“Tirania da distância (Geoffrey Blainey) O quanto essa “tirania” afetou
Os mercadores envolvidos no comércio de longa distância teriam
a velocidade da informação no Império Romano fica evidente em
documentos egípcios do tempo dos imperadores. Richard Duncan-
Jones calculou o “tempo de cognição” médio, o tempo necessário às
várias partes do Egito perceberem que um novo governante assumiu a
púrpura. Nos primeiros dois séculos d.C., isso levou não menos que 57
dias, em média. O Códice de Teodósio, publicado em 438, sugere
tempos de transmissão ainda mais lentos no Império Tardio. Aqui, o
número médio de dias é de 134 para um edito emitido na capital
alcançar o Egito.
Com a comunicação contando com transportadores humanos, animais
de tração e navios à vela, a transferência de informações estava sujeita a
eventos imprevisíveis, como vendavais, naufrágios e azar na estrada.
Um atraso de três meses foi sem dúvida excepcional, mas foi uma
'exceção' frequentemente repetida. [...] Isso não foi tudo. Desde a época
de Augusto, os funcionários do governo romano podiam contar com
uma infraestrutura de comunicação pública. Mas os cidadãos privados
nunca recorreram a tal sistema, seja sob a República ou o Império.
mais facilidade se lidassem com carregadores, capitães e
comerciantes itinerantes diariamente como parte de sua profissão.
Mas não pode haver dúvida de que eles acharam difícil retransmitir
mensagens. [...] o problema da “assimetria de informação”.
A natureza do comércio de longa distância exigia comunicação
regular, e pelo menos parte dela deve ter ocorrido por escrito. [...]
Embora tenhamos um corpo considerável de cartas de membros da
elite - como Cícero, Frontão e Plínio, o Jovem -, as cartas são quase
inexistentes. [...] Há evidências de transferência de informações de
longa distância da não elite como nas tabuletas de Vindolanda.
Os papiros também fornecem evidências para correspondência civil
em longas distâncias [...] rede reconhecida como um canal confiável
para cartas comerciais privadas. Outra possibilidade é obterem
trechos de um diário de bordo com as datas dos navios que saem de
Brundísio. [...] A tabuinha lembra o que mais tarde seria conhecido
como “bilhete de embarque”, tipo de documento com diversas
funções. Certificou a quantidade de mercadorias embarcadas em que
condições e identificou o destinatário pretendido para o capitão do
navio.
[...] a carta era uma de duas cópias, uma carregada a bordo, a outra
enviada separadamente, uma prática bastante comum na Idade O ambiente físico no qual os comerciantes optam por operar pode
Média. [...] Tabletes de cera eram usados [...] O uso fornece pelo aumentar as chances de as informações serem repassadas
menos uma explicação parcial de por que temos tão poucas cartas de verbalmente. Intencionalmente ou não, o efeito da aglomeração de
mercadores da época romana, enquanto temos relativamente muitas comerciantes no mesmo edifício ou espaço urbano foi que a
cartas da Idade Média. informação oral pode se espalhar mais facilmente. [...] A
comunicação escrita foi vital para grande parte dos negócios diários,
Rumores [...] a percepção de que boatos sobre a situação dos
certamente para as transações mais complexas que os comerciantes
negócios, credibilidade e honestidade circulavam nas comunidades
realizavam. Apesar de suas óbvias desvantagens, a comunicação oral
comerciais também ajudou a combater o comportamento corrupto ou
também terá desempenhado um papel importante devido à sua
negligente. Tornou todos os indivíduos de qualquer grupo cientes do
velocidade e utilidade geral. A “tirania da distância” causada pela
valor de uma boa reputação, proporcionando, assim, um poderoso
ausência da tecnologia da informação moderna terá sido uma força
incentivo para se comportar com honestidade e cumprir obrigações. O
poderosa a ser enfrentada, mas ainda assim foi suficientemente
efeito autorregulador desse mecanismo foi demonstrado de forma
superada para que o comércio de longa distância funcionasse.
convincente por Avner Greif em um estudo sobre os comerciantes
“Magrebis”, um grupo de mercadores judeus que operavam no
Mediterrâneo medieval e no Levante.