellow, Department of Physiology, The
Royal Veterinary College, London, U.K. 1968-69.
Temporary Lecturer, Department of Physiology, The Royal Veteri-
nary College, London, U.K. 1969-70.
Visiting Scientist, The Worcester Foundation for Experimental Bi-
ology, Shrewsbury, Massachusetts, U.S.A. 1970-72.
Lecturer in Physiology, University of Glasgow, 1972-88.
Senior Lecturer in Physiology, University of Glasgow 1988-2006
Honorary Research Fellow, University of Glasgow, 2006-
Visiting Professor, Department of Physiology and Pharmacology,
The Federal University of Pernambuco, Recife, Brasil. November
1989-February 1990; August-September 1991; August-September
1993; September-October 1994; July-September 1995; July-Sep-
tember 1996; September 1997.
External Examiner for the B.Sc. Life Sciences Course at Napier
University in Edinburgh January 1994-September 1997.
External Examiner in Biological Sciences at Glasgow Caledonian
University October 1997-September 2001.

274 275
Círculo arterial cerebral de Willis:
história, anatomia, filogenia
e sua associação com
aneurismas cerebrais
Marcelo Moraes Valença23
Daniella Araújo de Oliveira24
Clara de Almeida Pereira25
Mário Luciano de Mélo Silva Júnior26
Anna Karoline Dias de Queiroz27
Raíssa Araruna28
Joacil Carlos da Silva29
Laécio Leitão-Batista30
Alex Caetano de Barros31
Luciana Patrízia Andrade-Valença32
Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos33

23. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da Uni-


versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife. Serviço de Neurocirurgia do Hospital
Esperança, Recife.
24. Departamento de Fisioterapia da UFPE, Recife
25. Graduanda de Biomedicina da UFPE, Recife.
26. Bolsista PIBIC/FACEPE 2012/2013 do curso de Medicina da UFPE, Recife.
27. Bolsista PIBIC/PROPESQ/CNPq 2012/2013 do curso de Fisioterapia da UFPE, Recife.
28. Estudante de Medicina da Universidade de Pernambuco, Recife.
29. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife. Serviço de Neurocirurgia do Hospital
Esperança, Recife.
30. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife.
31. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife.
32. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife.
33. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria da Uni-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife. Pós-doutorando bolsista PNPD/CAPES

277
Resumo Introdução

O
encéfalo é irrigado por dois sistemas: o carotídeo, com O estudo do sistema nervoso teve um grande impulso com
duas artérias carótidas, e o sistema vertebrobasilar, com os trabalhos do médico e neuroanatomista Thomas Willis (1621-
suas duas artérias vertebrais que formam a artéria basilar. 1675), considerado por muitos como o “pai das Neurociências”.
Esses sistemas arteriais formam anastomose na superfície inferior Em sua obra Cerebri Anatome (1664), foi usado, pela primeira
do cérebro, constituindo o polígono de Willis. A anatomia desse vez, o termo “neurologia”. O livro foi ilustrado por Christopher
polígono é muito variada, podendo haver agenesia ou hipoplasia Wren (1632-1723) e teve como primeira figura o grupo de vasos
de alguns de seus segmentos. Os locais mais comuns de desenvolvi- sanguíneos localizados na base do crânio, o qual ficou conhecido
mento de aneurismas intracranianos são nos diferentes segmentos como o polígono de Willis.
do polígono de Willis. Isso sugere que algumas das irregularidades
anatômicas encontradas no polígono podem facilitar o desenvol-
vimento de aneurismas. Este estudo tem como objetivo revisar as Anatomia geral
variações anatômicas do polígono de Willis e suas relações com a A irrigação sanguínea do encéfalo é feita por quatro artérias:
formação do aneurisma cerebral. duas carotídeas internas e duas vertebrais, que formam o tronco da
artéria basilar. Entre esses dois sistemas arteriais, há uma estrutura
Palavras-chave: polígono de Willis; aneurismas intracranianos; ar- de anastomose, que chamamos de polígono de Willis[1]. Esse po-
térias embrionárias. lígono está localizado na cisterna interpeduncular da base cerebral,
circunda o túber cinéreo e o quiasma óptico e é constituído pelas
artérias cerebrais posteriores, ramos comunicantes posteriores, ca-
Abstract
rótidas internas, artérias cerebrais anteriores e ramo comunicante
The brain is nourished by two carotid arteries and two ver- anterior[2]. O encéfalo possui também um sofisticado mecanismo de
tebral arteries that anastomose at the lower surface of the brain autorregulação que o protege contra a instalação de isquemias[3].
forming the circle of Willis. The anatomy of the circle of Willis can O círculo arterial encefálico, como também é conhecido, é assim
be considered highly irregular, and there may be absence of one or um sistema de anastomoses entre várias artérias cerebrais, unindo
both communicating arteries. The most common sites of develop- o sistema carotídeo interno ao sistema vertebrobasilar.
ment of intracranial aneurysms are the segments of the circle of A artéria carotídea interna tem origem na bifurcação da ca-
Willis. This suggests that some irregularities in the anatomy of this rótida comum. Essa artéria passa pelo pescoço e entra na base do
brain structure may lead to development of aneurysms. crânio através do canal carotídeo do osso temporal, seguindo ho-
rizontalmente para a extremidade medial do sulco cerebral lateral,
Keywords: Circle of Willis, Intracranial Aneurysm, Embryonic Ar- onde se divide em artéria cerebral anterior e artéria cerebral mé-
teries. dia[1]. Os ramos carotídeos da parte cerebral se dividem em arté-
rias: oftálmica, coroidal, cerebral anterior, comunicante posterior
e cerebral média; porém, somente as três últimas tomam parte da
composição do polígono de Willis (Figura 1).
da UFPE, Recife. Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami/LIKA, UFPE, Recife.

278 279
posterolateral, iniciado em P2 e formado pelas artérias talamoge-
niculada e coroide posterior.
As artérias vertebrais são ramificações da subclávia que saem
da base do pescoço e sobem, passando pelas seis vértebras cervi-
cais superiores através de seus forames, penetrando no crânio pelo
forame magno, perfurando o espaço subaracnoide. Em seguida,
seguem próximo ao bulbo e, na parte inferior da ponte, juntam-se,
formando a artéria basilar, que emite os seguintes ramos: artérias
pontinas, artéria labiríntica, artéria cerebelar anteroinferior, arté-
ria cerebelar superior e artéria cerebral posterior[1]. Destes, apenas
os dois últimos fazem parte do polígono de Willis (Figura 2).

Figura 1: Angiorressonância mostrando o polígono de Willis

A artéria comunicante posterior se origina próximo à bifurca-


ção terminal da carótida interna e segue posteriormente, num pla-
no superior ao nervo oculomotor, terminando na artéria cerebral
posterior. A artéria comunicante anterior une as artérias cerebrais
anteriores que começam na porção terminal da carótida interna e,
depois de unidas, curvam-se sobre o corpo caloso e se anastomosam
com a artéria cerebral posterior; contudo, existem casos de pacien-
tes que apresentam apenas uma ou nenhuma artéria comunicante[1].
Os ramos centrais perfurantes se originam na porção proximal
Figura 2: Angiotomografia computadorizada em 3D mostrando o polígono de Willis.
das artérias cerebrais e das comunicantes e penetram na base do Note que a artéria comunicante anterior [seta maior] comunica as duas artérias cerebrais
cérebro[4], enquanto os ramos centrais posteromediais têm início anteriores [ACA] e as artérias comunicantes posteriores comunicam a artéria carótida in-
terna com a artéria cerebral posterior. [ACM], artéria cerebral média; [AB], artéria basilar;
na artéria cerebral posterior e na artéria comunicante posterior[5].
[AV], artéria vertebral.
Esses ramos centrais podem ser divididos, segundo Haines[6],
em anteromedial: originando A1 e a artéria comunicante anterior;
O estudo do polígono de Willis de outros animais também
anterolateral, proveniente de M1 e de alguns ramos de A1; poste-
pode ser útil para auxiliar o entendimento da evolução dessa estru-
romedial, originado em P1 e na artéria comunicante posterior; e

280 281
tura. No encéfalo das girafas, por exemplo, há um círculo arterial dais e se bifurcam nas cerebrais média e anterior. Nos ursos e no
em formato triangular formado pelas artérias cerebrais rostrais bi- homem, animais nos quais a irrigação é promovida pelas artérias
laterais, na porção anterolateral do cérebro; pelas artérias comu- vertebrais e carótidas internas, a artéria cerebral posterior origi-
nicantes caudais, na porção posterolateral; e pela artéria basilar[7]. na-se da artéria vertebral, enquanto as artérias cerebral média e
As artérias cerebrais rostrais bilaterais são anastomosadas rostral são oriundas da carótida interna[13].
pela artéria comunicante rostral, localizada anteriormente à decus- Nos mamíferos ungulados, houve o desaparecimento das ar-
sação dos nervos ópticos e contribuindo para a porção anterior do térias vertebrais e os ramos caudais da carótida interna formam a
círculo arterial cerebral[7]. A ausência dessa comunicante, conheci- artéria basilar. De acordo com Azambuja[13], nesses animais o fluxo
da como padrão em ázigo, foi descrita em gatos[8], porcos e bois[9]. sanguíneo acontece no sentido caudal.
Diferente do que acontece com os humanos, a artéria basi- Vertebrados inferiores possuem um polígono de Willis forma-
lar das girafas é delgada e não apresenta participação ativa da do apenas pelas artérias carótidas internas interligadas, em sua por-
irrigação sanguínea encefálica. Além disso, o sangue que irriga o ção caudal, a um sistema arterial vertebral bastante rudimentar[14].
polígono arterial nas girafas provém da artéria maxilar, através Na espécie Canis familiaris, o polígono de Willis comumente
da rede rostral epidural mirabile, um conjunto de artérias densas encontrado é formado pelo tronco basilar, artéria rostral do ce-
que anastomosam a artéria maxilar à carótida interna, enviando rebelo, artéria caudal do cérebro, artéria mesencefálica, porção
sangue da primeira para a última[7]. proximal da artéria comunicante caudal, artéria cerebral média,
Gillilan[10], em seu estudo sobre polígono de Willis, demons- segmento A1 da artéria cerebral rostral, artéria intercarótida ros-
trou que subvertebrados apresentam um par de carótidas internas tral, artéria comum mediana do corpo caloso, porção distal da ar-
e que estas conseguem irrigar satisfatoriamente o encéfalo destes téria cerebral rostral, ramos caudomediais da comunicante caudal
animais. Ele também aponta que os mamíferos inferiores possuem e artéria carótida interna[15]. Os experimentos animais de Casal[15]
um par de artérias curtas que irrigam a parte anterior e posterior. apontam uma variabilidade do polígono com, por exemplo, au-
Nesses mamíferos, o sistema vertebrobasilar promove a irrigação sência da artéria intercarótida rostral, ausência de ramos mediais
do cerebelo e do tronco cerebral, enquanto a carótida interna irri- da artéria comunicante caudal e variação no tamanho da artéria
ga a porção anterior[11]. comum mediana do corpo caloso.
Nos cavalos, a irrigação sanguínea do encéfalo é feita pelas ar- Estudos em primatas apontam que esses animais apresentam
térias carótidas internas. Estas se dividem em um ramo rostral e um um polígono completo, com as artérias carótidas internas dividin-
caudal e pela artéria basilar, formada pelas vertebrais bilaterais[9]. do-se nas artérias cerebrais anterior e média. Também constituem
O círculo arterial encefálico de ratos é formado pelas artérias o polígono as artérias basilar e cerebrais posteriores e as artérias
carótidas internas e pelas artérias vertebrais. Há também, assim comunicantes posteriores, que fazem a ligação dos ramos anterio-
como nos humanos, uma transição na conformação do polígono res e posteriores. Em geral, a única diferença entre o círculo arterial
de um estádio embrionário para o adulto, com atrofia das caróti- de primatas e humanos é a presença, nos primatas, do padrão ázi-
das internas e predominância das vertebrais[12]. gos. Esse padrão consiste na junção dos segmentos anteriores das
Nos animais cuja irrigação sanguínea do encéfalo é feita pelas artérias comunicantes anteriores bilaterais, formando um vaso úni-
artérias vertebrais, especialmente os roedores, a artéria basilar se co, e não é tão incomum a ocorrência deste padrão em humanos[16].
subdivide em dois ramos rostrais que originam as cerebrais cau-

282 283
Anatomia funcional Segundo Charles[19], os aneurismas são defeitos que surgem
nas paredes das artérias, deixando-as mais fracas. Essas artérias
A anastomose, no caso do polígono de Willis, é apenas poten-
se dilatam e comprimem as regiões vizinhas ou rompem-se, dando
cial, visto que, em condições normais, o fluxo sanguíneo de um sis-
origem a sangramentos conhecidos como hemorragias meníngeas.
tema para o outro é irrelevante e não há troca sanguínea entre os
Esses casos são os mais graves, com mortalidade muito alta, mes-
hemisférios do polígono[4], a menos que haja obstruções vasculares
mo quando há tratamento adequado. De acordo com Osborn[20],
e seja necessária uma irrigação colateral. As funções normais das
os aneurismas só se tornam sintomáticos, na maioria dos casos,
estruturas que formam o círculo arterial encefálico serão descritas
entre os 40 e os 60 anos de idade.
posteriormente.
Até os dias atuais, o diagnóstico de aneurisma é melhor con-
Segundo Snell[1], a artéria cerebral anterior é responsável pela
firmado através da angiografia, apresentada à comunidade cientí-
irrigação da superfície medial do córtex cerebral, da faixa cortical
fica em 1927 por Moniz[21]. A técnica de angiografia mais utilizada
na superfície lateral adjacente (ramos corticais), da parte dos nú-
consiste na cateterização da artéria femoral e estudo dos quatro
cleos lentiformes e caudado e da cápsula interna (ramos centrais).
grandes vasos intracranianos e é altamente específica e sensível.
Os ramos centrais da artéria comunicante vascularizam o
Para a detecção de aneurismas no polígono de Willis, a angioto-
diencéfalo, os núcleos da base e a cápsula interna[4], enquanto os
mografia computadorizada é uma alternativa à técnica convencio-
ramos centrais posteromediais irrigam a parte anterior do tálamo,
nal, pois permite uma reconstrução em três dimensões da arquite-
a parede lateral do terceiro ventrículo e o globo pálido[5].
tura vascular[22].
A artéria cerebelar superior tem como função irrigar a parte
O polígono de Willis é formado no feto por volta da sexta
superior do cerebelo, a ponte, a glândula pineal e o véu medular
semana de gestação[23]. Neles, um ramo da carótida interna origina
superior. Funcionalmente, a artéria cerebral posterior se divide em:
as artérias comunicantes posteriores[24]. Na maioria dos adultos,
ramos corticais, que nutrem as superfícies inferolateral e medial
é a artéria basilar que promove o enchimento da artéria comuni-
do lobo occipital; ramos centrais, responsáveis pela irrigação de
cante posterior; por isso, acredita-se que durante a infância possa
partes do tálamo, do núcleo lentiforme, do mesencéfalo, da glân-
ocorrer uma transição do padrão fetal para o adulto[23].
dula pineal e dos corpos geniculados mediais; e ramo coroidal, que
De acordo com Padget[23], a diferenciação entre padrão fetal
supre o plexo coroide[3].
e adulto ocorre entre a 20ª e a 30ª semana após o nascimento. A
persistência do padrão fetal da artéria comunicante posterior tem
Polígono de Willis e aneurismas intracranianos sido estudada como um fator de risco para o desenvolvimento de
aneurismas, por promover um aumento do fluxo sanguíneo na ca-
Os aneurismas intracranianos são a principal anormalidade rótida homolateral (Figura 3) [25].
corrigível e a maior causa de hemorragia subaracnoide na popu-
lação adulta. A maioria está localizada nos segmentos do polígo-
no de Willis e nos quatro primeiros milímetros da artéria cerebral
média, sendo os aneurismas da carótida interna e dos segmentos
posteriores do polígono aqueles com maior risco de ruptura[17] e
mais comuns em mulheres com mais de 40 anos[18].

284 285
indivíduos adultos, percebem-se também anomalias de curso ou
de distribuição dos vasos intracranianos, dentre elas hipoplasia ou
aplasia da artéria comunicante posterior ipsilateral e assimetria do
polígono de Willis[28].

Figura 3: Arteriografia cerebral de um homem aos 53 anos de idade, mostrando a presença


de uma artéria cerebral posterior com padrão fetal, com origem da artéria carótida interna
direita [setas nas figuras A e B]. Em [C], notem a ausência do enchimento do território
irrigado pela artéria cerebral posterior por meio do sistema vertebrobasilar. Em [D], o seg-
mento A1 esquerdo é dominante, enchendo as duas artérias cerebrais anteriores. Enquan- Figura 4: Angiorressonância magnética de uma mulher aos 60 anos de idade com cefaleia.
to o padrão fetal é fator de risco anatômico de formação de aneurisma da artéria carótida Note a presença de uma artéria trigeminal primitiva persistente comunicando a junção dos
interna-artéria comunicante posterior, a hipoplasia de A1 (no caso do lado direito) é fator segmentos pré-cavernoso e intracavernoso da artéria carótida interna esquerda ao tronco
de risco para o desenvolvimento de aneurismas na artéria comunicante anterior. da artéria basilar [seta preta]. Observe hipoplasia da do segmento A1 direito[*] e da arté-
ria vertebral direita. A artéria comunicante posterior direita pode ser vista [seta branca].

A relação dos aneurismas intracranianos com o polígono de


Saltzman[29] classificou a persistência da artéria trigeminal pri-
Willis foi relatada por Padget em 1944[23], num estudo no qual 50%
mitiva em três tipos, conforme a nutrição de vasos do polígono
dos pacientes que apresentavam aneurismas tinham o polígono em
de Willis. No tipo 1, a artéria trigeminal primitiva promove a nu-
estágio primitivo. Baseado nesse estudo, Dandy[26] afirma que os
trição sanguínea da porção rostral das artérias basilar e cerebelar
aneurismas cerebrais nascem da involução incompleta dos vasos
posterior, e a artéria comunicante posterior apresenta baixo fluxo.
embrionários. Assim como esses autores, Höök[27] menciona que
No tipo 2, a artéria trigeminal primitiva nutre as artérias basilar,
vasos embrionários persistentes com defeitos estruturais predis-
cerebelar posterior e comunicante posterior contralateral. No tipo
põem à formação de aneurismas. Para explicar essa concordância,
3, a artéria trigeminal primitiva faz a nutrição das artérias basilar
pode-se usar como exemplo os aneurismas intracranianos associa-
e cerebelosa superior, sendo as artérias cerebelares posteriores nu-
dos com a persistência da artéria trigeminal primitiva (Figura 4).
tridas pelas artérias comunicantes posteriores.
Em geral, quando há persistência de artérias embrionárias em

286 287
Existem relatos de casos de pacientes portadores do vírus HIV
que desenvolveram uma dilatação aneurismática de vasos do po-
lígono de Willis[30], sendo que alguns destes apresentavam exames
de neuroimagem normais antes do diagnóstico da arteriopatia, su-
gerindo que esta seja uma condição adquirida[31]. Fulmer et al.[32]
relataram casos de crianças portadoras do vírus com aneurismas
cerebrais nas quais houve dilatação aneurismática fusiforme em
vasos do polígono de Willis; porém, apenas em poucos casos, há
comprometimento total do polígono de Willis e de artérias da por-
ção posterior[33,34], e, em todos os casos relatados, os outros sis-
temas vasculares estavam preservados, o que sugere uma maior
predisposição do sistema vascular cerebral[31].
Após diversos estudos cirúrgicos, imaginológicos e em autóp-
sias, foi estabelecida uma relação entre aneurisma e o polígono de
Willis. Acredita-se, então, que variações na morfologia vascular do
polígono de Willis sejam um dos fatores de risco para o desenvol-
vimento e ruptura de aneurismas[35-37].
O polígono de Willis é um dos locais onde mais há desenvol-
vimento de aneurismas intracranianos, sugerindo, assim, que alte-
rações morfológicas nessa estrutura sejam fatores que aumentam
a predisposição para o aparecimento e ruptura destes. A falta de
um desenvolvimento adequado do polígono ou a persistência de
artérias embrionárias, juntas ou separadas, são apontadas pelos
pesquisadores como os fatos mais correlacionados com o apareci-
mento dos aneurismas (Figuras 5 e 6).
É notável o fato de que o polígono de Willis se desenvolve e Figura 5: Origem infundibular da artéria comunicante posterior a partir da artéria caró-
cresce com o passar dos anos em um paciente, mas será que esse tida interna, sugerindo uma involução parcial do padrão fetal para o padrão no adulto.
crescimento pode ser um fator de predisposição? Existe diferença
no tamanho do polígono de Willis entre homens e mulheres? Se
existe, seria este um fator predisponente ao aparecimento de aneu-
rismas intracranianos?

288
Referências bibliográficas
1. SNELL, R. S. Neuroanatomia Clínica para Estudantes de Medi-
cina. 5. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2003.

2. NETTER, F. H. Atlas de Anatomia Humana. 2. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2000.

3. MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia Funcional. 2 ed. São


Paulo: Atheneu, 2006.

4. MACHADO, A. B. M. Vascularização do sistema nervoso cen-


tral e barreiras encefálicas. In: _____. Neuroanatomia funcional. 2.
ed. São Paulo: Atheneu, 2006.

5. WILLIAM, P. L. Angiologia. In: _____. Gray’s anatomia. 37. ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.

6. HAINES, D. E.; LACON, J. A. Uma análise do sistema cerebro-


vascular. In: _____; _____. Neurociência fundamental. 3. ed. Rio
Figura 6: [A] Espécime humano da porção anterior do polígono de Willis mostrando a de Janeiro: Elsevier, 2006.
artéria comunicante anterior. [B] Outro espécime mostrando a presença de um aneurisma
sacular com origem da artéria comunicante anterior.
7. FRACKOWIAK, H.; JAKUBOWSKI, H. Arterial vascularization
in the giraffe brain. Annales Zoologici Fennici. Helsinque, v. 45, p.
Em virtude dos fatos apresentados ao longo deste artigo, fica
1-7, 2008.
evidente a necessidade de mais estudos morfológicos acerca do po-
lígono, para que se possa entender o surgimento e desenvolvimen- 8. KAMIJYIO, Y.; GARCIA, J. H. Carotid arterial supply of the fe-
to dos aneurismas. line brain: applications to the study of regional cerebral ischemia.
O estudo comparativo da anatomia do polígono de Willis Stroke, Dallas, v. 6, p. 361-9, 1975.
em diversos mamíferos é um importante recurso para entender a
evolução filogenética dessa estrutura. Além disso, tal estudo re- 9. GILLILAN, L. A. Blood supply to brains of ungulates with and
presenta um importante suporte para a construção de modelos without a rete mirabilim caroticum. Jornal of Comparative Neuro-
experimentais para a análise das diversas patologias cerebrais de logy, Malden, v. 153, p. 275-90, 1974.
etiologia vascular.
10. GILLILAN, L. A.. A comparative study of the extrinsic and in-
trinsic arterial blood supply to brains of submammalian vertebrates.
Jornal of Comparative Neurology, Malden, v. 130, p. 175-96, 1967.

290 291
11. GILLILAN, L. A.. Blood supply to primitive mammalian 19. CHARLES, V.; JEREMIAH, V. K.; SEAN, D. L.. Intracranial
brains. Jornal of Comparative Neurology, Malden, v. 145, p. 209- aneurysms: current evidence and clinical practice. American Fa-
22, 1972. mily Physician, Kansas City, v. 66, n. 4, 2002.

12. ARAÚJO, A. C. P. Sistematização das artérias da base do en- 20. OSBORN, A. G. Diagnostic imaging brain. St. Louis: Mosby,
céfalo e suas fontes de suprimento sanguíneo em chinchila (Chin- 2002.
chilla lanígera). 2004. 140 p. Dissertação (Mestrado em Ciências
Veterinárias). Faculdade de Ciências Veterinárias, Universidade 21. MAYBERG, M. R.; WINN, R. The history of neurosurgical
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. technique. Filadélfia: Saunders, 2001.

13. AZAMBUJA, R. C. Sistematização das artérias da base do en- 22. SCHWARTZ, R. B.; TICE, H. M.; HOOTEN, S. M.; HSU, R.
céfalo e suas fontes de suprimento sanguíneo em Nutria (Myocas- T. L.; STIEG, P. E. Evaluation of cerebral aneurysms with helical
tor coypus). 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências Veteriná- CT: correlation with conventional angiography and MR angiogra-
rias), Faculdade de Ciências Veterinárias, Universidade Federal do phy. Radiology, Oak Brook, v. 192, p. 717-22, 1994.
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
23. OVERBEEK, J. J. V.; HILLEN, B. A comparative study of the
14. VRIESE, B. D. Sur la signification morphologique der artères circle of Willis in fetal and adult life. The configuration of the pos-
cérèbrales. Archives de Biologie, Paris, v. 21, p. 357-457, 1905. terior bifurcation of the posterior communicating artery. Journal
of Anatomy, Londres, v. 176, p. 45-54, 1991.
15. CASAL, D. Caracterização morfológica do polígono arterial de
Willis no Canis familiaris. Revista Portuguesa de Ciências Veteri- 24. SCHOMER, D.; MARKS, M. The anatomy of the posterior
nárias, Lisboa, v. 100, p. 163-7, 2005. communicating artery as risk factor for ischemic cerebral infarc-
tion. New England Journal of Medicine, Boston, v. 330, n. 22, p.
16. KUMAR, N.; LEE, J. J.; PERLMUTTER, J. S.; DERDEYN, 165-70, 1994.
C. P. Cervical carotid and Circle of Willis arterial anatomy of ma-
caque monkeys: a comparative anatomy study. The Anatomical 25. HENDRIKSE, J.; RAAMT, A. F. V. Distribution of cerebral
Record, Salt Lake City, v. 292, n.7 , p. 976-84, 2009. blood flow in the circle of Willis. Radiology, Oak Brook, v. 255, n.
1, p. 184-9, 2005.
17. CASTEL, J. P. Los aneurismas intracraneanos. 1. ed. Mexico,
1999. 26. DANDY, W. E. Intracranial Arterial Aneurysms. Nova Iorque:
Comstock Publishing Company, 1945.
18. HORIKOSHI, T. Retrospective analysis of the prevalence of
asymptomatic cerebral aneurysm in 4518 patients undergoing 27. HÖÖK, O.; NORLEN, G. Aneurysms of the middle cerebral
magnetic resonance angiography – when does cerebral aneurysm artery. A report of 80 cases. ACTA Chirurgica Scandinavica, Co-
develop? Neurologia Medico-Chirurfica, Tóquio, v. 42, n. 3, p. penhague, 1958.
105-112 2002.
28. WOLPERT, S. M. Trigeminal artery and associated aneurysms.

292 293
Neurology, Cleveland, 1966. sobre o autor

29. SALTZMAN, G. F. Patent primitive trigeminal artery studied


by cerebral angiography. ACTA Radiologica, Estocolmo, 1959. Marcelo Moraes Valença
30. DUBROVSKY, T.; CURLESS, R.; SCOTT, G. Cerebral aneuris- Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de
mal arteriopathy in childhood AIDS. Neurology, Cleveland, 1998. Pernambuco (1981), mestrado em Ciências Biológicas (Fisiologia)
pela Universidade Federal de Pernambuco (1986) e doutorado em
31. PHILIPPET, P.; BLANCHE, S.; SEBAG, G.; RODESCH, G.; Ciências (Fisiologia Geral) pela Faculdade de Medicina de Ribei-
GRISCELLI, C.; TARDIEU, M. Stroke and cerebral infarcts in rão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo (USP, 1989). Reali-
children infected with human immunodeficiency virus. Archives of zou pós-doutoramento no National Institutes of Health (Visiting
Pediatrics and Adolescent Medicine, Chicago, 1994. Fellow, Neuroendocrinologia,1983-1987; 1990), USA; University
of London (Neurocirurgia, 1995), Inglaterra; Faculdade de Medi-
32. FULMER, B.; DILLARD, S.; MUSULMAN, E.; PALMER, C.;
cina de Ribeirão Preto (Neurocirurgia, 2001-2002)-USP e Montre-
OAKES, J. Two cases of cerebral aneurysms in HIV+ children. Pe-
al Neurological Institute, McGiil University (Neurocirurgia, 2009-
diatric Neurosurgery, Basel, 1998.
2010). Em maio de 2008 recebeu o título de Livre-Docente em
33. PARK, Y.; BELMAN, A.; KIM T. Stroke in pediatric acquired Neurocirurgia, Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP,
immunodeficiency syndrome. Annals of Neurology, Boston, 1990. USP. No National Institutes of Health, vinculado ao Laboratory of
Molecular and Integrative Neurosciences, NIEHS, trabalhou com
34. SHAH, S.; ZIMMERMAN, R.; RORKE, L.; VEZINA, L. Ce- neurossecreção de neurônios hipotalâmicos e realizou as primeiras
rebrovascular complications of HIV in children. American Journal pesquisas com neurônios imortalizados. No National Hospital for
of Neuroradiology, Baltimore, 1996. Neurology and Neurosurgery/Institute of Neurology, University of
London, estudou todos os casos de tumores da região pineal opera-
35. AYDIN, I.; TAKCI, E.; KADIOGLU, H. Vascular variations as- dos até então. Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto reali-
sociated with anterior communicating artery aneurysm – An intra- zou vários projetos nas áreas da Cirurgia de Pacientes Epilépticos,
operative study. Minimally Invasive Neurosurgery, Stuttgart, 1997. Neuroendocrinologia e Cefaléia. Foi professor assistente (1988) de
Fisiologia, Departamento de Fisiologia, Faculdade de Medicina de
36. INGEBRIGTSEN, T.; MORGAN, M. K.; FAULDER, K. Bifur-
Ribeirão Preto, USP e professor adjunto de Farmacologia (1989),
cation geometry and presence of cerebral artery aneurysms. Jour-
Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal
nal of Neurosurgery, Baltimore, 2004.
de Pernambuco. Atualmente é professor associado (desde 1990) de
37. MIYAZAWA, N.; AKIYAMA, I.; YAMAGATA, Z. Risk factors Neurologia e Neurocirurgia, Departamento de Neuropsiquiatria,
for growth of unruptured intracranial aneurysms: follow-up stu- Universidade Federal de Pernambuco. Foi o Coordenador da Pós-
dy by serial 0.5-t magnetic resonance angiography. Neurosurgery, graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
Baltimore, 2006. (áreas Neurologia, Neurocirurgia, Psiquiatria, Neuropsicopatolo-
gia e Neurociências) de 2003 até dezembro de 2007. Participou

294 295
da criação dos Doutorados em Ciências Biológicas (1994) e em Clara de Almeida Pereira
Neuropsiquiatria da UFPE (2004, como coordenador). Tem ex-
Graduação em andamento em Biomedicina (2007). Extensão
periência na área de Medicina, com ênfase em Neurocirurgia e
universitária em VII Curso Prático de Atualização em Histologia
Neurologia, atuando principalmente nos seguintes temas: neuro-
pela Universidade de Pernambuco, Brasil (2008).
cirurgia, tumores intracranianos, nervos periféricos, doenças ce-
http://lattes.cnpq.br/5600018780768101
rebrovasculares e cefaleia secundária a lesões intracranianas. De
setembro 2009 até setembro 2010 foi Visiting Scholar no Service
of Neurosurgery do Professor Andrés Olivier, McGill University, Mário Luciano de Mélo Silva Júnior
Montreal, Canada. Foram publicados 190 artigos científicos em
Acadêmico de Medicina na Universidade Federal de Pernam-
periódicos, 4 livros e 20 capítulos de livro, sendo 14 em livros in-
buco (UFPE), ingresso em 2010.1. É diretor científico da Liga Per-
ternacionais. Cerca de 97 resumos ou abstracts foram publicados
nambucana de Neurociências, faz parte do grupo de pesquisa Neu-
em periódicos, boa parte em jornais internacionais. Foram orien-
rociência clínica e experimental, e do grupo de estudos em cefaleia.
tados 32 alunos no Mestrado, 24 alunos no Doutorado e co-o-
Desenvolve pesquisa, com Bolsa de Iniciação Científica pela Fun-
rientados 3 alunos no mestrado. Atualmente oriento 11 alunos no
dação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
Doutorado e 4 no Mestrado. Desde 23 de março de 2012 é o Co-
(FACEPE), sobre alterações volumétricas dos ventrículos cerebrais
ordenador do Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e
na doença de Alzheimer, com apoio do Núcleo de Telessaúde da
Ciências do Comportamento (nível 5 Capes).
UFPE (NUTES-UFPE) e da Posneuro. Tem interesse por Neuroci-
http://lattes.cnpq.br/8636975750865801
ências, Clínica médica, Clínica cirúrgica e Saúde materno-infantil.
http://lattes.cnpq.br/9037803827973208
Daniella Araújo de Oliveira
Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal Anna Karoline Dias de Queiroz
de Pernambuco (2000) e Mestrado em Neuropsiquiatria e Ciên-
Graduação em andamento em Fisioterapia 2009.
cias do Comportamento (área Neurociências) pela Universidade
http://lattes.cnpq.br/2465040069382591
Federal de Pernambuco (2006). Doutorado em Neuropsiquiatria e
Ciências do Comportamento (área Neurociências) pela Universi-
dade Federal de Pernambuco (2009). Atualmente é professora da Raíssa Araruna
Universidade Federal de Pernambucano, Departamento de Fisio-
terapia e Ministra a disciplina de Fisioterapia aplicada à neuro- Estudante de Medicina da Universidade de Pernambuco/UPE,
logia. Tem experiência em terapia de mão (realibitação das lesões Recife, Brasil.
do membro superior), indicação de prótese e confecção de órtese,
atuando principalmente nos seguintes temas: nervos periféricos, Joacil Carlos da Silva Junior
doenças cerebrovasculares e cefaleia.
http://lattes.cnpq.br/9037803827973208 Graduação em Medicina – Universidade Federal de Pernam-
buco – UFPE (1998), Residência Médica em Neurocirurgia – Hos-

296 297
pital da Restauração, Recife-PE (2003), Título de Especialista em Alex Caetano de Barros
Neurocirurgia Associação Médica Brasileira-AMB (2003), Mem-
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de
bro Titular – Sociedade Brasileira de Neurocirurgia-SBN(2003),
Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
“Member” Ao Spine (2005), Mestrado em Neuropsiquiatria e Ci-
Brasil.
ências do Comportamento, área de concentração em Neurociên-
cia Experimental – UFPE (2006), “Fellow” World Federation of
Neurosurgical Societies (2010), Doutorado em Neuropsiquiatria Luciana Patrízia Andrade-Valença
e Ciências do Comportamento, área de concentração em Neuro-
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de
cirurgia – UFPE (2011). Atua como neurocirurgião nos serviços
Pernambuco (1997), residência médica em Neurologia (2001), títu-
do Hospital das Clínicas HC-UFPE, Hospital Pelópidas Silveira,
lo de especialização em Neurofisiologia Clínica- EEG (2002), Mes-
Hospital de Câncer de Pernambuco e Hospital Esperança. Áreas
trado em Neurologia – pela Faculdade de Medicina de Ribeirão
de interesse: Neurocirurgia Vascular, Neuroendoscopia, Cirurgia
Preto, Universidade de São Paulo (2003), Doutorado em Neurolo-
de Base de Crânio e Cirurgia de Coluna Vertebral.
gia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de
http://lattes.cnpq.br/5144929917068591
São Paulo (2005), Pós-Doutorado na McGill University- Montreal
Neurological Institute (2009-2010). Professor Adjunto do Depar-
Laécio Leitão-Batista tamento de Neuropsiquiatria da UFPE (2012).Tem experiência na
área de Neurologia, com ênfase em Epilepsia, EEG e Video-EEG.
Doutor em Medicina pela UFPE. Residência Médica em Ra-
http://lattes.cnpq.br/5904028205759167
diologia pela Faculdade de Medicina de São José de Rio Preto-SP.
Graduado em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba. Es-
pecialista em Radiologia Vascular e Intervencionista pelo Hospital Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos
de Beneficência Portuguesa, São Paulo. Especialista em Neurora-
Graduado em Nutrição pela Universidade Federal de Pernam-
diologia Intervencionista pelo Hospital Kremlin-Bicetre de Paris –
buco/UFPE (1996). Estágio e início da pós-graduação em Patolo-
França. Membro Sênior da WFITN(Federação Mundial de Neuro-
gia – Universidade de São Paulo/USP (1998). Aperfeiçoamento em
radiologia Terapêutica). Membro Titular do Colégio Brasileiro de
Eletrofisiologia e Psicoacústica/USP (1999). Mestre em Ciências
Radiologia. Membro Fundador e Titular da SOBRICE. Ex-Dire-
Médicas. Área: Neurologia/Neurociências pela Faculdade de Me-
tor da SOBRICE. Membro da Equipe de Transplante Hepático do
dicina de Ribeirão Preto/USP (2005). Estágio de Doutorado no
Hospital Universitário Osvaldo Cruz, da Universidade Estadual
Exterior – The University of Iowa/USA (Central Microscopy Re-
de Pernambuco-UPE. Supervisor e Chefe da Residência Médica do
search Facility – John W. Eckstein Medical Building), sob orienta-
Serviço de Angiorradiologia e Cirurgia Endovascular do Hospital
ção dos Professores Drs. Kenneth Charles Moore e Valéria Paula
das Clínicas-UFPE .Tem experiência na área de Medicina, com ên-
Sassoli Fazan (2009). Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do
fase em Radiologia Geral, Vascular, Neurorradiologia Intervencio-
Comportamento/UFPE (2010). Área de Concentração: Neurociên-
nista e Oncologia.
cias. Tem experiência nas áreas de Neurociências Clínica e Expe-
http://lattes.cnpq.br/0057545116045548
rimental, Nutrição (Clínica, Normal e Experimental) e Medicina,

298 299
com ênfase Multidisciplinar, atuando principalmente nos seguintes Meralgia parestésica:
temas: VIII nervo craniano (nervo vestíbulo-coclear), Nervo Isqui-
ático, Neuropatias Periféricas e Diabética, Morfometria de nervos, experiência com 38 casos
Neuropatologia, Fisiologia Geral e Neurofisiologia, Nutrição e
Sistema Nervoso Central e Periférico, Processamento e digitaliza- Marcelo Moraes Valença34
ção de imagens, Microscopia de Luz e Eletrônica (Transmissão e Luciana Patrízia Andrade-Valença35
Varredura). Editor Assistente da tradicional Revista Neurobiolo- Daniella Araújo de Oliveira36
gia (www.neurobiologia.org). Professor Adjunto I Doutor (40 ho- Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos37
ras). Categoria: SUBSTITUTO do Laboratório de Nutrição Expe- Alex Caetano de Barros38
rimental e Dietética/LNED-CCS/UFPE (2010-2012) e do Labora-
tório de Fisiologia da Nutrição Naíde Teodósio/LAFINNT (2011-
2012). Criador do Prêmio Celebridade (2011). Consultor Ad-Hoc
do SIGProj – Ministério da Educação (Desde 2011). Cadastrado
e Parecerista Ad Hoc da Pró-Reitoria de Extensão da Universi-
dade Federal de Pernambuco (Desde 2011). Primeiro Bolsista de Introdução

A
Pós-Doutorado PNPD/Capes Institucional do Programa de Pós-
meralgia parestésica é uma neuralgia caracterizada por
Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
sensações desagradáveis diversas, como formigamento, pi-
– CCS/UFPE (Em colaboração com o Departamento de Nutrição/
cadas, queimações ou dores em agulhadas, que acometem
UFPE (LNED), o Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami/LI- a região lateral da coxa, com múltiplas causas.[1-10] Essa área é iner-
KA-UFPE (Setor de Microscopia Eletrônica de Transmissão/TEM vada pelo nervo cutâneo femoral lateral, que se origina de fibras
e Varredura/SEM), a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ sensitivas das raízes L2 e L3, passa sob a aponeurose ilíaca e emer-
FMRP-USP (LNAE) e a The University of Iowa – The Central Mi- ge cutaneamente após cruzar sob o ligamento inguinal adjacente à
croscopy Research Facility, Iowa City, USA) (Início em 2011). crista ilíaca anterossuperior, descendo na coxa sob a fáscia lata.[1,9]
http://lattes.cnpq.br/1945870478294512 A fisiopatologia da meralgia parestésica está relacionada com
diversos fatores que possam causar compressão no nervo cutâneo
femoral lateral em seu trajeto cutâneo ou também por distensão
intermitente devido a movimentos de extensão da coxa durante
a marcha.
34. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria (UFPE).
Serviço de Neurocirurgia, Hospital Esperança, Recife.
35. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria (UFPE).
36. Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
37. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria. Pós-
Doutorando bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD Institucional/CA-
PES) da UFPE, Recife.
38. Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Departamento de Neuropsiquiatria (UFPE).

300 301
Neste trabalho, nós estudamos 38 pacientes com meralgia pa- Homens Mulheres
Variáveis
restésica, relatando variáveis predisponentes e causais dessa mo- n=12 n=26
noneuropatia. Idade (anos, DP) 53 ± 14 54 ±12
Tempo da doença (meses, DP) 18 ± 35 16 ± 24
Lado direito acometido 6/4 (60%) 10/16 (39%)*
Resultados e discussão Obesidade 9 (75%) 14 (54%)
Diabetes mellitus 3 (25%) 5 (19%)
Nos casos estudados, com uma relação de 2,2:1 (Tabela Sinal de Tinel 2 (17%) 4 (15%)
1), [4,5,8]
a meralgia parestésica predominou no sexo feminino, ao *p=0,2441 X 2

contrário do citado na literatura, ou seja, uma maior prevalência Tabela 1: Dados estatísticos quanto ao gênero em relação às principais morbidades e
nos homens (3:1). Dos 38 pacientes, apenas dois apresentaram a variáveis associadas.
neuropatia nos dois lados.
Como fator de risco, a obesidade constituiu morbidade mais
presente, encontrada na maioria dos pacientes, predominando nos
homens (p=0,2149 X2). Na Figura 1, mostramos o tipo de obesida-
de que favorece o surgimento da meralgia parestésica.
Os fatores causais mais relacionados com a gênese da meralgia
parestésica foram o uso de cintos em profissionais (eletricista, militar
e vigilante) e de cintas estéticas em mulheres. O crescimento uterino
na gravidez também pode causar compressão sobre o nervo cutâneo
femoral lateral no seu trajeto na região pélvica.3 Há também que se
considerar como fator agravante nesses pacientes o ato de andar.
Dentre esses pacientes, gostaríamos de relatar o caso de um
paciente do sexo masculino e 59 anos de idade, que referia sentir
“um telefone celular vibrando” na superfície superolateral da coxa
direita quando caminhava; isso o induzia a “atender à chamada
do celular”, todavia sua reação era equivocada. Ao exame físico,
houve a resposta disestésica quando se realizou o teste neurológico
à estimulação táctil, na área referida da coxa. Como possível causa
compressiva do nervo, o paciente referia o hábito de tocar violão,
Figura 1: Obesidade que favorece o aparecimento da meralgia parestésica. Esse paciente
apoiando-o na face anterossuperior da coxa direita. Há também também apresentava nódulos subcutâneos, tendo a biópsia de um deles sido compatível
relato de passado de câncer prostático nesse paciente, o que pode com neurofibromatose. O paciente foi submetido a uma investigação por ressonância
sugerir uma etiologia paraneoplásica. Esse caso foi publicado ante- magnética, que foi normal. Pelo caráter constante e incapacitante da dor um procedimento
cirúrgico, foi realizado com descompressão do nervo cutâneo femoral lateral, porém sem
riormente.2 Outro caso interessante foi o de uma mulher cujos sin-
resultado satisfatório. Provavelmente o paciente tinha um neurofibroma em alguma parte
tomas foram precipitados por um meningeoma lombar (Figura 2). do nervo cutâneo femoral lateral, gerando a meralgia.
As Tabelas 1 e 2 mostram os principais achados encontrados
em nossos pacientes.

302 303
Sabendo que o diagnóstico clínico dessa mononeuropatia con-
siste em parestesias limitadas ao território de inervação do nervo
cutâneo femoral lateral, na região superolateral da coxa, o quadro
evoluiu, na maioria dos pacientes, com bom prognóstico ao retirar
o fator de injúria que estaria atuando sobre o nervo.
A meralgia parestésica é uma afecção neurológica relativa-
mente frequente, porém ainda é comumente subdiagnosticada e
confundida com outras neuralgias ou dores de origem ortopédica.

Figura 2: Mulher de 46 anos de idade e sintomas compatíveis com meralgia parestésica.


Durante investigação por neuroimagem, diagnosticou-se um meningeoma lombar compri- Conclusão
mindo as raízes L2 e L3 à direita. Após o procedimento microcirúrgico, houve completa
recuperação do sintoma álgico. Neste estudo, descrevemos brevemente os achados clínicos e
demográficos de uma série de pacientes com meralgia parestésica.

Idade Gênero Variáveis causais e (ou) predisponentes


29 F 6º mês de gravidez
37 F Hipertiroidismo
38 F Cirurgia para hérnia de disco (posição cirúrgica ventral)
38 F Uso de corticóide durante 2 meses
40 F Cirurgia de hérnia de disco cervical, enxerto ósseo ilíaco
45 F Cirurgia
47 F Cinta, menstruação (endometriose?)
50 F Cinta
53 F Piora ao andar
58 F Hipotiroidismo
60 F Neoplasia de mama
63 F Cinta, piora ao andar
66 F Piora ao andar
37 M Cinto de trabalho de eletricista
47 M Cinto de fardamento militar
53 M Cartucheira de vigilante, neurofibromatose
59 M Violão, neoplasia de próstata
72 M Cinto e polineurite
Tabela 2: Fatores de risco relacionados à meralgia parestésica observados em 18 pacientes
nos quais uma provável causa foi observada.

304 305
Referências bibliográficas
1. DIAS FILHO, L. C.; VALENCA, M. M.; GUIMARAES FILHO,
F. A.; MEDEIROS, R. C.; SILVA, R. A.; MORAIS, M. G. et al. La-
teral femoral cutaneous neuralgia: an anatomical insight. Clinical
Anatomy, Glasgow,v. 16, n. 4, p. 309-16, jul. 2003.

2. VALENÇA, M. M.; MORAIS, A. A.; MELO, A. C. M. G.; AN-


DRADE, C. A.; VALENÇA, L. P. A. A. The sensation of mobile te-
lephone vibration as a presenting feature of meralgia paresthesica.
Neurobiologia, Recife, v. 68, p. 197-8, 2005.

3. PETERSON, P. H. Meralgia paresthetica related to pregnancy.


American Journal of Obstetrics and Gynecology, St. Louis, v. 64,
n. 3, p. 690-1, set. 1952.

4. WARTENBERG, R. Meralgia paresthetica. Neurology, Cleve-


land, v. 6, n. 8, ago. 1956.

5. COZEN, L. Meralgia paresthetica. Postgraduate Medicine,


Minneapolis, v. 26, p. 828-9, dez. 1959.

6. JONQUIERES, E. D. The histamine reaction in meralgia pares-


thetica. International Journal of Leprosy and Other Mycobacterial
Diseases, Lawrence, v. 27, p. 163-5, jun. 1959.

7. NATHAN, H. Gangliform enlargement on the lateral cutaneous


nerve of the thigh. Its significance in the understanding of the etio-
logy of meralgia paresthetica. Journal of Neurosurgery, Baltimore,
v. 17, p. 843-50, set. 1960.

8. GHENT, W. R. Further studies on meralgia paresthetica. Cana-


dian Medical Association Journal, Ottawa, v. 85, p. 871-5, 14 out.
1961.

9. KEEGAN, J. J.; HOLYOKE, E. A.. Meralgia paresthetica. An


anatomical and surgical study. Journal of Neurosurgery, Baltimo-
re, v. 19, p. 341-5, abr. 1962.

306
Parte 2
Nutrição básica e aplicada
Efeitos da desnutrição precoce
e da estimulação ambiental sobre
os níveis de monoaminas e seus
metabólitos no sistema nervoso
central de ratos
Maria Surama Pereira da Silva39
Antônio Souto Gouveia40
Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos41*

1. Introdução

A
ocorrência de deficiência nutricional, especialmente à re-
dução da ingestão de proteína, durante o período crítico
do desenvolvimento cerebral, resulta em múltiplas altera-
ções morfológicas, eletrofisiológicas e neuroquímicas no sistema
nervoso central (SNC) e também alterações comportamentais[1-4].
Em animais de laboratório, um grande número de informa-
ções sobre as consequências das deficiências nutricionais tem se
acumulado nos últimos anos, mostrando redução do peso corpo-
ral e cerebral, no tamanho das células nervosas, no número e na

39. Laboratório de Fisiologia da Nutrição Naíde Teodósio/Centro de Ciências da Saúde/


Universidade Federal de Pernambuco (LAFINNT/CCS/UFPE), Recife, Brasil.
40. Faculdade Santa Maria (FSM), Recife, PE.
41. Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento/
Departamento de Neuropsiquiatria/CCS/UFPE, Recife. 4Graduação e pós-graduação da
Universidade Estadual Vale do Acaraú/Instituto Superior de Economia e Administração
(UVA-ISEAD), Recife, PE. Pós-doutorando PNPD/CAPES – Institucional (2011).

311
densidade de terminais sinápticos, na ramificação dendrítica, além Contudo, a grande maioria dos trabalhos indica que a desnu-
de retardo na mielinização, no desenvolvimento pós-natal das cé- trição parece reduzir os conteúdos de dopamina e HVA no cérebro
lulas granulares no giro denteado e nas células piramidais na subá- total[20,26,30], bem como em algumas regiões cerebrais, como corpo
rea CA1 do hipocampo[1,2,5-11]. Além de alterações morfológicas, a estriado, cerebelo[17] e hipocampo[34]. Também tem sido relatado
desnutrição também resulta em redução na concentração de DNA, que, após um período de 70 dias de reabilitação nutricional, a do-
RNA, gangliosídeos, glicoproteínas e nos níveis de proteínas e de pamina retorna aos níveis normais em todo o cérebro[30].
aminoácidos específicos[12-15]. A maioria dos trabalhos sugere que os níveis da serotonina
Vários estudos têm procurado analisar as consequências das (5-HT) são aumentados no cérebro de animais desnutridos. Um
deficiências nutricionais e as alterações em sistemas de neurotrans- aumento no conteúdo de 5-HT tem sido observado não só quando
missores no SNC. A desnutrição precoce tem efeito variável sobre analisado o cérebro total[35,36], mas também quando analisado por
o conteúdo de noradrenalina (NA) no cérebro, dependendo do pe- regiões como cerebelo[16], tronco cerebral[29,37,38], hipotálamo[34,39,40],
ríodo de início do insulto nutricional. O nível de NA foi aumenta- córtex pré-frontal e hipocampo[41,42]. A concentração de ácido 5-hi-
do nos hemisférios cerebrais, diencéfalo, mesencéfalo, ponte, bulbo droxindolacético (5-HIAA), metabólito da 5-HT, também é au-
e cerebelo[16,17], quando o insulto nutricional se iniciou desde o aca- mentada no diencéfalo, mesencéfalo, ponte, bulbo e cerebelo de
salamento. Quando a desnutrição foi iniciada no período de gesta- animais desnutridos[16,38]. Os níveis de 5-HT também estão eleva-
ção ou lactação, foi observada redução nos níveis de noradrenalina dos em algumas regiões do cérebro de animais adultos submetidos
no cérebro total[18-22], no corpo estriado[17] e no córtex[23]. Resulta- à restrição de dieta, indicando que as mudanças no conteúdo desse
dos semelhantes foram observados em estudos que utilizaram ou- neurotransmissor não são estritamente relacionados com a desnu-
tros modelos de desnutrição como: grandes ninhadas (16 filhotes), trição durante o desenvolvimento[30,43].
restrição de 50% da dieta[24,25] ou amamentação cruzada[26]. En- Por outro lado, alguns estudos encontraram diminuição ou
tretanto, alguns estudos não encontraram diferenças significantes nenhuma alteração no conteúdo de 5-HT em animais desnutridos.
no nível de noradrenalina no cérebro total[27,28], telencéfalo, tronco Em estudos que utilizaram como modelo de desnutrição grandes
cerebral, cerebelo[29,30], hipocampo[31,32] e eminência média[33]. ninhadas ou restrição a 50% da oferta de dieta, foram observadas
Do mesmo modo que a noradrenalina, os trabalhos sobre o reduções nos conteúdos de 5-HT nos dois hemisférios cerebrais,
efeito da desnutrição nos conteúdos de dopamina (DA) nas regiões tronco encefálico, cerebelo[24] e hipotálamo[44]. Já em estudos reali-
cerebrais também apresentam resultados contraditórios. Estudos zados com animais desnutridos no período de gestação, lactação[28]
com animais submetidos à desnutrição durante o período de gesta- e até 42 dias de idade não observaram alterações significantes na
ção e lactação observaram que as concentrações de dopamina per- concentração de 5-HT[27]. Esses resultados sugerem que as alte-
maneceram inalteradas quando analisado o cérebro total[27], bem rações observadas no nível de 5-HT de animais desnutridos são
como quando analisadas as diversas subáreas, como telencéfalo, variáveis de acordo com o modelo de desnutrição utilizada, bem
tronco cerebral, cerebelo[29] e hipocampo[32]. Por outro lado, quan- como o período do início do insulto nutricional.
do a desnutrição ocorreu apenas durante a gestação, foi observado Os efeitos da estimulação e do enriquecimento ambiental so-
aumento no conteúdo de dopamina no cérebro total[22] e de seus bre os níveis de alguns neurotransmissore são variáveis. Naka et
metabólitos, o ácido 3,4-di-hidroxifenilacético (DOPAC) e o ácido al.[45] observaram que, após um período de 40 dias de exposição
homovanílico (HVA) no hipocampo[32]. em um ambiente enriquecido, os níveis de noradrenalina foram

312 313
significativamente aumentados no córtex parietotemporo-occip- mulados e não estimulados foram diariamente retiradas das gaio-
tal, cerebelo, ponte e bulbo. Não foram observadas diferenças sig- las viveiro por um período de aproximadamente 27min. Os filho-
nificativas nos níveis de 5-HT e dopamina nessas regiões. Entre- tes dos grupos CNE e DNE eram mantidos separados de suas mães
tanto, os níveis do DOPAC no núcleo accumbens são reduzidos em sem nenhuma manipulação. Os filhotes dos grupos CE e DE foram
animais criados em ambiente enriquecido[46]. expostos à estimulação ambiental do 1o dia ao 35 o dia de idade,
Este estudo teve como objetivo investigar os efeitos da desnu- que incluía os seguintes procedimentos:
trição associada à estimulação ambiental nos sistemas de alguns Estimulação táctil (handling): Os animais foram individual-
neurotransmissores. mente segurados em uma das mãos e o polegar da outra mão desli-
zava suavemente sobre o dorso do animal no sentido encefalocau-
dal, durante um período de 3min.
2. Material e método Estimulação auditiva: Após a estimulação táctil, os animais
estimulados eram mantidos agrupados nas gaiolas viveiro (ninha-
Sujeitos das) e transportados sem as ratas mães para outra sala, onde a
ninhada em conjunto recebia estímulos auditivos durante 3min,
Foram utilizadas ratas Wistar, da espécie Rattus norvegieus, apresentando tons puros de 70dB e 3kHz por 3s e intervalos de
fêmeas virgens, com 60 dias de idade, provenientes do Biotério 25s entre tons. Após essa estimulação, as ninhadas foram nova-
Central do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Pau- mente transportadas para o biotério, onde as ratas mães dos gru-
lo (USP). Após um período de adaptação de 30 dias no biotério do pos estimulados e não estimulados foram recolocadas com as suas
Laboratório de Nutrição, Desenvolvimento e Comportamento da respectivas ninhadas.
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, as ratas Aos 21 dias de idade, era realizada a separação dos filhotes das
foram acasaladas. Vinte e quatro horas após o nascimento, todos suas ratas mãe (desmame), sendo as ratas mãe e os filhotes fêmeas
os filhotes das várias mães, nascidos no mesmo dia, foram agru- desprezados a partir desta etapa. Após o desmame, os animais ma-
pados em um conjunto maior e designados aleatoriamente para chos foram alojados em gaiolas individuais de aço inoxidável (mo-
uma das mães. Cada ninhada foi composta por seis machos e duas delo Fumbec – SP), medindo 25,5´18´14,5cm. O biotério onde os
fêmeas. Essas ninhadas foram designadas aleatoriamente para re- animais viveram era mantido a uma temperatura em torno de 24°C
ceberem as dietas isocalóricas contendo 16% proteína (Controle e sua iluminação artificial programada para ciclos de claro e escuro
– C) ou 6% de proteína (Desnutrido – D), do dia do nascimento com duração de 12h cada um, com o início do ciclo claro às 6h.
até os 35 dias de idade. A caseína foi utilizada como fonte protei- Essas condições estão de acordo com as normas para o cuidado de
ca, e as dietas foram preparadas de acordo com Barnes et al.[47] animais de laboratório, conforme descrito pelos US National Ins-
e modificadas posteriormente de acordo com Santucci et al.[48] e titutes of Health Guide for Care and Use of Laboratory Animals.
Rocinholi et al.[49]. Os animais foram divididos em quatro grupos:
CNE – grupo controle não estimulado (n=16), CE – grupo con-
trole estimulado (n=13), DNE – grupo desnutrido não estimulado Análise de monoaminas
(n=16) e DE – grupo desnutrido estimulado (n=14). Aos 35 dias de idade, os animais foram sacrificados por de-
Durante o período de lactação, as ratas mães dos grupos esti- captação, no período da tarde (13h às 17h). O cérebro foi rapi-

314 315
damente removido, lavado em solução salina gelada, sendo disse- Quando apropriado, foi utilizado o teste Post-Hoc de Bonferroni.
cados o córtex occipital e o cerebelo. Em seguida, os hipotálamos Nível de significância foi fixado em p<0,05.
ventromedial e lateral foram retirados, utilizando-se um “pun-
cho” de 1mm de diâmetro interno. Posteriormente, o hipocampo
foi dissecado, tomando como referência a placa 38 indicada no 3. Resultados
Atlas Paxinos e Watson[50]. Todas as estruturas foram pesadas e
mantidas a -70ºC. Os níveis de NA, DA, DOPAC, HVA, 5-HT e Córtex occipital
5-HIAA foram medidos por cromatografia líquida de alto desem-
penho (HPLC). Todas as medidas foram feitas dentro de quatro Como ilustrado na Figura 1, os animais do grupo DE apresen-
semanas após o sacrifício. As amostras foram homogeneizadas em taram redução nos níveis de NA, quando comparados com os ani-
ácido perclórico 0,2M e centrifugado a 1.500rpm durante 20min mais do grupo CE (p<0,05). Os níveis de 5-HT foram reduzidos
a 6ºC. Foram injetados 50μL da solução no sistema de HPLC para nos animais do grupo CE quando comparados com os animais do
análise. Tal sistema era composto de: módulo de comunicação grupo CNE (p<0,05). O grupo DE apresentou aumento no nível
(Shimadzu, modelo CBM-10A), cromatográfo (Shimadzu, modelo 5-HT quando comparado ao grupo CE (p<0,05).
LC-10AD) com injetor Rheodine manual com loop de 50mL, des-
gaseificador (Shimadzu, modelo DGU-14A), pré-coluna (Shima-
dzu, modelo Shim pack CLC G ODS (4)) e coluna cromatográfica Córtex occipital – Monoaminas
(HyPURITY Elite, modelo C18 5m, medindo 250´4,6 mm) acopla-
do a um detector eletroquímico (Shimadzu, modelo L-ECD-6A. O

Concentração (ng/g de tecido)


potencial do sistema de HPLC foi de 850mV (vs. um eletrodo de
referência de Ag/AgCl). A fase móvel, contendo 14,14g de ácido
cloroacético, 4,66g de hidróxido de sódio, 1.000mL de água desti- * NA
lada, 200mg octilsufato sódico, ácido etilenodiamino tetra-acético 5-HT
(EDTA), 35µL de acetonitrilo e 25µL tetra-hidrofurano (ajustado a a
*
pH 3,0), foi filtrada e bombeada através do sistema à taxa de fluxo
de 1,0mL/min. A quantificação de todas as substâncias foi feita
por comparação das áreas de picos da curva padrão.
CNE CE DNE DE
Todos os reagentes para a fase móvel de HPLC foram obtidos
Grupos
da Merck (Darmstadt, Alemanha) ou da Sigma Chemical Drugs
and Chemicals (St. Louis, Estados Unidos).
Figura 1: Níveis endógenos de monoaminas no córtex occipital de ratos aos 35 dias de ida-
de. As colunas representam as médias dos valores, e as barras representam oerro padrão da
média (EPM) de cada grupo. ■ NA (noradrenalina) e □ 5-HT (5-hidroxitriptamina). CNE
Análise estatística – grupo controle não estimulado (n=16); CE – grupo controle estimulado (n=13); DNE –
grupo desnutrido não estimulado (n=16); DE – grupo desnutrido estimulado (n=14). Os
Os dados neuroquímicos foram avaliados utilizando uma aná- [*] indicam diferenças significativas em relação aos respectivos grupos controle (p<0,05).
lise de variância (ANOVA) de dois fatores (dieta x estimulação). A letra [a] indica diferenças significativas entre o grupo CE e o grupo CNE (p<0,05).

316 317
A Figura 2 ilustra o efeito significativo do fator estimulação Cerebelo
ambiental sobre os níveis de 5-HIAA [F (1,0)=13,59; p<0,001] e do
Como pode ser observado na Figura 3, um efeito significativo
HVA [F (1,0)=7,17; p<0,05], do fator dieta 5-HIAA [F (1,0)=13,86;
do fator estimulação foi observado no nível de DA [F (1,0)=4,89;
p<0,001] e do HVA [F (1,0)=16,17; p<0,001] e a interação dos fa-
p<0,05]. Os animais estimulados apresentaram uma redução no
tores dieta ´ estimulação ambiental sobre os níveis de 5-HIAA [F
nível de DA em comparação com os não estimulados.
(1,0)=4,87; p<0,05] e a HVA [F (1,0)=7,69; p<0,05]. O grupo CE
apresentou redução no nível de 5-HIAA quando comparado ao
grupo CNE. Os animais do grupo DE apresentaram aumento no
Cerebelo – Dopamina
nível de HVA, quando comparados aos do grupo DNE. O grupo
DE apresentou aumento no nível de 5-HIAA e de HVA, quando
comparado ao grupo CE. *

Concentração (ng/g de tecido)


*

Córtex occipital – Metabólitos

*b
Concentração (ng/g tecido)

* 5-HIA A CNE CE DNE DE


a HVA Grupos

Figura 3: Nível de endógeno de dopamina no cerebelo de ratos aos 35 dias de idade. As


colunas representam as médias dos valores, e as barras representam o erro padrão da
média (EPM) de cada grupo. CNE – grupo controle não estimulado (n=16); CE – grupo
controle estimulado (n=13); DNE – grupo desnutrido não estimulado (n=16); DE – grupo
CNE CE DNE DE
desnutrido estimulado (n=14). Os [*] indicam diferenças significativas em relação aos
Grupos respectivos grupos controle (p<0,05).

Figura 2: Níveis de metabólitos de monoaminas no córtex occipital de ratos aos 35 dias


Quanto ao nível HVA, foi observado efeito significativo do
de idade. As colunas representam as médias dos valores, e as barras representam o erro
padrão da média (EPM) de cada grupo. ■ 5-HIAA (ácido 5-hidroxindolacético) e □ HVA fator dieta [F (1,0)=44,68; p<0,001]. Os animais desnutridos apre-
(ácido homovanílico). CNE – grupo controle não estimulado (n=16); CE – grupo controle sentaram um aumento no nível de HVA em comparação com os
estimulado (n=13); DNE – grupo desnutrido não estimulado (n=16); DE – grupo desnu- animais controle. Os animais do grupo DE apresentaram aumen-
trido estimulado (n=14). Os [*] indicam diferenças significativas em relação aos respecti-
vos grupos controle (p<0,001). A letra [a]indica diferenças significativas entre o grupo CE
to no nível de 5-HIAA em comparação com os controle (p<0,05)
e o grupo CNE (p<0,05). A letra [b] indica diferenças significativas entre o grupo DE e o (Figura 4). Não foram observadas diferenças significativas quanto
grupo DNE (p<0,05). aos níveis de NA e 5-HT entre os grupos estudados.

318 319
Cerebelo – Metabólitos Hipocampo – Noradrenalia e Ácido 5 –
hidroxindolacético
*
Concentração (ng/g de tecido)

Concentração (ng/g de tecido)


*
*
HVA
NA
5-HIAA b
5-HIAA

CNE CE DNE DE CNE CE DNE DE


Grupos Grupos

Figura 4: Níveis de metabólitos de monoaminas no cerebelo de ratos aos 35 dias de idade. Figura 5: Níveis endógenos de noradrenalina e do ácido 5-hidroxindolacético no hipo-
As colunas representam as médias dos valores, e as barras representam o erro padrão da campo de ratos aos 35 dias de idade. As colunas representam as médias dos valores, e as
média (EPM) de cada grupo. ■ HVA (ácido homovanílico) e □ 5-HIAA (ácido 5-hidro- barras representam o erro padrão da média (EPM) de cada grupo. ■ NA (noradrenalina)
xindolacético). CNE – grupo controle não estimulado (n=16); CE – grupo controle esti- e □ 5-HIAA (ácido 5-hidroxindolacético). CNE – grupo controle não estimulado (n=16);
mulado (n=13); DNE – grupo desnutrido não estimulado (n=16); DE – grupo desnutrido CE – grupo controle estimulado (n=13); DNE – grupo desnutrido não estimulado (n=16);
estimulado (n=14). Os [*] indicam diferenças significativas em relação aos respectivos DE – grupo desnutrido estimulado (n=14). Os [*] indicam diferenças significativas em re-
grupos controle (p <0,05). lação aos respectivos grupos controle (p<0,05). A letra [b] indica diferenças significativas
entre o grupo DE e o grupo DNE (p<0,05).

Hipocampo
Os animais DE (Figura 5) apresentaram um aumento no nível Hipotálamo lateral
de NA em comparação com os animais DNE (p<0,05). O nível de
5-HIAA foi reduzido no grupo DE em relação ao CE (p<0,05). Os animais do grupo CE (Figura 6) apresentaram uma redução
Não foram observadas diferenças significativas quanto aos níveis no nível de NA em relação aos animais do grupo CNE (p<0,05). O
de HVA e 5-HT entre os grupos estudados. mesmo foi observado nos animais do grupo DNE em relação aos
CNE (p<0,05). Quanto aos níveis de DA e 5-HIAA, foi observada
interação entre o fator dieta x estimulação [F(1,0) = 6,25; p<0,05];
os animais DE apresentaram aumento em relação aos animais
DNE (Figura 7). Não foram observadas diferenças significantes
quanto aos níveis de DOPAC, 5-HT e HVA nos grupos estudados.

320 321
Hipotálamo Lateral – Noradrenalina Hipotálamo Lateral – Dopamina e Ácido 5 –
hidroxindolacético
3500
Concentração (ng/g de tecido)

3000 900

Concentração (ng/g de tecido)


800 b
2500
700
a *
2000 600
500 DA
1500
400 5-HIAA
1000 300
b
200
500
100
0 0
CNE CE DNE DE CNE CE DNE DE
Grupos Grupos

Figura 6: Níveis endógenos de noradrenalina no hipotálamo lateral de ratos aos 35 dias Figura 7: Níveis endógenos de dopamina e do ácido 5-hidroxindolacético no hipotálamo
de idade. As colunas representam as médias dos valores, e as barras representam o erro lateral de ratos aos 35 dias de idade. As colunas representam as médias dos valores, e as
padrão da média (EPM) de cada grupo. CNE – grupo controle não estimulado (n=16); barras representam o erro padrão da média (EPM) de cada grupo. CNE – grupo controle
CE – grupo controle estimulado (n=13); DNE – grupo desnutrido não estimulado (n=16); não estimulado (n=16); CE – grupo controle estimulado (n=13); DNE – grupo desnutrido
DE – grupo desnutrido estimulado (n=14). Os [*] indicam diferenças significativas em re- não estimulado (n=16); DE – grupo desnutrido estimulado (n=14). A letra [b] indica dife-
lação aos respectivos grupos controle (p<0,05). A letra [a] indica diferenças significativas renças significativas entre o grupo DE e o grupo DNE (p<0,05).
entre o grupo CE e o grupo CNE (p<0,05).

Hipotálamo ventromedial
Os animais do grupo CE apresentaram um aumento no nível
de DOPAC em relação ao grupo CNE (p<0,05).
Os animais do grupo DNE apresentaram uma redução do ní-
vel de DA (p<0,001) e aumento do nível de DOPAC (p<0,05) em
relação ao grupo CNE. Já os animais do grupo DE apresentaram
redução nos níveis de DA (p<0,05) e de DOPAC (p<0,05) e au-
mento no nível de 5-HT (p<0,05) em relação ao grupo CE; entre-
tanto, apresentaram redução no nível de DA (p<0,05) e aumento
no nível de 5-HT (p<0,05) em relação ao grupo DNE (Figura 8).
Não foram observadas diferenças significantes nos níveis de
NA e 5-HIAA entre os grupos estudados.

322 323
no nível de HVA em relação aos do grupo CE. Os resultados do
Hipotálamo Ventromedial – Monoaminas e Metabólito presente estudo sugerem que a estimulação ambiental aumenta a
metabolização da DA, podendo ser devido a uma maior liberação
*b desse neurotransmissor na fenda sináptica ou ao aumento das en-
Concentração (ng/g de tecido)

zimas monoamina-oxidase (MAO) e/ou da catecol-o-metiltransfe-


rase. Os dados da literatura mostram que a atividade da MAO é
DA aumentada no cérebro de animais desnutridos[30,51].
DOPAC Com relação ao nível de 5-HT, foi observada uma redução
* *b
5-HT nos animais do grupo CE em relação ao grupo CNE, indicando
a *
* que a estimulação ambiental acarreta redução nos níveis de 5-HT.
Os animais desnutridos estimulados apresentaram um aumento
CNE CE DNE DE nos níveis de 5-HT em relação ao grupo CE, indicando que a esti-
Grupos mulação associada à desnutrição teve efeito oposto.
Os animais do grupo CE apresentaram redução no ácido
Figura 8: Níveis endógenos de monoaminas e de metabólitos no hipotálamo ventromedial 5-HIAA em relação aos animais do grupo CNE, indicando que
de ratos aos 35 dias de idade. As colunas representam as médias dos valores, e as barras a redução também observada no nível de 5-HT não se deve ao
representam o erro padrão da média (EPM) de cada grupo. ■ DA (dopamina), □ DOPAC
aumento da metabolização, mas sim a uma redução na síntese do
(ácido 3,4-di-hidroxifenilacético) e ▒ 5-HT (5-hidroxitriptamina). CNE – grupo controle
não estimulado (n=16); CE – grupo controle estimulado (n=13); DNE – grupo desnutrido neurotransmissor. Entretanto, nos animais desnutridos, a estimu-
não estimulado (n=16); DE – grupo desnutrido estimulado (n=14). Os [*] indicam dife- lação ambiental aumentou o nível de 5-HIAA em relação aos ani-
renças significativas em relação aos respectivos grupos controle (p<0,05). A letra [a] indica mais do grupo CE, mostrando um efeito oposto da estimulação. A
diferenças significativas entre o grupo CE e o grupo CNE (p <0,05). A letra [b] indica
diferenças significativas entre o grupo DE em relação ao grupo DNE (p<0,05). estimulação para os animais desnutridos parece aumentar tanto a
síntese como a metabolização.
No cerebelo, foram observadas reduções nos níveis de DA nos
4. Discussão animais estimulados em ambas as condições de dieta, indicando
que a estimulação ambiental reduz o depósito de DA[52-54]. Entre-
No córtex occipital, foi observada uma redução nos níveis de
tanto, na análise do nível de HVA, foi observado um aumento nos
NA nos animais desnutridos estimulados em relação ao respectivo
animais desnutridos, mostrando que a desnutrição aumenta a me-
grupo controle, indicando que a estimulação ambiental reduz os
tabolização da DA, devido ao aumento da atividade da MAO[30].
níveis de NA nessa área cerebral. Esses resultados estão em con-
Quanto aos níveis de 5-HIAA, foi observado aumento nos
traste com o trabalho anterior. Naka et al. [45] observaram aumento
animais desnutridos estimulados. Esses dados sugerem que a des-
dos níveis de NA no córtex occiptal de camundongos. Essas dife-
nutrição em associação com estimulação podem levar a uma alte-
renças podem ser atribuídas a diferenças na espécie estudada (rato
ração na atividade da MAO[30,51].
x camundongo) ou diferenças na condição de estimulação.
Quanto ao nível de HVA, que é um dos metabólitos da DA, No hipocampo, foi observado aumento na concentração da
foi observado aumento nos grupos estimulados em ambas con- NA nos animais DE em relação aos DNE, mostrando um efeito da
dições de dieta. Os animais do grupo DE apresentaram aumento estimulação sobre os níveis de NA.

324 325
Quanto ao nível do 5-HIAA no hipocampo, foi observada re- mo lateral, de DA no cerebelo, de DOPAC no hipocampo, de HVA,
dução no grupo DE em relação ao CE, mostrando que a desnutrição 5-HT e 5-HIAA no córtex occipital. Nos animais desnutridos, a
e a estimulação, neste grupo, pode ter resultado em um efeito sobre estimulação ambiental produziu diferenças nos níveis de NA no
a atividade da MAO, uma vez que não foi observada alteração nos hipocampo; de DA no cerebelo, hipotálamo lateral e ventromedial;
nível de 5-HT paralelamente às reduções nos níveis de 5-HIAA. de HVA no córtex occipital; de 5-HT no hipotálamo ventromedial
Dados da literatura demonstram que a estimulação ambiental pro- e de 5HIAA no hipotálamo lateral.
voca alterações no sistema serotoninérgico hipocampal[55-57] Apesar de a maioria dos estudos ter encontrado redução dos
No hipotálamo lateral, foi observada redução no nível de NA níveis de noradrenalina e dopamina[18,19], outros encontraram au-
no grupo CE em relação ao CNE, mostrando o efeito da estimula- mentos ou nenhuma alteração[16,17,27,28]. Já os níveis de serotonina
ção sobre os níveis de NA. Também foi observada redução de NA apresentam resultados mais homogêneos, sugerindo que a desnutri-
nos animais DNE em relação ao grupo CNE, o que representa um ção acarreta um aumento tanto na síntese como na liberação de se-
efeito da dieta. Com relação ao nível da DA, foi observado aumen- rotonina no cérebro[35,36]. As divergências entre os estudos podem ser
to nos animais do grupo DE em relação aos animais DNE, indican- atribuídas a alguns fatores, como o modelo de desnutrição utilizado,
do que a estimulação altera a síntese e a liberação de DA. De forma variações no teor de proteínas na dieta, idade de início do insulto
semelhante, foi observado aumento no nível de 5-HIAA nos ani- nutricional, idade dos animais no momento da avaliação bioquímica
mais do grupo DE em relação aos do grupo DNE, indicando que a e a metodologia utilizada para quantificação das aminas biogênicas.
estimulação pode ter exercido efeito sobre a atividade da MAO[30]. As diferenças nos estudos sobre os efeitos da desnutrição sobre
No hipotálamo ventromedial, foi observada redução nos ní- os níveis de aminas biogênicas no SNC também podem ser atribuí-
veis de DA nos animais desnutridos em relação aos controle. Esses das a variações de acordo com as estruturas analisadas. Alguns au-
dados indicam que a desnutrição altera a síntese e/ou armazena- tores estudaram regiões mais extensas, envolvendo o cérebro todo
gem de DA. Também foi observada redução no grupo DE em re- ou grandes áreas do cérebro, como tronco cerebral ou diencéfalo,
lação ao grupo DNE, indicando que, para o grupo desnutrido, a que envolvem muitas subáreas. Ao serem analisadas em conjunto,
estimulação parece potenciar o efeito sobre a síntese e/ou armaze- pode, então, ocorrer uma somação de efeitos, desde que a desnu-
nagem de DA. Quanto ao nível de DOPAC, foi observada redução trição pode estar aumentando os níveis de neurotrasmissores em
nos animais desnutridos, indicando que a desnutrição parece exer- algumas áreas cerebrais e reduzindo em outras subáreas. Com isso,
cer efeito sobre a síntese e liberação da dopamina[52-54,58]. faz-se necessário analisar os efeitos da desnutrição por subáreas
Com relação ao nível de serotonina no hipotálamo ventro- mais específicas. No presente trabalho, as áreas estudadas foram
medial, foram observados aumentos nos animais do grupo DE escolhidas levando em conta as áreas mais enfatizadas em estudos
em relação aos grupos CE e DNE, indicando que a estimulação de desnutrição e/ou estimulação.
ambiental em animais desnutridos parece aumentar a síntese e/ou
armazenagem de serotonina[35].
A estimulação ambiental apresentou efeitos variáveis sobre os 5. Considerações finais
níveis de monoaminas e metabólitos em ambas condições de dieta. Um aspecto importante a ser salientado refere-se às possíveis
Para os animais controle, a estimulação ambiental produziu dife- implicações clínicas dos resultados deste estudo. Na clínica, é fre-
renças (aumentos ou diminuições) nos níveis de NA no hipotála- quente o uso de drogas que atuam sobre o sistema de monoaminas

326 327
e das enzimas envolvidas nos seus metabolismos, porém poucas 7. Referências biliográficas
vezes é levado em conta o estado nutricional do paciente. As práti-
1. MORGANE, P. J.; AUSTIN-LAFRANCE, R. J.; BRONZINO,
cas e as análises clínicas dos efeitos de drogas que atuam no siste-
J. D.; TONKISS, J.; DÍAZ-CINTRA, S.; CINTRA, L. et al. Pre-
ma nervoso central devem levar em conta as complexas alterações
natal malnutrition and development of the brain. Neuroscience
que a desnutrição provoca no sistema de neurotransmissores.
Biobehavioral Reviews, San Diego, v. 17, p. 91-128, 1993.

2. STRUPP, B. J.; LEVISKY, D. Enduring cognitive effects of early


6. Agradecimentos
malnutrition: A theoretical reapraisal. In: POLLIT, E. Undernutri-
Dedicamos este manuscrito ao Prof. Dr. Luiz Marcellino de tion and behavioral development in children. The Journal of Nu-
Oliveira (In memoriam) pela real amizade, cumplicidade, auxí- trition, Bethesda, v. 125, p. 2221S-2232S, 1995.
lios e elevada maestria no estudo proposto. À Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa 3. ALMEIDA S. S.; TONKISS, J., GALLER, J. R. Malnutrition and
e auxílio financeiro (2311/2011) do Programa Nacional de Pós- reactivity to drugs acting in the central nervous system. Neuroscien-
Doutoramento Institucional (PNPD) 2011 concedida ao Dr. Car- ce Biobehavioral Reviews, San Diego, v. 20, n. 3, p. 389-402, 1996.
los Vasconcelos*, sob a supervisão do Dr. Marcelo Valença.
4. GALLER, J. R.; SHUMSKY, J. S.; MORGANE, P. J. Malnutri-
tion and brain development. In: WALKER, W. A.; WATKINS, J. B.
Nutrition and pediatrics: basic science and clinical applications.
Neuilly-sure-Seine: Decker Europe, 1996. p. 194-210.

5. MORGANE, P. J.; MILLER, M.; KEMPER, T.; STERN, W.;


HALL, R.; BRONZINO, J. et al. The efects of protein malnutrition
and the developing central nervous system in the rats. Neuroscien-
ce Biobehavioral Reviews, San Diego, v. 2, p.137-230, 1978.

6. MORGANE, P. J.; RESNICK, O.; STERN, W. C.; FORBES, W.


B.; BRONZINO, J. D.; MILLER, M. et al. Maternal protein mal-
nutrition and the developing nervous system. In: LEVITSKY, D. A.
Malnutrition, environment, and behavior: new perspectives. Lon-
dres: Cornell University Press, 1979.

7. BEDI, K. S. Lasting neuroanatomical changes following under-


nutrition during early life. In: DOBBING, J. Early malnutrition
and later achievement. Londres: Academic Press, 1987. p. 2-49.

8. CINTRA, L; DIAZ-CINTRA, S; GALVAN, A; KEMPER, T;

328 329
MORGANE, P. J. Effects of protein undernutrition on the dentate 26, p. 1069-76, 1993.
gyrus in rats of three age groups. Brain Research Bulletin, Filadél-
fia, v. 532, p. 271-7, 1990. 16. STERN, W. C.; FORBES, W. B.; RESNICK, O.; MORGANE,
P. J. Seizure susceptibility and brain amine levels following protein
9. CINTRA, L.; AGUILAR, A.; GRANADOS, L.; GALVAN, A; malnutrition during development in the rat. Brain Research Bulle-
KEMPER, T.; BASSIO, W. de et al. Effects of prenatal protein mal- tin, Filadélfia, v. 79, p. 375-84, 1974.
nutrition on hippocampal CA1 pyramidal cells in rats of four age
groups. Hippocampus, Boston, v. 7, p. 192-203, 1997. 17. MATHANGI, D. C.; NAMASIVAYAM, A. Effect of chronic
protein restriction on motor co-ordination and brain neurotrans-
10. DIAZ-CINTRA, S.; CINTRA, L.; GALVAN, A.; AGUILAR, mitters in albino rats. Food Chemical Toxicology, Andover, v. 39,
A.; KEMPER, T.:, MORGANE, P. J. Effects of prenatal protein p. 1039-43, 2001.
deprivation on postnatal development of granule cells in the fascia
dentate. Journal of Comparative Neurology, Nova Iorque, v. 310, 18. SHOEMAKER, W. J.; WURTMAN, R. J. Perinatal undernu-
p. 356-64, 1991. trition: accumulation of catecholamines in rat brain. Science, Wa-
shington D.C., v. 171, p. 1017-9, 1971.
11. BASSIO, W. de; KEMPER, T; GALLER, JR; TONKISS, J. Pre-
natal malnutrition effect on pyramidal and granule cell generation 19. LEE, C.; DUBOS, R. Lasting biological effects of early envi-
in the hippocampal formation. Brain Research Bulletin, Filadélfia, ronmental influences: Effects of neonatal infection, perinatal mal-
v. 35, p 57-61, 1994. nutrition, and crowding on catecholamine metabolism of brain.
Journal of Experimental Medicine, Nova Iorque, v. 136, p. 1031-
12. ADLARD, B. P. F.; DOBBING, J. Vulnerability of developing 42, 1972.
brain III-Development of four enzymes in the brains of normal and
undernourished rats. Brain Research Bulletin, Filadélfia, v. 28, p. 20. RAMANAMURTHY, P. S. V. Maternal and early postnatal
97-107, 1971. malnutrition and transmitter amines in rat brain. Journal of Neu-
rochemistry, Aachen, v. 38, p. 253-4, 1977.
13. MORGAN, B. L. G.; NAISMITH, D. J. The effect of postnatal
undernutrition on the growth and development of the rat brain. 21. MARICHICH, E. S.; MOLINA, V. A.; ORSINGHER, O. A.
The Journal of Nutrition, Bethesda, v. 48, p. 15-23, 1982. Persistent changes in central catecholaminergic system after reco-
very of perinatally undernourished rats. The Journal of Nutrition,
14. CRNIC, L. S. Effects of nutrition and environment on brain Bethesda, v. 109, p. 1045-50, 1979.
biochemistry and behavior. Developmental Psychobiology, Gre-
ensboro, v. 16, n. 2, p. 129-45, 1982. 22. DETERING, N.; COLLINS, R. M.; HAWKINS, R. L.; OZAND,
P. T.; KARAHASAN, A. Comparative effects of ethanol and mal-
15. LIMA, J. G.; OLIVEIRA, L. M., LACHAT, J. J., DAL-BO, C. nutrition on the development of catecholamine neurons: changes
M. R.; ALMEIDA, S. S. Comparison of the effects of lab chow and in neurotransmitter levels. Journal of Neurochemistry, Aachen, v.
casein diets based on body and brain development of rats. Brazi- 43, n. 6, p. 1587-93, 1980.
lian Journal of Medical and Biological Research, Ribeirão Preto, v.

330 331
23. BROCK, J. W.; FAROOQUI, S. M.; ONAIVI, E. S.; HAMDI, A.; 32. CHEN, J.; TURIAK, G.; GALLER, J. R.; VOLICER, L. Postna-
PRASAD, C. Dietary protein and central monoamine concentrations tal changes of brain monoamine levels in prenatally malnourished
in the rat. Nutritional Neuroscience, Filadélfia, v. 1, p. 69-76, 1998. and control rats. International Journal of Developmental Neuros-
cience, Galveston, v. 15, n. 2, p. 257-63, 1997.
24. SERENI, F.; PRINCIPI, N.; PERLETTI, L.; SERENI, L. P. Un-
dernutrition and the developing rat brain. Journal of Neonatal 33. SCHLESINGER, L.; AREVALO, M.; SIMON, V.; LOPEZ, M.;
Biology, Westlake, v. 10, p. 254-65, 1966. MUÑOZ, C.; HERNANDEZ, A. et al. Immune depression indu-
ced by protein calorie malnutrition can be suppressed by lesioning
25. SEIDLER, F. J.; BELL, J. M.; SLOTKIN, T. A. Undernutrition central noradrenaline systems. Journal of Neuroimmunology, Co-
and overnutrition in the neonatal rat: long-term effects on nora- lúmbia, v. 57, p. 1-7, 1995.
drenergic pathways in brain regions. Pedriatric Research, Boston,
v. 27, n. 2, p. 191-7, 1990. 34. KEHOE, P.; MALLINSON, K.; BRONZINO, J; MCCORMI-
CK, C. M. Effects of prenatal protein malnutrition and neonatal
26. SHOEMAKER, W. J.; WURTMAN, R. J. Effect of perinatal un- stress on CNS responsiveness. Developmental Brain Research, Fi-
dernutrition on the metabolism of catecholamines in the rat brain. ladélfia, v. 132, p. 23-31, 2001.
The Journal of Nutrition, Bethesda, v. 103, p. 1537-47, 1973.
35. OKADO, N.; NARITA, M.; NARITA, N. A biogenic amine
27. AHMAD, G.; RAHMAN, M. A. Effects of undernutrition and -synapse mechanism for mental retardation and developmental
protein malnutrition on brain chemistry of rats. The Journal of disabilities. Developmental Brain Research, Filadélfia, v. 23, p.
Nutrition, Bethesda, v. 105, p. 1090-1103, 1975. S11-S15, 2001.
28. DICKERSON, J. W. T.; PAO, S. K. Effect of pre- and post-natal 36. GUTIÉRREZ-OSPINA, G.; MANJARREZ-GUTIÉRREZ, G.;
maternal protein deficiency on free amino acids and amines of rat GONZÁLEZ, C.; LÓPEZ, S.; HERRERA, R.; MEDINA-AGUIR-
brain. Journal of Neonatal Biology, Westlake, v. 25, p. 114-24, 1975. RE, I. et al. Neither increased nor decreased availability of cortical
serotonin (5-HT) disturbs barrel field formation in isocaloric un-
29. SOBOTKA, T. J.; COOK, M. P.; BRODIE, R. E. Neonatal
dernourished rat pups. International Journal of Devevlopmental
malnutrition: neurochemical, hormonal and behavioral manifes-
Neuroscience, Galveston, v. 20, p. 497-501, 2002.
tations. Brain Research Bulletin, Piladélfia, v. 65, p. 443-57, 1974.
37. RESNICK, O.; MORGANE, P. J. Generational effects of pro-
30. WIGGINS, R. C.; FULLER, G.; ENNA, S.J. Undernutrition and
tein malnutrition in the rat. Developmental Brain Research, Fila-
the development of brain neurotransmitter systems. Life Science,
délfia, v. 15, p. 219-27, 1984.
Colúmbia, v. 35, n. 21, p. 2085-94, 1984.
38. MILLER, M; RESNICK, O. Tryptophan availability: The im-
31. CHEN, J.; TONKISS, J.; GALLER, J. R.; VOLICER, L. Prena-
portance of prepartum and postpartum dietary protein on brain
tal protein malnutrition in rats enhances serotonin release from
indoleamine metabolism in rats. Experimental Neurology, Balti-
hippocampus. The Journal of Nutrition, Bethesda, v.122, p. 2138-
more, v. 67, p. 298-314, 1980.
143, 1992.

332 333
39. STERN, W. C., MILLER, M., FORBES, W. B., MORGANE, Coventry, v. 36, n. 2, p. 251-9, 1997.
P. J.; RESNICK, O. Ontogeny of the levels of biogenic amines in
various parts of the brain and in peripheral tissues in normal and 47. BARNES, R. H.; NEELLY, C. S.; KWONG, E.; LABADAN, B.
protein malnourished rats. Experimental Neurology, Baltimore, v. A.; FRAÑKOVA, S. Postnatal nutritional deprivations as determi-
49, p. 314-26, 1975. nants of adult rat behavior toward food, its consumption and utili-
zation. The Journal of Nutrition, Bethesda, v. 96, p. 467-76, 1968.
40. KANG, M.; PARK, C.; AHN, H.; HUH, Y. Ectopic expression
of serotonin-positive neurons in the hypothalamus associated with 48. SANTUCCI, L. B.; DAUD, M. M.; ALMEIDA, S. S.; OLIVEI-
a significant serotonin decrease in the midbrain of food-restricted RA, L. M. Effects of early protein malnutrition and environmental
rats. Neuroscience Letters, New Haven, v. 314, p. 25-8, 2001. stimulation upon the reactivity to diazepam in two animal models
of anxiety. Pharmacology Biochemistry and Behavior, La Jolla, v.
41. BECK, K. D.; LUINE, V. N. Food deprivation modulates chro- 49, p. 393-8, 1994.
nic stress effects on object recognition in male rats: role of monoa-
mines and amino acids. Brain Research Bulletin, Filadélfia, v. 830, 49. ROCINHOLI, L. F.; ALMEIDA, S. S.; OLIVEIRA, L. M. Res-
p. 56-71, 1999. ponse threshold to aversive stimuli in stimulated early protein
-malnourished rats. Brazilian Journal of Medical and Biological
42. MOKLER, D. J.; BRONZINO, J. D.; GALLER, J. R.; MOR- Research, Ribeirão Preto, v. 30, p. 407-13, 1997.
GANE, P. J. The effects of median raphé electrical stimulation on
serotonin release in the dorsal hippocampal formation of prena- 50. PAXINOS, G.; WATSON, C. The rat brain in stereotaxic coor-
tally protein malnourished rats. Brain Research Bulletin, Filadél- dinates. 6. ed. San Diego: Academic Press, 1997.
fia, v. 383, p. 95-103, 1999.
51. PARVEZ, H.; ISMAHAN, G.; PARVEZ, S. Maintenance of
43. PATEL, A. J. Undernutrition and brain development. Trends in central and peripheral monoamine oxidase activity in developing
Neuroscience, Cambridge, v. 6, p. 151-4, 1983. rats subjected to disturbed alimentary rhythms and undernutrition.
Journal of Neonatal Biology, Westlake, v. 35, p. 279-89, 1979.
44. HAIDER, S.; HALEEM, D. J. Decreases of brain serotonin
following a food restriction schedule of 4 weeks in male and fema- 52. BARDO, M. T.; VALONE, J. M.; ROBINET, P. M.; SHAW,
le rats. Medical Science Monitor Basic Research, Smithtown, v. 6, W. B.; DWOSKIN, L. P. Environmental enrichment enhances the
n. 6, p. 1061-7, 2000. stimulant effect of intravenous amphetamine: search for a cellular
mechanism in the nucleus accumbens. Developmental Psychobio-
45. NAKA, F.; SHIGA, T.; YAGUCHI, M.; OKADO, N. An enriched logy, Greensboro, v. 27, p. 292-9, 1999.
environment increases noradrenaline concentration in the mouse
brain. Brain Research Bulletin, Filadélfia, v. 924, p. 124-6, 2002. 53. EL RAWAS, R.; THIRIET, N.; LARDEUX, V.; JABER, M.;
SOLINAS, M. Environmental enrichment decreases the rewarding
46. BARDO, M. T.; ROBINET, P. M.; HAMMER Jr., R. F. Effect of but not the activating effects of heroin. Psychopharmacology, Hei-
differential rearing environments on morphine-induced behaviors, delberg, v. 203, p. 561-70, 2009.
opioid receptors and dopamine synthesis. Neuropharmacology,

334 335
54. SOLINAS, M.; THIRIET, N.; RAWAS, R. E.; LARDEUX, V.; Sobre os autores
JABER, M. Environmental enrichment during early stages of life re-
duces the behavioral, neurochemical, and molecular effects of cocai-
ne. Neuropsychopharmacology, Belmont, v. 34, p. 1102-11, 2009. Maria Surama Pereira da Silva

55. GALANI, R.; BERTHEL, M. C.; LAZARUS, C.; MAJCHR- Possui graduação (1992) e mestrado (1996) em Nutrição pela
ZAK, M.; BARBELIVIEN, A.; KELCHE, C. et al. The behavioral Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutorado em Psi-
effects of enriched housing are not altered by serotonin depletion cobiologia pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é
butenrichment alters hippocampal neurochemistry. Neurobiology Professora Adjunta III da UFPE. Tem experiência na área de Nu-
of Learning and Memory, Filadélfia, v. 11, n. 1, p. 1-10, 2007. trição, com ênfase em Desnutrição e Desenvolvimento Fisiológico,
atuando principalmente nos seguintes temas: desnutrição, estimu-
56. HELLEMANS, K. G. C.; NOBREGA, J. N.; OLMSTEAD, M. lação ambiental, hipotireoidismo, depressão alastrante cortical e
C. Early experience alters baseline and ethanol-induced cognitive comportamento.
impulsivity: Relationship to forebrain 5-HT1A receptor binding. http://lattes.cnpq.br/9535964673351194
Behavioural Brain Research, Düsseldorf, v. 159, p. 207-20, 2005.

57. RASMUSON, S.; OLSSON, T.; HENRIKSSON, B. G.; KELLY, Antônio Souto Gouveia
P. A. T.; HOLMES, M. C.; SECKL, J. R. et al. Environmental enri- Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade
chment selectively increases 5-HT1A receptor mRNA expression Federal Rural de Pernambuco(1979), graduação em Licenciatura
and binding in the rat hippocampus. Molecular Brain Research, em Biologia pela Faculdade de Filosofia do Recife(1981), especia-
Piladélfia, v. 53, p. 285-90, 1998. lização em Morfologia pela Universidade Federal de Pernambu-
58. SEGOVIA, G.; ARCO, A.; MORA, F. J. Environmental enrich- co(1999) e mestrado em Patologia pela Universidade Federal de
ment, prefrontal cortex, stress, and aging of the brain. Journal of Pernambuco(2004). Atualmente é Assessor Pedagógico da Facul-
Neural Transmission, Heidelberg, v. 166, n. 8, p. 1007-16, 2009. dade de Formação de Professores da Mata Sul, Professor do Colé-
gio Santa Maria - Recife, Coordenador Geral do Ensino Médio do
Colégio Santa Maria - Recife, Coordenador Geral do Ensino Fun-
damental II do Colégio Santa Maria - Recife, Diretor Presidente da
Faculdade Santa Maria de Recife e Presidente do Instituto Santa
Maria de Educação Cultura Ciência e Tecnologia. Tem experiência
na área de Biologia Geral.
http://lattes.cnpq.br/9410944563720899

336 337
Nutrição básica e aplicada distúrbio de deficit de atenção e hiperatividade[3].
A nutrição representa fator importante para o sistema neuro-
lógico sob vários aspectos, e essa relação vem sendo estudada por
Camila Siqueira Silva42
séculos, havendo contínuo interesse e preocupação científica. Nos
Helio Vannucchi43
últimos anos, a tecnologia tem permitido maiores avanços nos es-
tudos dos efeitos da nutrição sobre o funcionamento e desenvolvi-
mento do sistema nervoso.
Todos os nutrientes têm sua importância; no entanto, maior
atenção tem sido dada aos ácidos graxos polinsaturados n-3, ei-

A
alimentação pode afetar o funcionamento e o desenvolvi- cosapentanoico (EPA) e docosa-hexanoico (DHA), assim como as
mento cognitivo, bem como a saúde mental em diferentes vitaminas do complexo B, em especial a B6, folato e B12.
idades ao longo de todo o ciclo da vida[1]. A cognição se O potencial genético da criança para crescimento físico e de-
refere aos processos mentais envolvidos na aquisição de conheci- senvolvimento mental pode ser comprometido devido à deficiên-
mento e integração desses processos em respostas, tais como apren- cia de micronutrientes. Crianças e adolescentes com estado nutri-
dizado, atenção, memória, coeficiente de inteligência (QI) e cons- cional deficiente são expostos a alterações de funções mentais e
ciência. Além disso, inúmeros estudos têm mostrado relação entre comportamento que podem ser corrigidas, se houver intervenção
nutrição e distúrbio de deficit de atenção e hiperatividade, depres- nutricional no momento certo[4].
são, esquizofrenia, doença de Alzheimer e doença de Parkinson[2]. Os nutrientes são necessários para o desempenho adequado
Em países desenvolvidos, os distúrbios mentais constituem 4 de funções específicas de cada tecido no organismo humano, inclu-
a cada 10 causas de problemas de saúde, entre os quais os mais co- sive o cérebro, que apresenta prioridade de suprimento nutricional.
muns são depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia e distúrbio Portanto, algumas deficiências nutricionais podem comprometer a
obsessivo compulsivo. Estudos científicos mostram deficiências função cerebral[4]. Os mecanismos pelos quais a alimentação e os
nutricionais correlacionadas com alguns transtornos mentais, des- nutrientes exercem seus efeitos sobre o cérebro estão sob constante
tacando-se deficiências de ácidos graxos n-3, vitaminas do comple- investigação[1].
xo B, minerais e aminoácidos precursores de neurotransmissores.
Assim, a suplementação nutricional pode ser apropriada no auxí-
Micronutrientes
lio do tratamento da depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia,
distúrbio obsessivo compulsivo, transtornos alimentares, autismo,
Vitaminas
42. Pós-doutorado na Divisão de Microbiologia, US Food and Drug Administration, Na-
tional Center for Toxicological Research, em Jefferson, Arkansas, Estados Unidos; dou- Embora todas as vitaminas sejam indispensáveis ao funciona-
torado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de
mento normal do cérebro, algumas delas se destacam.
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP); mestrado em Imunologia e
Parasitologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal de Uberlân-
dia; graduação em Nutrição pelo Centro Universitário do Triângulo.
43. Professor Titular do Departamento de Clínica Médica, Divisão de Nutrologia da
FMRP/USP.

339
Vitaminas antioxidantes ra os níveis dessas vitaminas não sejam considerados responsáveis
pela etiologia do estresse oxidativo na doença de Parkinson, o uso
O cérebro é caracterizado por sua grande suscetibilidade ao
de vitaminas antioxidantes, bem como de polifenóis, tem sido pro-
estresse oxidativo devido ao seu alto consumo de oxigênio, elevado
posto para prevenir e retardar o desenvolvimento dessa patologia[9].
conteúdo de ácidos graxos e baixos níveis de enzimas antioxidan-
tes. Assim, nas doenças neurodegenerativas e no envelhecimento,
as células neuronais de regiões específicas do cérebro são expostas Vitamina A
à ação de espécies reativas de oxigênio (ROS, do inglês reactive
A vitamina A é primordial para o sistema nervoso na síntese
oxygen species), levando à morte celular por apoptose, o que se
de pigmentos visuais e no controle da diferenciação e da prolifera-
agrava progressivamente até haver comprometimento das funções
ção de células durante o período embrionário. Além disso, atua no
neuronais. O estresse oxidativo desempenha papel chave na fisio-
processo de detoxificação hepática, protegendo o cérebro de forma
patologia das doenças neurodegenerativas. O acúmulo de radicais
indireta. A sua deficiência consiste em um importante problema de
livres pode também ativar enzimas, resultando na formação de
saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento, e pode
peptídeo β-amiloide, o qual se acredita ser o responsável pela dis-
levar à xeroftalmia e à cegueira[10]. A vitamina A e seus retinoides
função sináptica e morte neuronal na doença de Alzheimer[5].
estão envolvidos na plasticidade sináptica do hipocampo, sugerindo
Os antioxidantes α-tocoferol, vitamina C e β-caroteno atuam
participação nas funções cognitivas, havendo comprometimento do
sinergicamente contra a peroxidação lipídica, reduzem os danos
aprendizado espacial quando há deficiência em seu consumo[4].
causados por ROS em células neuronais e contribuem para inibir
O β-caroteno contribui para a estabilização de membranas
a patogênese de processos neurodegenerativos nas células. O con-
biológicas e, juntamente com outros micronutrientes (vitaminas E,
sumo desses nutrientes tem sido associado ao menor risco de perda
C e selênio), protege os tecidos, em especial o tecido nervoso, da
cognitiva causada pelo envelhecimento; porém, não está comple-
ação das ROS.
tamente definido se constitui um tratamento efetivo para a doença
Os alimentos de origem animal fornecem a vitamina A pré-
de Alzheimer[6]. Metade dos pacientes com essa doença não mostra
formada (retinol), seis vezes mais eficaz do que a pró-vitamina A
redução do estresse oxidativo quando suplementados com vitamina
(β-caroteno), fornecida por alimentos de origem vegetal. Por isso,
E[7]. Há relato de que a elevada ingestão de alimentos ricos em vita-
vegetarianos possuem maior risco de apresentar deficiência de des-
mina E possa reduzir o risco de demência e de doença de Alzheimer,
ta vitamina. Alimentos ricos em retinol são fígado, leite integral
mas isso depende da idade, sexo, raça, e, principalmente, genótipo;
e derivados, gema de ovo, peixe. Enquanto os carotenoides são
essa associação só foi observada em indivíduos sem o alelo APO-
encontrados em abundância em vegetais verde-escuros (brócolis,
Eε4[8]. Assim, estudos futuros são necessários com consideração es-
agrião, couve), frutas e vegetais amarelo-alaranjados (manga, ma-
pecial e foco no monitoramento individual do potencial terapêuti-
mão, cenoura, abóbora)[11].
co, a fim de prevenir toxicidade e analisar biomarcadores eficazes[6].
O papel neuroprotetor das vitaminas A, C e E em doenças neu-
rodegenerativas tem sido associado ao seu potencial antioxidante; Vitamina C (ácido ascórbico)
contudo, a vitamina A também inibe a formação de agregados fibri-
lares de α-sinucleína, característicos na doença de Parkinson. Embo- A vitamina C é um antioxidante hidrossolúvel que atua em
conjunto com o β-caroteno e o α-tocoferol na proteção contra pe-

340 341
roxidação lipídica, desempenhando um papel importante na rege- pelos quais pode afetar a cognição ainda não estão claros, mas
neração de α-tocoferol nas membranas e LDL[6]. acredita-se que estejam relacionados à ação antioxidante sobre as
A biosíntese de catecolaminas ocorre em tecidos ricos em vita- membranas, conferindo proteção à plasticidade sináptica[15].
mina C, como o cérebro e a glândula adrenal, sendo esta vitamina A deficiência nutricional de vitamina E modifica o perfil de
necessária para a síntese de norepinefrina a partir da dopamina. ácidos graxos no cérebro, bem como induz anormalidades na reti-
Em idosos, sua ingestão está ligada a menor incidência de alte- na. Sua suplementação tem sido proposta no tratamento de distúr-
rações no desempenho cognitivo. Alguns estudos mostram corre- bios no sistema nervoso central (SNC) durante o envelhecimento,
lação positiva entre QI e consumo de vitamina C. Além disso, o e o uso de vitaminas antioxidantes tem sido sugerido a fim de re-
consumo adequado de ácido ascórbico está relacionado ao menor duzir o risco da doença de Alzheimer, uma vez que baixos níveis
risco de catarata[4]. de vitamina E têm sido associados ao maior risco de demência[4].
O uso de suplementação de vitamina C tem sido proposto Em estudos experimentais, mostrou capacidade de atenuar os
para auxiliar no tratamento de pacientes com transtorno bipolar, efeitos tóxicos mediados por peptídeos β-amiloide e melhorar a
protegendo o organismo dos danos provocados pelos elevados ní- função cognitiva[16]. Em pacientes com comprometimento modera-
veis de vanádio, responsável por alguns sintomas comuns nesses damente grave da doença de Alzheimer, a suplementação reduziu
indivíduos, como mania, depressão e melancolia[3]. o dano neuronal e inibiu a progressão da doença, indicando que
Fontes de alimentos ricos em vitamina C incluem vegetais ver- o uso de α-tocoferol pode retardar a deterioração funcional nesses
de-escuros (couve, brócolis), frutas cítricas (laranja, limão, tange- pacientes. A vitamina E parece reduzir a deposição de placas senis,
rina), camu-camu (fruta nativa da região amazônica, também co- todavia nenhum efeito foi observado sobre as placas já formadas[6].
nhecida como caçari ou araçá-d’água), acerola, araçá e goiaba[11].

Vitamina B1 (tiamina)
Vitamina E (tocoferol)
A tiamina é imprescindível para o metabolismo de carboidra-
A vitamina E é um antioxidante lipossolúvel presente nas tos, onde atua como coenzima da piruvato desidrogenase. Além
membranas biológicas, onde protege os ácidos graxos insatura- disso, parece estar envolvida na síntese de acetilcolina, ácido g-a-
dos da oxidação, contribuindo, assim, para a manutenção da in- minobutírico (GABA), glutamato e aspartato. Relatos mostram
tegridade e da estabilidade de estruturas celulares no cérebro[12]. ação neurotrófica, provavelmente devido ao seu papel como coen-
Além da função antioxidante, outros papéis tem sido atribuídos à zima no metabolismo, bem como sua função na neurotransmissão
vitamina E, como o potencial de atuar na modulação do sistema e condução de impulso nervoso[17].
imune e dos processos inflamatórios, já que pode regular a expres- Sua deficiência produz danos na função e na estrutura cere-
são gênica[13]. O α-tocoferol, sua principal forma ativa, tem sido bral em várias doenças neurodegenerativas, incluindo doença de
implicado no desempenho cognitivo[4]. Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica, doença de Parkinson,
O α-tocoferol, abundante no gérmen de trigo, nozes, casta- esclerose múltipla, além da doença cerebral alcoólica, derrame e
nha-do-brasil, amêndoa, avelã, óleos vegetais (canola, girassol), dano cerebral traumático. O comprometimento do metabolismo
parece estender a sobrevida e melhorar a função mitocondrial e oxidativo devido à redução da atividade de enzimas dependentes
o desempenho neurológico no envelhecimento[14]. Os mecanismos de tiamina leva a uma cascata multifatorial de eventos no cérebro,

342 343
que inclui diminuição no suprimento de energia, estresse oxidati- cleo talâmico. A possível correlação entre os níveis de riboflavina
vo, acidose láctica, rompimento da barreira hematoencefálica, dis- no núcleo pulvinar e as implicações patológicas na esquizofrenia
função dos astrócitos, excitotoxicidade mediada por glutamato, devem ser investigadas a fundo futuramente[17]. As fontes alimen-
deposição amiloide, redução na utilização de glicose, ativação de tares incluem fígado, leite e derivados, gema de ovo e vegetais ver-
genes de expressão imediata e inflamação[18]. de folhosos[11].
A tiamina é, portanto, extremamente importante para o cére-
bro, pois facilita o uso da glicose, assegurando o suporte de ener-
Vitamina B3 (niacina)
gia. Sua deficiência causa a encefalopatia de Wernicke. Após seis
dias de deficiência, podem ser observados sinais de fadiga, irritabi- A niacina compõe duas importantes coenzimas que regulam
lidade, menor desempenho intelectual, câimbras e anormalidades o metabolismo energético – dinucleótido de nicotinamida e adeni-
cardíacas. Esta vitamina parece modular o desempenho cognitivo, na (NAD) e nicotinamida adenina dinucleótido fosfato (NADP) –,
especialmente em idosos[4]. essenciais nas reações redox no metabolismo de carboidratos, pro-
Os níveis de tiamina e a atividade de enzimas dependentes teínas e lipídeos. Assim, participa de processos de detoxificação,
dela são reduzidos no cérebro e tecidos periféricos de pacientes reparo de DNA e síntese de hormônios esteroides pelas glândulas
com doença de Alzheimer, sendo que a suplementação tem me- suprarrenais[20].
lhorado a função cognitiva nesses casos. Embora pessoas idosas Sua deficiência causa pelagra, eventualmente associada ao al-
apresentem uma baixa absorção desta vitamina, a administração coolismo, caracterizada por alterações digestivas, neurológicas e
parenteral no estádio inicial da encefalopatia de Wernicke tem cutâneas[21]. O zinco interage com a niacina no metabolismo de pa-
mostrado resultados favoráveis[19]. cientes alcóolatras com pelagra, provavelmente por meio de uma
Os grãos integrais, levedura e carne suína magra são fontes im- mediação da piridoxina[22]. Os sintomas neurológicos consistem
portantes de tiamina, assim como farinhas enriquecidas, carnes (es- em depressão, apatia, cefaleia, fadiga e perda de memória[11].
pecialmente vísceras), verduras, leite e derivados, frutas e ovos[11]. São boas fontes de niacina as leveduras, carnes, fígado, ce-
reais, legumes e sementes, leite, vegetais de folhas verdes e chá. A
niacina também pode ser sintetizada a partir do triptofano[11].
Vitamina B2 (riboflavina)
O papel mais importante da riboflavina é como precursor
Vitamina B6 (piridoxina)
das coenzimas mononucleótido de flavina (FMN) e dinucleótido
de flavina e adrenalina (FAD), ambas envolvidas em reações na A vitamina B6 forma coenzimas fosfato piridoxal (PLP) e pi-
cadeia respiratória; além disso, intervém no metabolismo de ou- ridoxamina-5-fosfato (PMP), importantes em reações de transa-
tras vitaminas (ácido fólico, piridoxina, vitamina K e niacina), que minação e desaminação de aminoácidos, formação de ácido α-a-
também são afligidas por sua deficiência. A riboflavina parece ser minolevulínico, conversão do triptofano em niacina, conversão de
responsável por manter o equilíbrio entre a tiamina e niacina[4]. ácido linoleico em ácido araquidônico e síntese de esfingolipídeos.
A vitamina B2 está presente no núcleo pulvinar, o que sugere No sistema nervoso, atua na síntese de neurotransmissores: sero-
participação nos mecanismos visuais. Além disso, pacientes com tonina, dopamina, norepinefrina e GABA. A concentração de piri-
esquizofrenia apresentam uma redução de seu volume nesse nú- doxina no cérebro é 100 vezes maior do que no sangue. Em geral,

344 345
acredita-se que, assegurando a síntese de mediadores químicos, namento cognitivo. A deficiência de vitamina B12 também pode re-
esta vitamina previna astenia, irritabilidade e depressão[4]. sultar em neuropatia por meio de degeneração das fibras nervosas
Boas fontes de vitamina B6 incluem levedura, germén de trigo, e dano cerebral irreversível. Semelhante ao folato, a deficiência de
carne de porco, fígado, cereais integrais, leguminosas, espinafre, cobalamina durante a gestação está associada ao maior risco de
batatas, banana e aveia[11]. defeitos no tubo neural[1].
A vitamina B6, o folato e a vitamina B12 estão envolvidos no
metabolismo da homocisteína[23], e deficiência em qualquer dessas
Vitamina B9 (ácido fólico)
vitaminas pode resultar em aumento dos seus níveis, o que também
O folato, a piridoxina e a cobalamina são vitaminas do com- consiste em um fator de risco para a doença de Alzheimer[1]. Alimen-
plexo B com relação direta sobre o cérebro. Estas vitaminas con- tos ricos em folato: fígado, ovos, vegetais verde-escuros (espinafre,
tribuem para o funcionamento ótimo do SNC, por meio de suas brócolis, agrião, aspargo), leguminosas, amêndoas, castanhas[4].
funções como cofatores em inúmeras reações necessárias à síntese
de neurotransmissores, mielinização e funcionamento da medula
Vitamina B12 (cobalamina)
espinhal e do cérebro[1].
O folato forma uma coenzima que atua na síntese de purina Participa junto ao folato da síntese de purinas e pirimidinas; é
e pirimidinas, principalmente em células de alta replicação, sendo importante na formação da bainha de mielina. A deficiência de co-
importante para o crescimento normal do feto e seu desenvolvi- balamina em humanos e modelos animais induz transtornos neu-
mento cerebral, efeitos que refletem uma influência na síntese de rológicos, distúrbios psíquicos e alterações hematológicas. Os si-
nucleotídeos, integridade do DNA e transcrição. O folato está en- nais neurológicos precedem os hematológicos. O diagnóstico pre-
volvido no desenvolvimento do cérebro por meio de seu papel na coce é essencial para evitar danos irreversíveis no sistema nervoso.
formação do tubo neural após a concepção; assim, sua deficiência Os principais sintomas são perda de memória, dor e sensibilidade
durante a gestação pode induzir anomalias importantes no sistema anormal nas extremidades. Na infância, sua deficiência não apenas
nervoso do bebê, como espinha bífida e anencefalia[15]. Além disso, retarda a mielinização, como causa dano neurológico. Além disso,
é necessária na metilação de fosfolipídeos nas membranas neuro- pode provocar lesão no nervo periférico[4].
nais e tem impacto sobre os receptores de membrana, sistemas de A cobalamina e o folato são eficientes quando usados simulta-
segundo mensageiro e canais de íons[1]. neamente em idosos. O consumo de piridoxina e cobalamina é po-
Níveis adequados de folato são essenciais para a função cere- sitivamente relacionado à capacidade de memória. A deficiência de
bral, sendo que sua deficiência pode ocasionar distúrbios neurológi- vitamina B12 está associada a risco duas vezes maior de depressão
cos, tais como depressão e deficit cognitivo. Sua deficiência reduz a em mulheres idosas. A suplementação com cobalamina melhora a
absorção de tiamina e, em idosos, diminui a capacidade intelectual. função cerebral e cognitiva nos idosos. Na realidade, os níveis de
A suplementação com folato, isolado ou em combinação com ou- vitamina B12 deveriam ser medidos em todos os idosos com distúr-
tras vitaminas do complexo B, tem se mostrado efetiva na preven- bios de comportamento, pois a suplementação melhora frequen-
ção do declínio cognitivo e demência durante o envelhecimento[15]. temente o funcionamento de fatores relacionados ao lobo frontal,
A deficiência de folato e vitamina B12 pode causar anemia assim como a linguagem daqueles com disfunções cognitivas[4].
perniciosa com comprometimento do desenvolvimento e funcio- A vitamina B12 aumenta a atividade da colina acetiltransferase

346 347
em neurônios colinérgicos em gatos e melhora a função cognitiva complex) classe II, receptor de vitamina D, sistema renina-angioten-
em pacientes com Alzheimer[6]. Na alimentação humana, esta vi- sina, apolipoproteína E, receptor hepático X (LXR), gene promotor
tamina está presente exclusivamente em alimentos de origem ani- Sp1, e gene poli (ADP-ribose) polimerase-1. O calcitriol é a melhor
mal: carne, ovos, peixe, mariscos, frango, leite e queijo[4]. opção a ser utilizada por estes pacientes devido à forma ativa do
metabólito desta vitamina e seu receptor no SNC[26].
Seu papel em modelos de esclerose múltipla está em estudo
Vitamina D (colecalciferol)
devido a descobertas positivas com relação à duração e à intensi-
A conexão da vitamina D com a estrutura e com a função do dade das crises, sendo considerada uma candidata promissora na
cérebro tem sido investigada, assim como a possível prevenção de modulação dessa patologia[27].
aspectos relacionados a doenças neurodegenerativas e neuroimu- São poucas as fontes alimentares de vitamina D: óleo de fí-
nes. Dessa forma, sabe-se que protege os neurônios do hipocampo gado de bacalhau, salmão, bacalhau, sardinha, gema de ovo de
e regula o transporte de glicose para o cérebro[4]. galinha, manteiga. A exposição adequada à luz solar é suficiente
O cérebro é capaz de sintetizar sua própria forma ativa de vi- para alcançar as necessidades de vitamina D[11].
tamina D, que atua como um hormônio, bem como expressar seu
receptor nuclear (VDR). A ligação desta vitamina ao seu receptor
Vitamina K (filoquinona)
resulta na regulação da transcrição de inúmeros genes tanto nos
neurônios como em células precursoras. Devido ao seu papel mo- No cérebro, a vitamina K atua na biossíntese de esfingolipíde-
dulador no desenvolvimento e funcionamento do cérebro, a vita- os, uma importante classe de lipídeos presente em altas concentra-
mina D tem sido considerada um neuroesteroide[24]. ções nas membranas de células neuronais. Alterações no metabolis-
A deficiência desta vitamina no início da vida está associa- mo de esfingolipídeos estão relacionadas ao declínio cognitivo na
da a inúmeras condições psiquiátricas, em particular doenças com terceira idade e em doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
base no desenvolvimento, tais como autismo e esquizofrenia. Acre- Além disso, dados recentes sugerem que a vitamina K tenha o po-
dita-se que tal deficiência comprometa a diferenciação neuronal, tencial de influenciar o comportamento psicomotor e a cognição[28].
conectividade axonal, dopamina, estrutura e função cerebral. Por Fontes alimentares: vegetais verde-escuros (espinafre, couve,
outro lado, estudos epidemiológicos mostram associação entre brócolis), repolho, alface, couve-de-bruxelas, chá-verde e, em me-
baixos níveis de vitamina D e doenças não relacionadas ao desen- nores quantidades, no fígado bovino[11].
volvimento, como depressão e doença de Alzheimer; além disso,
descobertas pré-clínicas mostraram o potencial da vitamina D em
Minerais
regular os níveis de catecolaminas e proteger contra doenças neu-
rodegenerativas[25]. A deficiência crônica de minerais como o zinco, ferro, magné-
Pacientes com doença de Alzheimer têm alta prevalência de de- sio e iodo pode ter um significante impacto sobre o desenvolvimen-
ficiência de vitamina D, com baixo desempenho cognitivo em idosos. to dos sintomas do distúrbio de deficit de atenção em crianças[29].
Estudos genéticos mostram proteínas que relacionam a vitamina D Por outro lado, o zinco, o cobre e o ferro também têm se mostrado
a essa patologia, destacando-se as moléculas do complexo principal importantes em processos neurodegenerativos, como a doença de
de histocompatibilidade (MHC, do inglês major histocompatibility Alzheimer, devido ao potencial de causar estresse oxidativo[30].

348 349
Ferro O ferro não heme está presente em leguminosas, açaí, folhas verde
-escuras (couve, rúcula), e depende da ingestão de alimentos fonte
Muitos sintomas são descritos como sinais clínicos da defici-
de vitamina C para sua absorção[11].
ência de ferro, entre eles, apatia, sonolência, irritabilidade, atenção
diminuída, dificuldade de concentração e perda de memória. Tal
deficiência implica diminuição do suprimento de oxigênio para o Cobre
cérebro e menor produção de energia, já que este mineral é consti-
O cobre e o zinco possuem ação crítica no neurodesenvol-
tuinte da hemoglobina e do citocromo; além disso, durante a em-
vimento, síntese de neurotransmissores, metabolismo energético,
briogênese compromete a mielinização por meio do metabolismo
defesa antioxidante e síntese de DNA, e portanto, são importantes
de oligodendrócitos, prejudicando as funções cognitivas em longo
para a função cognitiva. Baixos níveis plasmáticos de cobre estão
prazo; é comum na infância e induz deficit no desenvolvimento
relacionados ao declínio cognitivo na doença de Alzheimer, en-
cognitivo, que pode persistir mesmo após suplementação de fer-
quanto a deficiência de zinco está ligada ao distúrbio de deficit de
ro[4]. O aporte de ferro é crítico para o desenvolvimento fetal e
atenção em crianças, comprometimento da memória e aprendiza-
depende do estado nutricional da gestante.
do em adolescentes, e depressão e declínio cognitivo em adultos[2].
O ferro participa da mielinização, da sinapse, do comporta-
Boas fontes de cobre são fígado, frutos do mar, castanhas,
mento e da plasticidade neural. Portanto, sua deficiência tem um im-
cereais integrais, legumes, chocolate[4].
pacto negativo sobre tais funções, sendo que a gravidade dos efeitos
Existem concentrações plasmáticas ótimas de cobre, zinco e
sobre mielinização, neurotransmissão, perfil gênico, aprendizado e
ferro para uma melhor função cognitiva em idosos. Todavia, há
deficit de memória depende do grau e da duração da deficiência[31].
um balanço delicado entre efeitos benéficos e nocivos. Embora es-
A deficiência de ferro causa mudanças no perfil neuroquími-
senciais para a função neuronal, o excesso de cobre pode gerar
co, ocasionando comprometimento do metabolismo monoaminér-
neurotoxicidade e, consequentemente, doenças neurodegenerati-
gico, o que poderia explicar algumas mudanças comportamentais
vas[34]. Em pacientes com doença de Alzheimer, a homeostase de
devido à alterações na homeostase de dopamina. Como a dopami-
cobre se encontra interrompida, o que poderia desencadear o es-
na está envolvida em vários processos no SNC, mudanças na fun-
tresse oxidativo e neurodegeneração[2].
ção dopaminérgica pode afetar alguns processos cognitivos, tais
Interações anormais de proteínas com o ferro ou cobre, tais
como humor, atenção e compensação[32], o que também explicaria
como a neuromelanina ou peptídeo β-amiloide, podem desecan-
a razão da deficiência de ferro estar relacionada ao distúrbio de
dear estresse oxidativo e, por isso, constituem mecanismos impor-
deficit de atenção e hiperatividade em crianças[4]. Além disso, ra-
tantes no envelhecimento cerebral e doenças neurodegenerativas.
tos alimentados com dieta deficiente em ferro apresentaram menor
Assim, a quebra da homeostase no metabolismo do cobre (devido
densidade funcional de serotonina e norepinefrina[33].
à insuficiente consumo pela alimentação) poderia estar relaciona-
Por outro lado, o acúmulo de ferro tem sido associado ao es-
da à doença de Alzheimer[4].
tresse oxidativo e à patogênese de doenças neurodegenerativas[31].
Existem dois tipos de ferro nos alimentos: heme (fontes ani-
mais) e não heme (fontes vegetais). O ferro heme apresenta maior
biodisponibilidade e é encontrado no fígado e em carnes em geral.

350 351
Zinco em: excitotoxicidade (dano nos neurônios pós-sinápticos causado
pelo influxo de zinco excedente), estresse oxidativo (devido à re-
A deficiência de zinco consiste em um fator importante para
gulação positiva da enzima fosfato dinucleótido de nicotinamida
o sistema cognitivo. No entanto, embora a suplementação possa
e adenina oxidase [NADPH-oxidase], com consequente produção
amenizar os sintomas de sua deficiência, também pode reduzir a
de ROS) e comprometimento da produção de energia neuronal[30].
absorção de cobre e causar problemas neurológicos[2].
Em condições normais, o zinco das vesículas sinápticas parece
O zinco desempenha papel essencial no desenvolvimento cog-
atuar como neuromodulador, regulando a atividade de receptores
nitivo e participa dos mecanismos de percepção do paladar e ol-
pós-sinápticos, que, então, determinam a excitabilidade neuronal, e,
fato; sua deficiência induz anosmia. Os receptores sensoriais e as
por isso, tem sido proposto como pró e anticonvulsivo. Em circuns-
regiões do cérebro que recebem e interpretam o prazer de comer
tâncias patológicas, o excesso de zinco é liberado na fenda sináp-
são ricos neste mineral, e os seus níveis nas papilas gustativas são
tica; esta translocação gera um desequilíbrio nos neurônios pós-si-
muito elevados, sendo o zinco necessário para sua função. Além
nápticos, causando degeneração neuronal. Isto normalmente ocorre
disso, atua por meio de sua presença na gustina, metaloproteína
na isquemia cerebral, na lesão cerebral por trauma e na epilepsia[30].
presente na saliva que participa na percepção do paladar[4].
A deficiência de zinco pode modificar a ingestão alimentar
não apenas por reduzir a sensibilidade do paladar, mas também Iodo
por interferir no controle central do apetite devido a alterações na
O iodo está diretamente envolvido no funcionamento cere-
estrutura e na função da membrana celular, que resultam na dimi-
bral e na inteligência. Cretinismo foi o termo médico original-
nuição da resposta dos receptores de neurotransmissores, como
mente dado ao quadro caracterizado pela deficiência de iodo em
catecolaminas e serotonina[35].
crianças, devido ao retardo mental característico. Em humanos, o
Parte do zinco cerebral (10%-15%) está presente nas vesícu-
único papel conhecido do iodo é a participação na composição de
las sinápticas de alguns neurônios glutaminérgicos; consequente-
hormônios secretados pela tireoide. O desenvolvimento cerebral
mente, o deficit de zinco induz mudanças comportamentais[4].
ocorre principalmente durante o período fetal, mas continua até
O zinco é abundante na carne vermelha, nos frutos do mar e
o fim do terceiro ano de vida. Consequentemente, a deficiência de
nos laticínios. As ostras são a fonte mais rica, contendo dez vezes
iodo ou de hormônios tireóideos durante esse período crítico induz
mais do que as outras fontes alimentares. Os vegetais verdes e fru-
não apenas a redução da atividade metabólica de todas as células,
tas tem baixo teor do mineral[4].
como também permanentes alterações no desenvolvimento do cé-
Embora o zinco seja essencial para o funcionamento de cen-
rebro, cujo sinal mais evidente é o retardo mental irreversível[4].
tenas de enzimas e fatores de transcrição, seu excesso ocasiona
Embora a deficiência de iodo cause doença cerebral possível
neurotoxicidade. Cerca de 10% do zinco no SNC se apresenta na
de se prevenir, ainda aflige cerca de dois bilhões de indivíduos no
forma livre, que pode ser secretada por vesículas. Em circunstân-
mundo[37]. Na população em geral, a deficiência de iodo compro-
cias normais, o zinco vesicular regula os receptores pós-sinápticos
mete as funções intelectual e neuromotora mesmo em indivíduos
de glutamato. Contudo, quando há dano no SNC, sobrecargas de
aparentemente normais, ocasionando diminuição do QI em 10
zinco livre podem ser liberadas, resultando em dano e morte neu-
a 15 pontos. Em muitos países, o consumo insuficiente de iodo
ronal[36]. Os mecanismos de neurotoxicidade do zinco consistem
se torna pior, devido à ingestão de vegetais ricos em substâncias

352 353
bociogênicas, como os tioglicosídeos (couve-de-bruxelas, repolho, Selênio
brócolis) ou cianoglicosídeos (mandioca, sorgo, batata-doce); além
O selênio atua como cofator da glutationa peroxidase, assu-
disso, o sal deveria ser iodado[4].
mindo, assim, propriedade antioxidante. No cérebro, cerca de 15%
O iodo pode ser encontrado em mexilhões, ostras, peixes de
deste mineral é usado em associação com a glutationa peroxidase,
água salgada e ovos[4].
protegendo contra a peroxidação lipídica. Em modelos animais, a
deficiência de selênio altera o desenvolvimento neurológico[4].
Magnésio O selênio é encontrado em abundância na castanha-do-brasil.
Outros alimentos também ricos em neste mineral são peixes e fru-
O magnésio possui função estrutural e metabólica. Atua como
tos do mar, fígado, ovos e carnes em geral[11].
estabilizador dos diferentes compartimentos das células (núcleo,
mitocôndria), participa das principais vias metabólicas, ativando
em torno de 300 enzimas. O magnésio é indispensável para a sínte- Macronutrientes
se e ação de ATP, e a maioria das reações enzimáticas dependentes
Em geral, cada macronutriente (carboidratos, proteínas e lipí-
de ATP também necessita dele como metabolismo de carboidratos,
deos) tem ação específica sobre a cognição, melhorando o desem-
lipídeos e proteínas. Em animais deficientes em magnésio, o cére-
penho da memória no adulto.
bro mostra maior susceptibilidade à isquemia focal permanente[4].
O aumento dos níveis de magnésio do cérebro tem sido pro-
posto como uma alternativa promissora no tratamento de distúr- Carboidratos
bios de ansiedade, como a fobia e estresse pós-traumático, uma
vez que a concentração de magnésio extracelular é um importante A função cerebral depende do suprimento contínuo de glicose
regulador da plasticidade sináptica in vitro. Assim, níveis aumen- fornecida pela dieta (100mg/min de glicose), sendo recomendado
tados de magnésio no cérebro parecem melhorar a capacidade de o consumo de carboidratos de baixo índice glicêmico, cuja distri-
aprendizado, memória de trabalho, bem como memória de cur- buição no organismo é lenta, porém constante e efetiva. Em repou-
to e longo prazo em ratos. Funcionalmente, o magnésio aumenta so, o cérebro do adulto usa cerca de 20% da energia proveniente
o número de sítios funcionais de liberação pré-sináptica[38]. Além da alimentação. Em crianças, o consumo é maior e alcança 60%
disso, parece aumentar a plasticidade sináptica no hipocampo, me- em recém-nascidos. O cérebro de uma criança consome duas vezes
lhorando a eficácia da extinção da memória relacionada ao medo, mais glicose do que de um adulto, o que pode causar hipoglice-
sem prejudicar a memória original[39]. Além disso, deficiência de mia e diminuição do desempenho na escola quando a ingestão de
magnésio está associada à depressão[40]. carboidratos é insuficiente. Como a principal fonte de energia do
O magnésio está presente principalmente na água e leite, mas cérebro é a glicose e esse órgão não tem a capacidade de armaze-
também em frutos do mar, escargot, feijões, lentilhas, nozes, espi- ná-la (apenas em quantidades muito baixas), é necessário que haja
nafre, beterraba[4]. suprimento por meio da alimentação[41].
O córtex frontal consiste na região mais sensível à falta de
glicose. Assim, o desempenho cognitivo está diretamente relacio-
nado aos níveis de glicemia. Após hipoglicemia, a recuperação do

354 355
desempenho cognitivo não acompanha imediatamente a recupera- forma a histamina, a glutamina é precursora do glutamato e, con-
ção de glicose. A glicose também afeta a memorização por meio sequentemente, do GABA. A metionina e a serina formam a colina,
de sua ação no sistema colinérgico. Assim, a capacidade intelectual que dá origem à acetilcolina[43].
no período da manhã é determinada pela qualidade da primeira O triptofano é um aminoácido essencial com papel crítico no
refeição do dia[41]. funcionamento do sistema nervoso, já que é precursor da serotoni-
A alimentação adequada constitui fator crucial para a aquisi- na, um importante neurotransmissor. A serotonina é sintetizada a
ção de melhor função cognitiva durante a infância e adolescência, partir do triptofano no cérebro, onde sua disponibilidade influen-
uma vez que, nesses períodos, o cérebro está em fase de desenvol- cia a sensibilidade a distúrbios de humor[44]. Assim, além de modu-
vimento. Crianças que não se alimentam pela manhã apresentam lar o apetite e saciedade, o triptofano está envolvido em diversas
dificuldades na resolução de problemas, memória de curto prazo e funções, tais como sono, sensibilidade a dor, regulação da pressão
atenção. Por outro lado, o consumo do café da manhã, em especial arterial e humor. Portanto, a deficiência deste aminoácido está rela-
à base de carboidratos de baixo índice glicêmico, afeta o volume da cionada à depressão e a mudanças no comportamento alimentar[41].
massa cinzenta e está associado a efeitos positivos imediatos sobre A depressão tem sido associada não só à deficiência de sero-
o sistema cognitivo, tais como atenção, em crianças saudáveis[42]. tonina, como também de outros neurotransmissores, tais como a
Em adultos jovens, o desequilíbrio nos níveis de glicose leva dopamina, a norepinefrina e o GABA. Assim, os aminoácidos trip-
à menor memorização. As tarefas mais difíceis, que exigem maior tofano, tirosina, fenilalanina e metionina têm sido úteis no trata-
atenção por um longo período, são as mais beneficiadas pelo abas- mento de distúrbios relacionados ao humor. Além disso, nutrientes
tecimento cerebral adequado de glicose. Indivíduos diabéticos po- que aumentem os níveis de serotonina, como o triptofano, também
dem apresentar comprometimento da memória e menor eficiência reduzem os sintomas do transtorno obsessivo compulsivo[3].
psicomotora, em decorrência do desequilíbrio no suprimento de A deficiência de proteína pode prejudicar seriamente a for-
glicose. A síndrome de deficiência do transportador de glicose tipo mação e o funcionamento do cérebro, afetando principalmente
1 consiste em uma encefalopatia epilética resultante do deficiente crianças e adolescentes. O hipocampo e o hipotálamo são parti-
transporte de glicose para o cérebro[41]. cularmente vulneráveis a essa deficiência, sendo comprometidos o
potencial visual e o auditivo. Na prática, como o organismo huma-
no não armazena proteínas, é necessário seu consumo em todas as
Proteínas
refeições, especialmente na primeira do dia[41].
Os neurotransmissores, enzimas, proteínas e peptídeos que O leite materno é rico em fatores neurotróficos, normalmente
constituem o sistema nervoso são compostos por aminoácidos sin- presentes em outros fluidos corporais e cérebro. A presença dessas
tetizados pelo próprio organismo e também provenientes da ali- proteínas no leite materno sugere sua importância para o desenvol-
mentação. Assim, o cérebro requer um suprimento contínuo de vimento do cérebro do neonato. Dentre esses fatores, pode-se citar
aminoácidos para a síntese de neurotransmissores, principalmente a Activina A e a S100B. A Activina A, juntamente com seus recep-
as catecolaminas (dopamina, norepinefrina, epinefrina) e serotoni- tores e proteínas ligantes, desempenha papel neuroprotetor e parti-
na, bem como para o seu adequado funcionamento[41]. cipação na embriogênese. A S100B, uma proteína ligante de cálcio,
Os neurotransmissores são sintetizados a partir de aminoáci- está localizada principalmente nas células gliais, astrócitos e células
dos precursores. A tirosina dá origem às catecolaminas, a histidina de Schwann, atuando na regulação de várias funções celulares (co-

356 357
municação entre células, crescimento e estrutura celular, metabolis- n-3 possa influenciar as funções sinápticas em áreas do cérebro
mo energético, contração e transdução de sinal intracelular)[45]. que controlam o humor. Lafourcade et al. descrevem mecanismos
neuroquímicos, celulares e comportamentais pelos quais os PUFAs
influenciam o comportamento animal relacionado à depressão[48].
Lipídeos
Entre os mecanismos descritos, existe a interação entre os PUFAs e
Os lipídeos são blocos construtores do SNC. Ao contrário de a função neuronal mediada por endocanabinoide.
outros tecidos, o SNC e a retina são ricos nos ácidos graxos polin- Durante o desenvolvimento do SNC, os ácidos graxos n-3
saturados: ácido araquidônico (n-6) e DHA (n-3), indispensáveis podem influenciar a função do cérebro por meio de mecanismos
ao seu desenvolvimento e funcionamento normal[46]. neuroprotetores. Eles podem reduzir o estresse oxidativo e exercer
Os ácidos graxos essenciais fazem parte da estrutura dos fos- efeitos anti-inflamatórios; estão relacionados à neurotransmissão,
folipídeos, que são componentes importantes das membranas e da estabilidade de membrana, regulação de canais de íons, enzimas e
matriz estrutural de todas as células. Assim, os ácidos graxos polin- expressão gênica, e menor risco cardiovascular[1].
saturados (PUFAs, do inglês poli-unsaturated fatty acids) têm rece- Os ácidos graxos n-3 também trazem benefícios sobre a me-
bido grande atenção, devido à sua relevância em muitas doenças. mória, humor e comportamento, e reduzem os sintomas de depres-
Como os ácidos graxos influenciam a composição da membrana e são. Sua deficiência está relacionada ao maior risco para o distúr-
muitas vias de sinalização nas células, existem vários mecanismos bio de deficit de atenção e hiperatividade, depressão, demência,
pelos quais os PUFAs podem influenciar a função celular[47]. doença de Alzheimer e esquizofrenia. Níveis elevados de DHA au-
Os PUFAs n-3 são vitais para a saúde mental e cognição. Ape- mentam a flexibilidade da membrana e as interações proteína-lipí-
sar da densidade calórica, as dietas ocidentais são deficientes em deo, levando a uma melhor atividade neuronal e cognição. O DHA
nutrientes essenciais, apresentando níveis baixos de n-3, e elevados também tem um papel protetor por meio dos efeitos sobre a infla-
de n-6. A ingestão deficiente de n-3 desequilibra a razão n-6/n-3, mação, estresse oxidativo e liberação de citocinas. Em contraste,
que está associada ao maior risco de doença cardiovascular, câncer sua deficiência está associada ao comprometimento da neurogêne-
e distúrbios psiquiátricos[47]. Essa deficiência leva à redução da si- se, metabolismo de neurotransmissores, aprendizado e memória[2].
nalização canabinoide e depressão a longo prazo, mediada pelo re- A suplementação de DHA eleva os níveis de fator neurotró-
ceptor de endocanabinoide CB1 no córtex pré-frontal e no núcleo fico BDNF (do inglês brain-derived neurotrophic factor) e a fun-
accumbens, ocasionando efeitos negativos sobre comportamentos ção cognitiva em roedores após trauma cerebral. O BDNF é uma
relacionado ao humor[48]. proteína endógena envolvida na neurogênese pré-natal e adulta,
O cérebro é único em sua alta concentração de DHA; portan- crescimento, diferenciação e sobrevivência neuronal, bem como
to, é provável que os neurônios sejam sensíveis à razão n-6/n-3. O plasticidade sináptica dos sistemas nervosos periférico e central;
rápido desenvolvimento neuronal nos estádios perinatais torna o além disso, tem um papel crítico no córtex e hipocampo cerebral,
feto particularmente sensível aos níveis de n-3, devido a seus efei- sendo vital para o aprendizado, memória e cognição[15].
tos sobre o desenvolvimento e função cerebral[47]. Vários mecanismos de ação podem explicar como os ácidos
O conteúdo de DHA no cérebro e retina diminui com a de- graxos n-3 apresentam efeito antidepressivo em humanos, a maio-
ficiência nutricional e envelhecimento, ocasionando menor capa- ria envolvendo neurotransmissores. O EPA é convertido em pros-
cidade cognitiva[44]. Acredita-se que a deficiência prolongada de taglandinas e leucotrienos no organismo. Outras teorias afirmam

358 359
que EPA e DHA afetam o sinal de transdução de células no cérebro que na Índia, onde o açafrão é amplamente utilizado na culinária,
por meio da ativação de PPARs (do inglês peroxisomal proliferator há uma baixa incidência de doença de Alzheimer[53].
-activated receptors), inibição de proteínas-G e proteína quinase C, O resveratrol, antioxidante encontrado no vinho tinto, inibe
assim como canais de íons cálcio, sódio e potássio[3]. processos inflamatórios, diminui os níveis de peptídeo β-amiloide,
Em contraste, estudos epidemiológicos indicam que alimenta- protege o DNA, previne a morte celular, reduz a neurotoxicidade,
ção com altos teores de ácidos graxos trans e saturados prejudicam bem como a degeneração do hipocampo e melhora o aprendizado.
a função cognitiva[49]. Em modelos animais, o consumo elevado de Esse polifenol tem efeito protetor contra o envelhecimento e doen-
ácidos graxos saturados e sacarose reduz os níveis do fator neurotró- ças neurodegenerativas específicas, o que ocorre por meio de regu-
fico BDNF, bem como a plasticidade sináptica no hipocampo, mos- lação positiva do equilíbrio redox no cérebro, interações com vias
trando também um declínio no aprendizado[50]. Além disso, o con- de sinalização crucias na indução de sobrevida e função neuronal,
sumo de ácidos graxos trans, abundantemente presentes em frituras, regulação do sistema neurovascular e capacidade de inibir proces-
margarinas, biscoitos recheados e outros produtos industrializados, sos neuropatológicos. O resveratrol aumenta o fluxo sanguíneo no
tem sido associado ao maior risco para a doença de Alzheimer, pois cérebro, elevando consequentemente a oxigenação e suprimento
leva a uma produção elevada de peptídeos β-amiloide, principais de glicose, o que está correlacionado com melhor capacidade cog-
componentes das placas senis características dessa doença[51]. nitiva e memória[54]. O consumo moderado de vinho tinto tem sido
associado ao menor risco para doenças neurodegenerativas[53].
O Ginkgo biloba, utilizado durante séculos pela medicina
Compostos bioativos chinesa tradicional, contém flavonoides e terpenoides, compostos
Os polifenóis, especialmente flavonoides, podem suprimir antioxidantes e anti-inflamatórios que protegem as membranas
neuroinflamação, proteger os neurônios contra neurotoxinas e fa- neuronais e inibem a degeneração celular. O extrato de Ginkgo
vorecer a memória, aprendizado e função cognitiva. Além da ca- biloba (EGb 761) reduz os níveis de peptídeo β-amiloide e a morte
pacidade de inibir o estresse oxidativo, podem ativar vias de sina- neuronal, além de estimular a neurogênese do hipocampo em ca-
lização envolvidas na diferenciação, sobrevida e plasticidade dos mundongos. Além disso, estudos mostraram melhora do sistema
neurônios[9], levando à expressão de genes que codificam enzimas cognitivo em pacientes com doença de Alzheimer[6,53].
antioxidantes, fatores neurotróficos e proteínas citoprotetoras. Os O Panax ginseng também tem sido extensivamente estudado
polifenóis também exercem efeitos benéficos sobre a ansiedade e devido aos seus efeitos neuroprotetores, como redução dos níves
depressão, possivelmente por meio da regulação da neurogênese de peptídeo β-amiloide, e os benefícios quanto ao aumento da me-
no hipocampo[52]. mória[53].
A curcumina, componente extraído da planta Curcuma longa Os polifenóis presentes no mirtilo aumentam o número de célu-
(açafrão-da-índia), tem sido proposta como alternativa terapêuti- las no giro denteado, região do hipocampo particularmente sensível
ca promissora na doença de Alzheimer, já que possui pelo menos aos efeitos da idade, favorecendo a eficiência da memória espacial[52].
dez propriedades neuroprotetoras, incluindo anti-inflamatória, an- A tangeretina é um flavonoide encontrado na tangerina e em
tioxidante, inibição e/ou remoção da formação do peptídeo β-ami- outras frutas cítricas que mantém a integridade e a funcionalidade
loide, e quelação de cobre e ferro. Embora haja limitações relacio- nigroestriatal, tendo sido proposta como potencial agente neuro-
nadas à sua biodisponibilidade, estudos epidemiológicos mostram protetor contra a doença de Parkinson[52].

360 361
O epigalocatequina galato, polifenol ativo do extrato de chá- associada (FTO, do inglês fat mass and obesity-associated protein)
verde possui efeitos antioxidante, anticancerígeno e anti-inflamató- e a melanocortina 4, que parecem controlar o apetite. Interações
rio. Em ratos com isquemia cerebral, reduz o infarto, melhorando complexas ocorrem entre esses genes e suas variadas ações sobre
o aprendizado e a memória, provavelmente por meio da redução o balanço de energia. Polimorfismos no receptor da melanocorti-
do estresse oxidativo e neuroinflamação induzidos pela isquemia[55]. na 4, assim como FTO, interferem no controle do peso corpóreo.
A cafeína consiste em um antioxidante com capacidade de Além disso, as melanocortinas têm sido propostas como agentes
inibir amiloidose e a síntese de peptídeo β-amiloide. O ácido li- neuroprotetores promissores, devido a seus efeitos anti-inflamató-
poico, presente em alimentos como o brócolis e o espinafre, pode rios em células cerebrais danificadas[2].
reciclar outros antioxidantes, tais como a vitamina C e E, além de Um polimorfismo gênico comum de BDNF é o polimorfismo
aumentar a síntese de acetilcolina. A berberina e palmatina são an- de nucleotídeo único (SNP, do inglês single nucleotide polymor-
tioxidantes presentes na planta Berberis vulgaris, e exercem efeitos phism) Val66Met, que confere tráfego e secreção anormal dessa
preventivos contra a doença de Alzheimer por meio das vias das proteína nos neurônios e está associado à disfunção do hipocampo
colinesterases e da proteína amiloide-β[52]. e memória. O BDNF também parece influenciar supressão do ape-
Vários compostos têm mostrado potencial no tratamento e na tite, sensibilidade à insulina, metabolismo de glicose e lipídeos[15].
prevenção da doença de Alzheimer em estudos experimentais, en- Há um importante interesse sobre a possível relação desse SNP
tre eles, os ácidos graxos n-3 (DHA), cafeína, curcumina, epigalo- com a atrofia do hipocampo, deficit de memória e incidência de
catequina galato e resveratrol; porém, a eficácia na prática clínica transtornos alimentares[56].
ainda é inconclusiva, sendo necessários mais estudos[52]. Os benefícios da atividade física sobre a saúde mental e a cog-
nição podem ser explicados, em parte, pela indução da expressão
gênica de BDNF no hipocampo. Existe uma relação estreita entre
Nutrição, genes e distúrbios mentais metabolismo energético e eventos epigenéticos. Nutrientes especí-
O cérebro apresenta um imenso consumo de energia, se compa- ficos podem intensificar os efeitos da atividade física sobre o cére-
rado ao resto do organismo. Acredita-se que os mecanismos envol- bro, como é o caso do DHA, que potencializa os efeitos positivos
vidos na transferência de energia dos alimentos para os neurônios do exercício sobre a plasticidade sináptica e a cognição induzida
sejam fundamentais para o controle do seu funcionamento, poden- pelo BDNF[15,56].
do afetar a plasticidade sináptica, o que explica, portanto, como os O balanço energético adequado parece potencializar a saúde
distúrbios metabólicos influenciam os processos cognitivos[15]. mental, em parte por meio de mudanças no metabolismo energéti-
O polimorfismo do gene FADS2 (do inglês, fatty acid desa- co, regulação epigenética de BDNF e plasticidade sináptica. O SNP-
turase 2), envolvido no metabolismo de ácidos graxos, modifica a 270C/T está relacionado à bulimia, enquanto o Val66Met está as-
relação entre consumo alimentar infantil e QI. Muitos genes têm sociado com anorexia e bulimia. A presença desses polimorfismos
sido implicados na regulação do balanço de energia e obesidade, genéticos aumenta a possibilidade de que os efeitos do balanço
provendo uma ligação de mecanismos entre balanço energético e energético sobre a saúde mental sejam significativamente afetados
saúde mental por meio do controle neuronal do consumo e gasto por variações em múltiplos genes que codificam para moléculas de
de energia. Entre eles, destacam-se os genes que codificam recep- sinalização envolvidas no desenvolvimento e função do cérebro[56].
tores de leptina, a proteína da obesidade e da massa de gordura

362 363
Esquizofrenia tervenções terapêuticas relacionadas à nutrição pré-natal e à va-
riabilidade genética individual que determinem a suscetibilidade
O balanço energético exerce influência crítica sobre o desen-
podem ser benéficas[56].
volvimento da esquizofrênia por meio de interações com múltiplos
variantes gênicos e processos epigenéticos. Muitos fatores am-
bientais estão associados à esquizofrenia, incluindo alimentação. Doença de Alzheimer
Mecanismos epigenéticos estão envolvidos na patogênese deste
As causas da doença de Alzheimer envolvem vários fatores
distúrbio, reforçando a teoria de que seja uma doença de neurode-
ambientais e genéticos. Há mudanças na expressão de milhares
senvolvimento. Isso sugere que a nutrição pré e neonatal tenham
de genes e regulação positiva de vias patogênicas, destacando-se
um papel importante na esquizofrenia e ressalta o potencial para
deposição de peptídeos β-amiloide, morte celular, inflamação, es-
opções inovadoras em sua prevenção[56].
tresse oxidativo e metabolismo energético. A nutrição representa
Existe maior risco de esquizofrenia adulta em indivíduos ex-
um fator etiológico importante, sendo que o balanço de energia
postos à desnutrição pré-natal grave, ou seja, o risco está relacio-
pode prevenir ou tratar os sintomas[56].
nado ao grau de privação nutricional e é maior quando ocorre
O consumo de nutrientes específicos, como ácidos graxos n-3
no início da gestação. É possível que genes importantes para o
e vitaminas do complexo B, parece amenizar o comprometimento
desenvolvimento do cérebro sejam alterados, no período pré-natal,
cognitivo. O ácido graxo n-3 DHA tem papel importante no meta-
por deficiências nutricionais (energia, proteína, carboidrato, iodo,
bolismo energético do cérebro, especialmente por sua participação
cobre, zinco e vitaminas do complexo B). Mudanças epigenéticas
no transporte de glicose, visto que aumenta a expressão de GLUT.
persistentes estão relacionadas à privação nutricional durante o
Assim, a baixa ingestão de DHA pode contribuir para o declínio
período pré-natal. No futuro, talvez seja possível estabelecer se
cognitivo na doença de Alzheimer. Os benefícios alcançados com
a exposição à fome nesse período está ligada a mudanças na ex-
sua suplementação estão relacionados ao genótipo ApoE, sugerin-
pressão de genes que possam afetar a função cerebral com efeitos
do que a suplementação deveria ser administrada de acordo com
específicos relacionados ao estágio de desenvolvimento[56].
o genótipo de cada indivíduo[56]. O gene ApoE é essencial para o
Recém-nascidos pequenos para a idade gestacional, especial-
transporte de lipídeos, e sua mutação relacionada à doença de Al-
mente quando prematuros, apresentam maior risco de compro-
zheimer[2]. Além disso, polimorfismo no gene FTO, normalmente
metimento do neurodesenvolvimento, múltiplos deficit cognitivos,
relacionado à obesidade, também tem se mostrado envolvido na
problemas de saúde mental e esquizofrenia na vida adulta. De-
doença de Alzheimer[57].
ficiências de BDNF e seu receptor tropomiosina quinase B estão
implicadas na patogênese da esquizofrenia e depressão. Estudos
experimentais sugerem mecanismos pelos quais a desnutrição pré- Final
natal está ligada à esquizofrenia, relatando regulação negativa do
receptor tropomiosina quinase B nos neurônios do córtex de ratos Novos estudos devem determinar também o papel da restri-
com restrição de crescimento intrauterino (CIUR). Isso sugere que ção dietética e de nutrientes específicos na modulação do envelhe-
o CIUR resulte em menor viabilidade celular e função sináptica e cimento cerebral via processos epigenéticos em diferentes estádios
mudanças associadas nos sintomas clínicos da esquizofrenia. In- da vida. Ainda há muito a se estudar a respeito do impacto da
nutrição e da alimentação sobre o funcionamento do cérebro ao

364 365
longo da vida, bem como a importância de nutrientes específicos Referências bibliográficas
sobre a saúde mental, cognitiva e susceptibilidade/resistência à dis-
1. REST, O. van de; HOOIJDONK, L. W. van; DOETS, E.; SCHIE-
túrbios neurológicos.
PERS, O. J.; EILANDER, A.; GROOT, L. C. de. B vitamins and n-3
É possível afirmar que a alimentação pode ser planejada e
fatty acids for brain development and function: review of human
seguramente consumida para otimizar o funcionamento do cére-
studies. Annals Nutrition and Metabolism, Munique, v. 60, n. 4,
bro, protegê-lo de danos ocasionados por fatores ambientais, ou
p. 272-92, 2012.
mesmo pela decadência natural trazida pelo envelhecimento, e
melhorar seu desempenho em casos de disfunções genéticas. Es- 2. DAUNCEY, M. J. New insights into nutrition and cognitive neu-
pera-se que o conhecimento sobre a nutrição aplicada ao sistema roscience. Proceedings of the Nutrition Society, Londres, v. 68, n.
cognitivo traga contribuições para uma melhor qualidade de vida 4, 2009, p. 408-15.
e envelhecimento saudável.
3. LAKHAN, S. E.; VIEIRA, K. F. Nutritional therapies for mental
disorders. The Journal of Nutrition, Houston, v. 7, p. 2, 2008.

4. BOURRE, J. M. Effects of nutrients (in food) on the structure


and function of the nervous system: update on dietary require-
ments for brain. Part 1: micronutrients. The Journal of Nutrition,
Health and Aging, Paris, v. 10, n. 5, p. 377-85, 2006a.

5. SUN, A. Y.; CHEN, Y. M. Oxidative stress and neurodegenera-


tive disorders. Journal of Biomedical Science, Londres, v. 5, n. 6, p.
401-14, 1998.

6. FENG, Y.; WANG, X. Antioxidant therapies for Alzhei-


mer’s disease. Oxidative Medicine and Cellular Longevi-
ty, Nova Iorque, v. 2012, 2012. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.1155/2012/472932. Acesso em: 22 de novembro de 2013.

7. LLORET, A.; BADÍA, M. C.; MORA, N. J.; PALLARDÓ, F.


V.; ALONSO, M. D.; VIÑA, J. Vitamin E paradox in Alzheimer’s
disease: it does not prevent loss of cognition and may even be de-
trimental. Journal Alzheimer’s Disease, San Antonio, v. 17, n. 1, p.
143-9, 2009.

8. MORRIS, M. C.; EVANS, D. A.; BIENIAS, J. L.; TANGNEY, C.


C.; BENNETT, D. A.; AGGARWAL, N.; WILSON, R. S.; SCHERR,

366 367
P. A. Dietary intake of antioxidant nutrients and the risk of inci- 15. GÓMEZ-PINILLA, F. Brain foods: the effects of nutrients on
dent Alzheimer disease in a biracial community study. The Journal brain function. Nature Reviews Neuroscience, Londres, v. 9, n. 7,
of the American Medical Association, Chicago, v. 287, n. 24, p. p. 568-78, 2008.
3230-7, 2002.
16. MONTIEL, T.; QUIROZ-BAEZ, R.; MASSIEU, L.; ARIAS,
9. SUTACHAN, J. J.; CASAS, Z.; ALBARRACIN, S. L.; STAB, C. Role of oxidative stress on beta-amyloid neurotoxicity elici-
B. R.; SAMUDIO, I.; GONZALEZ, J.; MORALES, L.; BARRE- ted during impairment of energy metabolism in the hippocampus:
TO, G. E. Cellular and molecular mechanisms of antioxidants in protection by antioxidants. Experimental Neurology, Baltimore, v.
Parkinson’s disease. Nutritional Neuroscience, Filadélfia, v. 15, n. 200, n. 2, 496-508, 2006.
3, p. 120-6, 2012.
17. COVEÑAS, R.; MANGAS, A.; BODET, D.; DULEU, S.; MAR-
10. CUSTODIO, V. I.; DANELUZZI, J. C.; CUSTODIO, R. J.; COS, P.; KARAKAS, B.; GEFFARD, M. Frontiers in vitamin re-
CIAMPO, L. A. del; FERRAZ, I. S.; MARTINELLI Jr., C. E.; RIC- search: new antibodies, new data. The Scientific World Journal,
CO, R. G.; CUPO, P.; HERING, S. E.; MEIRELLES, M. S.; VAN- Nova Iorque, v. 11, p. 1226-42, 2011.
NUCCHI, H. Vitamin A deficiency among Brazilian school-aged
children in a healthy child service. European Journal of Clinical 18. JHALA, S. S.; HAZELL, A. S. Modeling neurodegenerative
Nutrition, Londres, v. 63, n. 4, p. 485-90, 2009. disease pathophysiology in thiamine deficiency: consequences of
impaired oxidative metabolism. Neurochemistry International, Fi-
11. CARDOSO, M. A. (ed.). Nutrição Humana. Rio de Janeiro: ladélfia, v. 58, n. 3, p. 248-60, 2011.
Guanabara Koogan, 2006. (Série Helio Vannuchi).
19. LU’O’NG, K. V.; NGUYÊN, L. T. Role of thiamine in Alzhei-
12. VANNUCCHI, H.; JORDÃO Jr., A. A.; IGLESIAS, A. C.; MO- mer’s disease. American Journal of the Alzheimer’s Disease and
RANDI, M. V.; CHIARELLO, P. G. Effect of different dietary le- Other Dementias, Filadélfia, v. 26, n. 8, p. 588-98, 2011a.
vels of vitamin E on lipid peroxidation in rats. Archivos Latinoa-
mericanos de Nutrición, Caracas, v. 47, n. 1, p. 34-7, 1997. 20. JACOBSON, E. L. Niacin. Disponível em: http://lpi.oregons-
tate.edu/infocenter/vitamins/niacin/. Acesso em: 22 de novembro
13. MONTEIRO, T. H.; SILVA, C. S.; AMBROSIO, L. M. C. S.; de 2013.
ZUCOLOTO, S.; VANNUCCHI, H. Vitamin E Alters Inflamma-
tory Gene Expression in Alcoholic Chronic Pancreatitis. Journal of 21. MONTEIRO, J. P.; CUNHA, D. F.; FILHO, D. C.; SILVA-VER-
Nutrigenetics and Nutrigenomics, Basel, v. 5, n. 2, p. 94-105, 2012. GARA, M. L.; SANTOS, V. M.; COSTA Jr., J. C.; ETCHEBEHE-
RE, R. M.; GONÇALVES, J.; CUNHA, S. F. C.; JORDÃO, A. A.;
14. NAVARRO, A. et al. Vitamin E at high doses improves sur- CHIARELLO, P. G.; VANNUCCHI, H. Niacin metabolite excre-
vival, neurological performance, and brain mitochondrial func- tion in alcoholic pellagra and AIDS patients with and without
tion in aging male mice. American Journal of Physiology – Re- diarrhea. Nutrition, Syracuse, v. 20, n. 9, p. 778-82, 2004.
gulatory Integrative Comparative Physiology, Bethesda, v. 289, p.
R1392-R1399, 2005. 22. VANNUCCHI, H.; MORENO, F. S. Interaction of niacin and
zinc metabolism in patients with alcoholic pellagra. The American

368 369
Journal of Clinical Nutrition, Houston, v. 50, n. 2, p. 364-9, 1989. dx.doi.org/10.1155/2012/785647. Acesso em: 22 de novembro de
2013.
23. DOMENICI, F. A.; VANNUCCHI, M. T.; SIMÕES-AMBRÓ-
SIO L. M.; VANNUCCHI, H. Hyperhomocysteinemia and poly- 31. MUÑOZ, P.; HUMERES, A. Iron deficiency on neuronal func-
morphisms of the methylenetetrahydrofolate gene in hemodialysis tion. Biometals, Dordrecht, v. 25, n. 4, p. 825-35, 2012.
and peritoneal dialysis patients. Molecular Nutrition and Food
Research, Weinheim, v. 51, p. 1430-6, 2007. 32. LOZOFF, B. Early iron deficiency has brain and behavior ef-
fects consistent with dopaminergic dysfunction. Journal of Nutri-
24. HARMS, L. R.; BURNE, T. H.; EYLES, D. W.; MCGRATH, tion, Houston, v. 141, n. 4, p. 740S-746S, 2011..
J. J. Vitamin D and the brain. Best Practice & Research Clinical
Endocrinology & Metabolism, v. 25, n. 4, p. 657-69, 2011. 33. BURHANS, M. S.; DAILEY, C.; BEARD, Z.; WIESINGER, J.;
MURRAY-KOLB, L.; JONES, B. C.; BEARD, J. L. Iron deficiency:
25. EYLES, D. W.; BURNE, T. H.; MCGRATH, J. J. Vitamin D, differential effects on monoamine transporters. Nutritional Neu-
effects on brain development, adult brain function and the links roscience, Filadélfia, v. 8, p. 31-8, 2005.
between low levels of vitamin D and neuropsychiatric disease.
Frontiers in Neuroendocrinology, Filadélfia, 11 jul. 2012. 34. ZHENG, W.; MONNOT, A. D. Regulation of brain iron and
copper homeostasis by brain barrier systems: implication in neuro-
26. LU’O’NG, K. V.; NGUYÊN, L. T. The beneficial role of vitamin degenerative diseases. Pharmacology & Therapeutics, Kansas City,
D in Alzheimer’s disease. American Journal of the Alzheimer’s Di- v. 133, p. 177-88, 2012.
sease and Other Dementias, Filadélfia, v. 26, n. 7, p. 511-20, 2011b.
35. MARQUES, A. G.; LOPES, L. A.; AMANCIO, O. M. S. Estado
27. TORKILDSEN, O.; LØKEN-AMSRUD, K. I.; WERGELAND, nutricional em zinco e teste de acuidade do paladar em crianças de
S.; MYHR, K. M.; HOLMØY, T. Fat-soluble vitamins as disease baixa estatura familiar. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v.
modulators in multiple sclerosis. Acta Neurologica Scandinavica, 23, n. 1, p. 15-20, 2005.
Gothenburg, n. 196, p. 16-23, 2013.
36. LEVENSON, C. W. Zinc supplementation: neuroprotective
28. FERLAND, G. Vitamin K, an emerging nutrient in brain func- or neurotoxic? Nutrition Reviews, Washington DC, v. 63, n. 4, p.
tion. Biofactors, Boston, v. 38, n. 2, p. 151-7, 2012. 122-5, 2005.

29. KONIKOWSKA, K.; REGULSKA-ILOW, B.; RÓZAŃSKA, D. 37. LI, M.; EASTMAN, C. J. The changing epidemiology of iodine
The influence of components of diet on the symptoms of ADHD deficiency. Nature Reviews Endocrinology, Londres, v. 8, n. 7, p.
in children. Roczniki Panstwowego Zakladu Higieny, v. 63, n. 2, 434-40, 2012.
p. 127-34, 2012.
38. SLUTSKY, I.; ABUMARIA, N.; WU, L. J.; HUANG, C.;
30. MORRIS, D. R.; LEVENSON, C. W. Ion channels and zinc: ZHANG, L.; LI, B.; ZHAO, X.; GOVINDARAJAN, A.; ZHAO,
mechanisms of neurotoxicity and neurodegeneration. Journal of M. G.; ZHUO, M.; TONEGAWA, S.; LIU, G. Enhancement of le-
Toxicology, Nova Iorque, v. 2012, 2012. Disponível em: http:// arning and memory by elevating brain magnesium. Neuron, Cam-

370 371
bridge, v. 65, n. 2, p. 165-77, 2010. 47. LEONE, R. J. di. Neuroscience gets nutrition. Nature Reviews
Neuroscience, Londres, v. 14, n. 3, p. 271-2, 2011.
39. ABUMARIA, N.; YIN, B.; ZHANG, L.; LI, X. Y.; CHEN, T.;
DESCALZI, G.; ZHAO, L.; AHN, M.; LUO, L.; RAN, C.; ZHUO, 48. LAFOURCADE, M.; LARRIEU, T.; MATO, S.; DUFFAUD, A.;
M.; LIU, G. Effects of elevation of brain magnesium on fear con- SEPERS, M.; MATIAS, I.; SMEDT-PEYRUSSE, V. de; LABROUSSE,
ditioning, fear extinction, and synaptic plasticity in the infralimbic V. F.; BRETILLON, L.; MATUTE, C.; RODRÍGUEZ-PUERTAS,
prefrontal cortex and lateral amygdala. The Journal of Neuros- R.; LAYÉ, S.; MANZONI, O. J. Nutritional omega-3 deficiency
cience, Washington DC, v. 31, n. 42, p. 14871-81, 2011. abolishes endocannabinoid-mediated neuronal functions. Nature
Reviews Neuroscience, Londres, v. 14, n. 3, p. 345-50, 2011.
40. EBY, G. A.; EBY, K. L. Rapid recovery from major depression
using magnesium treatment. Medical Hypotheses, Birmingham, v. 49. GREENWOOD, C. E.; WINOCUR, G. High-fat diets, insu-
67, n. 2, p. 362-70, 2006. lin resistance and declining cognitive function. Neurobiology of
Aging, Rochester, v. 26, n. 1, p. 42-5, 2005.
41. BOURRE, J. M. Effects of nutrients (in food) on the structure
and function of the nervous system: update on dietary require- 50. MOLTENI, R.; BARNARD, J. R.; YING, Z.; ROBERTS, C. K.;
ments for brain. Part 2: macronutrients. The Journal of Nutrition, GOMEZ-PINILLA, F. A high-fat, refined sugar diet reduces hippo-
Health and Aging, Paris, V. 10, n. 5, p. 386-99, 2006. campal brain-derived neurotrophic factor, neuronal plasticity, and
learning. Neuroscience, Durham, v. 112, p. 803-14, 2002.
42. TAKI, Y.; HASHIZUME, H.; SASSA, Y.; TAKEUCHI, H.; ASA-
NO, M.; ASANO, K.; KAWASHIMA, R. Breakfast staple types af- 51. GRIMM, M. O.; ROTHHAAR, T. L.; GRÖSGEN, S.; BURG,
fect brain gray matter volume and cognitive function in healthy V. K.; HUNDSDÖRFER, B.; HAUPENTHAL, V. J.; FRIESS, P.;
children. Plos One, San Francisco, v. 5, n. 12, p. e15213, 2010. KINS, S.; GRIMM, H. S.; HARTMANN, T. Trans fatty acids
enhance amyloidogenic processing of the Alzheimer amyloid pre-
43. NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger Principles of Bioche- cursor protein (APP). The Journal of Nutritional Biochemistry,
mistry. 5. ed. Nova Iorque: W. H. Freeman, 2008. Lexington, v. 23, p. 1214-23, 2012.
44. LE FLOC’H, N.; OTTEN, W.; MERLOT, E. Tryptophan meta- 52. VAUZOUR, D. Dietary polyphenols as modulators of brain
bolism, from nutrition to potential therapeutic applications. Ami- functions: biological actions and molecular mechanisms underpin-
no Acids, Viena, v. 41, n. 5, p. 1195-205, 2011. ning their beneficial effects. Oxidative Medicine and Cellular Lon-
gevity, Nva Iorque, v. 2012, 2012. Disponível em: http://dx.doi.
45. SERPERO, L. D.; FRIGIOLA, A.; GAZZOLO, D. Human milk
org/10.1155/2012/914273. Acesso em: 22 de novembro de 2013.
and formulae: neurotrophic and new biological factors. Early Hu-
man Development, Londres, v. 88, n. 1, p. S9-S12, 2012. 53. WOLLEN, K. A. Alzheimer’s disease: the pros and cons of
pharmaceutical, nutritional, botanical, and stimulatory therapies,
46. BOURRE, J. M. Dietary omega-3 Fatty acids and psychiatry:
with a discussion of treatment strategies from the perspective of
mood, behaviour, stress, depression, dementia and aging. The Jour-
patients and practitioners. Alternative Medicine Review, Napa, v.
nal of Nutrition, Health and Aging, Paris, v. 9, n. 1, p. 31-8, 2005.

372 373
15, n. 3, p. 223-44, 2010. SobRe os autores

54. BASLI, A.; SOULET, S.; CHAHER, N.; MÉRILLON, J. M.;


CHIBANE, M.; MONTI, J. P.; RICHARD, T. Wine polyphenols: Camila Siqueira Silva
potential agents in neuroprotection. Oxidative Medicine and
Cellular Longevity, Nova Iorque, v. 2012, 2012. Disponível em: Pós-doutorado na Divisão de Microbiologia, US Food and
http://dx.doi.org/10.1155/2012/805762. Acesso em: 22 de novem- Drug Administration, National Center for Toxicological Research,
bro de 2013. em Jefferson, Arkansas, Estados Unidos; doutorado em Ciências
pelo Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medici-
55. WU, K. J.; HSIEH, M. T.; WU, C. R.; WOOD, W. G.; CHEN, na de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; mestrado em
Y. F. Green Tea Extract Ameliorates Learning and Memory Deficits Imunologia e Parasitologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas
in Ischemic Rats via Its Active Component Polyphenol Epigalloca- da Universidade Federal de Uberlândia; graduação em Nutrição
techin-3-gallate by Modulation of Oxidative Stress and Neuroin- pelo Centro Universitário do Triângulo.
flammation. Evidence-Based Complementary and Alternative Me- http://lattes.cnpq.br/9336527208052662
dicine, Nova Iorque, v. 2012, 2012. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.1155/2012/656150. Acesso em: 22 de novembro de 2013.
Helio Vannucchi
56. DAUNCEY, M. J. Recent advances in nutrition, genes and Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da Di-
brain health. Proceedings of the Nutrition Society, Londres, v. 71, visão de Nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
n. 4, p. 581-91, 2012. da Universidade de São Paulo.
57. REITZ, C.; TOSTO, G.; MAYEUX, R.; LUCHSINGER, J.A.. http://lattes.cnpq.br/7328150572306887
The NIA-LOAD/NCRAD Family Study Group and the Alzhei-
mer’s Disease Neuroimaging Initiative. Genetic Variants in the Fat
and Obesity Associated (FTO) Gene and Risk of Alzheimer’s Di-
sease. Plos One, San Francisco, v. 7, n. 12, 2012. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3520931/. Acesso
em: 22 de novembro de 2013.

374 375
Efeitos da desnutrição precoce
sobre o hipocampo e o
comportamento em modelos
animais de aprendizagem
e memória espacial
Sebastião de Sousa Almeida44
Marisa Tomoe Hebihara Fukuda45
Natalia Nassif Braga46
Lucas Duarte Manhas Ferreira do Vales47
Roberto de Oliveira Soares48
Camila Tavares Valadares49

1. Desnutrição

N
o início da vida, quando o sistema nervoso central (SNC)
está crescendo de forma particularmente rápida, são vá-
rios os fatores ambientais que podem afetar esse desen-
volvimento. Entre esses fatores, um de especial importância é a

44. Laboratório de Nutrição e Comportamento/Departamento de Psicologia/Faculdade


de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (USP).
45. Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço/
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ USP.
46. Laboratório de Nutrição e Comportamento/Departamento de Psicologia/Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (USP).
47. Laboratório de Nutrição e Comportamento/Departamento de Psicologia/Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (USP).
48. Laboratório de Nutrição e Comportamento/Departamento de Psicologia/Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (USP).
49. Laboratório de Nutrição e Comportamento/Departamento de Psicologia/Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (USP).

377
nutrição do organismo, que se encontra em desenvolvimento, uma no mundo como um todo. A diminuição da desnutrição preco-
vez que, durante a vida gestacional e o início de vida pós-natal, o ce e o aumento da obesidade têm sido utilizados para denominar
SNC necessita de uma série de macro e micronutrientes essenciais o conceito de transição nutricional, que é caracterizada por um
para a divisão e crescimento das várias células que o compõem. gradual decréscimo dos casos de kwashiorkor50 e marasmo e um
Como qualquer outro órgão, o cérebro é elaborado a partir de acréscimo crescente nos casos de sobrepeso e obesidade de todos
substâncias presentes na dieta consumida pelos organismos (ami- os graus nos países em desenvolvimento. Entretanto, mesmo com
noácidos e ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais). A defi- esse decréscimo nos casos de desnutrição precoce, ainda são signi-
ciência ou ausência de um desses nutrientes durante essa fase pode ficativos os níveis de desnutrição encontrados em algumas regiões
acarretar prejuízos na formação do SNC; prejuízos estes que po- do Brasil e em alguns países do mundo.
dem ser mantidos na vida adulta, mesmo após um longo período No Brasil, embora se aponte redução significativa nos índices de
de recuperação nutricional do organismo em questão. Entretanto, desnutrição, estes ainda são alarmantes. Segundo os dados da última
por muito tempo não foi completamente aceito pela comunidade Pesquisa de Orçamentos Familiares[7], a desnutrição ainda apresenta
científica que a nutrição pudesse ter uma influência direta na es- uma prevalência de 6% entre as crianças menores de cinco anos, se
trutura cerebral e, consequentemente, na sua função, incluindo as- considerada a medida de peso/altura para a idade. Esse índice repre-
pectos cognitivos e intelectuais, assim como os comportamentais. senta 9%, se consideradas as crianças no primeiro ano de vida, fase
De fato, a maioria dos macro e micronutrientes tem se mostrado esta crucial no desenvolvimento biológico global da criança[8].
importante na formação e funcionamento cerebral[1-3]. A desnutrição na fase inicial da vida, aliada a contextos de
A desnutrição proteica ou a proteicocalórica precoce são am- baixo rendimento econômico e condições precárias de saneamento
plamente estudadas, por causarem alterações em termos de desen- básico, está associada ao decréscimo do potencial de melhoria eco-
volvimento físico, além de prejudicar vários eventos maturacio- nômica, sobretudo nos países não industrializados, já que a des-
nais do cérebro, resultando em alterações que englobam memória, nutrição nessa fase da vida está correlacionada a funções ocupa-
comportamento e aprendizagem[4]. Trata-se de um problema global cionais empobrecidas na vida adulta, menos anos de escolaridade
que afeta, sobretudo, as camadas economicamente desfavorecidas e renda reduzida[8-10].
da população. Dados recentes apontam a desnutrição como um De acordo com World Health Organization Global Database
fator subjacente em 34% das mortes de crianças abaixo dos cinco on Child Growth and Malnutrition[5], três conceitos devem ser cla-
anos de idade[5]. Segundo a Organização Mundial de Saúde[6], 171 ramente distinguidos quando se fala em índices de desnutrição: os
milhões de crianças com menos de cinco anos de idade tiveram conceitos de fome, desnutrição e malnutrição. A fome refere-se ao
algum prejuízo em seu desenvolvimento causado por deficiências estado de desconforto presente quando há falta de alimentação. A
nutricionais. Deste total, 104 milhões foram diagnosticadas com Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura[11]
baixo peso e estatura para a idade, e 20 milhões de crianças na refere que existe a situação de fome quando a ingestão for menor
mesma faixa etária sofreram de desnutrição severa em 2010. que 1.800kcal diárias. Já a desnutrição consiste no resultado da
Dados recentes da literatura mostram que a desnutrição pro- ingestão inadequada de alimentos. Significa deficiência energética,
teica ou proteicocalórica grave, duas das formas mais prevalentes proteica, de vitaminas e minerais essenciais, podendo estar rela-
de desnutrição em populações de países pobres ou em desenvolvi-
50. Doença que acomete humanos cujas dietas consumidas contêm quantidade e qualida-
mento, tem diminuído significativamente tanto no Brasil quanto de proteicas comprometidas[18].

378 379
cionada a um desses itens especificamente ou todos eles. Consiste, rápido crescimento cerebral, mas também os processos organiza-
dessa forma, no estado patológico proveniente da ingestão inade- cionais precoces, como a proliferação, migração e diferenciação
quada de alimentos tanto em termos de quantidade, quanto em ter- celular, sinaptogênese e gliogênese, cujas formações adequadas es-
mos de qualidade da dieta. A malnutrição refere-se a formas mais tão intimamente ligadas aos aminoácidos provenientes da dieta[13].
amplas de desnutrição (deficiência) ou supernutrição (consumo de
muitas calorias em relação às necessidades diárias, com ou sem o
consumo dos nutrientes necessários para a manutenção corporal). 2. Modelos animais de desnutrição
Em ambas as condições de malnutrição, são comuns as comorbida- A utilização de técnicas de desnutrição em experimentação
des físicas que oneram amplamente os sistemas de saúde[11]. animal, principalmente em roedores, torna possível isolar e/ou
Um episódio de desnutrição, como acima definido, afetaria de manipular algumas variáveis que, no homem, são de difícil iden-
modo preponderante todo o funcionamento corporal, podendo ter tificação e controle, porque envolvem fatores relacionados à es-
consequências irreversíveis mesmo após um período de recupera- timulação ambiental, questões sociais, nível econômico, cultural,
ção nutricional. Entretanto, para que isso ocorra, fatores diversos rotina, entre outros que, de maneira complexa, influenciam-se
devem ser analisados, como a gravidade e a duração do insulto mutuamente. Além disso, a utilização de modelos experimentais
nutricional. Além disso, deve-se atentar ao tipo de desnutrição, o animais justifica-se por princípios éticos que devem ser observados
que se relaciona ao nutriente que está sendo ingerido de modo em estudos com sujeitos humanos.
insuficiente. Dessa forma, diferentes domínios da função cogniti- Todavia, a utilização de modelos de experimentação animal
va podem ser afetados pelo tipo de deficiência nutricional a que não representa um paradigma simples. A desnutrição proteica ou a
o cérebro é exposto durante o desenvolvimento. Nesse sentido, proteicocalórica imposta no período de lactação interfere na inte-
a desnutrição proteica tem sido muito estudada por seus graves ração mãe-filhote e pode produzir efeitos adversos sobre a quanti-
efeitos, já que o deficit na ingestão de proteína faz com que não dade e a qualidade dos comportamentos maternos voltados à pro-
sejam ingeridos os aminoácidos necessários para a síntese proteica le, devido ao insulto nutricional a que essas mães são submetidas.
estrutural, de enzimas, neuropeptídeos e neurotransmissores[12]. Do mesmo modo, uma redução na quantidade de proteínas inge-
Outro importante fator a ser analisado diz respeito ao perí- rida pela rata mãe pode afetar a qualidade e a quantidade do leite
odo em que ocorreu a desnutrição, o que sugere a noção de um disponível aos filhotes e causar uma diminuição dos aminoácidos
período crítico de desenvolvimento cerebral, durante o qual existe necessários ao crescimento e desenvolvimento dos mesmos[14].
uma época em que o cérebro passa por um rápido período de cres-
cimento. Durante essa fase, todo o cérebro estaria mais vulnerável
a influências externas, como dieta inadequada, estresse emocional 2.1. Técnicas de desnutrição
e consumo de drogas por parte da mãe, entre outros fatores que
podem comprometer o crescimento de determinadas regiões ce-
Desnutrição proteica
rebrais. Dessa forma, a desnutrição ocorrida nesse período seria
responsável por ocasionar efeitos em longo prazo. Em seres huma- Nesta técnica de desnutrição, o deficit nutricional é provoca-
nos, esse período se estende desde o terceiro mês de gestação até do por uma redução na quantidade de proteínas da dieta ofereci-
o segundo ano de vida, período no qual ocorre não somente um da à rata mãe. As dietas controle e experimental são isocalóricas,

380 381
como resultado de um acréscimo nos níveis de carboidrato para Desnutrição por separação temporária
compensar a redução de proteína em sua composição. Os outros
Na técnica de separação temporária, os filhotes são retirados
componentes das dietas como macro e micronutrientes são manti-
da mãe por um período do dia, reduzindo a oportunidade ou o
dos para propiciar uma dieta pobre apenas em proteína. A carên-
tempo de amamentação. Esta separação altera o ambiente social,
cia nutricional decorrente da redução desse nutriente resulta em
termal e sensorial dos filhotes. Para a manutenção da temperatura
uma diminuição da quantidade e qualidade do leite produzido,
corporal, os filhotes podem permanecer em incubadoras ou com ra-
levando à desnutrição dos filhotes.
tas tias. Estas ratas podem ser fêmeas lactantes que sofreram remo-
ção cirúrgica dos mamilos ou ratas virgens sensibilizadas – treina-
Desnutrição proteicocalórica das para cuidar dos filhotes, mas sem a capacidade de alimentá-los.

Esta técnica de desnutrição corresponde a uma redução na


quantidade de dieta ingerida pela rata mãe. Essa redução se reflete Desnutrição pela remoção cirúrgica de alguns mamilos
diretamente na quantidade de leite produzido pelas glândulas ma-
A técnica de remoção cirúrgica de alguns mamilos permite que
márias dessas ratas. Nessas condições, as ratas recebem alimento
se tenha um número de mamilos menor do que a quantidade de fi-
apenas uma vez por dia, e ele é consumido em poucas horas. A uti-
lhotes na ninhada. Isso aumenta a competição entre os filhotes pelos
lização desta técnica, assim como a técnica de desnutrição proteica,
mamilos, sem que haja competição pela atenção da mãe, uma vez
provoca desnutrição tanto nas ratas mães quanto em seus filhotes.
que a ninhada é de tamanho padrão. Essa técnica se assemelha à téc-
nica de grandes ninhadas no que diz respeito a um maior número de
Desnutrição de grandes ninhadas filhotes do que mamilos disponíveis para alimentação. Entretanto,
difere daquela técnica no que diz respeito ao fato da ninhada ser de
Nesta técnica, a desnutrição é causada pelo aumento do núme-
tamanho padrão (seis ou oito filhotes por ninhada). Tal como nas
ro de filhotes na ninhada. Em grandes ninhadas, o acesso à fonte
técnicas de grandes ninhadas e na técnica de separação temporária
de alimento é dificultado. A relação entre a grande quantidade de
da mãe, esta técnica somente pode ser utilizada no período de lacta-
filhotes e o número de mamilos maternos aumenta significativa-
ção, ao contrário das técnicas de desnutrição proteica e proteicoca-
mente a competição entre os filhotes. Esta técnica dificulta uma
lórica, que podem ser utilizadas nos períodos de gestação, lactação,
avaliação precisa entre os efeitos da desnutrição e a influência de
pós-lactação e na fase adulta. Esta técnica, apesar de não desnutrir
outras variáveis psicossociais, devido à competição entre os filhotes
as ratas mães, também produz alterações no comportamento das ra-
pela fonte de alimento e pelo cuidado materno. A competição pe-
tas mães e da interação destas com os filhotes da ninhada, uma vez
los mamilos maternos pode produzir uma variabilidade indesejada
há uma competição dos filhotes pelos poucos mamilos funcionais.
no estado nutricional de filhotes de uma mesma ninhada, porque
frequentemente alguns filhotes são mais bem-sucedidos que outros.
Desnutrição por amordaçamento dos filhotes
Na técnica de amordaçamento dos filhotes, uma fita adesiva
é colocada na boca dos filhotes por um determinado período de

382 383
tempo, impedindo o acesso aos mamilos da rata mãe. Esta técnica Desnutrição por alimentação artificial
permite a obtenção de filhotes desnutridos criados por suas pró-
Nesta técnica de criação artificial, uma sonda intragástrica
prias mães bem alimentadas; no entanto, não se pode ignorar o
permite a manipulação precisa da dieta consumida pelos filhotes,
incômodo causado pela colocação e pela retirada das fitas. Além
tanto qualitativa quanto quantitativamente. Assim, podemos, com
disso, esse procedimento pode ser utilizado somente em filhotes
razoável precisão, produzir diversos graus de desnutrição nos fi-
mais jovens, pois, com o desenvolvimento motor, eles tornam-se
lhotes. É uma técnica cara, de difícil execução, que consome tempo
capazes de retirar as fitas adesivas. Esta técnica se assemelha à
do experimentador e requer manuseio excessivo, o que pode alte-
técnica de separação temporária dos filhotes, com a diferença de
rar muito o ambiente do filhote. A ausência da mãe pode produzir
que aqui os filhotes permanecem com a rata mãe e lá os filhotes
sérias consequências futuras no comportamento do filhote, o que
passam um tempo na incubadora ou com ratas tias, que dão cui-
dificulta a análise das possíveis causas das alterações comporta-
dado e calor materno, mas não produzem leite. Outra diferença é
mentais na vida adulta. Fica difícil separar que alterações com-
que aqui a rata mãe não é desnutrida, e a desnutrição dos filhotes
portamentais resultam da desnutrição per se e quais resultam da
se dá pela impossibilidade de mamar por certo período do dia du-
intensa alteração ambiental produzida pela técnica de alimentação
rante o período de lactação. Nesse caso, as alterações comporta-
artificial. A desnutrição por esta técnica pode ser utilizada preferen-
mentais das mães podem estar diminuídas, o que também pode
cialmente no período de lactação, embora tecnicamente também
reduzir possíveis alterações na interação com seus filhotes, o que
possa ser utilizada no período de pós-lactação e na vida adulta.
não acontece com as demais técnicas descritas anteriormente. Esta
A utilização de diferentes técnicas de desnutrição exige atenção
técnica, assim como as técnicas de aumento da ninhada, separação
cuidadosa quanto às diferenças encontradas em uma mesma técnica.
temporária dos filhotes, remoção cirúrgica de alguns mamilos e
Essas diferenças ocorrem por variações na espécie estudada, quan-
amordaçamento dos filhotes, somente podem ser utilizadas para
tidade e proporção de machos e fêmeas que compõem as ninhadas,
os modelos de desnutrição durante o período de lactação.
época de desmame, duração dos períodos de desnutrição e recupe-
ração nutricional, percentual de restrição de um determinado nu-
Desnutrição por ligamento de artérias que irrigam o útero triente ou quantidade total de dieta oferecida, além de alterações nas
condições de alojamento e idade dos animais no período de testes.
Nesta técnica clássica de desnutrição, que foi desenvolvida na
década de 1960 e é bastante utilizada nos dias atuais, utiliza-se o
ligamento bilateral das artérias que irrigam o útero, reduzindo o 3. Consequências da desnutrição
suprimento de sangue para os filhotes. Isto irá produzir o que se no desenvolvimento ponderal
denominou de restrição do crescimento intrauterino, e os filhotes
irão nascer com baixo peso quando comparados aos filhotes de Além de acarretar deficit no desenvolvimento do SNC, a des-
ratas que não foram submetidas ao ligamento de artérias. Nesse nutrição proteica induzida na fase inicial da vida traz prejuízos no
caso, obviamente, a desnutrição somente pode ser imposta durante crescimento e desenvolvimento ponderal de ratos que têm seu peso
o período de gestação. Este modelo tem sido utilizado como um corporal reduzido severamente em comparação ao grupo que não
modelo animal que guarda semelhança com o que acontece no sofreu restrição proteica[14-16].
caso de crianças identificadas com baixo peso ao nascer. A administração de uma dieta hipoproteica para ratas mães du-

384 385
rante a fase de lactação e para os filhotes até quatro semanas após o diferenças na ingestão; entretanto, essas diferenças foram mais in-
desmame, seguida de um período de recuperação nutricional até os tensas nos animais cujas mães sofreram restrição proteica na fase
seis meses de vida resultou em uma redução da quantidade de leite de lactação. Os autores relatam que o estado nutricional materno
disponível para os filhotes durante a lactação levando a um retardo durante a lactação pode ser determinante nos padrões de ingestão
no crescimento[17]. Os animais submetidos à desnutrição proteica e no peso corporal da prole, mesmo após um período de recupe-
mantiveram menores pesos em comparação aos animais controles ração nutricional. Assim, a restrição proteica nesse período estaria
mesmo após o período de recuperação nutricional. A administração associada a alterações permanentes no controle hipotalâmico de
de dietas compostas por diferentes quantidades de proteína que va- seleção de nutrientes no animal adulto[21].
riam de 0,5% a 18% também mostra que os grupos de animais que Dados do padrão de crescimento esquelético em ratos subme-
receberam quantidade de proteína inferior a 5% foram considera- tidos à desnutrição proteica na fase inicial da vida, em comparação
dos desnutridos. Deficit significativos de peso corporal e tempo de com ratos controle, mostram reduções significativas de crescimen-
maturação sexual foram relatados nos animais desnutridos. Aque- to esquelético nos animais desnutridos, sobretudo no desenvolvi-
les que receberam dietas com quantidade inferior a 1% de proteína mento craniofacial[22]. Resultados semelhantes foram encontrados
desenvolveram características semelhantes ao kwashiorkor. em um estudo que analisou o padrão de crescimento esquelético
Os efeitos de diversas técnicas de produção de desnutrição em ratos com restrição calórica ou proteica[23]. Embora ambos os
têm sido analisados na qualidade do leite produzido pelas ratas tipos de restrição tivessem sido capazes de reduzir o crescimento, o
mães. A restrição proteica foi o método mais eficiente na produ- efeito ocasionado pela desnutrição proteica foi mais intenso.
ção de alterações de peso corporal e qualidade do leite produzido. Os efeitos da desnutrição proteica na fase inicial da lactação
Entre as alterações nutricionais no leite, relatou-se a redução na também foram analisados em ratas que receberam dieta hipopro-
quantidade de proteína e de nitrogênio, além de elevação na quan- teica durante os 12 dias iniciais de lactação, sendo posteriormente
tidade total de gorduras[19]. Outro estudo comparou, dentre outros recuperadas através do consumo de dieta comercial para roedo-
aspectos, o peso corporal de ratos submetidos à restrição proteica res. A indução de dieta restrita em proteínas acarretou redução
e calórica na fase inicial da vida, concluindo que a desnutrição no peso corporal e ingestão nas ratas mães e filhotes. Além disso,
proteica grave causa danos mais acentuados no crescimento dos foram relatadas alterações permanentes na composição corporal
filhotes com estes atingindo apenas 35% do peso obtido pelos ani- e no status hematológico dos ratos desnutridos. Esses parâmetros
mais controle[20]. A qualidade do leite consumido pelos filhotes de não foram restaurados mesmo após a suplementação com dieta
mães desnutridas, principalmente pela redução da quantidade de nutricionalmente adequada[24].
aminoácidos, também foi a causa apontada em outro estudo para Com o objetivo de testar os efeitos da desnutrição proteica in-
a redução significativa do peso desses filhotes nas duas últimas duzida em diferentes fases da vida, um estudo analisou o crescimen-
semanas da fase de lactação[14]. to corporal e parâmetros metabólicos em ratos. Foi administrada
A administração de dietas com restrição proteica e proteico- dieta hipoproteica em três diferentes fases do desenvolvimento: lac-
calórica para ratas mães durante o período de lactação, seguida tação, semanas iniciais pós-desmame e vida adulta (90 a 120 dias).
de uma recuperação nutricional do desmame até os 60 dias de Relatou-se que a desnutrição na fase inicial da vida produziu danos
vida, ocasionou reduções significativas de peso corporal nos ani- permanentes no desenvolvimento físico e metabólico dos animais,
mais que consumiram dietas com restrições nutricionais, além de sobretudo no pâncreas, que se constitui um órgão muito vulnerável

386 387
à desnutrição nas primeiras semanas pós-desmame[25]. Dados se- res. Além disso, eles são precursores de todas as proteínas estrutu-
melhantes foram relatados em outro estudo mostrando alterações rais, essenciais para o crescimento dos tecidos corporais, incluindo
permanentes em parâmetros metabólicos e de desenvolvimento em o cérebro. Pela extensa participação dos aminoácidos na organi-
ratos submetidos à restrição proteica no período de lactação[16]. zação do SNC, fica evidente que o envolvimento dessas moléculas
Embora os trabalhos analisados tenham muitas diferenças em não se restringe apenas à função de síntese proteica.
termos de protocolos de quantidade de proteína e recuperação nu- O SNC é fortemente vulnerável à desnutrição proteica ou pro-
tricional, em todos eles a desnutrição proteica na fase inicial da teicocalórica durante todo o período de seu desenvolvimento[4,12]. A
vida causou efeitos deletérios no crescimento e desenvolvimento desnutrição proteica precoce severa produz alterações neuroquími-
ponderal de ratos. Esses trabalhos confirmam a dieta hipoproteica cas, neurofisiológicas e funcionais no SNC e consequentes distorções
como um importante fator ambiental causador de alterações em em padrões de desenvolvimento de algumas estruturas cerebrais cujo
diferentes parâmetros como o físico e metabólico. Não existem, desenvolvimento se prolonga após o nascimento, como o hipocam-
na literatura especializada, trabalhos que comparem os efeitos de po, o bulbo olfatório e o cerebelo. Além disso, outras consequências
diferentes durações do insulto nutricional com dieta hipoproteica evidenciadas correspondem ao estresse oxidativo, caracterizado por
de mesma composição no desenvolvimento ponderal, assim como um desequilíbrio na proporção de radicais livres no córtex cerebral
os efeitos de diferentes períodos de recuperação nutricional. Dessa e no cerebelo e à diminuição nos níveis de resíduos de aminoácidos
forma, é importante verificar se um período de recuperação mais no córtex, no hipocampo e no cerebelo. Alguns exemplos dessas
longo seria capaz de amenizar as alterações de crescimento pro- alterações são: menor tamanho cerebral; menor número de células;
duzidas pela desnutrição na fase inicial da vida e se diferentes du- alterações na ramificação dendrítica e na camada de mielina dos
rações do insulto nutricional podem trazer menores ou maiores neurônios e alterações na atividade de sistemas enzimáticos, interfe-
prejuízos para o desenvolvimento físico dos animais. Esses dados rindo na síntese proteica e na estrutura das proteínas[4,12].
trariam importantes contribuições para os estudos da área, já que Sabe-se que o período crítico de desenvolvimento cerebral no
poderiam demonstrar qual protocolo de duração de desnutrição rato ocorre nas três primeiras semanas após o nascimento, com es-
e recuperação nutricional seria o mais adequado na produção de pecial ênfase para os processos de crescimento cerebral, mieliniza-
modelos de desnutrição capazes de produzir deficit próximos aos ção, microneurogênese (células granulares do giro denteado, bulbo
produzidos pelos deficit nutricionais das populações humanas que olfatório e cerebelo) e gliogênese tardia[4]. A nutrição representa a
enfrentam esse grave problema de saúde pública. principal influência ambiental sobre o desenvolvimento fetal e neo-
natal; por esse motivo, uma dieta balanceada, com aporte adequado
de nutrientes essenciais, é fundamental para a manutenção do cresci-
4. Alterações biológicas resultantes da desnutrição mento e do desenvolvimento normal de todas as funções fisiológicas.
De maneira geral, todos os nutrientes essenciais presentes em
uma dieta balanceada influenciam a maturação cerebral, porém a
4.1. Hipocampo: desenvolvimento e
proteína parece ser o nutriente mais importante para o desenvolvi-
consequências acarretadas pela desnutrição
mento estrutural e funcional do sistema nervoso. Os aminoácidos
que formam as proteínas são precursores de hormônios, enzimas, O hipocampo é uma região que possui um papel preponde-
neurotransmissores peptídicos ou constituem-se neurotransmisso- rante na aprendizagem, uma vez que recebe informações espaciais,

388 389
realiza o processamento que permeia a navegação, a integração de portância para os processos de aprendizagem e memória[29].
itens contextuais e espaciais, além do mapeamento cognitivo[26]. Devido ao rápido desenvolvimento concentrado após o nasci-
Danos causados a essa região, principalmente no giro denteado, mento, o hipocampo estaria mais vulnerável a influências externas,
ocasionam profundos deficit de memória sem que ocorram danos podendo ser afetado no caso da ocorrência de algum insulto am-
motor e sensorial. biental. A desnutrição constitui-se um dos insultos ambientais que
A face medial do lobo temporal é amplamente estudada por podem afetar o hipocampo durante seu desenvolvimento, fazendo
sua importância na formação e consolidação da memória. Consis- com que a neurogênese e outros eventos, como a gliogênese, mie-
te em um sistema complexo, que abrange, entre outras estruturas, linização e o desenvolvimento dendrítico, sejam afetados de ma-
a formação hipocampal e seus córtices adjacentes (córtex entorri- neira irreversível, influenciando os comportamentos processados
nal, perirrinal e pós-rinal em ratos). A formação hipocampal, por nessa estrutura[4,12,13,30].
sua vez, compreende o hipocampo, o giro denteado, campos CA e Vários estudos têm indicado que os prejuízos na aprendiza-
o complexo subicular[26,27]. gem e na memória espacial estão correlacionados com alterações
O hipocampo dos roedores possui seu desenvolvimento con- fisiológicas e/ou neuroanatômicos dessa estrutura, principalmente
centrado em grande parte no final do período pré-natal (principal- das regiões CA3 e CA4, como também as alterações nas células
mente entre os dias 18 e 22 da gestação, considerando que a gesta- granulares do giro denteado em animais que foram desnutridos na
ção estende-se por 22 dias) e o início da vida pós-natal. Estudos re- fase pré e pós-natal[13].
latam que o hipocampo concentra 80% do total de seu crescimento A privação de proteína produz, em ratos adultos, um conside-
durante as quatro primeiras semanas de vida após o nascimento[28]. rável prejuízo dos comportamentos que dependem da integridade
Até o final do século XIX, os pesquisadores acreditavam que do hipocampo. Ratos que passaram por um procedimento expe-
a estrutura cerebral permanecia constante após o nascimento, des- rimental de desnutrição proteica também apresentaram alterações
cartando a hipótese de que novas células fossem adicionadas ao degenerativas na arborização hipocampal, perda do contato sináp-
cérebro na fase adulta. A partir da primeira metade do século XX, tico, mudanças no sistema colinérgico e gabaérgico e também uma
começaram a ser relatadas neurogênese pós-natal em mamíferos. importante diminuição na rede de fibras colinérgicas hipocampais
Os pesquisadores argumentavam a existência de células indife- após 12 meses de privação de proteína[31,32].
renciadas distribuídas pelo encéfalo, que poderiam se diferenciar A desnutrição, mesmo na fase adulta, causa uma grande re-
tanto em neurônio como em glia. Porém, esses achados eram igno- dução na camada celular granular, no volume das células pirami-
rados pelos livros e por pesquisadores tradicionais, devido à ina- dais CA3 e CA1, na densidade numérica de células granulares e
dequação dos métodos disponíveis para detectar a divisão celular e no número total de células granulares e piramidais na formação
a distinção entre glia e pequenos neurônios. Entretanto, com a in- hipocampal[33]. A comparação dos animais desnutridos e recupera-
trodução da autorradiografia com [3H]-timidina houve um grande dos com animais controle bem nutridos revelou que tais alterações
avanço nestas pesquisas, o que possibilitou que, a partir dos anos não foram revertidas com a recuperação nutricional. Porém, essa
60, fossem publicados os primeiros trabalhos relatando o surgi- redução no número total de sinapses das fibras musgosas – CA3
mento de novos neurônios no cérebro adulto, incluindo neocórtex, pode ser revertida com a recuperação nutricional. Os autores rela-
bulbo olfatório e giro denteado do hipocampo. Esses neurônios tam que a recuperação nutricional produz uma reorganização no
foram chamados de microneurônios e considerados de suma im- sistema das fibras musgosas.

390 391
A maioria dos estudos sobre os efeitos da desnutrição sobre hipocampo aos 15 e aos 220 dias de idade[35]. Esses mesmos auto-
a neurogênese na formação hipocampal está na fase pré-natal. A res também mostraram que animais desnutridos são hiporreativos
desnutrição, ocorrendo na fase embrionária, altera a neurogênese às drogas psicotrópicas que atuam nos sistemas gababenzodiazepí-
pós-natal das células granulares e produz deficit significativos na nico, catecolaminérgico, serotonérgico e opioide[35].
formação hipocampal, especialmente com relação às células pira- A desnutrição também produz alterações na neurofisiologia,
midais (macroneurônios)[4]. como a redução da excitabilidade dos neurônios e da velocidade de
A participação do sistema de neurotransmissão gabaérgico e condução das fibras corticoespinhais e prejuízos na plasticidade si-
colinérgico também é importante nos processos de aprendizagem e náptica. Essas alterações na plasticidade sináptica produzidas pela
memória espacial; assim, a compreensão das alterações produzidas desnutrição pré e pós-natal podem fornecer informações de como
pela desnutrição nestes dois sistemas é de grande importância para esse insulto nutricional afeta o desenvolvimento cerebral em rela-
o presente estudo. Com relação ao sistema gabaérgico, alguns auto- ção aos problemas a longo prazo na atenção, aprendizagem e me-
res mostraram que a desnutrição proteica leva a uma redução nos mória[13]. Os principais tipos de alterações sinápticas encontradas
níveis de glutamato descarboxilase (GAD) e ácido γ-aminobutírico estão relacionados com a LTP (potenciação de longa duração, do
(GABA) no SNC. No entanto, os estudos também mostraram que inglês long-term potentiation). A LTP é um aumento duradouro da
os níveis tanto de GAD quanto de GABA parecem ser restaurados resistência sináptica induzida por uma estimulação de alta frequ-
quando os animais são nutricionalmente recuperados[34]. Obser- ência e tem recebido considerável atenção como um modelo para a
vou-se também que ratos que sofreram uma desnutrição proteica formação da memória[13]. Esse fenômeno apresenta várias proprie-
apresentaram alterações do sistema gabaérgico na formação hipo- dades em comum com a memória: indução rápida, especificidade
campal, como uma redução na densidade de neurônios gabaérgico para um estímulo, manutenção por longos períodos e expressão
no giro denteado[32]. Além disso, desnutrição em estádios iniciais imediata quando é novamente aplicado o estímulo original.
da vida também causa mudanças funcionais no sistema gabaérgico Prejuízos na aprendizagem e na memória espacial foram cor-
e induz alterações permanentes no sistema de neurotransmissão relacionados com as alterações fisiológicas e neuroanatômicas da
gababenzodiazepínico, refletindo em uma hiporreatividade às dro- formação hipocampal, principalmente das regiões CA3 e CA4,
gas benzodiazepínicas nos animais desnutridos[35]. como também as alterações nas células granulares do giro dente-
Além do sistema gabaérgico, também são relatadas várias ado em animais que foram desnutridos na fase pré e pós-natal[13].
alterações no sistema colinérgico como uma redução nos níveis O hipocampo atua na aprendizagem e no armazenamento
de acetilcolina[34]. Quanto à atividade da acetilcolinesterase, esta da representação do ambiente espacial, codificando-o em mapas
pode sofrer alterações em algumas regiões do SNC, podendo estar cognitivos[36]. Esse conceito de mapa cognitivo refere-se ao estabe-
aumentada, diminuída ou até mesmo em sua atividade normal, lecimento de representações de pistas associadas a um local e das
a depender da região cerebral estudada[34]. Há estudos relatando posições relativas a esses locais, capacitando o organismo a utili-
que a desnutrição proteica leva a uma diminuição do binding dos zar essas representações. Os mapas são construídos ao longo das
receptores muscarínicos colinérgicos no corpo estriado e no hipo- interações do organismo com os objetos e estímulos do ambiente,
tálamo e retardo na ontogênese dos receptores muscarínicos do dependendo de memória. Essa teoria sustenta que os animais po-
córtex motor de ratos[34] e uma redução da densidade de receptores dem aprender sobre as relações espaciais de objetos e relaciona
M2 mucarínicos nas células piramidais de regiões CA1 e CA3 do esses eventos com o contexto espacial em que ocorrem. Vários

392 393
estudos comportamentais têm mostrado prejuízos decorrentes da utilizadas em diferentes situações e que, portanto, independem do
desnutrição precoce em modelos de aprendizagem e memória es- contexto específico, seriam arquivadas sob a forma de memória de
pacial em ratos[37-40]. referência e podem ser armazenadas por diferentes intervalos de
A aprendizagem e a memória espacial são processos impres- tempo, ou até mesmo por toda a vida do indivíduo.
cindíveis para sobrevivência do organismo em certas condições am- No labirinto aquático, é possível criar diferentes procedimen-
bientais. A memória não pode ser definida de maneira simples, como tos comportamentais que permitem estudar alguns desses sistemas
se fosse a simples recordação ou lembrança de eventos que ocor- propostos.
reram no passado. Trata-se de processos complexos que envolvem O desempenho de ratos desnutridos em tarefas que procuram
vários fatores neuroanatômicos, neurofisiológicos, neuroquímicos, avaliar os comportamentos de aprendizagem e memória foi estu-
comportamentais e ambientais. De modo geral, podemos definir dado utilizando diferentes testes, tais como o labirinto radial, o la-
memória como sendo um processo que envolve a capacidade dos birinto em T elevado, o labirinto radial de oito braços e o labirinto
animais de aquisição, armazenamento e evocação das informações. aquático de Morris. Com relação à memória espacial de referência
A formação da memória envolve uma série de alterações e operacional, inúmeros estudos vêm sendo realizados, e o labirinto
bioquímicas em várias áreas do SNC, entre as quais se destaca o aquático de Morris é um aparato muito utilizado, cuja metodolo-
hipocampo. Os eventos bioquímicos envolvidos na formação da gia permite utilizar duas formas de navegação espacial[42]. Em am-
memória incluem, inicialmente, a ativação de receptores glutama- bas as formas, o rato é colocado numa piscina circular com água e
térgicos e a ativação de cascatas bioquímicas dos neurônios. Além permitido nadar em direção a uma plataforma. Uma das versões é
dos mecanismos envolvidos diretamente na formação da memória, chamada pista proximal, onde a plataforma é visível, e o rato nada
esta pode ainda ser modulada pela ação de vários neurotransmis- diretamente para esta pista proximal. Nesta versão, o animal não
sores, neuromoduladores e hormônios. precisa estabelecer relações espaciais entre objetos, ele se orienta
Há algumas décadas, eram descritos dois tipos básicos de me- por esta pista específica, utilizando, assim, o sistema de táxon. A
mória, a memória de curto prazo e a memória de longo prazo; hoje outra versão é chamada de pista distal, e a plataforma fica submer-
esses termos foram substituídos por outros termos, como memória sa e colocada numa posição fixa relativa às pistas que estão fora do
operacional e de referência, memória semântica ou episódica. Na labirinto. O rato, para aprender a localização da plataforma, tem
memória de curto prazo, ocorre o armazenamento de pequenas que utilizar pistas ambientais extralabirinto para navegar até a pla-
quantidades de informações por um período de tempo limitado, taforma. Essa versão com pista distal força o uso de estratégias de
enquanto que, na memória de longo prazo, são armazenadas gran- mapeamento espacial. Essas duas formas foram testadas em ratos
des quantidades de informações por um período de tempo inde- com danos hipocampais, cujo desempenho foi prejudicado somente
terminado. na navegação através de pistas distais[42]. Quando está sendo inves-
O tempo cronológico não seria o fator determinante sobre a tigada a memória de referência espacial, a plataforma permanece
manutenção ou não de uma informação, mas sim o processamen- numa posição fixa em um dos quadrantes. Vários estudos mostram
to inicial que a originou[41]. Assim, as informações apresentadas que animais mantidos em condições ideais são capazes de aprender
em contextos temporais específicos seriam organizadas por um a localizar a plataforma utilizando as pistas espaciais presentes no
sistema de memória denominado de memória operacional, sendo local (distais ou proximais). Entretanto, animais que foram expos-
mantidas por curtos períodos de tempo. As informações que são tos a algum procedimento que possa ter resultado em alterações no

394 395
SNC, como a desnutrição proteica precoce, apresentam deficit na de Morris; prejuízos estes que são acentuados se os animais são
tarefa de localizar a plataforma espacialmente[37-40]. submetidos a outros eventos ambientais, como a indução expe-
A utilização do labirinto aquático de Morris oferece vantagens rimental precoce de convulsão logo após o nascimento[45]. Outro
quando comparado a outros testes, pois não é necessária a utili- estudo utilizando o mesmo procedimento de desnutrição confir-
zação de privação de alimento ou reforços para motivar o com- mou esses dados mostrando prejuízos na aprendizagem e memória
portamento dos animais durante o procedimento de aprendizagem espacial dos animais testados no labirinto de Morris; porém, esses
espacial. É sabido que animais previamente desnutridos têm uma prejuízos foram revertidos quando se utilizou um procedimento de
maior motivação para reforços apetitivos, quando comparados enriquecimento ambiental dos animais que sofreram desnutrição
aos animais bem nutridos[43,44]. Dessa forma, a utilização do labi- no início da vida[46].
rinto aquático de Morris pode evitar alguns parâmetros confusos Os prejuízos causados pela desnutrição precoce em modelos
relacionados à motivação por alimento nos animais desnutridos. animais de aprendizagem e memória podem estar associados a ou-
Um modelo de desnutrição proteica por 49 dias de vida e recu- tras alterações motivacionais e emocionais também frequentemen-
peração nutricional até a idade adulta foi testado em duas tarefas te descritas em animais que foram desnutridos no início da vida.
de navegação espacial no labirinto aquático de Morris, avaliando Assim, poderia estar ocorrendo algum efeito de fatores motiva-
a memória espacial de referência. Os resultados obtidos nesse es- cionais e emocionais nos processos de aprendizagem e memória
tudo demonstraram que a desnutrição prejudicou o desempenho desses animais; efeitos estes que são altamente prováveis a partir
dos ratos quando é requerido o uso de estratégia de mapeamento de alguns estudos recentes[47-49].
espacial (plataforma submersa), tanto durante a aquisição da tare- Estudos com modelos animais de desnutrição são indispen-
fa, quanto depois de 28 dias (teste de retenção). Porém, quando a sáveis para o estudo de parâmetros morfológicos, neuroquímicos
tarefa não exige a utilização de mapeamento espacial (plataforma e neurofisiológicos envolvidos na expressão comportamental alte-
visível), não houve diferenças no desempenho de animais desnutri- rada após insultos nutricionais precoces. O entendimento desses
dos e controle[39]. processos é de fundamental importância para futuras aplicações
Se a desnutrição é imposta apenas durante a lactação (21 dias), em programas de atendimento e de recuperação de crianças que
os efeitos dependem do tipo de prática utilizada no treino para foram expostas à desnutrição no início da vida. O conhecimen-
estudar a memória espacial de referência no labirinto de Morris. to de processos básicos envolvidos no comportamento de animais
Dessa forma, não foram encontradas diferenças no desempenho de desnutridos submetidos a modelos animais de aprendizagem e me-
animais desnutridos e controle quando utilizado o protocolo expe- mória pode ser de extrema utilidade aplicada nos deficit compor-
rimental com práticas condensadas (8, 12 ou 24 tentativas diárias). tamentais produzidos pela desnutrição na população humana.
No entanto, quando utilizadas as práticas espaçadas (uma ou qua-
tro tentativas), houve um prejuízo no desempenho dos animais des-
nutridos. Esses mesmos resultados foram encontrados no teste de
retenção, realizado 7 e 28 dias após a aquisição do aprendizado[40].
Mesmo quando a desnutrição é mantida apenas nas duas pri-
meiras semanas de vida, observam-se prejuízos no desempenho
dos animais testados logo após o desmame no labirinto aquático

396 397
5. Referências bibliográficas 8. GALLER, J. R.; BRYCE, C.; WABR, D. P.; ZICLIN, M. L.; FITZ-
MAURICE, G. M.; EAGLESFIELD, D. Socioeconomic outcomes
1. ALAMY, M.; BENGELLOUN, W. A. Malnutrition and brain
in adults malnourished in the first year of life: a 40-year study.
development: an analysis of the effects of inadequate diet during
Pediatrics, Burlington, v. 130, n. 1, p. E1-E7, 2012.
different stages of life in rat. Neuroscience Biobehavioral Reviews,
San Diego, v. 36, n. 6, p. 1463-80, jul. 2012. 9. VICTORIA, C. G.; ADAIR, L.; FALL, C.; HALLAL, P. C.;
MARTORELL, R.; RICHTER, L. et al. Maternal and child under-
2. BOURRE, J. M. Effects of nutrients (in food) on the structure
nutrition: consequences for adult health and human capital. The
and function of the nervous system: update on dietary require-
Lancet, Londres, v. 371, p. 243-60, 2008.
ments for brain. Part 1: micronutrients. The Journal of Nutrition
Health and Aging, Paris, v. 10, n. 5, p. 377-85, 2006. 10. WALKER, S. P.; WACHS, T. D.; GRANTHAM-MCGREGOR,
S.; BLACK, M. M.; NELSON, C. A.; HUFFMAN, S. L. et al. Ine-
3. BOURRE, J. M. Effects of nutrients (in food) on the structure
quality is early childhood: risk and protective factors for early
and function of the nervous system: update on dietary require-
child development. The Lancet, Londres, v. 378, p. 1325-8, 2011.
ments for brain. Part 2: macronutrients. The Journal of Nutrition
Health and Aging, Paris, v. 10, n. 5, p. 386-99, 2006. 11. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE
UNITED NATIONS. The state of food insecurity in the world.
4. MORGANE, P. J.; MOKLER, D. J.; GALLER, J. R. Effects of
2012. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/016/i3027e/
prenatal protein malnutrition on the hippocampal formation.
i3027e.pdf. Acesso em: 03 fev. 2013.
Neuroscience Biobehavioral Reviews, San Diego, v. 26, p. 471-83,
2002. 12. GALLER, J. R.; SHUMSHY, J. S.; MORGANE, P. J. In: WA-
LKER, W. A.; WATKINS, J. (eds.). Malnutrition and brain deve-
5. WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Or-
lopment. Nutrition in Pediatrics. 2. ed. Neuilly Sur-Seine: Plenum
ganization Database on Child Growth and Malnutrition. 2011.
Press, 1995. p. 194-210.
Disponível em: http://www.who.int/nutgrowthdb/en. Acesso em:
03 fev. 2013. 13. MORGANE, P. J.; AUSTIN, K.; LAFRANCE, R. J.; BRON-
ZINO, J. D.; TONKISS, J.; DIAZ-CINTRA, S. et al. Prenatal mal-
6. WORLD HEALTH ORGANIZATON. Children: Reducing
nutrition and development of brain. Neuroscience Biobehavioral
Mortality. 2012. Disponível em: http://www.who.int/meadicenter/
Reviews, San Diego, v. 17, p. 91-128, 1993.
factsheets/fs178/en. Acesso em: 03 fev. 2013.
14. CAMBRAIA, R. P.; VANNUCCHI, H.; OLIVEI-
7. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesqui-
RA, L. M. Food intake and weight of lactating rats main-
sa de orçamentos familiares 2008-2009: Antropometria e estado
tained on different protein-calorie diets and pup growth.
nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. 2010.
Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Ribeirão
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/
Preto, v. 30, p. 985-8, 1997.
noticia_visualiza.php?id_noticia=1699&id_pagina=1. Acesso em:
03 fev. 2013. 15. ZHANG, Y.; LI, N.; YANG, Z. Perinatal food restriction impai-

398 399
red spatial learning and memory behavior and decrease the density 23. FERNANDES, R. M.; ABREU, A. V.; SILVA, R. B.; SILVA, D.
of nitric oxide synthesis neurons in the hippocampus of adult male F.; MARTINEZ, G. L.; BABINSKI, M. A. et al. Maternal malnu-
offspring. Toxicology Letters, Würzburg, v. 193, p. 167-72, 2010. trition during lactation reduces skull growth in weaned rat pups:
Experimental and morphometric investigation. Anatomical Scien-
16. OLIVEIRA, J. C.; GRASSIOLI, S.; GRAVENA, C.; MATHIAS, ce International, Tóquio, v. 83, p. 123-30, 2008.
P. C. F. Early post-natal low protein nutrition, metabolic program-
ming and the automomic nervous system in adult life. Nutrition & 24. PRESTES-CARNEIRO, L. E.; LARAYA, R. D.; SILVA, P. R. C.;
Metabolism, Londres, v. 9, n. 1, p. 80, 2012. MOLITERNO, R. A.; FELIPE, I.; MATHIAS, P. C. Long-term ef-
fect of early protein malnutrition on growth curve, hematological
17. BARNES, R. H.; NELLY, C. S.; KWONG, E.; LABADAN, B. parameters and macrophage function in rats. Journal of Nutrition
A.; FRANKOVA, S. Postnatal nutrition deprivations as determi- Science and Vitaminology, Tóquio, v. 52, p. 414-20, 2006.
nants of adult rats behavior toward food, its consumption and uti-
lization. The Journal of Nutrition, Bethesda, v. 96, p. 467-76, 1968. 25. MIÑASA-SOLIS, M. C.; ESCOBAR, C. Post-weaning protein
malnutrition in the rat produces short and long-term metabolic
18. ANTHONY, L. E.; EDOZIEN, J. C. Experimental protein and impairment, in contrast to earlier and later periods. International
energy deficiencies in rats. The Journal of Nutrition, Bethesda, v. Journal of Biological Science, Bethesda, v. 4, p. 422-32, 2008.
105, p. 631-48, 1975.
26. EICHENBAUM, H.; LIPTON, P. A. Towards a functional or-
19. CRNIC, L. S.; CHASE, H. P. Models of infantile malnutrition ganization of the medial temporal lobe memory system: Role of
in rats: effects on milk. The Journal of Nutrition, Bethesda, v. 108, the parahippocampal and medial entorhinal cortical areas. Hippo-
p. 1755-60, 1978. campus, Boston, v. 18, p. 1314-24, 2008.
20. LAGO, E. S.; TEODÓSIO, N. R.; ARAÚJO, C. R. C.; AZEVE- 27. GUPTA, N.; JING, Y.; COLLIE, N. D.; ZHANG, H.; LIU, P.
DO, C. A. N.; PESSOA, D. C. N. P.; CAMPOS, F. A. C. S. et al. Rat Ageing alters behavioural function and brain arginine metabolism
models of protein and protein-energy malnutrition. International in male Sprague-Dawley rats. Neuroscience, Durham, v. 226, p.
Journal for Vitamin and Nutrition Research, Cidade, v. 63, p. 52-6, 178-96, 2012.
1992.
28. BAYER, S. A. Development of hippocampal region in the rat II:
21. PASSOS, M. C. F.; RAMOS, C. F.; TEIXEIRA, C. V.; MOURA, Morphogenesis during embryonic and early postnatal life. Journal
E. G. Comportamento alimentar de ratos adultos submetidos à of Comparative Neurology, Nova Iorque, v. 190, p. 115-34, 1980.
restrição proteica cujas mães sofreram desnutrição durante a lac-
tação. Revista de Nutrição, Campinas, v. 14, p. 7-11, 2001. 29. GROSS, C. G. Neurogenesis in the adult brain: death of a dog-
ma. Nature, Londres, v. 109, n. 1, p. 67-73, 2000.
22. LOBE, S. L.; BERNSTEIN, M. C.; GERMAN, R. Z. Life-long
protein malnutrition in the rats (Rattus norvergicus) results in alte- 30. MATOS, R. J. B.; OROZCO-SOLIS, R.; SOUZA S. L.; CAS-
red pattern of craniofacial growth and smaller individuals. Journal TRO R. M.; BOLANOS-JIMENEZ, F. Nutrient restriction during
of Anatomy, v. 208, p. 795-812, 2006. early life reduces cell proliferation in the hippocampus at adul-

400 401
thood but does not impair neuronal differentiation process of the 39. FUKUDA, M. T. F.; FRANÇOLIN-SILVA, A. L.; ALMEIDA,
new generated cells. Neuroscience, Durham, v. 196, p. 16-24, 2011. S. S. Early postnatal protein malnutrition affects learning and me-
mory in the distal but not in the proximal cue version of the Mor-
31. ANDRADE, J. P.; MADEIRA, M. D.; PAULA-BARBOSA, M. M. ris Water Maze. Behavioural Brain Research, Düsseldorf, v. 133, p.
Evidence of reorganization in the hippocampal mossy fiber synapse 271-7, 2002.
of adults rats rehabilitated after prolonged undernutrition. Experi-
mental Brain Research, Heidelberg, v. 104, n. 2, p. 249-61, 1995. 40. VALADARES, C. T.; ALMEIDA, S. S. Early protein malnutri-
tion changes learning and memory in spaced but not in condensed
32. ANDRADE, J. P.; PAULA-BARBOSA, M. M. Protein malnu- trials in the Morris water maze. Nutritional Neuroscience, Filadé-
trition alters the cholinergic and GABAergic system of the hippo- lfia, v. 8, n. 1, p. 39-47, 2005.
campal formation of the adult rats: an immunicytochemical study.
Neuroscience Letter, New Haven, v. 211, p. 211-5, 1996. 41. OLTON, D. S.; PARAS, B. C. Spatial memory and hippocampal
function. Neuropsychologia, Dallas, v. 17, n. 6, p. 669-82, 1978.
33. ANDRADE, J. P.; MADEIRA, M. D.; PAULA-BARBOSA, M.
M. Evidence of long-term malnutrition and rehabilitation on the 42. MORRIS, R. G. M. Spatial localization does not require the
hippocampal formation of the adult rats: a morphometric study. presence of local cues, Learn Mot, Cidade, v. 12, p. 239-60, 1981.
Journal of Anatomy, Cidade, v. 187, n. 2, p. 379-93, 1995.
43. TONKISS, J.; GALLER, J. R. Prenatal protein malnutrition
34. WIGGINS, R. C.; FULLER, G.; ENNA, S. J. Undernutrition and working memory performance in adults rats. Behavioural
and the development of brain neurotransmitter system. Life Scien- Brain Research, Düsseldorf, v. 40, p. 95-107, 1990.
ce, Colúmbia, v. 35, p. 2085-94, 1984.
44. TONKISS, J.; SHULTZ, P.; GALLER, J. R. An analysis of spa-
35. ALMEIDA, S. S; TONKISS, J.; GALLER, J. R. Malnutrition and tial navigation in prenatally protein malnourished rats. Physiology
reactivity to drugs acting in the central nervous system. Neuros- and Behavior, Cincinnati, v. 55, p. 217-24, 1994.
cience Biobehavioral Reviews, San Diego, v. 20, p. 389-402, 1996.
45. HEMB, M.; CAMMAROTA, M.; NUNES, M. L. Effects of
36. O’KEEFE, J. B.; NADEL, R. The hippocampus as a cognitive early malnutrition, isolation and seizures on memory and spatial
map. Clarendon: Oxford England, 1978. learning in the developing rat. International Journal of Develop-
mental Neuroscience, Galveston, v. 28, n. 4, p. 303-7, jun. 2010.
37. BEDI, K. S. Spatial learning ability of rats undernourished du-
ring early postnatal life. Physiology and Behavior, Cincinnati, v. 46. SIMÃO, F.; PORTO, J. A.; NUNES, M. L. Effects of enriched
51, p. 1001-7, 1992. environment in spatial learning and memory of immature rats sub-
mitted to early undernourish and seizures. International Journal of
38. CÓRDOBA, N. E.; AROLFO, M. P.; BRIONI, J. D.; ORSIN- Developmental Neuroscience, Galveston, v. 30, n. 5, p. 363-7, ago.
GHER, O. A. Perinatal undernutrition impairs spatial learning in 2012.
recovered adult rats. Acta Physiologica, Pharmacologica et Thera-
peutica Latinoamericana, v. 4, n. 3, p. 70-6, 1994. 47. REYES-CASTRO, L. A.; RODRIGUEZ, J. S.; RODRÍGUEZ-

402 403
GONZÁLEZ, G. L.; WIMMER, R. D.; MCDONALD, T. J.; LAR- SOBRE OS AUTORES
REA, F. et al. Pre- and/or postnatal protein restriction in rats im-
pairs learning and motivation in male offspring. International
Journal of Developmental Neuroscience, Galveston, v. 29, n. 2, p. Sebastião de Sousa Almeida
177-82, abr. 2011.
Graduado em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências
48. REYES-CASTRO, L. A.; RODRIGUEZ, J. S.; CHARCO, R.; e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/
BAUTISTA, C. J.; LARREA, F.; NATHANIELSZ, P. W. et al. Ma- USP), Mestre e Doutor em Farmacologia pela Faculdade de Medi-
ternal protein restriction in the rat during pregnancy and/or lac- cina de Ribeirão Preto (FMRP/USP), Pós-Doutor pela Universida-
tation alters cognitive and anxiety behaviors of female offspring. de de Boston, nos Estados Unidos, Coordenador do Laboratório
International Journal of Developmental Neuroscience, Galveston, de Nutrição e Comportamento e Professor Titular do Departa-
v. 30, n. 1, fev. 2012. mento de FFCLRP/USP.
http://lattes.cnpq.br/4969850228167922
49. REYES-CASTRO, L. A.; RODRIGUEZ, J. S.; RODRÍGUEZ-
GONZÁLEZ, G. L.; CHAVIRA, R.; BAUTISTA, C. J.; MCDO-
NALD, T. J. et al. Pre- and/or postnatal protein restriction develo- Marisa Tomoe Hebihara Fukuda
pmentally programs affect and risk assessment behaviors in adult Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade de São Pau-
male rats. Behavioural Brain Research, Düsseldorf, v. 227, n. 2, p. lo (USP), Mestre e Doutora em Psicobiologia pela Faculdade de
324-9, 14 fev. 2012. Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP,
Professora Doutora do Departamento de Oftalmologia, Otorrino-
laringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço, Faculdade de Medi-
cina de Ribeirão Preto da USP.
http://lattes.cnpq.br/8758778313491827

Natália Nassif Braga


Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/
USP), Mestre e doutoranda em Psicologia pela mesma faculdade.

Lucas Duarte Manhas Ferreira do Vales


Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), Mestre e Doutor em Psicobiologia pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Uni-

404 405
versidade de São Paulo (FFCLRP/USP).
http://lattes.cnpq.br/6174172456313563

Roberto de Oliveira Soares


Graduado em Psicologia pela Universidade Federal de São
Carlos e Mestre e doutorando em Psicobiologia pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (FFCLRP/USP).
http://lattes.cnpq.br/7483505052656765

Camila Tavares Valadares


Graduada em Fisioterapia pela Universidade de Ribeirão Pre-
to, Mestre e Doutora em Psicobiologia pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(FFCLRP/USP) e Professora Doutora do Centro Universitário Cla-
retiano de Batatais, São Paulo.
http://lattes.cnpq.br/6168840928856304

406
Parte 3
psicologia médica
Uma introdução ao pensamento
depressivo do idoso
institucionalizado: aspectos
clínicos e neuropsicológicos
José Antônio Spencer Hartmann Júnior51
Giliane Cordeiro Gomes52

Resumo

O
envelhecimento populacional é um fenômeno que exige
um conjunto de modificações sistemáticas e comporta-
mentais em toda a sociedade, dentre as quais está o cui-
dado ao idoso. Notadamente um dos erros predominantes nesse
cuidado é pensar que a depressão é normal ou previsível com o
envelhecimento, resultando em subdiagnósticos e elevados índices
depressivos, principalmente na realidade de instituições de longa
permanência ao idoso (ILPIs). Desse modo, a presente discussão
visa a colaborar com a construção de um aporte teórico capaz de
avaliar e simplificar a compreensão das especificidades da depres-
são senil. O estudo versa qualitativamente através de uma revisão
integrativa. Os critérios de inclusão e exclusão para as pesquisas
consultadas foram extraídos de publicações entre os anos de 1990
e 2012. Os bancos de dados foram escolhidos de forma rando-
mizada entre estudos publicados em área da Ciência da Saúde.
Observa-se que é necessário um acompanhamento mais acurado
do idoso, de forma a distinguir o que pode ser considerado um de-

51. Professor Doutor da Universidade de Pernambuco (UPE).


52. Acadêmica do curso de Psicologia da UPE.

411
clínio normal de uma patologia, entendendo que a depressão senil é evidente, entretanto a doença em idosos permanece frequente-
é um fenômeno multifatorial e susceptível em ambientes de morbi- mente subdiagnosticada e fica, por isso, sem tratamento. Há muito
dez frequente. A compreensão da depressão deve ocorrer de forma se admite que a falta de tratamento tem sido atribuída à crença
sistemática e integrada, para que, enfim, possa ser diagnostica em vastamente difundida de que a depressão é normal ou previsível
sua minuciosidade, tendo em vista contribuir com a independência com o envelhecimento, visto que se convencionou o conceito do
e o bem-estar do idoso, considerando, inclusive, a possibilidade de processo de envelhecimento com uma diminuição gradual na qua-
algumas ILPIs atuarem como promotoras dessa sintomatologia. lidade de vida e o surgimento de estados depressivos; entretanto,
esses fatores não estão necessariamente relacionados.
O envelhecimento é um processo biológico apropriado e ela-
Introdução borado simbolicamente. Como categoria social e culturalmente
O estudo da senescência tem revelado que o processo de enve- construída, a velhice possui um componente preconceituoso e es-
lhecimento humano passou a ser considerado um importante fenô- tereotipado que a associa a múltiplas patologias, denotando um
meno social, em decorrência do aumento da expectativa de vida da período vital fragilizado e debilitado. A velhice, desta forma, es-
população, atribuído à melhoria das condições sociais e econômi- taria associada a representações que a qualificam como uma fase
cas, como também ao aperfeiçoamento tecnológico da Medicina. negativa do curso da vida[4].
Todavia, o envelhecimento populacional exige da sociedade em Culturalmente o envelhecimento é visto como um período de
geral mudanças sistemáticas e comportamentais, dentre as quais declínio das funções biológicas e cognitivas, imagem esta contestada
está o cuidado ao idoso. Respaldando essa discussão, Moreira e por Banhato et al.[5] ao alegar que pesquisas atuais confirmam a
Nogueira afirmam que esse tema é fundamental para a sociedade existência de numerosos padrões de envelhecimento, sugerindo que
do século XXI, devido às repercussões nas diferentes esferas da esse processo individual é uma experiência heterogênea. Bennet[6]
estrutura social, econômica, política e cultural[¹], o que torna o afirma que a maior parte da população idosa não apresenta declínio
envelhecer um campo privilegiado de investigação e que chama a cognitivo, ou seja, apresenta trajetória evolutiva estável e benigna,
atenção de pesquisadores nas mais diversas áreas. sendo que situações de desamparo e desestimulação podem contri-
Do ponto de vista da terceira idade, o retrato da população buir para que esse contexto mude, gerando algum declínio cognitivo.
brasileira ganhou novo feitio nos últimos anos, fato observado O envelhecimento deve ser compreendido como um fenôme-
pelo maior número de idosos na sociedade, confirmado por da- no que é biopsicossocial e que atinge o homem e toda a sua exis-
dos estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o tência na sociedade[7]; ou seja, trata-se de um processo constituído
IBGE[2]. Esse crescimento, nas últimas décadas, revela que o Brasil pelas idiossincrasias do sujeito e do seu meio social.
de jovens tem se tornado também um país com preocupações reais No tocante à experiência vivencial relacionada à terceira ida-
com os idosos. Baseado nisso, observa-se que atualmente a de- de, observa-se que as causas de depressão no idoso configuram-se
pressão é um problema de saúde pública, na medida em que afeta dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam fatores
amplo número de pessoas, gerando altos custos para assistência à genéticos, eventos vitais, como luto e abandono, doenças incapaci-
saúde e, especificamente, comprometendo a qualidade de vida do tantes, entre outros[8]. Sendo assim, é preciso também levar em con-
idoso e de seus cuidadores[3]. sideração que existem situações que tornam o sujeito susceptível ao
O atual aumento do interesse e das pesquisas sobre depressão estado depressivo, casos como diminuição do suporte sociofamiliar,

412 413
a perda do status ocupacional e econômico, o declínio físico conti- No tocante à institucionalização, esta consiste em internar o
nuado, perda do cônjuge e a maior frequência de doenças físicas são idoso em um estabelecimento cujo objetivo é oferecer abrigo e ali-
motivos suficientes para um expressivo rebaixamento do humor; mentação, normalmente não se constituindo em serviço de saúde.
entretanto, são situações que repercutem de forma singular na vida No Brasil, diferente de outros países, a maioria das ILPIs carac-
de cada sujeito e não características especificas do envelhecimento. teriza-se pela estrutura física inadequada e pela mão de obra não
Do ponto de vista biológico, durante o processo de envelheci- habilitada, o que repercute na qualidade dos cuidados oferecidos
mento é frequente o aparecimento de fenômenos degenerativos ou aos idosos[13].
doenças físicas capazes de produzir os sintomas característicos da No Brasil, em 2005, a Agência Nacional de Vigilância Sanitá-
depressão. Assim, as sintomatologias vigentes de depressão reati- ria, a ANVISA, na Resolução da Diretoria Colegiada nº 283, define e
va, depressão secundária e depressão endógena se confundem na classifica as instituições geriátricas no âmbito do Estado e diferencia
depressão senil[9]. as ILPIs (casas de assistência social) das casas de repouso, destinadas
Entende-se que, particularmente na população idosa, os qua- à assistência médica a idosos em regime de assistência asilar[14].
dros depressivos têm características clínicas intrigantes e coloca- Portanto, a institucionalização obtém um caráter prejudicial,
das da seguinte maneira: no momento em que para idosos com capacidades cognitivas con-
As diferenças de sintomatologia da depressão no idoso for- servadas, a institucionalização costuma trazer consigo uma série
talecem os argumentos que dizem ser este um tipo diferente de de detrimentos, tais como perdas de autonomia e identidade[15].
depressão a qual se apresentaria com sintomas somáticos e hipo- Corrobora as discussões construídas por Goffman[16], quando afir-
condríacos mais frequentes, e que haveria menos antecedentes fa- ma que no âmbito das instituições, o enfoque político dado às
miliares de depressão e pior resposta ao tratamento. Mas a tendên- pequenas coisas do cotidiano tornam-se instrumentos de controle,
cia atual não é apontar diferenças marcantes entre a depressão em dominação, “dessubjetivação”, estabelecendo, com isso, um pro-
idosos e a de outras faixas etárias, e sim enfatizar o que há de dife- cesso de “objetificação” do sujeito, que perde por desuso suas ha-
rente, que diz respeito à situação existencial específica do idoso[3]. bilidades sociais.
Muitos estudos sobre a depressão senil têm sido sugeridos; Passou-se a problematizar a institucionalização da velhice
entretanto, essa caracterização sintomatológica envolve desafios, como forma de pensá-la e percebê-la produzida por discursos de
principalmente quando se faz uso de instrumentos como escalas diferentes agentes como a mídia e o discurso gerontológico, que
de aferição. Acontece que a depressão em idosos é marcada por constroem as representações do envelhecimento e atravessavam as
um quadro de atipias; então, para poder diagnosticá-la, é preciso práticas presentes na instituição[4].
lançar um olhar para sua complexidade de forma integrada. Pesquisas apontam que os idosos institucionalizados compre-
O fato de as atipias serem variadas e numerosas pode contri- endem a transferência do lar para uma ILPI como desafio, pela
buir para o subdiagnóstico. Por esse motivo, as pesquisas têm fre- radicalidade da mudança a que são submetidos. Desse contexto fa-
quentemente incluído idosos com sintomatologia típica de depres- zem parte sentimentos de abandono pelos filhos, de perda de liber-
são diagnosticada clinicamente[3], resultando no subdiagnóstico de dade, de autonomia, de identidade, de isolamento e de inatividade
uma parcela significativa da população de idosos, especialmente física, especialmente quando as ILPIs contemplam exclusivamente
quando se considera que sua percepção de saúde é afetada por a assistência social[17-21].
condições sociais, econômicas e ambientais[10-12]. Segundo o Ministério da Saúde[22], em muitas situações no

414 415
Brasil o adoecimento é causado ou agravado por situações de do- A revisão integrativa inclui a análise de pesquisas relevantes
minação e injustiça social, o que é a realidade de muitas ILPIs. As que dão suporte para a tomada de decisão e a melhoria da prática
perdas relacionadas ao envelhecimento, somadas àquelas percebi- clínica, possibilitando a síntese do conhecimento desenvolvido a
das a partir da institucionalização, são reconhecidamente fatores partir de um determinado assunto, além de apontar lacunas do
de risco para depressão[3]. conhecimento que precisam ser aperfeiçoadas com a realização de
Assim, o desafio encontrado neste estudo advém, dentre ou- novos estudos[27].
tros, da dificuldade de diagnosticar e, assim, de tratar a depressão Os bancos de dados visitados foram Scielo, Pubmed e BVS,
do idoso institucionalizado, já que a sintomatologia nele é mais e ocorreram de forma randomizada nos campos científicos refe-
complexa, porque está relacionada a outras comorbidades e con- rentes à área de saúde, tendo como critério de inclusão e exclusão
junturas emaranhadas ao envelhecimento não submetido ao cui- artigos publicado entre os anos de 1990 e 2012, buscando temas
dado adequado. Destarte, é possível construir um aporte teórico relacionados com o objeto do trabalho.
capaz de subsidiar esse estudo que busca trazer, para as discussões Os critérios de inclusão dos artigos foram a disponibilização
neurocientíficas, as questões referentes à depressão senil em âmbi- dos resumos em português e inglês, cuja metodologia permitisse
tos institucionais, isto, do momento em que, mesmo norteados por obter evidências fortes, incluindo revisões sistemáticas com ho-
esse tema, lançamos mão de conceitos referentes à clínica psicoló- mogeneidade, metanálises e ensaios clínicos. Portanto, equivale a
gica, à neuropsicologia e aos padrões sociais desse fenômeno. uma pesquisa bibliográfica, uma vez realizada a partir do regis-
tro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos
impressos ou virtuais, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de
Métodos dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesqui-
O método utilizado neste estudo é de natureza qualitativa, sadores e devidamente registrados[28]. Seguindo os preceitos pre-
fazendo uso de uma abordagem dialética, na qual se procura con- conizados por Minayo apud Granger[23], em que um verdadeiro
textualizar epistemologicamente a depressão no âmbito institu- modelo qualitativo descreve, compreende e explica, trabalhando
cional da ILPI, buscando respectivamente suas características em exatamente nessa ordem.
uma singularidade própria, entendendo-se que essas singularida-
des contêm o conjunto das determinações da totalidade[23].
Resultados e discussão
Ao defender a plausibilidade da corrente compreensivista,
Durkheim[24] afirma que é possível traçar uniformidade e encon- A depressão é a doença psiquiátrica mais comum entre os ido-
trar regularidades no comportamento humano; com isso, torna a sos, frequentemente sem diagnóstico, sem tratamento e que mais
análise teórica um instrumento de caracterização do essencial nos afeta sua qualidade de vida. Com isso, é necessário levar em consi-
fenômenos e processos sociais. deração que a depressão em idosos tem fundamentalmente um ca-
O método adotado como meio para elaboração desse estudo ráter multifatorial. Em ressalva, como mostra Ávila R. e Bottino[29],
foi a revisão integrativa, em seu método preconizado por Torra- ainda ocorre, com frequência, acompanhada por deficit cognitivos.
co[25] e Whittemore & Knafl[26], permite a composição de múltiplos As funções cognitivas usualmente encontradas em declínio na
resumos a respeito de estudos publicados e possibilita conclusões terceira idade são:
gerais sobre um dado tema de estudo. Incapacidade de lidar com tarefas que exigem flexibilidade

416 417
mental e velocidade no processamento de informações; diminui- O idoso institucionalizado transforma-se em uma pessoa iso-
ção na velocidade de aquisição e recuperação espontânea de mate- lada, ociosa e acomodada, perdendo por inércia as aptidões físicas
riais verbais e não verbais, aliado a um mais rápido esquecimento e sociais, com isso se fecha em um círculo vicioso socialmente iso-
dos mesmos, como também de queixas frequentes de dismnésia[30]. lado, sente-se frágil, fraco, inoperante, podendo ser acometido por
Para os idosos, a autoavaliação negativa do estado de saúde diversos tipos de sofrimento psíquico, entre eles a depressão[36].
está relacionada à perda da capacidade de realização das tarefas Sendo assim, o dia a dia institucional precisa ser avaliado por-
diárias, independente das funções cognitivas, enquanto que, para menorizadamente, visto o fato de que segundo Teixeira[37], o even-
os profissionais de saúde, a avaliação é pautada em parâmetros ob- tual declínio das capacidades cognitivas ocorrem mais pela falta de
jetivos[31]. Ou seja, a importância dada à autopercepção dos idosos uso e de estimulação, do que devido a uma deterioração irreversível.
referentes à sintomatologia depressiva requer precaução quando Uma saída encontrada para essa situação é o projeto Huma-
se consideram as perdas cognitivas. Alguns estudos indicam que nizaSUS, desenvolvido pelo Ministério da Saúde, que lança uma
idosos com perdas cognitivas tendem a autoavaliar mais frequen- proposta inovadora para os profissionais da saúde, a Clínica Am-
temente seu estado de saúde como bom[32, 33], tornando necessário, pliada, que busca desenvolver, nesses profissionais, uma práxis
na maioria das vezes, um acompanhamento mais acurado do ido- mais responsável, integrada e intersetorializada. Funcionalmente
so, de forma a distinguir o que pode ser considerado um declínio coerente com as necessidades da terceira idade, sejam moradores
normal de uma patologia ou ainda que se possa, a partir das ob- de ILPIs ou em comunidades. Tornando-se, assim, uma forma de
servações do quadro geral relativo às capacidades cognitivas des- acabar com esse ritual assistencialista ultrapassado e entranhado
te, identificar potenciais riscos de desenvolvimento de patologias no cuidado ao idoso[22].
futuras, no caso, um processo depressivo. A Clínica Ampliada propõe que o profissional de saúde desen-
O estudo de Carneiro et al.[34] confirma o dado de que a au- volva a capacidade de ajudar às pessoas não só a combater as do-
sência de convívio social causa severos efeitos negativos, além de enças, mas a transformar-se, de forma que a doença, mesmo sendo
depressão. Portanto, a capacidade de interagir socialmente é fun- um limite, não as impeça de viverem outras coisas na sua vida. Ou
damental para o idoso conquistar e manter redes de apoio social e, seja, como é postulado, consiste em equilibrar o combate à doença
consequentemente, garantir melhor qualidade de vida e diminuir o com a produção de vida[22].
risco de desenvolver depressão[33]. Partindo dessa perspectiva da Clínica Ampliada, Maia, Castro
Na realidade das ILPIs, além do rompimento com seu espa- e Jordão[4] desenvolveram um trabalho norteador dentro desses
ço físico natural, o idoso se vê isolado socialmente, com perda conceitos, partindo da criação de espaços individuais e coletivos
de liberdade, autoestima e identidade; percebe-se só e dependente; de acolhimento das experiências de ser um sujeito dentro da ILPI.
portanto, vulnerável à depressão[13]. Segundo Porcu[36], a individu- O objetivo desses pesquisadores era uma retificação das subjetivi-
alidade e o poder de escolha são substituídos pelo sentimento de dades, oferecendo uma escuta estendida do sofrimento, das quei-
ser apenas mais um dentro daquela coletividade. xas e dores, das necessidades, dos sentidos, ou seja, das formas
As pesquisas demonstram alto percentual de depressão em de subjetivação emergentes e suas implicações inerentes à vida de
idosos institucionalizados, despertando o questionamento de uma cada sujeito envolvido nesse trabalho, criando-se, assim, um espa-
associação entre assistência em ILPI ao idoso e maior frequência ço onde o idoso possua vez e voz, tendo, portanto, a possibilidade
de depressão[3]. de que os seus sintomas sejam compreendidos em sua totalidade.

418 419
Considerações finais Referencial teórico
A partir das discussões referentes à normalidade neurobio- 1. MOREIRA, V.; NOGUEIRA, F. Do indesejável ao inevitável: a
lógica e comportamental do processo de envelhecimento e às au- experiência vivida do estigma de envelhecer na contemporaneida-
tênticas características da depressão senil é que se alicerça a preo- de. Psicologia USP, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 59-79, 2008.
cupação de que eventos considerados fisiológicos ou naturais no
envelhecimento evoluam para transtornos psicológicos severos, 2. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse
causando declínios cognitivos que poderiam ser evitados. Desse do censo demográfico 2011. Brasília, DF, 2011. 36 p.
modo, é preciso enfatizar a necessidade observada de que campa-
3. HARTMANN Jr., J. A. S. Depressão em idosos institucionaliza-
nhas governamentais de conscientização e intervenção sejam de-
dos: características clínicas, variáveis psicossociais e qualidade de
senvolvidas para a população de forma geral, tendo em vista uma
vida. 2012. Número de páginas. Tese (Mestrado em ...) – Centro
ação eficaz de promoção e prevenção da saúde pública e especifi-
de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Pernambuco, Reci-
camente dentro das ILPIs, para que ações que visem à qualidade de
fe, 2012.
vida desses sujeitos possam ser planejadas e alcançadas.
A escassez de recursos nas ILPIs, a exemplo de atividades de 4. MAIA, G. F.; CASTRO, G. D.; JORDÃO, A. B. Ampliando a
lazer, ocupação e saúde, é um fator que, apesar de muitas vezes clínica com idosos institucionalizados. Revista Mal-estar e Subjeti-
passar despercebido pelos cuidadores, também explica os índices vidade, Fortaleza, v. 10, n. 1, p. 193-210, 2010..
de sintomas depressivos e aponta para possíveis estratégias de
otimização e aprimoramento da atenção ao idoso, assim como a 5. BANHATO, E. F. C.; SCORALICK, N. N.; GUEDES, D. V.; ATA-
implementação de aspectos postulados pela Clínica Ampliada do LAIA-SILVA, K. C.; MOTA, M. M. P. E. Atividade física, cognição
projeto HumanizaSUS a atenção à terceira idade. e envelhecimento: estudo de uma comunidade urbana. Psicologia:
Outro fator percebido faz menção à necessidade de com- Teoria e Prática, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 76-84, 2009.
preender a depressão de forma sistemática e integrada e de diag-
nosticá-la em sua minuciosidade, dado o fato de que a depressão 6. BENNETT, D. A.; WILSON, R. S.; SCHNEIDER, J. A.; EVANS,
compromete a independência, favorecendo a institucionalização, D. A.; BECKETT, L. A.; AGGARWAL, N. T. et al. Natural history
a qual pode contribuir para seu agravamento. Portanto, é nessa of mild cognitive impairment in older persons. Neurology, Boston,
relação simbiótica que se entende a importância de conhecer a sin- v. 59, n. 2, p. 198-205, 2002.
tomatologia do idoso institucionalizado para assim melhor apurar
7. CHEIK, N. C.; REIS, I. T.; HEREDIA, R. A. G.; VENTURA,
se seus sintomas podem ser minimizados ou mesmo exacerbados
M. L.; TUFIK, S.; ANTUNES, H. K. M.; MELLO, M. T. Efeitos
pela institucionalização.
do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade
em indivíduos idosos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento,
Brasília, v. 11, n. 2, p. 45-52, 2003.

8. STELLA, F.; GOBBI, S.; DANILLA, I.; CORAZZA, D. I.; COS-


TA, J. L. R. Depressão no idoso: diagnóstico, tratamento e benefí-

420 421
cios da atividade física. Motriz, Rio Claro, v. 8, n. 3, p. 91-8, 2002. 17. FREIRE Jr., R. C.; TAVARES, M. F. L. A saúde sob o olhar do
idoso institucionalizado: conhecendo e valorizando sua opinião.
9. GARCIA, A.; PASSOS, A.; CAMPO, A. T.; PINHEIRO, E.; BAR- Interface – Comunicação Saúde Educação, Botucatu, v. 9, n. 16, p.
ROSO, F.; COUTINHO, G. et al. A depressão e o processo de en- 147-158, 2005.
velhecimento. Revista Ciência e Cognição, Rio de Janeiro, v. 7, p.
111-21, 2006. 18. HEGDE, V. N.; KOSGI, S.; RAO, S.; NAGESH, P.; MUDGAL,
S. M. A study of psychiatric and physical morbidity among resi-
10. FERNANDEZ-MARTINEZ, B.; PRIETO-FLORES, M. E.; dents of old age home. International Journal of Research in Health
FORJAZ, M. J.; FERNÁNDEZ-MAYORALAS, G.; ROJO-PÉ- Sciences, Tirupati, v. 2, n. 1, p. 57-74, 2012.
REZ, F.; MARTÍNEZ-MARTÍN, P. Estado de saúde percebido em
idosos: desigualdades regionais e sociodemográficas na Espanha. 19. LIMA-COSTA, M. F. Epidemiologia do envelhecimento no
Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 46, n. 2, p. 310-9, 2012. brasil. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA-FILHO, N. (org.).
Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 499-513.
11. HOLROYD, A.; CLAYTON, A. H. Measuring depression in
the elderly: which scale is best? Medscape General Medicine, Nova 20. PAVAN, F. J.; MENEGHEL, S. N.; JUNGES, J. R. Elderly wo-
Iorque, v. 2, n. 4, 2002. Disponível em: http://www.medscape.com/ men dealing with institutionalization. Cadernos de Saúde Pública,
viewarticle/430554. Acesso em: 10 de dezembro de 2013. Rio de Janeiro, v. 24, n. 9, p. 2187-90, 2008.

12. RABELO, D. F. Comprometimento cognitivo leve em idosos: 21. VIVAN, A. S.; ARGIMON, I. I. L. Coping strategies, functio-
avaliação, fatores associados e possibilidades de intervenção. Kai- nal diffi culties, and associated factors in institutionalized elderly.
rós Gerontologia, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 65-79, 2009. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 436-44,
2009.
13. FREITAS, M. A. V.; SCHEICHER, M. E. Quality of life of ins-
titutionalized elderly. Revista Brasileira Geriatria e Gerontologia, 22. BRASIL. Ministério da Saúde. Núcleo Técnico da Política Na-
Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 395-401, 2010. cional de Humanização. HumanizaSUS: a clínica ampliada. Brasí-
lia, DF, 2004.
14. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
nº 283, de 26/9/2005. Brasília, DF, 2005. 23. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qua-
litativa em saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec/ABRASCO, 1994.
15. JESUS, I. S.; SENA, E. L. S.; MEIRA, E. C.; GONÇALVES,
L. H. T.; ALVAREZ, A. M. Cuidado sistematizado a idosos com 24. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo:
afecção demencial residentes em instituições de longa permanên- Abril, 1978. (Coleção Pensadores).
cia. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 31, n. 2, p.
285-92, 2010. 25. TORRACO, R. J. Writing integrative literature reviews: Guide-
lines and examples. Human Resource Development Review, Fila-
16. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. 8. ed. São délfia, n. 4, p. 356, 2005.
Paulo: Pespectiva, 2008.

422 423
26. WHITTEMORE, R.; KNAFL, K. The integrative review: up- D.; PRETTE, A. D. Qualidade de Vida, Apoio Social e Depressão
date methodology. Journal of Advanced Nursing, Hull, v. 52, n. 5, em Idosos: Relação com Habilidades Sociais. Psicologia: Reflexão
p. 546-53, 2005. e Crítica, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 229-37, 2007.

27. MENDES, K. D. S.; SILVEIRA, R. C. C. P.; GALVÃO, C. M. 35. PORCU, M.; SCANTAMBURLO, V. M.; ALBRECHT, N. R.;
Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de SILVA, S. P.; VALLIM, F. L.; ARAÚJO, C. R. et al. Estudo compa-
evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enfer- rativo sobre a prevalência de sintomas depressivos em idosos hos-
magem, Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 758-64, 2008. pitalizados, institucionalizados e residentes na comunidade. Acta
Scientiarum, Maringá, v. 24, n. 3, p. 713-7, 2002.
28. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed.
São Paulo: Cortez, 2007. 36. HARTMANN, J. A. S. J.; SILVA, R. A.; BASTOS, O. Idosos
institucionalizados: relação de estados depressivos com sintomas
29. ÁVILA, R.; BOTTINO, C.; MACHADO, C. Atualização sobre físicos e cognitivos. Revista de Neurobiologia, Recife, v. 72, n. 3,
alterações cognitivas em idosos com síndrome depressiva. Revista jul./set. 2009.
Brasileira de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v. 28, n. 4, p. 316-20,
2006. 37. TEIXEIRA, L. M. F. Solidão, depressão e qualidade de vida em
idosos: um estudo avaliativo exploratório e implementação-piloto
30. MATTOS, P.; LINO, V.; RIZO, L.; ANFANO, A.; ARAÚJO, C.; de um programa de intervenção. Dissertação de Mestrado na Uni-
RAGGIO, R. Memory complaints and test performance in healthy versidade de Lisboa. Lisboa, Portugal, 2010.
elderly persons. Arquivos de Neuropsiquiatria, São Paulo, v. 61, n.
4, p. 920-4, 2003.

31. PRATO, R.; MARTINELLI, D.; FUSCO, A.; PANEBIANCO,


A.; LOPALCO, P. L.; GERMINARIO, C. A. et al. The perception
of healthcare quality of elderly in the city of Bari, South Italy. BMC
Health Services Research, Londres, v. 7, p. 174-84, 2007.

32. FREITAS, D. H. M.; CAMPOS, F. C. A.; LINHARES, L. Q.;


SANTOS, C. R.; FERREIRA, C. B.; DINIZ, B. S. et al. Self-percep-
tion of health and cognitive performance in community-dwelling
elderly. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 37, n. 1, p.
32-5, 2010.

33. GILMOR, H. Cognitive performance of Canadian seniors. He-


alth Reports, Toronto, v. 22, n. 2, p. 1-5, 2011.

34. CARNEIRO, R. S.; FALCONE, E.; CLARK, C.; PRETTE, Z.

424 425
Sobre os autores Atenção
Valdenilson Ribeiro Ribas53
José Antônio Spencer Hartmann Júnior
Renata de Melo Guerra Ribas54
Possui graduação em Relações Públicas pela Escola Superior
de Relações Públicas (1992), graduação em Psicologia Clínica pela
Faculdade de Ciências Humanas ESUDA (2003) e mestrado em Psi-
cologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (2006).
Doutorando em Neuropsiquiatria pela Universidade Federal de
Pernambuco, atualmente é professor concursado da Universidade Você absorve melhor o conteúdo
de Pernambuco (UPE) do curso de Psicologia. Leciona disciplinas de um texto lendo em voz baixa ou alta?

E
como Psicologia Experimental, História da Psicologia, Psicolo-
ntre as diversas ferramentas neurocognitivas, a atenção pa-
gia Clínica, Metodologia Científica, Psicopatologia Fundamental
rece depender da parceria da memória-visão-audição e de
I e II, Psiquiatria Clínica, Psicofarmacologia e Psicologia Social.
várias funções associativas do córtex parieto-occipitotempo-
Professor do curso de pós-graduação da UPE em Psicopedagogia
ral, dentre elas, a capacidade de orientação e tato. Na falta de uma
com a disciplina Psicologia da Aprendizagem. Lecionou nos cursos
delas, parece haver um processo de superação por compensação. O
de Gestão de Pessoas e Gestão Hospitalar na área do Comporta-
mais interessante é que, embora haja um funcionamento dentro de
mento Humano da Faculdade Boa Viagem. Tem experiência na
uma engrenagem onde cada uma tem a sua importância, essa or-
área de Psicologia Cognitiva e Filosofia com ênfase em História
ganização de funcionamento não é a mesma em todas as pessoas[1].
e Teorias e Sistemas em Psicologia, atuando principalmente nos
Assim, não tem sentido a frase “leia baixinho para não inco-
seguintes temas: neurocognição; neuropsiquiatria e psicogeriatria.
modar as outras pessoas”, e sim, “leia em voz alta mesmo, mas em
Trabalha em projetos de pesquisa em depressão de idosos em suas
outro lugar, para não incomodar as outras pessoas”. O problema
características clínicas, variáveis psicossociais e qualidade de vida.
do incômodo deve ser resolvido por deslocamento e não forçando
Ocupou o cargo de Coordenador do curso de Psicologia da UPE.
uma pessoa que tem maior capacidade de absorção das informa-
Áreas de pesquisa em Psicopatologias Social e Clínica com ênfase
ções pela audição a ler em voz baixa. Em outras palavras, essa pos-
em Psicologia e Psiquiatria.
tura reflete um modelo educacional que enxerga as pessoas como
http://lattes.cnpq.br/4119168082525851
sendo todas iguais[2].
Recentemente, alguns autores, como Aguiar et al.[2], demons-
Giliane Cordeiro Gomes traram que adolescentes entre 15 e 17 anos, com transtorno de de-
ficit de atenção e hiperatividade (TDAH) apresentam maior nível
Graduanda em Psicologia pela Universidade de Pernambuco. de atenção auditiva. Embora, esse estudo seja apenas exploratório,
http://lattes.cnpq.br/5106582808955020 ou seja, inicial e que ainda não tenha robustez para ser generali-
53. Resumo de currículo no final do artigo.
54. Resumo de currículo no final do artigo.

426 427
zado para todos os adolescentes com TDAH, desperta bastante A capacidade de atenção é justamente o trunfo dessa teoria,
curiosidade, além de ser animador, porque pode ser a trilha que os ou seja, é o que ela apresenta a mais do que outros autores apresen-
educadores estejam precisando para estabelecer novos modi ope- taram outrora; e é nesse ponto que entra a memória: eles propõem
randi para lidar com estudantes com transtorno de deficit de aten- que a capacidade de atenção seja dividida em armazenamento de
ção e hiperatividade no processo de aprendizagem. informações (memória), manipulação mental (o que Piaget chama-
Os autores supracitados trabalharam com um modelo de teo- va de reversibilidade de pensamento, que é a capacidade de pensar
ria sobre atenção proposto por dois autores, Mateer & Mapou, em de trás pra frente, que pode ser soletrar uma palavra ao contrário
1996, muito embora vários outros modelos tenham sido apresen- ou dizer uma sequência de dígitos ao contrário) e resistência à
tados na década de 1980. A escolha dessa teoria se deu, segundo interferência (se o sujeito se distrai com facilidade ou não). Para
os autores, no mesmo artigo, devido ao fato de Mateer & Mapou avaliar a capacidade de atenção de um sujeito, eles propuseram
terem conseguido integrar todas as teorias anteriores em um só que fossem utilizados os seguintes testes: span de dígitos em ordem
modelo. Enquanto vários autores se detiveram apenas no direcio- direta, span de dígitos em ordem inversa e o Paced Auditory Serial
namento da atenção, eles foram além, porque disseram que não Addition Test (PASAT) para armazenamento de informações, ma-
existe atenção sem memória. Se alguém disser “coloque seu foco de nipulação mental e resistência à interferência respectivamente[6].
atenção no trinco da porta”, se você enxerga, imediatamente utili- Assim, pode-se pensar em várias soluções para melhorar a
zará a sua atenção visual, olhando para o trinco da porta. Mas, por aprendizagem de um indivíduo com TDAH. Dentre elas, estimulá
que você vai olhar exatamente para o trinco da porta e não para -lo a fazer realmente a leitura em voz alta, a gravar a própria voz
uma lâmpada? Justamente porque você vai buscar, na sua memó- e a escutá-la depois ou fazer uso de programas de computadores
ria, o que é porta e o que é trinco. Por isso, eles foram muito felizes utilizados por pessoas cegas, nos quais se digita o texto ou insere-
quando acrescentaram que se um psicólogo ou neuropsicólogo for se o texto já pronto em Word ou PDF no programa e se executa.
avaliar a atenção, deverá avaliar também a memória[3]. Nesse momento, uma voz feminina ou masculina, que já gravou
Assim, Mateer & Mapou estabeleceram que existiriam duas todas as possíveis palavras existentes naquela língua, irá ler para
grandes áreas envolvidas com a atenção. Na tradução, alguns au- o sujeito. Com isso, se a pessoa, além de ter transtorno de defi-
tores brasileiros acharam melhor utilizar o termo “fatores” para cit de atenção, apresentar também hiperatividade, poderá ficar se
não haver confusão com áreas cerebrais. Com isso, classificaram movimentando normalmente no local que estiver estudando, mas,
os dois grandes fatores, como sendo de distribuição de atenção e estará escutando a leitura do texto que precisa estudar por meio
capacidade de atenção[4]. do aparato para cegos.
A distribuição envolve nível de vigília (se o sujeito está des- Isto significa que a pessoa com TDAH estará absorvendo o
perto, sonolento, torporoso ou comatoso), foco de atenção (para texto, independente de se priorizar a concentração, mas pela aten-
onde o sujeito direciona a sua atenção) e manutenção do foco (se ção auditiva que envolve memória auditiva[2].
o sujeito consegue manter o direcionamento da sua atenção sem se Diversas outras pesquisas estão sendo realizadas no Brasil,
distrair). Para avaliar a distribuição de atenção, Mateer & Mapou sobretudo, no Estado de Pernambuco, desde 2008, com o intuito
sugerem os seguintes testes: Digit Symbol, Teste das Trilhas versão de aprofundar o entendimento do modelo teórico de Mateer &
A e/ou B e Teste D2 para nível de vigília, foco e manutenção de Mapou; em alguns casos, acrescentando-se algumas adaptações.
foco respectivamente[5]. Uma dessas adaptações surgiu no estudo de Ribeiro et al.[1],

428 429
em que se observou e demonstrou-se uma maior capacidade de menos de cinco anos daqueles com mais de cinco anos na profissão.
atenção visual em pessoas surdas quando comparadas as pessoas Após a aplicação dos testes de atenção, esses autores observaram
ouvintes. Essa pesquisa tem uma grande relevância no seu papel que manipuladores de alimentos com mais de cinco anos apresenta-
social, porque tira os surdos do cenário estigmatizador e coloca-os ram redução do foco de atenção, da atenção auditiva e da resistên-
em um patamar de metanormalidade, ou seja, acima até do nor- cia à interferência, comparados àqueles com menos de cinco anos
mal. Sai de aquém para além. Isso significa um estímulo para um na profissão. Assim, pensou-se: o estresse pode reduzir a atenção[8].
novo olhar dos empregadores. Logo após esse estudo, Ribas et al. resolveram avaliar o efei-
Os empregadores têm o dever de contribuir com a inclusão to do estresse na atenção de 30 controladores de tráfego aéreo
profissional de deficientes, uma vez que a Constituição Federal de de uma população de 120 controladores do Centro de Controle
1988, por meio da Lei nº 8.213/91, que estabeleceu às empresas de Área da cidade do Recife e observaram que esses profissionais
com mais de 100 funcionários a obrigatoriedade da contratação apresentaram maior foco de atenção, manutenção do foco, capaci-
de 2% a 5% de pessoas com deficiência em seus quadros. Entre- dade de manipulação mental e resistência à interferência, quando
tanto, o próprio processo parece dificultar a vida dos deficientes, comparados aos operadores de informações aeronáuticas (AIS) da
deixando-os à mercê de uma lei que enfatiza a deficiência e não as mesma faixa etária[3].
qualidades da pessoa com deficiência[7]. O estudo supracitado demonstrou que o estresse nos contro-
Nesse sentido, o estudo de Ribeiro et al. afasta-os do estig- ladores de voo não afeta o nível de atenção, mas outro estudo, rea-
ma de deficiente para além da normalidade, o que pode estimular lizado no ano seguinte por Ribas et al., demonstrou que o estresse
maior contratação dos surdos quando tiverem contato com esses nesses mesmos profissionais provocou redução na resposta imu-
resultados e, principalmente, perceberem que maior atenção visual nológica (diminuição de leucócitos totais, da taxa de fagocitose
pode significar menor possibilidade de distração e maior produ- em monócitos e do óxido nítrico)[9]. E ficou a pergunta: por que o
ção, o que irá gerar mais lucro. estresse afetou o nível de atenção dos manipuladores de alimentos,
Alguns estudos desse grupo de Pernambuco estimularam uma mas não dos controladores de voo?
curiosidade que os levaram a algumas discussões e inferências. O Menezes et al. demonstraram um alto nível de atenção em
primeiro deles foi o de Guerra-Ribas et al., que avaliou os níveis crianças cujos pais possuem o hábito de leitura e nível superior. Esse
de atenção de manipuladores de alimentos de um hospital públi- mesmo estudo apresentou outras pesquisas que demonstravam, por
co de Recife[8]. O risco de uma redução do nível de atenção dos tomografia por emissão de pósitrons, que, quanto mais as ferra-
manipuladores de alimentos de um hospital está na possibilidade mentas cognitivas são usadas por meio de leitura, atividade física e
de haver troca nas porções descritas no cardápio preparado pela novas aprendizagens, melhor para o sistema neurocognitivo[10].
nutricionista de plantão e também de acidentes na cozinha. Rodrigues et al. avaliaram a participação em movimentos cul-
Guerra-Ribas et. al. avaliou primeiro os níveis de estresse dos turais no nível de atenção em estudantes do gênero masculino e
67 manipuladores de alimentos com o Inventário de Sintomas de encontraram foco de atenção e span de atenção aumentados[11].
Stress em Adultos de Lipp (ISSL) e observou que havia um padrão Como os movimentos culturais são momentos extraclasses onde
elevado em funcionários com mais de cinco anos na profissão apre- os alunos se reúnem para fazer leituras coletiva, envolvendo polí-
sentando estresse, na fase de resistência e com predominância psico- tica, histórias culturais, filosóficas e jogos que estimulam o racio-
lógica; assim, resolveu dividir os manipuladores de alimentos com cínio lógico-matemático, como xadrez, dominó, etc., as hipóteses

430 431
de Menezes et al. quanto ao deslocamento do fluxo sanguíneo pelo própria profissão exige o exercício diário do uso da Matemática
uso das estruturas cognitivas parecem fazer sentido[10,11]. e Física, pois esses profissionais trabalham com cálculos rápidos,
Nesse contexto, o estudo acima mencionado, reforça ainda envolvendo diferentes tipos de velocidades, como a velocidade em
mais o entendimento de que quanto mais se usa o sistema cortical relação ao solo e a velocidade indicada no painel da aeronave, que
superior, mais se mantém distante de efeitos deletérios provocados leva em conta o retardo provocado pelos efeitos dos ventos e for-
pelo estresse. Nessa mesma linha de raciocínio, é possível dialogar mações meteorológicas e, em momentos de queda da visualização
com a hipótese de que se os manipuladores de alimento são traba- do radar, esses profissionais ainda precisam calcular rapidamente
lhadores de mão de obra, logo fazem pouco uso da instância de pla- o tempo estimado de chegada de cada aeronave para evitar coli-
nejamento do lobo pré-frontal. Já os controladores de tráfego aéreo sões no ar. Além dessa separação longitudinal, precisam ainda se
trabalham o tempo todo com planejamento, raciocínio rápido, me- preocupar com separações verticais, monitorando também razões
mória, linguagem, inteligência, execução e tomada de decisão rápi- de decidas que são dadas em pés por minuto[12]. Enfim, lidam mui-
da. Essas constantes utilizações das ferramentas cognitivas propor- to com Matemática, por isso, existe a necessidade da elaboração
cionam deslocamentos do fluxo sanguíneo, oxigenam diversas áreas de novos testes; dessa vez, com frases ou palavras ou até objetos.
cerebrais e ativam várias sinapses por meio dos neuropeptídios libe- É importante lembrar que a confiança de um determinado
rados pelo hipotálamo diante de cada pensamento temático. corpo teórico em relação a qualquer fenômeno deve ser sempre
Parece haver uma semelhança com a água parada, que possibi- testada e contestada constantemente por meio de diversos estudos
lita o depósito de ovos por mosquitos, que se transformam em lar- exploratórios ao longo dos anos, até chegar a um nível de fide-
vas e novamente mosquitos adultos e, no final, transmitem doenças dignidade de alta segurança e bastante robustez, contudo sempre
para os seres humanos. Da mesma forma, parece que estruturas neu- haverá exceções às regras, em outras palavras, desvios padrões que
rocognitivas paradas ficam expostas aos efeitos nocivos do estresse. podem ser para mais ou para menos.
Não significa que as pessoas que trabalham com a men- Este capítulo, que enfatiza a relevância da teoria de atenção
te constantemente estejam imunes às ações danosas do estresse. de Mateer & Mapou, não é somente uma apresentação de alguns
É evidente que, quando não há catarse por uma porta, a evasão estudos, demonstrando a eficácia deste corpo teórico, mas, de certa
acontece por outra, como no caso dos controladores de voo, que forma, um convite ao desafio de explorar mais ainda essa visão
não foram afetados no desempenho da atenção, mas, sim nas de- ampla sobre a atenção humana. Os testes propostos pelos mento-
fesas imunológicas[9]. res da teoria ainda são muito convencionais (em papéis). Estamos
Há necessidade, ainda, de outros pesquisadores ousarem den- vivendo a era da Informática, em que crianças praticamente nas-
tro do contexto da teoria de Mateer & Mapou, adaptando-a a no- cem com um computador na mão.
vos testes, porque eles trabalham com muitas escalas que envolvem Independentemente da teoria, parece existir a necessidade
raciocínio matemático. Essa postura pode facilitar o surgimento de de diversos pesquisadores explorarem e examinarem os níveis de
críticas, absolutamente pertinentes, em relação aos sujeitos avalia- atenção desse novo indivíduo que lida com computadores, note-
dos que apresentem mais facilidades com o raciocínio matemático. books, iPods, iPads, tablets, Macintosh e diversos outros aparatos
O estudo realizado com os controladores de voo, por exem- eletrônicos da Informática com testes em papéis somente?
plo, embora, tenha a sua importância, merece uma nova avaliação Uma forma mais contundente de entendermos a necessidade
com testes adaptados sem nenhum contexto matemático, já que a de novos estudos atrelados à realidade virtual da atualidade seria

432 433
se olhássemos, como exemplo, os passos metodológicos de Jean Desde 1996, pesquisadores como a Dr.ª Ivone Antonia de Sou-
Piaget até chegar à sua teoria, mesmo não tendo nenhuma relação za e outros do Departamento de Antibióticos da Universidade Fe-
direta com a teoria de Mateer & Mapou. Piaget publicou mais de deral de Pernambuco vêm se dedicando para descobrir a cura para
200 artigos exploratórios antes de chegar a apresentar a sua teoria. o câncer com substâncias existentes no pau-brasil provenientes da
Nela, ele demonstrou as fases de desenvolvimento da inteligência Mata Atlântica no município de Glória de Goitá, em Pernambuco.
e estabeleceu os períodos de desenvolvimento sensoriomotor (0-2 Os experimentos feitos com os camundongos demonstraram a re-
anos), pré-operatório (2-7 anos), operatório concreto (7-11 anos) dução do tumor em 60% a 80% para sarcoma e de 60% a 90%
e formal (de 12 anos em diante). para carcinoma em todos os animais.
É óbvio que a sua contribuição foi muito grande e é extre- Precisamos de cientistas para descobrir a causa da hiperten-
mamente relevante pensar na aquisição de esquemas mentais em são, da eclâmpsia e a cura para diversos carcinomas. Como os seis
período diferentes e de forma dinâmica, por isso usou o termo milhões de neurônios do hipocampo se comunicam, se é a única
equilibração e não equilíbrio, para entendermos a adaptação dos parte do sistema nervoso em que não há sinapse, havendo apenas
esquemas por assimilação e acomodação. Entretanto, Piaget fale- neurônios milimetricamente separados?
ceu em 1980. Com isso, surge a pergunta: será que as crianças de Poderíamos descobrir a cura para muitas doenças se soubés-
hoje se encaixam nas fases de desenvolvimento apresentadas por semos ativar 44 aminoácidos inativos existentes nos seres huma-
Piaget descritas no parágrafo acima? nos. Somos formados por duas substâncias básicas, purina e piri-
Por que as faculdades ainda estão apresentando somente es- midina, que combinam entre si para gerar quatro ácidos nucleicos
ses mesmos períodos de desenvolvimento propostos por Piaget em (adenina, guanina, timina e citosina) que combinam entre si para
1980, quando não existiam computadores? Afinal, estamos em organizar 64 aminoácidos, sendo que apenas 20 são ativos. Esses
2014, e os estímulos são bem diferentes daqueles da década de 1980. aminoácidos combinam entre si formando proteínas, que se com-
Parece haver a necessidade de, em primeiro lugar, estimular binam para formar as células que, por sua vez, organizam-se para
nossos estudantes brasileiros sobre a importância da pesquisa formar os tecidos dos órgãos do corpo humano.
científica desde o ensino fundamental e médio, com práticas labo-
Na China, entretanto, foram encontradas recentemente algu-
ratoriais e feiras de ciências com premiações, como acontece nos
mas crianças que possuem 24 aminoácidos ativos. Essas crianças
Estados Unidos. É preciso que consigamos aumentar a comunida-
não sentem medo, possuem um supersistema imunológico e uma
de científica no Brasil. Para isso, o Estado e o quarto poder, que é a
capacidade gigantesca de telepatia. Se com quatro aminoácidos a
imprensa, necessitam contribuir nesse processo. O reflexo do que
mais apresentamos essas aptidões, imaginem se nossos cientistas
ainda somos aparece na ordem de prioridade de valores.
conseguirem ativar os 44 inativos.
Há, aproximadamente, seis anos, um médico brasileiro, Aureo
Mas onde estão os nossos cientistas?
Ludovico de Paula, desenvolveu um método cirúrgico que é a cura
O que é fazer ciência e qual a sua importância do ponto de
do diabetes mellitus do tipo II, além de tratar da hipertensão e da
vista social?
hipercolesterolemia. Uma cirurgia com um tempo de duração mé-
Qual é a ordem de prioridade da ciência no nosso país?
dio de 4h. Ele troca a posição de duas partes do intestino delgado,
Qual é o significado dessa prioridade do ponto de vista edu-
o jejuno e o íleo, com índice de cura de 95% do diabetes. Quantas
cacional?
pessoas sabem o nome desse cientista brasileiro ou sabiam, pelo
menos, da sua descoberta? Preste a atenção nestes detalhes.

434 435
Referências bibliográficas Neurobiologia, Recife, v. 73, n. 3, p. 45-52, 2010.
1. RIBEIRO, P. V.; RIBAS, V. R.; GUERRA-RIBAS, R. M.; MELO, 6. NASCIMENTO, R. M.; COSTA, D. F. S.; SOBRINHO, T. K.
T. J. O. G.; MARINHO, C. A. S.; SILVA, K. K. M.; ALBUQUER- C.; RIBEIRO-RIBAS, V.; RIBAS, V. R. Auditory attention levels
QUE, E. E.; RIBEIRO-RIBAS, V.; LIMA, R. M. S.; SANTOS, T. S. and psychomotor speed of daughters of divorced parents that par-
B. T. Deaf individuals who work with computers present a high le- ticipate in cultural movements: a case study. Athos – Revista de
vel of visual attention. Dementia & Neuropsychologia, São Paulo, Estudos Integrados da FAINTVISA, Vitória de Santo Antão, v. 1,
v. 5, n. 2, p. 1238, 2011. n. 1, p. 93-106, 2010.
2. AGUIAR, J. M. G.; RIBAS, V. R., ALBUQUERQUE, R. N.; 7. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. A inclusão das pes-
CARNEIRO, S. M. O.; COSTA, D. F. S.; SILVA, M. A.; RIBEI- soas com deficiência no mercado de trabalho. Brasília, DF, 2007.
RO-RIBAS, V.; SANTOS, T. V.; LINS, L. F.; MANHÃES DE CAS- 100 p.
TRO R. Young people with attention-deficit hyperactivity disorder
(ADHD) in the 15-17 age group show a high level of auditory 8. GUERRA-RIBAS, R. M.; RIBAS, V. R.; MARTINS, H. A. L;
attention. Neurobiologia, Recife, v. 74, n. 1, p. 49-60, 2011. RIBEIRO-RIBAS, V., CARNEIRO, S. M. O.; ALBUQUERQUE, R.
N.; ANDRADE, P. H. S; GUERRA, A. C. M.; LINS, L. F.; RIBEI-
3. RIBAS, V; MARTINS, H. A. L.; AMORIM, G. G.; GUERRA RO, M. A. Stress effects on food handlers attention of a public
-RIBAS, R. M.; ALMEIDA, C. A. V.; RIBEIRO-RIBAS, V.; VAS- hospital in Recife-PE, Brazil. Dementia & Neuropsychologia, São
CONCELOS, C. A. C.; COSTA LIMA, M. D.; SOUGEY, E. B., Paulo, v. 4, n. 4, p. 325-31, 2010.
MANHÃES DE CASTRO, R. The air traffic control activity incre-
ases the attention capacity in air traffic controllers. Dementia & 9. RIBAS, V. R.; MARTINS, H. A. L.; VIANA, M. T.; FRAGA, S.
Neuropsychologia, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 250-5, 2010. N.; CARNEIRO, S. M. O.; GALVÃO, B. H. A.; BEZERRA, A. A.;
CASTRO, C. M. M. B.; SOUGEY, E. B.; MANHÃES DE CASTRO,
4. OLIVEIRA, J. S.; RIBAS, V. R.; MORAES, K. C. C.; SIQUEIRA, R. Hematological and immunological effects of stress of air traffic
C. N.; SANTOS-RIBAS K. H.; MORAIS, N. G.; SANTOS, G. G.; controllers in northeastern Brazil. Revista Brasileira de Hematolo-
LOPES, L. F. M.; CASA NOVA, M. F.; MANHÃES DE CASTRO, gia e Hemoterapia, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 195-201, 2011.
R. Attention level in students of a SESI Paratibe’s private school in
Pernambuco that work in the daytime as assemblers of a bicycle 10. MENEZES, E. A.; GUERRA-RIBAS, R. M.; SIEBRA, G. B. A.;
industry and study at night: study of case. Neurobiologia, Recife, ANDRADE, P. H. S.; ALMEIDA, C. A. V.; MARTINS, H. A. L.;
v. 73, n. 3, p. 23-30, 2010. AMORIM, G. G.; RIBAS, V. R. Parents’ Children with High Scho-
ol Present a High Level of Attention. Neurobiologia, Recife, v. 72,
5. ALMEIDA, V. L. B.; RIBAS, V. R.; SIQUEIRA, C. N.; RIBEI- n. 2, p. 93-9, 2009.
RO, P. V.; FARIAS, V. M.; AGUIAR, J. M. G.; LIMA, R. P. C. R.;
MORAIS, N. G.; LOPES, L. F. M; MANHÃES DE CASTRO, R. 11. RODRIGUES, E. H. G.; RIBEIRO-RIBAS, V.; CARNEIRO, S.
Attention functioning levels in male children in the 9-11 age group M. O.; LIMA, Z.; CORREIA, F. M. S.; SIQUEIRA, C. N.; RODRI-
with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): case study. GUES, R. A.; MARTINS, H. A. L.; RIBAS, V. R.; MANHÃES DE

436 437
CASTRO, R. Participation in cultural movements increases focus Sobre o autor
and span of attention in male students: a case study. Neurobiolo-
gia, Recife, v. 73, n. 4, p. 43-8, 2010.
Prof. Dr. Valdenilson Ribeiro Ribas
12. RIBAS, V. R.; ALMEIDA, C. A. V.; MARTINS, H. A. L.; AL-
VES, C. F. O.; ALVES, M. J. P. C.; CARNEIRO, S. M. O.; RIBEI- Resumo do Currículo
RO-RIBAS, V.; VASCONCELOS, C. A. C.; SOUGEY, E. B.; MA- Possui graduação em Psicologia (2002) pela Universidade Fe-
NHÃES DE CASTRO, R. Brazilian air traffic controllers exhibit deral de Pernambuco (UFPE), especialização em Saúde Mental com
excessive sleepiness. Dementia & Neuropsychologia, São Paulo, v. Dependência Química no Núcleo Especializado em Dependência
5, n. 3, p. 209-15, 2011. Química (NEDEQ) do Departamento de Neuropsiquiatria da
UFPE (2004), mestrado (2006) e doutorado (2009) pelo programa
de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comporta-
mento, também pela UFPE. Professor dos cursos de graduação em
Administração, Pedagogia e Fisioterapia da Faculdade dos Guara-
rapes, do grupo Laureate International Universities; Professor do
curso de Gestão em Recursos Humanos da Faculdade Metropoli-
tana da Grande Recife e Professor do curso de graduação em Peda-
gogia da Faculdade José Lacerda Filho de Ciências Aplicadas em
Ipojuca. Tem experiência na área de Psicologia e Neuropsiquiatria,
com ênfase em Neurociência, atuando principalmente nos seguin-
tes temas: repercussões do uso de antidepressivos (fluoxetina, clo-
mipramina e sertralina) no período crítico do desenvolvimento do
sistema nervoso de ratos, desnutrição neonatal e depressão experi-
mental, avaliações neuropsicológicas da atenção e na área médica
em estresse e resposta imunológica. Artigos publicados na Revista
Neurobiologia (indexada a National Library of Medicine, Estados
Unidos), nas revistas Arquivos de Neuropsiquiatria (jornal oficial
da Academia Brasileira de Neurologia), Migrâneas & Cefaleias
(órgão científico da Sociedade Brasileira de Cefaleia), na Demência
& Neuropsychologia (periódico oficial do Departamento de Neu-
rologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de
Neurologia) e Athos (periódico oficial das Faculdades Integradas
da Vitória de Santo Antão).
http://lattes.cnpq.br/3697954102189327

438 439
Renata de Melo Guerra Ribas (Nutricionista)
Resumo do Currículo
Nutricionista formada pela Universidade Federal de Per-
nambuco. Possui pós-graduação em Gestão da Qualidade e Vi-
gilância Sanitária em Alimentos pela Universidade Federal Rural
do Semiárido. Tem experiência nas áreas de Nutrição Hospitalar,
Neurociência Experimental e Produção Industrial com ênfase em
investigações neurocientíficas, atuando principalmente nos seguin-
tes temas: repercussões do uso de antidepressivos (fluoxetina e
sertralina) no período crítico do desenvolvimento do sistema ner-
voso, depressão, ansiedade, cefaleia e estresse em seres humanos.
Possui trabalhos publicados nas revistas científicas Neurobiologia
(indexada a National Library of Medicine, Estados Unidos), Ar-
quivos de Neuropsiquiatria (jornal oficial da Academia Brasileira
de Neurologia) e Dementia & Neuropsychologia (periódico oficial
do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento
da Academia Brasileira de Neurologia).
http://lattes.cnpq.br/0232658780674262

440
Editor responsável
Thiago Schoba

Coordenadora editorial
Flávia Stringa

Capa
Francis Manolio

Diagramação
Francis Manolio

Revisão
Marcelo Sievers

Este livro foi impresso em São Paulo, em xxxxxxxxxx de 2014,


pela xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx para a Editora Schoba.
A fonte usada no miolo é Sabon LT Std, corpo 11,5/15.

Pólen® é o papel do livro.


Sua cor reflete menos luz e deixa a leitura muito mais confortável.
Quanto mais confortável a leitura, mais páginas você consegue ler.
Lendo mais páginas, mais rápido acaba o livro.
Acabando o livro, mais tempo para ler outros.
Mais tempo para ler outros, cada vez você lê mais.
Lendo mais, acumula mais conhecimento.
Mais conhecimento, melhor para todo mundo.
Pólen®. Você pode ler mais.

Este livro foi impresso em papel Pólen Soft 80 g/m².

Vopcê
ler ode
mais.
Papel

View publication stats

Você também pode gostar