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Educacao em Lingua Materna Apresentacao
Educacao em Lingua Materna Apresentacao
2004
Para entendermos a variação no português
brasileiro, vamos propor a Você que imagine três
linhas, a que vamos chamar de contínuos, e que
são:
• contínuo de urbanização
• contínuo de oralidade-letramento
Veja os exemplos:
EXEMPLO 1:
[O professor está conduzindo um exercício de interpretação de texto da segunda série]
• (P. vai ao quadro e começa a escrever o exercício. Os alunos copiam em silêncio; retoma a
palavra quando conclui a escrita.)
• P. Quem sabe fazê aqui agora? Pest'enção aqui, ó. Depois cês copia aí, tá? Tá escrito
aqui.(lendo do quadro) Responda. Com quem se parecia o ? (pára de ler) Como é o nome
da leitura lá? Pega a leitura lá que cê sabe. Pega lá no livro, tá? É o quê? O palhacinho.
Como é o nome da leitura lá? Diga aí.
• A. O palhacinho.
• P O palhacinho, né? Vamu trabalhá exatamente. O trabalho é a leitura lá. Nós vamu vê se
nóis entendemos o não o que tá escrito lá. Então vamu, tá? Tá escrito aqui, ó. (Lendo) Com
que se parecia o palhacinho? (Pára de ler.) Cê vai voltá lá naquela leitura lá. Vai olhá. O
palhacinho se parecia com um negócio lá. Com quê? Com um boneco. Então cê vai dizê.
Parecia com um boneco, né? (Lendo) Por que todos gostavam dele? (Pára de ler) tá? Por
que todos gostavam dele? Depois (lendo) Qual era a maior felicidade do palhacinho? Como
costumavam chamá-lo ? (Pára de ler) Tá? As crianças chamavam ele é (...) de um nome, sei
lá. Um apelido lá, né? Qual era esse apelido dele, tá? (Lendo) Um dia o palhacinho chorou.
Por que ele chorou? (Pára de ler) Tá? Aí cê vai dizê qu'ele chorou por isso, por isso, isso,
isso, isso, assim, assim, tá? Isto tá escrito lá no livro. (Lendo) Quantas crianças haviam
mais o menos no palco? (Pára de ler). Ele entrô lá pra fazê a brincadeira com as crianças.
Quantas crianças tinha mais o menos lá, tá bom? Então cê vai respondê lá, olhanu no livro
e responde, tá?
• (O P. volta-se para outros alunos e inicia outra atividade.)
EXEMPLO 2:
• A1 [lendo o que escrevera] e ele deixou nós irmos rap/ e ele deixou
nós irmos. Rapidamente arrumamos nossas malas e saímos, e fomos.
• A2ih :: aí cê tá (xxx) [ lendo ] e saímos e fomos. [falando] é claro que
se nóis saiu nós fomos. NãO [lendo ] e fomos , e fomos , rap/ e e ele
deixou nós irmos rapidamente arrumamos nossas malas e fomos.
[falando] apaga esse ponto aí e põe 'e fomos'.
• A3[falando] e falamos tchau e fomos
• A1não, e fomos, e a história tá grande demais
• A2[lendo] e nós despedimos
• A1[falando] nóis num vai terminá hoje não
• A2[falando] tem que escrevê muito uai, pra gente ganhá nota.
(Ilse de Oliveira)
O terceiro contínuo que estamos propondo para
facilitar nossa análise do português brasileiro é o de
monitoração estilística. Nesse contínuo situamos
desde as interações totalmente espontâneas até
aquelas que são previamente planejadas e que
exigem muita atenção do falante.
Vejam o exemplo:
EXEMPLO 1:
• Gerente: Gerência do Banco XXX . Em que eu posso ajudá-lo?
• Cliente: Estou interessado em financiamento para compra de
veículo. Gostaria de saber quais as modalidades de crédito que o
banco oferece.
• Gerente: Nós dispomos de várias modalidades. O Senhor é nosso
cliente? Com quem eu estou falando, por favor.?
• Cliente: Eu sou o Júlio César Fontoura, também sou funcionário do
banco.
• Gerente: Julinho, é você, cara? Aqui é Helena! Cê tá em Brasília.?
Pensei que você ainda estivesse na agência de Uberlândia! Passa
aqui pra gente conversá com calma. E vamu vê seu financiamento
A escola é, por excelência, o locus - ou espaço – em
que os educandos vão adquirir, de forma sistemática,
recursos comunicativos que lhes permitam
desempenhar-se competentemente em práticas sociais
especializadas.
Diálogo A:
- Essa é minha! Você pegou a minha!
- A sua é essa outra! Essa que tá aí.
- Não é não! A minha é essa. Eu quero a minha!
- Essa eu não te dou, só te dou essa.
Diálogo B:
- Esse triângulo azul é meu! Você o pegou do meu castelo.
- A peça que estava em seu castelo não é o triângulo. É esse
paralelogramo que está ao lado da sua mão direita.
- Não é não! Eu quero o triângulo azul que você usou para fazer a
proa de seu navio.
ATIVIDADE
Grave o diálogo entre dois ou mais alunos envolvidos em uma
atividade manual. Transcreva, depois, o diálogo e discuta com
um colega ou com sua monitora a dependência contextual
desse discurso. Faça o mesmo com um diálogo gravado entre
dois professores igualmente envolvidos em uma tarefa manual
comum. Leve a questão da dependência contextual - ou
implicitude - das interações face a face para discussão em seu
grupo. Esta é uma questão teórica muito relevante porque a
implicitude - ou indexicalidade - ou, se Você preferir, o grau de
contextualização é uma das principais características que
distinguem a linguagem oral da linguagem escrita e, também, a
linguagem monitorada da não-monitorada.
Vamos sintetizar:
1) Todo falante nativo de uma língua, por volta de sete, oito
anos, já internalizou as regras do sistema da língua que lhe
permitem produzir sentenças bem formadas naquela língua,
o que não acontece com um falante estrangeiro que produz
sentenças agramaticais, isto é, que não estão perfeitamente
de acordo com o sistema da língua estrangeira.
EXEMPLO 2:
• A (lendo) Conhecia aquele choro. Aquele aquele modo novo da
mãe sófre.
• P. Da mãe o quê?
• A. Da mãe sófre.
• P. sofrê, rapaiz.
• A (lendo) O pai também não entendeu e virou para o filho cres
crescendo sabê
• P. querendo
• A. querendo sabê.
EXEMPLO 3: