CARTOGRAFIA
QUAL É O TAMANHO DO MUNDO?
De que maneira a trajetória de interpretação da localização do planeta Terra no Universo, do
geocentrismo ao heliocentrismo e, atualmente, sem um centro fixo - relativismo - pode ter
influenciado a reprodução cartográfica da Terra e sua interpretação? Poderiam os mapas revelar
diferentes visões de mundo?
A cartografia é a ferramenta de representação da superfície terrestre que, por meio de mapas,
cartas, atlas ou globos, além de uma série de dados sociais, econômicos, políticos e ambientais,
pode referenciar espacialmente informações. Com esses recursos, a dimensão territorial dos
fenômenos não é só retratada, mas também simplificada, o que facilita a compreensão dos fatores
e permite uma análise aprofundada desses contextos.
Genericamente, o termo mapa é utilizado para designar os diferentes tipos de representação
cartográfica. Os mapas tradicionais se diferenciam em dois gêneros: físicos e políticos. Os mapas
físicos indicam aspectos naturais, como relevo, hidrografia, clima e vegetação. Já os mapas
políticos indicam as divisões administrativas de países, estados e cidades. Em todos eles
emprega-se uma série de dados, símbolos e coordenadas geográficas.
CARTOGRAFIA SOCIAL
Você se reconhece nos mapas tradicionais que representam o território em que vive? Na
cartografia contemporânea, há um tipo de construção coletiva de mapas, a cartografia social
ou mapeamento participativo, que considera aspectos mais específicos dos espaços onde
determinados grupos sociais vivem. A cartografia social, porém, não serve apenas de
representação coletiva do espaço, mas também de ferramenta que favorece a articulação
de conhecimentos e saberes por meio de uma linguagem única que, ao ser desenvolvida,
fortalece tais grupos sociais.
A cartografia social é bastante diversa, uma vez que é elaborada por representações em
construção. Esse método promove a ressignificação da função dos mapas, que, antes, eram
produzidos exclusivamente pelo Estado. Portanto, promove uma reflexão sobre a própria
categoria de nação. Seu principal feito está no fato de integrar diferentes formas de
conhecimento e interpretações, que, representadas, exploram informações
técnico-científicas e tradicionais.
Sua construção compreende, necessariamente,
disputas em cada um dos contextos em que é
desenvolvida; deste modo, pode ilustrar os
conflitos pela apropriação material e simbólica dos
territórios. O mapa, quando o fruto da cartografia
social, tem caráter dinâmico, pois tenta dar conta
de diferentes noções de tempo e de espaços
físicos.
A autocartografia permite, portanto, que povos e
comunidades tradicionais, reproduzam
espacialmente as características de seu território,
ilustrando, por exemplo, conflitos e questões
relacionadas a abusos ambientais, ataques
externos e falta de saneamento básico. Dessa
forma, a cartografia social atua como uma técnica
cartográfica crítica de representação do espaço.
TESTEMUNHOS HISTÓRICOS DA CARTOGRAFIA
Ao longo de toda a história, a superfície terrestre foi retratada de diferentes formas. As
representações compreendem desde pinturas rupestres até cartas marítimas, mapas
esquimós, babilônicos, chineses e medições egípcias. A forma de representação passou
pela cartografia grega, romana, medieval, renascentista até chegar ao amplo
desenvolvimento no século XX. Atualmente, ela tem sido desenvolvida por meio de
tecnologias digitais.
No desenvolvimento da história da cartografia, alguns mapas são símbolos do processo de
desenvolvimento científico e tecnológico que ocorreu ao longo do tempo. O aprimoramento
das técnicas e a inserção de elementos cartográficos facilitaram o processo de
representação espacial e, ao mesmo tempo, transformaram as concepções de mundo.
Alguns exemplos são:
● O mapa de Bedolina, localizada no vale do rio Pó, no norte da Itália, elaborado em
argila, em 2400 ac, e atribuído aos Camônios.
● O mapa de Ga-Sur, na Babilônia, feito em argila, entre 2400 ac e 2200 ac,
aproximadamente.
● O mapa de Eratóstenes de Cirene (276 ac-196 ac) foi o primeiro a representar a
circunferência da terra indicando uma medida de, aproximadamente, 45.000 km (hoje
em dia, sabe-se que a Terra tem cerca de 40 mil quilômetros de circunferência).
● O mapa com os cálculos geográficos de Ptolomeu, elaborados entre os anos 90 e 168,
na antiguidade, que embasou o desenvolvimento de projeções e representações
cartográficas (a reprodução de três continentes com mais de 8 mil localizações
detalhadas na Europa, no norte da África e na Ásia, além das primeiras coordenadas
geográficas, favoreceu a reprodução de pontos geográficos com maior precisão).
● As Cartas Portulanas, dos séculos XIII ao XV, também consideradas referências
cartográficas significativas; com representações ao redor da bacia mediterrânea, essas
cartas eram destinadas a navegação e impulsionaram a incorporação de Rosas dos
Ventos nos mapas posteriores.
● O planisfério de Mercator, de 1569, que foi a primeira projeção cartográfica a abranger
toda a Terra e representar a esfera terrestre de forma plana.
HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA NO BRASIL
No Brasil, a história da cartografia tem início com a invasão portuguesa. No século XIX, com a
fuga da Corte portuguesa para o Brasil em decorrência da invasão napoleônica, houve um
impulso na cartografia brasileira. Em 22 de Janeiro de 1808, a Corte chegou a Salvador e, em 8
de março, instalou-se no Rio de Janeiro. Sua presença propiciou o desenvolvimento urbano, a
ascensão política da cidade e sua inserção econômica no cenário internacional. O Rio já era a
capital da colônia desde 1763, devido a sua localização estratégica que garantia o acesso às
riquezas exploradas em Minas Gerais, bem como a defesa militar da Corte, especialmente na
região da baía de Guanabara. Com a chegada da Corte, o desenvolvimento das elites cariocas foi
estimulado, bem como a modernização da cidade; a fundação da Biblioteca Nacional, em 1810,
fez parte desse processo.
Em 1810, foi criada a Escola de Formação de Engenheiros Geógrafos Militares e, em 1825, a
Comissão do Império do Brasil, que tinha a função de organizar oficialmente a cartografia no país.
Na segunda metade do século XIX, foi fundada a Comissão Geográfica e Geológica de São
Paulo; em 1868, Cândido Mendes de Almeida fez o primeiro atlas do império do Brasil; em 1896,
já no período republicano, foi elaborada a Carta Geral da República pelo Estado-Maior do
Exército.
Mas o fato mais relevante da história da cartografia no país foi a criação, em 1938, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ainda hoje gera dados
estatísticos, censitários e geográficos que ajudam a compreender a complexidade da
sociedade brasileira.
Outra instituição importante foi a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene), criada em 1959, como uma autarquia diretamente subordinada à presidência da
república. O objetivo era promover e coordenar o desenvolvimento do Nordeste, que
apresentava nível de industrialização inferior aos de outras regiões do país. A Sudene
tornou-se relevante para o mapeamento da região nordeste, por meio da intervenção
federal na região. Mas, devido ao domínio das oligarquias agrárias nordestinas, não
cumpriu sua missão, já que o desenvolvimento industrial permaneceu insuficiente e a
manutenção de extensas faixas de miséria continuou provocando movimentos migratórios.
Além dessas instituições, em 1972 foi criado o Projeto Radar da Amazônia (Radam), que,
com o uso de sensores radargramétricos aerotransportados, tem realizado pesquisas sobre
recursos naturais relacionados a minerais, solo, vegetação e uso da Terra nas regiões
Norte e Nordeste.
CARTOGRAFIA E TECNOLOGIA
Em nível internacional, alguns fatos contribuíram para as transformações recentes da cartografia.
Em 1957, por exemplo, foi lançado o Sputnik, satélite artificial russo que, além de fornecer
informações sobre a atmosfera terrestre e suas propriedades por meio de sinais de rádio, foi o
primeiro satélite artificial posto em órbita, dando início à chamada corrida espacial durante o
período da Guerra Fria. Com a corrida espacial, houve grande incentivo ao desenvolvimento
científico, uma vez que soviéticos e estadunidenses dependiam disso para realizar suas
expedições tripuladas ao espaço.
Em 1958, os estadunidenses lançaram o Explorer 1, responsável por descobrir o Cinturão de Van
Allen. Em 1973, já por meio da National Aeronautics Space Administration (NASA), foi lançada a
estação orbital Skylab, que facilitou o processo de coleta de informações sobre a Terra, o sol e
outros corpos celestes. Os Estados Unidos, tendo se tornado uma grande potência mundial ao fim
da Segunda Guerra Mundial, estabeleceram uma disputa pela hegemonia do poder com a União
Soviética, potência do bloco comunista, com a finalidade de barrar sua influência e garantir o
domínio do continente europeu. Nessa disputa, ambos os lados investiram em educação e ciência
como armas estratégicas para atender a seus interesses econômicos e militares.
Na esteira dos fatos importantes que contribuíram para o desenvolvimento contemporâneo da
cartografia está o desenvolvimento de softwares. No Canadá, em 1967, criou-se o primeiro software
de dados georreferenciados, o Sistema de Informação Geográfica (SIG), que permitiu a
sistematização, coleta e análise mais precisa de dados. Em 1982, iniciaram-se, nos Estados
Unidos, os primeiros estudos para a criação do Sistema de Posicionamento Global (GPS), que
possibilitaria avanços relevantes na área do sensoriamento remoto, pois, além de permitir a
captação de sinais via satélite, garantiria o acesso às informações espaciais de qualquer região do
mundo.
O desenvolvimento dessas tecnologias de localização causou grande impacto no cotidiano das
pessoas. Embora sua finalidade principal fosse inicialmente apenas a captação e organização de
dados para uso governamental ou militar - utilizada com diversas finalidades nem sempre positivas
ou transparentes com seus consumidores -, atualmente esse tipo de tecnologia tem uso muito
difundido e diversas aplicações, como facilitar o deslocamento de pessoas e a comunicação entre
elas. Um exemplo atual são os aplicativos para transporte de passageiros e para entrega de
mercadorias nos domicílios dos usuários. Os recursos funcionam basicamente por meio da
interação entre trabalhadores, empresas e consumidores, por meio de um sistema de localização.
Atualmente, estuda-se a possibilidade de que o transporte de mercadorias seja feito por meio de
drones.