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DIREITO CIVIL VI

DIREITO DAS FAMÍLIAS


AULA 04
PROFESSORA: MESTRA RAQUEL BUENO
@DIREITOPARADESESPERADO
E-mail Pessoal: raquellbueno@gmail.com
ONDE ESTAMOS NO PLANO DE ENSINO? Família Convivencial: A
União Estável (Conceito, Histórico, Características e Requisitos, Causas
Impeditivas, Deveres dos Companheiros, Contrato de Convivência e
Contrato de Namoro, União Estável Putativa, Simultânea e Poliafetiva).
ENTIDADE FAMILIAR - UNIÃO ESTÁVEL (FAMÍLIA INFORMAL OU
CONVIVENCIAL)

“Não há lei, nem de Deus nem dos homens, que proíba o ser humano
de buscar a felicidade” Maria Berenice Dias. Manual de Direito das
Famílias – 9ª edição, Editora RT, São Paulo, 2013.
1º Momento
Relação Extramatrimonial - Sociedade de Fato – Concubinato –
Divórcio – 1977
Súmula 380 do STF - Comprovada a existência de sociedade de fato entre os
concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum.
Indenização por serviços prestados -----STJ REsp 855.963 - PR
2º Momento - Carta Magna de 1988 – União estável como entidade familiar
3º Momento - Lei 8.971/94
4º Momento - Lei 9.278/96
5º Momento - Código Civil de 2002
6º Momento – Precedentes do STF (União Estável Homoafetiva)
7º Momento – União Estável Poliafetiva.
DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. INDENIZAÇÃO POR SERVIÇOS DOMÉSTICOS.
RELACIONAMENTO APERFEIÇOADO ANTES DA LEI 8.971/94.
AUSÊNCIA DE PATRIMÔNIO COMUM A PARTILHAR. INDENIZAÇÃO DEVIDA. DANO
MORAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7. ALIMENTOS. SUBSTITUIÇÃO POR USUFRUTO DE
IMÓVEL DO DEVEDOR. CABIMENTO.
1. A jurisprudência do STJ sufraga entendimento segundo o qual, quando a união estável tiver
sido constituída e desfeita antes da lei que a regulamentou pela vez primeira (Lei n. 8.971/94),
se inexistente patrimônio adquirido com esforço comum, faz jus a companheira a indenização
por serviços domésticos prestados ao companheiro.
2. O acórdão recorrido não reconheceu por provado nenhum fato que ensejaria qualquer abalo
emocional à recorrente, conclusão que não se desfaz sem o reexame de provas. Pretensão a
indenização por dano moral que encontra óbice na Súmula 7.
3. É cabível a substituição de alimentos devidos à companheira por usufruto do imóvel de
titularidade do devedor, por força do art. 21, § 1º, da Lei do Divórcio.
4. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.
(REsp 855.963/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
19/05/2011, DJe 26/05/2011)
LEI 8.971/94 (alimentos e sucessão)

Art. 1º A companheira comprovada de um homem solteiro, separado judicialmente, divorciado ou


viúvo, que com ele viva há mais de cinco anos, ou dele tenha prole, poderá valer-se do disposto na 
Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968, enquanto não constituir nova união e desde que prove a
necessidade.
Parágrafo único. Igual direito e nas mesmas condições é reconhecido ao companheiro de mulher
solteira, separada judicialmente, divorciada ou viúva.
Art. 2º As pessoas referidas no artigo anterior participarão da sucessão do(a) companheiro(a) nas
seguintes condições:
I - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito enquanto não constituir nova união, ao usufruto de
quarta parte dos bens do de cujos, se houver filhos ou comuns;
II - o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito, enquanto não constituir nova união, ao usufruto da
metade dos bens do de cujos, se não houver filhos, embora sobrevivam ascendentes;
III - na falta de descendentes e de ascendentes, o(a) companheiro(a) sobrevivente terá direito à
totalidade da herança.
Art. 3º Quando os bens deixados pelo(a) autor(a) da herança resultarem de atividade em que haja
colaboração do(a) companheiro, terá o sobrevivente direito à metade dos bens.
Lei 9.278/96
Art. 1º É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e
contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de
família.
Art. 2° São direitos e deveres iguais dos conviventes:
I - respeito e consideração mútuos;
II - assistência moral e material recíproca;
III - guarda, sustento e educação dos filhos comuns.
Art. 5° Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conviventes, na
constância da união estável e a título oneroso, são considerados fruto do trabalho e da
colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em partes
iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito.
§ 1° Cessa a presunção do caput deste artigo se a aquisição patrimonial ocorrer com
o produto de bens adquiridos anteriormente ao início da união.
§ 2° A administração do patrimônio comum dos conviventes compete a ambos, salvo
estipulação contrária em contrato escrito.
Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material
prevista nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela
necessitar, a título de alimentos.
Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos
conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto
viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao
imóvel destinado à residência da família.
Art. 8° Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo,
requerer a conversão da união estável em casamento, por
requerimento ao Oficial do Registro Civil da Circunscrição de seu
domicílio.
Art. 9° Toda a matéria relativa à união estável é de competência do
juízo da Vara de Família, assegurado o segredo de justiça.
UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL
CC-02 - Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando
a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.
Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade,
respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.
Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações
patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. CONTRATO DE CONVIVÊNCIA
OU CONTRATO DE UNIÃO ESTÁVEL (NÃO CONFUNDIR COM O CONTRATO DE NAMORO)
Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros
ao juiz e assento no Registro Civil.
Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem
concubinato.
Quero Você Do Jeito Que Quiser Marília Mendonça - Amante Não Tem Lar
“(...) Só vim me desculpar
Marília Mendonça & Maiara e Maraísa Eu não vou demorar
Mesmo que me perguntassem, eu não afirmaria, eu Não vou tentar ser sua amiga
fingiria Pois sei que não dá
Eu negaria até à morte, eu negaria até o fim Você vai me odiar
Mas eu vim te contar
Quando você chega perto, eu me desconcerto Que faz um tempo eu me meti no meio do seu lar
Sem fazer esforço, tira minha roupa com os olhos Sua família é tão bonita
Me deixa tonta com seus olhos Eu nunca tive isso na vida
E se eu continuar assim eu sei que não vou ter ele
Eu sem querer me apaixonei Ele te ama de verdade
Não lutei, não evitei E a culpa foi minha
Esse amor natural nasceu em mim Minha responsabilidade eu vou resolver
Quero você do jeito que quiser Não quero atrapalhar você
E o preço que eu pago
Mesmo em segredo eu sou sua mulher É nunca ser amada de verdade
Só você sabe como a gente faz Ninguém me respeita nessa cidade
Essa vontade é o que me tira a paz Amante não tem lar
Amante nunca vai casar
Quero você do jeito que quiser E o preço que eu pago
Mesmo em segredo, eu sou sua mulher É nunca ser amada de verdade
Só você sabe como a gente faz Ninguém me respeita nessa cidade
Um minuto do seu tempo já me satisfaz Amante não vai ser fiel
Amante não usa aliança e véu (...)
NOTÍCIA STJ 08/08/2019
Coabitação por duas semanas não significa estabilidade capaz de caracterizar união
estável
​A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que o namoro de dois meses
com coabitação de duas semanas não é suficiente para evidenciar a estabilidade de um
relacionamento como união estável. Com esse entendimento, o colegiado deu provimento
ao recurso especial do filho de um homem falecido para julgar improcedente o pedido de
reconhecimento e dissolução da união estável da namorada do pai dele.O recurso teve
origem em uma ação ajuizada pela mulher contra o espólio e os três herdeiros do então
namorado, com quem manteve relação de dois meses e coabitação de duas semanas, até
o falecimento do homem, em 2013. Segundo ela, os dois já haviam marcado uma data
para formalizar a união – o que não se concretizou em razão da morte do companheiro.
O pedido foi julgado procedente em primeiro grau e a apelação do herdeiro foi negada no
Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, o qual considerou que o reconhecimento da
união estável acontece independentemente do tempo, sendo necessário demonstrar a
convivência duradoura com o intuito de constituição familiar.
Estabilid​​ade
Para o ministro, diante das dificuldades de delimitar as fronteiras entre namoro e a união de fato, deve-se adotar
a técnica da ponderação, conforme o parágrafo 2° do artigo 489 do Código de Processo Civil. Nesse sentido,
pontuou que sempre "deverá haver a constatação deste elemento finalístico, interno, moral que é o objetivo de
constituir família, pois essa é a chave hermenêutica para o reconhecimento ou não da entidade familiar".
O relator lembrou que a Lei 8.971/1994, ao regulamentar a união estável no Brasil, impôs a convivência superior
a cinco anos – o que foi parcialmente revogado pela Lei 9.278/1996, que passou a exigir a convivência
duradoura e contínua com o objetivo de constituir família, independentemente de tempo determinado, o que foi
adotado pelo Código Civil de 2002.
Salomão observou que, apesar de não haver precedente específico tratando da durabilidade ou de um tempo
mínimo de convivência, o STJ já destacou ser imprescindível que haja a estabilidade da relação.
"Apesar de em certos casos ser possível que um ou outro elemento não apareça com nitidez, não há como
excluir o requisito da estabilidade, havendo a necessidade da convivência mínima pelo casal, permitindo que se
dividam as alegrias e tristezas, que se compartilhem dificuldades e projetos de vida, sendo necessário para tanto
um tempo razoável de relacionamento", disse.
Para o ministro, no caso, ainda que não se tenha dúvidas quanto à intenção do casal de constituir família, "o
mero intento não basta para concretizar a união de fato". Dessa forma, concluiu que não há falar em
estabilidade, em comunhão de vida entre duas pessoas, no sentido material e imaterial, numa relação de
apenas duas semanas.
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.​
Re​​quisitos
O relator do recurso no STJ, ministro Luis Felipe Salomão, explicou que o legislador definiu união
estável como entidade familiar "configurada na convivência pública, contínua e duradoura, e
estabelecida com o objetivo de constituição de família", nos termos do artigo 1.723 do Código
Civil.
Ao citar as lições de Paulo Lôbo, o ministro destacou que "a união estável tem origem no elo
efetivo dos companheiros, sendo ato-fato jurídico que não exige qualquer manifestação ou
declaração de vontade para produzir efeitos, bastando-lhe a existência fática para que recaiam
sobre ela as normas constitucionais e legais cogentes e supletivas para a conversão da relação
fática em jurídica".
O ministro ressaltou que as normas, a doutrina e a jurisprudência vêm reconhecendo alguns
requisitos essenciais para sua configuração: estabilidade; publicidade (modus vivendi);
continuidade, e objetivo de constituição de família. Em seu voto, lembrou precedente da Terceira
Turma segundo o qual é necessária a presença cumulativa desses requisitos.
"Somado a estes, há também os acidentais, como o tempo de convivência, a existência de filhos,
a construção patrimonial em comum, a lealdade e a coabitação, que, apesar de serem
prescindíveis (como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, Súmula 382), possibilitam que o
julgador tenha mais substrato para a recognição do formato de tal entidade", disse.
DIREITO DAS FAMÍLIAS – INF. 595
É válido, desde que escrito, o pacto de convivência formulado pelo casal no qual se opta
pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil ao regime de
comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura pública.
“(...) é de se anotar que, diferentemente do que ocorreu na regulação do regime de bens
dentro do casamento, o Código Civil, no que toca aos conviventes, fixou a exigência de
contrato escrito para fazer a vontade destes, ou a incidência do regime de comunhão
parcial de bens, na hipótese de se quedarem silentes quanto à regulação das relações
patrimoniais. Em que pese a válida preocupação de se acautelar, via escritura pública,
tanto a própria manifestação de vontade dos conviventes quanto possíveis interesses de
terceiros, é certo que o julgador não pode criar condições onde a lei estabeleceu o
singelo rito do contrato escrito. Nesse particular, é significativo destacar que nem a
regulação do registro de uniões estáveis por oficial de registro civil das pessoas naturais,
feita pelo CNJ, por meio do Provimento 37/14, exige que a união seja averbada no
registro imobiliário correspondente ao dos bens dos conviventes. Assim, se atendidos os
requisitos de validade do negócio jurídico entabulado, o contrato de convivência é válido.
Arigos 1640 e 1725 do CC/02.
REsp 1.459.597-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi
REsp 1.689.152-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade,
julgado em 24/10/2017, DJe 22/11/2017 – INFORMATIVO 616

O propósito recursal consiste em definir se, numa dissolução de união estável de companheiro sexagenário, é necessário, para
fins de partilha, a prova do esforço comum, bem como se o prêmio de loteria, ganho no período da relação conjugal, é
comunicável ao parceiro. No caso em exame, a lide ganha especial relevo por envolver sexagenário ao qual, por força do art. 258,
parágrafo único, inciso II, do Código Civil de 1916 (equivalente, em parte, ao art. 1.641, inciso II, do Código Civil de 2002), era
imposto o regime de separação obrigatória de bens(recentemente, a Lei n. 12.344/2010 alterou a redação do art. 1.641, II, do
CC, modificando a idade protetiva de60 para 70 anos). Nos ditames da súmula 377 do STF, aplicada ao caso em concreto, "no
regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento" e, por conseguinte, apenas
os bens adquiridos na constância da união estável devem ser amealhados pela companheira. A partir de uma interpretação
autêntica, percebe-se que o Pretório Excelso também estabeleceu que somente mediante o esforço comum entre os cônjuges
(no caso, companheiros) é que se defere a comunicação dos bens, seja para o caso de regime legal ou convencional (RTJ
47/614). Dessa forma, a ex-companheira fará jus à meação dos bens adquiridos durante a união estável, desde que comprovado
o esforço comum. No entanto, em relação ao prêmio lotérico, por se tratar de bem comum, em regra, ocorre sua
comunicabilidade em favor do casal, sendo que tal benesse não se confunde com as aquisições a título gratuito, por doação,
herança ou legado, que integram o patrimônio pessoal do donatário (CC, art. 1.659). A loteria ingressa na comunhão sob a
rubrica de "bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior" (CC/1916, art. 271, II;
CC/2002, art. 1.660, II). Com isso, no caso em que o prêmio de loteria foi recebido por sexagenário durante relação de união
estável, é de se observar que este deve ser objeto de partilha com a ex-companheira pelas seguintes razões: a) é
bem comum que ingressa no patrimônio do casal, independentemente da aferição do esforço de cada um, pouco importando se
houve ou não despesa do accipiens; b) o próprio legislador quem estabeleceu a referida comunicabilidade; c) a comunicabilidade
é a regra, que admite exceções, a depender do regime de bens, sendo que aquele de separação legal do sexagenário é diverso
do regime de separação convencional; d) a partilha dos referidos ganhos com a loteria não ofenderia o desiderato da lei, já que o
prêmio foi ganho durante a relação, não havendo falar em matrimônio realizado por interesse ou em união meramente
especulativa.
NAMORO QUALIFICADO
DIREITO CIVIL. DEFINIÇÃO DE PROPÓSITO DE CONSTITUIR FAMÍLIA PARA EFEITO DE
RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL.
O fato de namorados projetarem constituir família no futuro não caracteriza união estável,
ainda que haja coabitação. Isso porque essas circunstâncias não bastam à verificação
da affectio maritalis. O propósito de constituir família, alçado pela lei de regência como requisito
essencial à constituição da união estável - a distinguir, inclusive, esta entidade familiar do
denominado "namoro qualificado" -, não consubstancia mera proclamação, para o futuro, da
intenção de constituir uma família. É mais abrangente. Deve se afigurar presente durante toda a
convivência, a partir do efetivo compartilhamento de vidas, com irrestrito apoio moral e material
entre os companheiros. É dizer: a família deve, de fato, estar constituída. Tampouco a coabitação,
por si, evidencia a constituição de uma união estável (ainda que possa vir a constituir, no mais
das vezes, um relevante indício). A coabitação entre namorados, a propósito, afigura-se
absolutamente usual nos tempos atuais, impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos
estigmas, adequar-se à realidade social. Por oportuno, convém ressaltar que existe precedente
do STJ no qual, a despeito da coabitação entre os namorados, por contingências da vida,
inclusive com o consequente fortalecimento da relação, reconheceu-se inexistente a união
estável, justamente em virtude da não configuração do animus maritalis (REsp 1.257.819-SP,
Terceira Turma, DJe 15/12/2011). REsp 1.454.643-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 3/3/2015, DJe 10/3/2015.
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL - IMPROCEDÊNCIA -
RELAÇÃO DE NAMORO QUE NÃO SE TRANSMUDOU EM UNIÃO ESTÁVEL EM RAZÃO DA DEDICAÇÃO E
SOLIDARIEDADE PRESTADA PELA RECORRENTE AO NAMORADO, DURANTE O TRATAMENTO DA DOENÇA QUE
ACARRETOU SUA MORTE - AUSÊNCIA DO INTUITO DE CONSTITUIR FAMÍLIA - MODIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS
FÁTICOS-PROBATÓRIOS - IMPOSSIBILIDADE - INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7/STJ - RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.
I - Na hipótese dos autos, as Instâncias ordinárias, com esteio nos elementos fáticos-probatórios, concluíram, de forma
uníssona, que o relacionamento vivido entre a ora recorrente, F. F., e o de cujus, L., não consubstanciou entidade
familiar, na modalidade união estável, não ultrapassando, na verdade, do estágio de namoro, que se estreitou, tão-
somente, em razão da doença que acometeu L.;
II - Efetivamente, no tocante ao período compreendido entre 1998 e final de 1999, não se infere do comportamento
destes, tal como delineado pelas Instâncias ordinárias, qualquer projeção no meio social de que a relação por eles vivida
conservava contornos (sequer resquícios, na verdade), de uma entidade familiar. Não se pode compreender como
entidade familiar uma relação em que não se denota posse do estado de casado, qualquer comunhão de esforços,
solidariedade, lealdade (conceito que abrange "franqueza, consideração, sinceridade, informação e, sem dúvida,
fidelidade", ut REsp 1157273/RN, Relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe 07/06/2010), além do exíguo tempo, o qual
também não se pode reputar de duradouro, tampouco, de contínuo;
III - Após o conhecimento da doença (final de 1999 e julho de 2001), L. e F. F. passaram a residir, em São Paulo, na casa
do pai de L., sem que a relação transmudasse para uma união estável, já que ausente, ainda, a intenção de constituir
família. Na verdade, ainda que a habitação comum revele um indício caracterizador da affectio maritalis, sua ausência ou
presença não consubstancia fator decisivo ao reconhecimento da citada entidade familiar, devendo encontrar-se
presentes, necessariamente, outros relevantes elementos que denotem o imprescindível intuito de constituir uma família;

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IV - No ponto, segundo as razões veiculadas no presente recurso especial, o plano de constituir
família encontrar-se-ia evidenciado na prova testemunhal, bem como pelo armazenamento de sêmen
com a finalidade única de, com a recorrente, procriar. Entretanto, tal assertiva não encontrou qualquer
respaldo na prova produzida nos autos, tomada em seu conjunto, sendo certo, inclusive, conforme
deixaram assente as Instâncias ordinárias, de forma uníssona, que tal procedimento (armazenamento
de sêmen) é inerente ao tratamento daqueles que se submetem à quimioterapia, ante o risco
subseqüente da infertilidade. Não houve, portanto, qualquer declaração por parte de L. ou indicação
(ou mesmo indícios) de que tal material fosse, em alguma oportunidade, destinado à inseminação da
ora recorrente, como sugere em suas razões. Bem de ver, assim, que as razões recursais, em
confronto com a fundamentação do acórdão recorrido, prendem-se a uma perspectiva de reexame de
matéria de fato e prova, providência inadmissível na via eleita, a teor do enunciado 7 da Súmula desta
Corte;
V - Efetivamente, a dedicação e a solidariedade prestadas pela ora recorrente ao namorado L., ponto
incontroverso nos autos, por si só, não tem o condão de transmudar a relação de namoro para a de
união estável, assim compreendida como unidade familiar. Revela-se imprescindível, para tanto, a
presença inequívoca do intuito de constituir uma família, de ambas as partes, desiderato, contudo, que
não se infere das condutas e dos comportamentos exteriorizados por L., bem como pela própria
recorrente, devidamente delineados pelas Instâncias ordinárias; VI - Recurso Especial improvido.
(REsp 1257819/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe
15/12/2011)
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TJMG - DIREITO DE FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. IMPOSSIBILIDADE.
RELACIONAMENTO AFETIVO QUE SE CARACTERIZA COMO NAMORO. AUSÊNCIA DE OBJETIVO
DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA. Não é qualquer relacionamento amoroso que se caracteriza em união
estável, sob pena de banalização e desvirtuamento de um importante instituto jurídico. Se a união
estável se difere do casamento civil, em razão da informalidade, a união estável vai diferir do namoro,
pelo fato de aquele relacionamento afetivo visar a constituição de família. Assim, um relacionamento
afetivo, ainda que público, contínuo e duradouro não será união estável, caso não tenha o objetivo de
constituir família. Será apenas e tão apenas um namoro. Este traço distintivo é fundamental dado ao fato
de que as formas modernas de relacionamento afetivo envolvem convivência pública, contínua, às vezes
duradoura, com os parceiros, muitas vezes, dormindo juntos, mas com projetos paralelos de vida, em
que cada uma das partes não abre mão de sua individualidade e liberdade pelo outro. O que há é um EU
e um OUTRO e não um NÓS. Não há nesse tipo de relacionamento qualquer objetivo de constituir
família, pois para haver família o EU cede espaço para o NÓS. Os projetos pessoais caminham em prol
do benefício da união. Os vínculos são mais sólidos, não se limitando a uma questão afetiva ou sexual
ou financeira. O que há é um projeto de vida em comum, em que cada um dos parceiros age pensando
no proveito da relação. Pode até não dar certo, mas não por falta de vontade. Os namoros, a princípio,
não têm isso. Podem até evoluir para uma união estável ou casamento civil, mas, muitas vezes, se
estagnam, não passando de um mero relacionamento pessoal, fundados em outros interesses, como
sexual, afetivo, pessoal e financeiro. Um supre a carência e o desejo do outro. Na linguagem dos jovens,
os parceiros se curtem. Acórdão: Apelação Cível n. 1.0145.05.280647-1/001, de Juiz De Fora. Relator:
Des. Maria Elza. Data da decisão: 18.12.2008.
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CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. CONTRATO DE CONVIVÊNCIA. 1) ALEGAÇÃO
DE NULIDADE DO CONTRATO. INOCORRÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO. ART. 104 E
INCISOS DO CC/02. SENILIDADE E DOENÇA INCURÁVEL, POR SI, NÃO É MOTIVO DE INCAPACIDADE PARA O
EXERCÍCIO DE DIREITO. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS INDICATIVOS DE QUE NÃO TINHA O NECESSÁRIO
DISCERNIMENTO PARA A PRÁTICA DO NEGÓCIO JURÍDICO. AFIRMADA AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DE
VONTADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DO STJ. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº
284 DO STF. REGIME OBRIGATÓRIO DE SEPARAÇÃO DE BENS NO CASAMENTO. INCISO II DO ART. 1.641 DO
CC/02. APLICAÇÃO NA UNIÃO ESTÁVEL. AFERIÇÃO DA IDADE. ÉPOCA DO INÍCIO DO RELACIONAMENTO.
PRECEDENTES. APONTADA VIOLAÇÃO DE SÚMULA. DESCABIMENTO. NÃO SE ENQUADRA NO CONCEITO DE
LEGISLAÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. RECURSO ESPECIAL
DO EX-COMPANHEIRO NÃO PROVIDO. 2) PRETENSÃO DE SE ATRIBUIR EFEITOS RETROATIVOS A CONTRATO DE
CONVIVÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL DA EX-COMPANHEIRA NÃO PROVIDO.
1. A condição de idoso e o acometimento de doença incurável à época da celebração do contrato de convivência, por si, não
é motivo de incapacidade para o exercício de direito ou empecilho para contrair obrigações, quando não há elementos
indicativos da ausência de discernimento para compreensão do negócio jurídico realizado.
2. Com o aumento da expectativa de vida do povo brasileiro, conforme pesquisa do IBGE, com a notória recente melhoria
na qualidade de vida dos idosos e, com os avanços da medicina, não é razoável afirmar que a pessoa maior de 60 anos não
tenha capacidade para praticar os atos da vida civil. Afirmar o contrário afrontaria diretamente o princípio da dignidade da
pessoa humana e o da igualdade.
3. A alteração da conclusão do Tribunal a quo, com base nos elementos probatórios de que não existia um mínimo de prova
indicando que não houve livre manifestação da vontade e de que não se comprovou alteração no estado emocional ou
ausência de capacidade para a formalização do ajuste, não é possível de ser feita em recurso especial, em razão do óbice
contido na Súmula nº 7 do STJ.
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4. A deficiência na fundamentação do recurso especial no que tange à alegada ofensa aos arts. 1.641, II, 104, 145
e 171 do CC/02 atrai a incidência da Súmula nº 284 do STF. 5. Apesar do inciso II do art. 1.641 do CC/02 impor o
regime da separação obrigatória de bens somente no casamento da pessoa maior de 60 anos (70 anos após a
vigência da Lei nº 12.344/2010), a jurisprudência desta egrégia Corte Superior estendeu essa limitação à união
estável quando ao menos um dos companheiros contar tal idade à época do início do relacionamento, o que não é
o caso. Precedentes.
6. O fato do convivente ter celebrado acordo com mais de sessenta anos de idade não torna nulo contrato de
convivência, pois os ex-companheiros, livre e espontaneamente, convencionaram que as relações patrimoniais
seriam regidas pelo regime da separação total de bens, que se assemelha ao regime de separação de bens.
Observância do disposto no inciso II do art. 1.641 do CC/02.
7. A jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que o apelo nobre não constitui via adequada para
análise de eventual ofensa a enunciado sumular por não estar ele compreendido na expressão "lei federal"
constante da alínea a do inciso III do art. 105 da CF.
Precedentes. Some-se o fato da ausência de demonstração e comprovação do dissídio jurisprudencial na forma
legal exigida.
8. No curso do período de convivência, não é lícito aos conviventes atribuírem por contrato efeitos retroativos à
união estável elegendo o regime de bens para a sociedade de fato, pois, assim, se estar-se-ia conferindo mais
benefícios à união estável que ao casamento.
9. Recursos especiais não providos.
(REsp 1383624/MG, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/06/2015, DJe 12/06/2015)
21
DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. ALIMENTOS. UNIÃO ESTÁVEL ENTRE SEXAGENÁRIOS. REGIME DE BENS APLICÁVEL.
DISTINÇÃO ENTRE FRUTOS E PRODUTO. 1. Se o TJ/PR fixou os alimentos levando em consideração o binômio necessidades
da alimentanda e possibilidades do alimentante, suas conclusões são infensas ao reexame do STJ nesta sede recursal.
2. O regime de bens aplicável na união estável é o da comunhão parcial, pelo qual há comunicabilidade ou meação dos
bens adquiridos a título oneroso na constância da união, prescindindo-se, para tanto, da prova de que a aquisição
decorreu do esforço comum de ambos os companheiros.
3. A comunicabilidade dos bens adquiridos na constância da união estável é regra e, como tal, deve prevalecer sobre as exceções,
as quais merecem interpretação restritiva, devendo ser consideradas as peculiaridades de cada caso.
4. A restrição aos atos praticados por pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos representa ofensa ao princípio da
dignidade da pessoa humana.
5. Embora tenha prevalecido no âmbito do STJ o entendimento de que o regime aplicável na união estável entre
sexagenários é o da separação obrigatória de bens, segue esse regime temperado pela Súmula 377 do STF, com a
comunicação dos bens adquiridos onerosamente na constância da união, sendo presumido o esforço comum, o que
equivale à aplicação do regime da comunhão parcial.
6. É salutar a distinção entre a incomunicabilidade do produto dos bens adquiridos anteriormente ao início da união, contida no § 1º
do art. 5º da Lei n.º 9.278, de 1996, e a comunicabilidade dos frutos dos bens comuns ou dos particulares de cada cônjuge
percebidos na constância do casamento ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão, conforme previsão do art. 1.660, V, do
CC/02, correspondente ao art. 271, V, do CC/16, aplicável na espécie.
7. Se o acórdão recorrido categoriza como frutos dos bens particulares do ex-companheiro aqueles adquiridos ao longo da união
estável, e não como produto de bens eventualmente adquiridos anteriormente ao início da união, opera-se a comunicação desses
frutos para fins de partilha.
8. Recurso especial de G. T. N. não provido. 9. Recurso especial de M. DE L. P. S. provido. (REsp 1171820/PR, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 27/04/2011)
22
INFORMATIVO 595 STJ
Cingiu-se a discussão em definir a obrigatoriedade do regime de separação de bens dispensada ao
noivo varão que, ao contrair matrimônio, não obstante contar com mais de 60 anos de idade, era parte
de união estável consensual e duradoura há mais de 15 anos. O artigo 258, parágrafo único, II, do
CC/16 – vigente à época dos fatos – previa como sendo obrigatório o regime de separação total de
bens quando o casamento envolvesse noivo maior de sessenta ou noiva maior de cinquenta anos e
tinha por objetivo a proteção do idoso e seus herdeiros necessários dos casamentos realizados por
interesse estritamente econômico. Com o advento do CC/2002, a restrição foi também estabelecida
para nubentes de ambos os sexos maiores de sessenta anos, posteriormente alterada pela Lei n.
12.334/2010 para alcançar apenas os maiores de setenta anos. Não obstante argumentações
existentes a respeito da constitucionalidade do regramento em debate, tem-se por suficiente a
interpretação teleológica da norma para a solução do caso concreto. Sendo assim, se a convivência
entre os nubentes se fazia sólida, em união estável, duradoura e consensual, não há que se falar na
necessidade de proteção do idoso para obstar vínculo conjugal por interesse exclusivamente
econômico. Destaca-se, ainda, que acatar fundamentação contrária, além de ir de encontro à teleologia
do instituto, acarretaria incoerência jurídica e lógica, visto que, durante o período de união estável, o
regime vigente era o de comunhão parcial, de modo que, ao optar pela contração do matrimônio, não
faria sentido impor regime mais gravoso, qual seja, o da separação, sob pena de estimular a
permanência na relação informal e penalizar aqueles que buscassem maior reconhecimento e proteção
por parte do Estado, impossibilitando a oficialização do matrimônio. REsp 1.318.281-PE, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, por unanimidade, julgado em 1/12/2016, DJe 7/12/2016.
QUESTIONAMENTO: Pode-se falar em outorga convivencial?
STJ - DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL. DIREITO DE FAMÍLIA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. FIANÇA.
FIADORA QUE CONVIVIA EM UNIÃO ESTÁVEL. INEXISTÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. DISPENSA.
VALIDADE DA GARANTIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N. 332/STJ. 1. Mostra-se de extrema relevância
para a construção de uma jurisprudência consistente acerca da disciplina do casamento e da união estável
saber, diante das naturais diferenças entre os dois institutos, quais os limites e possibilidades de tratamento
jurídico diferenciado entre eles. 2. Toda e qualquer diferença entre casamento e união estável deve ser
analisada a partir da dupla concepção do que seja casamento - por um lado, ato jurídico solene do qual
decorre uma relação jurídica com efeitos tipificados pelo ordenamento jurídico, e, por outro, uma entidade
familiar, dentre várias outras protegidas pela Constituição. 3. Assim, o casamento, tido por entidade familiar,
não se difere em nenhum aspecto da união estável - também uma entidade familiar -, porquanto não há
famílias timbradas como de "segunda classe" pela Constituição Federal de 1988, diferentemente do que
ocorria nos diplomas constitucionais e legais superados. Apenas quando se analisa o casamento como ato
jurídico formal e solene é que as diferenças entre este e a união estável se fazem visíveis, e somente em razão
dessas diferenças entre casamento - ato jurídico - e união estável é que o tratamento legal ou jurisprudencial
diferenciado se justifica. 4. A exigência de outorga uxória a determinados negócios jurídicos transita
exatamente por este aspecto em que o tratamento diferenciado entre casamento e união estável é justificável.
É por intermédio do ato jurídico cartorário e solene do casamento que se presume a publicidade do estado civil
dos contratantes, de modo que, em sendo eles conviventes em união estável, hão de ser dispensadas as
vênias conjugais para a concessão de fiança. 5. Desse modo, não é nula nem anulável a fiança prestada por
fiador convivente em união estável sem a outorga uxória do outro companheiro. Não incidência da Súmula n.
332/STJ à união estável. 6. Recurso especial provido. (REsp 1299866/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 21/03/2014) INFORMATIVO 535 DO STJ.
STJ - DIREITO CIVIL. ALIENAÇÃO, SEM CONSENTIMENTO DO COMPANHEIRO, DE BEM IMÓVEL
ADQUIRIDO NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. A invalidação da alienação de imóvel comum, fundada
na falta de consentimento do companheiro, dependerá da publicidade conferida à união estável, mediante a
averbação de contrato de convivência ou da decisão declaratória da existência de união estável no Ofício do
Registro de Imóveis em que cadastrados os bens comuns, ou da demonstração de má-fé do adquirente. A Lei
9.278/1996, em seu art. 5º, ao dispor acerca dos bens adquiridos na constância da união estável, estabeleceu
serem eles considerados fruto do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos os
conviventes, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato escrito. Dispôs, ainda,
que a administração do patrimônio comum dos conviventes compete a ambos, questão também submetida ao
poder de disposição dos conviventes. Nessa perspectiva, conforme entendimento doutrinário, a alienação de
bem co-titularizado por ambos os conviventes, na esteira do citado artigo, sem a anuência de um dos
condôminos, representaria alienação - pelo menos em parte - de coisa alheia, caracterizando uma venda "a non
domino", ou seja, um ato ilícito. Por outro lado, inolvidável a aplicabilidade, em regra, da comunhão parcial de
bens à união estável, consoante o disposto no caput do art. 1.725 do CC. E, especialmente acerca da
disponibilidade dos bens, em se tratando de regime que não o da separação absoluta, consoante disciplinou o
CC no seu art. 1.647, nenhum dos cônjuges poderá, sem autorização do outro, alienar ou gravar de ônus real
os bens imóveis. A interpretação dessas normas, ou seja, do art. 5º da Lei 9.278/1996 e dos já referidos arts.
1.725 e 1.647 do CC, fazendo-as alcançar a união estável, não fosse pela subsunção mesma, esteia-se, ainda,
no fato de que a mesma ratio - que indisfarçavelmente imbuiu o legislador a estabelecer a outorga uxória e
marital em relação ao casamento - mostra-se presente em relação à união estável; ou seja, a proteção da
família (com a qual, aliás, compromete-se o Estado, seja legal, seja constitucionalmente).
Todavia, levando-se em consideração os interesses de terceiros de boa-fé, bem como a segurança jurídica
necessária para o fomento do comércio jurídico, os efeitos da inobservância da autorização conjugal em
sede de união estável dependerão, para a sua produção (ou seja, para a eventual anulação da alienação do
imóvel que integra o patrimônio comum) da existência de uma prévia e ampla notoriedade dessa união
estável. No casamento, ante a sua peculiar conformação registral, até mesmo porque dele decorre a
automática alteração de estado de pessoa e, assim, dos documentos de identificação dos indivíduos, é ínsita
essa ampla e irrestrita publicidade. Projetando-se tal publicidade à união estável, a anulação da alienação do
imóvel dependerá da averbação do contrato de convivência ou do ato decisório que declara a união no
Registro Imobiliário em que inscritos os imóveis adquiridos na constância da união. A necessidade de
segurança jurídica, tão cara à dinâmica dos negócios na sociedade contemporânea, exige que os atos
jurídicos celebrados de boa-fé sejam preservados. Em outras palavras, nas hipóteses em que os conviventes
tornem pública e notória a sua relação, mediante averbação, no registro de imóveis em que cadastrados os
bens comuns, do contrato de convivência ou da decisão declaratória da existência da união estável, não se
poderá considerar o terceiro adquirente do bem como de boa-fé, assim como não seria considerado caso se
estivesse diante da venda de bem imóvel no curso do casamento. Contrariamente, não havendo o referido
registro da relação na matrícula dos imóveis comuns, ou não se demonstrando a má-fé do adquirente, deve-
se presumir a sua boa-fé, não sendo possível a invalidação do negócio que, à aparência, foi higidamente
celebrado. Por fim, não se olvide que o direito do companheiro prejudicado pela alienação de bem que
integrava o patrimônio comum remanesce sobre o valor obtido com a alienação, o que deverá ser objeto de
análise em ação própria em que se discuta acerca da partilha do patrimônio do casal. REsp 1.424.275-MT,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014, DJe 16/12/2014. – Informativo 554/STJ
VIÚVA X CONCUBINA
RECURSO ESPECIAL. MILITAR. PENSÃO POR MORTE. RATEIO ENTRE
CONCUBINA E VIÚVA. IMPOSSIBILIDADE.
I - Ao erigir à condição de entidade familiar a união estável, inclusive
facilitando a sua conversão em casamento, por certo que a Constituição
Federal e a legislação infraconstitucional não contemplaram o concubinato,
que resulta de união entre homem e mulher impedidos legalmente de se
casar. Na espécie, o acórdão recorrido atesta que o militar convivia com sua
legítima esposa.
II - O direito à pensão militar por morte, prevista na Lei nº 5.774/71, vigente à
época do óbito do instituidor, só deve ser deferida à esposa, ou a
companheira, e não à concubina.
Recurso especial provido.
(REsp 813.175/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado
em 23/08/2007, DJ 29/10/2007, p. 299)
UNIÃO ESTÁVEL SIMULTÂNEA
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL NÃO RECONHECIDA. HOMEM CASADO.
SEPARAÇÃO DE FATO NÃO COMPROVADA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.
DECISÃO MANTIDA.
1. "A jurisprudência do STJ e do STF é sólida em não reconhecer como união estável a relação
concubinária não eventual, simultânea ao casamento, quando não estiver provada a separação
de fato ou de direito do parceiro casado" (AgRg no AREsp 748.452, Relator Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 23/2/2016, DJe 7/3/2016).
2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do
contexto fático-probatório dos autos (Súmula n. 7 do STJ).
3. No caso concreto, o Tribunal de origem concluiu pela ausência de comprovação da
separação de fato. Alterar esse entendimento demandaria o reexame das provas produzidas
nos autos, o que é vedado em recurso especial.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 999.189/MS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 16/05/2017, DJe 23/05/2017)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL.
VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC/1973. INEXISTÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. SÚMULA 283/STF.
RECONHECIMENTO DA EXISTÊNCIA DE OUTRA UNIÃO ESTÁVEL. SÚMULA 7/STJ. UNIÕES ESTÁVEIS
SIMULTÂNEAS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A Corte de origem dirimiu a matéria submetida à sua apreciação, manifestando-se expressamente acerca dos
temas necessários à integral solução da lide. Dessa forma, não havendo omissão, contradição ou obscuridade no
aresto recorrido, não se verifica a ofensa ao artigo 535, II, do CPC/1973.
2. Afirmou a Corte de origem que as provas colhidas em processo administrativo foram juntadas aos autos pela
própria agravante, que não pode, assim, alegar ausência de contraditório e ampla defesa. A ausência de
impugnação, nas razões do recurso especial, de referido fundamento, autônomo e suficiente para manter
incólume o aresto recorrido, atrai o óbice da Súmula 283 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual: "É
inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e
o recurso não abrange todos eles." 3. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem entendeu estar comprovada de
forma cabal a convivência entre a primeira requerida e o falecido, inexistindo razão para anulação da sentença
que homologou acordo com os herdeiros no sentido de reconhecer a união estável. Alterar esse entendimento
para concluir ter havido má-fé na realização do acordo, já que na realidade o falecido mantinha união estável com
a ora agravante, esbarra no óbice da Súmula 7/STJ.
4. Esta Corte Superior entende ser inadmissível o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas. Precedentes.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 455.777/DF, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/08/2016, DJe
08/09/2016)
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CASAMENTO E
CONCUBINATO SIMULTÂNEOS. SEPARAÇÃO DE FATO. SÚMULA N.
7/STJ. UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Aplica-se a Súmula n. 7 do STJ se o acolhimento da tese defendida
no agravo regimental reclamar a análise dos elementos probatórios
produzidos ao longo da demanda.
2. A relação concubinária mantida de maneira simultânea ao matrimônio
não pode ser reconhecida como união estável.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1336163/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/12/2015, DJe
04/12/2015)
Notícias STJ – 14/01/19

Falta de comprovação de boa-fé impede reconhecimento de união estável com homem casado não separado
de fato
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao recurso de um espólio para excluir da
herança uma mulher que manteve relacionamento amoroso com o falecido ao longo de 17 anos, por concluir não ter
sido comprovado que ela não soubesse que ele era casado durante todo esse período.
Segundo o relator do caso, ministro Luis Felipe Salomão, não é crível que, após 17 anos de relacionamento, a autora
da ação não soubesse que o falecido, além de casado, mantinha convívio com sua esposa, de quem não se achava
separado de fato.
Para o ministro, o ponto central da controvérsia está em definir se ocorreu concubinato de boa-fé (situação em que a
mulher não saberia da real situação do parceiro). “O deslinde da controvérsia posta nos autos, portanto, reclama tão
somente a correta qualificação jurídica da convivência afetiva ostensiva, contínua e duradoura estabelecida com
pessoa casada que não se encontrava separada de fato: concubinato ou união estável”, disse ele.
O tribunal de origem manteve a sentença que julgou procedente a pretensão da mulher, considerando demonstrada a
união estável putativa e determinando a partilha de 50% dos bens adquiridos durante a convivência, ressalvada a
meação da viúva.
Porém, no STJ, em voto acompanhado de forma unânime pelo colegiado, o ministro Salomão afirmou que a mulher
não conseguiu comprovar a ocorrência do concubinato de boa-fé, o qual, segundo doutrina abalizada, poderia ensejar
a aplicação analógica da norma do casamento putativo.
Revaloração de fatos
Salomão destacou que toda a moldura fática que vincula o deslinde da controvérsia está transcrita no
acórdão recorrido, inclusive com a reprodução de depoimentos e testemunhos, “o que possibilita a sua
revaloração pelo STJ a fim de lhe atribuir qualificação jurídica diversa, sem a necessidade do revolvimento
do acervo probatório vedado pela Súmula 7”.
Entre os fatos narrados no acórdão, o ministro citou que ambos trabalhavam na mesma repartição pública, e
a mulher teria ouvido que ele era casado.
“Analisando o quadro fático perfeitamente delineado pelo tribunal de origem, considero que não se revela
possível extrair a premissa de que a autora mantinha relação amorosa contínua e duradoura com o de
cujus sem ter ciência de que ele era casado e não se achava separado de fato da esposa”, disse.
Exclusividade
Salomão destacou que o sistema criado pelo legislador pressupõe a exclusividade de relacionamento sólido
para a caracterização da união estável. “Poder-se-ia dizer que o maior óbice ao reconhecimento de uma
união estável entre pessoas sem qualquer parentesco seria a existência de casamento”, resumiu.
O ministro citou precedentes do STJ que, por força do disposto no parágrafo 1º do artigo 1.723 do Código
Civil, afirmam a impossibilidade de se reconhecer união estável de pessoa casada não separada de fato, o
que demonstra a vedação à atribuição de efeitos jurídicos às relações afetivas paralelas, como a que
ocorreu no caso analisado.
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.
DECISÕES INÉDITAS - CIVIL E PROCESSUAL. SEGURO DE VIDA REALIZADO EM FAVOR
DE CONCUBINA. HOMEM CASADO. SITUAÇÃO PECULIAR, DE COEXISTÊNCIA DURADOURA DO
DE CUJUS COM DUAS FAMÍLIAS E PROLE CONCOMITANTE ADVINDA DE AMBAS AS RELAÇÕES.
INDICAÇÃO DA CONCUBINA COMO BENEFICIÁRIA DO BENEFÍCIO.
FRACIONAMENTO. CC, ARTS. 1.474, 1.177 E 248, IV. PROCURAÇÃO.
RECONHECIMENTO DE FIRMA. FALTA SUPRÍVEL PELA RATIFICAÇÃO ULTERIOR DOS PODERES.
I. Não acarreta a nulidade dos atos processuais a falta de reconhecimento de firma na procuração
outorgada ao advogado, se a sucessão dos atos praticados ao longo do processo confirmam a
existência do mandato.
II. Inobstante a regra protetora da família, consubstanciada nos arts. 1.474, 1.177 e 248, IV, da lei
substantiva civil, impedindo a concubina de ser instituída como beneficiária de seguro de vida, porque
casado o de cujus, a particular situação dos autos, que demonstra espécie de "bigamia", em que o
extinto mantinha-se ligado à família legítima e concubinária, tendo prole concomitante com ambas,
demanda solução isonômica, atendendo-se à melhor aplicação do Direito.
III. Recurso conhecido e provido em parte, para determinar o fracionamento, por igual, da indenização
securitária.
(REsp 100.888/BA, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
14/12/2000, DJ 12/03/2001, p. 144)
RECURSO ESPECIAL. PENSÃO PREVIDENCIÁRIA. PARTILHA DA
PENSÃO ENTRE A VIÚVA E A CONCUBINA. COEXISTÊNCIA DE
VÍNCULO CONJUGAL E A NÃO SEPARAÇÃO DE FATO DA ESPOSA.
CONCUBINATO IMPURO DE LONGA DURAÇÃO.
"Circunstâncias especiais reconhecidas em juízo".
Possibilidade de geração de direitos e obrigações, máxime, no plano da
assistência social.
Acórdão recorrido não deliberou à luz dos preceitos legais invocados.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 742.685/RJ, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2005, DJ 05/09/2005, p. 484)
RECURSO ESPECIAL. CONCUBINATO DE LONGA DURAÇÃO. CONDENAÇÃO A ALIMENTOS. NEGATIVA DE VIGÊNCIA DE
LEI FEDERAL. CASO PECULIARÍSSIMO. PRESERVAÇÃO DA FAMÍLIA X DIGNIDADE E SOLIDARIEDADE HUMANAS.
SUSTENTO DA ALIMENTANDA PELO ALIMENTANTE POR QUATRO DÉCADAS. DECISÃO. MANUTENÇÃO DE SITUAÇÃO
FÁTICA PREEXISTENTE. INEXISTÊNCIA DE RISCO PARA A FAMÍLIA EM RAZÃO DO DECURSO DO TEMPO. COMPROVADO
RISCO DE DEIXAR DESASSISTIDA PESSOA IDOSA. INCIDÊNCIA DOS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE E SOLIDARIEDADE
HUMANAS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. INEXISTÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICO-JURÍDICA.
1. De regra, o reconhecimento da existência e dissolução de concubinato impuro, ainda que de longa duração, não gera o dever
de prestar alimentos a concubina, pois a família é um bem a ser preservado a qualquer custo.
2. Nada obstante, dada a peculiaridade do caso e em face da incidência dos princípios da dignidade e solidariedade humanas, há
de se manter a obrigação de prestação de alimentos a concubina idosa que os recebeu por mais de quatro décadas, sob pena de
causar-lhe desamparo, mormente quando o longo decurso do tempo afasta qualquer riso de desestruturação familiar para o
prestador de alimentos.
3. O acórdão recorrido, com base na existência de circunstâncias peculiaríssimas - ser a alimentanda septuagenária e ter, na sua
juventude, desistido de sua atividade profissional para dedicar-se ao alimentante; haver prova inconteste da dependência
econômica; ter o alimentante, ao longo dos quarenta anos em que perdurou o relacionamento amoroso, provido espontaneamente
o sustento da alimentanda -, determinou que o recorrente voltasse a prover o sustento da recorrida. Ao assim decidir, amparou-se
em interpretação que evitou solução absurda e manifestamente injusta do caso submetido à deliberação jurisprudencial.
4. Não se conhece da divergência jurisprudencial quando os julgados dissidentes tratam de situações fáticas diversas.
5. Recurso especial conhecido em parte e desprovido.
(REsp 1185337/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 31/03/2015)
TEMA 526 STF - Possibilidade de concubinato de longa duração
gerar efeitos previdenciários. Recurso Extraordinário 883.168

Recurso Extraordinário (RE) 1045273 que discute se é possível o


reconhecimento jurídico de união estável e de relação homoafetiva
concomitantes, com o consequente rateio de pensão por morte
CASO FAMOSO - Valdemar do Amor Divino Santos e de Joana da Paixão Luz. O homem era casado e tinha
com sua esposa 11 filhos. Entretanto, manteve, durante 37 anos, uma relação afetivo-sexual e verdadeiramente
familiar com Joana da Paixão Luz, com quem teve mais nove filhos.

o Ministro Carlos Britto foi voto vencido, mas, ao retrucar a posição do Ministro Ricardo Lewandowski, fez a
seguinte ponderação:

[...] mas digo, pura e simplesmente, que a definição de concubinato, como mero “dormir juntos”, não se aplica a
quem dormiu junto durante trinta anos. E segundo: é impossível manter uma relação de trinta anos às
escondidas, clandestinamente. Certamente essa união era pública e notória. [...]

(Recurso Extraordinário n.º 397.762-8/BA)


Reconhecida união estável paralela ao casamento - O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
(TJRS) atendeu parcialmente a pedido em recurso e reconheceu união estável concomitante ao casamento. A decisão da 8ª Câmara
Cível também admite a partilha dos bens eventualmente adquiridos durante a relação extraconjugal, o que deverá ser buscado em outra
ação judicial.
O apelo ao TJRS foi movido por mulher que se relacionou por mais de 14 anos com o parceiro, enquanto ele mantinha-se legalmente
casado – e até que morresse, em 2011. Ela contou que os dois moraram juntos em algumas cidades do Rio Grande do Sul e no Paraná.
O reconhecimento de união estável quando em paralelo a casamento é incomum, e o Código Civil, por exemplo, estabelece como
exceção apenas quando a pessoa é separada de fato ou judicialmente. Ocorre que o caso da decisão também é incomum. Isso porque a
conclusão foi de que a esposa sabia que o marido tinha aquela relação fora do matrimônio. Essa peculiaridade fez diferença na decisão.
Conforme o Desembargador José Antônio Daltoé Cezar, uma vez comprovada a relação extraconjugal “duradoura, pública e com a
intenção de constituir família”, ainda que concomitante ao casamento, é possível, sim, admitir a união estável “desde que o cônjuge não
faltoso com os deveres do casamento tenha efetiva ciência da existência dessa outra relação fora dele, o que aqui está devidamente
demonstrado”, disse o relator.
Para ele, “se a esposa concorda em compartilhar o marido em vida, também deve aceitar a divisão de seu patrimônio após a morte, se
fazendo necessária a preservação do interesse de ambas as células familiares constituídas”.
Afeto
O Desembargador disse também que não pode o “formalismo legal” prevalecer sobre uma situação de fato consolidada por anos, e que
no direito de família contemporâneo o “norte” é o afeto. “Havendo inércia do legislador em reconhecer a simultaneidade familiar, cabe ao
Estado-juiz, suprindo essa omissão, a tarefa de análise das particularidades do caso concreto e reconhecimento de direitos”, afirmou no
acórdão.
Considera que o conceito de família está em transformação, “evolução histórica” atrelada a avanços sociais, permitindo a revisão do
princípio da monogamia e o dever de lealdade estabelecidos. “Deixando de lado julgamentos morais, certo é que casos como o presente
são mais comuns do que pensamos e merecem ser objeto de proteção jurídica, até mesmo porque o preconceito não impede sua
ocorrência, muito menos a imposição do ‘castigo’ da marginalização vai fazê-lo”.
Demais votos
Entre os julgadores que acompanharam o voto do relator, O Desembargador Rui Portanova comentou
sobre outro aspecto do processo, que é a repartição de bens do falecido. “Não vejo como justo que um
relacionamento que durou décadas, e que era de todos conhecido, pode simplesmente ser apagado do
mundo jurídico”, disse ele. “A partir desse ponto de vista, é preciso buscar a interpretação da regra que
melhor se aproxima do direito posto sem, contudo, permitir que qualquer das partes obtenha vantagem em
detrimento do direito da outra”.
O Desembargador Ricardo Moreira Lins Pastl reconheceu o relacionamento estável afirmando que
solução diferente “consagraria, ao cabo, uma situação de injustiça e, especialmente, de enriquecimento
indevido da Sucessão”.
Para a Juíza de Direito convocada ao TJRS, Rosana Broglio Garbin, o ordenamento jurídico deve
acompanhar a evolução das relações sociais de modo a superar “conceitos atrasados” e que não atendam
à pluralidade das entidades familiares.
O posicionamento divergente foi do Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, cujo entendimento é de que
o direito de família brasileiro está baseado no princípio da monogamia. “Se não são admitidos como
válidos dois casamentos simultâneos, não há coerência na admissão de uma união de fato (união estável)
simultânea ao casamento – sob pena de se atribuir mais direitos a essa união de fato do que ao próprio
casamento, pois um segundo casamento não produziria efeitos, enquanto aquela relação fática, sim”.
Proc. 70082663261
RE 1.045.273/SE
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o Tema 529 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator,
vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen
Lúcia e Marco Aurélio. Em seguida, foi fixada a seguinte tese: "A preexistência de
casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do
artigo 1.723, § 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo
referente ao mesmo período, inclusive para fins previdenciários, em virtude da
consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-
constitucional brasileiro". Plenário, Sessão Virtual de 11.12.2020 a 18.12.2020.
UNIÃO ESTÁVEL POLIAFETIVA
CNJ – pedido de providências n.º 0001459-08.2016.2.00.0000
Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS) X Terceiro Tabelião de Notas e Protesto de Letras e
Títulos de São Vicente (SP) e ao Tabelião de Notas e de Protesto de Letras e Títulos da Comarca de Tupã (SP)

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