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Perturbação das condutas

agressivas
O desenvolvimento de condutas agressivas ao longo da infância e
adolescência tem sido alvo de inúmeros estudos que pretendem
responder, basicamente, questões referentes à origem e à manutenção
da agressividade durante o percurso da vida.
• O comportamento agressivo é próprio da espécie humana e apresenta
múltiplas configurações.

• Ele pode ser expresso pela via motora, através de movimentos de ataque
ou fuga; pela via emocional, com a experimentação de sentimentos de
raiva e ódio; pela via somática, como a apresentação de taquicardia, rosto
ruborizado, além das demais reações autonômicas; pela via cognitiva,
através de crenças de conquistas sem que importem os meios, planos de
ação que envolvem a manipulação do meio; e finalmente, a via verbal, da
qual o indivíduo vai utilizar-se do sentido das palavras para expressar
controle em relação aos outros (Fariz, Mias & Moura, 2005).
• Esta abordagem da agressão refere-se à agressão instrumental, ou
seja, aquela que apresenta uma função dentro do ambiente em que
está sendo utilizada. Isso significa que o indivíduo tenta obter o
controle de seu meio através de comportamentos agressivos, tais
como gritar, ameaçar, quebrar ou xingar (Fariz et al., 2005).

• A partir desta definição, pode-se observar que, ao longo do processo


de maturação, crianças e adolescentes exibem comportamentos
agressivos. Entretanto, se essas condutas se mostram severas e
freqüentes, elas podem indicar sinais de psicopatologia (Kendall,
1991).
• Segundo Kendall (1991), crianças e adolescentes com características
agressivas intensas e freqüentes parecem apresentar peculiaridades
em dois processos fundamentais.

• O primeiro deles diz respeito à percepção que esses indivíduos


possuem de seu ambiente: quando comparados a indivíduos não-
agressivos, eles tendem a atribuir mais intenções hostis aos demais,
além de se mostrarem mais hipervigilantes e hiperesponsivos a esse
tipo de estímulo
• Jovens e crianças agressivos não só superestimam a hostilidade alheia, mas
parecem também subestimar sua própria agressividade, mostrando que
possuem pouca acuidade da percepção de seus próprios comportamentos
(Lochman, 1987).

• Esse pode ser um dos motivos que explicaria o fato de muitos deles
tenderem a apontar os pares como causadores dos conflitos interpessoais
(Kendall, 1991).

• Além das distorções na interpretação dos eventos, o processo de solução


de problemas parece acontecer de forma diferente em indivíduos
agressivos.
• De forma geral, esses jovens geram uma quantidade menor de
soluções quando comparados àqueles não-agressivos

• . Outras evidências têm mostrado, ainda, que crianças e adolescentes


agressivos geram menos soluções verbais e mais respostas não-
verbais se comparados aos indivíduos não-agressivos
• Os dados da literatura acrescentam também que déficits em habilidades
empáticas relacionam-se intimamente às manifestações de agressividade.

• Na verdade, a própria definição da conduta agressiva salienta que a


empatia é deficitária: ao invocar um dano a outro indivíduo, supõe-se que
o agressor não reconhece os sentimentos alheios ou pouco se sensibiliza
por eles.

• Além disso, o desenvolvimento de condutas empáticas e comportamentos


pró-sociais na infância e adolescência aparecem como fatores de
prevenção às condutas anti-sociais (Del Prette & Del Prette, 2003).
• Outro fator que pode ser acrescentado às investigações sobre as causas da
agressividade nos períodos da infância e adolescência é a presença de
transtornos neuropsiquiátricos.

• Em muitos deles, como no caso do Transtorno de Déficit de


Atenção/Hiperatividade, a origem das condutas agressivas pode sofrer
influência do fator neurobiológico, podendo também ser propiciadas e
mantidas pelo ambiente (Barkley, 2002).

• Nesse caso, o diagnóstico torna-se fundamental para o entendimento e a


intervenção tanto psicológica quanto psiquiátrica.
• Dessa maneira, a conduta agressiva parece se manifestar por uma
série de razões que podem coexistir ou, até mesmo, serem
complementares.

• Algumas vezes, esse processo se torna complexo e exige que


compreendamos a participação de múltiplos fatores na formação da
agressividade. Tal entendimento pode auxiliar tanto na investigação
quanto no conseqüente tratamento de crianças e adolescentes.
principais fatores de origem e/ou manutenção dos
comportamentos agressivos na infância e
adolescência
• temperamento, estilos parentais e demais influências ambientais
(mídia, escola e relacionamento com os pares).
• transtornos neuropsiquiátricos infanto-juvenis.

• Neste estudo, foram abordados apenas quatro transtornos:


Transtorno Bipolar do Humor, Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade e os Transtornos de Conduta (incluindo o
Transtorno Opositivo Desafiador e o Transtorno de Conduta)..
• A escolha de tais transtornos se deu pelas freqüentes discussões a
respeito do diagnóstico diferencial e a presença de comorbidades
entre eles.

• Uma vez que a agressividade possa aparecer em seus quadros, esse


estudo procurou relatar e articular brevemente os principais dados da
literatura que demarquem algumas características que favoreçam o
diagnóstico mais acurado dessas desordens
Desenvolvimento sócio-emocional e
comportamento agressivo
• O desenvolvimento sócio-emocional parece tão complexo como o próprio
processo de formação da personalidade humana e parece estar
diretamente relacionado à construção das habilidades sociais que serão
utilizadas ao longo da vida.

• Entende-se por habilidades sociais, enquanto constructo descritivo, o


conjunto dos desempenhos de um indivíduo diante das demandas de uma
situação interpessoal .

• Alguns autores têm apontado que a diferença na expressão do


comportamento social e, portanto, da agressividade tem por base o
temperamento humano (Lara, 2004).
• O estudo de Cloninger, Svrakic e Przybeck (1993) aponta algumas
dimensões básicas do temperamento:
• a) Busca por novidades e sensações – esse tipo de temperamento é
marcado por comportamentos de exploração e ativos em relação ao
ambiente, condutas marcadamente impulsivas, impaciência, irritabilidade
e busca por gratificações imediatas. A emoção mais aparente é a raiva e o
objetivo maior é a busca por liberdade;

• b) Evitação de dano e perigo – nessa classificação do temperamento é


evidente o pessimismo, a evitação, a passividade, a timidez e a inibição de
comportamentos quando há possibilidade de frustração ou ameaça. A
emoção que mais se evidencia é o medo e o objetivo mais marcante é o de
preservação
• c) Necessidade de contato e aprovação social – a natureza nesse tipo de
temperamento é afetuosa, calorosa e disponível. Há grande sensibilidade
nas relações sociais, o que inclui uma tendência à manifestação da
empatia. Por outro lado, há marcante necessidade de aprovação social. A
emoção mais aparente é o apego e a expressão de afeto.

• d) Persistência – Nesse tipo de temperamento, características como a


determinação, a ambição e o perfeccionismo são as mais importantes.
Esses indivíduos tendem a encarar frustrações e obstáculos como desafios,
abrindo mão de recompensas imediatas e inconstantes em favor daquelas
a longo prazo.
• Pode-se definir como temperamento a matriz na qual se desenvolve
posteriormente a personalidade da criança e do adulto (Bee, 2003),
carregado de ampla contribuição genética (Papalia & Olds, 2000).

• Apesar do temperamento não constituir-se na personalidade, ele aparece


como influência importante para sua formação.

• Segundo Forehand e Long (2003), o temperamento que denominamos de


“forte” na linguagem popular parece ter relação com o estilo em que a
busca de novidades e sensações é a característica mais marcante.
• É nesse tipo de temperamento que a expressão da agressividade
parece acontecer em intensidade e freqüência maiores quando
comparado aos demais estilos.

• Na verdade, possuir este ou outro tipo de temperamento não se


constitui como essencialmente bom ou ruim (Forehand & Long,
2003).

• É importante entender que cada estilo de temperamento pode ser


adaptativo ou desadaptativo, dependendo da situação e do ambiente.
• Além disso, as características temperamentais podem ser modificadas
em algum nível, apesar das formas de reação mais natural e instintiva
tender a acompanhar os estilos mais primordiais.

• Especialmente o período da infância é bastante flexível a mudanças,


dado que faz com que muitos autores proponham o estímulo ao
desenvolvimento de habilidades sociais nessa fase (Del Prette & Del
Prette, 2005; Lara, 2004).
• Dessa forma, a construção das habilidades sócio-emocionais passa também
pela influência do ambiente.

• A forma como a família, a escola e os amigos atuam ou reagem em função


dos comportamentos das crianças é fundamental.

• Crianças de “temperamento forte” tendem a se engajar mais


freqüentemente em comportamentos chamados negativos (como
teimosia, birras, atividades perigosas), o que pode provocar nas pessoas
que a cercam reações mais agressivas ou autoritárias (Forehand & Long,
2003).
• O temperamento e as variáveis do ambiente interagem continuamente ao longo
do desenvolvimento da criança e raramente podemos determinar qual dos dois
aspectos tem maior responsabilidade na formação dos comportamentos
agressivos.

• Apesar da grande participação do temperamento na formação dos


comportamentos, muitos estudos têm mostrado a relevância dos estilos e
práticas parentais no desenvolvimento social da criança.

• Um estudo de Gomide (2003) mostra, por exemplo, que estilos parentais que
envolvem um conjunto de práticas tais como a monitoria positiva e o incentivo da
empatia parecem ter relação com baixos índices de manifestações agressivas e
anti-sociais.
• ,
• Entende-se por monitoria positiva as condutas de pais que atentam para as
atividades, a localização e as formas de adaptação de seus filhos.

• São aqueles que proporcionam às crianças um conjunto de regras sobre onde


devem ir, com quem podem associar-se e quando devem voltar para casa.

• Além de proporcionar tais regras, a monitoria positiva deve incluir a vigilância


sobre o cumprimento dos limites, bem como uma ação disciplinar efetiva quando
eles forem violados.

• A monitoria positiva, bem como as práticas de educação voltadas para o


desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, têm sido relacionados a baixos
índices de delinqüência
• hábitos de fumar e usar drogas. Além de proporcionar uma relação de
qualidade entre pais e filhos, cria um lar cujo ambiente é considerado
saudável (Statin & Kerr, 2000).

• Quando se trata de monitoria, Maldonado (1996) ressalta que os pais


devem ter conhecimento das condutas de seus filhos a partir de uma
linha contínua que envolve três etapas
• : (a) os filhos deveriam contar suas atividades espontaneamente aos
pais (e os pais devem reforçá-los com sua atenção e interesse);

• (b) os pais poderiam solicitar as informações de seus filhos;

• (c) os pais deveriam impor regras e restrições sobre as atividades


infantis e sobre as companhias das crianças.
• Tais condutas favorecem a comunicação parental eficaz para se estabelecer
vínculos afetivos de qualidade e reforça a autoridade dos pais.

• Gomide (2003) salienta, ainda, que autoridade diferencia-se de vigilância e


controle excessivos.

• Nesse caso, passamos a tratar da monitoria negativa: aquela em que a


fiscalização e número de ordens tornam-se exaustivos e estressantes, gerando
relacionamentos hostis e inseguros entre pais e filhos.

• No outro extremo da monitoria negativa, encontramos a prática da disciplina


relaxada, que retrata efeitos tão negativos quanto a primeira.).
• Nesse tipo de disciplina, as regras são estabelecidas, os pais até ameaçam
punições, mas quando são confrontados com comportamentos desafiadores e
agressivos abrem mão delas (o que faz a criança entender que seus
comportamentos são eficazes para conseguirem o que querem) (Gomide, 2003

• Além disso, pais ditos negligentes, ou seja, aqueles que não são responsivos às
necessidades dos filhos, promovem reações negativas de agressividade pela
pobreza de apego na relação com eles (Gomide, 2003).

• O estudo de Maldonado (1996) demonstrou, por exemplo, que a falta de calor e


carinho na interação com a criança podem desencadear sentimentos de
insegurança, vulnerabilidade, hostilidade e agressividade em relacionamentos
sociais.
• Dentre os estilos parentais considerados reforçadores de agressividade, estão ainda
aqueles cujas práticas envolvem abuso físico e psicológico.

• O abuso físico flutua desde a punição corporal leve (instrumental) e a severa, e muitas
vezes, a punição leve avança para manifestações cada vez mais agressivas.

• O abuso psicológico diz respeito ao abuso de poder ou falta de afeto em relação à


criança, traduzindo-se em comportamentos de confinamento em espaços pequenos,
humilhações em público, abuso verbal, ameaças, dentre outros (Gomide, 2003).

• Além da agressividade, ambas as práticas facilitam uma série de conseqüências negativa


para as crianças, tais como dificuldades no desenvolvimento da autonomia, baixa auto-
estima e comportamentos delinqüentes (Maldonado, 1996).
• Segundo Bee (2003), grande parte dos pais usa a punição para controlar as ações de seus filhos.

• Na verdade, a utilização da punição é altamente reforçadora para os pais porque a criança


interrompe o comportamento de forma imediata.

• Entretanto, a longo prazo, a mudança não é mantida e os efeitos emocionais e comportamentais


mostram-se bastante extensos.

• A criança que é castigada por gritar pode passar a evitar falar, por exemplo, ou pode, ainda,
exacerbar o nível de seus gritos.

• As crianças que são punidas fisicamente podem também aprender, por modelação (imitação dos
modelos), a se comportar da mesma forma, repetindo esse tipo de comportamento todas as
vezes que necessitar obter o que ela deseja.
• Não se pode ignorar que, além dos fatores já apresentados, a escola e a relação com os pares podem facilitar
expressões de agressão.

• Algumas vezes, os docentes utilizam a punição em sala de aula e ela proporciona a esses profissionais um
resultado imediato de interrupção do comportamento da criança. Em contrapartida, a reação dos
professores pode fazer com que o aluno perceba uma continuação dos comportamentos agressivos na
família, o que contribui cada vez mais para sua exacerbação (Fariz et al., 2005).

• Também merece especial atenção a presença da mídia na formação dos comportamentos de crianças e
jovens. Em grande parte dos desenhos animados, a violência é mostrada como socialmente aceitável ou
como uma boa maneira de resolver problemas.

• Além disso, os comportamentos agressivos obtêm ganhos imediatos e só são punidos ao final do programa.
Desse modo, dificulta-se a distinção daqueles comportamentos que são eficazes para um bom
relacionamento social, facilitando a identificação das crianças com os “vilões” dos programas.
• Um estudo experimental Americano, expôs crianças escolhidas ao
acaso a desenhos de conteúdos violentos largamente exibidos na TV.
Quando comparadas a um grupo que não foi exposto aos mesmos
programas, as primeiras crianças tenderam a apresentar sete vezes
mais atos agressivos durante as brincadeiras.

• O estudo de Caspi (1998), envolvendo crianças de 5 a 12 anos,


apontou resultados importantes: crianças mais novas (com idades de
cinco e seis anos), oriundas de famílias punitivas, tenderam a
exacerbar comportamentos violentos quando expostas a programas
que mostravam agressão..
• Esses resultados sugerem que a televisão pode até não ser a causa da
agressividade, mas é, sem dúvidas, um componente complementar para a
manifestação agressiva.

• Além dos inúmeros fatores que foram até agora apresentados, existem diversos
tipos de situações que podem gerar crenças e estados emocionais que
predispõem às atitudes agressivas.

• Fariz et al. (2005) relatam várias dessas fontes de estresse: perda de um dos pais,
brigas entre eles, o nascimento de um irmão, solidão ou abandono da criança, ser
o último a conseguir algo, ser ridicularizado em classe, mudança de casa ou
escola, ir ao dentista ou ao hospital, ou, ainda, possuir alguma diferença
marcante.

Transtornos neuropsiquiátricos infanto-juvenis
e comportamento agressivo
• Talvez seja oportuno dizer que a maioria dos comportamentos agressivos ocorre
por razões muito afastadas da esfera dos transtornos psicológicos, como, por
exemplo, ganho material, status, vingança, etc.

• Apesar disso, é fato que comportamentos agressivos estão associados a uma


série de transtornos neuropsiquiátricos.

• De uma maneira geral, a agressividade caracteriza uma quantidade considerável


dos transtornos chamados de externalizantes.

• Os problemas dessa natureza envolvem a agressividade física e/ou verbal,


comportamentos opositores, desafiadores e anti-sociais, além de condutas de
risco e impulsivas (Del Prette & Del Prette, 2005).
• Entendendo que a agressividade faz parte da construção da
sintomatologia desses diagnósticos, torna-se necessário abordar
alguns deles na tentativa de descrever as causas da agressividade em
cada um, facilitando, assim, o diagnóstico diferencial e a presença de
comorbidades.

• Na composição deste artigo, focalizamos a descrição e discussão do


comportamento agressivo em diagnósticos de Transtorno Bipolar do
Humor (TBH), no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
(TDAH) e nos Transtornos de Conduta (TC) na infância e adolescência.

Comportamento agressivo no Transtorno Bipolar
do Humor
• O Transtorno Bipolar do Humor (TBH) caracteriza-se pela alternância
de duas fases distintas: a maníaca (ou hipomaníaca) e a depressiva.

• Os critérios diagnósticos para um episódio maníaco incluem um


período distinto de humor anormalmente elevado, expansivo ou
irritável acompanhado de pelo menos três dos seguintes sintomas:
auto-estima inflada e grandiosidade, necessidade de sono diminuída,
pressão para falar, fuga de idéias, distração, aumento de atividade
dirigida ao objetivo e excessivo envolvimento em atividades
prazerosas que tenham conseqüências negativas (APA, 2002).
• A primeira questão levantada sobre o TBH na infância e na
adolescência põe dúvida a respeito de sua existência.

• Em um passado recente, a presença desse transtorno nestas fases


era bastante discutida na literatura, especialmente porque os
sintomas ocorrem de forma diferente daqueles que caracterizam o
transtorno na etapa adulta.
• Atualmente, o foco das pesquisas parece apontar para o preenchimento de algumas das lacunas
sobre as características desse transtorno nas fases iniciais da vida.

• Alguns dados têm apontado que, na infância e na adolescência, a duração e a intensidade dos
episódios parecem ser peculiares: as fases não são claramente marcadas como no caso dos
adultos e, além disso, crianças e jovens tendem a apresentar fases hipomaníacas (com sintomas
de intensidade mais leve) de ciclagem rápida

• Outro estudo aponta, ainda, que as características consideradas atípicas nos adultos são comuns
em crianças.

• Nessa faixa de idade, costumam acontecer com mais freqüência episódios maníacos atípicos, com
a presença de comportamentos agressivos cíclicos: as crianças podem se auto-agredir e serem
agressivas com os demais, sendo freqüentes os relatos de crianças-modelo que, de maneira
súbita, tornaram-se extremamente agressivas.
• A agressividade parece estar aliada principalmente ao humor irritado, apresentando-se
como um estado explosivo.

• Como este tipo de humor se caracteriza como um dos sintomas mais comuns do TBH, o
comportamento agressivo poderá acontecer com freqüência.

• A irritabilidade, apesar de não ser patagnomônica para o diagnóstico, está presente na


maioria dos casos e se manifesta em ambos os pólos de oscilação do humor (Geller,
Zimerman, Williams, Delbello, Frazier & Beringer, 2002).

• Sabe-se que nem todos os tipos de humor elevado configuram-se como positivos, mas
sim como estados mais agressivos e irritados (Lara, 2004). Por outro lado, o estado
depressivo é, de igual forma, marcado pela impaciência, irritabilidade e pela raiva, o que
predispõe o indivíduo a comportamentos agressivos (Basco & Rush, 1996).
• Além da agressividade, as crianças com TBH tendem a apresentar também extrema
variabilidade de humor, altos níveis de distração e fraco alcance da atenção (Kaplan et al.,
2003).

• Elas costumam comportar-se de forma hiperativa e a falar muito rápido e mais do que o
costume.

• Diferente do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, os pensamentos no TBH


surgem abundantes na cabeça, podendo aparecer fugas de idéias (idéias abundantes e
desconexas).

• Podem surgir também idéias fantasiosas e de grandeza como, por exemplo, a de possuir
poderes mágicos ou de certeza de que será bilionário (Carlson, 1990; Craney & Geller,
2003).
• Os comportamentos mais extravagantes e a hipersexualização são muito mais
evidentes na adolescência, enquanto a irritabilidade e a labilidade emocional
ocorrem mais freqüentemente em crianças abaixo dos nove anos.

• Euforia, exaltação, paranóia e delírios de grandeza são relatados com maior


freqüência em crianças maiores.

• A diminuição do sono aparece também como sintoma significante em todas as


idades (Carlson, 1990; Craney & Geller, 2003).

• A fim de detectar precisamente a ocorrência do TBH em crianças e adolescentes


tornou-se necessário estabelecer critérios que diferenciassem esse transtorno de
outras desordens neuropsiquiátricas..
• Especialmente o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)
tem sido estudado tanto como comorbidade quanto diagnóstico diferencial
em relação ao TBH.

• A segunda pergunta sobre o TBH é a respeito da comorbidade com TDAH.

• O questionamento parece ser: os sintomas do TBH são condições


secundárias ao próprio diagnóstico de TDAH? A dúvida se dá porque, de
acordo com os critérios do DSM-IV-TR (APA, 2002), três sintomas estão em
sobreposição: distratibilidade, agitação motora e fala em demasia.
• Os estudos que tentam responder a esta questão parecem encontrar
dificuldades metodológicas, especialmente em relação à validade do
diagnóstico de TBH em crianças. Apesar disso, aqueles que se
empenharam nessa proposta aplicaram-se, basicamente, em
reconhecer a intensidade dos sintomas sobrepostos e diferenciais em
cada um dos problemas.

• Na distinção entre TBH e TDAH, alguns sintomas aparecem como


diferenciais: euforia ou humor expansivo, grandiosidade, fuga de
idéias, hiper-sexualidade e necessidade reduzida de sono
• Os mesmos estudos confirmam, como era esperado, que os sintomas de
irritabilidade, agitação motora e a fala em demasia eram pouco específicos para
diferenciar os dois quadros.

• Desta forma, o comportamento agressivo que, na maioria das vezes, está aliado à
irritabilidade, também não pode ser considerado aspecto diferencial entre os dois
transtornos.

• Além disso, crianças com TBH apresentam maior comprometimento de humor e


suas atividades tendem a ser mais direcionadas do que crianças somente com
TDAH.
• A ocorrência de sintomas psicóticos em alguns casos de (hipo)mania e ausentes
nos casos de TDAH também parece auxiliar nessa distinção (Fu-I, 1996).
• Para facilitar a diferenciação entre os dois transtornos faz-se
necessário, ainda, que se conheçam as características do TDAH, seus
critérios diagnósticos, bem como, os fatores precipitantes do
comportamento agressivo.

Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e
comportamento agressivo
• O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é caracterizado
pela seguinte tríade de sintomas: desatenção, hiperatividade e
impulsividade.

• Os sintomas de desatenção são descritos pelo DSM-IV-TR (APA, 2002)


através de características como dificuldades de prestar atenção a detalhes
ou cometer erros por descuido; dificuldades para manter a atenção em
tarefas ou atividades lúdicas; não escutar quando lhe dirigem a palavra;
não seguir instruções e não terminar deveres escolares, tarefas domésticas
ou deveres profissionais; dificuldades para organizar tarefas e atividades;
evitar ou relutar para envolver-se em tarefas que exijam esforço mental
constante; perder coisas necessárias para tarefas ou atividades; distrair-se
facilmente por estímulos alheios à tarefa; e apresentar esquecimento em
atividades diárias.
• Os sintomas de hiperatividade resumem-se à agitação das mãos ou os pés;
abandonar a cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se
espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em
situações nas quais isto é inapropriado; dificuldades para brincar ou se
envolver silenciosamente em atividades de lazer, estar “a mil” ou muitas
vezes age como se estivesse “a todo vapor”; e falar em demasia.

• A impulsividade é caracterizada pelas seguintes características: dar


respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
dificuldade para aguardar sua vez; interromper ou intrometer-se em
assuntos de outros.
• O DSM-IV-TR (APA, 2002) ainda divide o TDAH em três subtipos:
predominantemente desatento, em que predominam os sintomas da desatenção
(seis ou mais deles), predominantemente hiperativo/impulsivo, destacando-se os
sintomas de hiperatividade e impulsividade; e o subtipo combinado, onde estão
presentes, pelo menos, seis dos sintomas da desatenção e mais seis dos sintomas
de hiperatividade/impulsividade.

• Em muitas ocasiões, as crianças portadoras de TDAH são qualificadas como


agressivas.

• Na maioria delas, as causas das condutas agressivas são a hiperatividade e a


impulsividade. Isso nos leva a concluir que, muitas vezes, os comportamentos
considerados como agressivos, podem não ser intencionais, ou seja, podem ser
frutos de condutas hiperativas ou impulsivas.
• Na tentativa de diferenciar tais comportamentos, Orjales (2001) apresenta,
em um dos seus trabalhos, as características das condutas hiperativas em
contraste às condutas agressivas.

• Tropeçar nos companheiros que estão numa fila, por exemplo, pode se
apresentar como conseqüência da hiperatividade, o que se diferencia do
comportamento de empurrar esses companheiros para chegar primeiro.

• Analogamente, não fazer os deveres porque a criança corre pela casa,


diferencia-se da conduta socialmente agressiva de negação e desafio aos
pais quando estes pedem para que se faça a tarefa.
• Barkley (2002) concorda que TDAH não é sinônimo de conduta
agressiva e que a presença desse tipo de comportamento está mais
vinculada às condutas parentais do que necessariamente ao
transtorno.

• Pais de crianças TDAH com comportamentos agressivos


apresentavam maiores índices de problemas psiquiátricos, do que
pais de crianças sem manifestações de agressividade. Isso significa
que, famílias com membros em desajuste psicológico podem
propiciar o aparecimento de comportamentos agressivos e até anti-
sociais em crianças portadoras de TDAH.
• Em um de seus estudos, o mesmo autor dividiu a amostra em dois grupos: crianças com
TDAH (subdivididas em crianças com e sem comportamento agressivo) e crianças
normais, fazendo com que cada uma delas interagissem com seus pais.

• Os resultados apontaram que as interações de crianças TDAH não-agressivas com suas


famílias eram bastante parecidas com as de crianças normais. Em contrapartida, no
grupo TDAH agressivo, as interações eram mais negativas, com a presença de insultos e
respostas impertinentes uns contra os outros.
• Além do fator familiar, outros estudos têm apontado que a agressividade pode surgir
como conseqüência dos próprios sintomas do TDAH (Goldstein & Goldstein, 1992).

• Essas crianças e adolescentes são impulsivos e pouco capazes de cooperar e dividir com
seus pares (Barkley, 2002), tornando-se pouco populares, rejeitados e isolados pelos
colegas, aumentando assim, a probabilidade de se engajarem em comportamentos anti-
sociais (Del Prette & Del Prette, 2005).
• Dessa forma, o comportamento agressivo parece não ser
característica essencial do TDAH, aparecendo muito mais em função
de comorbidades com Transtorno de Conduta e o Transtorno
Opositivo Desafiador.

Comportamento agressivo e Transtornos de
Conduta
• O comportamento agressivo e as condutas anti-sociais costumam estar profundamente
relacionados. Para traçarmos tal relação é necessário definir o comportamento anti-social.

• Ao longo dos anos, as condutas anti-sociais receberam uma série de nomes, incluindo os de
delinqüência, comportamentos exteriorizados e problemas de comportamento.

• Atualmente, a definição de comportamento anti-social compreende qualquer conduta que reflita


a violação das regras sociais ou atos contra os outros, incluindo comportamentos como roubo,
mentiras, vandalismo e fugas. A expressão agressiva é justamente aquela que invade o direito
alheio, não respeitando os limites de convivência em sociedade.

• Deste modo, pode-se sugerir que uma criança que apresenta comportamentos agressivos,
tenderá, com maior probabilidade, a evoluir para práticas anti-sociais (Gross & Koch, 2005).
• É importante ressaltar que crianças e adolescentes podem apresentar
comportamentos agressivos, desafiadores e anti-sociais ao longo do
desenvolvimento considerado normal, especialmente em idades pré-
escolares e na adolescência.

• Eles poderão brigar com os irmãos ou com os pares, fazer birras, ou


quebrar brinquedos e objetos em geral. Mas o que caracteriza um
comportamento anti-social?

• O que parece descrever a patologia do comportamento anti-social é a


existência de um padrão consistente dessas condutas e o grau de prejuízo
que elas causam aos demais e à sociedade em geral (Bee, 2003; APA,
2002).
• Os principais transtornos envolvidos com a expressão de comportamentos anti-
sociais ou desafiadores são o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e o
Transtorno de Conduta (TC). O TOD caracteriza-se especialmente pela presença
de condutas de oposição, desobediência e desafio.

• Os comportamentos opositivos e desobedientes podem ser “passivos”, uma vez


que a criança pode não responder ao pedido, mas pode apenas permanecer
inativa.

• Os comportamentos desafiadores, ao contrário, incluem verbalizações negativas,


hostilidade e resistência física que podem ocorrer junto com a desobediência
(Luiselle, 2005).
• ).
• O diagnóstico de TOD tem sido um preceptor importante para a evolução do
problema ao Transtorno de Conduta, sugerindo que haja um contínuo entre estas
duas patologias.

• As condutas das crianças com TOD são menos severas do que aquelas
apresentadas no TC.

• Além disso, elas não incluem agressão a pessoas ou animais, destruição de


propriedades ou um padrão de furto ou defraudação.

• O Transtorno Opositivo Desafiador em geral se manifesta antes dos oito anos de


idade e tem pouca probabilidade de se iniciar depois do início da adolescência.
• Os sinais opositivos freqüentemente emergem no contexto doméstico, mas é comum
estender-se a outras situações (APA, 2002

• Em geral, os aspectos do TOD estão presentes no TC, e não se faz o diagnóstico de TOD
se são satisfeitos os critérios para TC.

• Isso significa dizer que o Transtorno de Conduta é um quadro mais amplo e mais
complexo que o TOD (APA, 2002).

• O curso do TC é estimado segundo uma série de fatores. Crianças que iniciaram


precocemente (antes dos seis anos) os sinais de comportamento desafiador
(provavelmente aquelas que receberam o diagnóstico de TOD durante a infância)
tenderam, em maior probabilidade, a expressarem comportamentos anti-sociais na vida
adulta.
• Além disso, a amplitude do comportamento desviado é relevante:
crianças que apresentam esse tipo de conduta em casa e na escola
tendem a correr maior risco (Webster-Stratton & Hebert, 1994).

• Um terceiro fator diz respeito às características de freqüência,


intensidade e diversidade dos comportamentos anti-sociais.

• Quanto maior o número, a gravidade e a complexidade dos atos,


maior é a chance do Transtorno evoluir para a idade adulta (Robbins,
Tipp & Przybeck, 1991).
• Finalmente, o papel da família e de suas características sugere que
quanto mais a família apresenta condutas anti-sociais ou agressivas
pior é o prognóstico da criança na vida adulta (Kazdin, 1995).
TBH, TDAH e Transtornos de Conduta: qual a
relação?
• Uma vez analisadas as características do TBH, do TDAH e dos Transtornos de
Conduta (TC e TOD), pode sugerir-se que, entre os pontos comuns entre eles,
está a presença do comportamento agressivo. Além deste, uma série de outros
sintomas são partilhados entre eles.

• A partir desses pontos comuns, surge a indagação: os transtornos em questão


seria parte de um mesmo fenótipo? Em virtude dessa dúvida, alguns estudos têm
se proposto a investigar os referidos transtornos a fim de obterem dados que
ajudem a entender a relação entre eles.

• Apesar de considerarem a possibilidade do diagnóstico diferencial entre tais


transtornos, alguns estudos sugerem que a equação TBH + TDAH + Transtornos
de Conduta pode formar uma entidade diagnóstica com fenótipo específico
• . Alguns estudos parecem sustentar essa hipótese através da
afirmação que, na base dessa relação, estariam condições
hereditárias. O estudo de Faraone, Biederman, Menin e Russel
(1998), por exemplo, concedeu suporte para a sugestão de que os
referidos transtornos podem ser diferentes manifestações de uma
mesma condição familiar.

• Os resultados da investigação de Coolidge, Thede e Young (2000) com


gêmeos apontam, ainda, que o TDAH divide grande carga genética
com os transtornos de conduta.
Agressividade infantil

• Nos primeiros anos de vida, por não dominar os recursos da linguagem e,


consequentemente, não conseguir exprimir verbalmente as suas
contrariedades, a criança expressa a sua agressividade através de gritos,
choro ou até com agressões físicas.

• origem do fenómeno é possível encontrar estratégias para o alterar.

• Entre psicólogos, a resposta a esta questão tem gerado controvérsia, uma


vez que, enquanto algumas correntes se apoiam no pressuposto de que a
agressividade é largamente herdada, outras defendem que a agressividade
é o produto da influência do meio.
• Colocando de lado estas questões polémicas sabe-se que o
comportamento é o resultado de múltiplos fatores e talvez a
conclusão mais correta seja que a agressividade é o resultado de
fatores genéticos, em interação com o meio, num contexto temporal
específico.

• Ao longo do processo de desenvolvimento da criança, há tendências


agressivas inatas que emergem, embora estas possam ser diferentes,
consoante a criança em questão
• . Nos primeiros anos de vida, por não dominar os recursos da
linguagem e, consequentemente, não conseguir exprimir
verbalmente as suas contrariedades, a criança expressa a sua
agressividade através de gritos, choro ou até com agressões físicas.

• Nesta fase, a agressividade é essencialmente manipulativa, porque o


seu objetivo é alcançar determinados fins, por exemplo, ganhar um
brinquedo ou defender-se. Este comportamento é a forma que a
criança encontra para controlar o ambiente, ou seja, é a forma mais
eficaz para satisfazer as suas necessidades.
• Com a passagem do tempo, a agressividade não desaparece. No entanto, a
criança aprende com os adultos que existem outras formas de obter o que se
deseja, nomeadamente através da partilha e da negociação.

• Vários estudos mostraram que, quando as condutas agressivas persistem com o


tempo, isso se deve essencialmente às interações familiares e ao ambiente social.

• Podem ser enumeradas várias 'condutas de risco' da parte dos pais, que podem
potenciar o desenvolvimento de padrões comportamentais agressivos nos filhos.

• Uma dessas condutas é a inconsistência no estabelecimento de limites.


• Quando um comportamento é punido num determinado momento e
ignorado no momento seguinte, a criança vai ficar confusa, tornando-
se difícil para ela distinguir o certo do errado.

• Por esta razão, é fundamental os pais definirem claramente o que a


criança pode ou não fazer e serem coerentes quando for necessário
castigá-la.
• A violência doméstica é outra aliada da agressividade, uma vez que
crianças que assistem a cenas de violência em casa ou são elas
próprias vítimas de violência aprendem que esta é uma forma
'normal' e aceitável de lidar com a raiva e a frustração
• . Famílias bem estruturadas e atentas tendem a ter filhos menos
agressivos. Estimular os filhos a resolver os conflitos recorrendo a
comportamentos agressivos pode também ser considerada uma
'conduta de risco'.
• A escola pode também contribuir para aumentar consideravelmente a
agressividade. Professores excessivamente autoritários e ambientes
marcados pela rivalidade e competição podem também potenciar o
aparecimento de padrões comportamentais agressivos.
• Para além de tudo o que já foi referido é fundamental ter consciência
que a agressividade, quando bem doseada, é saudável.

• Quando as crianças são demasiado passivas é sinal que guardam tudo


para elas e que reprimem sentimentos e mágoas, o que também é
preocupante.

• Por esta razão, o grande desafio que se coloca aos pais na educação
dos filhos é ajudá-los a aprender a defenderem-se, mas sem
ultrapassarem determinados limites!

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