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TRABALHO COMO
FUNDAMENTO ONTOLÓGICO
DO SER SOCIAL
Bruno Peixoto Carvalho
Gyorgy Lukács (1885-1971)
- Um intelectual precoce
A CASA DE ARISTÓTELES OU O
GÉRMEN DA CIÊNCIA
A posição do fim e a busca dos meios nada podem produzir de
novo na medida emque a realidade natural, enquanto tal, deve
permanecer sendo o que é em si mesma: um sistema de
complexos cuja legalidade continua a operar com total
indiferença ante a todas as aspirações e esforços do homem. Aqui
a busca tem uma dupla função: de um lado evidencia aquilo que
se faz presente em si nos objetos em questão, independentemente
de toda consciência; de outro lado, descobre neles aquelas novas
conexões, novas possíveis funções que, quando postas em
movimento, tornam efetivável o fim teleologicamente posto.
A EFETIVIDADE E A INEFETIVIDADE DA
TELEOLOGIA
Natureza e trabalho, meio e fim, produzem, pois, algo em si homogêneo: o
processo de trabalho e, ao final, o produto do trabalho. No entanto, a
superação dos elementos heterogêneos mediante o caráter unitário e
homogêneo do pôr tem limites bem precisos. Não nos referimos, porém,
àquela situação óbvia, já esclarecida, na qual a homogeneização pressupõe
o conhecimento correto dos nexos causais não homogêneos da realidade. Se
houver erro a respeito deles no processo de busca, sequer podem chegar a
ser — em sentido ontológico — postos; eles continuam a operar de modo
natural, e a posição teleológica se cancela, uma vez que, não sendo
realizável, se vê reduzida a um fato de consciência necessariamente
impotente diante da natureza.
A POSSIBILIDADE OU A POTÊNCIA
O ato antecede a potência?
Quando o homem primitivo escolhe, de um conjunto de pedras, uma
que lhe parece mais apropriada aos seus fins e deixa outras de lado, é
óbvio que se trata de uma escolha, uma alternativa. E no exato
sentido de que a pedra, enquanto objeto em-siexistente da natureza
inorgânica, não foi de modo nenhum formada de antemão a fim de
converter-se em instrumento deste pôr. Também a grama não cresce
para ser comida pelos bezerros e estes não engordam para fornecer a
carne que alimenta os animais ferozes. Há porém em ambos os casos,
da perspectiva do animal que come, uma vinculação biológica ao
respectivo tipo de alimento que determina a sua conduta de forma
biologicamente necessária. Por isso mesmo, a consciência animal que
ali se manifesta está determinada num sentido unívoco: é um
epifenômeno, jamais uma alternativa. Ao contrário, a escolha da
pedra como instrumento é um ato de consciência que não tem mais
um caráter biológico.
A ESCOLHA, A ALTERNATIVA, A
LIBERDADE
Trata-se de uma ininterrupta cadeia temporal de alternativas
sempre novas
Aquilo que Churchill afirmou inteligentemente a respeito de casos
muito mais complicados da práxis social, isto é, que ao tomar uma
decisão, se pode entrar num “período de conseqüências”,
aparece como uma característica da estrutura de toda práxis
social já no trabalho mais primitivo. Essa estrutura ontológica do
processo de trabalho como uma cadeia de alternativas, não deve
parecer menos correta pelo fato de que, ao longo do
desenvolvimento e mesmo emfases relativamente iniciais, as
alternativas singulares dentro do processo de trabalho se tornem,
através do exercício e do hábito, reflexos condicionados e, deste
modo, possam ser consumados de acordo com a consciência,
mas “inconscientemente”.
Afastamento das barreiras naturais
Subordinação da causalidade dada à causalidade posta
Ampliação das alternativas
A posição que funda tanto o fim quanto os meios para torná-lo realidade
assume, ao longo do desenvolvimento, de modo cada vez mais acentuado,
uma forma fixa específica; forma que pode gerar a ilusão de que já é, em-si,
algo socialmente existente. Pensemos numa fábrica moderna. O modelo (a
posição teleológica) é elaborado, discutido, calculado, etc, por um coletivo
às vezes muito amplo, mesmo antes de poder se tornar realidade pela
produção mesma. Ainda quando, dessa maneira, a existência material de
muitas pessoas esteja ligada ao processo de elaboração desse modelo,
embora o processo de formação do modelo tenha, de modo geral, uma
sólida base material (escritórios, máquinas [Apparat], instalações, etc.), o
modelo permanece uma possibilidade – no sentido de Aristóteles – que só
pode se tornar realidade através da decisão, fundada em alternativas, de
executá-lo, somente através da execução mesma, exatamente como na
decisão do homem primitivo de escolher esta ou aquela pedra para usá-la
como cunha ou machado.
O desenvolvimento da técnica amplia a cadeia de alternativas
possíveis para a humanidade.
Por isso se poderia, num certo sentido, ver aí o germe ontológico
da liberdade, liberdade que tanta importância teve e ainda tem
nas polêmicas filosóficas acerca do homem e da sociedade. Para
evitar equívocos, no entanto, é preciso tornar mais claro e
concreto o caráter desta gênese ontológica da liberdade, que
aparece pela primeira vez como um fato real na alternativa, no
interior do processo de trabalho.
O GÉRMEN DA LIBERDADE
O sujeito é o iniciador da posição da finalidade, da transformação
das cadeias causais refletidas em cadeias causais postas e da
realização de todas estas posições no processo de trabalho. Ou
seja, o sujeito estabelece todo um conjunto de posições diversas,
de caráter teórico e prático. A característica comum a todas estas
posições, quando vistas como atos de um sujeito, é que em todos
os casos o imediato instintivamente apreendido em conseqüência
do distanciamento necessariamente implicado em todo ato de
pôr é sempre substituído ou, pelo menos, dominado por atos da
consciência. Não nos deve induzir ao engano a aparência de que
em cada trabalho executado a maior parte dos atos singulares já
não tem um caráter diretamente consciente.
Intercâmbio material H (sociedade) – N
Satisfação de necessidades sociais
Produtos do trabalho: objetivações
Posição teleológica (conhecimento das relações causais) que deriva de
uma ESCOLHA (possibilidade) possível no quadro da posição teleológica
que a antecedeu
Na posição teleológica: posição dos fins, busca dos meios, alternativa,
reparos, erro, etc...
Entre necessidade e satisfação, se insere o trabalho, a posição teleológica
Consciência como adaptação ativa a condições criadas pelo próprio ser
humano; do instintivo ao consciente
UMA SÍNTESE
“Por isso, o desenvolvimento do trabalho contribui para que o
caráter de alternativa da práxis humana, do comportamento do
homem para com o próprio ambiente e para consigo mesmo, se
baseie sempre mais em decisões alternativas.”