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Do pó s-moderno ao pó s-

colonial. E para além de


um outro (SANTOS, 2004)
Francisco Geilson Rocha da Silva – Doutorado (PosLa – UECE)
Boaventura de Sousa Santos
 É português, nascido em Coimbra.
 Doutor em Sociologia do Direito.
 Professor jubilado da Faculdade de Economia de Coimbra.
 Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de
Coimbra.
 Tem escrito e publicado extensivamente nas áreas de sociologia do direito,
sociologia política, epistemologia, estudos pós-coloniais, sobre os temas
dos movimentos sociais, globalização, democracia participativa, reforma
do Estado, direitos humanos.
 Trabalhos de campo realizado em Portugal, Brasil, Colômbia,
Moçambique, Angola, Cabo Verde, Bolívia e Equador.
 Seus textos se encontram traduzidos em espanhol, inglês, italiano, francês,
alemão, chinês, romeno, dinamarquês e polaco.
 Pesquisa sobre epistemologia, sociologia do direito, teoria pós-colonial,
democracia, interculturalidade, globalização, movimentos sociais e direitos
humanos.
“Tal como noutros períodos de transição, difíceis de
entender e percorrer, é necessário voltar às coisas simples,
à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que,
como Eisntein costumava dizer, só uma criança pode fazer
mas que, depois de feitas, são capazes de trazer uma luz
nova à nossa perplexidade”
(SANTOS, 2008, p. 15).
Algumas “perguntas de criança”

• São possíveis outras epistemologias para além daquelas


produzidas no Ocidente?

• Que relevância uma reflexão epistemológica dessa


envergadura pode ter nas práticas de conhecimento e em
outras práticas sociais?

• Como mensurar o impacto do colonialismo e do


capitalismo na construção das epistemologias
hegemônicas?
Pós-moderno e pós-modernidade

• Expressões utilizadas no contexto de um debate


epistemológico no qual se passou a questionar o “modelo de
racionalidade” (paradigma epistemológico) no qual as ciências
(em geral e sociais) se pautavam.

• Esse modelo dava sinais de exaustão e cansaço (crise


paradigmática).

• O positivismo representou a melhor formulação desse


paradigma.
Positivismo
• Os filósofos Augusto Comte e John Stuart Mill são duas
grandes referências.
• Inovou ao aventar a possibilidade de uma união metodológica
(método positivo) nas ciências naturais e humanas, na
condução das suas pesquisas (BRANDÃO, 2011).
• Acreditava-se que esse método poderia ser empregado com
êxito tanto no estudo dos fenômenos naturais como na
investigação dos fenômenos sociais e humanos – um método
universal.
• No bojo dessa sugestão metodológica, havia a concepção,
defendida por Mill, de que as “ciências humanas” (“morais”)
careciam de uma “lógica própria” e, por isso, usavam aquela já
empregada pelas ciências naturais (BRANDÃO, 2011).
Ideias fundamentais do “paradigma
positivista” (SANTOS, 2004).

• Adoção de uma perspectiva dicotômica sobre várias


questões (sujeito x objeto; natureza x sociedade etc.).
• O mundo visto como linear, sujeito a leis simples de serem
discernidas e formuladas matematicamente.
• Concepção mecanicista e determinista do “real”.
• Verdade como representação transparente da “realidade”.
• Radical separação entre conhecimento científico e outras
formas de conhecimento (senso comum, por exemplo).
• Foco no estudo da “causalidade funcional” da “realidade”
como forma de manipulá-la e transformá-la pela ciência.
Três constatações importantes

• 1. O paradigma então dominante se refletia cada vez


menos na prática científica dos cientistas.

• 2. Essa inadequação deu ainda mais peso à crítica das


consequências sociais negativas da ciência moderna.

• 3. Foi possível vislumbrar outras alternativas


epistemológicas e que consistia na defesa de “uma
ciência assente numa racionalidade mais ampla”.
“Pós-modernidade”: um paradigma
epistemológico, social e político
• Pensar a transformação social a partir de alternativas teóricas e
práticas ao capitalismo da modernidade ocidental.
• Pensar a pós-modernidade ciente de que sempre que se falou
em “modernidade”, tinha-se em vista a “modernidade
ocidental”.
• Pensar a pós-modernidade de forma radical:
• Fundamentada numa nova teoria crítica;
• Vislumbrando a emancipação da sociedade sem que esta
seja uma nova forma de opressão social;
• Considerando os “valores modernos” (“liberdade”,
“igualdade” e “fraternidade”), mas também a violência
cometida em nome deles e a não concretização dos mesmos
nas sociedades capitalistas.
“Pós-modernismo de oposição”

• Um modelo epistemológico que se opõe ao “pós-


modernismo celebratório”.
• Que reinventa a emancipação social a partir de uma
reconstrução teórica que leva em conta a experiência
das vítimas do modelo de racionalidade moderno.
• Que se constrói a partir da escuta das vozes do “Sul”,
indo além da crítica e da práxis social e política
produzidas no “Norte”.
“[...] a ideia da pós-modernidade aponta demasiado para a
descrição que a modernidade ocidental faz de si mesma e
nessa medida pode ocultar a descrição que dela fizeram os
que sofreram a violência com que ela lhes foi imposta. Essa
violência matricial teve um nome: colonialismo [...]
violência nunca [...] incluída na auto-representação da
modernidade ocidental porque o colonialismo foi
concebido como missão civilizadora[...]” (SANTOS, 2004,
p. 6-7).
Pós-moderno x pós-colonialismo
• Conceitos que não se contrapõem de forma absoluta.
• O pós-modernismo, porém, não satisfaz “as preocupações e as
sensibilidades trazidas pelo pós-colonialismo” (p. 8).
• Este pode ser definido como um “conjunto de correntes
teóricas e analíticas” (p. 8), mobilizadas nas ciências sociais,
que concedem primazia teórica à investigação das desiguais
relações entre “Norte” e “Sul”, pois entende que estes dois
paradigmas epistemológicos compreendem e explicam o
mundo contemporâneo de modo distinto.
• À perspectiva pós-colonial interessa “problematizar quem
produz o conhecimento, em que contexto e para quem o
produz” (p. 9).
Principais diferenças entre “pós-
modernismo” e “pós-modernismo de
oposição”
1. A proposta da uma pluralidade de projetos coletivos, mas
articulados de modo não hierárquico e sem que se recorra a “uma
teoria geral de transformação social” (p. 10), ao invés da morte
destes.
2. A proposta de uma utopia realista e crítica, ao invés da celebração
do seu fim.
3. A proposta de uma reinvenção da emancipação social, ao invés
de considerá-la “um mito sem consistência” (p. 9).
4. A proposta de um “otimismo trágico”, ao invés de melancolia (p.
10)
5. A proposta de uma construção plural da ética “a partir de baixo”
(p. 10), ao invés de relativismo.
• 6. A proposta de uma teoria crítica, bastante
autorreflexiva, sem “a obsessão de desconstruir a própria
resistência que ela funda” (p. 10), ao invés de
desconstrução.
• 7. A proposta da criação de “subjetividades
transgressivas”, dispostas à ação rebelde e inconformista,
ao invés do fim da política (p. 10).
• 8. A proposta de produção cultural por meio de uma
“mestiçagem” consciente “das relações de poder que
nelas intervém”, ao invés de sincretismo cultural acrítico
(p. 10).
Ênfases em comum

• Crítica às metanarrativas e à perspectiva da


história enquanto vereda unilinear.
• Ênfase na pluralidade e na heterogeneidade, “nas
margens” (p. 11).
• Perspectiva epistemológica construtivista, mas
não niilista.
Dois pilares em tensão dialética na
modernidade ocidental
• Pilar da regulação social – incapaz de lidar com a situação
imposta pelo colonialismo, na qual o Estado é estrangeiro,
pessoas são transformadas em mercadorias, comunidades
são vitimadas pela “missão civilizadora” e substituídas “por
minúsculas minorias de assimilados”, criadas pelo Estado
(p. 14)

• Pilar da emancipação social – concebido sobre bases


epistemológicas que concebe a emancipação como
“processo histórico da crescente racionalização da vida
social, das instituições, da política”, da cultura e do saber (p.
14).
Duas grandes tradições teóricas da
modernidade ocidental
• Liberalismo político – emancipação confinada ao
horizonte capitalista.

• Marxismo – emancipação vista como uma


possibilidade num cenário pós-capitalista.

• Ambos enxergam o “colonialismo” numa ótica


historicista, no qual os povos coloniais aguardam,
numa “sala de espera”, os benefícios trazidos pela
“civilização”.
Emancipação reinventada: as
relações “norte/sul” no centro
• “Sul”: “metáfora do sofrimento humano”, usada para
designar, não apenas um espaço geográfico, mas a
todos/as submetidos ao colonialismo europeu, que
sofreram dominação política, social e cultural e que
tiveram suas formas de saber suprimidas.
• “Norte”: Algozes do “Sul”.
• Possibilitada por uma nova orientação epistemológica
na qual o “Sul”, com o qual se busca aprender, não seja o
“Sul imperial”, produto da representação construída
como resultado da “relação colonial capitalista” (p. 18).
• Encontra-se dentro do “pós-moderno de oposição”.
1. Um projeto epistemológico que “se posiciona nas
margens ou periferias mais extremas da modernidade
ocidental para daí lançar um novo olhar crítico sobre
esta”(p. 19) ;
2. Que realiza uma crítica posicionado “do lado de dentro
da margem” (p. 19);
3. Concebido “como um trabalho arqueológico de
escavação” na direção de se resgatar “tradições
suprimidas” para se construir “novos paradigmas de
emancipação” (p. 19).

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