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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


NÚCLEO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

Hermenêutica dos Textos Sagrados


Prof.: Msc. José Antonio S. de Oliveira

2019.2

ALPINE SKI HOUSE


As Ciências da Religião e o Estudo
dos “Textos Sagrados”.

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1. INTRODUÇÃO

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1. INTRODUÇÃO

A Ciência da Religião começa a se estruturar, na No decorrer do século XX, a Ciência da


segunda metade do século XIX e início do Religião foi se consolidando como uma
XX, como uma ciência do texto; naquele momento,
disciplina empírica, de base histórica, ou
fortemente vinculada à Filologia, ao realizar a
tradução, para as línguas ocidentais, de textos sócio-histórica, e o trabalho com os textos
fundamentais das tradições orientais, tais como o foi sendo considerado uma atividade que
Hinduísmo, Budismo, Taoísmo, Confucionismo. corresponderia mais adequadamente a
Sendo a coletânea em 50 volumes intitulada Teologia (cf. VASCONCELLOS, 2013,p. 469-
Sacred Books of the East, organizada por Max Muller 170).
(1823 – 1900) , um dos mais significativos exemplos
desse empenho inicial (cf. USARSKI, 2013, p. 56-57).

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1. INTRODUÇÃO

O que é a linguagem ?
A linguagem, em geral, e a linguagem dos textos
religiosos, especificamente, podem, sim, contribuir
para uma melhor compreensão, por parte do
estudante e do pesquisador do desenvolvimento
dos diferentes fenômenos religiosos, tendo como
pressuposto que a história das religiões se Algumas questões são colocadas:
enriquece também no dialogo com as fontes
escritas das tradições religiosas - as quais também
possuem uma história, que caminha ,por vezes, em
relação de influência mútua com a história social
das religiões.
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1. INTRODUÇÃO

De que maneira os textos religiosos Quais são as condições que permitem a


contribuíram (e ainda contribuem) para a um texto ou conjunto de textos serem
construção, o registro e a organização do considerados "sagrados", ou seja, serem
pensamento religioso? admitidos, dentro de uma tradição
religiosa, como a expressão da relação
De que maneira o texto religioso influencia dessa comunidade com uma realidade
a experiência religiosa concreta e é por ela transcendente (ou serem considerados
influenciada? a própria palavra da divindade, como
em algumas interpretações encontradas
no Cristianismo e no Islã)?
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1. INTRODUÇÃO

Aqueles que são elaborados dentro de


uma determinada tradição religiosa, e
são, na perspectiva dos sujeitos e
Como definir, então, comunidades (e, também, das
instituições religiosas), admitidos como
“TEXTOS SAGRADOS”? a expressão da experiência dessa
comunidade em relação ao
transcendente.

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2. DEFININDO
“ TEXTOS SAGRADOS”

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Hock (2010, p. 41-43), ao tratar das fontes escritas da Historia da Religião, coloca como
fontes primárias as "escrituras sagradas" e os "documentos histórico-religiosos". Estes
últimos incluem documentos que podem ser considerados oficiais dentro de uma
tradição, como certidões ou atas de batismo, textos jurídico-religiosos, textos pessoais de
fieis, como cartas, ou ainda, textos elaborados por autores externos a tradição referida,
como os registros dos colonizadores europeus em localidades da África, América e Ásia,
sobre as praticas religiosas das populações submetidas. São os primeiros, as "escrituras“
ou "textos sagrados“ que nos ocupam aqui. Estes, segundo o autor, podem ser divididos
em três subcategorias: primeira, segunda e terceira classe.

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Textos que são admitidos em suas


Primeira Classe respectivas tradições como expressão
de uma revelação.

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Incluem, entre exemplos possíveis, compilações e


interpretações como a Tosefta ou o Midrash, no
Segunda Classe judaísmo, ou o Hadith, no islamismo. Pode-se dizer que,
embora admitidas como elaboração humana, mantêm
uma relação próxima com os textos tidos como revelados
ou sagrados.

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Incluem comentários e interpretações dos escritos de


primeira categoria, os quais podem ter variada importância

Terceira Classe dependendo da tradição religiosa em que se encontram ou


mesmo da época. Incluem comentários teológicos,
hagiografias. Nessa categoria, incluem-se também escritos
religiosos de caráter poético ou confessional, que expressam
convicções religiosas pessoais ou de uma comunidade.

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

A diferenciação interna entre "escrituras sagradas" não e algo rígido nem tampouco
definitivo. Os exemplos elencados por Hock (2010) mostram como podem ser porosas as
classificações das escrituras religiosas. Essa diferenciação pode variar de acordo com a
tradição a qual o pesquisador ou estudante se dirige, e pode ser objeto de discussão
dentro de cada tradição ou comunidade religiosa; assim como sua definição e
redefiniçao esta sujeita as transformações históricas, sociais e epistêmicas.

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Usaremos a expressão “Textos Sagrados", deixando claro que o


adjetivo "sagrado" considera a auto compreensão do sujeito ou da
comunidade ou ainda da instituição religiosa a respeito da sua
própria experiência ou tradição, mediada por aquele texto.

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Mais questões são postas:


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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

Quais são os critérios que permitem reconhecer um texto, ou um conjunto de textos, como
"escrituras sagradas", ou "textos sagrados"?

Quais são os procedimentos que permitem a uma determinada tradição religiosa identificar
um conjunto de textos como canônicos, ou seja, referenciais, e, a partir daí, o que acontece a
esses textos?

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2. DEFININDO “ TEXTOS SAGRADOS”

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3. RELIGIÃO COMO TEXTO

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3. RELIGIÃO COMO TEXTO

Nogueira (2012), propõe uma compreensão da religião como texto, desde uma
abordagem semiótica, retoma a questão, apontando importantes
consequências para a atividade do cientista da religião. O autor apresenta uma
concepção de texto bastante distinta da compreensão usual nos estudos sobre
escrituras religiosas. Ha uma ampliação do conceito de texto, que tende a ser
visto em suas articulações sociais e históricas, e não de maneira isolada.

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3. RELIGIÃO COMO TEXTO

Considerar o conceito semiótico de texto pode ter efeitos muito dinâmicos


para os estudos de religião. Na perspectiva tradicional há várias formas de
segmentar este campo de estudos. A mais comum é a de classificar os textos
como canônicos ou não canônicos, ou seja, como sendo de dentro ou de fora
da cultura. Isso pode ser traduzido em diferentes oposições: ortodoxo versus
herético (nos casos mais extremos), ou de maior historicidade versus de pouca
ou nenhuma historicidade (em praticas acadêmicas contemporâneas).

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3. RELIGIÃO COMO TEXTO

Os textos que hoje chamamos de canônicos, já passaram por processos de


tradução por meio dos textos que convencionamos chamar de apócrifos. Ou
seja, os gêneros (evangelhos, atas, apocalipses) sofreram interferências
sincréticas de gêneros helenísticos (viagem aos infernos, combate entre
magos) e de temas folclóricos (os milagres deixam a discrição da tradição
judaica para se tornarem mais fantásticos e exibicionistas).

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3. RELIGIÃO COMO TEXTO

Um estudioso preocupado tão somente com tradições originárias, mais antigas, pode se
sentir pouco interessado no estudo da literatura apócrifa. Mas, para um cientista da religião
interessado em aumento de informação (diga-se, informação histórica da cultural), em
inserção de enredos, temas, personagens, em narrativas que traduzem os textos bíblicos do
passado para novas gerações (no caso, do Novo Testamento), os apócrifos se tornarão
imprescindíveis para o estudo do próprio Novo Testamento (NOGUEIRA, 2012, p. 26).

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3. RELIGIÃO COMO TEXTO

O estudante e o cientista da religião devem manter-se atentos ao leque de interpretações


propiciadas pelos diferentes textos que compõem a esfera das tradições religiosas, e não apenas
aqueles textos admitidos institucionalmente como canônicos. Os textos religiosos, as escrituras e
as leituras que delas vão sendo construídas e reconstruídas, em diálogo com a história e a
sociedade, constituem um acervo permanentemente a disposição do estudante e/ou
pesquisador; a historia dos textos, de seus processos de elaboração e de recepção, trazem
importantes elementos para a compreensão dos desenvolvimentos das dinâmicas
sociorreligiosas, assim como essa historia também e influenciada por essas dinâmicas.

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES
DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Quais são os processos que levam uma tradição religiosa a elaborar de um cânone?

Partindo das tradições judaico-cristãs, e a partir dai dirigindo a reflexão a outros


contextos religiosos, entende-se que a formação do cânone e uma resposta a
conflitos que podem ser de natureza interna (disputas no interior do grupo religioso)
ou externa (disputas com outros grupos religiosos).

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Vasconcellos aponta mais uma importante tarefa que o trabalho com as escrituras religiosas
apresenta ao cientista da religião. Trata-se de elucidar a gênese desses processos por meio dos
quais os textos são unificados e estabelecidos, trazendo a tona disputas de poder e conflitos
muitas vezes negligenciados ou esquecidos, em favor da unidade do grupo religioso. A partir daí
considera que, tão importante quanto conhecer os processos por meio dos quais as tradições
religiosas estabelecem seus cânones, e "estabelecer os processos sócio históricos e culturais que
interferiram na configuração dos textos, desde as dinâmicas da transmissão oral ate o papel dos
redatores 'finais' (VASCONCELLOS, 2012, p. 145). No decorrer da Modernidade, as escrituras
judaicas e cristas foram submetidas a analises rigorosas sob seus diversos aspectos (literários,
textual, sociais, históricos, etc.), mediante um procedimento exegético que ficou conhecido como
"método histórico-crítico".

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

O método histórico-crítico caracteriza-se por trabalhar com fontes


históricas milenares, procurando analisar seu desenvolvimento, as
diversas etapas e transformações sofridas até que o texto alcançasse
sua forma presente, interessando-se, principalmente, por
compreender as condições históricas de produção dessas fontes nos
diferentes contextos. Seu aspecto crítico consiste na emissão de juízos
sobre essas mesmas fontes.

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Em seu início, ligado à Reforma Protestante, o método confronta a


interpretação alegórica da Bíblia, característica da Idade Média, em
favor de uma leitura que recupere seu sentido literal, assim como a
dependência e das interpretações em relação a tradição eclesiástica. A
ênfase na literalidade permitiu explicitar as contradições entre
diferentes textos, e trouxe a necessidade de se compreender suas
divergências, olhando para sua história (WEGNER, 1998,p. 17-18).

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Sob a influência do iluminismo, há uma crescente critica aos aspectos dogmáticos e a


procura de uma leitura o mais possível cientifica dos textos bíblicos. Para Wigner, as
grandes contribuições do método histórico-crítico estão na elaboração de uma
metodologia cientifica aplicada aos textos bíblicos (e, por extensão, a compreensão
dos textos em geral), na permissão em estudar as aproximações e as inovações do
Cristianismo em relação as demais religiões encontradas na época de seu surgimento
e na superarão da ideia da homogeneidade das primeiras comunidades cristas,
permitindo revelar sua diversidade de pensamento e conduta (WEGNER, 1998, p. 18-
19).

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

4.1. Contribuições do método histórico-crítico


- O cuidado em relação ao fechamento em postulados doutrinários fechados;

- Evitar falsas harmonizações, que homogeneizariam tensões e conflitos presentes no Cristianismo


nascente;

- Contribuir para revelar o aspecto humano dos autores bíblicos;

- auxiliar a compreender a Bíblia como expressão de fé, mas também como produto das condições
históricas de sua elaboração.

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

O cientista da religião, ao lidar com os textos sagrados, realiza um percurso de certa


maneira inverso aquele proposto pela tradição religiosa. Enquanto esta atua ou atuou
no sentido de preservar os seus textos dos efeitos do tempo e da história, procurando
apresentá-los como a-históricos e atemporais, portanto perenes e plenos de sentido,
remover-lhes as contradições inerentes a própria tradição em seu desenvolvimento,
apresentando-os como uma síntese aparentemente perfeita e isenta de tensões e
conflitos, desconsiderando os textos considerados apócrifos que foram omitidos do
cânone final em um processo teológico-politico, o cientista da religião, por sua vez,
assume a tarefa de reconduzir o texto a sua historicidade.

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Dirige-se ao texto não como objeto de veneração, ou de uma


interpretação pautada pelo estatuto da fé, mas indagando-o como
uma das muitas testemunhas do desenvolvimento histórico das
religiões - sendo o texto também resultado desse desenvolvimento,
assim como pode ser, por vezes, seu protagonista. Diante dessa
perspectiva histórica, os textos apócrifos são também objeto de sua
análise, sem que se assuma uma hierarquia a priori.

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Mostra-se fundamental para a análise reconhecer que, para as tradições


investigadas e os sujeitos e grupos que vivenciam essas tradições, esses textos são
objetos de veneração. Podem ser objeto de estudo, crítica, podem ser
instrumentalizados em função de interesses políticos, mas são objetos de fé, que
conduzem o pensar e o agir dos sujeitos religiosos.
Ignorar esse aspecto seria negligenciar o significado desses textos como
constituintes de suas tradições.

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

Por que alguns textos foram rejeitados por determinada tradição e


outros foram assumidos como expressão legitima de sua experiência?

Como os cânones e como cada texto singular foram elaborados e, muitas


vezes, reelaborados?

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4. A FORMAÇÃO DOS CÂNONES DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

O cientista da religião procura trazer para o debate também as diferentes


tendências interpretativas, procurando compreender como um texto
religioso, individualmente ou em conjunto, foi interpretado em um
determinado momento histórico ou quais as interpretações que dele se
realizam no presente, e quais as implicações dessas transformações
hermenêuticas para a própria tradição religiosa em questão. Ao fazê-lo, traz
para o primeiro plano os conflitos e tensões que a tradição religiosa pode
ter procurado omitir ou ao menos minimizar.

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E
INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS
SAGRADOS

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

Os múltiplos desenvolvimentos das interpretações


que as tradições religiosas fazem dos textos tidos
por elas, como referenciais ou sagrados,
constituem-se, para o cientista da religião, como
uma importante fonte de pesquisa.
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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5. 1. O Alcorão

Com a revelarão divina transmitida pelo anjo Gabriel a Maomé, o Alcorão e


compreendido como a continuidade das revelações feitas a judeus e cristãos.
A revelarão foi sendo feita a Maomé no decorrer de mais de vinte anos.
Paralelamente, constitui-se uma tradição oral, alimentada por aqueles que
conviveram com o profeta, ouviram e repetiram suas palavras. Após a morte
de Maomé, os primeiros califas, seus sucessores, assumiram a incumbência
de organizar o texto sagrado.

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5. 1. O Alcorão

O Alcorão tornou-se para os muçulmanos referenda central na conduta ética. Tornou-


se, também, referência política e jurídica, sendo objeto de diferentes, e, muitas vezes,
conflitantes interpretações. A tentativa de se encontrar uma interpretação adequada
da mensagem sagrada deu origem ao katam - a teologia. Uma teologia que, em suas
origens, era fortemente marcada pela oralidade, e tem como fonte a cultura cristã,
apenas tardiamente recebendo a influência grega (ATTIE FILHO, 2002, p. 123-128). Os
diferentes modos de interpretar o Alcorão encontram-se na base das duas principais
correntes em que o Islã divide-se em xiita e sunita.

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5. 1. O Alcorão
Essas duas tendências interpretativas continuam a ser referencias importantes para
milhões de muçulmanos até o presente. Um aspecto importante a ressaltar e a maneira
como a revelação no Islã e pensada como continuidade das revelações feitas a judeus e
cristãos. Aspecto que pode colaborar não para uma visão homogeneizante, que tenda a
apagar equivocadamente as diferenças entre cada religião (e mesmo a diversidade
presente nas interpretações de uma mesma religião), mas para uma leitura sensível aos
pontos de contato, e, portanto, as possibilidades de diálogo entre as diferentes tradições
religiosas.

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.2. A interpretação Fundamentalista Cristã


No decorrer do séc. XX e início do século XXI diversas tendências religiosas
passaram a ser apelidadas, inclusive nas diferentes mídias, de
"fundamentalistas", por se entender que essas tendências se
caracterizariam por uma intolerância em relação a outros pontos de vista
religiosos. O termo atualmente é empregado para se referir não apenas a
grupos religiosos cristãos, como em sua origem, mas a grupos presentes
em diferentes tradições religiosas que apresentem tais características.

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.2. A interpretação Fundamentalista Cristã

Situando contextualmente, trata-se da resposta que grupos religiosos


protestantes conservadores norte-americanos procuraram oferecer a, de
um lado, uma visão de mundo tecnológico-científica moderna que
começava a despontar como hegemônica, e parecia condenar a religião a
um lugar secundário na sociedade; de outro, ou ainda,
concomitantemente, as tendências protestantes liberais, que procurando
adequar-se a Modernidade (cf. VASCONCELLOS, 2008,p.19-25).
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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.2. A interpretação Fundamentalista Cristã

A partir daí, surgiram diferentes institutos bíblicos que se


contrapunham as instituições onde se oferecia um
ensinamento da Bíblia desenvolvido a partir das
concepções filosóficas modernas.
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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.2. A interpretação Fundamentalista Cristã

E possível dizer que o fundamentalismo, em suas origens e


pretensões, constitui-se em uma resposta religiosa as
transformações e aos desafios impostos pela Modernidade.
Não deixa de ser uma recepção, ainda que negativa, da
própria Modernidade. O texto sagrado é reassumido em sua
literalidade, compreendido como expressão concreta da
revelação divina.
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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.2. A interpretação Fundamentalista Cristã


Pensando na contextualização de textos redigidos em diferentes épocas, e
que passaram por um longo processo de "edição'' até alcançarem seu
"formato'‘ atual; as diferentes possibilidades de tradução e suas implicações
para uma leitura que se pretenda fiel ao seu sentido original; a dificuldade
que esse paradigma interpretativo coloca para o desafio do diálogo religioso,
seja em relação as concepções religiosas dentro do espectro do cristianismo,
seja em relação as tradições religiosas não cristas.
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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.3. A Presença do Texto no Espiritismo Kardecista


O Espiritismo tem, na publicação de O livro dos espíritos
(França, 1857), o seu ato fundador. Diferentemente de outras
tradições religiosas em que, apos longos períodos de elaboração oral, passa-
se ao registro escrito dessa tradição, o Espiritismo nasce em um contexto de
escrita. Surge no contexto da modernidade letrada.

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5. TRADIÇÕES RELIGIOSAS E INTERPRETAÇÕES DOS TEXTOS SAGRADOS

5.3. A Presença do Texto no Espiritismo Kardecista


Se, por um lado, o Espiritismo e receptivo a tradição cristã, interpretando-a
(por exemplo, no Evangelho segundo o Espiritismo), e também produto da
mentalidade cientifica característica da época de seu surgimento.
O Espiritismo propõe uma síntese entre a moral de base cristã e uma
mentalidade científica.

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MUITO
OBRIGADO

ALPINE SKI HOUSE

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