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O DIREITO INTERNACIONAL

PRIVADO: TEORIA GERAL E


REGRAS DE CONEXÃO

Carmen Tiburcio
Professora Titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ)
 Determinação da lei aplicável
 Principal objeto do direito internacional privado (“Conflict of
Laws”);
 Inadequação da expressão “Conflito de Leis”;

 Instrumento para determinação da lei aplicável: regras de conexão;

 Regras de conexão: geralmente internas, mas também de fonte

internacional (Haia, CIDIP, Mercosul);


 Escolha de um elemento de conexão (domicílio, nacionalidade,

lugar da celebração) pelo legislador para indicar o ordenamento


jurídico a ser aplicado;
→ Savigny: função da regra de conexão é a busca do centro de
gravidade da relação jurídica, sua
sede.
 Regras de Conexão
 Estatuto pessoal:
•Lex domicilii:

Art. 7º, LINDB: ”A lei do país em que domiciliada


a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim
da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos
de família.”
• Lex patriae:
Art. 8º, ICC: “A lei nacional da pessoa determina
a capacidade civil, os direitos de família, as relações
pessoais dos cônjuges e o regimen dos bens no
casamento, sendo licito quanto a este a opção pela lei
 Regras de Conexão

 Estatuto real:
• Lex rei sitae:
Art. 8º,  LINDB: “Para qualificar os bens e
regular as relações a eles concernentes, aplicar-
se-á a lei do país em que estiverem situados.”
 Regras de Conexão

 Casamento
• lex loci celebrationis
Art. 7º, § 1º, LINDB: ”Realizando-se o
casamento no Brasil, será aplicada a lei
brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e
às formalidades da celebração.”
•Norma unilateral- bilateralizável (direito
privado)
 Regras de Conexão
 Contratos:
Lex loci contractus

Art. 9º, LINDB: ”Para qualificar e reger as


obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituirem.
§ 1o  Destinando-se a obrigação a ser executada no
Brasil e dependendo de forma essencial, será esta
observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira
quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2o  A obrigação resultante do contrato reputa-se
constituida no lugar em que residir o proponente.”
 Regras de Conexão

Art. 13, ICC: ”Regulará, salvo estipulação em


contrário, quanto á substância e aos efeitos das
obrigações, a lei do lugar, onde forem contraídas.
Parágrafo único. Mas sempre se regerão pela lei
brasileira:
I. Os contratos ajustados em países estrangeiros,
quando exeqüíveis no Brasil.
II. As obrigações contraídas entre brasileiros em país
estrangeiro.
III. Os atos relativos a imóveis situados no Brasil.
 Regras de Conexão

Ilícitos:

• lex loci delicti commissi


Art. 9º, LINDB: ”Para qualificar e reger as
obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem.“
 Regras de Conexão
 Sucessões
Art. 10, LINDB: “A sucessão por morte ou por
ausência obedece à lei do país em que domiciliado o
defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a
natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no
País, será regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os
represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do de cujus.      
§ 2o  A lei do domicílio do herdeiro ou legatário
 Regras de Conexão
 Pessoa Jurídica
Art. 11, LINDB:  ”As organizações destinadas a fins de
interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem
à lei do Estado em que se constituirem.
§ 1o  Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências
ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos
aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
brasileira.
§ 2o  Os Governos estrangeiros, bem como as organizações
de qualquer natureza, que eles tenham constituido, dirijam ou
hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no
Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.
§ 3o  Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade
 Regras de Conexão

Art. 19, ICC: “São reconhecidas as pessoas


jurídicas estrangeiras.”

Art. 21, ICC: “A lei nacional das pessoas jurídicas


determina-lhes a capacidade.”
 Regras de Conexão
• Forma
Art. 9 º, § 1º, LINDB: ”Destinando-se a obrigação a
ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as
peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos
extrínsecos do ato.”
Art. 11, ICC: “A forma extrínseca dos atos, públicos
ou particulares, reger-se-á segundo a lei do lugar em
que se praticarem.”
 Depéçage
• A relação jurídica pode ser regida por leis diversas;
•Franceses domiciliados na França celebram no Brasil
contrato de compra de venda de imóvel situado na
Argentina:
• capacidade: lei francesa
• aspectos obrigacionais: lei brasileira
• aspectos formais: lei brasileira
• direitos reais: lei argentina
 Regra de conexão x Jurisdição
• Há que se distinguir as duas questões: lei aplicável e juiz
internacionalmente competente.
• Cronologicamente: em primeiro lugar se fixa a jurisdição e

depois, a lei aplicável.


• A determinação da lei aplicável irá variar em
conformidade com o juiz competente.
Francês domiciliado no Brasil:
a.Juiz francês: RC francesa - nacionalidade - direito
material francês;
b.Juiz brasileiro: RC brasileira – domicílio - direito
material brasileiro;
 Regra de conexão em tratados
• Código Bustamante;
• Convenções da Haia: adoção internacional e sequestro

de crianças (residência habitual);


• CIDIPs: pessoa jurídica, alimentos (lei mais favorável

ao credor);
• Mercosul: acidentes rodoviários (lex loci delicti

commissi ou proximidade)
• CISG: é direito material uniforme - no silêncio das

partes com estabelecimento em Estados ratificantes,


aplica-se a convenção
Regras de conexão rígidas x
flexíveis
Art. 9o, LINDB: ”Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-
se-á a lei do país em que se constituírem. “
Artigo 9, Convenção Interamericana Contratos
Internacionais, 1994: “Não tendo as partes escolhido o direito
aplicável, ou se a escolha do mesmo resultar ineficaz, o contrato
reger-se-á pelo direito do Estado com o qual mantenha os
vínculos mais estreitos.
O tribunal levará em consideração todos os elementos objetivos e
subjetivos que se depreendam do contrato, para determinar o
direito do Estado com o qual mantém os vínculos mais estreitos.
Levar-se-ão também em conta os princípios gerais do direito
comercial internacional aceitos por organismos internacionais.
Não obstante, se uma parte do contrato for separável do restante
Princípios do DIP
• A solução acerca da determinação da lei aplicável
envolve procedimento complexo: regra de conexão +
princípios;
• Princípios: afastam total ou parcialmente a solução
determinada pela regra de conexão;
•Qualificações, Reenvio, Fraude à lei, Questão prévia,
Direitos adquiridos e Ordem pública;
•Críticas: “escape devices”, ainda que se uniformizem as
regras de conexão, esses princípios são domésticos.
• Parte geral do DIP (Regulamento Roma 0)
Qualificações
•As regras de conexão são aplicáveis a grandes categorias: forma
dos atos jurídicos, estatuto pessoal, obrigações.
•A operação de qualificação significa determinar a que categoria
a situação concreta diz respeito para que se possa recorrer à regra
de conexão correspondente.
•Questão: qualificação deve ocorrer segundo as concepções do
foro ou as estrangeiras? Ou ainda segundo critérios autônomos?
Ex: testamento conjuntivo (forma ou capacidade?); casamento
por procuração, outorga uxória.

→ Qualificação: lex fori


→ Na Europa: autônoma
 Fraude à lei

• A modificação dos elementos de conexão ao longo do tempo


é situação banal. Todavia, não se admite que os indivíduos
manipulem esses elementos com intenção de fraudar.
• O DIP impede o reconhecimento dos atos realizados em
fraude à lei quando a alteração dos elementos de conexão
tem como único objetivo escapar a uma lei normalmente
competente em prol de uma outra lei considerada mais
benéfica pela parte.
• Fraude à lei: elemento objetivo (alteração do elemento de
conexão) + elemento subjetivo (intenção fraudulenta) + lei
obrigatória.
• Caso Princesa de Bauffremont (1878), Sofia Loren.
 Reenvio

•Como as regras de conexão são geralmente internas, é


possível que os países envolvidos tenham regras distintas.
Ex. Brasileiro domiciliado na França:
a) Juiz brasileiro- RC brasileira (domicílio)- na
França (nacionalidade);
b) Juiz francês- RC francesa (nacionalidade)-
brasileiro (domicílio).
Reenvio

• No direito convencional e comunitário -


exclusão; também autonomia.

Art. 16, LINDB: ”Quando, nos termos dos


artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição
desta, sem considerar-se qualquer remissão por
ela feita a outra lei.”
Questão prévia

• A rigor trata-se de estabelecer o âmbito de aplicação da


regra de conexão do foro: aplica-se a toda a questão ou
há aspectos da relação jurídica que devem ser decididos
em conformidade com outra regra de conexão?
• A questão prévia só surge após exame da lei estrangeira
indicada como aplicável.
• Ex: Vocação sucessória do cônjuge- De cujus morre
domiciliado em Portugal, em Portugal cônjuge é
herdeiro; casamento no Brasil.
Ordem Pública

•O conjunto de valores ou opções políticas fundamentais


dominantes em uma determinada sociedade em
determinado momento histórico.
• Varia no tempo e no espaço (por ex., divórcio).
•Benjamin Nathan Cardozo no caso Loucks v. Standard
Oil, 224 N.Y 99, 120 N.E 198 (1918): “we are not so
provincial as to say that every solution of a problem is
wrong because we deal with it otherwise at home.”
• Contemporaneidade do exame;
Ordem Pública e Direitos Adquiridos

•A exceção está presente em todas as legislações internas


de DIP, convenções, regulamentos europeus;
• OP na aplicação direta e indireta da lei estrangeira
(direitos adquiridos);

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