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Resumos Direito Constitucional

Direito Constitucional (Universidade Catolica Portuguesa)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Maria Carolina Martins

Dupla Licenciatura- Direito e Gestão UCP 2022

Resumos Direito Constitucional

Índice

1. Objeto e método da ciência do Direito Constitucional


2. O Estado como comunidade política.
3. Origem e evolução do Estado
4. O poder político antes do Estado
5. O surgimento do Estado (moderno)
6. A evolução do Estado
7. O Estado desafiado pela descentralização regional e pela centralização internacional do poder
8. Os Elementos do Estado
9. Breve exposição da teoria dos três elementos
10. Conceito de povo
11. Distinção de figuras afins (população, nação e pátria)
12. O poder soberano
13. A soberania como poder político
14. A soberania como categoria especial do poder político
15. A soberania e o Direito
16. Limites ao poder político soberano
17. Desafios contemporâneos à soberania dos Estados
18. O conceito de Constituição. A evolução histórico-valorativa da Constituição
19. Funções atuais da Constituição.
20. A Constituição como o estatuto jurídico fundamental da comunidade política
21. As formas constitucionais:
22. Constituição escrita e constituição não escrita
23. Constituição rígida e constituição flexível
24. Constituição material e constituição formal
25. Constituição estatutária e constituição programática; constituição simples e constituição
compromissória
26. Constituição normativa, constituição nominal e constituição semântica
27. Os atos jurídico-públicos:
28. Os principais atos normativos
29. Constituição
30. Atos legislativos nacionais
31. Atos legislativos da União Europeia
32. Convenções internacionais
33. Regulamentos administrativos
34. A hierarquia dos atos normativos
35. Os principais atos não normativos
36. Atos políticos
37. Atos jurisdicionais
38. Atos jurídicos concretos da Administração Pública que se regem pelo Direito Público (atos
administrativos e contratos de direito administrativo)
39. A dinâmica constituinte
40. O poder constituinte e os seus modos de revelação
41. O poder constituinte originário e o poder constituinte derivado
42. Os limites materiais do poder constituinte

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

43. O poder de revisão constitucional


44. A evolução constitucional: as sete revisões constitucionais da CRP/76

45. A força jurídica da Constituição.


46. A tridimensionalidade constitucional:
47. O texto constitucional
48. A realidade constitucional
49. A cultura constitucional
50. A Constituição como ordem material, aberta, não estática, não hierárquica, pluralista e positiva
51. As funções do Estado:
52. A função política (legislativa e governamental)
53. A função administrativa e a função jurisdicional
54. Alguns casos de diluição de fronteiras
55. O princípio da separação de poderes
56. Organização do poder político:
57. Separação de poderes e forma de Governo
58. Forma ou sistema de governo consagrado na CRP/76
59. Caraterização do regime parlamentar-presidencial português
60. Relações de separação e interdependência entre os três órgãos políticos de soberania
61. Estrutura e funções dos órgãos de soberania.
62. O Presidente da República.
63. A Assembleia da República
64. O Governo. Os Tribunais.
65. Reserva orgânica da competência legislativa: a Constituição como norma primária sobre a
produção jurídico-positiva.
66. Competência legislativa da Assembleia da República:
67. A Assembleia da República como o órgão legislativo por excelência
68. Os atos legislativos da AR
69. A fiscalização da constitucionalidade.
70. Noção e tipos de inconstitucionalidade
71. Modelos de controlo da constitucionalidade das normas jurídicas: modelo unitário versus modelo
da separação
72. O sistema de controlo da constitucionalidade na CRP/76:
73. A fiscalização preventiva da constitucionalidade
74. O processo de controlo concreto da constitucionalidade
75. O processo de controlo abstrato sucessivo da constitucionalidade
76. O processo de inconstitucionalidade por omissão

Objeto e método da ciência do Direito Constitucional

A CONSTITUIÇÃO COMO NORMA


➢ A Constituição é a norma normarum, em termos formais e materiais.
➢ Direito constitucional ≠ Direito ordinário
➢ O Direito Constitucional é direito público.

Art. 3.º/3 CRP: princípio da constitucionalidade*

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

O princípio da constitucionalidade refere-se à superioridade normativa das normas


constitucionais no ordenamento jurídico (lex superior) – ressalva quanto às normas da União
Europeia (art. 8.º/4). Complexidade/heterogeneidade do ordenamento jurídico: interferência
dos direitos da UE e internacional

➢ Auto-primazia normativa

Artigo 3.º - (Soberania e legalidade)

1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas
na Constituição.
2. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade democrática.
3. A validade das leis e dos demais actos do Estado, das regiões autónomas, do poder
local e de quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a
Constituição.

O surgimento do Estado

Comunidade política medieval como antítese do Estado:

➢ Fragmentação do poder
➢ Personalização do poder
➢ Individualização do poder

O Estado como antítese da Comunidade política medieval:

➢ Centralização e concentração do poder (vs. fragmentação)


➢ Territorialização do poder (vs. personalização)
➢ Institucionalização do poder (vs. Individualização)

Comunidade Política Medieval Estado

Fragmentação (poliarquia) Centralização e concentração do poder


(monarquia)
Diversidade de organizações políticas
Aparelhos de poder únicos (exército,
Estatutos e prerrogativas próprias funcionários) na titularidade do príncipe
Aparelhos próprios de poder
Uma ordem jurídica
Sujeição ao Papa e/ou ao Imperador

Personalização Territorialização do poder


Pactos de fidelidade

Pr. da Personalidade na aplicação do Dto. Pr. da Territorialidade na aplicação do Dto.


Privilégios do foro

Território como propriedade do príncipe Território como património colectivo 3

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Comunidade Política Medieval Estado

Individualização («fulanização») Institucionalização do poder

Poder carismático O poder passa das pessoas concretas para


as instituições

Pessoas são meros titulares de órgãos


Insegurança e instabilidade da
liderança Estabilidade da liderança

Continuidade das regras vigentes

Rupturas no plano da regulação Autonomização do património pessoal


do príncipe face ao património do Estado

Pergunta de avaliação:

Diga o que entende por fragmentação (medieval) do poder.

Resposta: A fragmentação do poder é uma característica da Idade Média, em contraposição com o Estado
Moderno (concentração e centralização do poder). Caracteriza-se pela diversidade de organizações
políticas, com estatutos e prerrogativas próprias; sociedade estamental e pela insegurança política e
jurídica.

Evolução Do Estado Moderno

1. Monarquias corporativas (sécs. XV, início do séc. XVII)

2. Monarquias absolutistas (sécs. XVII e XVIII)

3. Estado de Direito Liberal (séc. XIX)

4. Estado Totalitário (séc. XX)

5. Estado de Direito Social (sécs. XX e XXI)

6. Estado Autoritário (sécs. XX e XXI)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

O que distingue um Estado absoluto dos regimes totalitários?

“Tal como no Estado Absoluto, há neles uma concentração de poder político, mas muito

mais do que isso: o Estado absoluto não intervinha na vida privada das pessoas, não

pretendia absorver a sociedade civil (nem tinha meios para isso); ao passo que o Estado

Totalitário assume todo o poder na sociedade e identifica a liberdade humana com a

prossecução dos seus fins.”: Curso de direito constitucional, Jorge Miranda Capítulo II.

Monarquias corporativas (SÉC. XV-XVII): Fase intermédia entre a comunidade política


medieval e o Estado moderno

• “Estado estamental”: os estamentos (clero, nobreza e povo) tomam assento nas cortes e
limitam o poder do rei.
• “Estado patrimonial”: o território e os bens públicos ainda são património do rei.

Monarquias absolutistas (SÉC. XVII-XVIII):

• Continuação do processo de concentração do poder no Rei


• Rei alia-se à burguesia para contrariar o poder do clero e da nobreza, tendo em vista a
igualização (e “atomização”) dos súbditos
• O poder do Rei deixa de estar limitado
• Rei não está submetido ao Direito, mas apenas à (sua) Razão (“Estado de Polícia”)
• Esfera de intervenção pública alarga-se, p. ex., à atividade económica (mercados
industriais e agrícolas(mercantilismo)
• Abuso do poder
• Exceção: Inglaterra – resistência do Parlamento Inglês- Estado Liberal.

Estado de Direito Liberal:

• Revoluções americana (1776) e francesa (1789) [revolução liberal portuguesa – 1820]


• Soberania passa do rei para a Nação (burguesia)
• Parlamento eleito exerce o poder soberano
• Objetivo: evitar o abuso do poder
• Separação de poderes: parlamento- legislativa, rei e governo- função administrativa e
Tribunais- função jurisdicional.
• Submissão do Estado ao Direito
• Reconhecimento dos direitos fundamentais (o Estado tem de respeitar)
• Liberalismo económico
O Estado é liberal não só do ponto de vista político, mas também económico, não
intervindo na economia.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Estado de Direito Social:

• Evolução histórica:
• Industrialização > Proletariado (Proletariado é um conceito usado para definir a classe
oposta à classe capitalista)
• Falhas do capitalismo
• I.ª Guerra Mundial
• Estado de Direito Social:
• Evolução do Estado de Direito Liberal
• Alarga o direito de voto a toda a população
• Intervenção estatal na economia para corrigir as desigualdades e “amaciar” o ciclo
económico: repudia o liberalismo económico
• Alguns Estados: nacionalizações e regulação detalhada da atividade económica

Estado Totalitário:

• Rutura (total) com o liberalismo – do ponto de vista político e económico


• Todos os domínios da vida humana são considerados de interesse público
• Acaba com a separação entre o Estado e a sociedade (civil, económica, religiosa,
familiar)
• Abolição prática dos direitos fundamentais
• Unificação do poder
• Partido único: Chefe de estado = líder do partido único
• Eleições extintas
• Lei = vontade do líder
• Vasto controlo da atividade económica

Estado Autoritário:

O autoritarismo permanece naqueles Estados que, tendo sido comunistas, enveredaram apenas
por uma liberalização da economia, mantendo as estruturas políticas não democráticas do
partido único: China

• Estados comunistas que liberalizaram a economia


• Estados resultantes da descolonização
• Sistema económico capitalista
• Ausência de democracia: sistema de partido único (de jure ou de facto)

Pergunta de avaliação:

Define estado de Direito Social

• Processo de socialização e intervenção do Estado na economia – contraposição


com conceção liberal
• Responsabilidade estadual pelo bem-estar e desenvolvimento económico e
social, assegurar justiça social, compensar défices da iniciativa privada

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• Exemplificação com surgimento dos direitos sociais e com restrições à


autonomia privada/liberdade contratual.

Pergunta de avaliação:

Define Estado de Direito Liberal

• Revoluções americana (1776) e francesa (1789) [revolução liberal portuguesa –


1820]
• Soberania passa do rei para a Nação (burguesia)
• Parlamento eleito exerce o poder soberano
• Objetivo: evitar o abuso do poder
• Separação de poderes
• Submissão do Estado ao Direito
• Reconhecimento dos direitos fundamentais
• Liberalismo económico- o estado não intervêm na economia

A revolução neoliberal:

Estado de Direito Social:

• Mudou com a chamada “revolução neoliberal” (EUA e RU)


• Desregulamentação económica;
• Privatizações;
• Garantia da livre concorrência;
• Liberalização do comércio internacional

Mantém a faceta “social”

Elementos do Estado segundo Jellinek:

1. Povo
2. Território
3. Soberania

Crítica: não se refere à essência, mas apenas às condições de existência do Estado

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Art. 1.º da Convenção de Montevideu sobre Direitos e Deveres dos Estados (1933):

«O Estado deverá, como pessoa internacional, possuir os seguintes elementos:

a) uma população permanente;

b) um território definido;

c) um governo; e

d) capacidade para estabelecer relações com outros Estados

Constituição da República Portuguesa:

Povo: arts. 1.º, 2.º, 3.º/1, 4.º, 10.º, 108.º…

Território: arts. 5.º, 273.º/2 …

Soberania: arts. 1.º, 3.º, 6.º,

Povo, população, nação e pátria:

“Do conceito de povo distingue-se claramente o de população. O povo corresponde a um


conceito jurídico e político; a população a um conceito demográfico e económico.

O povo é uma unidade de ordem, a população é apenas uma multiplicidade de homens


atomisticamente considerados.

A população é o conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou estrangeiros.

O povo é o conjunto de cidadãos, residentes ou não no território do Estado. “

POVO – o conjunto dos CIDADÃOS:

• Conceito jurídico: vínculo que une as pessoas ao Estado: conjunto especial de direitos e
deveres recíprocos. Em democracia referem-se os direitos de participação política, como
o direito ao voto etc.
• Vínculo.
• Conjunto de direitos e deveres.
• Conceito político: elemento pessoal, vivo do Estado, ao qual pertence todo o poder
• Sentido ativo (sujeito de poder): facto de a soberania residir nele
• Sentido passivo (objeto do poder): o Estado vai exercer sobre ele a sua auctoritas.

POPULAÇÃO – o conjunto dos RESIDENTES:

• Inclui a população flutuante


• Estrangeiros
• Apátridas
• Conceito estatístico
• A população como conjunto de “súbditos”

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

NAÇÃO

• Razões: étnicas, culturais, políticas, religiosas...


• Conceito sociológico

PÁTRIA

Domínio da afetividade

Ligação emocional dos indivíduos às suas raízes.

Resumindo…

• População: conceito demográfico e económico. Conjunto de residentes ou visitantes de um


determinado território, independentemente da sua nacionalidade. É a mera soma de indivíduos,
sem atender a conexões entre eles.

• Povo: conceito jurídico-político: conjunto de cidadãos, independentemente do local de


residência. Unidade de poder- soberania popular.

• Nação: conceito cultural. Conjunto de pessoas que partilham o sentimento de pertença a uma
comunidade, que aspira a constituir-se um Estado. Comunidade política dotada de vocação
política (consciência da sua nacionalidade).

• Pátria: conceito afetivo. Terra natal. Forte conotação biológica e territorial.

Princípio das nacionalidades- Mancini, 1851


Cada nação tem direito a constituir um Estado e cada Estado assentaria numa nação. Achava-se que este
princípio oferecia a forma ideal de organização de comunidade política, na medida em que se o estado e
nação coincidissem, conflitos seriam evitados.

Nos nossos dias, as nações passam a ser pluriestaduais repartindo-se por vários Estados. Ex: nação basca,
que se comparte por Espanha e França.

Também podem haver estados plurinacionais, nos quais várias nações coabitam num Estado.

Princípio da autodeterminação dos povos


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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Os povos- designadamente o das colónias das potências europeias – têm o direito de escolher o regime
político e económico que entenderem, quer agregando-se a outro Estado, quer tornando-se independentes.

Uma das principais dificuldades resultantes da articulação entre as nações e os Estados é o da existência
de minorias nacionais. Uma minoria nacional consiste numa coletividade de cidadãos de um determinado
Estado que se sente de parte de outra nação (nação que não é maioritária nesse Estado). Como sabemos, a
democracia assenta na regra da maioria, isto é, da vontade maioritária. Ora, sendo as minorias nacionais
uma minoria em termos quantitativos, a não discriminação pode não ser suficiente para as proteger. Desta
forma, compreende-se que os Estados optem, muitas vezes, por respeitar a identidade desses grupos,
concedendo-lhes autonomia necessária para se auto-preservarem e desenvolverem.

Formas de “resolução” do problema:

• Autonomia pessoal
• Autonomia cultural
• Autonomia territorial

O Estado moderno é, como se viu, uma realidade social identificável pela conjunção de três elementos:

-Povo

-Território

-Poder soberano

Mas em que consiste o poder soberano?

Poder Soberano
Definição mista de poder político:

«Capacidade de impor pela força, aos indivíduos membros de um grupo social (da cidade ou polis), a
adoção de um determinado comportamento»

O exercício da força física é ultima ratio, mas é indispensável para a eficácia do Estado (coercibilidade).

O Estado moderno surge como a destruição da fragmentação do poder, havendo a centralização do


aparelho de poder, relativamente a cada território, nas mãos de um homem: príncipe ou rei. A partir do
séc. XV é iniciado o caminho que há de levar no seculo seguinte Jean Bodin (1576) a propor a existência de
um poder distinto ao que houvera ate ao momento: a soberania. De acordo com o autor, a soberania é: “o
poder absoluto e perpétuo de uma República” e caracteriza-se por:

• Um poder supremo no plano interno: desnecessidade do consentimento de quem que que seja
para o exercício do poder: o poder soberano não reconhece nenhum outro poder acima dele,
que o limite. Supremacia interna – superação dos poderes estamentais medievais:
imposição de leis sem necessidade de qualquer consentimento
• não sujeição às próprias leis (Princeps a legibus soluto)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• Poder independente no plano externo: rejeição completa das pretensões hegemónicas do


imperador ou do Papa.

O que distingue essencialmente o poder soberano de outras formas de poder político é o facto de ter
monopolizado o uso de força num determinado território. O poder político é exercido com exclusividade
pelo monarca e mais tarde pelo “Estado”.

Resumo…

• Soberania: poder absoluto e perpétuo de uma República


• poder supremo no plano interno e poder independente no plano externo
• Poder soberano: exclusividade no uso da força num determinado território
• Max Weber: monopólio da coerção legítima
• Bodin: o soberano é o rei
• Hoje: soberano é o Estado
• A soberania adquire-se pelo comando dos instrumentos fácticos do poder.

Soberania e o Direito – atos jurídicos de autoridade

A soberania de um Estado adquire-se, antes de mais, pela posse e concentração de meios adequados à
imposição de forca exclusiva num território, isto é, pelo comando dos instrumentos fácticos de poder:
forças militares e policiais, mas também tribunais. Mas a evolução histórica levou a que a soberania tivesse
uma expressão jurídica: a possibilidade de adotar atos jurídicos de autoridade.

Atos jurídicos de autoridade: declarações que produzem uma transformação na esfera jurídica dos
destinatários (designadamente nos seus direitos e deveres) sem necessidade do seu consentimento.
Podem estar em causa normas ou atos não normativos. ≠ atos normativos (que podem ser individuais e
abstratos).

As normas jurídicas conjugam as características de generalidade e abstração.

Generalidade: destinatários definidos com recurso a categorias amplas, não estando determinados à
partida.

Abstração: destinam-se a regular situações futuras típicas, sendo por isso suscetíveis de aplicação
sucessiva no tempo.

Poder jurídico-político:

Capacidade de condicionar o comportamento dos elementos de um grupo social através da


manipulação da respetiva esfera jurídica, bem como da execução pela força das obrigações assim
impostas.

O Direito é usado como intermediário entre os poderes soberanos e os cidadãos.

A tradução jurídica da soberania implicou que se reconhecesse aos órgãos do Estado, competências (isto é,
um conjunto de poderes) para a prática dos referidos atos de autoridade.

Primeira competência num Estado Soberano: definir quais são essas competências

Omnipotência jurídica ~soberania como poder absoluto: o Estado poderia atribuir quaisquer
competências aos respetivos órgãos. Esta “competência das competências” exerce-se em primeira linha

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

através da aprovação de uma Constituição. É neste instrumento que ficam previstos os órgãos do Estado e
as competências de que são dotados.

O poder constituinte (o poder de elaborar a constituição) é, pois, o primeiro poder do Estado Soberano.

Cabe ao povo o exercício do poder constituinte, através da eleição de representantes numa Assembleia,
que irá escrever a Constituição.

A soberania expressa-se depois no exercício pelos poderes constituídos (órgãos criados pela Constituição,
de que se destacam os órgãos de soberania) das competências que lhes são aí atribuídas do tipo

➢ Legislativo
➢ Administrativo
➢ Jurisdicional
➢ Puramente político

A lei, o ato administrativo e a decisão judicial são atos típicos em que se afirma a soberania do Estado, e
que por isso são classificados como atos jurídicos de autoridade.

Resumindo… a soberania e as suas competências

O poder do Estado não é mero facto

➢ exprime-se num sistema de competências, atribuídas juridicamente aos seus órgãos

Competências legislativas, administrativas, judiciais, governativas

➢ Poderes de adotar atos jurídicos de autoridade (leis, sentenças, atos administrativos,


etc.)

O Estado pode definir as suas competências: omnipotência jurídica

Soberania e limites

Não obstante da sua qualificação como poder “absoluto” a soberania não foi configurada por Bodin como
um poder completamente ilimitado. Para este autor, o Direito divino, o Direito natural e os princípios
jurídicos universais constituíam limites que o soberano não poderia ultrapassar.

A ideia de que a soberania é um poder limitado terá sido “esquecida” pelos monarcas absolutistas, mas
veio ser retomada com as revoluções liberais em que documentos com a força da constituição dividiram
os poderes antes concentrados no monarca por diversos “órgãos de soberania” caracterizando o
princípio da separação de poderes. Ao mesmo tempo, postularam regras inultrapassáveis para esses
poderes constituídos.

John Locke: a renúncia pelos cidadãos aos seus direitos e poderes inatos em favor do Estado só se
justificava pela ideia de que este garantiria com a sua força exclusiva o respeito geral pela property (vida
liberdade e propriedade) de cada um.

Os poderes constituídos, para além de sere submetidos às normas constitucionais, passaram a estar
sujeitos às próprias regras que emanam, nomeadamente no exercício da função legislativa. É desta forma
ultrapassado o princípio “princeps a legibus soluto”: Agora todos os órgãos estão sujeitos à Constituição e à
lei.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

A soberania está sujeita a limites jurídicos positivos.

• Revoluções liberais – Constituições que consagram:


• Princípio da separação dos poderes
• Catálogo de direitos fundamentais
• Princípio da legalidade ≠ Princeps a legibus soluto

Princípio da separação dos poderes: em documentos com a força de Constituição, dividiram os poderes
antes concentrados no monarca por diversos órgãos de soberania.

Limites jurídicos positivos: normas de Direito emanadas pelo poder constituinte ou pelos poderes
constituídos. Estes poderes podem alterar aquelas normas, mas têm de seguir procedimentos de revisão,
na qual participam diversos órgãos de Estado.

Limites de facto

Internos: quando o poder soberano é exercido de forma originária não se pode desconsiderar que a
Constituição é elaborada para um determinado povo com certo grau de desenvolvimento económico e
social. A consagração de normas que implicassem uma rutura total com essa história ou cultura ou não
atendendessem às condições económicas do país iria levar à não aplicação efetiva das normas.

Externos (internacionais): um Estado encontra-se sempre em relação com outros Estados, cujos interesses
deve ter em conta, sob pena de se isolar na cena internacional ou, no limite, gerar conflitos armados.

Limite Jurídicos

Supra-positivos (inderrogáveis): valores ético-jurídicos fundamentais que fundamentam os direitos


humanos - consciência jurídica geral. Direito Natural. Reconhecimento internacional dos direitos do
homem.

Positivos - Estatais (derrogáveis) - Internacionais (supra-estatais)

SEPARAÇÃO DE PODERES:

▪ Horizontal: Função legislativa (parlamento), função administrativa (governo) e função


jurisdicional (tribunais)

▪ Vertical: Estados federais e descentralização política ou administrativa. (Ex: Portugal e


regiões autónomas).

Ainda existe um poder soberano?

Sim, desde que haja um sistema de ação comum orientado juridicamente, havendo uma ordenação
escalonada de competências atribuídas e uma hierarquia dos atos jurídico-públicos.

A unidade do poder é compatível com a separação de poderes desde que órgãos e competências
constituam um «sistema de ação comum orientado juridicamente. E isso implica:

-Ordenação escalonada das competências

-Hierarquia dos actos jurídico-públicos

Relação entre os órgãos de soberania: art. 111.º/1 CRP

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Na distribuição de poderes do Estado por órgãos seus ou por entidades intraestatais, assume um papel
especial o princípio da subsidiariedade. Este princípio fixa o critério que deve ser seguido nessa
distribuição de poderes:

Princípio da subsidiariedade
Princípio da subsidiariedade: Os poderes públicos devem ser exercidos pelas entidades mais próximas
dos problemas a resolver ou das populações interessadas, salvo se o seu exercício por entidades de
patamares superiores for mais eficaz ou mais eficiente.

art. 6.º/1, CRP – regiões autónomas; autarquias

art. 7.º/6 – União Europeia

PORTUGAL E A UNIÃO EUROPEIA:

A União Europeia – organização internacional, Estado, tertium genus ?

Povo? Território? Soberania?

Art. 8.º/3 e 4 – coordenação normas europeias/normas nacionais

O que falta à UE:

Instrumentos fácticos do poder: O que falta especialmente à União e que ainda hoje sobeja nos Estados-
Membro é a soberania. Pois não há elementos fácticos de poder, não há forças armadas ou policiais que
assegurem a execução de atos administrativos e decisões judiciais.

Poder constituinte: Falta à União o verdadeiro poder soberano: o poder constituinte não esta ainda nas
suas mãos, mas na dos Estados-Membros que são quem aprova os Tratados da EU. Assim, a união não
detém a competência das competências, faltando-lhes a omnipotência jurídica.

Zippelius: o poder de secessão como garante último da soberania internacional/independência.

Teoria da constituição
Conceito de Constituição:

Todas as sociedades politicamente organizadas têm/tiveram uma Constituição (Roma, Grécia, Idade
Média, Estado Moderno)

Conceito ideal de Constituição: é o movimento constitucional associado às revoluções liberais e necessita


de possuir um ou mais documentos escritos, que poder político esteja organizado (princípio da separação
de poderes) e é necessário que preserve os direitos fundamentais dos cidadãos.

Conceito contemporâneo da constituição:

Acrescenta:

- Exigências de atuação estadual;

- Abertura constitucional e

- Princípios retores da vida em sociedade.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

(Sistema de valores jurídico-públicos aceites na comunidade)

Tarefas atuais da Constituição

1.º) Integradora (unidade política)

Consagra os valores fundamentais da sociedade e os procedimentos políticos de composição de


interesses.

2.º) Conformadora (unidade jurídica)

Condensa os valores jurídico-políticos fundamentais que vão servir de critério de validade das restantes
normas de Direito (princípio da constitucionalidade)

A Constituição é o estatuto jurídico fundamental da comunidade política:

Fundamental - não pretende regular todos os aspetos da vida em sociedade ou, sequer, da atividade do
Estado – princípio da essencialidade.

Á Constituição cabe-lhe apreender os valores normativos fundamentais, basilares, da comunidade política,


alertando para o princípio da essencialidade, que a Teoria da Constituição não deixa de apontar sob pena
da perda da própria normatividade do texto constitucional.

A Constituição é o estatuto jurídico fundamental de uma comunidade política que se constitui como
Estado.

Assim, a Constituição:

• Determina as manifestações existenciais de uma sociedade que assume como Estado, definindo o âmbito
territorial e pessoal desse poder (soberania) e a sua impermeabilidade (autonomia) relativamente a
poderes externos.

• Caracteriza a sua forma política (forma de Estado), determina os titulares da soberania e os seus modos
de manifestação, estabelecendo o estatuto dos indivíduos, dos grupos e instituições sociais e fixando o
sistema de designação dos governantes.

• Define o sistema (forma) de governo, definindo o estatuto e competências dos órgãos políticos e as
relações entre eles.

• Estabelece e garante os valores jurídicos fundamentais, definindo as opções de valor constitucional que
legitimam e limitam a atuação dos poderes políticos

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Constituição flexível e rígida

Entende-se por flexível a Constituição que não se distingue formalmente do Direito ordinário. Não
existindo a diferença formal entre o Direito Constitucional e o Direito Ordinário, não existem também
processos autónomos de criação ou alteração das normas constitucionais e das normas ordinárias.

Flexível: não se distingue formalmente do direito ordinário. A alteração da constituição não é mais difícil
do que a alteração das regras ordinárias.

Por sua vez a Constituição rígida será aquela que se distingue formalmente de Direito Ordinário. Ora,
se se verificar uma diferença formal entre as leis constitucionais e as leis ordinárias, consequentemente
existirão processos autónomos de criação ou alteração das normas constitucionais e das normas ordinárias.

Rígida: distingue-se formalmente do direito ordinário. A revisão da Constituição é mais difícil do que a
alteração das regras ordinárias.

A medida da rigidez é dada pelo grau de agravamento do processo de alteração das normas
constitucionais na relação com as leis ordinárias (limites formais-(temporais processuais e
circunstanciais) ao poder de revisão constitucional).

Constituição material/substancial: conjunto de regras fundamentais da comunidade política, estejam ou


não consagradas numa constituição formal.

Definição de acordo com a Teoria da Constituição: Constituição substancial ou material: conjunto de


princípios e preceitos jurídicos que são por si os fundamentos da comunidade política.

Constituição formal: conjunto de normas às quais se reconhece serem formalmente superiores às regras
ordinárias – identifica-se com a Constituição escrita/rígida.

O conceito de constituição em sentido formal pressupõe a existência de leis constitucionais diferenciadas


das outras leis, na medida em que a superioridade formal da Constituição é garantida pela formulação em
textos escritos das respetivas normas.

Por vezes a Constituição…

➢ Peca por excesso: quando nos documentos constitucionais viessem a ser formalizadas
disposições sem dignidade constitucional, que deviam ser qualificadas como direito comum.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

(normas só formalmente constitucionais, mas materialmente não constitucionais (gozam de


superioridade formal, mas podem ferir o princípio da essencialidade; por ex. o art. 39.º/2)

➢ Peca por defeito: quando ficassem fora do documento constitucional normas e aspetos
essenciais da comunidade política. Surgem neste âmbito as normas só materialmente
constitucionais (ex: os direitos que constam hoje do art. 26.º da CRP)

~~

Outra distinção ao nível das formas constitucionais:

-Constituição estatuária/precetiva/orgânica: limitam-se a definir o estatuto do poder dos órgãos, os


direitos dos cidadãos e não contêm nenhum programa de ação. A Constituição não pretende influenciar a
comunidade, esta vai evoluindo por si só ao longo do tempo.

Ex. de norma estatuária: Art.8 CRP que garante a existência de 3 setores de propriedade dos meios de
produção, preceituando uma garantia institucional de organização económica.

Também as normas que consagram direitos, liberdades e garantias são normas precetivas.

- Constituição programática (diretiva/doutrinal): programas, diretrizes, metas da atividade do Estado


no domínio económico, social e cultural. Aderem a valores que pretendem dirigir a sociedade (ex:
CRP/76, arts. 65.º/2; 74.º/2; ou 78.º/2). Deve notar-se que se a constituição for demasiado concreta nos
programas que estabelece, correm o risco de ser ultrapassadas pela realidade constitucional.

Ex. normas programáticas: as que ditam as incumbências do Estado.

Estado Social de Direito – equilíbrio entre ambas as vertentes

~~

Constituição Simples Vs Constituição Complexa

Simples: unidade valorativa, ou sejam, os princípios fundamentais da Constituição são perfeitamente


compatíveis; Escolha valorativa unilateral (ex: Constituição Liberal: há unidade valorativa e aposta-se na
liberdade: ex2: Estado Totalitário: optam pela igualdade)

Complexa ou compromissória: espelha um compromisso entre princípios fundamentais potencialmente


contraditórios (ex: CRP/76)

~~

Constituição normativa, semântica e nominal

1. Constituição normativa: A Constituição em vigor é operante, regulando juridicamente a


comunidade política. Com efeito, a comunidade política revê-se no texto constitucional,
reconhecendo-lhe força vinculativa, e por isso, sujeita-se aos comandos constitucionais.

2. Constituição semântica: Retrato do momento histórico e político em que são elaboradas. Forças
no poder tentar perpetuar o texto (ex: versão original da CRP/76, antes das revisões de 1982 e
1989)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

3. Constituição nominal: não tem força, o poder político não a respeita pois já não lhe conhece
normatividade e não se revê no texto constitucional. Desfasamento entre texto e realidade
constitucional (ex: Const. 1933)

Atos jurídico-públicos

Atos jurídicos - declarações que produzem ou visam produzir um efeito jurídico;

Atos públicos - emitidos por entes públicos, que manifestam a sua autoridade e têm em vista a realização
dos interesses da comunidade;

Podem ser atos normativos ou não normativos.

Normativos:

➢ Constituição
➢ Atos legislativos nacionais
➢ Atos legislativos comunitários
➢ Convenções internacionais
➢ Regulamentos administrativos

Não normativos:

➢ Atos políticos
➢ Atos jurisdicionais
➢ Atos administrativos
➢ Contratos administrativos

Atos jurídico-públicos normativos:

atos unilaterais – declaração de um poder público:


• Constituição
• atos legislativos (nacionais ou da UE)
• regulamentos

atos bi- ou plurilaterais – conjunção de declarações de vários poderes públicos

• convenções internacionais

Constituição: Ato jurídico-público normativo

o Declaração de regras e princípios

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

o Estatuto fundamental de uma comunidade politicamente organizada


o organização política (e económica)
o princípios
o direitos fundamentais
o Constituição da República Portuguesa
o Elaborada pela Assembleia Constituinte
o Revisão pela Assembleia da República (161.º/a, CRP)

Atos legislativos nacionais: Ato jurídico-público normativo:

o Declarações de normas jurídicas em que se manifestam opções políticas primárias


o Atos legislativos nacionais podem revestir a forma de:
o Lei → Assembleia da República
o Decreto-Lei → Governo
o Decreto Legislativo Regional → Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas

Competência legislativa reservada da A.R.:

• 161.º, 164.º (reserva absoluta)


Compete à Assembleia da República:

ART.161º: Compete à AR:


a) Aprovar alterações à Constituição, nos termos dos artigos 284.º a 289.º;
b) Aprovar os estatutos político-administrativos e as leis relativas à eleição dos deputados às Assembleias Legislativas das regiões autónomas;
c) Fazer leis sobre todas as matérias, salvo as reservadas pela Constituição ao Governo;
d) Conferir ao Governo autorizações legislativas;
e) Conferir às Assembleias Legislativas das regiões autónomas as autorizações previstas na alínea b) do n.º 1 do artigo 227.º da Constituição;
f) Conceder amnistias e perdões genéricos;
g) Aprovar as leis das grandes opções dos planos nacionais e o Orçamento do Estado, sob proposta do Governo;
h) Autorizar o Governo a contrair e a conceder empréstimos e a realizar outras operações de crédito que não sejam de dívida flutuante, definindo as respetivas
condições gerais, e estabelecer o limite máximo dos avales a conceder em cada ano pelo Governo;
i) Aprovar os tratados, designadamente os tratados de participação de Portugal em organizações internacionais, os tratados de amizade, de paz, de defesa, de
retificação de fronteiras e os respeitantes a assuntos militares, bem como os acordos internacionais que versem matérias da sua competência reservada ou que o
Governo entenda submeter à sua apreciação;
j) Propor ao Presidente da República a sujeição a referendo de questões de relevante interesse nacional;
l) Autorizar e confirmar a declaração do estado de sítio e do estado de emergência;
m) Autorizar o Presidente da República a declarar a guerra e a fazer paz;
n) Pronunciar-se, nos termos da lei, sobre as matérias pendentes de decisão em órgãos no âmbito da União Europeia que incidam na esfera da sua competência
legislativa reservada;
o) Desempenhar as demais funções que lhe sejam atribuídas pela Constituição e pela lei.

ART. 164º:
É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes matérias:

a) Eleições dos titulares dos órgãos de soberania;


b) Regimes dos referendos;
c) Organização, funcionamento e processo do Tribunal Constitucional;
d) Organização da defesa nacional, definição dos deveres dela decorrentes e bases gerais da organização, do funcionamento, do reequipamento e da disciplina
das Forças Armadas;
e) Regimes do estado de sítio e do estado de emergência;
f) Aquisição, perda e reaquisição da cidadania portuguesa;
g) Definição dos limites das águas territoriais, da zona económica exclusiva e dos direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos;
h) Associações e partidos políticos;
i) Bases do sistema de ensino;
j) Eleições dos deputados às Assembleias Legislativas das regiões autónomas;
l) Eleições dos titulares dos órgãos do poder local ou outras realizadas por sufrágio direto e universal, bem como dos restantes órgãos constitucionais;
m) Estatuto dos titulares dos órgãos de soberania e do poder local, bem como dos restantes órgãos constitucionais ou eleitos por sufrágio direto e universal;
n) Criação, extinção e modificação de autarquias locais e respetivo regime, sem prejuízo dos poderes das regiões autónomas;
o) Restrições ao exercício de direitos por militares e agentes militarizados dos quadros permanentes em serviço efetivo, bem como por agentes dos serviços e
forças de segurança;
p) Regime de designação dos membros de órgãos da União Europeia, com exceção da Comissão;
q) Regime do sistema de informações da República e do segredo de Estado;
r) Regime geral de elaboração e organização dos orçamentos do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais;
s) Regime dos símbolos nacionais;
t) Regime de finanças das regiões autónomas;
u) Regime das forças de segurança;
v) Regime da autonomia organizativa, administrativa e financeira dos serviços de apoio do Presidente da República

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• 165.º (reserva relativa) – autorização ao Governo ou A.L.R.A (Assembleia Legislativa


da Região Autónoma)

É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as seguintes matérias, salvo autorização ao Governo:

a) Estado e capacidade das pessoas;

b) Direitos, liberdades e garantias;

c) Definição dos crimes, penas, medidas de segurança e respetivos pressupostos, bem como processo criminal;

d) Regime geral de punição das infrações disciplinares, bem como dos actos ilícitos de mera ordenação social e do respetivo processo;

e) Regime geral da requisição e da expropriação por utilidade pública;

f) Bases do sistema de segurança social e do serviço nacional de saúde;

g) Bases do sistema de proteção da natureza, do equilíbrio ecológico e do património cultural;

h) Regime geral do arrendamento rural e urbano;

i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas;

j) Definição dos sectores de propriedade dos meios de produção, incluindo a dos sectores básicos nos quais seja vedada a atividade às empresas privadas e a
outras entidades da mesma natureza;

l) Meios e formas de intervenção, expropriação, nacionalização e privatização dos meios de produção e solos por motivo de interesse público, bem como critérios
de fixação, naqueles casos, de indemnizações;

m) Regime dos planos de desenvolvimento económico e social e composição do Conselho Económico e Social;

n) Bases da política agrícola, incluindo a fixação dos limites máximos e mínimos das unidades de exploração agrícola;

o) Sistema monetário e padrão de pesos e medidas;

p) Organização e competência dos tribunais e do Ministério Público e estatuto dos respetivos magistrados, bem como das entidades não jurisdicionais de
composição de conflitos;

q) Estatuto das autarquias locais, incluindo o regime das finanças locais;

r) Participação das organizações de moradores no exercício do poder local;

s) Associações públicas, garantias dos administrados e responsabilidade civil da Administração;

t) Bases do regime e âmbito da função pública;

u) Bases gerais do estatuto das empresas públicas e das fundações públicas;

v) Definição e regime dos bens do domínio público;

x) Regime dos meios de produção integrados no sector cooperativo e social de propriedade;

z) Bases do ordenamento do território e do urbanismo;

aa) Regime e forma de criação das polícias municipais.

2. As leis de autorização legislativa devem definir o objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada.

3. As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez, sem prejuízo da sua execução parcelada.

4. As autorizações caducam com a demissão do Governo a que tiverem sido concedidas, com o termo da legislatura ou com a dissolução da Assembleia da
República.

5. As autorizações concedidas ao Governo na lei do Orçamento observam o disposto no presente artigo e, quando incidam sobre matéria fiscal, só caducam no
termo do ano económico a que respeitam.

Competência legislativa reservada do Governo:

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

198.º, n.º 2 (competência exclusiva): É da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria


respeitante à sua própria organização e funcionamento.

Competência legislativa reservada das A.L.R.A

Restantes matérias: competência concorrente entre A. R. e Governo

As Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas também possuem poderes para legislar em algumas
matérias de reserva relativa da AR, mediante autorização desta: ART 227º da CRP.

As regiões autónomas são pessoas coletivas territoriais e têm os seguintes poderes, a definir nos respetivos
estatutos: Legislar em matérias de reserva relativa da Assembleia da República, mediante autorização
desta, com exceção das previstas nas alíneas a) a c), na primeira parte da alínea d), nas alíneas f) e i), na
segunda parte da alínea m) e nas alíneas o), p), q), s), t), v), x) e aa) do n.º 1 do artigo 165.º;

Atos legislativos da EU: ato jurídico-político normativo:

o Regulamentos da EU: vigoram diretamente na ordem jurídica nacional


o Diretivas da EU: têm de ser transpostas por Lei, Dec. Lei ou D.L.R.
o Decisões da UE
o Adotados pelo Conselho da União Europeia ou por este e pelo Parlamento Europeu
o Competências exclusivas da União Europeia
o Competências partilhadas entre a União e os Estados-membros
o Matérias restantes: competências dos Estados-membros

Convenções internacionais: ato jurídico-público normativo:

o Acordos entre sujeitos de Direito Internacional


o Destinados a produzir efeitos jurídicos de acordo com o Direito Internacional
o Convenções de que Portugal seja parte:
o vigoram na ordem nacional se regularmente ratificadas (ou aprovadas) e publicadas – 8.º/2
o vigoram automaticamente na ordem nacional, se fizerem parte do Direito Internacional Geral –
8.º/1
o vigoram na ordem nacional se forem ratificadas por todos os Estados-membros (tratados que
regem a União Europeia) – 8.º/4

Regulamentos administrativos: ato jurídico-público normativo:

o Declarações de normas jurídicas emitidas pela Administração Pública, no exercício da função


administrativa (não são atos legislativos, no sentido em que não traduzem a manifestação de
opções políticas primárias). Pelo contrário:
o Referem-se a uma lei anterior, cujo conteúdo vêm especificar, para garantir a sua aplicabilidade
prática aos casos concretos
o Instância normativa intermédia entre os atos legislativos e as decisões concretas da
Administração Pública

Órgãos administrativos com competência regulamentar

Estado: Governo, Ministros e outros órgãos da hierarquia estadual

Forma: decreto regulamentar, resolução do Conselho de Ministros, portaria, despacho genérico

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Regiões Autónomas: Assembleia Legislativa Regional e Governo Regional

Forma: decreto regulamentar regional, etc.

Autarquias Locais: Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia

Forma: postura, etc.

Outras entidades públicas administrativas (regulamentos internos e outros)

Hierarquia dos atos normativos

➢ Constituição
➢ Atos legislativos nacionais
➢ Atos legislativos comunitários
➢ Convenções internacionais
➢ Regulamentos administrativos

Os de categoria inferior têm de respeitar os de categoria superior

Em caso de contradição, os de categoria superior prevalecem sobre os de categoria inferior

• Essa prevalência pode acarretar:


• invalidade,
• Ineficácia, ou
• mera desaplicação do ato inferior

Hierarquia tradicional dos atos normativos

1.º – Princípios jurídicos fundamentais

2.º – Constituição

3.º – Atos legislativos nacionais

4.º – Regulamentos administrativos

Mas: Integração de Portugal na União Europeia -> Participação de Portugal na comunidade internacional

Art. 8.º/1, 2: normas internacionais aplicam-se na ordem interna portuguesa:

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

ART. 8º:

1. As normas e os princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte integrante do direito
português.

2. As normas constantes de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas


vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o
Estado Português.

3. As normas emanadas dos órgãos competentes das organizações internacionais de que Portugal seja
parte vigoram diretamente na ordem interna, desde que tal se encontre estabelecido nos respetivos
tratados constitutivos.

4. As disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas
instituições, no exercício das respetivas competências, são aplicáveis na ordem interna, nos termos
definidos pelo direito da União, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito
democrático.

Possibilidade de conflito de normas:

• Convenções internacionais estão subordinadas à Constituição, e prevalecem sobre atos


legislativos e regulamentos nacionais
• Jus cogens internacional: prevalece sobre a própria Constituição*

As regras imperativas (jus cogens) são as normas que impõem aos Estados obrigações objetivas, que
prevalecem sobre quaisquer outras. Assim, o jus cogens compreende o conjunto de normas aceites e
reconhecidas pela comunidade internacional, que não podem ser objeto de derrogação pela vontade
individual dos Estados, de forma que essas regras gerais só podem ser modificadas por outras de mesma
natureza. Um exemplo reconhecido de "jus cogens" é a Declaração Universal dos Direitos Humanos da
ONU de 1948.

Art. 8.º/4 –normas aplicáveis na ordem interna nos termos previstos no Direito da União, salvo …

O que nos diz o Direito da União sobre a sua aplicação nas ordens nacionais?

Efeito direto: a maior parte das normas da União são invocáveis nos tribunais nacionais

Primado: as normas da União prevalecem sobre todas as normas nacionais

Direito da União Europeia


As disposições dos tratados que regem a União Europeia e as normas emanadas das suas instituições, no
exercício das respetivas competências, são aplicáveis na ordem interna, nos termos definidos pelo direito
da União, com respeito pelos princípios fundamentais do Estado de direito democrático.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Nova Hierarquia
1.º - Princípios jurídicos fundamentais

2.º - Jus cogens internacional

3.º - Direito da União Europeia

4.º - Constituição portuguesa

5.º - Convenções internacionais (de que Portugal é parte)

6.º - Atos legislativos nacionais

7.º - Regulamentos administrativos

A nova hierarquia (ressalvas):

Dentro de cada fonte de direito há outras relações hierárquicas.

Ex.: regulamentos da UE e diretivas da UE subordinam-se aos Tratados da EU

O princípio da competência prevalece sobre o princípio da hierarquia

Ex.: nas matérias da competência dos Estados, os atos da UE não prevalecem

Existem outros princípios de resolução de conflitos normativos (lex posterior derogat legi priori, lex specialis
derogat legi generali).

Principais atos jurídico-políticos não normativos

➢ Atos políticos
➢ Atos jurisdicionais

(Atos jurídicos concretos da Administração Pública):


➢ Atos administrativos
➢ Contratos administrativos

Atos políticos (atos jurídico-públicos não normativos)

Decisões concretas que manifestam o exercício da função governativa.

• Atos do «povo ativo»: eleições, referendos

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• Atos do PR: nomeação do Primeiro-Ministro e dos ministros; declaração do estado de sítio ou do


estado de emergência; declaração de guerra e de paz
• Atos do Governo: aprovação do programa de Governo, das opções de plano...

Atos jurisdicionais (atos jurídico-públicos não normativos)

Aplicação do Direito no caso concreto, definindo a solução que resulta do Direito com força vinculativa
para os interessados.

Pode envolver a apreciação da legalidade ou constitucionalidade de normas jurídicas (papel do Tribunal


Constitucional)

Principais formas de decisões jurisdicionais:

• Sentença (juiz singular)


• Acórdão (coletivo de juízes)

Atos administrativos

Decisões administrativas unilaterais dirigidas à produção de efeitos jurídicos numa situação individual
e concreta.

Carácter imperativo: efeitos inscrevem-se na esfera jurídica do particular independentemente da sua


vontade.

Ex ato administrativo.: licença de construção, ordem de demolição

Contratos administrativos

Acordos de vontade entre entidades públicas ou entre estas e particulares

Não traduzem exercício de poder de autoridade, mas são forma jurídica de realização de interesses
públicos

Ex contrato administrativo.: contrato de empreitada de obras públicas

->Tendência recente:
Atos jurídico-privados da Administração Pública

• Contratos de direito privado


• Forma intermédia de alcançar os seus objetivos (satisfação dos interesses públicos)
• Ex.: contrato de mútuo; contrato de arrendamento
• Não são atos jurídico-públicos

DINÂMICA CONSTITUINTE:
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

Poder constituinte: Consiste no exercício primário da soberania. A Constituição como norma normarum é
a lei fundamental de uma comunidade política, é o 1º ato do poder soberano.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

JOHN LOCKE

Poder constituinte: Povo

Poder legislativo ordinário: Governo e órgãos legislativos

(contrato social mediante o qual se consente num poder limitado e específico)

ABADE SIEYÈS (teoria clássica: conceção associada à luta contra as monarquias absolutistas):

Poder constituinte: poder criador da Constituição. O poder constituinte afirma-se como o poder de
qualquer nação de constituir-se como um Estado. (desconstituinte e reconstituinte)

Poder desconstituinte: o poder constituinte surge dirigido contra o poder constituído da monarquia
absoluta.

Poder reconstituinte: o poder da nação tem de ao mesmo tempo criar uma nova OJ e política mediante a
instituição de novos poderes constituídos.

Poderes constituídos- regulados e criados pelo poder constituinte.

Características do poder constituinte:

➢ Originário: antes dele não havia qualquer outro poder


➢ autónomo (livre): não depende de nenhum outro poder
➢ omnipotente (ilimitado): ilimitado a nível formal e material
➢ inesgotável: não desaparece pela emanação de uma Constituição, antes continua
permanentemente operacional, potencialmente ativo, acima da Constituição.

Poder constituinte: poder constituinte originário (poder de se dotar de uma Constituição)

Poderes constituídos: são regulados e criados pelo poder constituinte (ex: poder de revisão constitucional;
os órgãos de soberania, etc.) e exercidos nos termos da Constituição

Poder constituinte nos dias de hoje

➢ Lato sensu: poder de uma comunidade se afirmar como Estado independente (efeitos
internacionais)

➢ Stricto sensu: poder de dotar o Estado de uma Constituição escrita

Os limites materiais do poder constituinte originário:

Limites horizontais (de facto/ políticos): operam ao nível da realidade constitucional (Constituição
elaborada num determinado tempo e lugar)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Imanentes: têm a ver com a situação existencial da própria comunidade política (Ex: independência
nacional; unidade do Estado)

Heterónomos: decorrentes da comunidade internacional (adesão de Portugal à UE)

Limites verticais (jurídicos):

Superiores (transcendentes)

os princípios jurídicos fundamentais (ex: dignidade da pessoa humana)

o conceito de norma constitucional inconstitucional

Inferiores

o princípio da essencialidade (postulado democrático)

Apenas deve ser consagrado na Constituição aquilo que for essencial e basilar, sob a pena de nos
depararmos com o conceito de norma só formalmente constitucional (e materialmente não constitucional;
≠ inconstitucional)

Ex: Regras do código da estrada: tais normas não são inconstitucionais, mas são só formalmente
constitucionais. Ou seja, não se trataria aqui de um problema de validade das normas, mas sim de uma
verificação se essas normas deviam integrar a Constituição ou não, uma vez que não possuem dignidade
suficiente ou relevância suficiente para serem integradas na norma normarum.

O PODER DE REVISÃO CONSTITUCIONAL


Poder constituinte originário – poder de fazer de forma originária a Constituição (criar a constituição).

Poder constituinte derivado – poder de rever a Constituição (poder de revisão constitucional)

É um poder limitado pela Constituição que vai rever.

Paradoxo da democracia? A “domesticação do poder constituinte”.

Constituição rígida (medida de rigidez = grau de agravamento das exigências para revisão constitucional).

O poder de revisão é simultaneamente um poder constituinte (poder de criar e alterar normas


constitucionais) e constituído (só pode agir dentro dos limites fixados pelo poder constituinte originário –
em caso de violação: revisão inconstitucional)

Limites formais
Caraterísticos das constituições rígidas

Podem ser:

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

➢ Temporais (art. 284.º):

1. A Assembleia da República pode rever a Constituição decorridos cinco anos sobre a data

da publicação da última lei de revisão ordinária.

( 2. A Assembleia da República pode, contudo, assumir em qualquer momento poderes de

revisão extraordinária por maioria de quatro quintos dos Deputados em efetividade de funções.)

➢ Procedimentais (art. 286.º):


1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos Deputados em
efetividade de funções.
2. As alterações da Constituição que forem aprovadas serão reunidas numa única lei de revisão.
3. O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão.

➢ Circunstanciais (art. 289.º):

Não pode ser praticado nenhum ato de revisão constitucional na vigência de estado de sítio ou

de estado de emergência.

Resumindo… Limites Formais~ Constituições rígidas

Temporais:

o Revisões ordinárias – só passados 5 anos da publicação da Lei de revisão ordinária

anterior (284.º/1): permite renovação do órgão de revisão.

o Revisões extraordinárias – em qualquer momento (284.º/2)

Procedimentais: Limites quanto ao titular do poder de revisão:

o Apenas a Assembleia da República (órgão legislativo ordinário) – 284.º e 161.º/a)

o Iniciativa dos deputados (285.º/1)

o O PR não pode vetar politicamente (286.º/3)

o Limites relativos às maiorias deliberativas – maiorias qualificadas:

o Aprovação da revisão (ordinária ou extraordinária): 2/3 dos deputados (286.º/1)

o Assunção de poderes de revisão extraordinária: 4/5 (284.º/2)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Circunstanciais:

o Não pode haver revisão na vigência do estado de sítio ou do estado de emergência

Em suma, a rigidez constitucional assenta nos limites formais (temporais, circunstanciais e

procedimentais) impostos ao poder de revisão constitucional e não nos limites materiais, na medida em

que os limites materiais sempre existirão queira a constituição seja rígida ou flexível.

Limites materiais

Respeitam ao conteúdo da própria Constituição, impedindo a abolição dos seus pilares/ princípios

identificadores.

Limites materiais:

➢ Expressos (estão formalizados no próprio texto constitucional: art. 288.º)

➢ Implícitos (retiram-se da importância que as matérias possuem no texto constitucional; ex:

proibição de cargos vitalícios)

Limite material expresso: impede a abolição dos pilares identificadores da constituição:

ART.288º :As leis de revisão constitucional terão de respeitar:

a) A independência nacional e a unidade do Estado;

b) A forma republicana de governo;

c) A separação das Igrejas do Estado;

d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;

e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das associações sindicais;

f) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social de

propriedade dos meios de produção;

g) A existência de planos económicos no âmbito de uma economia mista;

h) O sufrágio universal, direto, secreto e periódico na designação dos titulares eletivos dos

órgãos de soberania, das regiões autónomas e do poder local, bem como o sistema de representação

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

proporcional;

i) O pluralismo de expressão e organização política, incluindo partidos políticos, e o direito de

oposição democrática;

j) A separação e a interdependência dos órgãos de soberania;

l) A fiscalização da constitucionalidade por ação ou por omissão de normas jurídicas;

m) A independência dos tribunais;

n) A autonomia das autarquias locais;

o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos dos Açores e da Madeira

Os limites materiais expressos subdividem-se em (art. 288.º):

➢ Limites ao poder constituinte originário (als. a), d), h), 1.ª parte, i), n))

➢ Limites ao poder de revisão expressos próprios ou de 1.º grau – fazem parte da essência da nossa

Constituição (als. b), c), d), e), f), h), 2.ª parte, j), l), 1.ª parte, m), o) …)

➢ Limites ao poder de revisão expressos impróprios ou de 2.º grau – não se referem a

princípios essenciais, apenas valem por estar no art. 288.º (al. l), 2.ª parte…)

Qual o sentido a conferir aos limites materiais?

-3 teses

1) Imprescindíveis e insuperáveis: limites têm valor absoluto (J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira)

2) Postulado democrático: esses limites não têm vinculação jurídica, pelo que se deve aplicar a regra

geral lei posterior derroga lei anterior. (Magalhães Colaço).

3) Tese intermédia: esses limites têm valor declarativo; só são verdadeiros limites se se afirmarem como

identificadores da Constituição (J. C. Vieira de Andrade, Jorge Miranda e Manuel Afonso Vaz)

Tipos de revisão

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

➢ Expressa: as alterações têm de ser incorporadas no texto da Constituição (art. 287.º)

➢ Tácita (?): revisão tácita da CRP pelo Direito da UE; ex: constituição económica da CRP

vs. constituição económica do TFUE

➢ Parcial (por definição, é sempre parcial, devido ao artigo 288.º)

➢ Total (substituição completa da constituição vigente: apenas pode ser efetuada pelo

poder constituinte).

A força jurídica da constituição

- As dimensões da normatividade constitucional

A Constituição como “unidade de sentido cultural”: Integra na Constituição material, ao mesmo tempo, o

texto, os valores(cultura) e a realidade: tridimensionalidade constitucional

❖ O que é a cultura constitucional? Cultura é o ambiente onde vai ser interpretado e aplicado o

texto constitucional, sendo esse ambiente é constituído por:

Cultura constitucional: valores sociais enraizados – “consciência jurídica geral” – que dão

validade ao Direito: ordem de valores pluralista, não hierárquica, aberta e positiva.

❖ Realidade constitucional: factos políticos, económicos, sociais, militares e religiosos que

exprimem as relações de força na Comunidade e que são revelados pelos: atos legislativos, atos

políticos e acórdãos sobre questões constitucionais.

❖ Texto constitucional: Marca o ponto de partida e os limites das soluções constitucionais.


As normas da Constituição têm de ser respeitadas, não são meras proclamações – princ. da
constitucionalidade
= sistema normativo aberto de preceitos e princípios
“sistema normativo”: sistema dinâmico de normas
“aberto”: capta mudança da realidade
“preceitos e princípios”: normas-regra e normas-princípio

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Tridimensionalidade constitucional
Texto constitucional: sistema normativo aberto de preceitos e princípios constitucionais.

Realidade constitucional: dados de facto, sociológicos, etc., mas que se revelam e influenciam o texto
constitucional, ao nível da própria interpretação.

Cultura constitucional: axiologia constitucional (dados valorativos e espirituais).

~~

E se tivéssemos uma Constituição só composta por princípios?

Faltava-lhe uma ideia de certeza/segurança…

E se tivéssemos uma Constituição só composta por preceitos/regras?

Ficava a faltar a abertura constitucional…

Tipologia dos princípios

1)Princípios jurídicos fundamentais (reserva de Direito): são também limites jurídicos superiores do

poder constituinte

→ ex: Estado de Direito, princípio democrático, dignidade da pessoa humana, etc.

2) Princípios estruturantes do sistema constitucional: identificam uma dada Constituição e, por isso, são

limites ao poder de revisão

→ ex: princípio republicano, separação funcional de poderes, forma unitária de Estado, etc.

3) Princípios-incumbências do Estado: são princípios-fins da atuação do Estado, normalmente versados

em normas programáticas

→ ex: artigos 9.º, 81.º, etc.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

4) Princípios garantia ou instrumentais: instituem garantias densificadas dos cidadãos e pela sua

relevância são “objetivados em preceitos”

→ ex: princípio in dubio pro reo, ne bis in idem, etc.

Tipologias das regras

❖ regras jurídico-organizatórias:

orgânicas (de criação de órgãos)

de competência (dos órgãos constitucionais)

de procedimento (eleitoral, legislativo, de revisão…)

❖ regras jurídico-materiais:

de direitos fundamentais (status dos cidadãos)

de garantias institucionais (proteção de instituições: família, ensino, autonomia local…)

determinadoras de fins e tarefas do Estado (9.º e 81.º)

impositivas de legislação:

imposições legiferantes (permanentes e concretas: 63.º, 64.º, 74.º)

ordens de legislar (únicas: 224.º)

As regras jurídico-organizatórias consagram a “constituição orgânica” e fixam a estrutura

organizatórias do Estado. Estão aqui em causa normas precisas e certas que consagram em

preceitos os valores constitucionais de certeza da segurança e previsibilidade. Fixam a

competência, criação e os procedimentos dos órgãos constitucionais.

As regras jurídico-materiais são relativas aos direitos fundamentais e à constituição económica.

São normas matérias na medida em que consagram um conteúdo, um valor. Estes preceitos

reportam-se sobretudo aos direitos fundamentais: direitos, liberdades e garantias, direitos

sociais e garantias institucionais.

Tipologias dos preceitos

Critério: determinabilidade de conteúdo (direitos, poderes, obrigações, órgãos)

Normas:

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• Precetivas exequíveis por si mesmas


• Precetivas não exequíveis por si mesmas
• Programáticas

Normas precetivas:

– aproxima-se do “preceito”;

– O conteúdo está determinado ou é determinável a partir da norma; são normas completas

(claras, precisas e incondicionadas);

– São diretamente aplicáveis (art. 18.º)

– Dois subtipos de normas precetivas:

➢ exequíveis por si mesmas – por si mesmas possibilitam o exercício do direito que

conferem (ex: art. 24.º, 25.º, etc.)

➢ não exequíveis por si mesmas – carecem do preenchimento de pressupostos externos

de exequibilidade, jurídicos ou materiais (Ex: art. 49.º)

Normas programáticas:

– aproxima-se do “princípio”;

– Necessitam de uma concretização legislativa de conteúdo (Ex: art. 64.º/2; 65.º/2, etc.); são

normas legiferantes ou impositivas de legislação;

– Não permitem uma aplicação direta (são de aplicação diferida);

– apesar de serem vinculativas (por serem normas), não possuem justificabilidade plena.

São sempre não exequíveis por si mesmas.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Normas constitucionais inconstitucionais

➢ Normas constitucionais inconstitucionais são normas formalmente constitucionais e

materialmente inconstitucionais.

Regras/preceitos Valores/princípios
Conteúdo determinado Conceitos indeterminados
Destinatários: cidadãos, órgãos e Destinatário: legislador
titulares públicos
Dependentes de um juízo
Dever/poder vinculado de discricionário de possibilidade
entidades públicas
Não podem ser invocadas pelos
Podem ser invocadas pelos cidadãos nos tribunais
cidadãos nos tribunais
Regras determinadoras de fins e
Regras jurídico-organizatórias e tarefas do Estado, imposições
DLG (Estado liberal) legiferantes, DESC (Estado
Social)
Ex: arts. 36.º; 43.º
Ex: arts. 67.º; 74.º e 75.

➢ Contradição entre normas da Constituição e os princípios jurídicos fundamentais

(limites superiores) *

*Relembrar: Limites materiais (HORIZOTAIS- imanentes e heterónomos; VERTICAIS-

superiores e inferiores)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Os limites materiais verticais/jurídicos superiores são os princípios jurídicos e valores

fundamentais que têm uma validade supraconstitucional e transcendente ex-

dignidade humana).

Normas constitucionais inconstitucionais:

= formalmente constitucionais

= materialmente inconstitucionais (violam princípios jurídicos fundamentais) →

consequência: invalidade jurídica

Normas só formalmente constitucionais:

= formalmente constitucionais, mas materialmente não constitucionais (violam

apenas o princípio da essencialidade, que pugna pela consagração constitucional

somente daquilo que verdadeiramente identifica uma Constituição)

Limites verticais/jurídicos de uma Constituição: -INFERIORES: princípio da

essencialidade: so deve estar na Constituição aquilo que for fundamental sob a pena de

nos depararmos com normas só formalmente constitucionais

As funções do Estado

O Estado existe para prosseguir determinados fins, como sejam a garantia de paz social, a administração

da justiça e maximização do bem-estar da população. De um certo ponto, estas são as funções do Estado.

Mas o que se entende por funções do Estado efetivamente é algo diferente: os diferentes tipos de

atividades através das quais os órgãos estatais prosseguem os fins referidos.

1- Política (legislativa + governativa)

2- Jurisdicional

3- Administrativa

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Função política

AS FUNÇÕES DO ESTADO

A função política (legislativa e governativa)

Diferentemente das funções administrativa e judicial, a função política é uma função primária, ou seja,

é aquela que define, em primeira mão, o interesse público e os mecanismos através dos quais se

conseguirá, mais proficuamente, alcançar os objetivos fundamentais do Estado. Divide-se, como

referido, numa função governativa e numa função legislativa. A primeira revela-se na prática de atos

não normativos, que definem ou concretizam opções políticas primárias, não se dirigindo, por regra,

aos cidadãos. A segunda concretiza-se na emissão de atos normativos, isto é, de atos que contêm

comandos gerais e abstratos, que traduzem a definição de opções políticas primárias e que terão, por

regra, como destinatários os membros da comunidade estatal.

A função política é a que é exercida com mais liberdade pelos órgãos do Estado, uma vez que

apenas está submetida à Constituição, ao Direito da UE e ao Direito Internacional. Em grande

medida, esses órgãos podem escolher o conteúdo e o momento da prática dos atos em que se

concretiza o exercício da função.

Atente-se na configuração da função política na nossa Constituição:

Na sua vertente de função governativa, é partilhada por diferentes órgãos: Presidente da

República, Assembleia da República e Governo.

Tome-se como exemplo o processo de constituição do Governo: compete ao Presidente da República

nomear o Primeiro-Ministro, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo

em conta o resultado das eleições legislativas, e os demais membros do Governo, sob proposta do

mesmo (artigo 187º da CRP). Mas, para entrar em plenitude de funções, o Governo precisa ainda de

apresentar o seu programa à Assembleia da República (artigos 188. °), sendo causa de demissão do

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

primeiro a rejeição do programa pela segunda (alínea d) do n.º 1 do artigo 195º). Por outro lado, em

paralelo, o Governo pode ser demitido tanto pela Assembleia da República, caso esta aprove uma

moção de censura ou rejeite uma moção de confiança.

Resumindo… função política

➢ Função PRIMÁRIA: definição inicial e global dos interesses públicos

➢ Escolha dos meios para os atingir

➢ Direção do Estado

o Função legislativa: atos normativos

o Comandos gerais e abstratos

o Destinatários: por regra, os cidadãos

• Função governativa: atos não normativos

• Não se dirigem, por regra, aos cidadãos

➢ Liberdade ou discricionariedade máxima

➢ conteúdo, momento e circunstâncias da prática dos atos

➢ mas: subordinação à Constituição, ao Direito Internacional e ao Direito da EU

➢ Adoção pelos órgãos do sistema de governo

➢ PR, AR, Governo

➢ Ausência de hierarquia entre os mesmos, apenas responsabilidade política

Funções secundárias: Função administrativa e função jurisdicional

Função administrativa: função secundária

• Satisfação quotidiana das necessidades coletivas definidas por lei

• Entidades da Administração Pública

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• Criam os serviços públicos necessários

• Dotam-nos de meios humanos e materiais

• Para que forneçam os bens e prestem os serviços à população

• Governo; autarquias locais, etc.

Função jurisdicional: função secundária

Resolução de litígios entre pessoas (privadas, públicas ou privadas e públicas) através da aplicação do

Direito de modo a pacificar as relações jurídicas.

• Exercida por tribunais, órgãos independentes (202.º)

• Vinculação à Constituição e, sobretudo, à lei (art. 3.º/3 e 203.º, CRP)

• Decisões eventualmente recorríveis para tribunais superiores

DIFERENÇAS entre a função administrativa e a função jurisdicional

Função Jurisdicional

• Retrospetiva: incide sobre uma situação já criada e procura encontrar solução de Direito

• Passiva: imperando o princípio do pedido, apenas pode decidir a questão com base nos

elementos e dados que sejam trazidos.

• Imparcial

• Hierarquia ascendente: independência dos magistrados

Função Administrativa

• Prospetiva

• Instrumentativa o Direito nas suas tarefas

• Ativa: os órgãos administrativos possuem uma postura dinâmica, de iniciativa no

desempenho das funções.

• Parcialidade: escolhem a solução que melhor realiza o interesse público.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

• Estrutura hierárquica: descendente e ascendente

Alguns casos de diluição de fronteiras: Zonas de fronteira

➢ Ministério Público (função jurisdicional e administrativa) - Art. 219/220

Entidade ativa

Hierarquia ascendente e descendente

Função jurisdicional e política

Tribunal Constitucional • Caráter jurisdicional, previsto na parte da organização dos tribunais

• Fiscalização sucessiva abstrata - Declaração de inconstitucionalidade força obrigatória geral.

O princípio da separação de poderes

• Princípio jurídico fundamental, que resulta das revoluções liberais. • Princípio que consiste na

multiplicidade de órgãos que exercem as funções do Estado. Os poderes não devem estar todos

concentrados numa única pessoa ou órgão, mas devem ser distribuídos por órgãos diferentes, que se

fiscalizam mutuamente e, deste modo, impedirão o abuso de poder.

Dimensão negativa: Controlo recíproco de poderes

Dimensão positiva • Devem-se atribuir os poderes ou funções aos órgãos que estejam orgânica - e

procedimentalmente mais habilitado para o seu exercício.

Princípio da justeza funcional: Em caso de dúvida devemos atribuir a competência ao órgão que

exerce aquele poder de modo primordial.

Separação e Interdependência de poderes: Apesar de existir alguma divisão de poderes, verifica-se

que o exercício, em concreto, de muitos poderes pressupões flexibilidade, ou seja, a colaboração dos

diversos órgãos de soberania. Exemplo: entrada em vigor de uma lei da Assembleia da República

Aprovação pela Assembleia Promulgação pelo Presidente (ou vetado) Referencia ministerial por parte

do Governo.

Distribuição de funções

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

No sistema constitucional português, as funções não estão separadas por órgãos diferentes:

Função Legislativa – A.R., Governo e ALR’s

Função governativa – P.R., A.R. e Governo etc.

F. Administrativa – Governo, governos regionais e muitas outras entidades administrativas

F. Jurisdicional – só os tribunais

Traços do regime parlamentar

Autonomia do Governo

≠ regime presidencial

É um órgão político de soberania autónomo: arts. 110.º/1 e 182.º

Responsabilidade ministerial

O Governo responde politicamente perante a AR (arts. 190.º e 191.º)

Apreciação do programa de Governo (art, 192.º); moção de confiança (art. 193.º); moção de censura

(art. 194.º)

Referenda ministerial (art. 140.º) *

*Na atual Constituição, a avaliar pelos atos do Presidente da República carecedores de referenda e

previstos no n.º 1 do artigo 140.º (por ex., nomeação e exoneração dos membros do Governo,

dissolução e suspensão das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, nomeação e exoneração

do Presidente do Tribunal de Contas, Procurador da República e representantes do Estado nas

Regiões Autónomas, atos de promulgação e assinatura de leis, decretos-leis e decretos

regulamentares, declaração de guerra e efetivação da paz), a referenda é uma expressão formal da

corresponsabilidade do Governo em relação a atos presidenciais que, direta ou indiretamente,

implicam colaboração política do Governo.

➢ Forma de governo parlamentar: A existência de um Governo autónomo, responsável

perante o Parlamento, de quem tem a confiança para executar uma política própria. O PR não

tem poderes de execução política, não sendo eleito diretamente pelo detentor de soberania

(povo). Os seus atos políticos necessitam de referenda do Governo.

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Traços do regime presidencial:

▪ Eleição direta do PR (art. 121.º)

▪ Direito do veto político dos atos legislativos por parte do PR: veto = não promulgação

do diploma (art. 136.º)

▪ Existência de poderes de direção política do PR (indirizzo político): art. 133.º, al. D

Traços do parlamentarismo racionalizado

▪ Dupla responsabilidade do Governo (arts. 190.º e 191.º): Perante o PR e Perante a AR

▪ Dissolução da AR pelo PR (arts. 133.º, al. e) e 172.º) ≠ regime presidencial

A separação funcional e a interdependência institucional

- A ideia fundamental da CRP é assegurar uma separação funcional (princípio da separação de

poderes; repartição horizontal):

- Governo: governa o país

- AR: órgão legislativo por excelência

- PR: representa o Estado

São funções autónomas, que convivem com a interdependência institucional (ex1: o Governo

nasce da iniciativa do PR e da confiança da AR; ex2: a AR pode ser dissolvida pelo PR)

Presidente da República e Primeiro-Ministro: PR e PM


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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

 interdependência institucional com autonomia governamental;

 PR tem o poder:

 Inicial de nomeação do Governo (arts. 133.º, al. f), e 187.º)

 Final: faculdade de demissão do Governo (artigos 133.º, al. g), e 195.º/2) e de

exoneração do PM (artigos 133.º, al. g) e 186.º/4)

Possíveis causas de demissão do Governo pelo PR

▪ Não apresentação do programa de Governo à AR, no prazo de 10 dias após a sua


nomeação (art. 192.º/1);
▪ Recusa de referenda de atos do PR, quando devida (art. 140.º);
▪ Recusa reiterada de respostas às perguntas e pedidos de informação dos deputados
(art. 156, al. d) e e));
▪ A não prestação reiterada de informação ao PR sobre assuntos respeitantes à condução
da política geral do país (art. 201, º/1, al. c));
▪ Efetivação de responsabilidade criminal do PR ou de um número significativo de
Ministros (art. 196.º)

Presidente da república e assembleia da república


O PR não é inteiramente livre ao nomear o Governo, pois tem de:

➢ atender aos resultados eleitorais (eleições legislativas) e


➢ ouvir os partidos representados na AR (art. 187.º/1, in fine);

PR tem o poder de veto em relação aos atos legislativos da AR (art. 136.º/1).

PR pode dissolver a AR: arts- 133.º, al. e) e 172.º

Em que situações?

➢ Resolução de uma crise política no interior da AR, por desagregação da maioria ou


incapacidade de gerar maioria estável (ex: 2001);

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

➢ Efetivação de responsabilidade política (apesar de haver maioria, o PR não lhe


reconhece sustentabilidade (ex: 2004)

Garantias contra abusos:


 Com o decreto de dissolução da AR, têm de ser marcar novas eleições, nos 60 dias seguintes
(art. 113.º/6);

 PR não pode dissolver AR nos 6 meses posteriores à sua eleição (art. 172.º/1, 1.ª parte)

 PR não pode dissolver AR nos últimos 6 meses do seu mandato (art. 172.º/1, 1.ª parte)

 Proibição de dissolução na vigência do estado de sítio ou de emergência (arts. 19.º e 172.º/1, 1.ª
parte)

Violação: inexistência jurídica do decreto de dissolução (arts. 113.º/6 e 172.º/3)

AR e Governo
 Entre estes órgãos existe uma relação de fidúcia (confiança), ainda que não tão forte como no
regime parlamentar puro, pois…

 Apreciação do programa do Governo (art. 192.º): basta que não seja rejeitado. Na hipótese de
moção de rejeição do programa, exige-se maioria absoluta (art. 192.º/4)

 Moção de confiança, de iniciativa governamental (art. 193.º): basta-se com uma maioria relativa
(arts. 116.º/3 e 195.º/1, al. e))

 Moção de censura (art. 194.º): instrumento mais forte que a oposição pode utilizar para derrubar
o Governo

→ exige-se maioria absoluta (art. 195.º/1, al. f))

Qual o objetivo de facilitar a aprovação de moções de confiança e dificultar a aprovação de


moções de censura?

Salvaguardar a estabilidade política

≠ moção de censura construtiva

Atenção: A demissão do Governo não leva – automaticamente – à dissolução da AR! … desde


que, obviamente, continue intacta a maioria parlamentar, a AR tem condições para continuar a
funcionar. A dissolução da AR implica sempre a demissão do Governo, porque haverá uma nova
legislatura: art. 195.º/1, al. a)

Forma de governo

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Estruturas organizatórias: forma como os poderes disciplinados na Constituição se exercem e se


interligam ao nível do poder político

Princípio da separação e interdependência dos poderes (art. 111.º)

Sistema misto parlamentar – presidencial

Controlo:

Primário ou subjetivo – sobre órgãos

Secundário ou objetivo – sobre atos desses órgãos

Estrutura e funções dos órgãos de soberania


Órgão de soberania: órgãos criados pela Constituição que exercem o poder soberano em nome do
titular da soberania (art. 108.º) e cujo estatuto está contido na CRP (art. 110.º)

1. O Presidente da República
2. A Assembleia da República
3. O Governo
4. Os Tribunais

Presidente da República
o arts. 120.º-140.º
o Chefe do Estado
o Legitimidade democrática direta
o sufrágio direto, universal e secreto, de cariz unipessoal (113.º, n.º 1, e 121.º)
o Cidadãos > 35 anos
o + ½ dos votos validamente expressos
o 1 ou 2 voltas
o Mandato: 5 anos
o Limite: 2 mandatos consecutivos

Poderes do PR

1. Dissolução da AR
2. Nomeação do PM
3. Demissão do Governo

PODERES PARTILHADOS:

Revelados pela referenda ministerial – arts. 140.º/1 e 197.º/a)

PODERES DE EXTERIORIZAÇÃO POLÍTICA

Ex.: mensagens ao país

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

PODERES DE DIRECÇÃO POLÍTICA

Poderes próprios – já referidos e art.134.º. al. c)

Dissolução dos órgãos das regiões – art. 133.º, al. j)

Declaração do estado de sítio ou de emergência – arts. 134.º/d) e 138.º

Promulgação ou assinatura – art. 134.º/b)

Falta de promulgação ou assinatura do PR ou de referenda ministerial: inexistência jurídica


(arts. 137.º e 140.º/2)

PODERES DE CONTROLO: VETO


 Art. 136.º/1 - Leis da AR

 PR pode fazer uma de 3 coisas:

1) Promulgar (20 dias)

2) Vetar politicamente (20 dias): discordância política → o veto é suspensivo (art. 136.º/2), pois a
AR pode superar o veto e, neste caso, o PR é obrigado a promulgar a lei.

3) Dúvidas quanto à constitucionalidade da lei (8 dias) para a enviar para o TC (art. 136.º/5, 278.º e
279.º). Duas hipóteses:

→ Se o TC não se pronuncia pela inconstitucionalidade: o PR tem 20 dias para promulgar ou


vetar politicamente

→ Se o TC se pronuncia pela inconstitucionalidade: PR obrigado a vetar por


inconstitucionalidade (art. 279.º/1) … art. 279.º/2

~~

Art. 136.º/4 – Decretos-leis do Governo

Prazo mais alargado devido à complexidade dos diplomas

PR pode fazer uma de 3 coisas:

▪ Promulgar (40 dias)


▪ Vetar politicamente (40 dias): o veto é absoluto/definitivo. Como poderá então o Governo
contornar o veto? Pode apresentar uma proposta legislativa de idêntico conteúdo, que passará, se
tiver maioria no Parlamento: art. 197.º/1, al. d) + arts. 136.º/1 e 2.
▪ Dúvidas quanto à constitucionalidade da lei (8 dias) para a enviar para o TC (arts. 136.º/5, 278.º
e 279.º). Duas hipóteses (ver diapositivo anterior)

Assembleia da República
arts. 147.º-181.º

Eleições legislativas:

Sufrágio direto, universal e secreto (art. 113.º/1), relativamente a listas partidárias (arts. 114.º/1 e 151.º/1)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Maioria relativa ou simples: um partido em causa obteve a maioria dos deputados por comparação com
cada um dos outros partidos considerados individualmente.

Maioria absoluta:

um partido atingiu metade mais um da totalidade dos deputados

▪ 180-230 deputados
▪ Cidadãos portugueses eleitores
▪ Deputados representam todo o país – art. 152.º/2
▪ Relação deputados-partidos
▪ Mandato livre ou imperativo? Art. 155.º/1
▪ Supremacia dos grupos parlamentares (art. 180.º/1)
▪ Inscrição noutro partido: perda do mandato

Órgão:

▪ Autónomo (art. 175.º)


▪ Permanente
▪ Mas: legislaturas separadas material e pessoalmente – 171.º/1: 4 sessões legislativas
▪ Sessões legislativas: 1 ano, mas 15/9 a 15/6 (art. 174.º)
▪ Dissolução pelo PR – arts. 133.º/e) e 172.º
▪ Colegial
▪ Unicameral
▪ Plenário, Presidente da AR, Mesa da AR, Comissões parlamentares

Comissão permanente: Fora do período de funcionamento efetivo da Assembleia da República, durante o


período em que ela se encontrar dissolvida…funciona a Comissão Permanente da AR: Artigo 179º.

Função legislativa

Órgão legislativo primário – pode aprovar leis em todas as matérias - 161.º/c)

Reservas legislativas – arts. 164.º e 165.º

Função de controlo (do Governo)

Perguntas, interpelações, inquéritos (comissões de inquérito), exame de petições, moções de censura

Outras funções:

▪ Função de fiscalização (outros órgãos)


▪ Função autorizante (empréstimos, guerra…)
▪ Função de representação
▪ Função europeia
▪ Função eletiva e de criação de órgãos

Governo: Órgão de condução da política geral do país e órgão superior da Administração Pública;
Art. 182.º-201.º

Constituído pelo Primeiro-ministro, Vice PM, Ministros, Secretários de Estado e Subsecretários de


Estado (art. 183.º)

Três órgãos essenciais:

➢ PM

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

➢ Conselho de Ministros
➢ Ministros

Poder de auto-organização (art. 198.º/2)

Primeiro-ministro

➢ Primus inter (ou super) pares


➢ Responsável perante o PR e perante a AR (art. 191.º/1)
➢ Competências – art. 201.º/1

Conselho de Ministros

➢ PM + Vice PM+ Ministros (não inclui Secretários de Estado) – art. 184.º


➢ Competências (art. 200.º): aprova os decretos-leis

Ministros

➢ Nomeados pelo PR sob proposta do PM (arts. 133.º, h) e 187.º/2)


➢ Responsáveis perante o PM (191.º/2)
➢ Respondem perante a AR
➢ Competências (art. 201.º/2)

Governo é duplamente responsável – art. 190.º: Perante AR e PR

Primeiro-Ministro é nomeado pelo PR ouvidos os partidos e tendo em conta os resultados eleitorais (art.
187.º/1)

Ministros: pelo PR por proposta do PM (art. 187.º/2)

Art. 187.º - (Formação)

1. O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados


na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais.
2. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do
Primeiro-Ministro

Governo de gestão (art. 186.º/5) ≠ Governo em plenitude de funções (só acontece com a apresentação do
programa de Governo): Antes da apreciação do seu programa pela Assembleia da República, ou após a
sua demissão, o Governo limitar-se-á à prática dos actos estritamente necessários para assegurar a gestão
dos negócios públicos (governo de gestão)

Investidura parlamentar (tácita)

Apresentação do programa de Governo (art. 188.º) perante a AR (art. 192.º/1)

Art. 192.º/3: qualquer grupo parlamentar pode propor a rejeição do programa – maioria absoluta (arts.
192.º/4) + 195.º/d) o que implica a demissão do Governo.

Demissão do Governo

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Moção de censura (art. 194.º): Apresentada por um grupo parlamentar (art. 180.º/2, i)) ou ¼ dos deputados
(art. 194.º/1)

Votada em plenário da AR e aprovada por maioria absoluta (arts. 163.º/e) e 195.º/1, f))

Moção de confiança (art. 193.º): Solicitada pelo Governo

Não aprovação – basta maioria simples contra (art. 116.º/3)

Demissão do Governo pelo PR (art. 195.º/2) apenas quando

“necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas”

Funções Governo:

▪ Políticas: art. 197.º


▪ Referenda ministerial
▪ Negociação de convenções internacionais
▪ Aprovação de alguns acordos internacionais, etc.
▪ Legislativas: art. 198.º (remissão)
▪ Administrativas: art. 199.º
▪ Execução do Orçamento de Estado
▪ Regulamentos
▪ Direção da Administração Direta do Estado
▪ Superintendência e tutela da Administração Indireta
▪ Tutela da Administração Autónoma, etc.

~~

Tribunais

▪ Órgãos de soberania
▪ Função jurisdicional
▪ Não eleitos, mas sujeitos à lei emanada por órgãos eleitos
▪ Independência
▪ Imparcialidade
▪ Irresponsabilidade
▪ Pluralidade dos graus de jurisdição
▪ Fundamentação das decisões

Estrutura orgânica:

T. Constitucional

Jurisdição ordinária

Jurisdição administrativa e fiscal

T. Contas

Tribunais marítimos, arbitrais e julgados de paz

Conselhos Superiores – arts. 217.º/1 e 2, 218.º, 220.º/2

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Tribunal Constitucional: Arts. 221.º-224.º

Função jurisdicional ou política?

Competências (art. 223.º)

Guardião da Constituição

Composição:

10 juízes eleitos pela AR, por 2/3 dos deputados (legitimidade democrática)

3 juízes cooptados

Mandato: 9 anos não renováveis

Ministério Púbico
Ministério Público (arts. 219.º-220.º)

Autonomia e independência

Colabora no exercício da função jurisdicional através do exercício da ação penal e da defesa da


legalidade.

Conselho de Estado
Órgão de consulta do PR – art. 141.º

Emana pareceres que, nalgumas matérias, são obrigatórios (mas não vinculativos) – art. 145.º

Estruturas Normativas
CRP como norma normarum

A Constituição:

 (1) Identifica as fontes de Direito positivo

 (2) Estabelece os critérios de validade e eficácia das fontes

 (3) Determina a competência dos órgãos criadores do direito positivo

Fontes de Direito Positivo identificadas pela Constituição

Art. 8.º - Direito Internacional e Direito da UE

Art. 56.º/4 - Convenções coletivas de trabalho

Art. 112.º - Atos normativos

Art. 115.º - Referendo

Art. 161.º, 164.º e 165.º - Leis da Assembleia da República

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Art. 198.º - Decretos-leis do Governo

Art. 199º/c) - Regulamentos do Governo

Art. 227.º - Atos normativos das Regiões Autónomas

Art. 241.º - Regulamentos das autarquias locais

Critérios de validade e eficácia das fontes

Art. 3.º/3: princípio da constitucionalidade (a validade dos atos jurídico-públicos depende da sua
conformidade com a CRP)

Art. 112.º: Artigo central da CRP, que disciplina a relação entre os atos normativos; contém um elenco
não exaustivo de atos normativos

➢ Determina a competência dos órgãos criadores do direito positivo


➢ AR (competência legislativa): 161.º, 164.º e 165.º

➢ Governo (competência legislativa): 198.º


➢ Governo (competência regulamentar): 199º, al. c)

➢ Regiões Autónomas (competência legislativa e regulamentar): 227.º

➢ Autarquias locais (competência regulamentar): 241º

Relação CRP DUE e DIP

1º: Constituição

2º: Lei DL e DLR (lei decreto-lei e decreto-lei regional)

3º: Regulamentos

Relembrar:

Pluralismo legislativo: normas de igual escalão normativo (atos com valor de lei), mas que a CRP
diferencia a partir do órgão de onde provêm → ex: AR emana leis, Governo decretos-leis (art. 112.º/1)

Plurimodalismo legislativo: normas de igual escalão normativo (atos com valor de lei), mas que a CRP
diferencia a partir da matéria que tratam → a AR emana tanto leis constitucionais como leis orgânicas, leis
com valor reforçado, leis de bases, etc…

Princípios ordenadores das relações entre as fontes de Direito

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

1) Princípio da hierarquia: arts. 3.º/3; 112.º/ 6 e 7 → daqui decorrer o princípio básico sobre a produção
jurídica (art. 112.º/6 da CRP) – nenhuma fonte pode criar outras fontes com eficácia superior ou igual à
sua; só fontes de valor inferior.

2) Princípio da competência legislativa horizontal: paridade entre lei = DL = DLR (art. 112.º/ 1 e 2)

3) Princípio da competência normativa vertical: Estado-central, Regiões Autónomas, autarquias locais,


EU, comunidade internacional.

4) Princípio da reserva de lei e o princípio da primazia ou primado da lei (Estado de Direito; Estado da
legalidade)
Conceito de lei é polissémico:
Qualquer norma do ordenamento jurídico (sentido lato)
Ato legislativo (lei, DL, DLR)
Lei ou DL
Ato legislativo da AR (sentido estritamente formal de lei)
Significado das expressões “força de lei” / “valor de lei”:
Lei é o ato normativo mais forte, logo a seguir à CRP
Força ativa (inovadora)
Força passiva (resistência à revogação por outras normas que não sejam atos legislativos)

Competência legislativa da AR

Leis constitucionais (arts. 161.º/a); 166.º/1; 284.º a 289.º): leis de revisão constitucional

Leis orgânicas (arts. 166.º/2): matérias de elevado grau de sensibilidade política, por isso:

Aprovadas por maioria absoluta (art. 168.º/5)

Veto do PR só é superado por 2/3 Deputados (art. 136.º/3)

Além do PR, também o PM ou 1/5 Deputados podem solicitar a sua fiscalização preventiva (art. 278.º/4)

Leis estatutárias (arts. 161.º/b) e 226.º): Estado Unitário, mas com Regiões com autonomia política

Leis com valor reforçado: têm valor superior ao das outras leis; se forem violadas → fiscalização judicial
da legalidade (arts. 280.º/2, al. a) e 281.º/1, al. b)

Quais as leis com valor reforçado? (art. 112.º/3): 3. Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que
carecem de aprovação por maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam
pressupostos normativo necessário de outras leis ou que por outras devam ser respeitadas

Leis orgânicas;

Leis que carecem de aprovação por maioria 2/3 (art. 168.º/6)

Leis que são o pressuposto normativo necessário de outras leis (leis de bases, LAL, leis-quadro)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Leis que devam ser respeitadas por outras leis (leis estatutárias, leis de enquadramento: arts. 106.º/1 e
229.º/3)

Leis quadro e leis de enquadramento: dirigem-se a uma matéria concreta, já em parte regulada pela
Constituição

Lei de enquadramento = lei do orçamento (art. 106.º/1)

Lei-quadro = reprivatização das empresas nacionalizadas (art. 293.º/1)

Leis de autorização (LAL) e leis de bases (LB): dois tipos de leis através das quais a AR transfere a sua
competência legislativa para o Governo.

“O instituto da autorização legislativa veio atender a uma necessidade (…) de o órgão legislativo poder
aliviar o encargo da exclusividade legislativa sem colocar em causa o monopólio legislativo que lhe
assistia”.

Leis da AR que autorizam

o Governo (165.º e 198.º) ou

uma ALRA (227.º/1, b), e 2-4, e 165.º)

a legislar em matérias de reserva relativa da AR

≠ art. 111.º/2 – proíbe delegação de competências dos órgãos de soberania

O Governo (ou a ALRA) é que tem de pedir à AR uma Lei de Autorização Legislativa (197.º/1, d) e
227.º/1, f) e 2)

227.º/2: anteprojeto do decreto legislativo regional autorizado

As LAL não são “cheques em branco”, limitam a atuação legislativa dos órgãos autorizados, estipulando
os termos da inovação legislativa a ser introduzida

Limites das autorizações


Limites materiais: a LAL fixa o objeto, o sentido e a extensão da autorização (165.º/2 e 227.º/2)

Objeto: a matéria sobre que vai incidir a autorização (alínea ou parte da al. do art. 165.º)

Sentido: qual a orientação que a legislação deve seguir (ex: aumentar ou diminuir os impostos)

Extensão: limite ao sentido da legislação (ex: aumento de impostos só até 3%)

Limite temporal: a autorização terá de ser executada num determinado prazo; a duração da autorização é
fixada na LAL. Mas a que momento se refere o prazo? Por exemplo, 3 anos até à aprovação? Ao envio para
promulgação? À promulgação? À referenda? À publicação?

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Momento relevante (TC): aprovação do decreto-lei (pelo Conselho de Ministros) ou do decreto legislativo
regional autorizado (pela ALR)

Cessão da autorização LAL (leis de autorização legislativa)


 1) Esgotamento do prazo (165.º/2 e 227.º/2)

 Mas: autorizações contidas na lei os orçamentos só caducam no termo do ano


económico (165.º/5)

 2) Utilização pelo órgão autorizado: princípio da irrepetibilidade (165.º/3 e 227.º/2)

 Mas: possibilidade de utilização parcelar

 3) Revogação da LAL pela AR:

 Expressa

 Tácita

 4) Caducidade (165.º/4 e 227.º/3)

 Demissão do Governo (ou dissolução da ALR)

 Termo da legislatura

• Dissolução da AR

Vícios dos atos legislativos autorizados


Excesso de autorização – violação de limites materiais (sentido e extensão) da LAL: ilegalidade
(arts. 112.º/2; 280.º/2 e 281.º/1, al. b))

Defeito de autorização (inconstitucionalidade):


Violação dos limites temporais
Violação do objeto da autorização
Falta de menção expressa da LAL (198.º/3 e 227.º/4)

Inconstitucionalidade consequencial (ou sucessiva):


Se a LAL não fixa os limites previstos no art. 165.º/2, é inconstitucional (ex: LAL que tenha por
objeto a matéria de reserva absoluta da AR)
Consequentemente, também o são o DLA ou DLR autorizado

Resumindo…
Se LAL inconstitucional → DLA inconstitucional consequente

Se LAL não inconstitucional → mas o DLA não observa:

Objeto/duração: inconstitucionalidade direta/orgânica/por incompetência (é como se não


houvesse autorização);

Sentido/extensão: grande parte doutrina entende que há aqui uma ilegalidade (violação da LAL)
[≠ Manuel Afonso Vaz vê aqui uma inconstitucionalidade indireta, pois o que se viola é a LAL,
mas indiretamente fere-se a própria Constituição]

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Fiscalização da Constitucionalidade
Meios de garantia da Constituição

Vinculação de todos os poderes à Constituição (princípio da constitucionalidade: art. 3.º/3):


todos os atos jurídico-públicos têm de respeitar a CRP

→ princ. constitucionalidade > princ. legalidade

… alguma doutrina (Catarina Santos Botelho, J. J. Gomes Canotilho, Vital Moreira), porém, alerta
para uma certa incongruência entre a proclamação do princípio da constitucionalidade (todos os
atos jurídico-públicos) e o modelo de fiscalização da constitucionalidade adotado (só os atos
normativos)

2. Limites ao processo de revisão constitucional: limites materiais (art. 288.º) e


limites formais (processuais, temporais e circunstanciais (arts. 284-289.º)

3. Princípio da separação e interdependência de poderes (art. 111.º): modelo de “checks and


balances” (freios e contrapesos)

A ideia fundamental da CRP é assegurar uma separação funcional (repartição horizontal);


São funções autónomas, que convivem com a interdependência institucional → controlo:
Primário ou subjetivo – sobre órgãos
Secundário ou objetivo – sobre atos desses órgãos

4. A constitucionalização dos estados de exceção constitucional (arts. 19.º e 138.º): situações de


anormalidade constitucional, que estão repletas de garantias, para se evitar o “vazio jurídico”
(nicht-Recht) que caraterizou o nacional-socialismo na Alemanha do séc. XX.

5. Fiscalização jurisdicional da constitucionalidade das normas (arts. 277.º-283.º): mecanismo


privilegiado para garantir o cumprimento da Constituição

Inconstitucionalidade = violação da Constituição (Ex: uma lei da AR sobre a liberdade religiosa


viola o art. 41.º CRP)
Ilegalidade = violação de um ato normativo infraconstitucional (ex: DLA viola sentido da LAL)

Tipos de inconstitucionalidade
Norma inconstitucional = norma desconforme com a Constituição (parâmetro constitucional)

Por ação (art. 277.º): ato que viola a Constituição≠ por omissão (situações de inércia, de non
facere: art. 283.º)

Originária (no momento da nascença da norma) ≠ superveniente (deriva de norma


constitucional posterior)

 Presente (norma em vigor) ≠ pretérita (não vigora)


 Consequente/consequencial (funda-se em norma antecedente)
 Total ≠ parcial
 Material (conteúdo da norma fere a Constituição) ≠ orgânica (incumprimento regras de
competência) ≠ formal (preterição formalidades constitucionais)
 Direta (no confronto direto da norma com a Constituição) ≠ indireta (na relação com outra norma
ordinária)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Os modelos fundamentais de “justiça constitucional”

Modelo unitário (sistema difuso ou Americano)


→ judicial review of legislation
→ Sentença do juiz Marshall no caso Marbury v. Madison (1803)
→ Constituição portuguesa de 1911 (por influência da Constituição brasileira de 1891)
Vantagens:
- Reforço da vinculação jurídica à Constituição

Desvantagens:
- Divergência de julgados e falta de uniformidade na tutela da Constituição

Modelo da separação (sistema concentrado/ austríaco; Verfassungsgerichtsbarkeit)


→ ex. Áustria (Hans Kelsen: 1920)
→ é um modelo concentrado, ou seja, existe uma justiça constitucional que acresce à justiça
ordinária

Vantagens:
- Uniformidade na tutela da Constituição (harmonia de julgados)

Desvantagens:
Politização do controlo constitucional
Lentidão processual

Critério dos titulares do controlo:


Quem controla?

 Controlo político:
- Sistema francês (sécs. XVIII e XIX: omnipotência da lei)
- Controlo a cargo de órgãos de cunho político (ex: Parlamento ou Monarca)
- Ideia do “criador controla a criatura”
- Em Portugal, vigorou no constitucionalismo monárquico

 Controlo jurisdicional:
- a fiscalização da constitucionalidade é um ato jurisdicional
- Subdivide-se em:
- Controlo concentrado/austríaco
- Controlo difuso/americano

 Controlo por via incidental/ de exceção: a questão da inconstitucionalidade, sendo secundária ao


caso, é discutida na medida em que for relevante para a solução do caso concreto
→ controlo difuso/concreto
→ Em Portugal, surge “nos feitos submetidos a julgamento” (art. 204.º), na fiscalização concreta

 Controlo por via principal: a questão da constitucionalidade é a causa de pedir


→ controlo concentrado/abstrato
→ processo objetivo de defesa da Constituição

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Controlo preventivo: a priori, ou seja, antes da entrada em vigor da norma → normas imperfeitas

Controlo sucessivo: após a publicação da norma

Critério da legitimidade processual ativa: Quem pede o


controlo?
Restrita ≠ alargada (quisque de populo)

Ex officio (recursos obrigatórios a cargo do MP) ≠ de parte ≠ de órgãos ou entidades públicas (art.
281.º/2)

o TC, como os demais tribunais, é um órgão passivo (apenas atua por iniciativa de outras
entidades), exceto no processo de fiscalização mista (art. 281.º/3)

Critério dos efeitos do controlo


Gerais (erga omnes) ≠ particulares (inter partes)

Retroativos (ex tunc) ≠ prospetivos (ex nunc) a partir do momento da publicação da declaração de
inconstitucionalidade)

Declarativos (inconstitucionalidade preexiste à declaração) ≠ constitutivos (declaração do TC é que


efetiva a invalidade)

Processos de fiscalização da constitucionalidade na CRP/76:

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Fiscalização preventiva: TC pronuncia-se

Fiscalização sucessiva concreta: TC julga/decide

Fiscalização sucessiva abstrata: TC declara

Fiscalização mista: TC declara

Fiscalização da inconstitucionalidade por omissão: TC verifica

Uma norma ou é:
- Inconstitucional
- Ou não inconstitucional

≠ por isso, o TC não julga/declara/verifica a constitucionalidade de uma norma (não existe em


Portugal, como, por exemplo no Brasil, a “ação declaratória de constitucionalidade”, nos termos do
art. 103.º da CFB)

Fiscalização preventiva da constitucionalidade


(arts. 278.º e 279.º)

 É uma fiscalização abstrata


 Competência: Tribunal Constitucional
 Incide sobre:
 Normas
 de alguns diplomas enviados ao PR para promulgação, ratificação ou assinatura (ou aos
RR’s para assinatura)
 e que, portanto, ainda não estão em vigor

 Legitimidade ativa:
 Presidente da República (art. 278.º/1) – “pode”
 Representantes da República (art. 278.º/2) – “podem”
 Primeiro-ministro e 1/5 dos deputados – apenas quanto às leis orgânicas (art. 278.º/4) –
“podem”
 Legitimidade passiva:
Órgão autor da norma impugnada (art. 54.º LTC)

 Prazo para solicitar fiscalização – 8 dias:


 a contar da receção do diploma (art. 278.º/3)
 leis orgânicas: a contar da data do envio ao PR (art. 278.º/6)
 Prazo de pronúncia do TC – 25 dias (art. 278.º/8)
 Objeto – normas de:
 decreto enviado ao PR para promulgação como lei ou decreto-lei
 tratado internacional submetido ao PR para ratificação
 acordo internacional remetido ao PR para assinatura
 decreto legislativo regional enviado a RR para assinatura
 Para: avaliar inconstitucionalidade (e não ilegalidade)

Efeitos fiscalização preventiva da constitucionalidade

➢ Não pronúncia pela inconstitucionalidade:


➢ PR (e RR) podem promulgar (ou assinar)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

➢ ou vetar politicamente (arts. 136.º e 233.º/2)

➢ Pronúncia de inconstitucionalidade (art. 279.º/1):


➢ Obrigação de veto do diploma pelo PR ou RR
➢ Seguida de devolução ao órgão que o aprovou

Perante uma pronúncia de inconstitucionalidade:

3 hipóteses de atuação do legislador (art. 279.º/2, 3 e 4):

1. Expurgar norma inconstitucional: PR pode voltar a requerer a fiscalização preventiva


2. Confirmar diploma por maioria de 2/3 dos deputados: PR não fica obrigado a promulgar (art.
279.º fala em “poder” e não “dever” de promulgação, assinatura ou ratificação)
3. Reformular diploma – implica novo processo legislativo: novo diploma pode ser sujeito a
fiscalização preventiva

Lei: expurgação, confirmação ou reformulação

Decreto-lei: expurgação ou reformulação

Mas: Governo pode apresentar proposta de lei igual à AR (arts 197.º/1, al. d) e 200.º/1, al. c))

Tratado internacional: confirmação ou reformulação

Acordo internacional: expurgação ou reformulação

Decreto leg. regional: expurgação ou reformulação

Se o diploma acabar por entrar em vigor:

Presunção de inconstitucionalidade das normas em causa

MP fica obrigado a recorrer de decisões de tribunais que apliquem as normas em causa (art. 280.º/5)

TC pode vir a declarar a inconstitucionalidade com força obrigatória geral (fiscalização sucessiva
abstrata – arts. 281.º e 282.º)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA ABSTRATA


(arts. 281.º e 282.º)

Objeto: “Quaisquer normas” (art. 281.º/1, a)

Disposição de qualquer ato legislativo (Lei, DL ou DLR)

Disposições gerais e abstratas contidas noutros tipos de atos (ex: regulamentos administrativos)

Competência: Tribunal Constitucional

Prazo: não há prazo para requerer a fiscalização sucessiva abstrata de uma norma

➢ Legitimidade ativa (art. 281.º/2):


➢ PR;
➢ Presidente da AR;
➢ Primeiro-Ministro;
➢ Provedor de Justiça;
➢ PGR;
➢ 1/10 dos deputados da AR;
➢ Diversas entidades regionais, quando esteja em causa a violação de direitos das regiões ou dos
seus Estatutos

➢ Legitimidade passiva: órgão autor da norma impugnada (art. 54.º LTC)

Efeitos da declaração de inconstitucionalidade (art. 282.º):

▪ Força de caso julgado – decisão definitiva, sem hipótese de recurso


▪ Força obrigatória geral (erga omnes) – vincula todos os órgãos constitucionais e todas as pessoas,
singulares ou coletivas.
▪ Tribunais – ficam obrigados a desaplicar (a não aplicar) a norma declarada inconstitucional
nos casos que devam julgar; o próprio TC fica vinculado.
▪ Legislador – não pode voltar a emanar norma com o mesmo conteúdo da norma declarada
inconstitucional (salvo inconstitucionalidade orgânica ou formal)

o Efeitos temporais da declaração:


o Retroatividade (efeitos ex tunc)
o A norma deixa de produzir efeitos desde o momento da sua entrada em vigor
o A norma é inaplicável a situações ou relações passadas e futuras

Exceções à retroatividade:

Inconstitucionalidade superveniente (art. 282.º/2)

Casos julgados (art. 282.º/3)

Mas… contra-exceção (= regra): matéria penal, disciplinar ou de ilícito de mera ordenação social +
norma de conteúdo menos favorável ao arguido

Restrição de efeitos por decisão do TC: por razões de segurança jurídica, equidade ou interesse
público de excecional relevo (art. 282.º/4)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Outros efeitos da declaração:

Repristinação das normas revogadas pela norma declarada inconstitucional …

… salvo se tal não for razoável:

➢ Está em causa uma inconstitucionalidade superveniente, ou


➢ A norma repristinada também é inconstitucional, ou
➢ Por razões de segurança jurídica, equidade ou interesse público de excecional relevo

➢ Efeitos da não declaração de inconstitucionalidade:


➢ Não produz caso julgado: pode pedir-se novamente a fiscalização
➢ Noutro caso, o TC pode declarar a inconstitucionalidade

Fiscalização sucessiva concreta


(arts 204.º e 280.º)

 Art. 204.º: qualquer tribunal deve, nos casos submetidos a julgamento, desaplicar as normas
que considerar inconstitucionais

 Art. 280.º: dessa decisão de desaplicação do tribunal da causa (tribunal a quo) pode haver recurso
para o Tribunal Constitucional (tribunal ad quem), que pode revogar a decisão do tribunal a quo

 Competência: qualquer tribunal

 Tribunais: órgãos de natureza judicial

 Quando esteja a julgar um caso

(civil, penal, administrativo, fiscal, de trabalho, etc.)

Legitimidade ativa:

Partes (incluindo o MP, quando for parte)

Juiz (ex officio), pois está submetido ao princípio da constitucionalidade (art. 3.º/3)

Requisitos processuais objetivos:

Objeto: qualquer norma que deva ser aplicada (normas jurídicas públicas; “conceito funcional de norma”)

questão da constitucionalidade deverá ser suscitada durante o processo (ou seja, não ser a questão
principal, mas incidental)

questão da constitucionalidade terá de ser relevante para a decisão do caso concreto

 Decisão do tribunal a quo:

 Decisão negativa/ rejeição de inconstitucionalidade: o juiz aplica a norma no caso principal.

 Decisão positiva/ de acolhimento de/da inconstitucionalidade: o juiz desaplica a norma, julgando a


causa principal sem a ter em conta

 Pode ter de repristinar a norma revogada pela norma julgada inconstitucional (salvo em matéria
penal, se tal implicar a violação do princípio da aplicação da lei penal mais favorável)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Recurso para o Tribunal Constitucional:

Pode acontecer, quer o tribunal a quo conclua que a norma é inconstitucional, quer decida que não é –
280.º/1

O TC também recebe recursos de decisões judiciais de desaplicação de normas com fundamento na sua
ilegalidade (art. 280.º/2)

O recurso diz respeito apenas à questão da inconstitucionalidade (ou ilegalidade) da norma, e não à
questão principal (que é resolvida pelo juiz a quo): art. 280.º/6

Recorrentes:

Partes no processo principal

O Ministério Público, seja ou não parte no processo

Recursos de decisão de desaplicação da norma:

Podem ser interpostos por qualquer das partes (art. 280.º/4, a contrario)

Sem necessidade de exaustão dos recursos ordinários (art. 70.º/2, a contrario, da LTC)

A decisão do TC vincula as instâncias superiores que venham a pronunciar-se sobre a questão principal

Este recurso é obrigatório para o MP se:

a norma desaplicada pelo tribunal a quo constar de convenção internacional, ato legislativo ou decreto
regulamentar (art. 280.º/3)

Porquê estes atos jurídico-públicos?

Sobre eles recai uma presunção da constitucionalidade

Recursos de decisão de aplicação da norma:

Apenas se a questão de inconstitucionalidade foi suscitada no processo (art. 280.º/1, b)

Só pode recorrer (recurso facultativo) a parte que suscitou a questão de inconstitucionalidade (art. 280.º/4)

Esgotamento das vias de recurso (arts. 70.º/2 e 4 e 72.º/2 da LTC)

➢ Este recurso é obrigatório para o MP se:


➢ a norma já tiver sido julgada inconstitucional (ou ilegal) pelo TC (art. 280.º/5):
➢ noutro caso de fiscalização concreta
➢ num caso de fiscalização preventiva
➢ num caso de fiscalização sucessiva abstrata
➢ Não tem de haver exaustão dos recursos ordinários (art. 70.º/2, a contrario, LTC)

Efeitos do julgamento TC:

(arts. 280.º/6 CRP e 80.º, LTC)

Inter partes

Caso julgado quanto à questão da constitucionalidade/ilegalidade

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

O tribunal a quo fica obrigado a reformar a sentença, se o julgamento do TC tiver sido contrário ao seu.

Decisão interpretativa do TC:

Julga a norma conforme à Constituição, se interpretada de determinada maneira

O tribunal a quo tem de aplicar a norma com aquela interpretação (art. 80.º/3, LTC)

Rui Medeiros entende que o art. 80.º/3 da LTC é inconstitucional

 Recurso para o plenário do TC:

 Havendo decisões contraditórias entre secções do TC (art. 224.º/3 CRP, e 79.º-D, da LTC)

 Este recurso é obrigatório para o MP, se intervir no processo como recorrente ou recorrido
(art. 79.º-D/1)

 Atenção:

O TC nunca julga/decide pela constitucionalidade! A decisão de não inconstitucionalidade não impede uma
eventual e posterior averiguação sucessiva abstrata ou concreta da inconstitucionalidade

FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA
MISTA
(arts. 281.º/3 CRP e 82.º LTC)

 Processo de fiscalização abstrata com base na fiscalização concreta

 Processo misto:

- Pressupostos da fiscalização concreta

- Processo + efeitos da fiscalização abstrata

Se uma norma tiver sido julgada inconstitucional pelo TC em três (ou mais!) casos concretos:

 Qualquer juiz do TC e o MP podem iniciar o processo de fiscalização sucessiva abstrata

Exceção ao princípio do pedido: é o próprio TC que tem iniciativa (e também o MP)

O TC pode declarar, ou não, a inconstitucionalidade da norma, com todos os efeitos previstos no art. 282.º

Atenção: o TC não é obrigado a declarar a inconstitucionalidade.

Ele vai é apreciar e pode até concluir que a norma que foi julgada inconstitucional em vários casos
concretos não deve ser declarada inconstitucional com força obrigatória geral.

FISCALIZAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO


(art. 283.º)

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RESUMOS DC- MARIA CAROLINA MARTINS

Verificação da “omissão das medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis as normas
constitucionais” (art. 283.º/1) → é sancionado o silêncio, o non facere; Competência: TC

 Legitimidade ativa:

 Presidente da República

 Provedor de Justiça

 Presidentes das ALRA (em caso de violação de direitos das regiões)

 Legitimidade passiva: o legislador

 AR, Governo e, eventualmente, ALRA

Que normas constitucionais necessitam de medidas legislativas para se tornar exequíveis?

Regras impositivas de legislação

Imposições legiferantes (permanentes e concretas: arts. 59.º/2, a), 63.º/2, 64.º/2, a), 66.º/2, c), 74.º/2, a)

Ordens de legislar (únicas: art. 224.º)

Regras precetivas não exequíveis por si mesmas (ex: arts. 117.º/2 e 3, 267.º/5) – Manuel Afonso Vaz

Para parte da doutrina, as normas programáticas – Catarina Santos Botelho; Jorge Miranda; Jorge Pereira
da Silva; Carlos Blanco de Morais

Efeitos da verificação da inconstitucionalidade por omissão:

O TC dá conhecimento dessa verificação ao órgão legislativo competente (art. 283.º/2)

➢ Paulo Otero: instituto encontra-se em “coma jurídico”


➢ Jorge Bacelar Gouveia: “museu constitucional”
➢ Jorge Miranda: “efeitos políticos” da verificação

FIM!

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