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Direito das Coisas

Prof: Sandro Souza


Tel: 98876-4432
sandro@scss.adv.br
DIREITO DAS COISAS

DIREITOS REAIS: DENOMINAÇÃO E CONCEITO

Temos que o Direito das Coisas ou os Direitos Reais, como ramificação do Direito
Civil, consistem em um conjunto de princípios e normas regentes da relação
jurídica referente às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem, segundo uma
finalidade social.

Os Direitos Reais têm por objeto o estudo das coisas, entendidas como os bens que
podem ser objeto de apropriação.
DIREITO DAS COISAS

DIREITOS REAIS: DENOMINAÇÃO E CONCEITO

Coisas, em direito, têm significado estrito. O termo frequentemente se confunde


com bens, tanto na legislação quanto na doutrina jurídica.
Contudo, os bens jurídicos têm dimensão mais ampla e imprecisa, porque abrangem
todas as situações que são valiosas e merecedoras de proteção pelo direito,
incluindo os que não têm natureza patrimonial e econômica. Os direitos da
personalidade, por exemplo, são bens jurídicos, mas não são coisas; são bens não
coisificáveis. A prestação, como dever da relação obrigacional voltado ao
comportamento da pessoa, não é coisa, mas sim bem jurídico
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DIREITOS REAIS: DENOMINAÇÃO E CONCEITO

Assim, é preciso deixar claro que, no campo dos Direitos Reais, o que se estuda é
realmente a “coisa”, entendida como o bem suscetível de apropriação, valendo
salientar que, segundo a linha filosófica que seguimos, “bem” é um conceito mais
amplo do que o de “coisa”.

A possibilidade jurídica de apropriação é, portanto, o elemento distintivo essencial


para que um determinado “bem” seja considerado uma “coisa” e,
consequentemente, possa ser objeto da disciplina dos direitos reais.
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OBRIGAÇÃO PROPTER REM: CONCEITO E DISTINÇÕES (ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM


EFICÁCIA REAL)

Trata-se de obrigações decorrentes de um direito real sobre determinada coisa,


aderindo a esta e, por isso, acompanhando-a nas modificações do seu titular.
Ao contrário das relações jurídicas obrigacionais em geral, que se referem
pessoalmente ao indivíduo que as contraiu, as obrigações propter rem se
transmitem automaticamente para o novo titular da coisa a que se relacionam.
É o caso, por exemplo, da obrigação do condômino de contribuir para a conservação
da coisa comum (art. 1.315, CC/2002).
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OBRIGAÇÃO PROPTER REM: CONCEITO E DISTINÇÕES (ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM


EFICÁCIA REAL)

O mesmo Superior Tribunal, por seu turno, tem entendimento no sentido de que as
obrigações decorrentes dos contratos para fornecimento de água e luz não têm
natureza propter rem:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


SUSPENSÃO NO FORNECIMENTO DE ÁGUA. DÍVIDA PRETÉRITA.
IMPOSSIBILIDADE. OBRIGAÇÃO PESSOAL. PRECEDENTES. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. VALOR EXORBITANTE. NÃO CONFIGURADO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
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OBRIGAÇÃO PROPTER REM: CONCEITO E DISTINÇÕES (ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM


EFICÁCIA REAL)

Nessa linha, diferentemente do que se dá com a obrigação condominial –


tipicamente propter rem –, caso o locatário, em nome de quem fora firmado o
contrato para fornecimento de energia, devolva a casa locada com faturas “em
aberto”, não poderá a Companhia de Luz demandar o proprietário do imóvel, mas
sim o próprio contratante, beneficiário do fornecimento, uma vez que a obrigação,
por não ser propter rem, não se vincula ao bem.
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OBRIGAÇÃO PROPTER REM: CONCEITO E DISTINÇÕES (ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM
EFICÁCIA REAL)

Por fim, não se confunde a obrigação propter rem com a obrigação com eficácia
real.
Nesta, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, há a possibilidade de
oponibilidade a terceiros, quando houver anotação preventiva no registro
imobiliário, como, por exemplo, nos casos de locação e compromisso de venda, a
teor do art. 8.º da Lei n. 8.245/91:

Art. 8.º Se o imóvel for alienado durante a locação, o adquirente poderá denunciar
o contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for
por tempo determinado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de
alienação e estiver averbado junto à matrícula do imóvel.
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OBRIGAÇÃO PROPTER REM: CONCEITO E DISTINÇÕES (ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM
EFICÁCIA REAL)

§ 1.º Idêntico direito terá o promissário comprador e o promissário cessionário (a


pessoa que recebe o direito do credor), em caráter irrevogável, com imissão na
posse do imóvel e título registrado junto à matrícula do mesmo.

§ 2.º A denúncia deverá ser exercitada no prazo de noventa dias contados do


registro da venda ou do compromisso, presumindo-se, após esse prazo, a
concordância na manutenção da locação.

Trata-se, em outras palavras, tão somente, de uma obrigação típica, que


passa a ter oponibilidade (livre para exercer seu poder sobre) contra todos em
virtude da averbação feita no Registro.
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OBRIGAÇÃO PROPTER REM: CONCEITO E DISTINÇÕES (ÔNUS REAL E OBRIGAÇÃO COM


EFICÁCIA REAL)

De todo o exposto, portanto, podemos concluir que a obrigação propter rem é


aquela que se vincula a uma coisa, acompanhando-a, independentemente de quem
seja o seu titular;
ao passo que a obrigação com eficácia real é uma prestação típica que passa a ter
eficácia erga omnes, em virtude de uma anotação preventiva no Registro.
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TEORIAS DA POSSE

Tradicionalmente, temos duas conhecidas teorias:

a) Teoria subjetiva de SAVIGNY;


b) Teoria objetiva de IHERING.

SAVIGNY decompõe a posse em dois elementos: animus (intenção de ter a coisa) e


corpus (o poder material sobre a coisa).

Em outras palavras, possuidor seria aquele que, além ter a intenção de se


assenhorar do bem, dispõe do poder material sobre ele.

Quem tem a coisa em seu poder, mas em nome de outrem, não lhe tem a posse
civil: é apenas detentor, tem a sua detenção (que ele chama de posse natural –
naturalis possessio), despida de efeitos jurídicos.
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TEORIAS DA POSSE

É forçoso convir que a teoria de SAVIGNY apresentava certa dificuldade em explicar


determinadas situações, a exemplo da posse exercida por quem aluga o seu imóvel
(posse indireta), porquanto não estaria exercendo o poder material sobre a coisa
(corpus).

Na mesma linha, determinadas situações típicas de posse direta não estariam


adequadamente compreendidas, como na locação e no comodato, dada a ausência
de intenção de ter a coisa como sua (animus).
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TEORIAS DA POSSE

Segundo IHERING, a posse, em verdade, deveria ser compreendida em uma


perspectiva objetiva.
Possuidor seria aquele que, mesmo sem dispor do poder material sobre o bem,
comporta-se como se fosse o proprietário, imprimindo-lhe destinação.

A teoria de IHERING, nessa linha, explicaria com mais facilidade determinados


“estados de posse”, como a do locador que, embora não esteja direta e
materialmente utilizando o apartamento, atua como possuidor, imprimindo
destinação ao bem, ao locá-lo e auferir os respectivos aluguéis.
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TEORIAS DA POSSE

Não é mister um conhecimento mais profundo para saber se alguém é ou


não possuidor. Tal ciência decorre do bom senso. O camponês, que
encontra animal capturado por uma armadilha, sabe que o mesmo
pertence ao dono desta; desse modo, se o tirar dali, não ignora que pratica
furto, posto que o está subtraindo da posse do seu dono; o madeireiro, que
lança à correnteza os troncos cortados na montanha para que o rio os
conduza à serraria, não tem o poder físico sobre os madeiros, mas conserva
a posse, pois assim é que age o proprietário
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TEORIAS DA POSSE

Na verdade, mesmo sendo exteriorização da propriedade, o que também


comprova a sua função social, a posse com ela não se confunde. É cediço
que determinada pessoa pode ter a posse sem ser proprietária do bem,
uma vez que ser proprietário é ter o domínio pleno da coisa. A posse pode
significar apenas ter a disposição da coisa, utilizar-se dela ou tirar dela os
frutos com fins socioeconômicos.
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TEORIAS DA POSSE

O Código Civil brasileiro adotou a teoria objetiva de IHERING, na


perspectiva do princípio constitucional da função social.

Ao dispor, em seu art. 1.196, que possuidor seria “todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade”, o legislador aproximou-se inequivocamente do pensamento
de IHERING, como vimos acima.
Mesmo que o sujeito não seja o proprietário, mas se comporte como tal –
por exemplo, plantando, construindo, morando –, poderá ser considerado
possuidor.
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TEORIAS DA POSSE

Sucede que a interpretação desta norma, por óbvio, não poderá ser feita fora do
âmbito de incidência do superior princípio da função social.

Vale dizer, o exercício, pleno ou não, dos poderes inerentes à propriedade (usar,
gozar ou fruir, dispor, reivindicar) somente justifica a tutela e a legitimidade da
posse se observada a sua função social.
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DETENÇÃO

a distinção entre posse e detenção baseia-se na distinção entre


propriedade e poder de fato sobre a coisa. Aquele sujeito do poder de fato
que quer ser considerado proprietário, que se comporta como se exercesse
uma propriedade, é seguramente um possuidor. Aquele sujeito do poder de
fato que se comporta como um não proprietário (depositário) é – segundo
alguns sistemas – um não possuidor; dir-se-á que é um detentor.
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DETENÇÃO

O detentor não deve ser considerado possuidor, na medida em que é um


mero “servidor ou fâmulo da posse”.
Nesse sentido, o art. 1.198 do Código Civil: Art. 1.198. Considera-se
detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com
outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas.
É o caso do bibliotecário, do motorista particular ou do caseiro.
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DETENÇÃO

Claro está, todavia, que, se deixa de cumprir instruções,


passando a atuar com liberdade no exercício de poderes
inerentes à propriedade – usando ou fruindo –, poderá
converter a sua detenção em posse, conforme já decidiu o
Superior Tribunal de Justiça.
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DETENÇÃO

É digno de nota, ainda, existir entendimento no sentido de que haverá


também mera detenção, além da previsão contida no art. 1.198 (referente
ao fâmulo da posse), nas hipóteses previstas no art. 1.208 do Código Civil:

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância


assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
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DETENÇÃO

Se eu permito que o meu vizinho passe a tarde na área da minha piscina,


este ato de mera permissão não induz posse, mas simples detenção.
Outras perspectivas da detenção podem ser ainda constatadas, em
doutrina.
Nessa vereda, por exemplo, se CARMELO invade a minha fazenda, durante
os dias em que eu envidei esforços para, mediante o uso legítimo e
proporcional da força, defender o meu imóvel, ele somente será
considerado detentor da parte invadida; mas, uma vez cessada a violência,
com a minha retirada, CARMELO passa então a ser considerado efetivo
possuidor.
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DETENÇÃO

Finalmente, merece referência o fato de haver entendimento no Superior


Tribunal de Justiça no sentido de que a ocupação de bens públicos, a
depender da sua natureza, resulta em mera detenção.

Se a ocupação do bem público, por sua vez, é irregular ou indevida, o


entendimento sumulado aponta no seguinte sentido:
Súmula 619, STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera
detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização
por acessões e benfeitorias.

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