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ALTERAÇÃO DE PALAVRAS-ESTÍMULOS DO TESTE ARQUETIPAL

DOS NOVE ELEMENTOS PROPOSTO POR YVES DURAND:

UMA NOVA PROPOSTA METODOLÓGICA QUE PERMITA A


CARACTERIZAÇÃO DO IMAGINÁRIO POR GÊNERO

ANA CAROLINE VOLTOLINI FERNANDES

PROFA. DRA. HELOISA JUNCKLAUS


PREIS MORAES (ORIENTADORA)
O início

A presente proposta de pesquisa teve como fundamento a pesquisa realizada


através da dissertação realizada por esta pesquisadora intitulada Estruturas
mítico-simbólicas inerentes ao imaginário infantojuvenil de adolescentes em
situação de risco atendidos pelo Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente –
CEACA (FERNANDES, 2019).

Neste momento, a Professora Heloisa Juncklaus, orientadora da pesquisa,


observou que determinadas ilustrações, essencialmente aquelas feitas por
meninas, possuíam representações desconexas entre si, ou seja, cada estímulo
proposto pelo teste havia sido desenhado de forma esparsa/separada no espaço
indicado para ilustração.
Na análise dos resultados, verificamos que somente uma menina ilustrou suas
representações de maneira sincrônica, ou seja, conseguiu aglutinar/homogeneizar
suas representações individuais de modo que estas se relacionassem umas com as
outras.

Esta pesquisadora cogitou a possiblidade de que a desestruturação existente nas


ilustrações realizadas por pessoas do sexo feminino podem ocorrer em razão de
haver certa indisposição inconsciente destas para estímulos que denotam combate,
luta e enfrentamento.

Em conversa com a Professora e Orientadora da dissertação, Heloisa Juncklaus,


esta indicou que esta hipótese possui fundamento e que a desestruturação inerente
às ilustrações realizadas pelas participantes do sexo feminino pode ser influência
da dominância de animus e anima inerente a cada indivíduo.
Objetivo Geral

Investigar se a troca dos estímulos espada e mostro, propostos pelo teste Arquetipal
dos Nove elementos – AT.9 de Yves Durand (1987; 2005), pelos estímulos perigo
e instrumento contra o perigo, fazem emergir o imaginário feminino de maneira
estruturada, permitindo o seu completo mapeamento
Objetivos Específicos

a) realizar o teste Arquetipal dos Nove elementos – AT.9 tal como proposto por
Yves Durand (1987; 2005) com um grupo composto de 10 (dez) pessoas do sexo
masculino e 10 (dez) pessoas do sexo feminino, com faixa etária entre 13 (treze) e
20 (vinte) anos;

b) realizar o já mencionado teste projetivo com um grupo composto de 10 (dez)


pessoas do sexo masculino e 10 (dez) pessoas do sexo feminino, com faixa etária
entre 13 (treze) e 20 (vinte) anos, substituindo-se os estímulos simbólicos da
espada e do mostro pelos estímulos perigo e instrumento contra o perigo;

c) identificar e analisar os simbolismos existentes nas representações engendradas;


Objetivos Específicos

d) identificar a existência de narrativa mítica e seus elementos nos relatos


produzidos com posterior identificação da relação destes com as estruturas e
regimes de representação da imagem propostos por Gilbert Durand (2002); e por
último,

e) verificar se a troca dos estímulos simbólicos do teste projetivo permite a


elaboração de narrativas pelas participantes do sexo feminino e o completo
mapeamento do imaginário individual (psicodiagnóstico) e do grupo
(sociodiagnóstico).
Justificativa

A presente proposta de tese se mostra relevante por conta de seu ineditismo em


relação à teoria do Imaginário formulada Gilbert Durand (1982;1985; 1993; 1996;
2002; 2014).

A pesquisa se mostra como um guia para o mapeamento completo do imaginário em


relação ao gênero, pois é necessário que as ferramentas metodológicas adaptem-se no
intuito de conseguir, verdadeira e fielmente, fazer emergir, como é o caso do teste
projetivo AT.9, o imaginário de determinado indivíduo ou grupo.

O mapeamento do nível simbólico e afetual permite a articulação de práticas que


visam trabalhar eventual aspecto carente/deficiente inerente ao indivíduo ou o grupo
que está inserido, contribuindo para o melhor aproveitamento do espaço-tempo
vivido por eles.
IMAGINÁRIO:
UMA TEORIA VOLTADA PARA O SENSÍVEL

Imaginário: conjunto das imagens e relações de imagens que constitui o capital


pensado do homo sapiens; grande denominador fundamental onde se vêm encontrar
todas as criações do pensamento humano. (DURAND, 2002, p. 18).

Confluência de dados históricos, sociológicos, culturais e as pulsões individuais.


O Regime Diurno da imagem se define por ser o regime da antítese, da
polarização, da dualidade, de posturas antitéticas e “tem a ver com a dominante
postural, a tecnologia das armas, a sociologia do soberano mago e guerreiro, os
rituais da elevação e da purificação” (DURAND, 2002, p. 58).

O regime noturno é o regime do pleno eufemismo e se caracteriza por se


empenhar em fundir e harmonizar contra os semblantes do tempo e da morte.
Segundo Gomes (2013, p. 38-39) as atitudes imaginativas neste regime se
dividem em duas posturas: a mística (conhecida também como antifrásica) e a
sintética (também conhecida por dramática).
Na estrutura mística a imaginação se utiliza da eufemização e dos símbolos de
inversão no intuito de construir uma harmonização, de modo que a noite, por exemplo,
não é mais trevas, mas sim uma sucessão do dia, enquanto que a morte transfigura-se
em repouso e descanso.

Na estrutura sintética (ou dramática), os símbolos a ela pertencentes preservam o


isomorfismo cíclico que objetivam, em essência, o domínio do próprio tempo.
METODOLOGIA: TESTE ARQUETIPAL DOS 9 ELEMENTOS - UMA
FORMULAÇÃO EXPERIMENTAL DA TEORIA DO IMAGINÁRIO

Utilizar-se-á a Culturanálise de Grupos como instrumento de sócio-diagnóstico para


mapear as relações simbólicas tecidas por indivíduos pertencentes a uma organização
comum sobre determinado aspecto da realidade.

Através da Culturanálise de Grupo é possível identificar o que Paula Carvalho chamou


de cultura lantente presente em âmbito consciencial de determinado grupo
(CARVALHO, 1989; 1992a).

A cultura latente se refere à esfera inconsciente dos indivíduos que pertencem à


organização e está diretamente ligada ao conteúdo fantasmático e à vida afetiva dos
grupos (CARVALHO; BADIA, 2010, p. 68-69).
Para o mapeamento da cultura latente, Carvalho (2010, p. 70) indica a heurística
arquetipal AT.9 formulado por Yves Durand (1987; 2005).

O teste se constitui na elaboração, por parte dos participantes:

a) de um desenho a partir de nove palavras-estímulos: uma queda, uma espada, um


refúgio, um monstro devorador, algo cíclico (que gira, que se reproduz, que
progride), um personagem, água, fogo e um animal.

b) uma narrativa sobre este desenho e, por último,

c) a resposta de um questionário e o preenchimento de uma tabela (DURAND,


1987).
No contexto da presente pesquisa, o teste Arquetipal dos Nove elementos – AT.9
será realizado tal como proposto por Yves Durand (1987; 2005) e em outro
momento o mesmo teste será aplicado substituindo-se os estímulos simbólicos da
espada e do mostro pelos estímulos perigo e instrumento contra o perigo.

Acreditamos que a desestruturação inerente às ilustrações realizadas pelas


participantes do sexo feminino (FERNANDES, 2019) pode ser influência da
dominância de animus e anima inerente a cada indivíduo.

Indisposição inconsciente das meninas para estímulos que denotam combate, luta
e enfrentamento.
Animus e anima: seriam personalidades, ou seja, “figuras crepusculares do fundo
obscuro da psique” (JUNG, 2015, p. 101) e para Jung, “a anima sendo feminina, é a
figura que compensa a consciência masculina. Na mulher, a figura compensadora é
de caráter masculino e pode ser designada pelo nome de animus”.

A anima presente na psique do homem personifica todas as tendências femininas,


como por exemplo, os humores, os sentimentos, a intuição, a receptividade ao
irracional, a capacidade de amar e a sensibilidade à natureza.

Por sua vez, o animus é a personificação masculina inconsciente na mulher (JUNG,


1964).
Resultados Esperados
Acredita-se que a preponderância dos elementos animus e anima exerça
influência sobre as produções imaginárias dos indivíduos e que troca dos
estímulos propostos pelo AT.9 de Yves Durand (1987; 2005), possibilitará a
emersão do imaginário feminino de maneira estruturada, permitindo o seu
completo mapeamento.

Espera-se que a troca dos estímulos permita identificar situações conflituosas


em relação ao cotidiano das participantes e do grupo que elas estão inseridas,
contribuindo para a articulação de práticas que visam trabalhar eventual
aspecto carente/deficiente inerente ao indivíduo ou o grupo em que ele está
inserido, auxiliando para o melhor aproveitamento do espaço-tempo vivido
por eles.
REFERÊNCIAS

CARVALHO, José Carlos de Paula. Pedagogia do imaginário e culturanálise grupos: educação fática e ação cultural.
Revista da Faculdade de Educação. São Paulo, v. 15, n. 2, p. 133-151, jul./dez. 1989. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33437>. Acesso em: 05 jul. 2018.

CARVALHO, José Carlos de Paula. Da arquetipologia do imaginário à sua formulação experimental através do
AT.9: sete estudos (para aplicação à culturanálise de grupos). “Memóire” de Pós-Doutoramento. Grenoble: 1992a. 118p.

DURAND, Gilbert. Mito, símbolo e mitodologia. Tradução de Hélder Godinho e Vitor Jabouille. Lisboa: Editorial
Presença, 1982.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. Tradução de


Hélder Godinho. 4. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2002.

 
DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Tradução de Renée
Eve Levié. 6. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2014.
 
DURAND, Yves. A formulação experimental do imaginário e seus modelos. Revista da Faculdade de
Educação. Tradução de José Carlos de Paulo Carvalho. São Paulo, v. 13, n. 2 (1987), p. 133-154.
Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/33396/36134>. Acesso em 01 jul. 2018
 
DURAND, Yves. Une technique d'étude de l'imaginaire: l'anthropologique test à 9 éléments (l'AT.9).
França: L´Harmattan, 2005.

FERNANDES, Ana Caroline Voltolini. Estruturas mítico-simbólicas inerentes ao imaginário infantojuvenil


de adolescentes em situação de risco atendidos pelo centro de apoio à criança e ao adolescente – CEACA.
2019. 152 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem) -Universidade do Sul de Santa Catarina,
Tubarão, 2019.
GOMES, Eunice Simões Lins. Um baú de símbolos na sala de aula. São Paulo: Paulinas, 2013.

JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. Tradução de Dora Ferreira da Silva. 27. ed. Petrópolis: Vozes,
2015.
 
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964.
 
JUNG, Emma. Animus e Anima. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.

MORAES, Heloisa Juncklaus Preis. Sob a perspectiva do imaginário: os mitos como categoria dos estudos da
cultura e da mídia. In: FLORES, G.B.; NECKEL, N. R. M.; GALLO, S. M. L. Análise do discurso em
rede: Cultura e mídia. São Paulo: Pontes Editores, 2016, p. 137-177.
Agradecida

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