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UNIDADE 5

SOCIEDADE SIMPLES

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5.1 NOÇÕES GERAIS

 Arts. 997 a 1.038 Código Civil

 CC 2002 trouxe dicotomia entre sociedades simples e


empresárias.

 Exercício de atividades econômicas nas duas, mas atividade


própria de empresário sujeito a registro nas sociedades
empresárias (art. 982).

 Sociedades simples são aquelas que não exercem atividades


empresariais (organização não é preponderante) ou atividade de 2
empresário rural sem se registrar na junta comercial.
 Regra geral: definição do espécie societária se dá no
próprio objeto social (art. 982).

 Exceção: atividade rural.

 Definição do tipo societário: qualquer forma destinada


às sociedades empresárias ou sujeitar-se às regras das
sociedades simples (art. 983).

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 Poderá ser simples:

 Com forma limitada


 Com forma de sociedade em nome coletivo
 Com forma de comandita simples
 Com forma de cooperativa
 Com forma de simples

 Regras das sociedades simples são as regras gerais


aplicáveis às sociedades empresárias. Contrassenso.

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5.2 CONSTITUIÇÃO
 O ato constitutivo das sociedades simples é denominado
contrato social e deverá ter a forma escrita, elaborado de
modo particular ou público, e conter uma série de requisitos
elencados no art. 997:

 Qualificação dos sócios (nome, nacionalidade, estado civil,


profissão, domicílio);
 Qualificação da sociedade (nome, objeto, sede, prazo de duração)
– sociedade simples pura usará denominação por equiparação
(art. 1.155);
 Capital social, sua divisão e sua formação (bens ou serviços);
 Participação nos lucros e nas perdas – em geral compete ao
contrato social definir a forma de divisão. Todavia, sua omissão 5
não o invalida, aplicando-se o disposto no art. 1.007.
 Responsáveis pela administração da sociedade e os limites de
seus poderes – a omissão do contrato social não o invalida.
Pode ser exercida separadamente por cada um dos sócios (art.
1.013), que terá os poderes inerentes à gestão da sociedade
(art. 1.015).

 Se os sócios respondem ou não, subsidiariamente, pelas


obrigações sociais – questão polêmica na doutrina, pois o
inciso VIII dá o poder aos sócios de definir a
responsabilidade pelas obrigações da sociedade de forma
subsidiária. A responsabilidade subsidiária é expressa no art.
1.024. A responsabilidade dos sócios é uma questão inerente
a cada tipo de sociedade, não havendo poder de disposição
dos sócios. Deve ser entendido como menção ao grau de
responsabilidade inerente ao tipo societário escolhido, e não
como opção.
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 Modificações no contrato social (art. 999):

 Consentimento dos sócios (art. 997) ou maioria absoluta de


votos.

 Aquisição da personalidade jurídica: registro dos atos


constitutivos no registro competente (art. 998, CC):

 Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas


 30 dias após sua constituição
 Nada que esteja fora do contrato social pode ser oposto a
terceiros (art. 997, § único).

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5.3 SÓCIOS
 São a base da sociedade. Sem eles não existe sociedade.

 Qualidade de sócio advém da subscrição do capital


social.

 Regra geral: mínimo 2 sócios, pessoas físicas ou


jurídicas, brasileiros ou estrangeiros, residentes no país
ou no exterior.
 Ressalva da sociedade subsidiária integral (art. 251, Lei n.
6.404/76) e a unipessoalidade temporária.

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 Pessoas físicas devem ser capazes.

 Exceção sobre a capacidade: incapacidade. Sócio incapaz


(art. 974, §3º) :

 Representado ou assistido
 Não ter poder de administração

 Capital social integralizado

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5.3.1 DEVERES DOS SÓCIOS

 Subscrição do capital social traz inúmeras obrigações


para com a sociedade e para com os demais sócios.

 Início das obrigações: momento de constituição da


sociedade (art. 1.001, CC).

 Fim das obrigações: liquidação da sociedade e extinção


das responsabilidades sociais (art. 1.001, CC).

 Dever primordial: contribuir para o capital social. 10


 Contribuição pode ser feita em bens ou serviços, além
de dinheiro.

 Contribuição em bens (art. 1.005) sócio responde pela


evicção e pela solvência do devedor.

 Contribuição em serviços (art. 1.006) não pode, salvo


convenção em contrário, empregar-se em outra atividade.

 Descumprimento de deveres: responsabilidade pelos


danos emergentes da mora (art. 1.004).

 Sócio será notificado pelos demais para cumprimento da


obrigação no prazo de 30 dias. 11
 Não cumprindo a obrigação (30 dias), surgem 3 alternativas (§
único do art. 1.004):

 Indenização (danos emergentes da mora)


 Exclusão do sócio remisso
 Redução da quota ao montante já realizado (1.031, §1º).

 Alguns autores alegam que em caso de indenização haveria


enriquecimento ilícito da sociedade, o que não procede em virtude
do art. 1.031 recebe sua parte no patrimônio da sociedade.

 Dever de lealdade e cooperação recíproca: não é previsto


expressamente, mas é inerente à constituição e sobrevivência de
toda e qualquer sociedade. Violação desse dever quebra a
affectio societatis.

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 Dever de participar da perdas (art. 1.008).
5.3.2 DIREITOS DOS SÓCIOS
 Com a subscrição, adquirem-se além de deveres,
direitos.

 Os direitos podem ser de duas ordens: direitos pessoais e


direitos patrimoniais.

 Direitos Patrimoniais: serão direitos eventuais, fatores


incertos, de crédito contra a sociedade:

 Participação nos lucros (caso de continuidade da sociedade) e


no acervo social em caso de liquidação da sociedade (caso de 13
dissolução da sociedade).
 Participaçãonos lucros é livre, desde que não se atribua
vantagens ou desvantagens exageradas a algum sócio –
vedação do pacto leonino (art. 1.008).

 Silênciodo contrato social – proporção das cotas (art. 1.007).


Contribuição em serviços – média do valor das cotas.
Praticamente inexistente no direito pátrio (contrata-se
empregados especializados, com participação nos lucros).

 Direitos Pessoais – também inerentes à qualidade de


sócio, como a fiscalização dos atos da administração da
sociedade.

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• Fiscalização da administração é ampla, obrigando-se os
administradores a:

o Prestar contas anuais


o Apresentar o inventário e o balanço patrimonial e de resultado
econômico (art. 1.020).

o Todos os sócios podem examinar os livros e documentos,


estado do caixa e carteira da sociedade, independente de
motivo específico ou de determinação judicial (art. 1.021).

o Direito de participação nas deliberações ou direito de voto.


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5.3.3 RESPONSABILIDADE
 Traço distintivo de um tipo societário é a responsabilidade dos
sócios pelas obrigações sociais.

 Regra geral: os sócios respondem subsidiariamente, na


proporção de sua participação no capital social (art. 1.023).

 O patrimônio pessoal do sócio só responde na insuficiência do


patrimônio social e pela parte da dívida equivalente à sua parte
no capital social (art. 1.024).

 A solidariedade (art. 1.023) prevista é aquela entre os sócios,


nas suas relações com terceiros, e não entre os sócios e a 16
sociedade.
 O sócio novo não se exime das obrigações anteriores à sua
admissão (art. 1.025).

 Retirada, exclusão ou morte de sócio: regra do art.


1.032: responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores
até 2 anos após averbada a resolução da sociedade.

 O sócio retirante continua-se obrigado passivamente e


ativamente pelos débitos sociais existentes no momento em que
deixou a sociedade. Mas se não averbou o contrato social,
continua responsável por um novo biênio após sua saída.
Redação confusa do art. 1.032.

 No caso de falecimento, só se responde pelas dívidas anteriores


ao falecimento, independente de averbação. 17
5.4 CESSÃO DE QUOTAS
 Cessão de quotas envolve a transferência de direitos e deveres
inerentes à condição de sócio.

 Para valer perante terceiros deve haver alteração do contrato


social, devidamente registrada (art. 1.003).

 Exige também a lei o consentimento dos outros sócios. A


affectio societatis é relevante nas sociedades simples, pois os
sócios, em geral, terão uma qualificação profissional
específica.

 Se a cessão se der sem aquiescência dos demais sócios, não 18


terá eficácia entre estes e a sociedade.
 Até dois anos da modificação do contrato social no
Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o
cedente responderá solidariamente com o cessionário,
perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que
tinha como sócio.

 Pelas obrigações posteriores à averbação, a


responsabilidade é exclusivamente do cessionário.

 Tanto o cessionário como o cedente poderão ser


compelidos a cumprir as obrigações sociais.

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5.5 CREDORES DE UM DOS SÓCIOS
 Os sócios possuem quotas na sociedade.

 As quotas podem ser penhoradas em caso de


inadimplência de um dos credores?

 A quota representa direito patrimonial: têm valor


econômico e integra seu patrimônio pessoal. Disposição
do art. 591, CPC.

 Pode ser sujeita à constrição judicial, para satisfazer


direitos dos credores. 20
 Conflito entre direito do credor e dos demais sócios (não
aceitar pessoa estranha na sociedade).

 Com relação às Ltdas, o entendimento do STJ é em


sentido a privilegiar o direito do credor, asseverando que
as quotas são penhoráveis, mas atentando a princípios do
direito societário.

 Nas sociedades simples aplica-se o disposto no art. 1.026


– não há possibilidade do ingresso de estranhos na
sociedade, nem temporariamente.

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5.6 VONTADE DA SOCIEDADE
 As decisões da sociedade são a soma das vontades dos sócios (art. 1.010,
§3º), não votando quando tiverem interesses contrários aos da sociedade.

 Regra geral: decisões são tomadas pela maioria de votos, contados pelo
valor das quotas (mais da metade do capital social).

 Exceção: modificação de cláusulas essenciais do contrato social (art.


999, CC) – unanimidade.

 Caso de empate: opinião sufragada pelo maior número de sócios e,


persistindo, juiz.

 Expressa a vontade social, será concretizada por meio dos


administradores. 22
5.7 ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE
 A vontade das pessoas jurídicas é exteriorizada através da
intermediação de um órgão.

 O órgão não é um representante, apesar do uso indistinto da


terminologia.

 Não existe representação legal ou convencional:


 Pessoa jurídica não é incapaz
 Função do órgão é essencial à própria vida da sociedade
 Não há relação de subordinação: não é mandato (art. 1.011, §2º)

 Representante e representado são pessoas distintas. Órgão é 23


parte integrante da sociedade.
 Se o órgão age: age a pessoa jurídica.

 Órgão é o presentante da pessoa jurídica (Pontes de


Miranda).

 Problemas com a pessoa física (morte, incapacidade, por


ex.), não afetam a existência e validade da pessoa
jurídica – atos da sociedade manifestados através de seu
órgão.

 Administração compete à pessoas naturais (art. 997, VI)


– não devem ser impedidas (art. 1.011, §1º).

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 A formalização da nomeação pode ocorrer de dois modos:

 Indicação no contrato social


 Instrumento separado – averbado à margem do registro da
sociedade (art. 1.012, CC)

 Destituição de sócios administradores:

 Não podem ser destituídos, salvo justa causa reconhecida


judicialmente (art. 1.019), pois implica alteração do contrato
social (exige a unanimidade dos sócios – art. 999, CC).
 Direito ao cargo de administrador assegurado : cumprimento dos
deveres – Cláusula de Irrevogabilidade.
 Revogabilidade da Destituição – nomeação de administrador
fora do contrato social ou para administrador não sócio (art. 25
1.019, § único).
 Falta de designação dos administradores: compete a cada
um dos sócios isoladamente (art. 1.013, CC).

 Poder de administração, expresso no contrato social


(atenção à regra do art. 1.015):

 Dividido entre diversas pessoas (art. 1.013)


 Atos praticados em conjunto (art. 1.014)

 Função do administrador: personalíssima. Pode ter


mandatário.

 Aplicação analógica do art. 1.170, CC: não podem


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oferecer concorrência à sociedade.
5.8 RESPONSABILIDADE
 Os administradores podem ter responsabilidade perante a
própria sociedade e perante terceiros.

a) Responsabilidade perante a sociedade - o


administrador responde pelos danos, quando:

 Age com culpa (art. 1.016);


 Age em desacordo com a vontade da maioria, a qual conhecia
ou devia conhecer (art. 1.013, §2º);
 Quando utiliza, em proveito próprio ou de terceiros, bens da
sociedade sem o consentimento escrito dos demais sócios
(art. 1.017). 27
b) Responsabilidade perante terceiros – poderá ser
responsabilizado quando age com culpa. Esta
responsabilidade poderá ser isolada ou solidária em
relação à sociedade.

 A sociedade não se vincula pelos atos praticados pelos


administradores, se provar uma das seguintes hipóteses
elencadas no art. 1.015, § único do CC:

 Limitação inscrita ou averbada no registro de empresas –


atos que aparentemente poderiam ser praticados, mas o
contrato social limitou os poderes do administrador, de modo
a proibi-los de praticar tais atos (teoria da aparência);
 Limitação conhecida por terceiro – terceiros de má-fé;
 Ato estranho ao objeto social – ato ultra vires. 28
5.9 RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM
RELAÇÃO A UM SÓCIO
 Ocorre quando um dos sócios sai da sociedade por razões
diversas.

 É a chamada dissolução parcial – a sociedade permanece


existindo, ocorrendo apenas o desligamento de um ou alguns
dos sócios da entidade.

 A resolução do contrato relativamente a um sócio pode ter


lugar nos casos de:

 Morte
 Exclusão 29
 Exercício do direito de retirada (direito de recesso)
A) MORTE DE UM SÓCIO
 Resolve-se a sociedade apenas no que tange ao vínculo
daquele sócio, liquidando-se suas quotas, apurando-se seus
haveres e entregando-os aos seus herdeiros (art. 1.028).

 Em princípio a regra é a da liquidação das quotas do


morto. As exceções, ou seja, casos em que não haverá a
liquidação, são os previstos no mesmo art. 1.028, a saber:

 Quando o contrato dispuser diferentemente;


 Os sócios remanescentes preferirem dissolver a sociedade;
 Por acordo com os herdeiros, for regulada a substituição do
sócio falecido. 30
B) DIREITO DE RETIRADA
 A retirada do sócio (recesso) pode ocorrer em diversas
situações, variando de acordo com a duração da
sociedade (prazo determinado ou indeterminado).

 Se a sociedade for por prazo indeterminado:

O sócio pode se retirar a qualquer tempo, apurando seus


haveres, não implicando tal fato em dissolução da sociedade.
 Deve haver notificação com antecedência mínima de 60 dias
(art. 1.029)

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o Se a sociedade for por prazo determinado – não se
admite a denúncia imotivada do contrato, exigindo-se,
para o recesso do sócio, o reconhecimento judicial de
uma justa causa (art. 1.029).

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C) EXCLUSÃO DO SÓCIO
 A exclusão do sócio pode se dar por iniciativa da
própria sociedade ou de pleno direito.

 Exclusão de pleno direito:

 Quando a quota do sócio é liquidada em virtude da sua


falência pessoal ou da iniciativa de seus credores pessoais
(art. 1.030, parágrafo único, c/c art. 1.026).

 Independe de decisão judicial ou deliberação dos outros


sócios.
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o Exclusão pela sociedade:

o Direito da sociedade de se defender contra os que colocam em risco sua


existência e sua atividade.

o Não é imotivada. Pode ocorrer nos casos de (art. 1.030):

o Grave inadimplência das obrigações sociais (dever de cooperação dos sócios)


o Incapacidade superveniente
o Impossibilidade de pagamento de suas quotas (art. 1.004)

o Ressalvada a hipótese do sócio remisso (excluído


extrajudicialmente), a exclusão deve ser decretada judicialmente
(art. 1.029).

o O direito de exclusão é da sociedade e não dos demais sócios, 34


portanto ela será a autora da ação de exclusão.
5.10 DISSOLUÇÃO TOTAL
 Ocorre a dissolução total nos seguintes casos (art.
1.033):

 Vencimento de prazo de duração


 Consenso unânime dos sócios
 Deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de
prazo indeterminado
 A falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo
de 180 dias
 A extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

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5.10 APURAÇÃO DE HAVERES
 Consiste no recebimento da parte do sócio no patrimônio da
sociedade, quando de sua retirada.

 São requisitos da apuração de haveres: a dissolução do


vínculo de um sócio em relação à sociedade e a manutenção da
sociedade.

 São necessários dois procedimentos:

 1º) Determinação do patrimônio da sociedade – por meio do balanço


patrimonial, feito através de um balanço especial (art. 1.031).
 2º) Definição do quinhão que toca a cada um dos sócios - para se
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apurar o quinhão do sócio afastado ou de seus herdeiros.
5.11 DIREITOS DO CÔNJUGE SEPARADO
 Regra do art. 1.027: até a liquidação da sociedade, terão
direito à divisão periódica dos lucros (participação nos
lucros e no acervo social).

 Evita-se a entrada do cônjuge na sociedade, para


resguardar a affectio societatis.

 Os demais direitos inerentes à quota (direito de voto, por


exemplo), permanecerão na pessoa do sócio originário,
pois o cônjuge é terceiro estranho à sociedade.
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