Você está na página 1de 94

CONCURSO PÚBLICO

DIREITO PENAL

PROF. EMERSON MALHEIRO


Lesões Corporais

1. Lesão corporal – conceito:


-qualquer dano ocasionado à normalidade
funcional do corpo humano, seja anatômico,
fisiológico ou mental (ex.: impedir o sono por
períodos prolongados).

2. Bem jurídico protegido:


- integridade física e psíquica da pessoa humana.
3. Sujeito ativo:
- qualquer pessoa, menos o próprio ofendido,
visto que a lei penal considera irrelevante a auto-
lesão.
- a auto-lesão só será crime se ofender outro
direito. Assim, se a pessoa lesa o próprio corpo
ou a saúde, com o fim de obter indenização ou
valor de seguro, comete o delito do art. 171,
parágrafo 2.º, inciso V, CP.
4. Sujeito passivo:

- qualquer pessoa humana, que não o agente,


desde que viva, a partir do início do parto.
5. Elemento objetivo:
•crime de forma livre.
•ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem.

6. Elemento subjetivo:
•dolo. É o denominado “animus laedendi” ou
“nocendi”.
•culpa.
7. Consumação:
•crime material: consuma-se com a lesão efetiva
ao corpo ou à saúde de outrem.

8. Tentativa:
•admissível.
Exemplos:
. se uma pessoa desfere um soco em outra, mas
um terceiro o apara ou o “encaixa”, o agente
realizou uma tentativa de lesão leve.
. se certa mulher atira ácido sulfúrico ao rosto do
amante, que, entretanto, se esquiva, terá
praticado tentativa de lesão gravíssima.
9. Ação penal:
•pública condicionada: há necessidade de
representação nos casos de lesões corporais leves e
lesões corporais culposas (art. 88, lei 9099/95).
•pública incondicionada: nos demais casos.

10. Lesão corporal leve:


- “caput”. É o dano ao corpo ou à saúde que não
chegou a ser lesão grave (§1.º) ou gravíssima (§2.º).
- difere também das vias de fato, que se caracterizam
pela violência sem dano corpóreo (exemplo: mero
empurrão), constituindo simples contravenção (art.
21, Lei das Contravenções Penais).
11. Lesões corporais graves:
- o Código Penal, em verdade, não diferencia as lesões
graves das gravíssimas. São, a uma primeira leitura, todas
graves. A doutrina realizou a distinção para efeito
puramente didático.
- lesões corporais graves, acorde com a doutrina, são
aquelas definidas no parágrafo 1.º, do art. 129, CP:
Se o crime resulta:

I – incapacidade permanente para as ocupações habituais,


por mais de 30 dias:
- ocupação habitual não é só o trabalho, mas a atividade
costumeira, pois, ao contrário, estariam excluídos a criança
e o ancião;
- deve ser realizado um exame complementar decorridos
30 dias da data do crime para a confirmação do ilícito
penal nessa modalidade.
II – perigo de vida:
- o perigo de vida não se presume, compete ao perito
médico legal essa verificação.
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função:
- debilidade: enfraquecimento, redução, diminuição de
capacidade que deve ser duradoura, não, porém, perpétua.
. membros: partes do corpo que se prendem ao tronco. São
superiores: braço, antebraço e mão. E inferiores: coxa, perna
e pé.
. sentido: faculdade de percepção: vista, audição, olfato,
paladar e tato.
. função: atuação própria de um órgão. Divide-se em
respiratória, circulatória, digestiva, secretora, locomotora,
reprodutora e sensitiva.
. a perda de um dos órgãos duplos (v.g.: um olho) configura
a lesão grave; se a perda é de ambos, se compatível com a
vida, consubstancia-se a lesão gravíssima.
IV – aceração de parto:
- a lei quis falar sobre a antecipação de parto,
pois quando se fala em aceleração, pressupõe-se
apressar um ato que já está ocorrendo, o que
não é o caso.
- a aceleração de parto: expulsão do feto, que já
tem capacidade de vida extra-uterina, antes do
tempo em que aquela se teria verificado em
condições normais.
- a aceleração do parto deve ocorrer em virtude
da agressão causada, para que se fale em lesão
grave, o que pode ser comprovado pericialmente.
12. Lesões corporais gravíssimas:
Lesões corporais gravíssimas, acorde com a doutrina, são
aquelas definidas no parágrafo 2.º, do art. 129, CP:
Se o crime resulta:
I – incapacidade permanente para o trabalho:
- total impossibilidade de exercer qualquer atividade
laborativa e não apenas aquela que anteriormente era
exercida.
- se a vítima não puder mais exercer a atividade anterior,
mas pode dedicar-se a outro trabalho, sem grande
prejuízo, não se caracteriza a lesão gravíssima.
- pode ser o inciso III do parágrafo 1.º.
- a incapacidade não precisa ser perpétua, mas duradoura.
Basta o prognóstico da impossibilidade de trabalhar por
tempo que não se possa avaliar.
II – enfermidade incurável:
- trata-se do processo patológico cuja
probabilidade é séria de não haver cura.
III – perda ou inutilização de membro, sentido ou
função:
- trata-se aqui da perda completa, que pode
ocorrer através de mutilação ou amputação.
- a mutilação ocorre no momento do ato delitivo.
- a amputação ocorre após, através de
intervenção cirúrgica, em razão do ato delitivo.
- na inutilização, o membro permanece ligado ao
corpo, mas incapaz de sua atividade própria ou
função.
IV – deformidade permanente:
- deformidade: prejuízo estético visível;
- permanente: deformidade irreparável, não se
descaracterizando pela dissimulação (uso de
cabelos postiços ou disfarces, como a barba).
V – aborto:
- neste caso, a lesão é querida e o aborto não.
- trata-se de crime preterdoloso.
13. Lesão corporal seguida de morte:
- 129, § 3.º;
-crime preterdoloso ou preterintencional.

14. Lesão corporal privilegiada:


-129, § 4.º;

15. Casos de substituição de pena:


- 129, §5.º;
•se for privilegiada;
• se as lesões forem recíprocas.
16. Lesão corporal culposa:
- art. 129, § 6.º;
-se da imprudência, negligência ou imperícia do
agente derivou a lesão corporal na vítima, o agente é
punido com pena de detenção de dois meses a um
ano.

17. Lesão corporal culposa na direção de veículo


automotor:
-art. 303, Lei n.º 9.503/97.

18. Causas de aumento de pena na lesão corporal


culposa:
- art. 129, § 7.º;
- aplica-se o art. 121, § 4.º.
19. Perdão Judicial:
- art. 129, §8.º;
-aplica-se o art. 121, §5.º.

20. Violência doméstica:


- art. 129, § 9.º;
-Lei n.º 11.340/2006.

21. Causa de aumento de pena na lesão dolosa:


- art. 129, § 10.º;
- grave (§1.º);
- gravíssima (§2.º);
- seguida de morte (§3.º);
- nas circunstâncias do § 9.º = aumento de 1/3.
Calúnia

1.Calúnia – conceito:
Art. 138, CP: Caluniar alguém, imputando-lhe
falsamente fato definido como crime.
Pena: detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.

2.Bem jurídico protegido (objetividade


jurídica):
Honra objetiva (reputação).
3.Sujeito ativo:
Qualquer pessoa física.

4.Sujeito passivo:
a)pessoa(s) física certa(s) e determinada(s):
- calúnia contra os “católicos”, “comunistas”, não
é crime;
b)pessoa jurídica:
- art. 225, parágrafo 3.º, CF;
- Lei 9.605/98 (crimes contra o meio ambiente);
3.contra os mortos (art. 138, parágrafo 2.º, CP):
- sujeito passivo é o CADI;
- o morto é o objeto material do delito.
5. Elementos objetivos do tipo:

a) art. 138, “caput”, CP:


 imputar: atribuir a alguém.

b) art. 138, parágrafo 1.º, CP:


 propalar: relato verbal;
 divulgar: tornar conhecido por qualquer outro
meio (meio simbólico, desenhos, fotografias,
gráficos etc.).
6. Elemento subjetivo:

 dolo genérico (Aníbal Bruno): vontade de imputar a


outrem, falsamente, fato definido como crime.
 dolo eventual: há dúvida sobre a autenticidade do
fato (apenas no “caput”, não se admite no
parágrafo 1.º, pois a lei faz expressa referência à
expressão “sabendo falsa”, que diz respeito ao
dolo direto).
 dolo específico (E. M. Noronha): “animus
diffamandi vel injuriandi” (elemento subjetivo do
injusto – Damásio), exige a seriedade, a vontade
do agente de caluniar, tripudiar sobre a vítima,
ofender, causar dano à honra alheia.
7.Elemento normativo do tipo:

falsamente: pessoa / fato.


O imputado pode não ser totalmente inocente e
ainda assim haverá calúnia.
Ex 1: se alguém furtou e diz-se também que
estuprou.
Ex 2: se um crime é culposo e a atribuição é
dolosa.
Ex 3: imputa-se homicídio a alguém, sabendo-se
que agiu em legítima defesa.
Se o agente acredita na veracidade da
imputação: erro de tipo (art. 20, CP)
8. Consentimento do ofendido:
O consentimento do ofendido afasta o crime, se
contemporâneo. Se posterior, há crime, mas pode
ocorrer renúncia ao direito de queixa, perdão ou
reconciliação (art. 520, CPP).

9. Consumação:
Ocorre no instante em que terceiro tome conhecimento da
imputação.

10. Tentativa:
 possível, quando o crime for plurissubsistente: via
escrita.
 impossível: quando o crime for unissubsistente: via
verbal.
11.Exceção da verdade:

A exceção da verdade exclui o crime, em virtude da


falta do elemento normativo “falsamente”, salvo:
a)se, constituindo o fato imputado crime de ação
privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível (art. 138, parágrafo 3.º, inciso I);
b)se o fato é imputado a qualquer das pessoas
indicadas no n.I do art. 141 (art. 138, parágrafo 3.º,
inciso II);
c)se do crime imputado, embora de ação pública, o
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível (art.
138, parágrafo 3.º, inciso III): se ocorreu extinção
da punibilidade, a exceção da verdade é cabível, já
que não houve apreciação do mérito.
12.Ação penal:
Privada, em regra.

13.Exceção da notoriedade do fato (art. 523,


CPP):
Se o fato é de domínio público, não há como se
atentar contra a honra objetiva.
Difamação

1.Difamação – conceito:
Art. 139, CP: “Difamar alguém, imputando-lhe fato
ofensivo à sua reputação”.
Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.

2.Bem jurídico protegido (objetividade


jurídica):
Honra objetiva (reputação).

3.Sujeito ativo:
Qualquer pessoa física.
4. Sujeito passivo:
Pessoa certa e determinada: difamação contra os
“católicos”, “comunistas”, não é crime.
Pessoa física: qualquer pessoa.
Pessoa jurídica: pode ser vítima (Costa Jr., Damásio,
Capez).
- STF já se manifestou nesse sentido.
No entanto, Ney Moura Telles argumenta que o crime
está localizado no Título I do Código Penal – Dos
crimes contra a pessoa – que referem-se ao ser
humano, pois “alguém” é ser vivo nascido de mulher.
Assim como o “matar alguém” do art. 121, CP
restringe-se ao ser humano. Se se deseja tutelar a
honra objetiva da pessoa jurídica, deve-se criar novo
tipo incriminador.
Há entendimento do STJ nos dois sentidos.
Na mesma esteira, Júlio Fabbrini Mirabete
afirma que as ofensas dirigidas contra a pessoa
jurídica não ficam impunes, pois lesam a honra
das pessoas físicas que as compõem.
Contra os mortos: não há previsão legal e não é
possível a aplicação da analogia “in malam
partem” do crime de calúnia (138, parágrafo 2.º,
CP).
5. Consentimento do ofendido:
Idem à calúnia.
A pessoa deve ser capaz de consentir. Consentimento de
inimputável não afasta o delito.

6. Elementos objetivos:
 imputar: atribuir a alguém fato determinado, lícito ou
ilícito, desde que não seja crime. Não importa se é
verdadeiro ou não, pois não há interesse social na
descoberta.
 Propalar ou divulgar: os verbos não estão descritos no
tipo, mas quem os utiliza, pratica nova difamação.
Portanto, há crime. Para Fernando Capez e E.
Magalhães Noronha, não há delito por ausência de
previsão legal.
7. Elemento subjetivo:
 dolo genérico: vontade de imputar a outrem fato
ofensivo à sua reputação.
 dolo eventual: há dúvida sobre a ofensividade do
fato.
 dolo específico (E. M. Noronha): “animus
diffamandi vel injuriandi” (elemento subjetivo do
injusto – Damásio), exige a seriedade, a vontade
do agente de difamar, tripudiar sobre a vítima,
ofender, causar dano à honra alheia.

8. Consumação:
Idem à calúnia.

9. Tentativa:
Idem à calúnia.
10.Exceção da verdade (art. 139, parágrafo único, CP):
Ao contrário da calúnia, não se admite a exceção da
verdade, salvo se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções. Há
exclusão da antijuridicidade do fato. Existe interesse
social na fiscalização da conduta moral daquele que
exerce cargo público.
No tempo da exceção, o ofendido tem que ser funcionário
público.

A Lei de Imprensa (art. 21, parágrafo 1.º), ampliou os casos


de exceção da verdade:

a)se o crime é cometido contra órgão ou entidade que


exerça funções de autoridade pública;
b)se o ofendido permite a prova.
11.Ação penal:

Privada, em regra.
Injúria

1.Injúria – conceito:
Art. 140, CP: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a
dignidade ou o decoro”
Pena: detenção, de 1 a 6 meses e multa.

2.Objetividade jurídica:
Honra subjetiva. Eventualmente, pode ser atingida
também a honra objetiva da vítima, mas trata-se de
resultado indiferente à caracterização do delito.

3.Sujeito ativo:
•qualquer pessoa física.
4.Sujeito passivo:
qualquer pessoa física que tenha compreensão da
ofensa. Assim, inimputáveis que não tiverem
entendimento da injúria não poderão ser vítimas do
crime.
contra os mortos: não configura injúria, pois não se
pode estender o critério da calúnia (art. 138,
parágrafo 2.º, CP) por analogia. Pode ocorrer o
crime do art. 212, CP (vilipêndio a cadáver).
Vilipendiar significa tratar com desprezo, ultrajar.
pessoa jurídica: em regra, não é possível, apenas
na lei de imprensa(art. 23, III, Lei 5.250/67).
5.Elemento objetivo:
injuriar: ofender a honra subjetiva, atingindo
seus atributos morais (dignidade – ex.: ladrão)
ou físicos, intelectuais e sociais (decoro – ex.:
beldroegas).

Há ofensa que manifesta um conceito


depreciativo sobre a vítima.
Pode se injuriar de diversas maneiras. Gestos,
desenhos, comportamentos etc. Ex.: com a
intenção de ferir a dignidade, jogar lixo no
quintal da casa vizinha, jogar líquido no rosto da
vítima etc.
6. Elemento subjetivo:
Idem à calúnia / difamação.

7. Exceção da verdade:
 inadmissível.

8. Consumação:
Crime formal: não se exige a ocorrência do dano
para sua configuração. Assim sendo, basta que
a ofensa seja idônea a ofender a vítima, que
toma conhecimento do insulto. Despisciendo
que ela fique chateada, triste etc.
9.Tentativa:
fala-se possível na forma oral, em duas
hipóteses:
. o agente profere o insulto, que não é ouvido pela
vítima;
. o agente profere o vitupério diante de terceiros,
que não levam a ofensa ao conhecimento da
vítima.
é possível na forma escrita, quando uma
missiva é interceptada por terceiro.
Contudo, sabe-se tratar de crime de ação privada,
que exige da vítima o conhecimento da ofensa.
10.Perdão judicial (art. 140, parágrafo 1.º, CP):
Art. 140, parágrafo 1.º, CP:
“O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria”: a provocação pode ser lícita
(gracejou a irmã do agente) ou ilícita (lesão,
ameaça). A provocação censurável deve ter
sido efetuada na presença do autor da injúria.
“II – no caso de retorsão imediata que consista em
outra injúria”: é a injúria em razão da injúria. O
retruque deve ser contemporâneo, caso contrário,
haverá reciprocidade de crimes, que não aceita o
perdão judicial. As partes devem estar presentes,
não se admitindo a injúria por escrito (salvo
Damásio, que admite).
11. Injúria real (art. 140, parágrafo 2.º, CP):

11.1 Conceito:
É a injúria em que o agente escolhe uma agressão
capaz de causar vergonha, desonra, para ofender a
vítima.
11.2 Objeto jurídico:
honra individual;
incolumidade física: violência e vias de fato.
11.3 Elemento subjetivo:
dolo: a violência ou as vias de fato devem ser
utilizadas com o objetivo de ofender a honra. Se não
for assim, outro crime estará configurado. Ex.: lesão
corporal, contravenção de vias de fato etc.)
11.4 Vias de fato ou violência ofensivas à honra:
a) vias de fato: ultraje de caráter físico que não causa
lesão, não prejudica a saúde e nem deixa vestígios
(ex.: bofetadas, puxões de cabelos, empurrões
etc.). Sem o dolo de insultar, configura a
contravenção penal do art. 21, LCP;
b) violência: é a lesão corporal causada no sujeito
passivo com o objetivo de vituperá-lo. Nesse caso,
existirá concurso de delitos (injúria + lesão
corporal), com aplicação cumulativa das penas,
conforme se depreende do preceito secundário do
art. 140, parágrafo 2.º, CP (“além da pena
correspondente à violência”);
c) grave ameaça: não configura a injúria real por falta de
previsão legal;
d) ofensa à honra: as vias de fato ou a violência devem
ser aviltantes:
 por sua própria natureza: ex.: rasgar as roupas de uma
pessoa, cortar ou puxar cabelo / barba, cavalgar a
vítima, virar o paletó do avesso etc.
 pelo meio empregado: ex.: dar palmadas na vítima;
atirar-lhe bebida, excrementos; jogar objetos
inservíveis na vítima ou na sua residência etc.

11.5Retorsão imediata:
 É possível a aplicação do perdão judicial, conforme
insculpido no art. 140, parágrafo 1.º, inciso II, CP. No
caso de lesões corporais, os agentes respondem pelo
crime na forma do art. 129, parágrafo 5.º, inciso II, CP.
12.Injúria por preconceito (art. 140, parágrafo, 3.º,
CP):
A conduta deve ser praticada com o objetivo de
ofender o sujeito passivo em virtude de sua raça,
cor, etnia, religião, origem etc.
Delito inconfundível com o racismo, que resulta de
discriminação. Discriminar significa impedir o
exercício de direitos. Ex.: impedir a entrada de
alguém num edifício, em razão de sua cor.
Outrossim, é qualificadora do crime a ofensa
praticada contra o idoso (indivíduo acima de 60
anos) e pessoa portadora de deficiência. Deve
haver nexo de causalidade entre a ofensa e a
especial condição pessoal para configurar suposta
inferioridade ao ofendido.
Disposições Comuns aos Crimes contra a Honra

1.Causas de aumento de pena:


Art. 141, CP.
As penas dos crimes contra a honra são aumentadas
de um terço, se qualquer dos delitos é cometido:
a)contra o Presidente da República (inciso I): trata-se
de ofensa ao maior representante do Estado. A
mácula à honra individual do Presidente da
República pode estender-se ao país. Daí a
justificativa da majorante.

Se há motivação política e atingimento da segurança


interna ou externa do país, o crime será o da LSN.
b)contra chefe de governo estrangeiro (inciso I): como a
norma penal utiliza o termo “chefe de governo
estrangeiro”, tal definição estende-se aos Presidentes da
República, primeiros-ministros, chefes de Estado ou
qualquer autoridade com tal prerrogativa constitucional.
Igualmente, se há motivação política e atingimento da
segurança interna ou externa do país, o crime será o da
LSN.
c)contra funcionário público, em razão de suas funções
(inciso II):
nexo causal;
vida particular, não;
dentro ou fora do local de trabalho;
na presença do funcionário: desacato (art. 331, CP).
d) na presença de várias pessoas (inciso III):
maior facilidade de divulgação das ofensas irrogadas;
maior dano ao ofendido;
várias pessoas: no mínimo 03 (três). Quando
suficiente 02 (duas), os dispositivos são expressos (ex.:
art. 150, parágrafo 1.º; art. 155, parágrafo 4.º, IV, CP).
Quando 04 (quatro), também (ex.: art. 288, CP);
exceto o ofendido e o(s) ofensor(es).
o(s) ofensor(es) deve(m) ter conhecimento da
presença de várias pessoas (dolo)
e) por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou da injúria (inciso III):
rádio, TV, jornais, revistas são objetos da Lei de
Imprensa (Lei n.º 5.270/67);
ex.: pichações, alto-falantes, fotografias, impressos etc.
basta o emprego de meio idôneo, desnecessária a
prova da efetiva divulgação.

f) contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou


portadora de deficiência, exceto no caso de injúria (inciso
IV):
 
não incidência sobre a injúria, em virtude da
qualificadora do art. 140, parágrafo 3.º, CP;
deficiente físico ou mental.
g) se o crime é cometido mediante paga ou promessa de
recompensa (parágrafo único):
motivo torpe (desprezível);
qualificadora do homicídio (art. 121, parágrafo 2.º, inciso
I, CP);
agravante genérica (art. 62, IV, CP);
nos crimes contra a honra, causa especial de aumento
de pena;
paga: recebimento antecipado de dinheiro ou bem
econômico;
promessa de recompensa: oferta, compromisso de
pagar pelo crime. Desnecessária a entrega da
recompensa. Respondem pelo delito, com aumento de
pena, o mandante e o mandado.
2. Exclusão do crime:

Art. 142, CP.


Há exclusão da antijuridicidade (Mirabete, Capez)
e não da punibilidade (Noronha). Para
Mirabete e Capez, portanto, não há crime.
Para Noronha, há, mas impunível.
Apenas com relação à difamação e injúria. Não
envolve o crime de calúnia.
Hipóteses:
a)imunidade judiciária (inciso I): na defesa de seus direitos, a lei
concede às partes e procuradores a imunidade.
Parte: autor; réu; opoente; litisconsorte; interveniente;
assistente; o chamado à autoria etc. e representante do MP,
quando atua como parte (e não como custus legis).
Procurador: advogado (constituído, dativo, ad hoc) e estagiário.
O inciso I traz a hipótese da ofensa irrogada em juízo. Se for
proferida fora dele, não há imunidade; exceto se advogado,
conforme art. 7.º, parágrafo 2.º, Lei 8.906/94.
Não alcança o juiz, escrivães, peritos, oficiais de justiça,
delegados de polícia e porteiros de auditório. Poderão estes
alegar, se for o caso, a imunidade referida no art. 142, inciso III,
CP, ou o exercício regular do direito (art. 23, inciso III, CP).
A imunidade também não cobre a ofensa feita ao juiz, salvo se
ele está sob suspeição, caso em que o vive, episodicamente, a
situação de parte; ou se o juiz ultrapassa os limites do dever
legal e o advogado contragolpeando-o, faz uso do “jus
retorquendi”.
b) crítica literária, artística ou científica (inciso II):
 crítica: mesmo desfavorável e severa, é legítima;
 tutela-se o elevado interesse da cultura;
 resguardar a liberdade de crítica em relação às
ciências, artes e letras, indispensável ao
aperfeiçoamento dessas manifestações superiores
do espírito e a segurança do julgamento histórico
sobre elas;
 se o propósito do crítico for o de denegrir a
reputação ou a boa fama do literato, artista ou
cientista, responderá pelo delito.
 a excludente é válida se sua conduta for
impulsionada, tão somente, pelo “animus criticandi”.
Ex. 1: se diz que um artista pintou seu quadro no escuro
ou de olhos fechados  há excludente.
Ex.2: aquilo é pintura de asno  injuria.
c) conceito desfavorável emitido por funcionário
público (Inciso III):
 funcionário público (art. 327, CP);
 não configura difamação ou injúria: estrito
cumprimento de dever legal (art. 23, inciso III,
CP);
d) publicidade da imunidade judiciária e do
conceito desfavorável de funcionário público
(parágrafo único):
• se terceiro divulga informações acerca das
situações assinaladas, responde pelo crime.
3. Retratação:

Art. 143, CP:


a) cabível na calúnia ou difamação;
b) querelado:
- não abrange os crimes de ação penal pública;
c) o que é retratação?
 desdizer-se, retirar o que disse, declarar que
errou;
  independe de formalidade especial;
  independe da aceitação do ofendido;
  deve ser plena: retratação parcial, reticente ou
incerta não exclui a punibildade;
  não exige outra publicidade senão aquela
decorrente de seu registro nos autos da ação
penal;
d)causa extintiva da punibilidade (art. 107, inciso VI,
CP):
isenção da pena
antes da sentença condenatória de primeira
instância: se praticada durante a fase de eventual
recurso, poderá constituir-se em atenuante.
e)não se estende o benefício a eventuais co-autores;
f)não atinge a injúria;
g)não se exige que a retratação exprima um sincero
arrependimento.
4.Pedido de explicações:

Art. 144, CP;


a)medida facultativa, preparatória da ação penal;
b)ir a juízo para pedir esclarecimentos sobre
alguma declaração de conteúdo dúbio;
c)verificar se há ou não alguma ofensa ao
requerente;
d)cabível quando não se mostra evidente a
intenção de caluniar, difamar ou injuriar,
causando dúvida quanto ao significado da
manifestação do autor;
e) o juízo não profere decisão, salvo quanto à
admissibilidade do pedido;
f) é inadmissível a apreciação sobre o mérito da
ofensa irrogada;
g) a expressão “a critério do juiz” refere-se ao
magistrado perante o qual é proposta a ação
penal subseqüente, e não ao do pedido de
explicações;
h) se o interpelado não atender ao pedido, o juiz
não poderá coagi-lo a prestar as explicações
solicitadas: feita a notificação e realizada a
audiência à qual o notificado não comparecer,
está esgotada a tarefa judicial.
5. Ação Penal:

São cinco hipóteses:


a) regra: privada;
b) pública incondicionada: injúria real em que resultou
lesão corporal grave;
c) pública condicionada à representação: injúria real em
que resultou lesão corporal leve (art. 88, Lei 9.099/95)
d) pública condicionada à representação: calúnia ou a
difamação é cometida contra funcionário público no
exercício da função. Ver Súmula 714, STF;
e) pública condicionada à requisição do Ministro da
Justiça: quando a conduta for cometido contra o
Presidente da República ou Chefe de Governo
estrangeiro.
Constrangimento Ilegal

1.Conceito:
Art. 146, CP.

2.Objetividade jurídica:
a)liberdade individual:
autodeterminação (de querer);
física;
psíquica.
3. Sujeitos do crime:
a) sujeito ativo: qualquer pessoa.
E se for funcionário público?
 art. 350, CP (exercício arbitrário ou abuso de
poder);
 Lei 4.898/65 (abuso de autoridade).
b) sujeito passivo: qualquer pessoa física que possua
capacidade de autodeterminação, de querer (ou
seja, imputável).
E se for funcionário público?
 se oferecer ou prometer vantagem indevida:
corrupção ativa (art. 333, CP);
E se for criança?
a) art. 232, Lei 8.069/90 (ECA).
4.Elemento objetivo:

a) Constranger (compelir, forçar, obrigar):


violência própria (energia física):
direta: contra a própria pessoa (amarrar, lesionar,
amordaçar, tirar a muleta do aleijado etc.);
indireta: contra terceira pessoa.
E contra coisa?
A jurisprudência têm admitido como violência indireta.
b) grave ameaça (energia moral):
Promessa de mal futuro, iminente, sério e
verossímil.
 direta: contra a própria pessoa (amarrar,
lesionar, amordaçar, tirar a muleta do aleijado
etc.);
 indireta: contra terceira pessoa.
Exige a presença da vítima?
Não. A ameaça pode ser levada ao seu
conhecimento por escrito ou mediante terceira
pessoa.

E se o mal for justo?


Não importa. O mal futuro pode ser justo ou injusto.
c) violência imprópria:
 cometida por qualquer outro meio, que não a
violência física ou grave ameaça;
 capaz de reduzir a capacidade de resistência da
vítima para que ela venha a não fazer o que a lei
permite, ou a fazer o que ela não manda;
 exs.: emprego de narcóticos, anestésicos,
estimulantes, álcool;
 direta: dirigida contra a própria vítima;
 indireta: dirigida contra coisa ou contra terceiros.
5. Crime subsidiário:

a) trata-se de um crime subsidiário, de uma figura de


reserva;
b) só será punido o constrangimento se não fizer
parte de outro crime, como seu elemento
essencial ou como agravante:
 a violência empregada para privar alguém de sua
liberdade concretiza o seqüestro;
 a ameaça usada para introduzir-se arbitrariamente
no domicílio alheio integra a violação de domicílio;
 são casos em que a violência ou ameaça servem
de meio para a execução dos vários delitos e são
por eles absorvidas.
6.Elemento subjetivo:
a) dolo específico:
vontade livre e consciente de usar violência ou
grave ameaça;
sabendo agir ilegitimamente, com o escopo de
constranger outros a fazer algo que a lei não manda,
ou a não fazer o que a lei permite.

7.Consumação:
a)crime material:
a vítima, submetida, toma o comportamento a que
foi obrigada, fazendo o que a lei não manda ou não
fazendo o que ela permite.
8. Tentativa:
a) admissível:
 o ofendido não cede à vontade do agente,
apesar da violência ou grave ameaça;
 por desejo próprio ou por intervenção de
terceiro.

9. Ação Penal:
a) pública incondicionada.
10.Causas de aumento de pena:

Art. 146, parágrafo 1.º, CP.

a)concurso de quatro pessoas, no mínimo:


inclui-se o agente principal;
pessoas incapazes poderão servir, para completar o
número legal;
existe a causa de aumento de pena mesmo sem
concerto prévio entre os co-autores;
os co-autores podem, inclusive, ter atuação diversa no
fato criminoso. O importante aqui, é que cada um
participe do ato executivo do crime.
b) o emprego de armas:
 é necessário que a arma seja utilizada pelo agente,
para lesionar ou ameaçar;
 não se configura o agravamento o simples porte
dela;
 a lei fala em “armas”, não indicando com isso sua
pluralidade, mas tão somente o gênero.
 arma pode ser própria: armas propriamente ditas,
como as de fogo, os instrumentos perfuro-
cortantes etc;
 arma pode ser imprópria: instrumentos ou objetos
que, não tendo o fim especial de matar, ferir, ou
ameaçar, servem, entretanto, para sua realização;
como pedras, garrafas, cordas etc.
11.Concurso de crimes:

Art. 146, parágrafo 2.º, CP:


a)além das penas cominadas, aplicam-se as
correspondentes à violência:
o legislador tem em vista aqui somente a
violência física. Isto significa que se o agente,
v.g., realizou uma conduta que causou lesão
corporal grave, responderá também por este
delito.
12. Exclusão de crime:

Art. 146, parágrafo 3.º, CP:


Dois casos são previstos:
a) intervenção médica ou cirúrgica, se iminente o perigo
de vida, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal (inciso I):
 o tratamento médico arbitrário é um caso de estado
de necessidade em que se viola a liberdade individual
para salvar-se a vida do paciente.
b) coação exercida para impedir o suicídio (inciso II):
 embora o suicídio não constitua fato típico, é ele
antijurídico, motivo que levou o legislador a não tornar
criminosa a conduta de quem pratica violência ou
ameaça para impedi-lo.
Ameaça

1.Conceito:
Art. 147, CP.

2.Objetividade jurídica:
a)liberdade psíquica:
paz de espírito;
tranqüilidade e sossego.
3. Sujeitos do crime:

a) sujeito ativo:
 pessoa física imputável;
 se funcionário público: art. 3.º, Lei 4.898/65.
b) sujeito passivo:
 pessoa física determinada;
 tenha capacidade de entendimento;
 se incapaz de sentir o efeito psíquico, não se
pode dizer que o bem jurídico protegido foi
atingido.
4. Elemento objetivo:
a) ameaçar:
b) intimidar, anunciar ou prometer castigo ou
malefício;
c) a vítima deve se sentir ameaçada, conforme
jurisprudência dominante;
d) deve ser idônea: praga ou esconjuro não configura
o delito;
e) deve ser séria: se proferida com “animus jocandi”
ou por espalhafatoso bravateiro, não há delito;
f) não pode visar fato pretérito;
g) mal injusto e grave;
h) palavra, gesto ou qualquer outro meio simbólico;
i) subsidiariedade:
. absorvida pelo constrangimento ilegal;
. é elemento de outros crimes.
5.Espécies de ameaça:

a)direta: mal contra a própria vítima;


b)indireta (reflexa): mal contra terceiro;
c)explícita: inequívoca (ex.: exibição de arma);
d)implícita: equívoca (ex.: “cobro minhas dívidas
com sangue”);
e)condicional:
6.Elemento subjetivo:

a)dolo específico:
vontade livre e consciente de enunciar o
desígnio ou propósito de mal injusto e grave;
consciência da injustiça do mal por parte do
agente;
e o ébrio?
. pode ameaçar com eficácia, desde que a
embriaguez não seja completa;
. não pode colher risos, compaixão ou desprezo.
animo calmo e refletido?
. será na cólera a ameaça mais eficiente?
7.Consumação:
a)crime formal:
consuma-se no momento em que a vítima toma
conhecimento da ameaça.

8.Tentativa:
a)inadmissível, na forma verbal;
b)admissível, por via escrita:
só terá importância se a vítima for incapaz; a ação penal
só poderá ser proposta sem conhecimento do ofendido
se este tiver, por incapacidade, representante legal.

9.Ação penal:
Art. 147, parágrafo único, CP.
a)pública condicionada à representação.
Redução à Condição Análoga à de Escravo (Plágio)

1.Conceito:
Art. 149, CP.
Plágio: desvio de escravo.

2.Objetividade jurídica:
a)liberdade individual, sob todas as formas:
livre da servidão ou poder de fato de outra pessoa.
3. Sujeitos do crime:

a) sujeito ativo: qualquer pessoa e não apenas o


empregador. Não é crime próprio;
b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
 e se criança ou adolescente?
. art. 149, parágrafo 2.º, I, CP.

4. Elemento objetivo:

a) redução à condição análoga à de escravo:


b) sujeitar alguém totalmente à vontade do agente;
c) escravização da pessoa humana.
d) domínio de um sobre outro, anulando a liberdade;
e) e o consentimento do ofendido?
. liberdade é indisponível, não exclui a ilicitude do fato.
5.Elemento subjetivo:
a)dolo específico:
vontade livre e consciente de tolher a liberdade;
consciência do agente do estado de submissão;
e se a finalidade for de criar, corrigir ou proteger uma
pessoa?
. ausente o dolo, pode configurar maus-tratos (art. 136,
CP).

6.Consumação:
a)crime material:
b)consuma-se no momento em que o sujeito passivo é
reduzido por certa duração;
c)sujeição instantânea ou momentânea não configura o
delito.
7.Tentativa:
• admissível.

8.Ação penal:
a)pública incondicionada.

9.Outros meios:
Art. 149, parágrafo 1.º, CP

10.Causas de aumento de pena:


Art. 149, parágrafo 2.º, CP.
Violação de domicílio

1.Conceito:
Art. 150, CP.

2.Bem jurídico protegido:


a)a tranqüilidade doméstica e a paz íntima dos
moradores:
o “nomem juris” “violação de domicílio” é
impróprio, pois a lei penal não tutela apenas o
domicílio como vem definido na lei civil, mas todo
lugar de habitação ou atividade privada.
3. Sujeitos do crime:

a) sujeito ativo:
 qualquer pessoa, até mesmo o proprietário do
imóvel locado, visto que o bem jurídico protegido
não é a propriedade.
b) sujeito passivo:
 é o morador, aquele que pode impedir a entrada
de outrem em sua casa (locatário, arrendatário,
possuidor legítimo, proprietário etc.);
 em regra, será o chefe da casa (art. 226, parágrafo
5.º, CF), representado, na sua ausência, pelos
demais membros da família ou por empregados
domésticos, desde que a vontade destes não seja
oposta à daquele;
no caso de conflito entre o chefe da casa e os demais
membros, prevalece a sua autoridade, desde que do
consentimento dele não fique ofendido ou exposto a
perigo o direito de liberdade doméstica.
Assim, comete o crime de violação de domicílio a
empregada que à noite, faz entrar seu amante na
residência ou a mulher que, na ausência do marido
permite o ingresso do amante na residência.
num regime em que todos os moradores são titulares do
direito de admitir ou de excluir alguém, como ocorre nas
repúblicas de estudantes, havendo divergência entre eles
em igualdade de condições, prevalece a proibição.

4. Tipo de crime:
 crime comum.
5. Elemento objetivo:

É crime de ação múltipla. As condutas típicas são


entrar ou permanecer. Assim, o crime poderá
realizar-se:
 com o indivíduo entrando na casa alheia, o que
significa nela penetrar, transpor os limites da
casa com todo o corpo, não bastando a
transposição de apenas parte dele (um braço,
uma perna etc.). O que aperfeiçoa o tipo é a
introdução física do agente, no recinto
circunscrito da habitação.
com o indivíduo permanecendo em casa alheia,
como quando convidado a sair não o fizer, embora
tendo entrado legitimamente. Para que se configure o
delito, será mister que persista em permanecer na
casa alheia por um certo lapso temporal: uma positiva
recalcitrância (resistência com desobediência) e não
uma momentânea hesitação ao retirar-se.
O ingresso ou permanência indevidos poderão
verificar-se tanto na casa quanto em suas
dependências (jardim, pátio, quintal, garagem etc.),
desde que haja um visível obstáculo à passagem
(cercas, telas, correntes etc.).
Na violação de pastagem ou campo de propriedade
rural, pode-se configurar o delito de esbulho
possessório (art. 161, parágrafo 1.º, inciso II, CP).
6.Elemento normativo do tipo:

“Contra a vontade expressa ou tácita de quem de


direito”.
O dissenso do morador poderá ser:
a)explícito:
expresso: quando proclamado pelo ofendido;
tácito: quando, do comportamento da vítima se
deduza claramente ser ele contrário à
permanência de terceiro, ou de seu ingresso.
Ex.: entrada do homicida na residência da viúva.
b)implícito: presume-se o dissenso quando o crime é
praticado clandestinamente ou astuciosamente.
a forma clandestina da conduta é a entrada ou permanência
realizada às ocultas, furtivamente (sempre será clandestina
quando se realizou sem ciência do sujeito passivo);
na modalidade astuciosa da conduta, há o emprego de
fraude, ardil, artifício (v.g., entrada mediante uniforme de
empresa telefônica; permanência mediante alegação de um
mal súbito).
Deverá tratar-se de casa alheia e habitada, o que não impede
esteja o morador ausente no momento da invasão. Se a
casa estiver abandonada ou desabitada (v.g., que está para
alugar) não há crime a punir, salvo para Damásio e
Mirabete que vislumbram a possibilidade do delito descrito
no art. 161, parágrafo 1.º, II, CP.
O patrão tem o direito de penetrar no quarto da empregada,
desde que para fins lícitos e morais, ainda que contra a
vontade dela. Assim como os pais em relação aos filhos.
7.Domicílio civil e domicílio penal:

Há diferença entre o conceito de domicílio para a Lei Civil


e aquele protegido pelo Código Penal, pois aquela
considera como domicílio apenas o lugar onde as
pessoas fixam residência com ânimo definitivo e este o
considera como (art. 150, parágrafo 4.º, CP):
I – qualquer compartimento habitado (maloca, barraco,
trailer etc.);
II – aposento ocupado de habitação coletiva (quartos de
pensão, hotel, motel etc.);
III – compartimento não aberto ao público, onde alguém
exerce profissão ou atividade.
Não se inclui no conceito, ainda que por extensão do art.
150, parágrafo 4.º, inciso III, CP, o escritório de um
advogado, visto que este é aberto ao público. Não sendo
aberto ao público, poderá ser considerado domicílio.
Ocupa-se o parágrafo 5.º do art. 150, CP, em
estabelecer o que não se considera casa:
I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra
habitação coletiva, enquanto aberta, salvo o
disposto no inciso II, do parágrafo 4.º;
II – taverna, casas de jogo e outras do mesmo
gênero (restaurantes, boates, prostíbulos,
cassinos etc.)
8. Elemento subjetivo:
 dolo: é a vontade de ingressar ou permanecer na
casa contra a vontade de quem de direito.

9. Consumação:
 crime de mera conduta: há o perigo presumido na
conduta do agente. O resultado naturalístico não
é apenas prescindível, mas impossível.
Consuma-se o crime pela entrada efetiva, transposto
pelo agente o limite que separa o domicílio do
mundo exterior ou pela permanência, por tempo
juridicamente relevante, daquele que toma
ciência de que deve sair.
10.Tentativa:
a)admissível.
Sendo o agente surpreendido e impedido, no
instante do ingresso, o crime será tentado.
Na permanência, o agente é impedido de ficar no
local por tempo juridicamente relevante. Há
posição no sentido de que nessa hipótese a
tentativa é impossível.

11. Ação penal:


a)pública incondicionada.
12. Formas qualificadas:

O parágrafo 1.º do art. 150, CP, enumerou quatro


hipóteses de violação domiciliar qualificadas, em que a
pena passa a ser de seis meses a dois anos, além da
pena correspondente à violência:
a)se o crime é cometido durante a noite, assim
considerado o período que vai do crepúsculo da tarde ao
crepúsculo da manhã: justifica-se pelo enfraquecimento da
defesa privada durante à noite, o que facilita a violação;
b)se o crime é cometido em lugar ermo, assim
considerado aquele não freqüentado, afastado e solitário:
justifica-se pela dificuldade que a vítima encontrará para
buscar auxílio e pela facilidade que o agente encontrará
na execução do crime.
C) o emprego de violência ou de arma (própria ou
imprópria):
violência:
. empregada contra a pessoa (“vis corporallis”);
. empregada contra a coisa (Damásio / Mirabette):
quando o legislador quer restringir a expressão
"violência”, ele o faz taxativamente, como ocorre nas
hipóteses do art. 157, “caput”, e parágrafo 1.º, CP,
onde se lê “violência contra a pessoa”.
arma (própria ou imprópria).
D) se o fato for praticado por duas ou mais pessoas:
justifica-se pela maior facilidade que encontra o
agente para a prática criminosa, além de que a
tendência a associar-se manifesta-se, em geral, nos
delinqüentes mais perigosos.
13. Causa de aumento de pena:

No parágrafo 2.º do art. 150, CP, foi prevista uma causa


de aumento de pena que a majorará em um terço:
a)se o fato for cometido por funcionário público, fora dos
casos legais;
b)se o fato for cometido por funcionário público, com
inobservância das formalidades estabelecidas em lei;
c)se o fato for cometido por funcionário público, com
abuso de poder: verifica-se o abuso de poder quando o
funcionário se excede, ultrapassando os limites impostos
pela lei, praticando atos desnecessários ao exercício da
função.
É importante salientar que Fernando Capez defende a
aplicabilidade exclusiva do art. 3.º, “b”, Lei 4.898/65 (Lei
de Abuso de Autoridade), em face do princípio da
especialidade.
14. Exclusão da antijuridicidade:
O parágrafo 3.º, do art. 150, CP, enumera os casos legais
de entrada ou permanência em casa alheia:
a)durante o dia, para efetuar prisão ou outra diligência,
observadas as formalidades legais: a expressão diligência
compreende não só aquelas de natureza judicial, como as
policiais, administrativas (inspeção sanitária), ou fiscais.
b)a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime
estiver sendo praticado no domicílio alheio, ou na
iminência de o ser: trata-se de prisão em flagrante,
quando qualquer do povo pode e as autoridades devem
prender. A lei fala em crime, mas deve-se compreender
também a contravenção, visto que a Constituição Federal,
em seu art. 5.º, inciso XI, contempla a exclusão da
antijuridicidade em hipóteses de “flagrante delito”.
15. Outras excludentes:

Também em outras situações não haverá crime:


a)como na legítima defesa própria (v.g.: o agente
entra na casa, para impedir a agressão iminente
ou atual contra si, por parte do morador) ou de
terceiro (v.g.: o agente penetra na casa para
defender o morador de agressão de terceiro);
b)em estado de necessidade (em que o agente
entra na casa para evitar desastre ou prestar
socorro); e em exercício regular do direito (v.g.: a
entrada do vizinho, mediante aviso, em caso de
reparação de sua casa).
16. Concurso de crimes:
Comum é a prática do delito de violação de domicílio como
meio para a produção de outro crime. Nesse caso, a opinião
dominante, na doutrina e na jurisprudência é que o crime-fim
absorve a violação de domicílio.
Assim sendo, é o crime do art. 150, CP, um delito
eminentemente subsidiário, só se apresentando como crime
autônomo quando a violação de domicílio:
a)seja fim em si mesma;
b)sirva a fim não criminoso ou haja dúvida quanto ao
verdadeiro fim do agente;
c)seja simples ato preparatório de outro crime (v.g.: agente que
viola domicílio alheio para agredir a vítima, que não se
encontra);
d)haja desistência voluntária do agente quanto ao crime-fim;
e)seja o crime-fim menos severamente punido (v.g.: penetrar o
agente em domicílio alheio visando o exercício arbitrário das
próprias razões (art. 345, CP).
CONCURSO PÚBLICO
DIREITO PENAL

PROF. EMERSON MALHEIRO

Você também pode gostar