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A teoria da justiça de John Rawls

– a justiça como equidade


1. Introdução

Eu Outro

Vontade individual
Conflito
Vontade coletiva

Valores ético-morais Valores jurídicos


Estado (leis)

Autoridade legítima:
-Tese naturalista – Aristóteles
- Tese contratualista - Locke

MAS,
Como conciliar liberdade (individual) e igualdade (coletiva)?
Como criar uma sociedade justa?
Ética e Direito
Normas morais Normas jurídicas
Não se encontram necessariamente codificadas Apresentam-se devidamente codificadas
(escritas). (códigos, leis e outros textos oficiais).

A aceitação e o cumprimento resultam da A aceitação e o cumprimento são impostos


vontade e da decisão individual. pelo Estado e têm carácter de obrigatoriedade.

A transgressão é punida com o remorso e a A transgressão é punida com multa, prisão ou


culpa, com a reprovação e/ou marginalização outro tipo de penalizações.
sociais.

Definição de Direito, Política e Estado


Direito:
conjunto de normas que regulam as relações entre os cidadãos, estabelecendo também formas de punição para a
violação dessas normas.

Política:
ciência (vertente teórica) e a arte (vertente prática) de realização dos fins que uma dada comunidade definiu como
bons, da procura dos meios adequados para alcançar esses fins, da harmonização dos conflitos entre os interesses
particulares e os interesses colectivos, bem como a gestão das relações com comunidades externas.
P. 152-153

Estado:
institucionalização do poder político e da autoridade, tendo em vista a concretização dos fins que a comunidade definiu
como bons. O Estado faz a gestão dos interesses privados e públicos, procurando harmonizar estes interesses.
2. A teoria da justiça de John Rawls

A vida em sociedade oferece vantagens mútuas, mas também cria conflitos de interesses.
São necessários princípios:
a) que sirvam de critério para a atribuição de direitos e de deveres;
b) que definam a distribuição adequada dos encargos e dos benefícios sociais.

Tais princípios devem resultar de uma escolha racional

“… cada um de nós é tentado a escolher um princípio que o favoreça em função da sua


situação pessoal. Por exemplo, um homem rico pode considerar que os impostos utilizados
em medidas sociais são injustos, enquanto um homem pobre pensará o contrário.” J.
Lecomte

A escolha racional dos princípios da justiça garante:


- a imparcialidade (os princípios da justiça não beneficiam interesses próprios);
- a universalidade (o princípios da justiça são escolhidos e aceites por todos).

Para evitar o individualismo, Rawls imagina uma situação hipotética que garanta as condições
necessárias para um processo igualitário.
A Posição Original é uma situação imaginária, um exercício mental, em que os parceiros são
sujeitos racionais/morais livres e iguais, colocados sob o efeito de um véu de ignorância.

Véu de ignorância é a situação em que todos os parceiros imaginários se encontram,


desconhecendo as suas características pessoais, o seu estatuto social, as suas condições de
vida, os seus interesses e objetivos particulares, as suas aptidões/capacidades,…

“Nesta situação hipotética, as pessoas seriam encarregadas de definir as regras de uma


sociedade, sem conhecer previamente qual o seu estatuto social, nem as suas aptidões
pessoais (como a inteligência ou a força). Cada um ignoraria mesmo os seus traços de
personalidade, a sua própria concepção do bem, ou mesmo o seu projecto pessoal de vida.”
J. Lecomte

Regra maximin: garantir o máximo de vantagens para todos, sem correr o risco de
que alguém fique prejudicado. A sociedade justa deve defender a maximização de
benefícios para os seus membros, sem deixar de garantir as liberdades básicas de
cada indivíduo.

Crítica ao Utilitarismo (Stuart Mill): nada legitima o


sacrifício das liberdades fundamentais do indivíduo,
nem mesmo o maior bem para o maior número .
A partir da Posição Original e sob o Véu da Ignorância, qualquer ser racional chegaria a dois
princípios:

1. Princípio da igual liberdade - assegura a atribuição igualitária dos direitos e deveres


básicos.

▪ A sociedade deve garantir a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma
liberdade igual para todos.

▪ Assegura as liberdades básicas: liberdade política (direito ao voto, p. ex.), de religião, de


reunião, de pensamento e de consciência, liberdade de expressão; a liberdade da pessoa
(direito à integridade pessoal, à propriedade, à proteção face a detenção e prisão
arbitrárias)

▪ Este princípio tem prioridade sobre o princípio da igualdade: as liberdades básicas são
incondicionais e a utilidade social (benefício de todos) não pode pôr em causa tais
liberdades.
2. Princípio da igualdade - estabelece os limites da desigualdade justa e subdivide-se em:
princípio da igualdade de oportunidades e princípio da diferença.

Princípio da igualdade de oportunidades: todos os indivíduos devem ter igual oportunidade


de acesso às diversas posições sociais.
“… cada um deve beneficiar das mesmas oportunidades de acesso às diversas funções e
posições sociais (‘princípio da igualdade de oportunidades’). Este princípio tem vantagem
sobre o princípio de diferença, porque não se deve restringir a igualdade de oportunidades
ao benefício de uma melhoria das condições de vida de cada um.” J. Lecomte

Princípio da diferença: as desigualdades económicas e sociais que decorrem da distribuição


desigual da riqueza e do poder não são injustas se servirem para beneficiar os mais
desfavorecidos.
“… as desigualdades socioeconómicas só são justas se elas produzem, em compensação,
vantagens para os membros mais desfavorecidos (“princípio da diferença”). J. Rawls afirma,
portanto, que não há injustiça no facto de um pequeno número obter vantagens superiores
à média, desde que a situação dos menos favorecidos seja, com isso, melhorada. “ J. Lecomte

P. 166
Justiça como equidade: a justiça deve promover a igualdade entendida como equidade (e
não igualitarismo):
- possibilidade de, ao aplicarmos os princípios da justiça, realizarmos reajustes para que,
tendo em conta as circunstâncias de cada caso concreto, se encontrar a solução mais justa;
- distribuição proporcional dos benefícios e encargos sociais (ex.: dar mais a quem tem
menos).

Conceção contratualista da justiça: os princípios da justiça resultam de um contrato original


pelo qual todos os indivíduos aceitam uma definição racional dos seus princípios
fundamentais.
Críticas

Robert Nozick e Ronald Dworkin criticam o princípio da diferença considerando que:

- Viola a liberdade ao interferir na vida das pessoas, não permitindo que decidam o que
fazer com os seus bens/riquezas. Tal desmotivaria o empreendedorismo e a iniciativa
privada e conduziria à estagnação económica e social.

- Não considera as diferentes preferências e ambições de cada indivíduo, nem o modo


distinto como as pessoas alcançam melhores condições de vida. O mérito individual é posto
em causa.

P. 171-

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