Você está na página 1de 32

Microbiologia do Solo

Introdução

Solo: maior reservatório de microrganismos do planeta


• direta ou indiretamente recebe todos os dejetos dos seres
vivos
• local de transformação da matéria orgânica em substâncias
nutritivas

• com grande abundância e diversidade de


microrganismos
• 1 hectare de solo pode conter até 4 tons de
microrganismos
Definição:
Em agricultura e geologia, solo é a
camada que recobre as rochas, sendo
constituído de proporções e tipos
variáveis de minerais de húmus

Solos minerais
Solos orgânicos

Perfil do solo

Centenas de anos
O solo como hábitat microbiano

Principais fatores que afetam a atividade:


- Umidade
- Status nutricional
Rizosfera
Região onde o solo e as raízes das plantas entram em contato

O efeito rizosférico
Constituintes do solo
• Minerais:
– sílica (SiO2), Fe, Al, Ca,Mg, K
– P, S, Mn, Na, N ...

• Matéria orgânica: origem vegetal, animal e microbiana


– insolúvel (húmus): melhora a estrutura, libera nutrientes
• efeito tampão, retenção de água
– solúvel: produtos da degradação de polímeros complexos:
• Açúcares, fenóis, aminoácidos
Constituintes do solo

• Água
– livre: poros do solo
– adsorvida: ligada aos colóides (argilas)

• Gases:
CO2, O2, N2 ...

– composição variável em função dos processos


biológicos
Constituintes do solo

• Sistemas biológicos:
– plantas
– animais
– Microrganismos: grande diversidade e abundância

Dependendo de:
nutrientes
umidade
aeração
temperatura
pH
interações
Presença de microrganismos nas várias profundidades do solo

Profundidade Umidade Mat. orgânica Bactérias Fungos


(cm) (%) (%) (x 106)/g (m/g)

aeróbias anaeróbias
0-8 18,2 4,4 24 2,7 280

8- 20 10,0 1,5 3,1 0,4 43

20-40 11,5 0,5 1,9 0,4 0

40-60 13,5 0,6 0,9 0,04 0

60-80 7,9 0,4 0,7 0,03 0

80-100 5,3 0,4 0,15 0,01 0

Fonte: Lindegreen & Jensen, 1973


A microbiota do solo
• Bactérias:
– grupo mais numeroso e mais diversificado
3 x 106 a 5 x 108 por g de solo seco
• limitações impostas pelas discrepâncias entre técnicas
• heterotróficos são mais facilmente detectados

Gêneros mais freqüentes:


• Bacillus, Clostridium, Arthrobacter, Pseudomonas, Nocardia,
Streptomyces, Micromonospora, Rizóbios
• Cianobactérias: pioneiras, fixação de N2

Streptomyces
A microbiota do solo
• Fungos:
– 5 x 103 - 9 x 105 por g de solo seco
– limitados à superfície do solo
– favorecidos em solos ácidos
– ativos decompositores de tecidos vegetais
– melhoram a estrutura física do solo

Gêneros mais freqüentes:


• Penicillium, Mucor, Rhizopus, Fusarium, Aspergillus,
Trichoderma
A microbiota do solo
• Algas
– 103 - 5 x 105 por g de solo seco
– abundantes na superfície
– acumulação de matéria orgânica: solos nus, erodidos

• Protozoários e vírus
- equilíbrio das populações
- predadores de bactérias
- parasitas de bactérias, fungos, plantas, ...
Microrganismos e os ciclos da matéria

• Terra: quantidade praticamente constante de matéria

Mudanças no estado químico produzindo uma grande diversidade


de compostos.

• Ciclo carbono
• Ciclo nitrogênio
• Ciclo do enxofre
• Ciclo do ferro
O ciclo do carbono

Principais reservatórios de carbono na Terra

Reservatório Carbono (gigatons) % total de carbono na Terra


Oceanos 38 x 103 (>95% C inorgânico) 0,05
Rochas e sedimentos 75 x 106 (>80% C inorgânico) > 99,5
Biosfera terrestre 2 x 103 0,003
Biosfera aquática 1-2 0,000002
Combustíveis fósseis 4,2 x 103 0,006
Hidratos de metano 104 0,014
Transformações bioquímicas do carbono
O mecanismo mais rápido de transferência global do carbono ocorre pelo CO2

• Fixação do CO2
• CO2 + 4H (CH2O) + H2O
– Plantas
– bactérias verdes e púrpuras fotossintetizantes
– algas
– cianobactérias
– bactérias quimiolitróficas
– algumas bactérias heterotróficas:
» CH3COCOOH + CO2 HOOCCH2COCOOH
ácido pirúvico ácido oxaloacético
Transformações bioquímicas do carbono

• Degradação de substâncias orgânicas complexas


• celulose (40-50% dos tecidos vegetais)
• hemiceluloses (10-30% dos tecidos vegetais)
• lignina (20-30%)

Celulose celobiose (n moléculas)


celulases

Celobiose 2 glicose
-glicosidase

Glicose + 6CO2 6CO2 + 6H2O


Transformações bioquímicas do nitrogênio
O N é encontrado em vários estados de oxidação (-3 a +5)
O nitrogênio gasoso corresponde a forma mais estável, assim a atmosfera é o
maior reservatório (contrário do carbono)

- A alta energia para quebra de


N2 indica que o processo
demanda energia.
- Relativamente, um número
pequeno de microrganismos é
capaz disso

- Em diversos ambientes, a
produtividade é limitada pelo
suprimento de N.
- Importância ecológica e
econômica envolvida na fixação
Transformações bioquímicas do nitrogênio
• Fixação do nitrogênio atmosférico
N2 NH3 aminoácidos

• Fixação simbiótica: 60-600 Kg/ha.ano


• 90% pelas leguminosas
• Economia em fertilizantes nitrogenados

• Associações simbióticas fixadoras:


– Anabaena - Azolla
– Frankia - Alnus
– Rizóbios - Leguminosas
Transformações bioquímicas do nitrogênio
Rizóbios - Leguminosas

• etapas da formação de um nódulo:


– reconhecimento: lectinas
– disseminação:
• citocininas células tetraplóides
– formação dos bacteróides nas células
– leghemoglobina
– maturidade: fixação do nitrogênio
– senescência do nódulo: deterioração
Associação simbiótica rizóbios-leguminosas
Associação simbiótica rizóbios-leguminosas
Redução de acetileno: medida da capacidade fixadora
Transformações bioquímicas do nitrogênio

• Proteólise:

Proteínas Peptídeos  Aminoácidos

• Amonificação (desaminação)

– CH3-CHNH2-COOH + ½O2  CH3-CO-COOH + NH3


» alanina ác. pirúvico amônia

» A amônia é rapidamente reciclada, mas uma parte


volatiliza
Transformações bioquímicas do nitrogênio

Nitrificação: - produção de nitrato


- Solos bem drenados e pH neutro
Embora seja rapidamente utilizado pelas plantas, também pode ser
lixiviado quando chove muito (muito solúvel).
Uso de inibidores da nitrificação na agricultura
- Etapas:

Nitritação: oxidação de amônia a nitrito


2NH3+ 3O2  2HNO2 + 2H2O
(Nitrosomonas, Nitrosovibrio, Nitrosococcus, Nitrosospira, Nitrosolobus)

Nitratação: oxidação de nitrito a nitrato


NO2- + ½O2  NO3-
(Nitrobacter, Nitrospina, Nitrococcus, Nitrospira)
Transformações bioquímicas do nitrogênio

Utilização do nitrato:
• Redução assimilatória: plantas e microrganismos
– NO3- + 8e- + 9H+  NH3 + 3H2O

• Desnitrificação: ocorre em condições de anaerobiose


como aceptor de elétrons.

redução de nitratos a N2 (nitrogênio atmosférico)


– 2NO3  2NO2  2NO  N2O  N2
(Agrobacterium, Alcaligenes, Thiobacillus, Bacillus etc.)

- Como o N2 é menos facilmente utilizado que o nitrato como fonte de N, esse


processo é prejudicial pois remove o N fixado no ambiente.
- Por outro lado, é importante no tratamento de efluentes
Transformações bioquímicas do enxofre
As transformações do enxofre são ainda mais complexas que do nitrogênio:
- Devido à variedade de estados de oxidação (-2 a +6) (S-orgânico a sulfato)
- Porém, apenas 3 estados de oxidação se encontram em quantidade
significativas na natureza (-2, 0, +6)

Alguns componentes do ciclo:

• Oxidação do enxofre elementar:

– 2S + 2H2O + 3O2 2H2SO4

2H+ + SO4=
– ex. Thiobacillus thioxidans

• O S0 também pode ser reduzido pela respiração anaeróbia


Transformações bioquímicas do enxofre

• Degradação (oxid/red) de comp. orgânicos sulfurados:


– cisteína + H2O ácido pirúvico + NH3 + H2S

• Utilização dos sulfatos:


– plantas
– microrganismos
• S é incorporado a aminoácidos:
» cistina
» cisteína
» metionina
Transformações bioquímicas do enxofre

• Redução de sulfatos (por bactérias amplamente distribuídas na natureza)


– anaerobiose
• CaSO4 + 8H H2S + Ca(OH)2 + 2H2O
» Desulfovibrio
- Necessidade da presença de compostos orgânicos
(doadores de e-)

• Oxidação de sulfato

– bactérias fototróficas
• CO2 + 2H2S (CH2O) + H2O + 2S
enzimas/luz
Transformações bioquímicas do ferro
Um dos elementos mais abundantes
Naturalmente encontrado em apenas dois estados de oxidação

O O2 é o único aceptor
de elétrons que pode
oxidar o ferro Fe2+, e
em pH neutro. Comum em solos
alagados e pântanos
Em condições ácidas
ocorre o crescimento
de acidófilos oxidantes
do ferro.

Precipitação de depósitos
marrons de ferro
MS
MS

Re síd u o s
Má q uin a o rg â n ic o s
d e c o m p o sito ra
Nitro g ê n io
C a rb o no MS
MS

Fó sfo ro MS
Po tá ssio
C á lc io
Ma g n é sio
Fe rro
En xo fre
Ma n g a nê s Mic ro rg a nism o
C o b re o p e rá rio
o u tro s

MS

Húm us
De c o m p o siç ã o d e re sto s ve g e ta is n o so lo : m á q u ina d e c o m p o sito ra
o p e ra d a p e lo s m ic ro rg a n ism o s (Siq ue ira & Fra nc o , 1988)

Você também pode gostar