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Ciências dos Materiais

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Carlos Antonio Puccini de Brito


Os Atomistas - Erwin Schrödinger

6. O Século XX: Triunfo do


Atomismo
- Tópico 6 - Triunfo do atomismo

Fig.i.f – Câmara de Wilson


Figura .i.f Câmara de Wilson.
Figura .i.f Câmara de Wilson.

Primeira câmara de nuvens também conhecida como Câmara de Wilson


(1) construída pelo próprio Wilson, o recipiente contendo ar se encontra
no canto esquerdo superior da foto.

A câmara é usada para detectar partículas de radiação ionizante.

Na sua forma mais básica a câmara consiste de um ambiente isolado


contendo vapor d’água supersaturado e super resfriado. Quando uma
partícula alfa ou beta interagem com esta emulsão, ela ioniza estas
Partículas.

Os íons resultantes atuam como agentes nucleantes do vapor de água.

A alta energia de partículas alfa e beta deixam rastros porque muitos


Íons são formados ao longo de sua trajetória.
Figura .i.f Câmara de Wilson.

Figura i.f - A Câmara de Nuvens também conhecida como Câmara de


Wilson (1) é usada para detectar partículas de radiação ionizante.

Na sua forma mais básica a câmara consiste de um ambiente isolado


contendo vapor d´água supersaturado e superesfriado.

Quando uma partícula alfa ou beta interagem com esta emulsão, ela
ioniza estas partículas. Os íons resultantes atuam como agentes
nucleantes do vapor de água.

A alta energia de partículas alfa e beta deixam rastros porque muitos


íons são formados ao longo da sua trajetória.

O formato do rastro dependerá do tipo da partícula sub-atômica:


partículas alfa deixam rastros largos e retos enquanto os rastros
deixados por elétrons são finos e mostram evidências das deflexões
sofriadas por eles.
O Triunfo do Atomismo
Durante os últimos cinqüenta anos nós obtivemos a “evidência
experimental da existência real de corpúsculos discretos”.

Existe um grande número de observações interessantes que nós


não poderemos resumir aqui, e que os atomistas, no fim do
século XIX, não antecipariam nem nos seus sonhos mais
desvairados.

Nós podemos ver, com nossos próprios olhos, os traços lineares


gravados dos trajetos de partículas elementares únicas na
"Câmara de Nuvens" de Wilson (1) e em emulsões fotográficas.

Nós temos os instrumentos (contadores Geiger) que respondem


com um clique audível a uma única partícula de raio cósmico que
entre no instrumento.
O Triunfo do Atomismo
Além disso, se o instrumento possuir um medidor elétrico tal
que, a cada clique, o medidor avance uma unidade, então ele
contará o número das partículas que chegam num certo intervalo
de tempo.

Tais contagens executadas por métodos diferentes e sob


circunstâncias variadas estão em total acordo entre si, e com as
teorias atômicas desenvolvidas muito antes que estas evidências
diretas estivessem disponíveis.

Os grandes atomistas, de Demócrito até Dalton, no século XVIII,


Maxwell (2) e Boltzmann (3), no século XIX, entrariam em
êxtase frente às provas palpáveis de suas teorias.
Mas, ao mesmo tempo, a teoria atômica moderna está
mergulhada em uma crise.
O Triunfo do Atomismo
Não há nenhuma dúvida de que a teoria de uma partícula simples é
demasiado ingênua. E isto não é de se espantar, se levarmos em contas
as especulações que propusemos sobre a origem do atomismo.

Se elas estiverem corretas, o atomismo foi forjado então como uma


arma para superar as dificuldades do continuum matemático, do qual,
como nós vimos, Demócrito estava inteiramente ciente.

Para ele, o atomismo foi o meio para unir o golfo que separa os corpos
reais da Física das formas geométricas idealizadas da Matemática pura.
Mas não somente para Demócrito.

De certa maneira o atomismo executou uma tarefa através da sua longa


historia: a tarefa de facilitar nosso raciocínio sobre corpos palpáveis.

Um pedaço de matéria é resolvido, em nosso pensamento, num grande


número de constituintes, contudo finito.
O Triunfo do Atomismo

Nós podemos imaginar a contagem deles, quando, ao mesmo tempo,


somos incapazes de dizer o número dos pontos existentes numa linha
reta de um centímetro de comprimento. Nós podemos contar,
mentalmente, o número de impactos mútuos num intervalo de tempo.

Quando o hidrogênio e o cloro se unem para formar o ácido clorídrico,


nós podemos, em nossa mente, emparelhar os dois tipos de átomos e
pensar que cada par se une para dar forma a um pequeno novo corpo,
uma molécula de um composto.

Esta contagem, este emparelhamento, toda esta maneira de pensar


jogou um papel proeminente na descoberta dos teoremas físicos mais
importantes. Seria impossível, neste sentido, pensar a matéria como
uma geléia contínua e desestruturada.
O Triunfo do Atomismo

Assim, o atomismo provou ser infinitamente proveitoso.


Contudo, quanto mais pensamos sobre o Atomismo, menos
ficamos com a impressão de que se trata de uma verdadeira
teoria.

É realmente fundado, exclusivamente, numa estrutura objetiva


“do mundo real em torno de nós”? Não seria uma maneira
importante, condicionada pela natureza do ser humano, de
entender - que Kant (4) chamaria de “a priori”?

É benéfico para nós, assim acredito, preservar a mente


extremamente aberta para as provas palpáveis da existência de
partículas individuais, sem diminuir nossa admiração profunda
para o gênio daqueles experimentadores que nos forneceram
esta riqueza de conhecimento.
O Triunfo do Atomismo

Eles estão aumentando-o dia após dia e ajudando-nos, desse


modo, a alterar a situação com respeito ao triste fato de que
nossa compreensão teórica sobre o assunto, arrisco-me a dizer,
diminui quase na mesma velocidade.

Vou concluir este capítulo citando alguns fragmentos agnósticos


e céticos de Demócrito, que mais me impressionaram.
O Triunfo do Atomismo
A tradução segue a de Cyril Bailey(5).

( fragmento 6) Um homem deve aprender neste princípio que ele está


distante da verdade.

( fr. 7) Nós não sabemos nada verdadeiramente sobre qualquer coisa,


mas, para cada um de nós, a opinião do outro é um influxo (isto é, lhe
feito saber por um influxo de “imagens” vindo de fora).

( fr. 8) Aprender verdadeiramente o que cada coisa é, é uma matéria


incerta.

( fr. 9) Na verdade nós não sabemos nada precisamente, mas somente


quando isto produz mudanças na disposição de nosso corpo, e das
coisas que nele entram e o impingem.
O Triunfo do Atomismo

A tradução segue a de Cyril Bailey(5).

( fr. 117) Nós não sabemos nada verdadeiramente porque a verdade se


encontra escondida nas profundezas.

E agora o famoso diálogo entre o intelecto e os sentidos:

( fr. 125) Intelecto: Doce é uma convenção e amargo é uma convenção,


quente é uma convenção, frio é uma convenção, cor é uma convenção;
na verdade só há os átomos e o vazio.

Os Sentidos: Pobre mente! De nós você está tirando as evidências com


as quais você quer nos derrubar? Sua vitória será sua própria queda.
“Os atomistas” por Erwin Schrödinger
cont
Notas:
(1) Uma câmara de nuvens, também chamada de câmara de Wilson, em
homenagem a seu inventor, Charles T. R. Wilson (1869-1959), prêmio Nobel de Física
de 1927, é um dispositivo que mostra o rastro deixado por partículas subatômicas.
(2) James Clerk Maxwell (1831-1879): físico britânico, criador da Teoria do
Eletromagnetismo.
(3) Ludwig Boltzmann (1844-1906): físico austríaco, um dos criadores da Teoria da
Mecânica Estatística.
(4) Emmanuel Kant (1724-1804): filósofo alemão cuja obra ainda exerce influência
em várias áreas do conhecimento. Para Kant, é a capacidade de representação -em
nosso cérebro- do objeto, que torna possível a sua apreensão e não o objeto que
torna a representação possível.
(5) Cyril Bailey(1871-1957), Estudioso inglês da Antiguidade Clássica.

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