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O sincretismo Congresso

passivo-reflexivo
UFBA 2018
Universidade Federal da Bahia

OCORRÊNCIAS DE-OBJETIVAIS DE MARCAS


REFLEXIVAS

Pesquisador: Leonardo Santos Pereira


Orientador: Prof. Dr. João Paulo Lazzarini Cyrino

Salvador - BA
Outubro de 2018
INTRODUÇÃO
O sincretismo passivo-reflexivo
É comum entre as línguas que marcas reflexivas ocorram em uma série de contextos de
redução de valência, como passivas e anticausativas. Esses contextos todos envolvem a redução do
argumento externo dos verbos. Entretanto, em algumas línguas, como as bálticas e as eslavas, há
ocorrência dessas marcas em contextos de redução do argumento interno. Esse tipo de ocorrência
desafia as análises atuais acerca do sincretismo passivo-reflexivo/médio-passivo, uma vez que essas
análises requerem que haja redução do agente dos eventos. Este trabalho visa investigar essas
construções de-objetivais com marcas reflexivas, presentes em outras línguas eslavas, a fim de se
desenhar uma análise mais abrangente do sincretismo passivo-reflexivo.
METODOLOGIA
O sincretismo passivo-reflexivo
Levantamento e descrição dos dados

• Coleta de dados a partir de sentenças disponíveis em textos/online


• Utilização de pesquisa bibliográfica teórica relevante
• Aplicação de questionários e fazer entrevistas online com falantes nativos
de russo
• Análise de exemplos com ajuda do Dicionário Compacto Russo – Inglês de
Oxford
• Levantamento das hipóteses iniciais
O sincretismoOBJETIVOS
passivo-reflexivo
Descrever as construções deobjetivais presentes nas línguas eslávicas, levando em conta seus
aspectos sintáticos e semânticos.
- Compreender a função da marca reflexiva nessas línguas.
- Elaborar hipóteses sobre quais fatores engatilham a distribuição da marca reflexiva nos contextos
de-objetivais.
- Propor linhas de análise para que se alcance uma explicação uniforme para as ocorrências das
marcas reflexivas em seus diversos contextos.
MARCADORES
O sincretismo REFLEXIVOS
passivo-reflexivo
Na língua russa, o marcador reflexivo é o “-сь / -ся” (-s’ / -sja)
-сь usado após uma vogal e -ся usado após uma consoante
MARCADORES
O sincretismo REFLEXIVOS
passivo-reflexivo
RUSSO
Ya ne ulybayu -s’
PRO NEG sorrir-1SG - RM
“Eu não sorrio”

Loshad ne tolkat -sya


Cavalo-NOM-SG NEG empurrar-1SG -RM
O sincretismo passivo-reflexivo
EVENTO TRANSITIVO

EVENTO REFLEXIVO

EVENTO MÉDIO

Adaptado de LAZZARINI-CYRINO (2015, p.22)


O sincretismoEXEMPLOS
passivo-reflexivo
ATIVA PASSIVA MÉDIA REFLEXIVA ANTICAUSATIVA

Ayer compré Die Tür Tu te lèves Widzę siebie Steklo


pan wurde geöffnet w lustrze razbilo - s’

Ontem comprar-1SG A porta-NOM Você MR levantar-3SG Ver-1SG MR Vidro-NOM


pão-ACC ser-3SG abrir-PART. em espelho-LOC quebrar-3SG MR
PASS.

“Ontem comprei pão” “A porta foi aberta“ “Você se levanta” “Vejo a mim mesmo “O vidro quebrou “
no espelho“
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo
Geniusiene (1987) faz um apanhado de construções que considera excluídas das vozes, que são
bastante produtivas em idiomas bálticos e eslávicos. Dentre elas, há uma estrutura chamada pela
autora de “reflexiva absoluta”. É importante lembrar que a autora usa o termo “reflexivo” para
designar o verbo que possui o marcador reflexivo, tenha este o valor reflexivo ou médio. No
entanto, tal construção não pode ser considerada reflexiva, uma vez que o agente e o paciente não
são correferentes. Esse tipo peculiar de construção é bastante produtivo nas línguas bálticas, mas a
autora também apresenta exemplos em russo, língua que terá enfoque nesta pesquisa.

Lituano Russo
Berniuk-as muša vaik -us Ne žžët krapiva ruki?
menino-NOM bate criança-ACC. PL. Não queima urtiga-NOM mão-ACC. PL.
“O menino bate nas crianças” “Urtiga não queima as mãos?”

Berniuk-as muša-si Krapiva zhzhët - sya


menino-NOM bate-RM urtiga queima-RM
“O menino briga” / “O menino é belicoso” “A urtiga queima”
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo
LAZZARINI-CYRINO (2015) demonstra que para as línguas bálticas e eslávicas orientais, que contém
a RM são afixos, a estrutura pode ocorrer com dois tipos de sujeito: animal e humano. No entanto,
como podemos ver no exemplo de žeč’, o sujeito é um vegetal. Já em outras línguas eslavas, cujos
RM são clíticos, admite-se apenas sujeitos humanos.

Polonês
Czemu konie kopią?
por que cavalo-NOM-PL chutar-3PL.
“Por que os cavalos dão coice?”

Búlgaro
Toj se buta
Ele RM empurra
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo
Russo Russo
Ogon’ gorit na nashej Topory rubyat derev’ya
fogo-NOM queimar-3SG prep det-LOC-F machado-NOM-PL cortar-3PL árvore-ACC. PL.
kuchne “Machados cortam as árvores”
cozinha-LOC. SG.
“O fogo queima na nossa cozinha”

Ogon’ gorit -sya * Topory rubyat –sya *


fogo-NOM queima -RM machado-NOM-PL cortar-3PL -RM
“O fogo queima” “Machados cortam”
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo

Todos os verbos que constituem os exemplos analisados parecem compartilhar um mesmo traço
semântico, expressando ações que causam um certo grau de afetação (danos) em terceiros, com os
exemplos citados:

• Queimar
• Morder
• Arder
• Dar coice / chutar
• Pisotear
• Brigar
• Picar
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo
Durante a pesquisa, foi possível constatar ocorrências que fugiam um pouco do proposto:

Pochemu komary kusajut i pochemu ikh ukusy cheshutsya?


Por que os mosquitos picam e por que suas picadas coçam?

Como é possível ver, o primeiro verbo não apresenta o marcador -sya como esperado, enquanto o segundo apresenta.
Ao serem questionados se essa construção era gramatical e/ou produtiva, os falantes de russo entrevistados alegaram
que ambas construções em são possíveis, porém a segunda soaria redundante, sendo a primeira mais corrente.

Pochemu komary kusajut i pochemu ikh ukusy cheshutsya?


Por que os mosquitos picam e por que suas picadas coçam?

Pochemu komary kusajut[sya] i pochemu ikh ukusy cheshutsya?


Por que os mosquitos picam e por que suas picadas coçam?
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo
Kulikov (2013) trata tais construções como "transitivo absoluto", "supressiva de objeto ou
"deobjectiva", sendo um subtipo da antipassiva.
CONTEXTO
O sincretismo DE-OBJETIVAL
passivo-reflexivo
Porém, com a construção deobjetival, não podemos inferir quem ou o
quê seria o objeto. Seguindo essas reflexões e informações, a principal
diferença entre ambas construções é que, semanticamente falando, a
antipassiva busca remover o objeto para dar o foco maior ao sujeito (ao
contrário da passiva - daí, antipassiva), enquanto a construção
deobjetival não apresenta nenhum objeto de fato, funcionando como
um operador categorizando, descrevendo e criando uma propriedade
CONSIDERAÇÕES
O sincretismo FINAIS
passivo-reflexivo
• A partir do que foi apresentado e discutido, foi possível chegar à conclusão de que as construções de-
objetivais não se encaixam em nenhum modelo de voz prévio, não fazendo parte, assim, de categorias
médias, causativas, antipassivas e muito menos reflexivas. Estruturas como essa têm, por objetivo,
caracterizar ou dar propriedade não só a seres animados, como proposto pelos poucos teóricos que
tratam do tema, mas também com seres vegetais. Construções do mesmo tipo com seres inanimados
não foram reconhecidas como gramaticais pelos falantes, levando a crer que essa propriedade possui
algumas restrições semânticas relevantes.
• Há ainda muitas dificuldades para estudos posteriores, principalmente o acesso às línguas, e é possível
que estudos sobre as línguas bálticas possuam alguma pista sobre seu funcionamento ou até mesmo
apresentem alguma característica específica além das correntemente analisadas. Também seriam
necessários estudos no campo semântico para ser possível uma melhor compreensão de suas
implicações e consequências em sentenças, já que aqui detém-se no campo da morfossintaxe.
REFERÊNCIAS
O sincretismo passivo-reflexivo
DORON, E. Voice. In: Syntax – an International Handbook of Contemporary Research. 2ª edição.
Walter de Gruyter Publishers, 2013.
FRAJZYNGIER, Z.; CURL, T.C. (eds.). Reflexives: forms and functions. Amsterdam, Philadelphia: John
Benjamins, 1999.
GENIUŠIENĖ, Emma. The Typology of Reflexives. Berlim; Nova Iorque; Amsterdã: Mouton de
Gruyter, 1987. Reimpressão.
HASPELMATH, M. More on the typology of inchoative/causative verb alternations. In: COMRIE, B.;
POLINSKY, M. (Eds.). Causatives and transitivity. Amsterdã/Filadélfia: John Benjamins, 1993. p. 87-
121.
KEMMER, Suzanne. The Middle Voice. Amsterdã: John Benjamins, 1993.
KULIKOV, Leonid. Middle and Reflexive. In LURAGHI; PARODI (eds.). The Bloomsbury Companion to
Syntax. Londres/Nova York, Bloomsbury, 2013.
REFERÊNCIAS
O sincretismo passivo-reflexivo
LAZZARINI-CYRINO, João Paulo. O Sincretismo Passivo-Reflexivo: Um estudo translinguístico. 2015.
Tese (doutorado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2015.
MATVEEVA, T. V. Dicionário completo de termos linguísticos. Rostov, 2010
SCHÄFER, Florian. The syntax of (anti-)causatives: External arguments in change of-state contexts.
John Benjamins, Amsterdã/Filadélfia, 2008.
TATEVOSOV, Sergei. Event Structure of the Anticausative and Unaccusative in Russian. Universidade
Estatal de Moscou. [20–?].

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