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Casamento celestial plural

Antônio Trevisan Teixeira

Casamento plural no Velho Testamento

A maioria dos grandes personagens descritos no Velho Testamento foram casados na


ordem plural do casamento. Abraão, Isaque e Jacó, por exemplo, tiveram mais de uma
esposa e nisso não pecaram em contra a lei do Senhor; ao contrário, foram obedientes,
juntamente com suas esposas, ao viverem aquela estrutura familiar. Eles tiveram a
plenitude do evangelho, e parte dessa plenitude estava na obediência dessa lei.

Segundo John Taylor,

Aquela ordem patriarcal que foi estabelecida pelos céus nos primeiros períodos de
existência desta Terra (...) é o padrão de relacionamento familia nos céus.
(John Taylor, Deseret Weekly News, 29 Nov. 1888)
Mais tarde, lemos o relato sobre Salomão tendo um grande número de esposas e
concubinas. O erro de Salomão não foi ter mais de uma esposa, mas as escolhas que ele
fez tomando mulheres de outras culturas, que estavam fora do convênio e não
acreditavam no Deus verdadeiro, mas adoravam ídolos (I Reis 11:4). Outro exemplo de
distorção do princípio do casamento celestial com Davi. O Senhor estava disposto a dar
a Davi o que ele bem desejasse e lhe fosse justo (II Samuel 12:8), mas ele se excedeu e
manchou suas mãos de sangue, com o esposo de Batseba.

Há várias normas nas escrituras para garantir o bem-estar das esposas e filhos como por
exemplo em Êxodo 21:10 e Deuteronômio 21:15-17.

Quando Israel recusou ter a plenitude na época de Moisés, a parte maior do evangelho,
bem como o sacerdócio de Melquisedeque foram retirados da terra (ainda que
estivessem disponíveis em base individual). No entanto, a lei menor dada a Moisés não
somente ainda permitia a poligamia, mas em pelo menos uma situação a ordenava: no
caso de falecimento do esposo, a mulher deveria ser desposada pelo irmão do falecido,
independente dele ser ou não já casado (Deut. 5:4-10).

Os israelitas podiam ter famílias polígamas, mesmo sem as ordenanças de selamento, as


quais só poderiam ser administradas caso o sacerdócio maior estivesse disponível ao
povo.

Durante o período em que Cristo viveu na terra, o casamento plural era ainda aceito
pelo povo judeu, embora a lei romana, sob a qual viviam os judeus na Palestina,
previsse a monogamia. Não era comum a prática da poligamia, embora não houvesse
uma restrição por parte dos líderes religiosos.

Após sua expulsão da terra santa, aconteceram várias e grandes mudanças no modo de
vida dos judeus, inclusive em sua organização familiar e religiosa. Já não haviam
profetas entre os judeus e as decisões sobre procedimentos e crenças religiosas e sociais
eram decididas pelos rabis (ou rabinos), que, por sua erudição, eram tidos como a
autoridade da lei e podiam interpretar as escrituras ou adaptá-las às novas condições.

A restauração do casamento celestial na dispensação de Joseph

Uma das primeiras revelações ( se não a primeira revelação) sobre o casamento plural
foi dada a Joseph Smith em 1831, ordenando os élderes da igreja a tomarem mulheres
lamanitas para esposas. A revelação alude a um tempo futuro em que seriam dados a
conhecer "os propósitos e privilégios" do sacerdócio, ou seja, quando a doutrina seria
conhecida em sua plenitude. Note-se que nesta data, o poder selador ainda não estava
disponível (e só estaria após 1836, com a visita de Elias e outros ao templo de Kirtland).
Uma vez que muitos dos élderes pregando aos lamanitas já eram casados, buscar
esposas adicionais entre as tribos indígenas os faria poligamistas.

Em verdade vos digo que a sabedoria do homem em seu estado decaído não conhece os
propósitos e os privilégios do meu santo sacerdócio, mas vós conhecereis quando
receberdes uma plenitude em razão da unção: pois esta é a minha vontade, que a
tempo, tomeis para vós esposas dos lamanitas e nefitas, para que sua posteridade se
torne branca, agradável e justa, pois agora mesmo suas mulheres são mais virtuosas do
que as gentias.

A plenitude da doutrina só seria ensinada – individualmente – na década de 1840, em


Nauvoo, onde os casamentos plurais foram mais ou menos visíveis. A oposição, no
entanto, tanto entre membros, quanto não-membros era muito forte:

Eles me acusam de poligamia, e de ser um falso profeta, e muitas outras coisas das
quais não me lembro agora; mas não sou um falso profeta; não sou um impostor; não
tenho revelações sombrias; não tenho tido revelações do demônio; não faço revelações;
não recebi nada de mim mesmo. O mesmo Deus que tem até então me ditado,
direcionado e fortalecido neste trabalho, deu-me esta revelação e mandamento sobre
casamento celestial e plural, e o mesmo Deus ordenou-me obedecê-la. Ele me disse
que a não ser que eu a aceitasse e introduzisse e a praticasse, eu, juntamente com meu
povo, seria condenado e cortado desse momento em diante. E eles dizem que se eu o
fizer, me matarão. Oh, o que devo fazer? Se não a pratico, serei condenado com meu
povo. Se eu a ensino, a pratico e a defendo, eles dizem que irão me matar, e sei que
irão. Mas temos que observá-la. É um princípio eterno e foi dado por mandamento e
não como instrução.
(Joseph Smith, 1843, periódico The Contributor 5:259.)

Uma lei necessária para aqueles que a recebessem

Algumas pessoas supuseram que a doutrina do casamento plural era algo supérfluo, ou
não-essencial para a salvação ou exaltação da humanidade. Em outras palavras,
alguns santos disseram e acreditaram que um homem com uma esposa, selada a ele
pela autoridade do Sacerdócio para o tempo e a eternidade, receberá uma exaltação
tão grande e gloriosa, se for fiel, quanto possivelmente obteria com mais de uma. Eu
quero aqui prestar meu protesto solene contra esta idéia, pois eu sei que é falsa. (...)
Portanto, aquele que imaginou que poderia obter a plenitude das bênçãos referentes à
lei celestial cumprindo com apenas uma parte de suas condições, enganou a si mesmo.
Ele não pode fazer isto.
(Joseph F. Smith, 07 de julho de 1878, Journal of Discourses 20: 28)
As mais severas perseguições nunca foram seguidas por revelações mudando uma lei
divina, à qual a obediência trouxe prisões ou martírios. Ainda que eu vá para prisão,
Deus não mudará sua lei de casamento celestial.
(Lorenzo Snow, Historical Record, 1887, vol.6, p. 144)
Se a doutrina do casamento plural fosse repudiada, assim deveria ser o glorioso
princípio de casamento para eternidade, sendo os dois indissoluvelmente ligados.
(Charles W. Penrose, July 16, 1883, Millennial Star 45:454)
Vocês podem negar o Mormonismo e abandoná-lo, e opôr-se a pluralidade de esposas.
Deixe a Presidência desta Igreja, e os Doze Apóstolos e todas as autoridades unirem-se
e dizer com uma só voz que se oporão a esta doutrina, e todos serão condenados. Para
que você se opõem? É um princípio que Deus revelou para a salvação da família
humana. Ele o revelou a Joseph, o Profeta em nossa dispensação; e o que Ele revela,
Ele deseja ser implementado por seu povo.
(Heber C. Kimball, 12 October 1856, JD 5:203)

Exaltações e reinos de acordo com a diligência e capacidade


Um dos objetivos principais do casamento plural era o de construir famílias numerosas
e fortes, as quais seriam o núcleo do Reino de Deus. O futuro domínio a ser herdado por
cada um dependeria do que fora construído ao longo da mortalidade.
Cada pai que é levantado dos mortos e partilha da glória celestial em sua plenitude,
terá jurisdição legal sobre seus próprios filhos e sobre todas as famílias que dele se
originaram em todas as gerações, para todo sempre.
(Parley P. Pratt, Millenial Star 5:189)
O que foi fiel sobre poucas coisas, será feito governante sobre muitas coisas; o que foi
fiel sobre dez talentos, terá domínio sobre dez cidades, e o que foi fiel sobre cinco
talentos, terá domínio sobre cinco cidades, e para cada homem será dado um reino de
acordo com seus méritos, poderes e habilidades para governar e controlar. Vê-se pelo
diagrama acima que há reinos de todos os tamanhos em infinita variedade para
contemplar todos os graus de mérito e habilidade.
(Orson Hyde, Um diagrama do Reino de Deus)
Cristo, um patriarca

Lembramos que certa vez houve um casamento em Canaã da Galiléia; e com uma
leitura cuidadosa do acontecimento, será descoberto que ninguém menos que Jesus
Cristo se casou naquela ocasião. Se ele nunca foi casado, sua intimidade com Maria e
Marta e a outra Maria a quem Jesus também amou deveria ter sido altamente
inadequado e inapropriado, para dizer o melhor.

Aventuro-me a dizer que Jesus Cristo passasse hoje pelos mais pios países da
cristandade com um grupo de mulheres tal como o que costumava segui-lo, dando-lhe
carinho, penteando seu cabelo, o ungindo com precioso óleo, lavando seus pés com
lágrimas, e os secando com seus cabelos, sem serem casadas, ou mesmo sendo casadas,
ele seria linchado, coberto de piche e penas, e não andaria sobre um jumento, mas
sobre um carroção. (Orson Hyde, J.D. 4:259)

A grande razão para o estouro do sentimento público em anátemas contra Cristo e seus
discípulos, causando sua crucificação, foi evidentemente baseado na poligamia, de
acordo com o testemunho de filósofos que viveram na época. Uma crença na doutrina
da pluralidade de esposas causou a perseguição de Jesus e seus seguidores. Podemos
até pensar que eles eram “mórmons”. (Jedediah Grant, J.D. 1:346)

Uma coisa é certa: havia diversas mulheres santas que amavam grandemente Jesus -
Maria e Martha, sua irmã, e Maria Madalena; e Jesus as amou grandemente, e muito
se associava a elas; e quando levantou dos mortos, ao invés de se mostrar primeiro à
Suas testemunhas escolhidas, os apóstolos, Ele apareceu primeiro a essas mulheres, ou
pelo menos a uma delas, Maria Madalena. Agora, seria muito natural para um esposo
na ressurreição aparecer primeiro às suas queridas esposas, e então se mostrar a seus
outros amigos. Se todos os atos de Jesus estivessem escritos, não há dúvida que
saberíamos que essas mulheres amadas eram Suas esposas. (Orson Pratt, The Seer, p.
159)

Joseph Smith falou sobre estas passagens para mostrar que Maria e Marta
manifestavam uma relação muito mais próxima do que simples crentes. (Wilford
Woodruff, Diário, 22 de julho de 1883)

Há uma outra classe dos indivíduos a quem eu referirei brevemente. Devemos chamá-
los de cristãos? Eram cristãos originalmente. Nós não podemos ser admitidos em suas
sociedades, em seus lugares de reunião em certos momentos e em determinadas
ocasiões, porque estão receosos da poligamia. Eu vou lhes dar seu título para que
vocês possam saber de quem eu estou falando: refiro-me aos franco-maçons. Eles
recusaram a filiação de nossos irmãos em suas lojas porque eram poligamistas. Quem
foi o fundador da franco-maçonaria? Eles podem ir até Salomão, e param lá. Há o rei
que estabeleceu esta elevada e sagrada ordem. Agora, ele era um poligamista ou não
era? Se ele acreditava em monogamia, ele não a praticou muito, porque teve setecentas
esposas, e isso é mais do que eu tenho; e teve trezentas concubinas, e eu não tenho
nenhuma que eu saiba. No entanto, a fraternidade [maçônica] inteira em todo o mundo
inteiro gritará contra esta ordem [do casamento plural] "Oh, meus caros, oh...", gritão
eles, "Sinto dor, sofro ao testemunhar a iniqüidade que há na terra. Aqui há uma das
‘relíquia do barbarismo’ [o casamento plural]". Sim, uma das relíquias de Adão, de
Enoque, de Noé, de Abraão, de Isaque, de Jacó, de Moisés, Davi, Salomão, dos
Profetas, e de Jesus e seus Apóstolos. (Brigham Young, 10 de fevereiro de 1867, Deseret
News, Journal of Discourses, Vol. 11)

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