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Apostila 3: parte geral Direito

Civil
Deuciane Laquini de Ataide
dlaquini@hotmail.com
Parte Geral: Das Pessoas
Da Pessoa Física ou Natural
1.A personalidade jurídica:
-Um dos temas mais importante para a Teoria Geral
do Direito Civil é, indubitavelmente, a questão da
personalidade jurídica, pois sua caracterização é
uma premissa de todo e qualquer debate no campo
do direito privado.
-Ademais, sendo o ser humano o destinatário final
de toda a norma, forçoso que iniciemos com o
estudo da pessoa natural ou física.
Parte Geral: Das Pessoas
1.1 Conceito
Personalidade jurídica, para a Teoria Geral do
Direito Civil, é a aptidão genérica para titularizar
direitos e contrair obrigações, ou, em outras
palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de
direito. ( Clóvis Bevilácqua).
- A pessoa natural e a pessoa jurídica são dotadas
de personalidade jurídica.
OBS: percebam que o conceito, portanto, é
modelado pela ordem jurídica.
Parte Geral: Das Pessoas
Significa dizer que adquirida a personalidade, o
ente passa a atuar, na qualidade de sujeito de
direito ( seja pessoa natural ou jurídica),
praticando atos e negócios jurídicos.
Veja:
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres
na ordem civil. ( CC-02)
> art. 4º CC-16
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2. Aquisição da personalidade jurídica (pessoa física ou
natural):
-O seu surgimento ocorre a partir do nascimento com
vida ( Art. 2º do CC)
No instante em que principia o funcionamento do
aparelho cardiorrespiratório, clinicamente aferível pelo
exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno
( exame baseado na diferença do peso específico entre o
pulmão que respirou e o que não respirou, mergulhados
na água) e outros, o recém-nascido adquire
personalidade jurídica, tornando-se sujeito de direito,
mesmo que venha a falecer minutos depois.
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OBS: em respeito à dignidade da pessoa não
interessa se o recém-nascido tenha forma humana
ou tenha tempo mínimo de sobrevida.
Consequências, portanto, em exemplo: se o recém-
nascido, cujo pai já tenha morrido, falece minutos
após o parto, terá adquirido, por exemplo, todos os
direitos sucessórios de seu genitor, transferindo-os
para a sua mãe, uma vez que se tornou, ainda que
por breves instantes, sujeito de direito.
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Veja:
Art. 2º CC. A personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe
a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro.
OBS: A primeira parte do artigo parece indicar
que o nosso legislador adotou, então, a Teoria
Natalista ( nesse sentido: Vicente Ráo, Silvio
Rodrigues, Sílvio Venosa, Pablo Stolze, etc).
Parte Geral: Das Pessoas
2.2 O nascituro:
-Conceito: “O que está por nascer, mas já
concebido no ventre materno.” (Limongi França)
-Cuida-se do ente concebido, embora ainda não
nascido, dotado de vida intrauterina, daí porque a
doutrina o diferencia-o do embrião congelado e
mantido em laboratório.
-Portanto, apesar do Código civil não considerar o
nascituro uma pessoa, coloca a salvo os seus
direitos desde a concepção ( Art. 2º CC-02 e art. 4º
CC-16)
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- Portanto, adotando-se a ideia da teoria Natalista,
o nascituro possuiria uma expectativa de direito
(nesse sentido: Vicente Ráo, Silvio Rodrigues,
Sílvio Venosa, etc).
Ocorre que a questão não é pacífica na doutrina:
- Os adeptos da teoria da Personalidade Condicional
entendem que o nascituro possui direitos sob
condição suspensiva ( Arnold Wald, Miguel Maria
de Serpa Lopes. Esta corrente não é tão incisiva ao
ponto de reconhecer a personalidade do nascituro
(inclusive para efeitos patrimoniais).
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- A teoria Concepcionista, por sua vez,
influenciada pelo Direito Francês, adota que o
nascituro adquiriria personalidade jurídica
desde a concepção, sendo assim, considerado
pessoa. (Teixeira de Freitas, Beviláqua, Limonge
França e Francisco Amaral Santos). Essa linha
doutrinária rende ensejo inclusive a se
admitirem efeitos patrimoniais ao nascituro,
decorrentes da personificação do nascituro.
Parte Geral: Das Pessoas
- Existem, ainda, os autores cujo pensamento,
mais comedido, aproximando da Teoria da
personalidade condicional, entende que o
nascituro possui personalidade e, portanto,
titularidade de direitos personalíssimos (sem
conteúdo patrimonial), a exemplo do direito à
vida ou a uma gestação saudável. Maria Helena
Diniz chega a afirmar que o nascituro teria uma
personalidade jurídica formal no que tange aos
direitos personalíssimos e aos da personalidade.
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Tradicionalmente, no Brasil, a doutrina tende a seguir a teoria
Natalista embora a visão concepcionista esteja ganhando força
paulativamente na jurisprudência de nosso país.
-Atividade extra-classe: leitura da ementa referente a ADI-3510-0 ( em
que se questionam dispositivos da Lei da Biossegurança)
Acesso em:
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADIN&s1=3510&processo=3510
-Lei de Alimentos Gravídicos: Lei nº 11.804, de 05 de novembro de
2008.

A verdade é que o tema é bastante polêmico até porque não se


discute que o nascituro tenha direito à vida, e não uma mera
expectativa.
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A questão se torna ainda mais complexa se
levarmos em consideração a polêmica sobre a
eventual descriminalização do aborto ( Arts. 124
a 127 do Código Penal) ou mesmo o já
autorizado aborto necessário ou no caso de
gravidez resultante de estupro ( Art. 128 do CP),
em que o direito à vida é relativizado em função
da tutela de outros valores jurídicos.
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Apesar do nosso Código Civil não conferir
personalidade jurídica ao nascituro, ou seja, não
é considerado pessoa, ele tem a proteção legal
dos seus direitos desde a concepção, apresenta-
se o seguinte esquema, de acordo com o nosso
Código atual e entendimento de Pablo Stolze:
a) O nascituro é titular de direitos
personalíssimos ( como o direito à vida, o direito
de proteção ao pré-natal etc.);
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b) Pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento de
imposto de transmissão inter vivos.
c) Pode ser beneficiado por legado ou herança;
d) Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa de seus
direitos ( Art. 877 e 878 do CPC);
e) O Código Penal tipifica o crime de aborto;
f) Como decorrência da proteção conferida pelos direitos
de personalidade, o nascitura tem o direito á realização
de exame de DNA, para efeito de aferição de paternidade.
Vale lembrar, ainda, sobre o polêmico direito à alimentos
ao nascituro: Lei 11.804, de 05 de novembro de 2008
( Alimentos Gravídicos)
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-Natimorto: possui direitos de personalidade: de


nome, de imagem e de sepultura ( En. 1 da I –
Jornada de Direito Civil);
-Nondum conceptus: a prole eventual da pessoa
existente por ocasião de morte do testador,
quando há disposição testamentária em seu
favor.
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Art. 1.799 CC.Na sucessão testamentária podem ainda
ser chamados a suceder:
I -os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas
pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a
sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for
determinada pelo testador sob a forma de
fundação.
Parte Geral: Das Pessoas
Art. 1.800 CC. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens
da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a
curador nomeado pelo juiz.
§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela
caberá à pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro,
e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art. 1.775.
§ 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim
nomeado, regem-se pelas disposições concernentes à curatela
dos incapazes, no que couber.
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§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida
a sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a
partir da morte do testador.
§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não
for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo
disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros
legítimos.

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