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Sofia Carvalho - 2014/15

Introdução
I. Direito Público: Noção
Surgimento do Direito Público
Desigualdade de poder

Ausência de regras

Abuso de poder

É necessário garantir os direitos e a liberdade das


pessoas

Normas: Direito público

 Limita o poder das


entidades públicas

Direito público
└ Direito autónomo em relação ao direito privado, por tratar de forma especial determinadas entidades,
concedendo-lhes poderes de autoridade e impondo-lhes deveres especiais de atuação, tendo em vista a
prossecução dos interesses públicos
└ Ramos: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direitos processuais

Pessoas coletivas públicas


└ São organizações compostas por comunidades de indivíduos, constituídas para a prossecução de
determinados fins (comuns) públicos.
└ Fins: interesses público (segurança, justiça, bem estar
└ Estado: mais importante, restantes estão submetidas/ associadas

Estado
 Monopólio do uso da força
 Detém o poder máximo – fáctico e jurídico => poder soberano
 Poder fáctico:
Através de factos age com os meios que possui
 Poder jurídico:
Possibilidade de manipular a esfera jurídica dos indivíduos e entidades coletivas

 Poderes de autoridade

Diferenças entre Dir. Público e Dir. Privado


 Direito privado baseia-se nos princípios:
└ Liberdade (Autonomia Privada)
- Os sujeitos podem estabelecer relações jurídicas como e com quem quiserem, ou seja, que façam
tudo o que não for proibido (SILÊNCIO = PERMISSÃO)
└ Igualdade
- O Direito Privado reconhece a todas as pessoas a mesma capacidade jurídica e confere-lhes um
tratamento igual
 Direito público rege-se por dois princípios:
└ Princípio da Legalidade

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- Qualquer relação que os sujeitos desejem ter necessita de estar prevista na lei, o Direito Publico
proíbe as entidades todas as atuações que não sejam expressamente permitidas
(SILÊNCIO = PROIBIÇÃO)
└ Princípio da Supra-Infra ordenação
- O Direito Publico concede às entidades públicas poderes de autoridade sobre os sujeitos
privados ou outras entiades públicas

Finalidades do Direito público


 Assegurar a manutenção da paz pública
 Administração da justiça
 Garantia do bem-estar da comunidade

Se as entidades tiverem:
 Fins diferentes dos que foram atribuídos  desvio de poder
 Poderes diferentes dos que foram atribuídos  incompetência
 Procedimentos diferentes dos que foram atribuídos  vicio de forma

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PARTE I - Teoria do Estado


II. Origem e fundamentos do Estado
Origem do Estado
 Começaram a surgir formas de organizações coletivas (aldeamentos/tribos)
 Formas primevas: O poder não era especializado no desempenho de papéis sociais  Ausência de
especialização do poder político
 Mais tarde: Atribuição de poderes a titulares de funções religiosas ou económicas
 Depois: Poder era exercido de forma autónoma
 Sistemas políticos históricos: impérios orientais, cidades-estado gregas, império romano…

Sistema político medieval


 No séc. X, após a quada do império romano, deparamos-mos com uma nova realidade politica, o
sistema medieval. Tem características radicalmente opostas ao estado moderno.
 Fragmentação do poder – poliarquia
└ O poder não estava apenas concentrado numa só entidade, mas sim, numa multiplicidade de
entidades, nenhuma das quais era verdadeiramente superior – poder descentralizado – soberania
era desconhecida
└ O rei é neste sistema o “primus inter pares”, que procura gerir os equilíbrios de poder entre os
senhores feudais, ordens religiosas, igreja, corporações, etc...
└ Instrumentos fácticos do poder (forças armadas, órgão de administração da justiça, cunhagem de
moeda, etc..) estão na mão das entidades, sendo isto reconhecido pela ordem jurídica através da
atribuição de poderes as mesmas
└ A nível externo: Reinos não eram independentes, estavam sujeitos ao papa ou e à jurisdição do
imperador.
 Personalização do poder
└ O poder era fundado em relações de fidelidade pessoal e menos no elemento territorial
└ O exercício de poder era objeto de contrato entre o senhor e os súbditos
└ O território não era fonte de poder, era apenas mera propriedade do detentor do poder, seja o rei
ou uma entidade
└ Propriedade transforma o território num instrumento essencial do exercício do poder, mas o
mesmo não e titular desse exercício
└ Desligamento do poder politico em relação ao território
└ Princípio da personalidade na aplicação do direito: de acordo com o mesmo, o direito aplicável
depende da tribo ou do povo a que os litigantes pertençam e não do território onde o litigo ocorra
 Individualização do poder
└ O poder é exercido por alguém em virtude das suas capacidades pessoais (“carisma”). Essas
qualidades permitiam-lhe conquistar o poder, pela força, ou pela persuasão.
└Instabilidade na liderança e nas regras, pois estavam constantemente a ser postos em causa por
novos pretendentes´

Estado moderno (séc. XV)


 Centralização do poder nas mãos do rei – monarquia
└ Unificação dos instrumentos fácticos do poder (cunhagem da moeda, Direito, tribunal, exercito
real)
└ Poder absoluto do rei a nível interno
└ Independente a nível externo
 PODER SOBERANO

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 Territorialização do poder
└ Delimitação exata das fronteiras do território, onde o Estado exerce o seu poder e aplica as leis
└ As pessoas e os bens que se encontram num determinado território estão sujeitas ao Direito desse
Estado, independentemente da sua nacionalidade
└ Território deixa de ser propriedade do detentor, passa a ser do Estado
 Institucionalização do poder
└ O poder passa das pessoas concretas para as instituições
└ Pessoas são meros titulares de órgãos da instituição
└ poder pertence à nação
└ Separação do património do rei e do Estado
 Estabilidade na sucessão e no poder exercido

Evolução do Estado
1) Monarquia corporativa (séc. XV-XVII)
 Fase entre medieval e moderno
└ Ainda muito marcadas por algumas características do sistema político medieval, designadamente o
papel que algumas corporações desempenhavam na organização politica e social
Outras designações:
└ “Estado estamental”, pois os estantes sociais (povo, nobreza, clero) estavam representados em cortes, que
limitavam o poder do rei
└ “Estado patrimonial”, pois não havia distinção entre a pessoa regia e o estado, sendo o território estadual
e todos os bens patrimónios do rei

2) Monarquias absolutistas (2º metade do séc. XVII-XVIII)


└ Processo de concentração do poder no rei  Inexistência de separação de poderes
└ cortes deixam de ser convocadas, não limitando o poder do rei
└ Rei não está submetido ao Direito, mas apenas à razão
└ Os súbditos não possuíam garantias dos seus bens fundamentais (“Estado de policia”)
└ Queixas contra abuso de poder e a atuação arbitraria do soberano
└ Evolução ocorrida em Inglaterra, onde a tentativa de centralização do poder, deu origem a guerras civis,
que transformaram aquele país num Estado liberal

3) Estado de Direito liberal (Finais do séc. XVIII – 1ª Guerra Mundial)


└ As revoluções liberais americanas e francesas inauguraram este período
└ Atribuição do poder à nação (parlamento eleito exerce o poder soberano)
└ Objetivo: Evitar abuso de poder
- separação de poderes: legislativo, executivo, judicial
- Submissão do Estado ao Direito
- Reconhecimento dos direitos fundamentais (constituição)
└ liberal – nível politico
- nível económico (não intervém)

MAS no séc. XIX as desigualdades sociais (proletariado) e as recessões económicas (devido ao capitalismo)
continuavam  Estado de Direito Social / Estado totalitário, que procuram minimizar as preocupações

3) Estado de Direito social (séc.XX)


└ Conserva e aprofunda as características mais importantes do Estado de Direito liberal
(direitos fundamentais, submissão do Estado ao Direito, separação de poderes)
└ Complementando-as com o alargamento do direito ao voto

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└ Intervenção estatal na economia para corrigir as desigualdades e o ciclo económico


└ “democracia na política, socialismo na economia”

3) Estado totalitário – até aos fim da 2. Guerra Mundial


└ fascista, comunista, nacional-socialista
└ Rutura com o liberalismo
└ Fim da separação entre o Estado e a sociedade (todos os domínios da vida humana são considerados de
interesse publico: civil, económica, religiosa, familiar, interesses)
└ Abolição dos direitos fundamentais
└ Unificação do poder nas mãos do chefe do Estado
└ Partido único, eleições extintas
└ A vontade do líder é lei, não sendo limitada pelo Direito
└ Vasto controlo da atividade económica

A partir da 2ª guerra mundial até hoje – Estado de Direito Social/ estado autoritário

3) Estado autoritário
└ Estados que eram comunistas que liberalizaram a economia
└ Ausência de democracia: sistema de partido único
└ Liberalismo económico, com alguma intervenção estatal, e de autoritarismo politico

Revolução neoliberal (déc. 70/80)


└ Movimento nos Estados Ocidentais (Estado de Direito Social)
└ é defendido o retorno ao liberalismo económico puro
- Privatização das empresas
- Desregulamentação da economia (+ liberdade, - regras)
- livre concorrência
- liberalização do comercio internacional
└ Simultaneamente pretende se manter a faceta “social”

=> HOJE: Estado de Direito Social – variante liberal-social, conjugando democracia, economia de mercado
e solidariedade

Conceções sobre o Estado


Legitimação sociológica do poder
 Nenhum regime político pode subsistir duradouramente sem a obediência, e por tanto, aceitação da
maior parte da população
 A relação de poder é sempre, de algum modo, consentida
 Consentimento pode exprimir-se através da eleição ou simplesmente da não-revolta
└ A origem do poder politico esta assim no consentimento (expresso ou tácito) dos destinatários do
poder
 Sociologia: procura explicar essas razões de aceitação investigando o modo de legitimação de poder
– Max Weber
└ poder carismático: conjunto de qualidades pessoais do governo, que implica a sua aceitação,
como líder, pelos governados
└ poder tradicional: os governados aceitam obedecer ao governador, desde que o poder seja
exercido da forma costumeira
└ poder legal-racional: existência de leis que atribuem competências a órgãos determinados

Legitimidade do poder (legitimação ética)


 Desde conceito resulta uma certa conceção de obrigação politica, do dever de obedecer ao comando
do poder politico: só existira se o mesmo for legítimo

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 A ideia de legitimidade concretiza-se na formulação de um padrão normativo que serve para


avaliar o poder político vigente
 Princípios normativos de justificação do poder
└ Legitimidade divina (Deus)
└ Legitimidade democrática (povo)
└ Legitimidade dinástica (tradição)
└ Legitimidade da natureza (razão)
└ Legitimidade revolucionaria (progresso)

Origem contratual da sociedade politica - (Hobbes, Locke, Kant, Rousseau e Espinoza)


└ Submissão dos indivíduos ao poder do Estado num consentimento originário

 Contrato social (Rousseau): “Homem nasceu livre e vive aprisionado”


└ “Aprisionado”- sujeição do ser humano ao poder politico  limitação da liberdade
 Trata-se de justificar o poder político
 Como tornar legitima a sujeição do homem ao poder do Estado
 Contratualistas modernos: A inserção na sociedade politica terá de basear-se num ato de
consentimento, e por tanto, corresponder aos interesses próprios de cada individuo. (Liberdade
originaria -> submissão ao poder apenas pelo consentimento -> pacto ou contrato social)
 Individualista: ideia de que o poder legítimo do Estado tem origem na vontade de cada individuo
em submeter-se ao mesmo, pois considera que isso é o melhor para seu interesse próprio

Ponto de partida dos autores comum  Resultados diferentes:

Estado de natureza
└ Caracterização diferenciada que os autores fazem da situação que existiria se não houvesse Estado, nem
qualquer outra forma de poder politico

 Hobbes: Um estado de “guerra de todos contra todos” – justifica a existência de uma monocracia
autoritária
 Locke: Sociedade, em que há cooperação e comercio entre os homens e estes são titulares de direitos
naturais – democracia liberal
 Rousseau: não é necessário estabelecer limites a atuação do soberano, já que o mesmo é
(democraticamente) constituído pela totalidade dos cidadãos pelo que não tem, nem pode ter,
qualquer interesse contrário ao deles – Critica: Maioria pode violar os direitos da minoria
 Suarez: A sociedade humana é algo de natural. Já o poder politico apenas se legitima pela expressão
da vontade dos governados em pactos de união e de sujeição

 Origem natural da sociedade politica (ponto de vista diferente)


 Aristóteles: “o homem é um animal politico”
 Pré disposição natural para aceitar o poder superior, que nos ordena (submissão)
 O homem tem que viver em sociedade, pois só esta nos ordena e garante a satisfação das
necessidades humanas

 Os autores entendem que só e legitimo o poder exercido para o bem comum (paz, e justiça)

Fins do poder politico


Origem: interesses públicos (interesse publico primário)

 Indispensável a manutenção da paz


 Administração da justiça
 Bem-estar dos governados

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III. Os elementos do Estado


 Povo Teoria dos 3 Elementos, séc. XX, Georg
 Território Jellinek
 Soberania ou poder politico

Critica: Jorge Miranda + Paulo Rangel: não se refere a essência, mas apenas as condições de existência do
Estado – uma maneira de encarar

Povo
Conceito
└ Esta designação é polissémica, podendo, por isso mesmo, não significar sempre a mesma realidade e é
um conceito jurídico-publico

 É um dos elementos essenciais do Estado


 Conjunto de pessoas ligadas ao Estado pelos laços de cidadania ou da nacionalidade (Art. 14 CRP)
 O vínculo que une as pessoas ao Estado, possui um carater jurídico (conjunto de direitos e deveres)
– ex: direitos de participação politica, dto ao voto…
 Conceito de povo assume ainda um caracter político, como elemento pessoal, vivo, do Estado, ao
qual pertence todo o poder soberano
 Povo é um conceito bipolar
└ Aceção ativa: enquanto sujeito do poder, facto de a soberania residir nele (Art. 2 CRP)
└ Dimensão passiva: como objetivo desse mesmo poder, uma vez que o Estado vai exercer sobre ele
a sua autoridade
└ Rousseau: cidadão  súbdito, consoante a perspetiva por que fosse encarado

Povo  População
 Povo:
└ Conceito jurídico-político
└ Conjunto de cidadãos de nacionalidade portuguesa (Art. 14 CRP)
└ Apela para uma unidade do poder
└ Titular de poder político soberano e é constituído pelos cidadãos
 População:
└ Conceito estatístico (demográfico e económico)
└ Cidadãos (estrangeiros/ apátridas) residentes em Portugal
└ População flutuante: composta por turistas e visitantes
└ Estrangeiros: Pessoas que se encontram no território de um Estado ao qual não estão ligados pelo
vinculo da cidadania, embora sejam cidadãos de outro estado
└ Apátridas: Pessoas que não possuem qualquer vínculo com uma ordem jurídica, não tem
cidadania de qualquer estado
└ Soma de um número de indivíduos
└ Encontra-se no território do Estado, ou seja, está submetido ao seu poder (súbdito)

Nação  Pátria
 Nação
└ Conceito cultural
└ União profunda entre um grupo de pessoas
└ Sentimento de pertença a uma comunidade histórica de culta, onde se partilham religião, língua,
etnia, tradições ou costumes
└ Assume uma dimensão política, organizando-se o grupo numa unidade politica
└ A nação é anterior ao Estado, pois e apenas quando o grupo toma consciência da sua diferença,

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das suas particularidades que sente a necessidade de reger o seu destino e a sua própria vida
└ “Conjunto de pessoas que sentem que são uma nação”, Rupert Emerson
 Pátria
└ Conceito afetivo
└ Ligação emocional dos indivíduos as suas raízes
└ Invoca o território

Principio das nacionalidades


 Formulado por Mancini, em 1851
 Cada nação tem direito a constituir um Estado e cada Estado assenta numa Nação
 Forma ideal de organização das comunidades políticas, na medida, em que se nação e Estado
coincidissem, os conflitos seriam evitados
 Este principio não foi completamente respeitado
 Inicio do séc.XX: Imperio Austro-húngaro englobava uma multiplicidade de nações
 Nações pluriestaduais: repartindo-se por vários Estados (Ex. nação basca, que se comparte por
Espanha e França)
 Estados plurinacionais: Várias nações coabitam num só Estado (Ex. “nação” do Quebec no Canada,
ex. minorias nacionais: sérvios no Kosovo)
 Minorias transnacionais: Ciganos e judeus, não se identificam totalmente com o conceito de
minoria nacional

Princípio da autodeterminação dos povos


 Consequências geopolíticas apos a II Guerra Mundial
 Carta das nações unidas (1945)
 Ideia de que os povos, designadamente os das colonias daas potencias europeias, tem o direito de
escolher o regime politico e económico que entenderem, quer agregando-se a outro Estado, quer
tornando-se independentes
 Ex. Origem da constituição do Estado de Timor-Leste

Minoria nacional
 Uma das principais dificuldades resultantes da articulação entre as nações e os Estados
 Coletividade de cidadãos de um determinado Estado, que se sente parte de outra nação, que não a
nação maioritária nesse Estado
 Causa: laços muito específicos que esses cidadãos partilham entre si, como religião, língua, etnia,
costumes e tradições, que os distinguem da maioria
 Foram e ainda são alvo de discriminação
 Regimes autoritários: perseguem e oprime, através de políticas de integração forcada
 Regimes democráticos: proteção
└ Assenta na regra da maioria  a não discriminação das minorias pode não ser o suficiente para as
proteger, pois estas são uma minoria também em termos quantitativos
 Alguns Estados optam por conceder-lhes autonomia necessária para se Auto preservarem e
desenvolverem, respeitando assim a identidade destes grupos
└ Autonomia pessoal: interdita a discriminação dos membros da minoria
└ Autonomia cultural: reconhece uma identidade coletiva à minoria, protegendo, por exemplo, as
respetivas línguas e religião
└ Autonomia territorial: Delimitação de um espaço territorial dentro do estado onde a minoria
exercera poderes administrativos ou políticos próprios
Ex. região autónoma do Tirol do Sul em Itália
 Comunidades de trabalhadores imigrantes e de refugiados, estes mantem o vinculo formal da
cidadania com o Estado de origem, estes laços tendem por se atenuar com o tempo  tendem
integrar-se no Estado

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Aquisição da nacionalidade
 Depende da verificação de uma “conexão relevante” entre um cidadão e um Estado
 No que respeita os critério essenciais de atribuição da cidadania, destacam-se o critério do:
└ Ius sanguinis – ou da filiação: Um Estado de tradição mais conservadora e/ ou que procura
salvaguardar os direitos dos filhos de seus nacionais nascidos no Estrangeiro, atribuirá uma
importância acrescida a este critério
└ Ius soli – ou do local do nascimento: Um Estado que pretenda atrair fluxos imigrantes, reforçara
este critério
 Ordenamentos jurídicos tendem adotar os dois critérios em simultâneo

O regime jurídico da aquisição da nacionalidade portuguesa consta na Lei da Nacionalidade – lei nº


31/81 de 3 de Outubro

Aquisição originária
 A nacionalidade advém de ato ou facto jurídico reportado ao momento de nacimento
 Produz efeitos desde o nascimento (Art. 11 LN)
 Isto é, mesmo que um indivíduo tenha manifestado a vontade de ser português em período
posterior ao nascimento, os efeitos da aquisição da nacionalidade portuguesa retroagem ao
momento que nasceu  efeitos retroativos
 Por mero efeito da lei (opera automaticamente)
└ prescinde de uma manifestação de vontade, tendo lugar de forma direta e imediata
└ 4 fundamentos de aquisição:
- ius sanguinis e ius soli - Art.1, a) LN
- ius sanguinis + ao serviço do Estado – Art.1,b) LN
- duplo Ius soli - Art. 1, d) LN
- “clausula antiapatridia”,procura evitar a situação de apatridia, ausência de nacionalidade - Art
1, f) LN
 Por efeito da lei e da vontade
└ ius sanguini + registo ou declaração, incidência da lei e da vontade, vontade pode ser expressa
(individuo declara que quer ser português) ou tácita (inscrição do interessado no registo civil
português) - Art.1, c) LN
└ ius soli + residência legal do progenitor > 5 anos + declaração - Art. 1, e) LN

Aquisição derivada
 A nacionalidade adquire-se por acto ou facto jurídico que se reporta a um momento ulterior ao
nascimento
 Produz efeitos a partir da data do registo dos actos ou factos (Art. 12 LN)
 Produz efeitos apenas para o futuro  efeitos prospectivos
 Por efeito da vontade
└ Cumprimento de determinados requisitos legais, uma declaração de vontade de adquirir a
nacionalidade portuguesa (por efeito da lei e da vontade)
└ Art.2 LN – Aquisição por filhos menores ou incapazes + pai/mãe + declaração
└ Art.2,nº1/3 LN – Estrangeiro casado/união de facto há + de 3 anos com portuguesa, mediante
declaração feita na constância do matrimónio
└ Art. 4 LN – perda de nacionalidade
 Pela adopção
└ Art. 5 LN – aquele que seja adotado por português (prescinde de declaração – mero efeito da lei)
 Por naturalização
└ É concedido o requerimento do interessado por decisão do Ministro da Justiça, órgão da
Administração Publica, (acto administrativo)  aquisição por efeito da lei, da vontade e de acto
administrativo
└ Direito à Naturalização: A nacionalidade portuguesa terá, por força da lei, de ser concedida a

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estrangeiros que preencham cumulativamente os requisitos do Art.6, nº1,2,3,4 – Governo possui


um poder vinculado à lei

Perda de nacionalidade
 So podem perder nacionalidade portuguesa, aquelas que, possuindo outra nacionalidade, declarem
que a desejam perder (Art. 8 LN)
 2 premissas cumulativas: Acto voluntario + dupla nacionalidade  Impossibilita apatridia

Estatuto jurídico das pessoas


 Vinculo com o Estado: Direitos e Deveres designados na constituição (Art. 12, CRP)
=> Tais deveres e direitos, no seu conjunto, vem associados ao estatuto jurídico do cidadão
português
 Princípio da paridade e igualdade entre cidadãos originários e não originários
└ Mesmos direitos e deveres, exceto na capacidade eleitoral para o cargo de Presidente da
Republica (Art. 122 CRP)
 Estatuto jurídico dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro
└ Proteção do Estado para o exercício dos direitos e estão sujeitos aos deveres que não sejam
incompatíveis com a ausência do Pais
 Estrangeiros residentes em Portugal: Art. 15 CRP – Principio geral da Equiparação
└ gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português
└ Exceções: direitos políticos, exercício das funções públicas que requerem exercício de poderes de
autoridade, entre outros direitos e deveres exclusivos aos cidadãos portugueses
 Estrangeiros privilegiados: Laços privilegiados de amizade e cooperação com os países de língua
portuguesa (CPLP)
└ Cidadãos do CPLP com residência permanente em Portugal tem tratamento especial, direitos não
conferidos a estrangeiros, exceto acesso a certos altos cargos públicos

Cidadania europeia
 Exemplo da evolução do processo inicial de integração
 Cidadão, que tenha aderido a União Europeia, possuirá não apenas a cidadania em sentido próprio,
mas também a cidadania europeia
 Titulares de direitos fundamentais: liberdade de circulação, direito de residência no território de
qualquer Estado-membro, direito de eleger e de ser eleito nas eleições do parlamento europeu e
para as Autárquicas locais do Estado-membro de residência, direito a proteção diplomática e
consular, direito a formular petições ao Parlamento Europeu e ao provedor de justiça europeia etc…

Território
 Um dos elementos essenciais do Estado
 Espaço onde o Estado exerce, relativamente as pessoas e aos bens que nele se encontram, o poder
soberano
 Na Idade Media:
└ O território era mera propriedade do rei
 No Estado moderno:
└ Decorreu-se um processo de concentração e centralização do poder
└ Elemento essencial do Estado, e proibida a alienação do território (Art. 5, 3)
 O Estado tem de assegurar a defesa nacional, e defender a integridade do território (Art.273,2)
 A configuração política do mundo assenta no princípio territorial
 As terras estas divididas em territórios estaduais, exceto a Antártida  Tratado da Antártida 
Exploração científica
 Linhas de fronteira
└ são linhas contínuas e fechadas, que delimitam os territórios dos Estados

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 Territórios descontínuos
└ O território não tem de ser contínuo, podendo ser constituído por parcelas territoriais separadas,
como ilhas.
└ Ex. Açores e Madeira

Aquisição do território
 Territórios estaduais não se tem mantido inalterados ao longo dos tempos, tendo a maior parte
adquirido ou perdido parcelas territoriais  Linhas de fronteira podem sofrer alterações

Aquisição originária
 Verifica-se, quando o território não pertencia a nenhum Estado (res nullius)
 Ocupação
└ Verifica-se quando o território já existia fisicamente, mas não pertencia a nenhuma comunidade
estadual, sendo que o Estado que agora o adquire, e o primeiro a ter jurisdição sobre ele
└ Ex. Madeira, Açores, Cabo Verde
└ Critérios para determinar a ocupação
- Portugal e Espanha defendiam o Principio da prioridade da descoberta  O Território devera
pertencer ao Estado que primeiro o descobrir
- Holanda e Inglaterra apoiavam a tese de Hugo Grocio, jurista holandês, o princípio da
efetividade  O território pertence a quem for capaz de defender e dominar, não bastando a
vontade de o adquirir (animus), mas exigindo-se também o domínio efetivo daquele Estado
(corpus).
- Em 1885, na Conferencia de Berlim, Portugal perdeu os territórios africanos, por não possuir
domínio efetivo
- MAS começou a haver dificuldades praticas no Principio da Efetividade
- Em 1933, o Tribunal Permanente de Justiça Internacional, aperfeiçoou o principio, proclamando
a Teoria da efetividade virtual  A ocupação não tem de ser milimétrica, basta que o Estado tenha
a capacidade de, se necessário, fazer chegar a sua autoridade a qualquer ponto do território
 Acessão
└ Consiste num acréscimo do território provocado por factos naturais ou obra humana
└ Aluvião  Fenómeno natural progressivo através do qual se da o aumento do território
Ex. Ria de Aveiro
└ Avulsão  Fenómeno natural abrupto através do qual se da o incremento do Estado
Ex. Erupção vulcânica – Vulcão dos Capelinhos, em 1957
└ Obra humana
Ex. Diques na Holanda

Aquisição derivada
 Verifica-se, quando o território adquirido já era anteriormente exercido algum poder soberano por
outro Estado
 Cessão
└ Consiste numa transferência consensual de uma parcela de território de um Estado para outro
consagrado através de acordo internacional
└ Ex. Acordo de paz que formaliza alterações territoriais impostas pela guerra
Ex. Tratado de Versalhes, em 1919, apos a I Guerra Mundial
└ Ex. Venda de parcelas territoriais
Ex. Contrato de compra e venda – Alaska, 1876
└ Hoje em dia: a maioria dos Estados proíbe esta forma de aquisição territorial, uma vez que
violaria a integridade do território (Art.5,3) + princípio da autodeterminação dos povos, que exige
que se considere a vontade do povo que se encontra no território em causa
 Sucessão
└ Criação de Estados a partir de outros Estados

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└ Unificação  Um determinado resulta da junção de dois ou mais Estados independentes


Ex. Junção da Republica Democrática Alemã e a Republica Federal da Alemanha, apos a queda
do muro de Berlim
└ Secessão  Surgimento de um Estado a partir de outro já existente
Ex. Fim da Checoslováquia  Republica Checa e Eslováquia
 Art.5 CPR: proíbe qualquer tipo de cessão ou sucessão territorial, mas deixa em abeto a retificação
de fronteiras

Títulos de delimitação fronteiriça


Via costumeira

 Os limites resultam dos usos e das tradições, que sempre determinaram que o território de um
Estado começa num certo local e termina noutro
 Art.5/1 : refere a delimitação histórica do território  Definição tradicional das fronteiras
Via pacticia

 As linhas resultam daquilo que constar de Tratados Internacionais

Os elementos componentes do território


 Parcelas que diferente natureza que constituem o território
Domínio terrestre
 Corresponde a parte do seu território constituído por terras emersas
 Terras emersas - Continuo  Caso de Luxemburgo
 Terras emersas - Descontinuo  Portugal, pois possui alem do território continental, as ilhas dos
Açores e Madeira
 Art.8 CMB: Aguas interiores  Aguas situadas no interior da linha de baixa-mar
 Domínio fluvial  Cursos de água dentro das fronteiras de um Estado
Ex. Rios – nacionais/internacionais (consoante comecem/terminem no território de um Estado ou
atravessem mais que um Estado)  Internacionais são importantes para as relações comerciais e
delimitação de fronteiras
- sucessivos (atravessam mais que um Estado/ contíguos (fronteira entre 2 Estados)
Ex. Sucessivo – Rio Danúbio
Contiguo – Rio Reno (Alemanha e Suíça/ Alemanha e França)
Rio Minho (Portugal e Espanha)
 Domínio lacustre  Lagos, baias, portos
Lagos nacionais/ internacionais

Domínio marítimo
 Pertence ao domínio marítimo “as águas territoriais com os seus leitos e fundos marítimos
contíguos” – Art.84, 1 a)
 Composto por diferentes áreas, sobre as quais o Estado exerce poder diferenciado. A intensidade e
variedade dos poderes e decrescente (Mar territorial  Plataforma continental)
 Art.5 CMB: Linha de base = Linha de baixa-mar  Divide o domínio terrestre do domínio
marítimo, do mar territorial das águas interiores
 A contagem do número de milhas marítimas a partir da linha base
 Mar territorial
└ Consiste na faixa do mar sobre a qual o Estado tem soberania absoluta com exceção do direito de
passagem inofensiva de embarcações estrangeiras (Art. 17 CMB)
└ Art.19 CMB: “A passagem e inofensiva desde que não seja prejudicial a paz, boa ordem ou a
segurança do Estado”

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└ Largura: Art.3 CMB  Max. 12 Milhas (1 Milha ~


1852m)
 Zona contígua
└ Desde a linha base até às 24 Milhas
 Zona Económica Exclusiva
└ Espaço privilegiado de exploração económica do mar,
que foi introduzido apos a II Guerra Mundial
└ Tem como fim acelerar o desenvolvimento económico
dos Estados e reduzir as desigualdades existentes entre os
países desenvolvidos e os países em vias de
desenvolvimento
└ Limite: 200 Milhas
└ Todos os Estados gozam das liberdades de navegação e
sobrevoo e de colocação de cabos e ductos submarinos
(Art.58 CMB)
 Plataforma continental
└ Zona de fundo do mar que e prolongamento geológico
das terras emersas
└ Recursos naturais existentes: petróleo, carvão, ouro, ferro, cobre, gás, platina…
└ Max. 350 milhas (Art.76 CMB)
 Alto Mar
└ Património da humanidade
└ Aberto a todos os Estados, desde que utilizem para fins pacíficos, tais como navegação e
investigação científica
Domínio aéreo

 Convenção de Paris, 1919  Assegurou-se a soberania de cada Estado sobre o seu domínio aéreo
 Espaço sobrejacente ao território terrestre e ao mar territorial
 Espaço exterior (Espaço aéreo que existe para além da atmosfera) e património da humanidade

O território e o Direito: os princípios da territorialidade e da impermeabilidade


 Os princípios da territorialidade e da impermeabilidade estabelecem:
└ Pela positiva  Que o poder soberano de um Estado se aplica ou é exercido no respetivo
território, sobre as pessoas e os bens que nele se encontram
└ Pela negativa  Que o poder de um Estado é o único exercido no respetivo território, não
podendo outros Estados exercer aí o seu poder sem o consentimento do primeiro
 Limitações:
└ Instalação de bases militares estrangeiras no território de um Estado
└ Possibilidade conferida no âmbito da EU, da perseguição de suspeitos da pratica de crimes por
forças policiais de um Estado até uma determinada distancia dentro do território do Estado vizinho
└ Privilégios de extraterritorialidade para diplomatas, chefes de Estado e autoridades consulares
no estrangeiro
└ Constituição de zonas desmilitarizadas, zonas francas
└ Direito internacional, Direito da EU
 Desde que o Estado consinta nesse exercício de poderes estatais alheios no seu território

Outros aspetos da relação entre Direito e território


 O Estado é composto não só pelo património, como também pelo senhorio territorial:
└ Senhorio territorial  Corresponde à jurisdição do Estado, ou seja ao conjunto dos poderes o
Estado sobre o respetivo território. Deste modo, o senhorio territorial vai incidir não apenas sobre
os bens que são propriedade do Estado, mas também sobre aqueles que pertencem a outros sujeitos
de Direito

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└ Património do Estado  Conjunto dos bens, móveis e imóveis, e dos direitos e deveres com
conteúdo económico de que aquele é titular
 Bens do domínio publico  Direitos sobre coisas públicas, isto é, submetidas por lei ao domínio de
uma entidade pública devido à sua primacial utilidade coletiva, não podendo por força de tal ser
comercializados ou alienados
└ Art.84 CRP  Enumeração exemplificativa de bens do domínio público
└ Art.165/1,v)  Reserva relativa de competência da AR quanto à definição e regimes dos bens do
domínio público.
└ Os bens do domínio público compreendem um domínio natural, mas também um domínio
artificial, resultante da intervenção humana (estradas, linhas férreas, etc…)
└ A pessoa coletiva Estado não é o único sujeito que possui domínio público  Art.82/2 CRP
(Autarquias Locais, Regiões Autónomas)
└ Compete ao Estado e às restantes entidades públicas a tarefa de proteger os bens do domínio
publico
 Bens do domínio privado  Direitos que podem ser titulados pelo Estado na medida em que
sejam necessários à realização de fins de interesse público ou instalação dos próprios serviços, e que
se caracterizam por estar inseridos no comercio jurídico-privado, sendo suscetíveis de apropriação
individual e de alienação

A cidadania e o acesso ao território do Estado


 Uma das manifestações mais diretas e imediatas da cidadania é o direito dos cidadãos a uma livre
relação com o território do seu Estado, nomeadamente livre acesso, circulação e saída do território,
que pode ser condicionada, mas nunca restringida
└ Art.13 DUDH  Liberdade de circulação e residência num país, liberdade de abandonar e
regressar ao país
└ Art.44 CRP  Direito de livre deslocação, fixação, circulação, emigração e regresso ao território
nacional
└ Art.33/1 CRP  Não é admitida a expulsão de cidadãos do território nacional, e a extradição só se
admite em casos de terrorismo e criminalidade internacional
└ Art.20/2, a) TFUE  Liberdade de circular e permanecer no território de qualquer um dos
Estados-membros da EU (Para os cidadãos da EU)

Poder soberano
 Um dos elementos essenciais do Estado

A soberania como poder politico


 Poder politico
└ Conjugando as definições substancialista, subjetiva e relacional  Consiste na capacidade de
impor pela força, aos indivíduos membros de um grupo social (da cidade ou polis), a adoção de um
determinado comportamento
└ O exercício da força física consiste porem, numa ultima ratio, sendo primeiro utilizados outros
meios (persuasão, oferta de incentivos, ameaça de sanções, etc…)  Detenção de um cidadão,
execução dos bens…
 A possibilidade de exercício da força confere credibilidade à atuação do poder público, e
portanto, contribui para a sua eficácia
 Soberania
└ Poder política unificada e homogénea, característica da forma política do Estado

A soberania como categoria especial do poder politico


 A teoria do poder soberano remonta a Bodin (filósofo francês do século XVI) que definia a soberania
como o poder absoluto sobre os cidadãos e os súbditos, caracterizando-se:
└ No plano interno  Poder supremo e absoluto: Desnecessidade do consentimento de quem quer

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que seja para o exercício do poder, e que o titular não está sujeito às leis que emana (princeps a
legibus soluto)
└ No plano externo  Poder independente: Acima do poder positivo só se encontra a lei divina e o
direito fundamental, fora isso nada o limita

A soberania e o Direito
 A soberania adquire-se pela posse e concentração dos meios adequados à imposição da força
exclusiva num território  Comando dos instrumentos fácticos do poder  Forças militares e
policiais, tribunais, serviços de cobrança de impostos e criação de moeda
 A evolução histórica implicou que a soberania tivesse expressão jurídica  Atos jurídicos de
autoridade
└ Declarações que produzem uma transformação da esfera jurídica dos destinatários (nos seus
direitos e deveres) sem necessidade do seu consentimento. Podem estar em causa normas ou atos
não normativos.
 O Direito passou a ser usado como instrumento de exercício do poder político, embora continuasse
a impor limites ao exercício do poder  O uso que faz do Direito transforma o poder político como
poder jurídico-político
└ Capacidade de condicionar o comportamento dos elementos de um grupo social através da
manipulação da respetiva esfera jurídica, bem como da execução pela força das obrigações assim
impostas, de modo, a produzir os resultados desejados pelos titulares do poder
 O Direito é usado como intermediário entre os poderes soberanos e os cidadãos, apenas no caso
de estes não cumprirem o Direito, intervirá, como ultima ratio, a força crua que está na raiz da
soberania
 Aos órgãos dos Estado são reconhecidas competências (conjunto de poderes) para a prática dos atos
de autoridade  É necessário definir quais são as competências  Que cria uma omnipotência
jurídica do Estado  Competência das competências
└ O Estado tem não só o poder de atribuir competências e faculdades aos seus vários órgãos, como
também o poder de as definir, diminuir ou alargar  Visível no poder do Estado de elaborar a
Constituição (poder constituinte) que cria os poderes constituídos (legislativo, administrativo,
jurisdicional…) e lhes atribui as suas competências

Limites ao poder político soberano


 Dizer que o poder soberano é supremo e independente não significa contudo que seja absoluto e
ilimitado – está sujeito a condicionalismos e restrições:
└ Limites jurídico-positivos  Embora materialmente o Estado possa modificar o seu próprio
direito, formalmente está subordinado a este, vinculado às regras do seu próprio direito, por uma
questão de coerência e coesão social – assim é o Estado-de-Direito
└ Limites de facto internos  Condicionalismos sociais, políticos e económicos que condicionam a
atuação do Estado, tanto a nível interno (sujeição à ética social dominante, aos dados reais da
economia) como externo (implicações das relações de interdependência – alianças políticas, ou de
verdadeira dependência entre Estados – necessidades militares, económicas, etc.)
└ Limites jurídicos supra-positivos  O Estado está materialmente vinculado a valores ético-
jurídicos relacionados com a dignidade da pessoa humana e dos seus direitos fundamentais – que,
como princípios heterónomos e anteriores ao Estado, tem de respeitar para ser considerado um
Estado-de-Direito material
└ Limites de facto internacionais  O Estado está vinculado e não pode violar uma categoria
especial de normas de Direito Internacional, as normas de Jus Cogens (normas imperativas de
Direito Internacional), que protegem um número importante de direitos fundamentais da pessoa
humana, para alem de proibirem atos violadores desses direitos (Ex. Tortura e escravatura)
 Direito natural  A ideia de que os poderes constituintes e os poderes constituídos estão limitados
por princípios fundamentais do Direito, ou seja, por normas que se impõe, em qualquer tempo e
lugar, aos detentores do poder politico

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 Positivismo jurídico  Época, em que se acreditava que através do movimento da codificação


passou a existir um sistema de normas complexo e sem lacunas, o que levou a que o Direito natural
fosse desnecessário e de fundamentação duvidosa, ou seja, só seriam normas de Direito aquelas que
fossem aprovadas pelo poder político soberano  Levou a um problema, o poder político passou a
aprovar normas jurídicas que nada tinham que ver com as regras de Direito natural, alias ofendiam-
nas profundamente (Ex. Ditaduras totalitárias)
 Consciência jurídica geral  Valores jurídicos básicos partilhados pela generalidade dos
indivíduos em comunidade  Com o fim da II Guerra Mundial, houve a recuperação da ideia
fundamental do Direito Natural, ou seja, a existência de princípios jurídicos fundamentais
inderrogáveis

Desafios contemporâneos à soberania dos Estados


 O poder político é partilhado por um conjunto de órgãos, por um conjunto de entidades públicas,
nacionais e internacionais com personalidade jurídica distinta do Estado  Consequência do
princípio da separação de poderes de modo a evitar o abuso de poder
 Mesmo dentro da pessoa coletiva Estado, os poderes são desconcentrados em órgãos situados em
patamares hierárquicos inferiores  Os Estados unitários descentralizam poderes para entidades
situadas em níveis territoriais ou institucionais inferiores e com personalidade jurídica própria (Ex.
As regiões autónomas, autarquias locais e associações públicas)
 Na distribuição de poderes do Estado por órgãos seus ou por entidades infra-estatais, assume um
papel especial do princípio da subsidiariedade
└ Este princípio fixa o critério que deve ser seguido nessa distribuição  Os poderes públicos
devem ser exercidos por aquelas entidades que se encontrem mais próximas dos problemas a
resolver ou das populações interessadas, salvo se o seu exercício por entidades situadas em
patamares superiores for mais eficaz ou eficiente (Art.6/1 + 7/6 CRP)

IV. As Funções do Estado


Objetivos do Estado
 Prosseguir determinados fins: garantia da paz social, a administração da justiça e maximização do
bem-estar da população

Funções do Estado
└ diferentes tipos de atividades através dos quais os órgãos estatais prosseguem os fins referidos

 Classicamente: função legislativa/ função administrativa/ função jurisdicional


 Atualmente: função politica (função governativa/função legislativa) / função administrativa/
função jurisdicional

A função politica
 Função primária
 É aquela que define, em primeira mão, o interesse público e os mecanismos através dos quais se
conseguira alcançar os objetivos fundamentais do Estado
 Exercida com mais liberdade, pois só esta submetida a Constituição, ao Direito da União Europeia e
ao Direito Internacional

Função legislativa
 Concretiza-se na emissão de atos normativos, isto e, de atos que contem comandos gerais e
abstratos, que traduzem a definição de opções políticas primárias e que terão, por regra, como
destinatários os membros da comunidade estatal

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Função governativa/ em sentido estrito


 Consiste na prática de atos não normativos que definem e concretizam opções políticas primárias e
que não se dirigem em regra aos cidadãos
 A função governativa e partilhada por diferentes órgãos: Presidente da Republica, Assembleia da
Republica e Governo
 Ex. Processo de constituição do Governo
└ Presidente da Republica nomeia membros do Governo
└ Governo precisa de apresentar o programa à Assembleia da Republica
└ Assembleia da Republica pode rejeitar o programa (demitir) através da moção de censura ou
moção de confiança

Função jurisdicional
 Função secundária
└ Porque é exercida de acordo com as normas jurídicas definidas pela função politica
 Consiste na resolução de litígios concretos entre pessoas privadas, entre pessoas públicas, ou entre
pessoas privadas e públicas, através da aplicação das regras de Direito vigentes, com vista à
pacificação das relações jurídicas.
 Apenas os Tribunais estão habilitados a exercer o poder administrar a justiça em nome do povo -
Art.202 CRP (“reserva de jurisdição”)

Função administrativa
 Função secundária
└ Porque é exercida de acordo com as normas jurídicas definidas pela função politica
 Consiste na atividade contínua de satisfação das necessidades públicas definidas previamente pela
lei
 Ex. Defesa nacional, saneamento, segurança pública, prestação de serviços de saúde e educação

Comparação entre função administrativa e jurisdicional


 Ambas traduzem-se em atuações concretas e estão subordinadas à lei (Art. 266/2 e 203/2 CRP)
 Estão subordinadas à Constituição, Direito da União Europeia e Direito Internacional

Função administrativa Função jurisdicional


Mais prospetiva Retrospetiva  Incide sobre uma
situação jurídica já criada e procura
encontrar solução de Direito
Instrumentativa o Direto nas suas tarefas Procura garantir e realizar o Direito
Ativa  Os órgãos administrativos Passiva  Imperando o princípio do
possuem uma postura dinâmica, de pedido, apenas pode decidir a questão
iniciativa no desempenho das funções com base nos elementos e dados que
sejam trazidos
Parcialidade  Escolhem a solução que Imparcial
melhor realiza o interesse público
Estrutura hierárquica  Descendente e Hierarquia ascendente  Independência
ascendente dos magistrados

Zonas de Fronteira
 Ministério Público (função jurisdicional e administrativa) – Art.219/220
└ Entidade ativa
└ hierarquia ascendente e descendente
└ função jurisdicional e política

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 Tribunal Constitucional
└ caráter jurisdicional, previsto na parte da organização dos tribunais – Art.221
└ Composição (Art.222)
└ Fiscalização sucessiva abstrata  Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral

O Principio Da Separação De Poderes


 Principio jurídico fundamental, que resulta das revoluções liberais
 Principio que consiste na multiplicidade de órgãos que exercem as funções do Estado. Os poderes
não devem estar todos concentrados numa única pessoa ou órgão, mas devem ser distribuídos por
órgãos diferentes, que se fiscalizarão mutuamente e, deste modo, impedirão o abuso de poder

Dimensão negativa
 Os poderes vão controlar a forma como os demais
 Controlo reciproco de poderes

Dimensão positiva
 Devem-se atribuir os poderes ou funções aos órgãos que estejam orgânica- e procedimentalmente
mais habilitado para o seu exercício

Princípio da Justeza Funcional


 Em caso de dúvida devemos atribuir a competência ao órgão que exerce aquele poder de modo
primordial

Separação e Interdependência de Poderes


 Apesar de existir alguma divisão de poderes, verifica-se que o exercício, em concreto, de muitos
poderes pressupõe flexibilidade, ou seja, a colaboração dos diversos órgãos de soberania
 Ex. Entrada em vigor de uma lei da Assembleia da Republica
└ Aprovação pela Assembleia
└ Promulgado pelo Presidente (ou vetado)
└ Referenda ministerial por parte do Governo

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PARTE II - A relação jurídica de Direito Público


V. O Estado e o Direito
A Subordinação do Estado ao Direito
As origens do Estado de Direito
 1. Momento histórico de subordinação do Estado ao Direito: Estado de Direito Liberal
└ Até la o poder exercia-se sem limites
 Manifestações prévias às revoluções liberais
└ Magna Charta (1215), monarca reconheceu certas liberdades e privilégios aos estamentos
(classes/grupos sociais) do Reino
└ Petition of Right (1628) e Bill of Rights (1689), já se consagram verdadeiros direitos dos subtidos
perante a coroa
└ Finais do séc. XVIII: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e primeiras
Constituições (Portuguesa, 1822) – documentos escritos normativos, que reconhecem direitos
fundamentais aos cidadãos em face do poder estadual e que definem as regras de constituição e
funcionamento dos principais órgãos estaduais

 O poder público autovincula-se a um conjunto de regras de organização e funcionamento

Estado de Direito Liberal


 Nascimento do Direito Público
└ Na Constituição, estão consagrados direitos fundamentais, disposições específicas que definem o
procedimento de constituição de cada um dos principais órgãos estaduais, e as suas competências e
funções  Subordinação a um conjunto de regras e princípios, criado por vontade da própria
comunidade estadual
 As normas constitucionais desempenham uma função de limitação dos diferentes poderes estaduais
 Princípio da Legalidade da Administração Publica:
 Princípio da primazia da Lei
A Lei limita a atuação do poder executivo  O poder executivo e a sua Administração Publica não
podem violar ou contrariar a Lei
 Princípio da Precedência
Em determinadas matérias, sobretudo as relacionadas com os direitos fundamentais, a lei constitui
também a base autorizativa da atuação do poder executivo  Só pode haver atuação do Governo e
da Administração Pública se a lei assim o previr
 O poder judicial exerce também um controlo, limitado, sobre a atuação do poder executivo 
Tribunais administrativos  Para verificar o cumprimento da lei por parte da Administração
Publica. Estes podem eliminar da ordem jurídica as decisões administrativas ilegais e invalidas e
simultaneamente define regras a instituir a responsabilidade civil do Estado pelos damos
ilicitamente causados aos cidadãos.
 Relação de Interdependência entre os poderes estaduais
└ Poder judicial esta submetido ao poder legislativo  a atividade jurisdicional é reconduzida à
resolução de conflitos concretos entre sujeitos, por aplicação dos preceitos legais, e à garantia do
cumprimento da lei
└ O poder legislativo esta sujeito a um controlo judicial  As leis podem ser declaradas
inconstitucionais se forem contrarias as regras definidas na Constituição

 A Constituição de cada Estado formaliza a subordinação do poder político ao Direito, num processo de
auto-vinculaçao, que depois internamente, se revela ainda um processo de heterovinculaçao por via de
interdependência entre os poderes estaduais  Intenção de garantir a manutenção do ideal democrático,
prevenir excessos de poder e salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos

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Estado de Direito Social


 Intensificação da subordinação do Estado ao Direito e crescimento do Direito Publico
 Alargamento dos direitos fundamentais dos cidadãos e a sua plena universalização, assumindo o
Estado e o poder publico novas funções de prestação social: novos direitos  Económicos, sociais e
culturais (Ex. direito à proteção de saúde, direito ao ensino)
 A atividade administrativa intensifica-se  Princípio da precedência evolui  Qualquer ato
jurídico emitido pela Administração Publica tem de estar previsto num ato legislativo prévio
 Previsão legal da responsabilidade civil do Estado pelos danos causados aos cidadãos
 Desenvolvimento no plano internacional  Direito Internacional Publico, com princípios e regras
específicos sobre as relações entre os Estados (Ex. Organização das Nações Unidas (ONU), União
Europeia, Comunidade Economia Europeia)
 Sujeição das relações entre os diferentes Estados a normas jurídicas (Auto-vinculação)

Mais recentes evoluções do Estado de Direito


 Nas últimas três décadas, assiste-se a uma transformação, uma diferente configuração do Direito
Publico, e que se verifica em dois planos:
 Plano Internacional: As normas de Direito Público não se restringem estritamente a definição de
deveres ou poderes dos Estados, também se aplicam diretamente aos cidadãos do Estado, definindo
mesmo aspetos das relações jurídico-privadas dentro do espaço internacional (Ex. Direito da União
Europeia)
 Plano de Direito Interno:
└ Estado procura retirar-se das áreas económicas, sociais e culturais, transferindo muitas das suas
atribuições públicas para outros sujeitos de Direito Público que passam a desenvolve-las. Ao
mesmo tempo entrega a exploração daquelas áreas a entidades privadas, que assumem o
desempenho de funções até aqui tidas como públicas, mas mantendo uma responsabilidade de
garantia da satisfação das necessidades públicas.
└ Estado vai assumir um papel de orientador, de definidor de regras de atuação dos intervenientes
privados, “Estado Regulador e de Garantia”.  Para concretizar essa tarefa são criados novos
organismos públicos, dotados de personalidade jurídica, que, com independência em relação ao
poder politico e a sociedade, vão orientar e fiscalizar a atividade de certas entidades privadas,
quando a atividade por estas desenvolvida ocorra em áreas que “mexam” com o interesse publico
(=> entidades reguladoras). – Ex. Banco de Portugal, ERC

Personalidade Jurídica do Estado


 Só com o Estado de Direito, é que o Estado passou a ser visto como sujeito de Direito ou pessoa
jurídica. Há varias propostas diferentes de explicação do fenómeno:

Algumas doutrinas acerca da personalidade jurídica


 Teoria da ficção – Savigny
└ Apenas os seres humanos podem ser suscetíveis de capacidade jurídica, pois apenas eles possuem
consciência e vontade. Assim para se reconhecer personalidade jurídica a uma instituição é
necessário ficcionar ai uma pessoa, ou seja é necessário fingir que estamos perante uma pessoa
humana
 Teoria da Pessoa Coletiva – Gierke
└ As organizações constituem unidades de vida supra-individuais com capacidade para
produzirem uma vontade real supra-individual, ou seja, as organizações estão situadas para la dos
indivíduos e conseguem produzir uma vontade própria distinta da dos indivíduos, logo se tem
vontade própria devem também ter personalidade jurídica própria.
 Teoria da personalidade coletiva como suporte de imputação intermedio – Zippelius
└ Devemos encarar as pessoas coletivas, como estando situadas entre, por um lado, os direitos e
deveres que o ordenamento pretende ver assegurado, e por outro as pessoas físicas que na prática
vão exercer e cumprir esses direitos e deveres, ou seja, as pessoas coletivas são compostas por

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órgãos e é através dos órgãos que elas agem e os órgãos são ocupados por pessoas físicas, por isso,
no fundo, são sempre pessoas físicas quem praticam os atos necessários ao cumprimento e ao
exercício dos deveres e dos direitos das pessoas coletivas .

Consequências do reconhecimento de personalidade jurídica do Estado


 Maior institucionalização do poder politico (em vez de estar assente numa pessoa)
 Acentuação de subordinação do Estado ao Direito (personalidade jurídica – direitos e deveres)
 Separação entre património do Estado e das restantes pessoas coletivas
 Reconhecimento da responsabilidade civil extracontratual do Estado por danos causados no
exercício das suas funções
 Evidenciar o papel do Estado como sujeito de Direito Internacional

Carater unitário ou plural do Estado como sujeito do Direito


 Estado-coletividade – consiste em que todo o povo que constitui um certo território exerce o poder
soberano
└ Estado é um sujeito de Direito Internacional, que possui direitos e deveres na esfera internacional.
└ Enquanto entidade constitucional, o Estado assume uma determinada forma politica que
influenciará a forma e o sistema de governo adotados, assim como o grau de proteção que aquele se
compromete a conceder aos direitos fundamentais dos seus cidadãos.
 Estado-administração
└ O Estado apresenta-se como organização administrativa, isto e, como pessoa coletiva publica que,
sob direção do Governo, desempenha a atividade administrativa

VI. A relação jurídico-privada


A relação jurídico-publica
 Consiste na interação entre dois ou mais sujeitos de Direito, em que pelo menos um deles é pessoa
coletiva pública ou dispõe de poderes públicos, disciplinado pelo Direito Publico mediante a
atribuição de posições jurídicas subjetivas aos diferentes sujeitos envolvidos
 Elementos da relação jurídica
└ Sujeitos que interagem podem ser pessoas singulares ou pessoas coletivas, sendo que as relações
típicas envolvem pelo menos uma pessoa coletiva
└ Vinculo que o Estado estabelece com os seus cidadãos, mas também os estabelecidos entre o
Estado e outras entidades públicas nacionais (Ex. Regiões Autónomas), entre diferentes Estados ou
entre estes e organizações internacionais
└ Posições jurídicas subjetivas que o Direito reconhece aos sujeitos, que se apresentam geralmente
em contradição (DireitosDeveres/ PoderesEstados de sujeição), ou seja um lado ativo e um
lado passivo que se encontram numa relação de interdependência
└ Atos jurídicos constituem, modificam ou extinguem as posições jurídicas subjetivas ativas ou
passivas, porque envolvem uma manifestação de poder público (auctoritas) ou porque visam
realizar o bem da comunidade

Relações inter-orgânicas
 Relações que se estabelecem entre órgãos dentro da mesma pessoa coletiva pública (Ex. Presidente e
Governo)

Relação jurídica bipolar


 Interação entre dois sujeitos (Ex. Relação entre individuo e o Estado)

Relação jurídica multipolar


 Envolve mais do que dois sujeitos
 Ex. Um sujeito do lado ativo  Vários sujeitos do lado passivo  Proibição de manifestação
 Ex. Vários sujeitos do lado ativo  1 Sujeito do lado passivo

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Relação jurídica simples


 Oposição entre um direito/ poder e um dever/ estado de sujeição (Ex. Ordem de demolição)

Relação jurídica complexa


 Os sujeitos envolvidos são simultaneamente titulares de direitos/poderes e de deveres
 Ex. Relação constituída por uma convenção internacional celebrada entre vários Estados

Relação jurídico-constitucional
 Correspondem as relações disciplinadas pelo Direito Constitucional, constituídas nos termos
definidos na Constituição, ou seja, relações que tem fonte direta no texto constitucional, ou indireta,
por seres constituídas por atos jurídicos previstos e regulados na CRP
 Ex. Relação entre o Presidente e o Governo

Relação jurídico-internacional
 Correspondem a relações jurídico-publicas disciplinadas pelo Direito Internacional, ou seja,
vínculos relacionais estabelecidos entre dois ou mais Estados, com celebração e ratificação de uma
convenção internacional, ou ainda, relações entre um Estado e uma organização internacional
 Ex. Relação criada por acordo internacional entre Portugal e Angola

Relação de Direito da União Europeia


 Correspondem as relações estabelecidas entre a União Europeia e os respetivos Estados-membros,
ou entre a União Europeia e os cidadãos europeus ou ainda entre órgãos da União Europeia, e são
disciplinadas pelo Direito da União Europeia
 Ex. Relação criada por diretiva da União Europeia, que obriga os Estados membros a adotarem atos
de transposição adequados

Relação jurídico-administrativa
 Relações disciplinadas pelo Direito administrativo, estabelecidas entre pessoas coletivas públicas ou
entre uma pessoa coletiva pública e um ou mais indivíduos, ou ainda entre órgãos da mesma
pessoa coletiva
 Ex. Vinculo constituído por ato de naturalização que une um individuo ao Estado Português

VII. Os atos jurídico-públicos


Atos jurídico-públicos
 Declarações que produzem ou visam produzir um efeito jurídico, uma consequência com relevo
para o Direito, que pode traduzir-se na constituição, modificação ou extinção de poderes/direitos e
deveres. Mas são atos de Direito Público, emitidos por entes públicos, que manifestam os seus
poderes de autoridade e que têm em vista a realização dos interesses da comunidade.
 Atos normativos
└ Contêm normas jurídicas, apresentam como características a generalidade e a abstração. São
emitidos por entes públicos, dotados de especial autoridade, e impõe-se aos respetivos
destinatários, que podem ser particulares e/ou entidades publicas
 Atos não normativos
└ Conjunto de atuações concretas (e geralmente individuais) dos entes públicos. Assumem uma
especial relevância na vida dos particulares, já que os efeitos jurídicos desses atos se produzem
direta e imediatamente na sua esfera, definindo a respetiva situação jurídica, frequentemente, de
forma imperativa

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Os principais atos normativos


 Atos unilaterais
└ Consistem numa declaração de um poder público (Ex. Constituição, regulamentos, atos
legislativos)
 Atos bi- ou plurilaterais
└ Resultam da conjunção de várias declarações de poderes públicos (Ex. Convenções
internacionais)

Constituição
 Declaração de princípios e regras que configura o estatuto fundamental de uma comunidade
politicamente organizada; Define a organização política (e económica) dessa comunidade, os
princípios por que aquela se rege e os direitos fundamentais dos cidadãos
 A Constituição da Republica Portuguesa foi aprovada em 1976 pela Assembleia Constituinte,
embora possa ser alterada pela Assembleia da República, a quem pertence o poder de revisão
através de uma lei constitucional

Atos legislativos nacionais


 Declarações de normas jurídicas que traduzem a manifestação de opções políticas primárias
 Podem revestir a forma de lei (forma dos atos legislativos da Assembleia da República), decreto-lei
(forma dos atos do Governo), decreto legislativo regional (É emitido com âmbito regional pelas
Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas)
 Leis e os decreto-leis tem igual força jurídica ou igual valor, podendo por isso revogar-se
reciprocamente. Isto só não se verifica em relação às leis de valor reforçado e dentro das áreas de
reserva de competência legislativa do Governo e da Assembleia da Republica
 Há matérias expressamente reservadas à competência legislativa da Assembleia da República,
sobre as quais, portanto só podem surgir leis a fixarem a primeira regulamentação normativa
 Também existe uma área de competência reservada ao Governo, referente à organização e
funcionamento do mesmo
 Também existe uma área de competência reservada às Regiões Autónomas, nas matérias da sua
competência, que são as definidas pela Constituição e pelo respetivo estatuto político-
administrativo, dentre aquelas não reservadas aos órgãos de soberania (Assembleia da Republica e
Governo)

Atos legislativos da União Europeia


 Atos emitidos por órgãos exteriores ao Estado português (Conselho da EU, parlamento Europeu),
mas produzem efeitos jurídicos diretos sobre a nossa ordem jurídica
 Os regulamentos da EU, decisões da EU e diretivas da EU
 Também se pode falar em áreas de reserva, pois a jurisprudência dos tribunais da EU e os Tratados
reconheceram a competência exclusiva da EU, em que só esta pode legislar (no domínio da politica
comercial comum) e de competências partilhadas entre os Estados-membros e a União, em que os
primeiros só podem legislar se a segunda ainda não o tiver feito (é o que sucede na politica agrícola)

Convenções internacionais
 Acordos entre sujeitos de Direito Internacional (Estados ou organizações internacionais), destinados
a produzir efeitos de acordo com as regras de Direito Internacional. Por vezes contem normas que
vão reger a atuação futura das partes, o que acontece frequentemente nos tratados multilaterais
(celebrados por três ou mais partes)
 Convenções (tratados ou acordos internacionais) de que Portugal seja parte
└ Vigoram na ordem interna desde que regularmente ratificadas (ou aprovadas) e publicadas
(Art.8/2 CRP)
└ Se a convenção fizer parte do Direito Internacional geral, que é aquele que vigora para todos os
sujeitos da sociedade internacional (Ex. Normas da Convenção de Viena sobre o Direito dos

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Tratados, 1969), considera-se parte integrante do Direito Português, ainda que as formalidades
internas de receção não tenham sido cumpridas (Art.8/1 CRP)
 Tratados que regem a União Europeia
└ A entrada em vigor dos tratados exige a sua ratificação por todos os Estados-membros (Art.8/4
CRP)

Regulamentos administrativos
 Declarações de normas jurídicas emitidas pela Administração Publica, no exercício da função
administrativa. Não são atos legislativos, pois não traduzem a manifestação de opções políticas
primarias. Referem-se, por regra, a uma lei anterior, cujo conteúdo vêm especificar, desenvolver ou
complementar para garantir a aplicabilidade prática de normas legislativas ao caso concreto 
Funcionam como uma instância normativa intermédia entre os atos legislativos e as decisões
concretas da Administração Pública
 Os principais órgãos administrativos com competência regulamentar são, dentro do Estado:
└ Governo (Art. 199 c) g) CRP), Ministros e outros órgãos da hierarquia estadual
└ Regulamentos tem de revestir uma das seguintes formas: decreto regulamentar, resolução do
Conselho de Ministros, portaria e despacho genérico  Os regulamentos dos restantes órgãos
estaduais não tem de obedecer a forma especial
 Dentro das Regiões Autónomas com competência regulamentar:
└ Assembleia Legislativa Regional (Art.227/1 d) CRP), Governo Regional
└ Os regulamentos deverão revestir a forma de decreto regulamentar regional
 Dentro das Autarquias locais (municípios e freguesias) com competência regulamentar:
└ Assembleia municipal e assembleia de freguesia (Art. 241 CRP)
└ Os regulamentos poderão revestir a forma de postura ou outra
 Há outras entidades públicas administrativas que dispõem, nos termos da lei, de competência
regulamentar, e, em geral, todas elas tem competência para emitir regulamentos internos
└ Alguns desses regulamentos podem revestir a forma de regimento (Art.232/3 CRP)

A Hierarquia dos Atos normativos


Conflitos das normas
 Os diferentes atos normativos encontram-se numa relação de hierarquia  Certos atos tem
prevalência sobre outros, por isso, os de categoria inferior terão de respeitar os de categoria
superior (Lex superior derrogat legi inferiori)

Hierarquia das fontes


 Tradicionalmente:
1. Princípios jurídicos fundamentais
2. Constituição
3. Leis, decreto leis, decretos legislativos regionais
4. Regulamentos administrativos

MAS

 Com a integração de Portugal na União Europeia e a participação de Portugal na comunidade


internacional  Constituição portuguesa procurou adaptar o Direito interno as ordens jurídicas
internacionais da União Europeia

Direito Internacional  Contituição


 Art.8/1 e 2 CRP  O Direito Internacional geral e o Direito Internacional convencional são
recebidos na ordem interna portuguesa  Respetivas normas são aplicadas pelos tribunais
nacionais, quando relevantes para a solução de questões jurídicas concretas
 Podem ocorrer conflitos entre normas internacionais e normas de origem internacional por
definirem soluções contraditórias para as questões a resolver, MAS a doutrina maioritária considera

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que as normas internacionais prevalecem sobre as normas jurídicas constantes de atos estatais
infraconstitucionais (legislativos, regulamentares)
 Ao mesmo tempo, as convenções internacionais estão subordinada às normas da Constituição
portuguesa, mas prevalecem sobre atos legislativos e regulamentos nacionais (Art.277/2, art.278/1 e
art.279/1)

Jus cogens (Normas imperativas de Direito Internacional)  Constituição


 Art.16/2 CRP  Jus Cogens prevalece sobre a Constituição, pois há uma necessidade de
interpretação das normas constitucionais (e legais) relativas a direitos fundamentais em
conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem
 Doutrina maioritária  Jus cogens internacional constitui um limite ao poder constituinte e a
Constituição, prevalecendo sobre esta

Direito da União Europeia  Constituição


 Art.8/4 CRP  As disposições do Direito da EU devem ser aplicadas na ordem jurídica nos termos
previstos naquele, salvo o respeito pelos princípios jurídicos fundamentais do Estado de Direito
democrático
 Princípio do efeito direto  Aplicabilidade: As normas de Direito da EU aplicam-se de forma
direta, imediata na ordem interna de cada um dos Estados-membros, invocabilidade: e são
invocáveis nos tribunais nacionais
 Princípio do primado  O Direito da EU sobrepõe-se às normas internas/ nacionais de cada um
dos Estados-membros
 Estes princípios são aceites na Constituição Portuguesa, com o limite dos princípios fundamentais
do Estado de Direito democrático

Jus cogens (Normas imperativas de Direito Internacional)  Direito da União Europeia


 Art.8/4 CRP  Direito da UE reconhece a sua subordinação face ao jus cogens

Normas infraconstitucionais  Constituição


 Art.3/3 CRP  Princípio da Constitucionalidade

Atos legislativos  Regulamentos


Art.112/5 e 7, art. 266/2 CRP

A nova hierarquia das fontes


 Segundo a Constituição, atualmente:
1. Princípios jurídicos fundamentais
2. Jus cogens internacional
3. Direito da União Europeia (tratados, regulamentos, diretivas)
4. Constituição da Republica Portuguesa
5. Convenções internacionais de que Portugal é parte
6. Leis, decretos-leis, decretos legislativos regionais
7. Regulamentos administrativos

 Princípios jurídicos fundamentais e as normas de jus cogens podem estar contidos em constituições,
convenções internacionais, leis, decisões jurisprudenciais e declarações com outra forma, ou
resultarem do costume, ou de outras formas de expressão da validade jurídica não radicadas em
declarações de poderes públicos
 Dentro de cada fonte podem ser descritas outras relações hierárquicas (Ex. Regulamentos da EU e
as diretivas da UE subordina-se aos Tratados da UE)
 O principio da competência prevalece sobre o principio da hierarquia (Ex. Nas matérias da
competência dos Estados, os atos da UE não prevalecem sobre os atos de direito nacional, já que os
primeiros são inválidos)

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 Existem outros princípios de resolução de conflitos normativos (lex posterior derrogat legi priori,
lex specialis derogat legi generali

Os principais atos não-normativos


Atos políticos
 Decisões concretas que manifestam o exercício da função governativa ou política em sentido estrito,
seja no plano interno, seja no plano externo
 Ex:
└ “Actos do povo ativo”  Eleições e referendos
└ Atos do Presidente da Republica  Nomeação do Primeiro-ministro e dos restantes membros do
Governo ou a demissão deste órgão; declaração do estado de sítio ou do estado de emergência;
declaração de guerra e de paz;
└ Atos do Governo  Aprovação do programa do Governo ou das opções de plano…

Atos jurisdicionais
 Expressão do exercício da função jurisdicional, traduzindo por isso, a aplicação do Direito no caso
concreto, definindo com força vinculativa para os interessados a solução que resulta da lei ou de
outras fontes jurídicas para uma situação concreta
 Normalmente estão em causa litígios, que opõem pessoas singulares ou coletivas (de Direito
Privado ou Público)
 No âmbito desses litígios pode ser apreciada a legalidade e/ou a constitucionalidade de normas
jurídicas, existindo mesmo um tribunal especializado no controlo da constitucionalidade (e em
parte, da legalidade) das normas jurídicas, o Tribunal Constitucional
 Formas de decisões jurisdicionais: Sentença (emitida por um juiz singular) ou acórdão (coletivo de
juízes)
 Atos jurisdicionais pelos quais o Tribunal Constitucional declara inconstitucionalidade de uma
norma com força obrigatória geral possuem conteúdo normativo

Atos administrativos
 Decisões administrativas unilaterais dirigidas à produção de efeitos jurídicos numa situação
individual e concreta, e que tem carater imperativo (os efeitos inscrevem-se na esfera jurídica do
particular por manifestação do poder publico, independentemente da vontade do destinatário)
 Ex. Licença de construção, ordem de demolição

Contratos administrativos
 Acordos de vontade entre entidades públicas ou entre estas e particulares, que conformam uma
relação jurídica de direito administrativo, portanto, integram duas ou mais declarações de vontade
que criam, modificam, extinguem uma relação jurídica inter partes, mas esta relação e constituída e
regulada pelas partes a luz das normas de direito administrativo
 Não traduzem exercício de poder de autoridade, mas são forma jurídica de realização de interesses
públicos
 Ex. Contrato de empreitada de obras públicas, pelo qual o Estado acorda com uma entidade
privada a construção

Atos jurídico-privados da Administração Publica


 Contratos regulados pelo Direito Privado, como forma intermedia de alcançar os seus objetivos
 Ex. Contrato de mútuo, contrato de arrendamento
 Não são atos jurídico-públicos

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O procedimento de formação dos atos jurídico-públicos


Atos jurídico-públicos
 Os atos jurídico-públicos estão sujeitos a requisitos previstos na CRP, relativas a emissão ou
formação de cada tipo de atuação, por exemplo:
└ Respeito das normas superiores
└ Competência do órgão que o emite
└ Necessidade de que revista determinada forma
└ Iter de formação
└ Procedimento
 Violação dos requisitos  Inexistência, invalidade (nulidade e anulabilidade), ineficácia, mera
irregularidade

Procedimento em sentido amplo (inclui processo)


 Atos de formação sucessiva e complexa, porque envolvem uma determinada sequencia temporal de
atos jurídicos ou outras atuações mais simples OU porque implicam a intervenção de vários órgãos
ou sujeitos jurídicos
 Sequencia de atos ou formalidades que precede a emissão do ato jurídico-publico

Processo
 Conjunto ordenado de atos jurídicos e formalidades, que, com precisão e rigor, deve ocorrer para o
exercício da função jurisdicional. Está regulado, em ato legislativo, de modo exaustivo, rígido e
preciso

Procedimento em sentido restrito


 Tramitação de atos e formalidades adotada pelas entidades ou pelos órgãos públicos no exercício da
função governativa e legislativa e da função administrativa
 Encontra-se predefinida em normas jurídicas com menor rigidez e precisão

Razões do procedimento
 Garantia da realização dos passos necessários à descoberta da realidade dos factos sobre que vao
incidir os efeitos jurídicos do ato praticado
 E que ocorra a intervenção das entidades ou dos órgãos que têm por tarefa ou atribuição realizar
interesses afetados pelo ato
 Participação dos potenciais afetados pelos efeitos jurídicos do ato
 Garantir uma maior transparência na produção dos atos jurídico-públicos

Incumprimento do procedimento
 Omissão de certos trâmites ou formalidades, pode implicar invalidade ou irregularidade do ato
final do procedimento
 Se praticados, os atos inseridos no procedimento tem de ser conformes com o Direito  Invalidade
material do ato final
 As invalidades podem ter de ser invocadas em certo prazo, findo o qual já não afetam a validade
do ato final (Ex. Procedimento eleitoral)

Omissão de atos jurídico-públicos


 Omissões apenas relevam se corresponderem ao incumprimento de um dever de atuar
 A ordem jurídica não atribui sempre as mesmas consequências jurídicas a tais omissões
 Função administrativa  A lei, em certos casos, imputa ao 0silêncio uma manifestação de vontade:
“deferimento tácito” – Ato silente
 Na função legislativa e jurisdicional não há atos silentes, a ordem jurídica atribui às omissões
consequências como o dever de indemnização (omissão legislativa) ou a verificação de
inconstitucionalidade

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VIII. As posições jurídicas subjetivas públicas


 Posições de vantagem ou desvantagem que o ordenamento jurídico reconhece a um determinado
sujeito de Direito, por regra, na relação com outros sujeitos de Direito
 A uma posição ativa contrapõe-se uma ou mais posições jurídicas passivas

Posições jurídicas subjetivas ativas


Direito subjetivo
 Vantagens conferidas a um sujeito, que se traduzem em faculdades ou poderes de exigir
determinados comportamentos, positivos ou negativos, ou de produzir efeitos jurídicos, para
satisfação do interesse do próprio titular do direito, mas têm de específico o facto de serem
afirmados perante entidades públicas e de só serem atribuídos porque o interesse do titular do
direito coincide ou está ao serviço de um determinado interesse da comunidade em que este se
insere

1. Classificação – Critério da Intensidade


 Direitos absolutos  Correspondem a eles deveres gerais de abstenção e de respeito “Erga omnes”
(Ex. Direitos fundamentais - Direito à vida) (Sujeitos individuais e vinculam também o Estado e
entidades publicas)
 Direitos obrigacionais  Obrigação de fazer ou prestar, ou abster-se ou tolerar (Ex. Direito à
prestação social – subsidio de desemprego)
 Direitos potestativos  Estado de sujeição (Ex. Direito de renunciar a um mandato público)
 Há direitos que os particulares só podem exercer depois de as entidades verificarem a sua
conformidade ao interesse público (Ex. Direito de construção)

2. Classificação – Critério da Natureza


└ Distingue entre direitos fundamentais e direitos subjetivos em sentido estrito
 Direitos fundamentais
└ Possuem uma especial dimensão ética e força jurídica, por exprimirem ou concretizarem o
principio da dignidade humana ou pela importância que revestem para o desenvolvimento desta.
Esta circunstância confere-lhes uma especial força jurídica e por isso não podem ser restringidos ou
só o podem ser em determinadas condições definidas em ato legislativo (Ex. Direito de propriedade
– expropriação)

Poderes jurídico-públicos
 Posições jurídicas subjetivas ativas, tituladas por pessoas coletivas de Direito Público e exercidas
pelos órgãos que as integram, e que lhes conferem a capacidade de em concreto desencadear certos
efeitos jurídicos na esfera jurídica de terceiros para a definição e prossecução do interesse público,
encontrando-se a contraparte num estado de sujeição (Ex. Poder de cobrar impostos)
 Diferença para os direitos potestativos  Direitos potestativos traduzem faculdades em relações
jurídicas pré-constituídas, enquanto os poderes públicos podem se manifestar perante qualquer um
que se encontre em determinadas circunstancias

Posições jurídicas subjetivas passivas


 Posições de desvantagem a que a maior parte das vezes correspondem direitos ou poderes da parte
ativa na relação jurídico-publica

Obrigações
 Às obrigações correspondem, do outro lado da relação, direitos (de natureza obrigacional), ou seja,
as obrigações reportam-se ainda a um bem determinado (ex. Obrigação de execução de um contrato
administrativo de empreitada)

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Deveres em sentido estrito


 Posição contraria ao titular dos direitos absolutos
 Do outro lado não há um direito a uma específica prestação. Os deveres apresentam-se como a
consequência do exercício de um poder público, ou correlativo a um direito absoluto. Alguns destes
deveres constituem deveres fundamentais, por se revelarem essenciais a realização da própria ideia
de Estado.
 Este é o tipo mais comum de deveres nas relações jurídico-publicas (dever de pagar impostos).
Contribui para o bem comum e, nessa medida, por ato jurídico-publico é imposto na esfera jurídica
dos cidadãos.

Estado de sujeição
 Posições jurídicas subjetivas passivas que surgem nas relações jurídico-publicas, em
correspondência com direitos potestativos ou com poderes jurídico-públicos, e que traduzem uma
situação de necessidade inelutável de suportar certos efeitos jurídicos decorrentes do exercício
daqueles direitos ou poderes (Ex. Sujeição em que se encontra o proprietário de um terreno que é
expropriado)

Estatuto jurídico
 Conjunto ordenado de direitos e deveres constituídos pelo mesmo ato ou facto jurídico
 Ex. Estatuto do nacional, constituído pelo nascimento ou naturalização
 Ex. Estatuto do funcionário público, constituído por contrato de trabalho ou nomeação

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PARTE III - Teoria da organização pública


IX. As formas do Estado
 Está em causa saber se o desempenho das funções do Estado é assegurado por um aparelho de
poder ou por uma pluralidade coordenada de aparelhos de poder
 Estado unitário é um Estado (Ex. Portugal)
 Estado federal é um Estado de Estados (Ex. Estados Unidos da América)

Estado soberano  É aquele que monopoliza o exercício da força relativamente a um povo num
determinado território. Tem poder supremo a nível interno, e independente a nível externo  Estado
unitário

 Estado federal

O estado unitário
Classificações
 No Estado unitário existe apenas um poder soberano, uma constituição e um conjunto de órgãos de
soberania que exercem em todo o Estado
 Estado centralizado  A totalidade das funções políticas estão concentradas no Estado. Pode existir
uma descentralização administrativa, como se sucede no caso de se atribuir a autarquias locais
competências de satisfação das necessidades públicas no respeito e em execução da lei (ex. recolha e
tratamento do lixo). Normalmente o Estado central fiscaliza a atuação dessas autarquias locais,
verificando o cumprimento da lei. (Ex. Luxemburgo e França)
 Estado descentralizado/ regional  Admite uma descentralização política, criando regiões
autónomas que exercem funções politico-legislativas, podendo emanar atos com força de lei em
determinadas matérias, para além de exercerem igualmente funções administrativas. Existem
também autarquias locais que exercem funções meramente administrativas
└ Estado regional parcial  Parte do território tem apenas descentralização administrativa e a
outra parte tem regiões autónomas (Ex. Portugal - Açores e Madeira)
└ Estado regional integral  Quando a totalidade do território de um Estado está dividido por
regiões autónomas (Ex. Espanha)
└ Estado regional homogéneo  As regiões autónomas dotadas dos mesmos poderes
└ Estado regional heterogéneo  As regiões autónomas exercem poderes diferentes

A forma unitária do Estado português


 Art.6 CRP  Portugal é um Estado unitário, com um único Estado (Republica Portuguesa), uma
Constituição (Constituição Republica Portuguesa) e um sistema de órgãos de soberania para todo o
território nacional
 Princípio da descentralização democrática  A Constituição exige a descentralização
administrativa, pois prevê a existência e autonomia das autarquias locais e da descentralização
política, pois prevê a existência de um regime autonómico insular, embora só nos arquipélagos dos
Açores e Madeira
 Poderes das regiões autónomas tem a mesma natureza e conteúdo  Portugal é um Estado unitário
regional (parcial e homogéneo)
 A “unidade do Estado” esta prevista como um limite material de revisão constitucional, pois não
pode ser afetada pelas alterações que se introduzem na Constituição  É proibida a transformação
de Portugal num Estado federal

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O Estado federal
Os Estados compostos
 Um Estado federal é um Estado composto por vários Estados
 Estado federal não é o único Estado composto  União Real

União Real  Monarquias


 Vinculo entre dois Estados que se fundem ou são partilhados órgãos de cada Estado, de modo, a
passarem a existir um ou mais órgãos comuns e o chefe dos Estados é o mesmo  O poder
soberano é exercido pela União e regulado por uma Constituição  Os Estados abdicam da sua
independência (Ex. Portugal e Brasil entre 1815 e 1822)
 União pessoal  Dois Estados dizem-se em união pessoal, quando a mesma pessoa física e
simultaneamente titular da Coroa de cada um desses Estados, mas os órgãos mantem-se separados,
tal como os próprios Estados
└ Ex. Portugal e Espanha, de 1580 a 1640, que mantiveram coroas diferentes mas ocupadas pela
mesma pessoa
└ Ex. Atualmente o Reino Unido, Canada, Austrália e a Nova Zelândia encontram-se numa união
pessoa, pois os respetivos órgãos de chefia do Estado são ocupados pela mesma pessoa, Isabel II
 Não se trata de um Estado composto, mas de vários Estados independentes cuja chefia de Estado
e ocupada pela mesma pessoa física

Confederações
 Inicialmente os Estados federais resultaram da agregação de Estados até ai independentes
└ Estados Unidos da América que resultam da união, em 1787, das antigas 13 colonias britânicas da
América do Norte que tinham acabado de adquirir independência
└ Suíça que só em 1848 se transformou num Estado através da união dos respetivos cantões
└ Alemanha que foi criada em 1871 como federação de reinos
 O Estado federal foi precedido por uma confederação
 Mas também acontece a transformação de um Estado unitário num Estado federal (Brasil, Belgica)
 Características de confederações:
└ Associações de Estados
└ Não possuem poderes soberanos, estes permanecem nas mãos dos Estados-membros
└ Resultam normalmente de acordos internacionais
└ É um estádio intermédio entre a total independência de certos Estados e a sua junção num Estado
federal ou num Estado unitário
└ Não existem atualmente confederações

Características do Estado federal


 Estado federal possui poderes soberanos que lhe foram entregues pelos Estados federados através
de uma Constituição federal
 No Estado federal existem 2 níveis estatais: O nível superior do Estado federal e o nível inferior
dos Estados federados
└ Ambos possuem a sua própria Constituição e um conjunto de órgãos aptos a desempenharem as
funções governativa, legislativa, administrativa e jurisdicional
└ Ao lado do Direito federal subsistem as ordens jurídicas de cada um dos Estados federados, ao
lado dos tribunais federais subsistem os tribunais de cada Estado federado, a par das polícias
federais encontramos as polícias dos Estados federados
 Qualquer pessoa que se encontre no território de um Estado federal está submetida a estes dois
aparelhos estatais de poder: o federal e o federado
 O Estado federal e os diversos Estados federados são detentores, em conjunto, da soberania

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 A Constituição federal prevalece sobre as Constituições federadas, mas apenas pode ser elaborada e
alterada com o consentimento dos Estados federados  “a competência das competências” está na
mãos de ambos os níveis estatais
 Se apenas os Estados federados fossem soberanos, tratar-se-ia de uma confederação ou uma
organização internacional ≠ Se só o Estado federal fosse soberano, tratar-se-ia de um Estado unitário
 Num Estado federal a Constituição federal garante os direitos e poderes dos Estados federados,
MAS como estes tem de dar o seu consentimento a alteração da mesma, esses direitos e poderes
apenas serão afetados se assim o quiserem

Diferenças entre o Estado federal e o Estado regional


 No Estado Regional: as regiões são criadas e podem ser extintas pelo Estado central, que elabora os
seus estatutos fundamentais ≠ No Estado Federal: Os Estados federados precedem e criam o Estado
federal, sendo soberanos na elaboração dos seus estatutos jurídicos fundamentais, que se chamam
“constituição”
 No Estado Federal: Os Estados federados por criarem o Estado federal, participam naturalmente,
na elaboração e revisão da sua Constituição ≠ No Estado Regional: Não sucede isto
 No Estado federal: No caso de desaparecimento do Estado federal, os Estados federados
readquirem a soberania plena do ponto de vista internacional (independência) ≠ Nas Regiões
Autónomas: Não sucede isto

Coordenação entre o Estado federal e os Estados federados


 No Estado Federal a soberania e partilhada entre o Estado federal e os Estados federados 
dualismo de centros de decisão  Este dualismo não gera um sistema dividido e incapaz de
produzir uma atuação publica coerente, na verdade, o sistema federal e construído e consagrado na
Constituição federal de forma a impedir esse resultado
 Princípio da especialidade
└ A Constituição federal opera uma divisão de competências entre o Estado federal e os Estados
federados. Por regra, o Estado federal só possui as competências que lhe são atribuídas pela
Constituição, sabendo todas as restantes aos Estados federados. As primeiras são competências
reservadas ao Estado federal e as segundas são competências reservadas de cada Estado federado
 Incluem se nas competências federais as chamadas “competências implícitas”, isto e aquelas que,
embora não tenham sito expressamente atribuídas, são indispensáveis para que o Estado federal
possa exercer as competências expressas ou satisfazer as necessidades públicas cuja prossecução lhe
foi cometida
 Princípio de prevalência do Direito federal
└ Por vezes existem competências concorrentes em que ambos os níveis estatais podem intervir 
Maximizam-se os riscos de conflito, de desconformidade no conteúdo das diversas atuações
publicas
└ Este princípio sobre o Direito federado permite resolver esses conflitos, e para além disso, quando
há conflitos quanto a determinação das competências, os mesmos são resolvidos pelos tribunais
federais
 Por outro lado, os Estados federados participam em determinados órgãos do Estado federal, e
portanto, exercem um poder de controlo sobre a política e legislação federal

 Trata-se então de parlamentos bicamerais, sendo a outra camara designada pela totalidade do povo
do Estado federal  Desta forma, mesmo no domínio de competências do Estado federal, os Estados
federados acabam por intervir através da camara alta do parlamento federal, o que permite a
cooperação entre os dois níveis estatais e maximiza a coerência da atuação pública

A forma do Estado Português


 Portugal é um Estado unitário regional (parcial e homogéneo), cuja Constituição proíbe a
transformação de Portugal num Estado federal

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 Mas esta proibição não significa que Portugal não possa integrar numa realidade “proto-federal”,
como a União Europeia (Art.7/5 CRP)
 União Europeia não é uma confederação, pois possui competências muito mais abrangentes e as
decisões das instituições europeias vinculam direta e frequentemente os próprios cidadãos dos
Estados-membros, e por outro lado o sistema jurídico e tipicamente federal, prevalecendo sobre as
normas nacionais contrarias, mas também não e um Estado, designadamente um Estado federal,
pois não exerce um poder soberano, nem domina os instrumentos fácticos do poder e não pode
impedir a secessão dos respetivos Estados-membros, que se mantem os titulares do poder soberano
 União Europeia pode-se classificar como uma “federação de Estados”  Ou seja, a EU não é um
Estado federal, mas uma associação de Estados que assume algumas características do Estado
federal, embora exerça muitos poderes que são transferidos pelos Estados-membros, não chega a
estar dotada do poder verdadeiramente soberano

 Portugal é um Estado unitário (regional parcial e homogéneo) integrado numa federação de Estados
(União Europeia)

X. Organização pública portuguesa, internacional e da União Europeia


Organização pública portuguesa
 Os poderes públicos são titulados e exercidos pelo Estado e por outras entidades públicas (pessoas
coletivas publicas)  As pessoas coletivas públicas caracterizam-se por prosseguirem fins, objetivos
definidos pela Constituição e pela lei  Cada entidade existe para prosseguir fins específicos
(atribuições)
 As funções desempenhadas e as competências exercidas pelos órgãos do Estado ou outras entidades
públicas visam a prossecução dos fins primários de qualquer comunidade política (interesse
publico primário), bem como dos fins secundários que, resultado do exercício das funções
governativa e legislativa, são instrumentais daqueles, instrumentais no sentido de que por via da
satisfação desses fins se realizam os fins primários
 A organização do Estado e dos entes públicos reconduz-se a uma organização de poderes e fins
públicos, corresponde então à distribuição de tais poderes e objetivos por conjuntos estruturados de
pessoas e meios materiais para a satisfação eficaz e eficiente dos mesmos. Dependendo das
entidades em causa, a sua formação e o seu funcionamento podem responder a exigências de
representatividade democrática, de responsabilidade politica, de independência no exercício da
função, de competência técnica e outras
 Princípio da separação dos poderes
└ Principio, no qual a organização publica portuguesa assenta na sua dupla dimensão horizontal e
vertical
└ Principio da separação dos poderes em sentido horizontal  Distribuem-se os poderes entre
órgãos do Estado que se situam num mesmo nível hierárquico e exercem o seu poder em todo o
território, de acordo com uma tendencial especialização de funções
└ Principio da separação dos poderes em sentido vertical  Distribuem-se competências entre
entidades de níveis territoriais diversos, e não necessariamente para todas as funções
 Desconcentração  Permite explicar a separação de poderes horizontal, e descreve ainda a
atribuição de poderes a órgãos do Estado de níveis hierárquicos ou territoriais inferiores
 Descentralização  Descreve a criação de pessoas coletivas públicas distintas do Estado, que
prosseguem interesses diferentes deste, com a atribuição dos correspondentes poderes de atuação
(Está ligada à separação vertical dos poderes)
 Devolução de poderes  Sempre que as pessoas coletivas são criadas pelo Estado para prosseguir
interesses estatais

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Distribuição horizontal de poderes


 Quatro órgãos de soberania (Presidente, Assembleia da R, Governo e os Tribunais)  Órgãos de
soberania são aqueles que exercem, em primeira linha, o poder soberano, que se diz pertencer ao
povo (Art.2,3,108 CRP) e possuem jurisdição sobre todo o território nacional (Se consideramos os
tribunais como um todo, ou pelo menos, os tribunais supremos)
 A formação, composição, funcionamento e competências dos órgãos de soberania são as previstas
na Constituição (Art.110/2 CRP)
 Os órgãos de soberania realizam os fins primários do Estado (Art. 9º e 81º, entre outros) embora de
forma diversa, de acordo com as suas funções, que não são estanques (exceto a jurisdicional)
 O Presidente da Republica é o chefe do Estado, órgão singular eleito por sufrágio direto e universal
(Art.120 e 121 CRP)  Funções politicas, participação legislativa
 A Assembleia da Republica é o parlamento nacional, onde estão representados os cidadãos
portugueses, os 230 deputados eleitos por sufrágio direto e universal (Art.147 e 148 CRP) 
Funções legislativas e políticas
 O Governo é o órgão “de condução da política geral do país e o órgão superior da Administração
Publica” (Art.182), sendo os seus membros (Primeiro Ministro, Ministros, Secretários de Estado e
Subsecretários do Estado) nomeados pelo Presidente da Republica, nos termos do Art.187, tendo em
conta os resultados das eleições para a Assembleia da Republica (eleições legislativas)  Funções
legislativas, governativas e políticas
 Os Tribunais abrangem uma multiplicidade de órgãos, singulares a maior parte dos de 1ª instância,
e colegiais os de 2ª e os ultima instancia, estruturados em duas grandes organizações: a dos
tribunais judiciais, constituída pelos tribunais de comarca, tribunais de relação, e encimada pelo
Supremo Tribunal de Justiça e a dos tribunais administrativos e fiscais, iniciada com os tribunais de
círculo, continuada com os tribunais centrais administrativos e completada pelo Supremo Tribunal
Administrativo
└ Pode ainda existir tribunais especializados, como os tribunais marítimos, militares, arbitrais e
julgados de paz
└ Existe ainda o Tribunal de Contas e o Ministério Público  Órgãos colegiais cujas funções estão
entre o administrativo e o judicial  O primeiro aprecia a política fiscal, o segundo representa o
Estado em tribunal, inicia processos penais, vela pela legalidade…
└ Tribunal Constitucional  Órgão colegial composto por 10 juízes nomeados pela AR e 3
cooptados pelos nomeados  Função de garantir a constitucionalidade e a legalidade.
 Os órgãos centrais do Estado (diretores-gerais e diretores de serviços) estão hierarquicamente
subordinados ao Governo e exercem a função administrativa em todo o território nacional, ou sobre
uma parcela limitada do território, coincidente com as circunstâncias municipais, distritais,
regionais ou outras ( Órgãos locais ou periféricos do Estado (Comandantes distritais da PSP,
diretores regionais de educação)

Devolução de poderes
 Este fenómeno da origem a pessoas coletivas publicas que vão partilhar os objetivos (atribuições) do
Estado, contribuindo para a sua prossecução
 Ex. Institutos Públicos (Instituto Português da Juventude), universidades públicas e as entidades
públicas empresariais (REFER, E.P.E)
 É portanto num nível diferente do dos órgãos de soberania que se verifica uma especialização das
competências exercidas e, nalguns casos, também quanto aos fins prosseguidos

Separação vertical de poderes


 Cria Regiões Autónomas, Autarquias Locais (Freguesias, Municípios…) e outras pessoas coletivas
públicas (ordens profissionais)
 Regiões Autónomas  Funções governativas, legislativas e administrativas  Descentralização
político-administrativa (competências: Art.227)
 Autarquias Locais  Função administrativa  Descentralização administrativa (Art.237/1 e 241)

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 As regiões autónomas e as autarquias locais são pessoas coletivas de base territorial, ou seja,
exercem os respetivos poderes em espaços territoriais próprios e delimitados (Ex. Arquipélagos dos
Açores e da Madeira no caso das Regiões Autónomas) ou nas circunscrições municipais ou de
freguesia respetivas ≠ o mesmo não sucede com as pessoas coletivas do tipo associativo, as suas
competências não estão delimitadas a uma parcela do território nacional
 A coordenação e a acão juridicamente concertada de todas estas entidades que atuam a tão diversos
níveis são garantidas:
└ Pelos impulsos políticos dados pelos órgãos de soberania que assim fixam as grandes linhas de
rumo do Estado.
└ Por uma adequada distribuição de atribuições e, quando estes são os mesmos, de uma ajustada
repartição de competências funcional e territorial por parte da Lei e pela Constituição.
└ Por mecanismos de resolução de conflitos (superior, posterior, especial)

Organização internacional
 Para além dos Estados, os principais sujeitos de Direito Internacional são as organizações
internacionais
 Constituem organismos fundados por Estados, tendo em vista a institucionalização da cooperação
entre os mesmos, em determinados domínios, com carater de permanência. São criadas por
convenção internacional, onde estão previstos os seus órgãos, o respetivo modo de funcionamento e
as competências que hão de exercer, tudo o que permite a afirmação da sua vontade própria,
distinta de cada um dos Estados-membros
 De acordo com o princípio da especialidade só possuem os poderes que lhe tiverem sido
conferidos pela convenção ou, no limite, os poderes que se revelem indispensáveis à execução das
tarefas de que tiverem sido incumbidas pelo Estado (poderes implícitos)
 1. Fins prosseguidos: Quando os seus fins são delimitados, fala-se em organizações
internacionais especiais: existem organizações internacionais económicas (FMI, OMC) sociais (OIT,
OMS), militares (NATO), políticas (Conselho da Europa) … mas podem existir organização
internacional geral como a ONU cujo objeto abrange todas as relações entre os Estados da
sociedade internacional, sejam pacificas ou não, e pretende incorporar todos os Estados do planeta,
mas não deixando de estar limitada pelo princípio da especialidade – garantir a ordem, paz e
segurança
 2. Âmbito de atuação: ONU é uma organização internacional tendencialmente universal, por
pretender abranger todos os Estados do planeta, mas também há outras organizações (Ex. FMI) ≠
enquanto outras tem âmbito meramente regional, pois abrangem apaises situados em determinadas
áreas do globo (Ex. Conselho Europeu)
 3. Processo de tomada de decisão: As organizações podem ser:
└ Intergovernamentais ou de cooperação  Nas quais todos os Estados têm de dar o seu acordo
para a produção de atos vinculativos (voto unanime) (Ex. NATO,OCDE, OTAN)
└ Supranacionais ou de subordinação  Nas quais não é necessário o apoio de todos os Estados
mas apenas de uma maioria, pelo que um Estado pode acabar por ficar juridicamente vinculado a
atos aos quais se opôs (Ex. CEE)

Organização da União Europeia


 Federação de Estados

Principio das competências atribuídas


 As instituições da União Europeia apenas podem exercer as competências que lhes forem atribuídas
pelos Tratados

Principio das competências implícitas


 As instituições da União Europeia dispõem ainda das competências, que embora não reconhecidas
nos tratados, são necessárias para atingir os objetivos neles fixados

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Instituições da União Europeia


Comissão Europeia

 “Guardiã” dos Tratados  Vela pelo cumprimento da União Europeia


 Exerce funções de iniciativa legislativa, de execução administrativa e de fiscalização do
cumprimento do Direito da EU
 O respetivo Presidente é eleito pelo Parlamento Europeu sob proposta do Conselho Europeu e os
restantes comissários soa escolhidos por comum acordo entre o Presidente da Comissão e o
Conselho

Tribunal de Justiça da UE

 Garante a uniformidade da aplicação e interpretação do Direito da União Europeia


 Os respetivos juízos são nomeados pelos Governos dos Estados-membros

Parlamento Europeu

 Aos deputados, que são eleitos, por sufrágio direto e universal pelos cidadãos da União, são
atribuídas funções legislativas, de decisão orçamental e de controlo politico

Banco Central Europeu

 Conduz a política monetária

Conselho Europeu

 Instituição, onde se reúnem os chefes de Estado ou de Governo dos vários Estados-membros e o


Presidente da comissão e é um órgão que desempenha funções politicas

Conselho da União Europeia

 Órgão, onde se reúnem os ministros dos vários Estados-membros responsáveis pela pasta que
estiver em discussão. Exerce funções de coordenação politica e de decisão.

XI. Organização da administração pública


 Função administrativa  Estado, Autarquias Locais e Regiões Autónomas  Finalidades:
Atribuições
 Estado, Autarquias Locais e Regiões Autónomas são pessoas coletivas públicas  Exercidas por
órgãos  Que têm competências (poderes)

Pessoas coletivas públicas


 São estruturas organizatórias dotadas de personalidade jurídica, criadas por ato público e que
visam a satisfação de interesses públicos, dispondo para tal de poderes de autoridade

Órgãos
 São figuras abstratas às quais a lei confere poderes funcionais de atuação

Serviços
 São departamentos que exercem funções auxiliares dos órgãos que os dirigem, preparando,
executando as suas decisões
 Ex. Estado (pessoa)  Governo (órgão)  Ministro educação  Ministério educação (serviço)

Classificações de órgãos
Art.20/2 CPA

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1) Número de titulares
 Singulares  1 titular (Ex. Ministro, Presidente da Camara)
 Colegiais  + do que 2 titulares (ex. Governo, Camara Municipal, Juntas da freguesia)

2)
 Permanentes  Duração indefinida (Governo, camaras municipais)
 Temporárias  Órgãos criados para atuar pelo período de tempo necessário para realizar uma
determinada tarefa

3)
 Externos  Têm a capacidade de praticar atos jurídicos perante terceiros, ou seja, os seus atos
produzem efeitos jurídico na esfera jurídica de terceiros (de outras entidades) (Ex. Decisão da
camara municipal)
 Internos  São aqueles que praticam atos ou manifestam juízos de valor, que só indiretamente se
refletem na esfera jurídica de terceiros, porque estes atos ou juízos de valor contribuem para os atos
dos órgãos externos

4)
 Ativos  Formam declarações de vontade ou executam declarações previamente tomadas (Ex.
Ministros, Camara Municipal)
 Consultivos  Órgãos compostos por pessoas com preparação técnica e científica e que emitem
juízos de valor ou juízes de perícia com a vista a auxiliar os órgãos ativos a decidir ou deliberar
 De controlo  Órgãos que fiscalizam o funcionamento e atividade dos órgãos administrativos (Ex.
Inspetor geral das finanças)

Funcionamento dos órgãos colegiais


 Atos dos órgãos colegiais  Deliberações (≠ singulares  Decisões)
 Deliberações são discutidas, votadas e tomadas no âmbito de reuniões
 Ordem do dia  Elenco ordenado e especificado dos assuntos que vão ser discutidos e deliberados
na reunião

Reuniões ordinárias (Art.23 CPA) Reuniões extraordinárias


 São aquelas que têm lugar regularmente  Reunião que tem lugar de modo excecional,
porque a apreciação de um assunto não
pode aguardar pela realização da reunião
ordinária seguinte
 Não é necessário convocatória  É necessário que haja uma convocatória
com uma antecedência mínima de 48h
(Art.24/1)
 É necessário o envio da ordem do dia  A convocatória deve ser acompanhada da
ordem do dia
 Quem envia a ordem do dia  Presidente  Quem faz a convocatória e envia a ordem
do órgão do dia  Presidente do órgão
 Exceção: Se um pedido de convocatória por
pelo menos 1/3 dos membros do órgão for
recusado pelo presidente  Membros
podem convocar reunião e fazer ordem doa
dia (Art.24/2 e 24/5)

 Violação das regras relativas à ordem do dia/ convocatória  Invalidade das deliberações (Art.28)

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 MAS a deliberação não é inválida, se se preencherem os requisitos cumulativos do Art.28:


└ Presença de todos os membros
└ Nenhum membro se opõe a realização da reunião

Ordem do dia
 Determina o objeto da reunião (Art.26/1)
 Só podem ser discutidos assuntos que estejam na ordem do dia
 Consequência  Invalidade
 MAS: Requisitos cumulativos (Art.26/2)
└ Reunião ordinária
└ 2/3 dos membros do órgão tem de reconhecer a urgência em deliberar o assunto

Quórum (Art.29)
 Designa o número de pessoas que tem de estar presentes numa reunião para que esta se possa
realizar
 Art.29/1  Maioria dos membros do direito de voto (50% + 1)
 Não são necessários todos os membros para a realização da reunião
 Se na 1. Reunião não estiver preenchido o quórum  2. Convocatória  2. Reunião (1/3 dos
membros do órgão)

Votação (Art.30-32)
 Forma
└ Art.30  É proibida a abstenção dos órgãos consultivos e (deliberativos)
└ Art.31/1  A votação é nominal (sabe-se qual é o sentido em que cada uma das pessoas votou) e
pública
└ Art.31/2  Deliberações que envolvem juízos de valor sobre comportamentos ou qualidade de
pessoas são secretas
 Maioria exigível
└ Art.32/1  A regra  Maioria absoluta dos membros presentes (50% + 1)
└ Maioria relativa  Basta ter mais votos a favor do que contra (sem abstenção)
└ Maioria qualificada
 Empate na votação
└ Voto de qualidade OU Voto de desempate
└ Votações secretas  Nova votação
└ Voto de qualidade  Consiste em considerar a votação do Presidente com um sentido duplo
└ Voto de desempate  Situações em que o Presidente não participou na deliberação  A opção
que o Presidente tomar, é a escolhida

Forma e eficácia das deliberações


 Forma  Verbal  Têm de ser reduzidas a escrito (Art.34)  Atas
 Requisitos de eficácia:
└ A deliberação pode adquirir eficácia com a aprovação da ata na reunião seguinte
└ A aprovação da minuta da ata na própria reunião a que diz respeito

Nos casos práticos:


1) Reunião (qualificar)
2) Convocatória Art.28  “Salvar
Requisitos de
3) Ordem do Dia a deliberação”
validade
4) Objeto da reunião
5) Quórum
6) Votação (Empate)
Requisitos de
7) Eficácia
eficácia

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A administração pública portuguesa: Administração estadual (direta indireta/


independente) e administração autónoma
Administração estadual
 Compreende as entidades que prosseguem interesses públicos estaduais (nacionais), ou seja,
interesses sentidos por toda a comunidade estadual
Administração estadual direta
 É composta pelo Estado, diz respeito à atividade do Estado na satisfação contínua das necessidades
do Estado
 Só vamos encontrar órgãos e serviços do Estado
└ Ex. Governo (Art.18 CRP)  Ministros  Ministérios
 Alguns órgãos centrais, periféricos
 É representativa do fenómeno de desconcentração de poderes
 Relação de Hierarquia

Administração estadual indireta


 Compreende pessoas coletivas públicas diferentes do Estado, pessoas de base institucional ou
empresarial e tem por objetivo prosseguir atribuições estaduais ou nacionais
 Ex. Hospitais públicos, Universidades públicas, Institutos públicos…
 Representativa do fenómeno devolução de poderes
 Poderes de tutela e superintendência

Administração estadual independente


 Prossegue interesses estaduais e é composta por pessoas coletivas distintas do Estado que não se
encontram sujeitas ao controlo do Estado, exceto no que respeita a um controlo financeiro de gestão
 Ex. Banco de Portugal, CMVM, C.P.Dados, Instituto dos seguros…

Administração pública autónoma


 Composta por entidades de base territorial ou associativa que prosseguem interesses próprios das
comunidades que representam, e que são interesses distintos dos da comunidade nacional

Regiões autónomas
 Tratam-se de pessoas coletivas públicas de substrato populacional e territorial, cujas atribuições se
referem aos interesses das comunidades dos territórios, dos arquipélagos dos Açores e da Madeira
(Art.226 e ss CRP)
 Descentralização administrativa e política

Autarquias Locais
 São pessoas coletivas publicas que visam satisfazer os interesses próprios das populações que os
compõem dentro de certas parcelas do território nacional (Art.235 e ss)
 Descentralização administrativa
 Ex. Município (concelho), Freguesia (freguesia), Regiões administrativas
 Município  Presidente da Camara, Camara Municipal e Assembleia Municipal
 Freguesia  Junta da Freguesia, Assembleia da Freguesia

Associações Públicas
 Pessoas coletivas públicas de substrato pessoal que resultam da associação de outras pessoas
coletivas publicas ou de pessoas singulares unidas pelos mesmos interesses e que são interesses
diferentes dos sentidos a nível nacional (Art.267/2 CRP)
 Ex. Ordens/camara profissional, Consórcios administrativos (Ex. Comunidade intermunicipal)

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As relações de hierarquia, superintendência e tutela


A relação de hierarquia
 Consiste numa relação de supra-infra-ordenação estabelecida entre dois órgãos da mesma pessoa
coletiva OU entre um órgão e os funcionários de um serviço que aquele dirija
 Poder de direção, poder de fiscalização, poder sancionatório, poder de supervisão e poder de
substituição

1. Poder de direção

 Consiste no poder/ possibilidade de dar ordens (concretas) ou instruções (genéricas)  Dever de


obediência (Art.271/1)
 O dever de obediência tem de ser cumprido, mesmo que as ordens sejam ilegais  Para evitar
responsabilização (Art.271/1)
└ Reclamar da ordem
└ Exigir a transmissão da ordem por escrito
 Se forem crimes não pode cumprir a ordem (Art.271/3)

2. Poder de fiscalização

 Consiste no poder de verificar se os subalternos cumprem as ordens e as instruções que lhes são
dadas

3. Poder sancionatório

 Aplicar sanções aos trabalhadores da administração pública que não cumpram com os seus deveres
profissionais (Ex. Dever de obediência, assiduidade)

4. Poder de supervisão

 Consiste no poder de anular ou suspender os atos praticados pelos subalternos


 Anula  Quando o ato é ilegal
 Revoga  Quando o ato é inconveniente
 Inclui o poder de o superior se substituir ao subalterno (Art.197/4 CPA), se este não tiver
competência exclusiva

5. Poder de substituição

 Consiste no poder de em caso de inercia do subalterno, atuar em seu lugar

Relação de delegação (Art.44 e ss)


 Entre 2 órgãos da mesma pessoa coletiva
 Opera a partilha de competências entre dois órgãos, o órgão que é detentor originário dessa
competência (órgão delegante) e o órgão que vai agora também pode passar a exercer essa
competência (órgão delegado)
 Art.49  O órgão delegante vai poder exercer certos poderes em relação ao órgão delegado (pode
dar instruções, anular, revogar ou substituir os órgãos do delegado)

Relação de superintendência
 Relações entre sujeitos jurídicos distintos, pelo que, falaremos de poderes exercidos por um órgão
de uma pessoa coletiva sobre órgãos de outras pessoas coletivas
 Traduz-se na possibilidade de fixar diretivas, ou seja, orientações quanto ao modo de prossecução
das atribuições de outra pessoa coletiva  A relação jurídica de superintendência só pode
constituir-se entre uma pessoa coletiva e outra que integre a Administração Pública Indireta
 Os poderes de superintendência e a sua “intensidade” resultam da previsão expressa em ato
legislativo

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Relação de tutela
 Relações entre sujeitos jurídicos distintos, pelo que, falaremos de poderes exercidos por um órgão
de uma pessoa coletiva sobre órgãos de outras pessoas coletivas
 Corresponde a um poder de controlo da atividade da pessoa coletiva a ela sujeita
 Pode ser classificada quanto ao fim ou padrão de controlo:
└ Tutela de legalidade  Traduz o poder de verificar se a atividade de uma pessoa coletiva está
em conformidade com a lei
└ Tutela de mérito  Corresponde ao poder de verificar se o interesse público atribuído por lei
àqueles sujeitos está a ser prosseguido da melhor forma possível, da forma mais conveniente, e,
desde logo, de verificar o cumprimento das diretivas traçadas pelo ente que exerce a tutela
 Pode ser classificada segundo o critério do conteúdo:
└ Tutela inspetiva  Constitui um poder de fiscalização genérica sobre a atividade da entidade
pública tutelada, e que se concretizará na realização de inspeções, inquéritos, sindicâncias ou outras
diligencias averiguativas (pode gozar ainda de tutela sancionatória/ tutela revogatória)
└ Tutela integrativa  Distingue-se da tutela inspetiva porque não envolve o controlo genérico da
atividade, mas antes dos atos jurídicos concretos praticados pela entidade pública (contratos ou atos
administrativos), controlo esse que pode ter de se realizar antes ou só depois de emitido o ato
jurídico concreto. A tutela integrativa manifesta-se através da emissão de outros atos
administrativos (autorização e aprovação)
└ Tutela revogatória  O controlo concretiza-se na eliminação ou cessação dos efeitos jurídicos de
atos administrativos praticados pelo ente sujeito a tutela, através da emissão de um ato
administrativo de anulação ou de revogação. Consoante a tutela se restrinja à legalidade ou abranja
ainda o mérito, o órgão tutelar terá poderes para emitir uma anulação ou também uma revogação
└ Tutela sancionatória  A entidade tutelar tem poder para aplicar sanções administrativas
└ Tutela substitutiva  Quando prevista na lei, confere ao órgão que exerce a tutela a faculdade de
atuar em vez da entidade tutelada, sobretudo para suprir omissões desta
 Os poderes de tutela e a sua “intensidade” resultam da previsão expressa em ato legislativo
└ Quanto à Administração Indireta, os poderes de tutela variam em função do que é estabelecido
por lei para cada tipo de pessoa coletiva que a integra e especificamente em função do consagrado
nos respetivos estatutos
└ Em relação à Administração Autónoma, as regiões autónomas porque gozam de autonomia
politica não estão sujeitas a qualquer tipo de poder de tutela administrativa. Já as autarquias locais e
as associações públicas estão, em princípio, subordinadas a um poder de tutela de legalidade

As impugnações administrativas
 Art.184 e ss CPA

As impugnações administrativas
 São mecanismos procedimentais de reação contra os atos administrativos, ao dispor dos
particulares que sejam afetados por tais decisões e visam, por isso, garantir a tutela ou defesa dos
direitos e interesses dos particulares (Art.186/1 a) CPA)
 Como regra, todos os atos administrativos (ou omissões de atos administrativos devidos) podem ser
objeto de impugnação administrativa
 O pedido, formulado por meio de requerimento dirigido a uma autoridade administrativa, pode ser
de revogação, anulação, modificação, substituição do ato administrativo praticado ou de emissão do
ato ilegalmente omitido  O particular que lance mão de uma das vias de impugnação pretende,
com isso, obter uma decisão que elimine os efeitos de um ato administrativo de que é destinatário
ou que, de forma lateral, afeta os seus direitos ou interesses, ou obter o ato administrativo cuja
prática tenha sido ilegalmente omissa
 O fundamento desse pedido tanto pode ser a ilegalidade do ato (que resultará da violação de regras
de Direito a que o mesmo está submetido), como a sua inconveniência (que se verificará sempre

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que o ato não seja a medida mais adequada a realizar o interesse público para cuja prossecução foi
emitido
 Impugnações administrativas  São as que se verificam perante a atividade da administração
pública ≠ Impugnação contenciosa  Correm perante os tribunais (mais caras e demoradas)

A reclamação e o recurso
 A reclamação é a forma de impugnação dirigida ao próprio órgão autor do ato, e que será decidida
por ele
 A reclamação encontra-se regulada nos artigos 191.º e ss., e é feita, no prazo de 15 dias, mediante
requerimento dirigido ao órgão que emitiu o ato administrativo lesivo (o prazo será de um ano, no
caso de reclamação contra a omissão ilegal de atos administrativos)

 O recurso corresponde à forma de impugnação dirigida e decidida por um órgão diferente do autor
do ato. O recurso pode ser hierárquico ou administrativo especial, consoante a relação existente
entre o órgão autor do ato e o órgão que vai reapreciar esse ato.
 O recurso hierárquico (Art.193 e ss) pressupõe uma relação de hierarquia, e é uma forma de
provocar o exercício dos poderes de que dispõe o superior hierárquico sobre o órgão subalterno. No
caso de existir mais do que um superior na cadeia hierárquica, o recurso deve ser interposto, no
prazo de 30 dias ou dentro do prazo estabelecido para interposição de recurso contencioso do ato
em causa para o órgão do topo da hierarquia (por exemplo, de um ato praticado por um diretor de
serviço deve recorrer-se, não para o diretor-geral, mas para o ministro) – chama-se a isto o recurso
per saltum. O prazo será de um ano, no caso de recurso contra a omissão ilegal de atos
administrativos
 Os recursos administrativos especiais vêm regulados no artigo 199.º do CPA e poderão ter lugar
quando venham expressamente previstos na lei.
 Um destes recursos permite a impugnação de um ato praticado por um órgão delegado para o
órgão delegante, quando aquele ato tenha sido emitido ao abrigo de uma competência delegada
(será o recurso a interpor, por exemplo, na hipótese de um particular se sentir lesado por uma
decisão administrativa tomada por um secretário de Estado, que, como não tem competências
próprias, terá atuado ao abrigo de uma delegação do ministro respetivo – é o recurso que
anteriormente era designado de recurso hierárquico impróprio). Este mecanismo, refira-se, pode
sempre verificar-se mesmo que não resulte de previsão legal expressa.
 É também de salientar, de entre os recursos administrativos especiais, o recurso tutelar, que é a
forma de impugnação de um ato administrativo pela qual se pede ao órgão, que exerce tutela ou
poder de superintendência sobre a pessoa coletiva a que pertence o órgão autor do ato, que o
elimine da ordem jurídica. Naturalmente, supõe que o órgão de tutela disponha de poderes de
tutela revogatória, e caso o recurso se fundamente na inconveniência ou inoportunidade do ato ou
da omissão, deverá existir uma tutela de mérito
 Em geral, as reclamações e os recursos são facultativos (artigo 185.º, n.º 2). Com o que se pretende
dizer que o particular, para propor uma ação de impugnação no Tribunal administrativo do ato
administrativo ilegal que o lese (ou da omissão do ato devido), não tem de lançar mão previamente
de uma impugnação administrativa – só reclama ou recorre se quiser. MAS há casos em que a lei
expressamente impõe que o particular reclame ou recorra do ato administrativo antes da
propositura da ação contenciosa. Fala se, então, de reclamação necessária ou recurso necessário
 Por força da lei processual, as reclamações e os recursos têm hoje efeito suspensivo sobre o prazo de
propositura da ação de impugnação judicial, pelo que o particular pode aguardar a decisão da
reclamação ou recurso (facultativo ou necessário), sem com isso correr o risco de deixar esgotar o
prazo de reação judicial. Além disso, as reclamações necessárias e os recursos necessários
suspendem, até à decisão final sobre os mesmos, os efeitos do ato de que se reclamou ou recorreu
(suspendem, portanto, os efeitos lesivos)

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